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Galáxia Gutemberg de autoria de Marshall McLuhan foi publicado em 1962.

Neste livro, o autor aborda a


influência das tecnologias de impressão no desenvolvimento humano a partir da invenção do tipo móvel, por
Gutemberg no século XV. Segundo McLuhan, a percepção humana era originalmente plurissensorial, com
predomínio do sentido áudio-táctil, no entanto, com a introdução do alfabeto fonético a percepção humana foi
se estreitando na direção do sentido da visão. McLuhan estabelece uma comparação entre a sua teoria e um
trecho da peça Rei Lear de Shakespeare que fala sobre "o isolamento da sensação visual como um tipo de
cegueira". Esta abordagem destaca a ênfase dada à percepção visual em detrimento das demais sensações.

Para McLuhan, não somos capazes de utilizar a tecnologia para moldar o nosso mundo. Ao contrário, somos
de forma inconsciente profundamente alterados por ela. A combinação da rigidez do arranjo físico do texto
impresso com a necessidade de abstração para a criação de sentido a partir dos símbolos arbitrários do
alfabeto encorajaram uma ênfase na lateralidade e linearidade do pensamento. O raciocínio formado a partir
da percepção em mosaico foi relegado a segundo plano ao lado da emoção e da intuição, substituídas pelo
pensamento racional. Esta forma de percepção adquirida a partir da tecnologia de impressão substituiu a
percepção global pela análise linear, fragmentada, modificando o enfoque da humanidade na compreensão do
mundo. Na medida em que uma tecnologia é interiorizada, ela favorece um sentido particular as custas da
desvalorização dos outros e na medida em que as relações entre os sentidos se modificam, o homem se
modifica. Mudanças perceptivas e intelectuais alteram a influência das novas tecnologias: a forma com que o
mundo é percebido afeta o modo como é compreendido, influenciando o design de futuras tecnologias.
Assim, as pessoas criam tecnologias que modificam pessoas, que criam mais tecnologias que modificam mais
pessoas.

O artefato mecânico de escrita, na compreensão de McLuhan, é considerado o primeiro exemplo de


conhecimento aplicado a permitir a evolução de outras tecnologias e mesmo uma mudança no enfoque do
conhecimento. Segundo o autor, anteriormente à invenção da escrita, a autoria era estabelecida em forma de
mosaico, na medida em que os trabalhos escritos eram copiados, dissecados recitados e reincorporados a
outros. O conhecimento relacionava-se à flexibilidade e ao anonimato. A reprodução mecânica através da
produção de massa de textos idênticos introduziu a idéia de autoria individual e propriedade intelectual. A
permanência dos trabalhos impressos permitiu a manutenção de pontos de vista específicos de autores
individuais, solidificando a idéia de pontos de vista únicos. Assim, por causa da manutenção da forma, a
imprensa tornou-se a tecnologia do individualismo (pg. 192). A repetição acurada gerada pelo processo
tipográfico também encorajou a uniformização da gramática e da fala, que permitiram a democratização do
conhecimento e o surgimento e aparecimento de nações.

McLuhan criou a imagem da Galáxia Gutemberg sustentando que com o nascimento da imprensa, a
construção da perspectiva no desenho e o fortalecimento do racionalismo, nascia um novo mundo. Os
argumentos de McLuhan, baseados principalmente em evidencias literárias como Rei Lear, são acrescidos por
longas citações. Suas seções podem parecer algumas vezes desconexas na medida em que foram criadas,
segundo o autor, de acordo com um padrão mosaico de percepção.

Marshall McLuhan (1911-80) nasceu no Canadá e foi professor de literatura inglesa na Universidade de
Toronto a partir de 1946. Suas idéias alcançaram um enorme sucesso na década de 60, mas sua popularidade
foi minguando ao longo da década seguinte. Apesar de seus críticos acusarem as suas idéias de determinismo
tecnológico, algumas das expressões criadas por ele como “aldeia global”, “o meio é a mensagem” e mesmo
“galáxia Gutemberg” permaneceram incorporadas ao senso comum. A década de 90 e o advento da World
Wide Web trouxeram de volta suas idéias que, em alguns casos, parecem fazer mais sentido do que na época
em que foram criadas.

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