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Padronização e ajuste das demonstrações para efeito de análise


19 de Fevereiro de 2010

Em face da publicação da Lei nº 11.941/2009, DOU 1 de 28.05.2009, este procedimento


foi atualizado. Tópicos atualizados: 4. Duplicatas Descontadas; 7. Bens com características
de Imobilizado, classificados fora do Ativo Não Circulante.

Padronização e ajuste das demonstrações para efeito de análise

Sumário

1. Introdução
2. Ajustes das demonstrações para fins de análise
3. Disponibilidades
3.1 Bancos conta vinculada
4. Duplicatas Descontadas
4.1 Exemplo
5. Estoques
6. Despesas do Exercício Seguinte
7. Bens com características de Imobilizado, classificados fora do Ativo Não Circulante
8. Receitas financeiras

1. Introdução

O Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) têm um padrão rígido de apresentação imposto
pela Lei nº 6.404/1976 , padrão esse que deve ser seguido por todas as empresas.

É inegável que esse padrão facilita o trabalho do analista, pois evita que ele tenha que reordenar contas para fins de
análise.

Contudo, também é verdade que algumas contas ou grupos de contas, sobretudo do Balanço Patrimonial, na forma como
estão dispostas, apresentam-se de forma inadequada para fins de análise. Não se trata de uma crítica à Lei nº
6.404/1976 , mas sim de uma constatação.

Diante desses fatos, o analista deverá estar atento e, se achar conveniente, fazer as adaptações necessárias.

2. Ajustes das demonstrações para fins de análise

Sem desobedecer as normas estabelecidas pela Lei nº 6.404/1976 e, ainda, observados os princípios de contabilidade
geralmente aceitos, o profissional deverá, para efeito de análise, fazer adaptações necessárias nas demonstrações.

Essas adaptações, basicamente, caracterizam-se pela alocação mais adequada de um item ou, ainda, da junção de duas ou
mais contas, de valor pouco significativo, sob uma única rubrica.

Observa-se que reclassificar, para fins de análise, significa, a grosso modo, dar uma nova classificação ou criar um novo
agrupamento para algumas contas das demonstrações contábeis, sobretudo no Balanço Patrimonial e, mais remotamente,
na DRE.

3. Disponibilidades

Esse subgrupo de contas representa o dinheiro que a empresa tem a sua disposição imediatamente.

Dependendo do tamanho e da complexidade da empresa, esse subgrupo de contas pode ser representado por várias contas
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(Bancos Conta Movimento, Caixa, Caixa Filial, Fundo Fixo de Caixa, Aplicações Financeiras de Liquidez Imediata etc.).

A maioria dos analistas opta por agrupar todos esses valores sob uma única rubrica ("Disponibilidades" ou "Caixa/Bancos
Conta Movimento").

Esse agrupamento facilita, em muito, o trabalho do profissional, pois 5, 6 ou até mais contas acabam sendo condensadas
sob um único título.

3.1 Bancos conta vinculada

Muitas vezes, nas operações de empréstimos oferecidos pelos agentes financeiros são exigidas duplicatas como garantia.
Ao efetuar a cobrança desses títulos, o valor é destinado para uma conta "vinculada".

Veja que esse valor, enquanto alocado na conta vinculada, não está disponível para a empresa. Portanto, não deve compor
o subgrupo Disponibilidades.

Nesse caso, o mais apropriado é que, para efeito de análise, sobretudo do Índice de Liquidez Seca, tal conta seja acrescida
à conta Clientes.

Nota
Lembra-se que assim que os títulos cobrados são substituídos por novos títulos para cobrança, o valor disponível na conta
vinculada é transferido para a conta corrente.

4. Duplicatas Descontadas

A conta Duplicatas Descontadas caracteriza-se como redutora da conta Duplicatas a Receber (Clientes) e, por força da Lei
nº 6.404/1976 , no Balanço Patrimonial (normalmente, no Ativo Circulante) situa-se da seguinte forma:

Duplicatas a Receber

(-) Duplicatas Descontadas

Na verdade, essa conta refere-se a um autêntico financiamento lastreado por duplicatas de emissão da empresa.

A sistemática é simples. É como se a empresa, ao necessitar de capital de giro, contatasse o banco e solicitasse um
"empréstimo". Só que, no caso, o banco concede o "empréstimo" descontando as duplicatas que a empresa tem a receber.

Observa-se que, embora ocorra o desconto das duplicatas, a obrigação com o banco permanece, porque, se alguma
duplicata deixar de ser quitada, a empresa deverá arcar com o débito.

Portanto, para fins de análise, essa conta deverá ser remanejada do Ativo Circulante para o Passivo Circulante,
incorporando a conta "Empréstimos e Financiamento" ou conta semelhante representativa das obrigações para com os
bancos pela obtenção de crédito.

Isso se justifica pelo fato de que muitas empresas operam com desconto de duplicatas; outras operam com empréstimos
bancários. Se não houver esse remanejamento para o Passivo Circulante das duplicatas descontadas, seguramente a
empresa que opera com empréstimos bancários, em vez de desconto de duplicatas, terá o seu Índice (ou Quociente) de
Liquidez Corrente, por exemplo, prejudicado, porquanto para essa empresa aparecerá, no Passivo Circulante, uma dívida,
enquanto que para a empresa que opera com o desconto de duplicatas essa "dívida" estará no Ativo Circulante.

4.1 Exemplo
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Consideremos duas empresas com a mesma situação patrimonial em determinada data que, necessitando de recursos
financeiros, recorrem ao mercado financeiro.

A empresa "A" obtém empréstimo convencional; já a empresa "B" recorre ao desconto de duplicatas. Ambas as operações
perfazem R$ 5.000,00. Diante desses dados, teremos:

a) cenário 1 - situação patrimonial antes da obtenção de empréstimo e do desconto das duplicatas:

CENÁRIO 1

b) cenário 2 - situação patrimonial depois da obtenção de empréstimo e do desconto das duplicatas:

CENÁRIO 2

(*) Saldo original (R$ 10.000,00) + recursos obtidos através de empréstimo (R$ 5.000,00).

(**) Saldo original (R$ 10.000,00) + recursos obtidos através do desconto de duplicatas (R$ 5.000,00).

(***) Circulante (R$ 7.000,00) + Empréstimos (R$ 5.000,00).

(****) Circulante (R$ 15.000,00) - Desconto de Duplicatas (R$ 5.000,00).

Esse exemplo ilustra bem a distorção que o não remanejamento da conta Desconto de Duplicatas para o Passivo Circulante
pode causar.

No primeiro cenário, antes da obtenção do empréstimo e do desconto de duplicatas pelas empresas "A" e "B",
respectivamente, tínhamos que, para cada R$ 1,00 de dívida, as empresas "A" e "B" tinham R$ 1,43 de valores disponíveis.

Já no segundo cenário, com a obtenção do empréstimo e do desconto de duplicatas, temos a seguinte situação:
a) empresa "A": com a obtenção do empréstimo, passou para R$ 1,25 de recursos para cada R$ 1,00 de obrigações
assumidas;
b) empresa "B": se mantida a conta Desconto de Duplicatas no Ativo Circulante, a empresa "B" passa a ter uma
situação muito mais confortável do que a empresa "A", pois para cada R$ 1,00 de dívida assumida a empresa passa a
ter R$ 1,43 de recursos disponíveis.

O que se observa do exposto é que, depois do empréstimo e do desconto das duplicatas, a empresa "B" adquiriu uma
capacidade maior de pagamento de suas dívidas e, também, um nível de endividamento em relação a empresa "A" menor,
o que se revela extremamente incoerente, porquanto a natureza das operações é a mesma: ambas as empresas obtiveram
um empréstimo bancário.

5. Estoques

Os estoques nas empresas comerciais e industriais têm grande relevância. Normalmente são os itens mais importantes.
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Esse subgrupo de contas reflete o valor dos produtos e materiais de propriedade da empresa, na sua maioria, objeto de
comercialização/industrialização. Dependendo do porte da empresa são possíveis os seguintes itens de estoque:
mercadorias para revenda, produtos em elaboração, produtos acabados, mercadorias em trânsito. Desse grupo de contas
também faz parte a conta redutora "Provisão para Perdas nos Estoques".

Na maioria dos casos, para fins de análise, esses itens são condensados em um único, o que dá uma visão geral da
situação dos estoques.

6. Despesas do Exercício Seguinte

O subgrupo de contas "Despesas do Exercício Seguinte" não costuma criar muita polêmica para fins de análise, sobretudo
porque ele é pouco expressivo em relação ao Ativo Circulante. Contudo, em caso de relevância, é importante que o analista
proceda aos devidos ajustes.

Em caso de valor relevante, recomenda-se o seu remanejamento para o Patrimônio Líquido. Isso se justifica, pois esse
grupo de contas não se converterá em dinheiro, pois se trata, isso sim, de um gasto que se transformará em despesa no
exercício seguinte, o que afetará diretamente o Patrimônio Líquido da empresa.

7. Bens com características de Imobilizado, classificados fora do Ativo Não Circulante

O analista deve ficar atento a eventuais ajustes efetuados pela empresa que podem "melhorar" a situação econômico-
financeira das demonstrações contábeis.

Um exemplo é a alocação de bens originalmente registrados no Ativo Não Circulante para a conta do Ativo Circulante sob o
argumento, muitas vezes real, de que o bem está à venda, motivo que justificaria essa reclassificação contábil.

Lembra-se, porém, que a intenção de permanência ou não do bem deve ser manifestada por ocasião da sua aquisição.
Essa reclassificação, mesmo que motivada pela possibilidade ou necessidade de venda, não nos parece apropriada.

Portanto, eventual remanejamento pela empresa de valores do Ativo Não Circulante para o Ativo Circulante deve ser visto
com cuidado pelo analista e, na maioria dos casos, estornado para fins de análise.

8. Receitas financeiras

Por imposição legal (Lei nº 6.404/1976 ), as despesas e as receitas financeiras fazem parte do grupo Despesas e Receitas
Operacionais. Contudo, é fato que tais contas têm pouca proximidade com o resultado operacional. Ao contrário, suas
características são todas relacionadas com o grupo Outras Receitas e Outras Despesas.

Esse remanejamento se justifica, pois só assim teremos como obter, com maior realismo, a taxa de rentabilidade da
atividade operacional da empresa objeto de análise.

Legislação Referenciada

Lei nº 6.404/1976

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