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ÁUDIO NAS IGREJAS

Sonorização
de ambientes
Parte II

No mês passado
começamos nossa
abordagem sobre
C omo já escrevi, o objetivo é sono-
rizar um ambiente fechado cobrin-
do todo o local, alcançando todos os as-
entre os sons diretos e os sons indire-
tos, sons reverberados. Essa relação é
entre o quanto um espectador de um
sonorização em sentos e garantindo uma uniformidade determinado assento está recebendo
ambientes fechados. de nível de pressão sonora desde os pri- som direto, de uma caixa acústica, e o
Como o assunto não é meiros até os últimos assentos.Vimos quanto ele está recebendo de som in-
tão simples, nessa que as características acústicas influen- direto do ambiente, som reverberado.
fase abordaremos ciam totalmente o resultado de qualquer A distância crítica é exatamente
mais alguns conceitos tipo de sonorização em um ambiente onde essa relação passa a ser negativa
que são importantes fechado. Ambientes com altos tem- de sons diretos e passa a ser positiva
na hora de determinar pos de reverberação serão complica- de sons indiretos.
como será essa dos para sonorizar e manter níveis
sonorização. Em um aceitáveis de inteligibilidade, enquan-
to nos ambientes com baixos tempos
próximo artigo, vamos
de reverberação, os altos níveis de Ambientes com altos
sonorizar a nossa
inteligibilidade são alcançados de for- tempos de
igreja modelo
ma bem mais fácil. Quando estiver- reverberação serão
utilizando todas essas
mos sonorizando nossa igreja modelo,
informações complicados para
demonstraremos essas diferenças.
sonorizar e manter
Também vimos a importância da re-
lação sinal-ruído na sonorização,
níveis aceitáveis de
sendo esta determinante para o resul-
inteligibilidade
tado final, inclusive, alterando dire-
tamente e proporcionalmente o re-
sultado da inteligibilidade final do
sistema. E nesse ponto, em casos em Hoje vamos falar sobre um conceito no
que tudo esteja perfeito – acústica e qual a grande maioria dos técnicos tem
sonorização – uma relação entre o si- dúvidas. Por que montar o sistema
nal direto e o ruído ambiente, seja lá suspenso? (o sistema em “fly”, como ge-
qual ele for, estiver baixa, ele vai alte- ralmente nos referimos ao tipo de mon-
Aldo Soares trabalha há 19 anos com áudio, é
rar diretamente o resultado final so- tagem). É interessante abordar essa
operador de PA, engenheiro projetista e educa- bre a inteligibilidade. questão, porque muitas vezes escutei a
dor de áudio. Outro parâmetro importante é em pergunta sobre se era mesmo importan-
aldo@arsnet.com.br relação à distância crítica, a relação te ou melhor montar o sistema em “fly”.

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O Brasil passou por uma grande trans- extensão maior do perímetro, tanto na trazidos ao conhecimento público anos
formação nesse sentido, a montagem horizontal quanto na vertical. A quarta é depois, os feitos de Isaac Newton influ-
em fly. Do fim da década de 80 se es- poder direcionar as caixas diretamente enciaram e influenciam até hoje o
tendendo por toda a década de 90 fo- para a platéia e evitar ao máximo a inci- mundo. Uma dessas descobertas, que
ram muitas as dúvidas a esse respeito. dência de sons nas paredes. Algo que deve na verdade foi uma constatação, foi a
Muitas lendas foram criadas, defendi- ser perseguido de toda a forma possível, Lei do Inverso do Quadrado, que afirma
das e inventadas até que se tornou principalmente em ambientes com altos que o “esforço que um planeta faz em
algo natural. Lembro-me bem das dú- tempos de reverberação. sua órbita para se afastar do sol é pro-
vidas sobre a importância ou não de Essas são apenas as principais razões, pelo porcional ao inverso do quadrado da
ter um sistema desse e principalmen- menos as mais importantes. E, somente distância entre o planeta e o sol”. Isso,
te, se era ou não era melhor. A ques- com essas razões, temos um conjunto de depois de muitos estudos foi aplicado à
tão sempre era do “para que isso? Se o argumentos que devidamente colocados óptica, por exemplo, e assim foi possí-
sistema funcionava bem sem ser em prática se tornam audivelmente vel determinar, pela quantidade de luz
suspenso, por que inventar moda?”. inquestionáveis pelos resultados alcança- captada, a distância de uma estrela.
Muitas pessoas acreditavam que era o dos. Não que não venhamos a encontrar No caso dos sons, que emitem ondas es-
novo modismo, a nova “onda” do mo- uns e outros que ainda não queiram ques- féricas, a mesma lei se aplica. Como os
mento. Algumas empresas começa- tionar, mas, pelo menos vão precisar e sons emitidos por uma caixa acústica são
ram a usar os sistemas simplesmente muito de argumentos. esféricos, eles decrescem com o quadra-
porque a concorrência os usava. Ou- Agora vamos fundamentar a primeira do de sua distância em relação à caixa
tros ficaram firmes com as suas “pare- razão de se suspender um sistema de acústica. A questão fundamental é que a
des” de caixas montadas a partir do sonorização, a de aumentar a distância energia emitida pela caixa acústica vai
chão, sem se importar com os porquês entre o sistema de sonorização e os pri- ser dispersa radialmente em todas as di-
de se utilizar o sistema suspenso. Hoje, meiros ouvintes alcançados por ele. reções (veja figura 1). Com isso as perdas
a grande maioria das empresas utiliza Entre os anos de 1665 e 1666 a ciência são consideráveis. A partir do ponto de
sistemas suspensos, sabendo ou não da pôde se deliciar com um grande núme- irradiação da energia sonora, pela caixa
sua importância, ou, até mesmo en- ro de descobertas nas áreas da matemá- acústica, cada vez que a distância dobra a
tendendo porque isso tudo começou. tica, óptica, mecânica e na teoria da energia é reduzida em -6dB. Por exem-
E afinal, por que tudo isso começou? gravitação. Mesmo sendo divulgados e plo: Uma caixa acústica que produz 110
Vamos por partes. Começaremos a
explicar algumas das razões pelas
quais é importante se suspender um
sistema de sonorização.
A primeira razão pela qual se suspende
um sistema de sonorização é aumentar a
distância entre o sistema de sonorização
e os primeiros ouvintes alcançados por
ele. A segunda razão é direcionar o siste-
ma de cima para baixo, evitando que as
próprias pessoas sejam as “barreiras” im-
pedindo a propagação das freqüências,
absorvendo-as logo nos primeiros me-
tros, principalmente as freqüências al-
tas. A terceira é a distribuição melhor da
sonorização pelo ambiente. Com o sis-
tema suspenso pode-se alcançar uma Figura 1

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nor variação de energia, alcançamos, de


uma forma bem simples, uma distribui-
ção de energia melhor.
E veja que ainda não estamos consi-
derando os ângulos de dispersão da
energia sonora que a caixa acústica
possui, fundamentais para determi-
narmos em qual ângulo será montada
a caixa dentro do arranjo “array” e,
em qual ângulo o próprio arranjo de-
verá ser montado. Essa característica,
os ângulos de dispersão das caixas
acústicas, que ainda voltaremos a
abordá-los, é fundamental para con-
seguirmos a tão “sonhada” cobertura
uniforme da nossa sonorização.
Figura 2 Vejamos os cálculos e vamos compa-
dB SPL a 1 metro, depois de 8 metros de ganho adicional à energia original. Um rá-los para esclarecer melhor ainda
propagação a energia sofrerá uma queda ganho acústico! essa questão.
de -18dB e nesse ponto, a energia origi- Agora, a questão importante é que Vamos determinar que a área a qual a
nal estará em 92dB! quando posicionamos um sistema de nossa sonorização deve cobrir se estende
sonorização sobre o palco, por exemplo, até 20 metros das caixas acústicas. Em
próximo ao espectador, nós estamos nosso primeiro exemplo, a caixa estava
concentrando uma grande massa de posicionada a 2 metros do primeiro es-
Quando posicionamos energia sobre todos que estarão nos pri- pectador e com uma altura de 2 metros.
uma caixa suspensa, meiros metros, tornando a experiência Como vimos na figura 2, a distância en-
como na figura 4, uma tanto traumática (e quem ainda tre o espectador (sentado e com a cabeça
mudamos a relação entre não passou por isso?), e sofrendo para 1,2 m) e a fonte sonora é de 2,16 metros.
o primeiro espectador e a conseguir que essa mesma energia al- Nesse ponto podemos calcular a perda
fonte da energia. Eram 2 cance o fundo da platéia. (veja figura 2). em função dessa distância em – 6,7 dB.
metros e agora a altura Na figura 3 você poderá ver um gráfi- (20.Log10(distância em metros)) Con-
passou para 5 metros co que determina a relação entre a siderando que o último espectador está a
dispersão e suas perdas em relação à 20 metros, perdas de -26dB, podemos
energia originalmente produzida. encontrar praticamente três variações
Quando posicionamos uma caixa sus- de perdas relativas à posição desse espec-
Inclusive, aqui vale um comentário im- pensa, como na figura 4, mudamos a re- tador (veja na figura 3 o gráfico de perdas
portante, mais à frente veremos qual o lação entre o primeiro espectador e a e suas “janelas” de variações).
papel das cornetas em nossa sonori- fonte da energia. Eram 2 metros e agora Já na figura 4, a distância entre o espec-
zação, porém, o detalhe é que como ele a altura passou para 5 metros. Quando tador e a fonte sonora é de 4,44 metros.
redireciona essa emissão de energia por conseguimos alocar essa distância den- As perdas em relação à fonte sonora
reflexões em seu corpo, ela introduz um tro de uma janela em que haverá a me- agora são de -12,9dB. Considerando a

Figura 3

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Figura 4

posição do último espectador a 20 vezes. Essa interação não afeta a lei,


metros com perdas de -26dB, a diferen- mas altera a relação de perdas com o
ça é menor. Com isso conseguimos quadrado da distância.
“alocar dentro de uma janela” em que Quando uma distância dobra em rela-
só teremos duas variações de energia. ção a sua fonte, a energia sonora de-
Imagine você quando conseguimos cresce os -6dB, como já falamos. Em
alocar o primeiro espectador a uma dis- ambientes fechados, a acústica do am-
tância próxima ou maior que 8 metros! biente incrementa um “ganho acústi-
A variação seria menor ainda. Conclu- co” que altera esse valor, assim como
são: ao utilizarmos o nosso sistema de nos casos de acoplamento da corneta
sonorização suspenso, poderemos dis- ao driver, que também incrementa um
tribuir ou alocar de uma forma melhor ganho acústico ao mesmo.
essas variações de energias propagadas. E O cálculo para determinar qual será
isso, meus caros leitores, é utilizar um esse valor envolve o conhecimento de
pouco do conhecimento da física para fa- vários parâmetros da acústica e das
cilitar o nosso trabalho. Perceba que nes- caixas que serão usadas dentro desse
se primeiro argumento são fortíssimos os ambiente. O resultado sempre será
elementos que fundamentam tal teoria, uma perda menor que -6dB, justamen-
que os sistemas suspensos são melhores te pelo incremento do ganho da acús-
para sonorizar uma platéia, isso, claro, na tica do ambiente. Veremos isso quan-
grande maioria das situações. do sonorizarmos nossa igreja modelo.
Outro ponto importante a frisar é o No próximo mês continuaremos a
comportamento da lei do inverso do abordagem sobre a sonorização de
quadrado em ambientes fechados. ambientes fechados.
Em ambientes fechados, temos a Até a próxima!
interação dos sons emitidos pelas cai-
xas acústicas com a acústica do ambi- e-mail para esta coluna:
ente, como já falamos várias outras aldo@arsnet.com.br

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