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Análise Sociológica do Mundo Moderno: a Sociedade em que Vivemos

Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna

Temas Complementares: O problema da ordem social - a autoridade política e a legitimidade do poder

O que ensinar

O aspecto central a ser estudado nesse tópico refere-se ao problema da ordem social,
sua relação com o poder e o papel da autoridade superior exercida pelo Estado.  O
professor deverá tratar das questões relativas ao reconhecimento da autoridade do
Estado para exigir obediência por parte dos membros integrantes da comunidade
política.  Por que razões devemos obedecer as ordens do Estado? A resposta a esta
pergunta envolve esclarecer a relação entre governantes e governados, os
fundamentos do poder político e da autoridade, sua legitimidade e sua manutenção.

O tema inicial é o das regras gerais que orientam as pessoas em suas ações e
definem os comportamentos nas interações sociais. A sequência de questões a serem
discutidas pode ser a seguinte: reconhecendo que existem regras socialmente aceitas
que definem o que podemos e o que não podemos fazer na convivência social, qual o
sentido dessas regras? Uma vez definido o que é permitido e o que é proibido nas
várias esferas da vida social como garantir que os membros da coletividade sigam, em
suas interações, as regras reconhecidas pela maioria dos membros da sociedade?
Tais questões devem permitir conduzir a discussão e a análise para o nível mais
amplo do poder das organizações sociais para influenciar nossos comportamentos
assim como o da esfera de atuação das instituições que fazem parte do Estado e
exercem o poder e a autoridade sobre os indivíduos e as organizações que integram a
sociedade. O que distingue o poder e a autoridade do Estado? E, como o poder
central e soberano que caracteriza o Estado pode controlar e garantir a submissão dos
governados e dos diversos setores da sociedade aos princípios gerais que regem a
vida coletiva?

A análise dos elementos de natureza cultural que formam os membros da sociedade


para a convivência social (leis,valores, costumes e normas sociais) deve ser
combinada com a análise das características do Estado enquanto legislador e
administrador da justiça, possuindo, para tanto, o monopólio do uso da força física (o
aparato policial). No exercício do poder e da autoridade o Estado precisa contar com o
consentimento dos membros da comunidade política o que envolve o reconhecimento
da legitimidade de suas ações, inclusive no uso do aparato policial e militar (de
controle e  uso exclusivo pelo Estado).

Idéias e conceitos básicos:

 a idéia de que existe um vínculo social básico por trás de toda associação
humana inspirou várias teorias sociais ( a noção de identidade coletiva). A
noção de que toda organização social é sustentada por um acordo, produzido
através de processos históricos, em torno de valores ou objetivos que estão na
origem e constituem o fundamento da confiança que sustenta aquela
coletividade ((componentes da identidade cultural).
 a perda de eficácia e/ou rejeição de valores, costumes e modos de
organização da vida coletiva podem gerar discordância e produzir formas
variadas de conflito social e/ou político. As classes sociais, os diferentes
grupos sociais e a distribuição do poder na sociedade e as conseqüências para
a vida política. O consenso e o conflito como dois componentes da vida social. 
povo. A política como o exercício do poder sobre a vida coletiva de um povo.
  poder e autoridade: o problema da legitimidade. Tipos de autoridade em Max
Weber: tradicional, carismática e racional-legal.

Como ensinar

O professor poderá orientar o desenvolvimento inicial deste tópico sugerindo algumas


questões que motivam nossa reflexão sobre o problema da ordem social. As
perguntas seriam: o que mantém a sociedade coesa? O que torna a ordem social
possível e duradoura mesmo em sociedades onde persistem significativas
desigualdades sociais?

Como os conflitos sociais que emergem nas sociedades costumam ser controlados ou
resolvidos? Por outro lado, o que caracteriza o estado social que consideramos
anárquico? Como podemos entender, nesse contexto, o crime como uma ameaça
social? Aqui, os alunos devem ser estimulados a refletir sobre as situações cotidianas
em que agimos com naturalidade sem pensar que podemos correr riscos maiores em
relação ao nosso bem-estar e às nossas vidas. Quando vamos à padaria, ao cinema,
para a escola ou para o trabalho, não pensamos, ordinariamente, que seremos
assaltados ou mortos. Como podemos explicar essa confiança? E, quando ela começa
a faltar, o que está ocorrendo?

Há duas dimensões a serem consideradas na discussão dessas questões. Deve-se


reconhecer, por um lado, o papel das normas ou regras sociais que são
compartilhadas pelos membros da sociedade e que são produto de um longo processo
histórico na busca das condições que tornam a vida social possível e, ao mesmo
tempo, a criação e o funcionamento de instituições sociais e políticas que garantem a
manutenção da ordem instituída socialmente. As instituições que fazem parte do
Estado têm, aqui, um papel principal, especialmente no que diz respeito às ações que
devem garantir a ordem e a justiça. Por sua vez, as ações desenvolvidas pelo Estado
possuem legitimidade quando as regras e os princípios que as orientam e em que se
baseiam são considerados corretos e compartilhados pela maioria daqueles que a elas
devem se submeter. Havendo consentimento por parte dos governados, os
governantes encontram legitimidade para o exercício do poder. Essa concordância,
pela maioria da população, em relação aos princípios, regras e normas que devem
orientar as ações do poder político na esfera da vida social é o que, em um sentido
amplo, constitui o direito.  Entretanto, a noção de poder não se confunde com a de
autoridade legítima. Em relação ao poder político discute-se, tradicionalmente, não só
o problema da sua definição e das características que o diferenciam das outras formas
de poder, mas também o problema da sua justificação.

O poder, de um modo geral, é a capacidade de influir sobre os comportamentos e


atingir objetivos mesmo diante da resistência dos outros, podendo envolver o simples
uso da força. Um governante pode exercer o poder sem gozar de legítima autoridade,
considerando o ponto de vista daqueles que se submetem ao seu poder.  As pessoas
podem se submeter pelo medo ou pela insegurança sem concordar com os motivos e
os princípios que determinam as ordens de quem exerce o poder. A resposta à
pergunta – basta a força para fazer quem exerce o poder político ser aceito por
aqueles sobre os quais se exerce, para induzir os seus destinatários a obedecê-lo? –
pode ser interpretada como uma pergunta sobre o que é de fato o poder ou como uma
pergunta sobre o que deve ser. Quando Weber analisou os tipos de autoridade a partir
das ocorrências históricas, ele procurou retirar da realidade dos fatos o que encontrou
e considerou como tipos de autoridade em geral, na medida em que são capazes de
obter a obediência dos governados.

As análises de Max Weber sobre os tipos de autoridade podem ser apresentadas aos
alunos na conclusão do estudo deste tópico servindo, ao mesmo tempo, de introdução
para o próximo tema. Max Weber, em seus estudos sobre as formas sociais da
autoridade e seus fundamentos, identificou três tipos básicos: a autoridade tradicional,
a autoridade carismática e a autoridade racional-legal.

Esses tipos podem aparecer na realidade não de forma pura mas em combinações
diversas caracterizando casos concretos. (Ver texto no RA, abaixo)

Objetivo: Analisar e compreender as relações entre a existência das normas


sociais, as condições para a convivência social, civilizada e pacífica, os fundamentos
do poder político e suas bases de legitimidade.

Questões sugeridas para provocar um debate inicial em torno do tema.

 O que permite o funcionamento normal, com regularidade, da vida em


sociedade (por exemplo, acordar e ir à escola diariamente, voltar para casa, ir
ao super-mercado, estudar em uma biblioteca ou ir à casa de uma colega,
encontrar com os amigos,voltar para casa, mais uma vez, dormir e recomeçar
no dia seguinte)? O que pode provocar a quebra da regularidade cotidiana na
vida das pessoas? De que forma o comportamento de outros indivíduos pode
prejudicar ou mesmo impedir o funcionamento daquilo que consideramos a
normalidade dos dias?Como você explica esses fatos?
 As sociedades humanas necessitam da existência do Estado? Porque?
 Até onde as pessoas, individualmente, precisam das ações do Estado?

Ao longo do debate dessas questões o professor poderá solicitar aos alunos que
procurem imaginar um jogo (por exemplo, uma partida de futebol) em que, no ato de
realização do jogo, os jogadores passam a ignorar as regras estabelecidas e a
desenvolver lances segundo suas vontades sem qualquer respeito para com as leis
que regem aquele jogo. O que provavelmente ocorreria nessa situação? Os alunos
podem anotar suas principais observações e conclusões para um pequeno debate.  O
objetivo inicial é levar os estudantes a identificar, sob certos aspectos, a vida política
com um jogo onde equipes em disputa pelo poder representam diferentes grupos de
interesses, como ocorre na luta política. As questões que aparecem nessa situação
(em que regras não são respeitadas) dizem respeito à impossibilidade de qualquer
jogo desenvolver-se tanto na ausência de normas e regras pré-estabelecidas, ou nas
tentativas de mudança das regras no decorrer da partida, quanto na ausência de um
juiz com a função de resolver conflitos e desacordos quanto ao cumprimento dessas
regras pelos jogadores, ao longo da realização do jogo. Da mesma forma, no “jogo
político” as negociações e os acordos entre as partes que participam (os atores
políticos) devem submeter-se às normas existentes, respeitando as leis. No caso das
democracias modernas as leis que regem os comportamentos e gozam do
reconhecimento dos membros da coletividade são aquelas estabelecidas pelo poder
legislativo enquanto poder representativo dos cidadãos. Disso decorre a legitimidade
das ações do poder exercido pelo Estado em uma sociedade democrática. 

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