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Resumo
Este trabalho apresenta uma proposta para representação de um modelo teórico para o
sistema da Construção Enxuta adaptado do Sistema Toyota de Produção. Isto é feito
mediante a identificação de cada um dos componentes que formam a estrutura do Sistema
Toyota de Produção, detalhando os pilares e a base, adaptando-os às peculiaridades do setor
da construção de edificações verticais no Brasil. Ao final são abordadas as categorias de
perdas geralmente consideradas neste contexto.
Palavras-chave: Sistema Toyota de Produção, Estrutura da Construção Enxuta,
Gerenciamento.
1. Introdução
Em 1973, com a crise do petróleo (aumento vertiginoso do preço do barril), milhares de
empresas sucumbiam ou enfrentavam pesados prejuízos, enquanto a Toyota Motor Co., era
uma das poucas a escapar praticamente ilesa. “Este “fenômeno” despertou a curiosidade de
organizações no mundo inteiro” (Ghinato, 2000). O sistema de produção adotado pela Toyota
é conhecido como Sistema Toyota de Produção (STP), e o que é hoje conhecido por Sistema
de Produção Enxuta (em inglês Lean Production System) é, na verdade, o próprio Sistema
Toyota de Produção (STP). O termo enxuta (do inglês, lean) foi usado no final dos anos 80
pelos pesquisadores do International Motor Vehicle Program (IMVP) para definir um sistema
de produção muito mais eficiente, flexível, ágil e inovador do que a produção em massa; um
sistema habilitado a enfrentar melhor um mercado em constante mudança (GHINATO, 1996).
Segundo Howell (1999), a rejeição por parte da Indústria da Construção às idéias e soluções
provenientes da manufatura sempre existiu, sob a alegação de que as características da
Construção são significativamente diferentes daquelas da manufatura. Logo, a aplicação dos
conceitos da Produção Enxuta na Construção deve resultar de um processo de transferência e
não de réplica.
Nesse contexto, este estudo propõe estruturar o modelo de representação do Sistema da
Construção Enxuta mediante o estabelecimento dos componentes que formam a estrutura do
Sistema Toyota de Produção.
2. Conceitos Básicos
Para melhor compreensão do que se propõe neste artigo, é apresentada, a seguir, uma visão
geral dos conceitos de produção enxuta e construção enxuta.
“Na verdade, produção enxuta é um termo genérico para definir o Sistema Toyota de
Produção (TPS)” (GHINATO, 2000). Para John Krafcik, pesquisador do IMVP, é “enxuta” a
Conforme afirma Ghinato (2000), para se manter ou aumentar o lucro, deve-se reduzir os
custos. A urgência na redução dos custos de produção fez com que todos os esforços fossem
concentrados na identificação e eliminação das perdas. Esta passou a ser a base sobre a qual
está estruturado todo o sistema de gerenciamento da Toyota Motor Co.
A diferença básica entre a filosofia gerencial tradicional e a Lean Production é essencialmente
conceitual. O modelo conceitual dominante na construção civil define a produção como um
conjunto de atividades de conversão, que transformam os insumos (materiais, informação) em
produtos intermediários (por exemplo, alvenaria, estrutura, revestimentos) ou final
(edificação) (ISATTO et al., 2000).
Na Construção Enxuta, um processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria-
prima até o produto final, sendo o mesmo constituído por atividades de transporte, espera,
processamento e inspeção . Tais atividades, com exceção do processamento, não agregam
valor ao produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo (FORMOSO,
2002).
Menor
Lead Time
CLIENTE Mais Alta
qualidade
Just-in-Time Jidoka
Separação
Fluxo Contínuo
Homem/
Segurança
Moral
Máquina
Takt Time
Poka-Yoke
Prod. Puxada
Estabilidade
(Fonte: Ghinato,2000)
Figura 1 – A Estrutura do Sistema Toyota de Produção
Segundo Anumba & Ruikar (2001), o setor da construção civil é importante demais para ficar
estagnado. Assim, o modelo teórico proposto visa adaptar os componentes do STP às
peculiaridades do setor da construção de edificações residenciais verticais, com o intuito de
aumentar sua competitividade, permitindo que as empresas tenham um melhor
aproveitamento dos seus recursos internos. A estrutura é composta por dois pilares, pela base
e no topo o cliente.
Primeiro Pilar: JIT
Conforme visto anteriormente a viabilização do JIT depende de três fatores intrinsecamente
relacionados: fluxo contínuo, takt time e produção puxada (GHINATO, 2000).
O fluxo contínuo, referente aos recursos, é a resposta à necessidade de utilização do menor
tempo possível para a execução das atividades. Uma vez que na construção civil, os recursos
transformadores se movimentam e o recurso transformado é fixo, torna-se necessária a
verificação do layout da obra, pela sua grande influência nas perdas de materiais e na
incidência de tempos improdutivos da mão-de-obra. A elaboração de fluxogramas de
processos, relativos ao uso de materiais em obra, é extremamente importante enquanto
instrumento para a análise da dinâmica do sistema, gerando um melhor entendimento de todas
as etapas pelas quais os materiais passam, até se tornarem parte do serviço final.
Dessa forma, o fluxo contínuo poderia ser assegurado através do mapeamento e eliminação de
atividades que não agregam valor, através da adoção da quantidade de equipamentos e
processos que maximizem o fluxo e da confiabilidade nos equipamentos assegurada com a
prática da manutenção produtiva total.
Picchi (2001) cita que os fluxos na construção podem ser identificados como fluxo de negócio
- englobando os fluxos de projeto, de obra e de suprimentos - e fluxo de uso e manutenção.
No primeiro, o ciclo é liderado pelo contratante (incorporador) e envolve desde a
identificação de necessidades, planejamento geral do empreendimento, contratação e
monitoramento do projeto e construção, recebimento da construção, até a entrega da mesma
ao usuário final. O segundo começa logo após a entrega do imóvel, compreendendo uso,
operação e manutenção, assim como reparo, reforma, remodelagem e demolição.
O takt time para a construção, é o ritmo para a execução das atividades, segundo o
planejamento das ações futuras a serem realizadas no processo de produção. O conceito de
takt time poderia ser usado também para estabelecer o ritmo das atividades a partir da
demanda real do cliente em toda a cadeia de fornecedores.
A produção puxada pode ser efetuada através da entrega da construção em pequenas áreas,
conforme a necessidade, através da eliminação da produção empurrada e adotando sistemas
puxados entre equipes e entre estas e fornecedores (PICCHI, 2001). Ela equivale à execução
dos serviços certos na hora certa, ou seja, um serviço só seria liberado após a liberação do
anterior, e as equipes de trabalho já estariam devidamente preparadas com o material para o
início do serviço.
Segundo Pilar: Jidoka
O Jidoka consiste em assegurar, ao responsável pela obra em questão, a autonomia para
interromper o serviço sempre que for detectada qualquer anormalidade.
A idéia central é impedir a geração e propagação de defeitos e eliminar qualquer
anormalidade no processamento e fluxo de produção (GHINATO, 2000). A viabilização do
Jidoka depende de dois fatores: separação entre a máquina e o homem e poka-yoke.
Serviços que necessitam da permanência do operador junto à máquina durante a sua
execução, caracterizam a relação entre a máquina e o homem. A separação que ocorre é entre
a detecção da anormalidade e a solução do problema. A detecção pode ser uma função da
máquina, pois é técnica e economicamente viável, enquanto a solução ou correção do
problema continua como responsabilidade do homem (GHINATO, 2000). Existem
dispositivos utilizados na construção que detectam a existência de anormalidades em
equipamentos, imperceptíveis pelo seu operador. No caso da produção de concreto ou
argamassa em betoneira, por exemplo, havendo qualquer diferença de tensão, fuga de corrente
ou algum material condutor de energia encostado a ela, o dispositivo empregado interromperá
o fornecimento de energia, impedindo a deterioração do equipamento ou o acidente com o
operador. Esse dispositivo é conhecido por DR, dispositivo diferencial residual.
O poka-yoke é uma forma de bloquear as principais interferências na execução da operação
(GHINATO, 2000). Uma das formas empregadas é a ação preventiva, cujo objetivo é atuar
com ações que evitem erros já verificados em processos anteriores. Outra forma é a inspeção
dos materiais durante o seu recebimento, verificando se estão de acordo com as suas
especificações e a inspeção dos serviços durante a sua execução, que devem atender às
tolerâncias especificadas na sua ficha de registro.
A grande ênfase deste modelo é que o valor deve ser identificado a partir da ótica do cliente.
Deve-se identificar as necessidades do usuário (cliente externo) da obra que será empreendida
e após o processamento das atividades, o produto resultante deverá satisfazer às suas
necessidades, fornecendo o produto da mais alta qualidade, ao mais baixo custo e no menor
tempo possível.
A segurança é um fator intrínseco a todos os componentes do sistema. Deve ser garantida a
segurança estrutural do produto final, ou seja, a estabilidade e resistência mecânica, que deve
ser acompanhada no decorrer dos serviços através do dispositivo poka-yoke e da estabilidade
dos processos. A segurança ao fogo, ou seja, limitações de risco de início e propagação do
fogo, segurança em caso de incêndio e a segurança à utilização, ou seja, segurança no uso e
operação, que devem ser asseguradas pelo atendimento às disposições da NR-18 –
“Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção”. Para a verificação de
tais condições, a aplicação de lista de verificação periodicamente, com questões baseadas nas
condições de risco impostas pela norma, seria o método mais adequado.
4.2 Identificação das Perdas
Como enfatizado na seção 2, a essência do sistema de Produção Enxuta, segundo Ghinato
(2000), é a perseguição e eliminação de toda e qualquer perda, garantindo um fluxo contínuo
de produção. Este é o objetivo do JIT, um dos pilares do modelo da Construção Enxuta.
Assim, a busca pela eliminação das perdas também é essencial na construção enxuta, no
entanto, sua classificação e significado podem ter outra conotação.
As sete categorias de perdas propostas por Ohno para o sistema de produção enxuta na
manufatura, foram adaptadas por Santos et al. (2000) para a construção civil. Posteriormente,
Santos et al. (2000) propôs mais duas categorias de perdas Essa classificação é utilizada para
facilitar ações gerenciais de eliminação das perdas. Exemplos de cada uma dessas perdas são
(SANTOS et al., 2000):
1. Perda por superprodução: produção excessiva de argamassa;
2. Perda por transporte: uso de equipamento inadequado para transporte de blocos;
3. Perda no processamento em si: quebra de alvenaria para instalações de tubulações
elétricas;
4. Perda por estoque disponível: mau acondicionamento dos blocos Æ quebra;
5. Perda devido à produção de produtos defeituosos: descolamento de cerâmica;
6. Perda por movimento: longas distâncias percorridas entre o posto de trabalho e o
estoque;
7. Perda por espera: falta de argamassa para execução da alvenaria.
8. Perda por substituição: uso do concreto com resistência maior que a necessária;
9. Perda por ocorrência de acidentes de trabalho: indenizações e danos materiais
causados pelo acidente.
5. Considerações Finais
Este trabalho apresentou uma proposta para representação de um modelo teórico para o
sistema da Construção Enxuta adaptado do sistema da Produção Enxuta. Foram identificados
os pilares e a base do sistema da Construção Enxuta, adaptando seus componentes às
peculiaridades do setor da construção de edificações verticais no Brasil.
Neste estudo observou-se que nem todos os componentes do sistema de Produção Enxuta
podem ser considerados como base para a Construção Enxuta, devido à grande diferença do
processo de gerenciamento da construção para a manufatura, podendo-se citar o arranjo físico
e fluxo do processo. O heijunka, por exemplo, é de difícil aplicação na Construção Civil.
Associado ao modelo, a identificação das perdas como meio inicial de apoio à implementação
da Construção Enxuta, foi abordada através de exemplos comuns ao contexto do setor.
Pôde-se, então, concluir que o modelo teórico proposto facilita a identificação dos princípios
do STP para a Construção Enxuta de cada um de seus componentes, de modo a contribuir
com essa nova forma de processo produtivo, mais adequado ao ambiente onde o aumento da
concorrência e evolução tecnológica pressionam as empresas na busca de maior produtividade
e competitividade.
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