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Contratos e análise econômica do

Direito
Leandro Martins Zanitelli
leandro_zanitelli@uniritter.edu.br

Análise econômica e eficiência


alocativa
 Ideia central para a análise econômica do Direito
é a de eficiência. Ganha-se em eficiência sempre
que recursos são alocados de maneira a
aumentar seu valor (daí falar-se em eficiência
alocativa).

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Contratos e eficiência
 Contratos promovem a eficiência sempre que
realocam recursos de maneira a aumentar seu
valor. Considere-se o seguinte exemplo:
 “A, que está prestes a ir morar em outro país,
vendeu para um vizinho seu, B, uma geladeira
pelo preço de R$ 900,00.”

Preço de reserva e excedente


contratual
 Mensura-se o ganho em eficiência proporcionado por
um contrato pela diferença entre o preço de reserva
de cada uma das partes. Preço de reserva é:
 - para o vendedor, o preço mínimo pelo qual aceitaria
vender;
 - para o comprador, o preço máximo pelo qual
aceitaria comprar.
 No exemplo, supondo-se que o preço de reserva do
comprador fosse R$ 1.000,00 e o do vendedor R$
800,00, concluir-se-ia que o ganho em eficiência
corresponde a R$ 200,00, o que se denomina
excedente contratual.

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Eficiência de Pareto
 Se, mediante realocação de recursos, um
contrato proporciona ganho às partes sem deixar
ninguém mais em pior situação, diz-se que o
contrato é eficiente no sentido de Pareto.

Externalidades
 Muitos contratos têm, no entanto, um impacto
(que pode ser positivo ou negativo) sobre
terceiros. Se o contrato altera a situação de
terceiros (para melhor ou para pior), diz-se que
ele produz externalidades (denominadas,
conforme o caso, positivas ou negativas).

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Eficiência de Kaldor-Hicks
 Se um contrato realoca recursos de maneira a
causar ganhos e perdas, não é eficiente no
sentido de Pareto. Diz-se, porém, que o contrato
é eficiente no sentido de Kaldor-Hicks se o ganho
proporcionado pela realocação de recursos é
superior à perda.
 Mensura-se a perda correspondente a uma
externalidade negativa pelo preço de reserva
do(s) terceiro(s) a quem o contrato prejudica.

Direito contratual
 Até aqui, vimos que contratos espontaneamente
realizados podem ser eficientes. Resta examinar
qual papel – as funções – que podem ter as
normas jurídicas que disciplinam os contratos.

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Função de execução (enforcement)
 Uma função exercida pela ordem jurídica é, como
se sabe, a de fazer valer o que foi acordado –
função de execução ou enforcement. Para
entender como a execução de contratos promove
a eficiência, considere-se uma nova versão do
exemplo anterior:
 “A procura seu vizinho, B, oferecendo-lhe a
compra de uma geladeira. A viajará em um mês,
e pede que o vizinho lhe entregue imediatamente
a metade do preço que for combinado.”

Função de execução (enforcement) -


continuação
 É plausível que a última versão da proposta de A
faça o preço de reserva de B diminuir (isto é, é
plausível que, nas circunstâncias atuais, ele não
esteja disposto a pagar R$ 1.000,00 pela
geladeira). Se a probabilidade de A não entregar
a geladeira (isto é, comportar-se de maneira
oportunista) for muito alta, é possível que o preço
de reserva de B caia a ponto de fazer fracassar a
barganha.
 A função de execução contribui, pois, para a
eficiência à medida que evite a redução do preço
de reserva de B em casos como o do exemplo.

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Função supletiva
 A lei também tem o papel de suprir lacunas
contratuais. Promove-se assim a eficiência à
medida que o contrato seja incompleto. Vamos a
uma nova versão do exemplo:
 “A inclusão de uma cláusula de condição
segundo a qual o contrato seria resolvido no caso
de a viagem de A ser cancelada reduziria o preço
de reserva do próprio A para R$ 780,00 e o de B
para R$ 990,00.”

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Função supletiva (continuação)


 Apesar de a cláusula de condição resolutiva
aumentar o excedente contratual (de R$ 200,00
para R$ 210,00), inúmeras razões podem fazer
com que ela não seja incluída no contrato. Se o
contrato for realizado sem a cláusula, é um
exemplo de contrato incompleto.
 A questão é se a lei (e os juízes, ao aplicá-la) é
capaz de aperfeiçoar (isto é, tornar mais
eficiente) o contrato.

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Função imperativa
 Finalmente, a lei também impõe limites à liberdade
contratual. Esses limites podem servir a propósitos
outros que não a eficiência (por exemplo, a
igualdade, com a prevenção da exploração de uma
das partes pela outra, ou o respeito aos direitos
humanos). Em prol da eficiência, limites podem ser
determinados para o combate de externalidades ou
em razão da incompletude dos contratos. Nos últimos
anos, parte considerável da literatura tem-se
dedicado à falta de informação e a irracionalidade
como causas para que contratos sejam incompletos
e, consequentemente, menos eficientes do que
poderiam.

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Leituras sugeridas
 COOTER, Robert; ULEN, Thomas (2004). Law & economics. 4. ed.
Boston: Addison Wesley.
 TREBILCOCK, Michael J (1993). The limits of freedom of contract.
Cambridge: Harvard University.
 AYRES, Ian; GERTNER, Robert (1989). Filling gaps in incomplete
contracts: an economic theory. Yale Law Journal, v.99, p.87-130.
 SCHWARTZ, Alan; SCOTT, Robert E. (2003). Contract theory and the
limits of contract law. Yale Law Journal, v.113, p.541-619.
 SCOTT, Robert E.; TRIANTIS, George G (2005). Incomplete contracts
and the theory of contract design. Case Western Reserve Law Review,
v.56, p.187-201.
 KOROBKIN, Russell B. (2003). Bounded rationality, standard form
contracts, and unconscionability. The University of Chicago Law
Review, v.70, p.1203-1295.
 POSNER, Eric (2003). Economic analysis of law after three decades:
success or failure? Yale Law Journal, v.112, p.823.

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