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TEMPO DE GUERRA

Não sei se é devido à minha pena, mas mesmo a seu contragosto devo manchar a
letrada folha em negro. Negro que é bem conveniente ao Tempo de Guerra,
Guerra Hi-Tech, afinal, estamos no Século XXI.
Nos estertores do Século XX ainda se discutia uma Guerra Fria, mas nos idos de
1991 seus últimos suspiros cessaram com a ruína do Império Soviético. Os
mocinhos e bandidos continuaram os mesmos, sedentos de sangue, poder e
sofrimento humanos. Se antes a Guerra era Fria, hoje tornou-se inevitável, se antes
havia terrorismo político hoje há o terrorismo puro e simples; terrorismo de
estado e sem estado. No novo Século o único Xerife que restou daqueles dias, atira
no que vê, no que imagina ver e, na dúvida, também atira no que não existe.
Não bastasse a alcunha de Era dos Extremos criada pelo historiador Eric
Hobsbawn em função das atrocidades do Século das Guerras, inauguramos no
Século XXI a Era dos Absurdos; hoje um único país chama a si as funções de
polícia e de rapinagem internacionais, deixando aos outros o papel de acordar ou
discordar com suas ações. De tal sorte que aquele que estiver em acordo o siga qual
rebanho que se atira ao precipício seguindo o líder, por outro lado os que
discordam, são arbitrariamente divididos em três blocos, o primeiro é apenas
ignorado ( Alemanha e França não serem consideradas. Que admirável e medíocre
nova ordem mundial), o segundo é alçado à categoria de inimigo, nações do Eixo
do Mal e, por fim, o terceiro, do qual fazem parte países como Rússia ( que
desordem mundial), China ( dividida entre o capital e o poder político), Brasil e
outros, muitos outros.
Nesse novo Século, a nação beligerante com seu Xerife Cowboy e Ignorante, quer
conduzir com seus ajudantes uma nova super-produção, o Faroeste Hi-tech , com
seus cavalos de aço ( lembram do Hammer? Até o Stallone tem um), seus
uniformes Fashion e uma Piromania de dar inveja a qualquer incendiário
psicótico. É Tempo de Guerra. Porém, essa será uma Guerra diferente, limpa,
objetiva e estatisticamente testada, nos computadores, claro, pois eles não
sangram, não sofrem, tal e qual o condutor dessa infâmia; laboratórios balísticos
para armas limpas. Se as armas são limpas devemos comemorar, pois teremos
assassínios limpos, o verdadeiro extermínio asséptico ( Goebbels invejaria tal
propaganda). É porém, bem-vinda uma pergunta: Teriam os membros assignes da
O.N.U. votado em Assembléia a escolha de um único detentor do poder mundial e,
nessa votação, expurgado o direito de veto das nações do conselho de segurança?
É Tempo de Guerra, Guerra de Informação e desinformação. Se algum dia houve
Direito Internacional, que terá sido feito dele?
Determinaram esses Cowboys que estamos sob ameaça de um Eixo do Mal, eixo do
mal, que fique claro, que foi alçado ao poder, armado e treinado pela C.I.A. , a
agência do famoso agente Maxwell Smart, o agente 86. Reparem na semelhança
dele com o little Bush ( em especial, sua capacidade de criar trapalhadas
internacionais). Portanto de um lado o bem, do outro, a Kaos, hoje sediada em
Bagda, o café.
Mas como tudo na vida deve ter um ordenamento ainda que longe do Jurídico, não
podemos expurgar a C.I.A., sem a qual não haveriam marionetes governando
nações, terroristas milionários e imbecis para acreditar nessa baboseira de Guerra
civilizada. Só existem dois tipos de Guerra, a civil e a internacional, nenhuma delas
civilizada e, menos ainda, asséptica.
Fica aqui uma declaração, talvez insana por crer na possibilidade de
inaugurarmos uma nova Era das Luzes, onde a razão finalmente não seja usada
para distorcer a verdade e justificar atrocidades cometidas contra outros homens,
independente de sua condição, nacionalidade ou origem étnica. Esse Tempo de
Guerra deve ser um urgente apelo para um Humanismo que deve renascer se
quisermos preservar algum futuro, mesmo que breve.

Marcílio Ribeiro, Janeiro de 2003

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