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Amor sem recordações - Uma noite especial
Amor sem recordações - Uma noite especial
Amor sem recordações - Uma noite especial
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Amor sem recordações - Uma noite especial

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About this ebook

Amor sem recordações

Annie não dava crédito à afirmação de Dominic Carlyle. Como era possível que fosse seu marido? Como podia tê-lo abandonado e ter esquecido tudo acerca dele e do seu casamento? Para lhe refrescar a memória, Dominic insistiu em que fosse viver com ele. Annie sentia-se misteriosamente impulsionada a aceitar, obcecada com um sonho em que um homem fazia amor com ela de uma forma apaixonada... Um homem exactamente igual a Dominic.


Uma noite especial

A relação de Piers com Georgia era estritamente profissional. Isso deveria ter servido para que a sua convivência sob o mesmo tecto fosse um assunto relativamente simples.
Mas Piers não podia evitar que ela se imiscuísse nos seus pensamentos. Ele não era um homem que agisse por impulso e tinha conseguido resistir-lhe... Até àquele momento. Mas então, uma noite...
LanguagePortuguês
Release dateMar 10, 2011
ISBN9788467195712
Amor sem recordações - Uma noite especial
Author

Penny Jordan

Penny Jordan, one of Harlequin's most popular authors, sadly passed away on December 31, 2011. She leaves an outstanding legacy, having sold over 100 million books around the world. Penny wrote a total of 187 novels for Harlequin, including the phenomenally successful A Perfect Family, To Love, Honor and Betray, The Perfect Sinner and Power Play, which hit the New York Times bestseller list. Loved for her distinctive voice, she was successful in part because she continually broke boundaries and evolved her writing to keep up with readers' changing tastes. Publishers Weekly said about Jordan, "Women everywhere will find pieces of themselves in Jordan's characters." It is perhaps this gift for sympathetic characterisation that helps to explain her enduring appeal.

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    Amor sem recordações - Uma noite especial - Penny Jordan

    Portada

    Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

    © 2000 Penny Jordan. Todos os direitos reservados.

    AMOR SEM RECORDAÇÕES, Nº 14 - Março 2011

    Título original: Back in the Marriage Bed

    Publicada originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

    © 2000 Penny Jordan. Todos os direitos reservados.

    UMA NOITE ESPECIAL, Nº 14 - Março 2011

    Título original: One Intimate Night

    Publicada originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

    Estes títulos foram publicados originalmente em português em 2001 e 2002.

    Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

    Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

    ® Harlequin y logotipo Harlequin e Tiffany são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

    ® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

    I.S.B.N.: 978-84-671-9571-2

    Editor responsável: Luis Pugni

    Casal: VOJTECHVLK/DREAMSTIME.COM

    Ponte de Londres: DILIFF/DREAMSTIME.COM

    Pincéis: PHOTOWITCH/DREAMSTIME.COM

    ePub X Publidisa

    Penny Jordan

    Amor Sem Recordações

    Logo colección

    CAPÍTULO 1

    Annie parou a meio da escada. Um sorriso encantador surgia nos seus lábios e um brilho sonhador e distante alterava a clareza habitual dos inteligentes olhos cinzentos. Teve novamente aquele sonho, o sonho em que o via. E, desta vez, foi tudo ainda mais delicioso e real do que antes. Tão real que...

    Vermelha, sentiu novamente o prazer a aquecer o seu corpo. Na noite anterior, quando ele a abraçou e acariciou... Um violento arrepio percorreu o seu corpo e, a correr, subiu os últimos degraus.

    Tinha uma hora para preparar-se antes de ir buscar Helena e o marido. Os três iam almoçar e era nisso que devia pensar, não num homem maravilhoso criado pela sua imaginação, pelos seus sonhos... pela sua carência.

    Para uma mulher de vinte e três anos sem nenhum amante, a intensidade e a nitidez dos sonhos eróticos, envolvendo o homem que passou a chamar de amante perfeito e alma gémea, eram surpreendentes. Seria um sinal da falta de companhia masculina ou uma indicação do poder da sua imaginação? Não conhecia a resposta. Tudo o que sabia era que desde o primeiro sonho, nenhum outro homem conseguiu tocar nas suas emoções.

    Estava ansiosa pela noite com os amigos. Afinal, Helena não era apenas a sua amiga mais próxima; era uma espécie de mãe substituta; também era a médica que salvara a sua vida quando outros menos determinados e atentos afirmavam que...

    Tensa, engoliu em seco. Mesmo cinco anos depois do acidente, a recordação de como tinha estado perto da morte ainda a aterrorizava.

    Sabia que o raciocínio não era lógico, mas o facto de não recordar os acontecimentos que antecederam e causaram o acidente e das semanas que esteve em coma, tornava o medo ainda mais intenso, como se salientasse a fragilidade da vida.

    Ao empurrar a porta do quarto, Annie sentiu a fraqueza do braço e usou o peso do corpo para concluir o movimento. Aquela era a única herança física do dramático acidente. O braço foi esmagado e, por causa da extensão e da gravidade das lesões, o médico que a recebeu na urgência quase que o amputou, quando, notando a presença de Helena, pediu a sua opinião. Chefe do departamento de microcirugia, ela assumiu o comando e decidiu que era possível salvar o membro.

    O rosto de Helena foi o primeiro que viu quando recuperou a consciência, mas só após muitas semanas é que se apercebeu da sorte que tivera ao ser atendida por ela.

    Foi Helena que ficou ao seu lado, durante horas e horas, a falar e a incentivar a sua consciência durante o período de coma, tentando despertá-la com o seu amor e a sua força de vontade. Annie sabia que nunca esqueceria tudo isso.

    – Não foste a única a ganhar com a experiência – dizia Helena, a brincar. – Não fazes ideia de como o mercado passou a valorizar-me depois daquela cirurgia. Para mim, o teu braço vale o próprio peso em ouro. E tu, minha querida, és mais especial do que posso expressar. A filha que nunca imaginei ter...

    Quando Helena fez esta comovente declaração, ambas choraram. Qualificada e respeitada no seu meio profissional, a médica perdeu o útero e as hipóteses de ser mãe ainda muito jovem e Annie fora abandonada, ainda bebé, e criada num lar para crianças órfãs. Apesar de ter sido sempre bem tratada, nunca teve aquele amor especial com que sonhava desde os primeiros anos de vida.

    Há dois anos, quando Helena finalmente aceitou o pedido de casamento do sócio Bob Lever, Annie sentiu-se muito feliz pelo casal. Ela recusou sempre as insistentes propostas de Bob, dizendo que um dia ele podia conhecer alguém especial que fosse capaz de ter filhos e que teria de estar livre para quando esse dia chegasse. Só os esforços combinados de Annie e Bob a fizeram mudar de ideias.

    No final, usando um argumento quase desesperado, Annie lembrou-a que, depois de a ter praticamente adoptado como filha, Helena não tinha mais razões para recusar o pedido de Bob.

    – Muito bem, desisto – respondeu ela a rir. – Mas, como tua mãe adoptiva, exijo que retribuas e encontres um parceiro especial para me dares muitos netos.

    Depois disso, graças à atmosfera descontraída e ao excelente jantar de Natal que prepararam juntas, Annie encontrou a coragem necessária para contar à amiga sobre os extraordinários sonhos que costumava ter.

    – Lembras-te da altura em que o sonho ocorreu pela primeira vez? – perguntou Helena, num tom profissional.

    – Não tenho a certeza... Creio que já os tinha há algum tempo, mas nem me apercebia da sua existência. E, quando percebi o sonho, tudo era muito familiar, como se aquele homem fizesse parte da minha vida, como se eu o conhecesse.

    Foi difícil explicar a natureza intensa e inquietante do sonho, a sensação de familiaridade despertada pelas cenas persistentes.

    Diante do espelho, enquanto se preparava para vestir o traje que ela e Helena compraram há um mês, especialmente para aquela ocasião, Annie sorriu. Teve sorte por não ter sofrido nenhum ferimento no rosto. Os traços delicados ainda compunham o mesmo conjunto que via nas poucas fotografias que possuía da infância. Os cabelos ainda eram louros, como antes, uma herança dos pais que não conheceu. A maturidade e a autoconfiança libertaram-na da agonia de não saber quem ou o que foram os seus pais. Era suficiente que lhe tivessem dado o mais precioso de todos os bens: a vida.

    Tudo o que sabia sobre o acidente era o que ouvia dizer, o que foi relatado no tribunal, durante o julgamento que resultou na condenação do motorista que a atropelou. Preso por condução perigosa, teve de pagar uma indemnização significativa por perdas e danos. Mas o maior lucro do ponto de vista de Annie não foi a enorme quantia em dinheiro que garantia a sua sobrevivência, mas sim a entrada de Helena e Bob na sua vida.

    Como argumentaram os advogados do motorista, o acidente não a impedia de concluir o curso universitário, nem a retirava definitivamente do mercado de trabalho. Actualmente, trabalhava meio período, o que comprovava a teoria dos advogados, mas as evidências eram esmagadoras. Cinco testemunhas viram o automóvel avançar com o sinal vermelho e atingi-la no meio da passadeira de peões. O motorista estava embriagado, uma circunstância que, segundo os seus advogados, foi provocada por problemas pessoais que ele já tinha solucionado.

    Annie suspirou. A esposa do acusado também compareceu no tribunal. A chorar, afirmou que, sem o salário do marido e a sua força de trabalho, a vida da família tornar-se-ia muito difícil. Como é que uma mulher sozinha podia sustentar três filhos pequenos? Annie lamentava e sentia uma certa compaixão sempre que pensava naquela família, mas, como Helena dizia, a culpa pela situação em que estavam não era dela.

    De qualquer maneira, ficou feliz ao saber que o motorista não morava na cidade. Assim, não corria o risco de o encontrar ou à sua família, numa rua qualquer.

    Era estranho pensar que não passara toda a vida naquela pequena e pacata cidade histórica com o seu castelo medieval, uma universidade e um rio que, há muitos anos, foi a fonte de toda a riqueza e da posição destacada do lugar. Os barcos, que ainda utilizavam a marina local, eram apenas veículos de passeio e lazer; os navios mercantes que, antigamente ali aportavam, faziam parte do passado.

    Não conseguia lembrar-se do motivo que a levou a candidatar-se a uma vaga na Universidade de Wryminster, nem quando tinha chegado à cidade. Era evidente que não tinha tido tempo para fazer amigos; o acidente ocorreu uma semana antes do início das aulas e o único endereço que as autoridades encontraram foi o do lar para crianças órfãs onde ela cresceu.

    De acordo com o que Helena pôde descobrir, Annie era uma criança muito inteligente, embora solitária. Assim, quando teve alta, levou-a para casa e cuidou dela com a dedicação e o carinho de uma mãe.. Com o amor de uma mãe! E também a encorajou a tornar-se independente, contribuindo na procura de uma casa adequada e próxima da dela.

    Enquanto retirava do armário a roupa nova, Annie suspirou. Percorreu um longo caminho... Muito longo.

    De crepe de lã azul, o conjunto era composto por calças compridas, um corpete bordado com linha cintilante e um sobretudo que quase tocava nos seus tornozelos. Hesitou antes de comprar uma roupa tão elegante e cara; não tinha uma vida social intensa para possuir peças como aquela. Contudo, Helena convenceu-a a adquirir a bela vestimenta. Na opinião da médica e amiga, já estava na altura de Annie sair mais e conhecer pessoas diferentes e interessantes.

    – Sayad faria qualquer coisa para convencer-te a aceitar um dos seus convites – lembrou.

    Sayad era um anestesista que tinha entrado recentemente na equipa chefiada por Helena. Atraente e simpático, interessou-se por Annie logo que a viu. Era interessante, educado, gentil, mas...

    Mas não era o homem que via nos seus sonhos. Oh, não! E nem chegava aos pés dele. Apesar dos traços harmoniosos, do sorriso agradável e das maneiras envolventes, Sayad não tinha a maturidade misteriosa do homem que perturbava o seu sono todas as noites. Havia um ar de autoridade nos seus gestos, uma masculinidade poderosa e dominadora que nunca encontrou noutro homem.

    Apesar do preço do conjunto, decidiu comprá-lo porque naquela noite participaria numa comemoração especial: o aniversário de Bob e o aniversário do casamento dele e de Helena.

    Seguindo o conselho da médica, que se preocupou com o desgaste provocado pela longa batalha judicial travada nos tribunais antes da sentença que decretou o pagamento da indemnização, Annie tirou uma licença no trabalho para recuperar-se. No início da semana, despediu-se dos colegas da companhia petroquímica multinacional Petrofiche, cujos escritórios centrais funcionavam numa antiga propriedade rural nos arredores da cidade.

    Para o jantar daquela noite, reservou uma mesa no mais prestigiado restaurante da região ribeirinha, disposta a organizar e a suportar os custos da comemoração. Por isso, ia buscar Helena e Bob no seu novo e reluzente Mercedes.

    O carro foi o grande passo da sua vida. Logo após o acidente não podia conduzir e, durante muito tempo, tinha medo até de chegar perto de um automóvel. Sentar-se ao volante era uma ideia que a aterrorizava. No entanto, esforçou-se para superar os medos e passou no exame. A fraqueza muscular do braço convenceu-a a optar por um modelo de mudanças automáticas e, finalmente, Annie comprou o seu primeiro carro.

    Pronta, parou diante do espelho e sorriu satisfeita. Depois da conclusão do processo e da luta no tribunal, finalmente começava a recuperar o peso perdido e a roupa caía-lhe ainda melhor do que no dia em que a comprou. Sim, tinha motivos para estar contente. A casa onde vivia, por exemplo. Participou em todo o trabalho de reforma, supervisionando cada mudança, escolhendo pessoalmente toda a mobília. A enorme cama de ca-sal atraiu o seu olhar. Ainda não entendia por que é que tinha comprado aquela cama, por que razão nem vira as outras opções oferecidas pela loja.

    Tudo o que sabia era que, ao vê-la, teve a certeza de que aquela era a escolha ideal.

    Nos seus sonhos, ela e o amante estavam sempre naquela cama, embora nos sonhos... Perturbada, lembrou-se de que chegaria atrasada se não se apressasse.

    Agitada e corada, Annie desceu as escadas e saiu.

    – Meu Deus, como este lugar está movimentado! – comentou Helena.

    Annie estacionou o carro no último lugar disponível no estacionamento do restaurante.

    – Quando telefonei para reservar a mesa, o gerente comentou que esperava ter uma noite muito agitada. A Petrofiche oferece um jantar para um novo consultor de biologia marítima.

    – Oh, sim, é verdade! Ouvi dizer que eles encontraram um substituto para o professor Salter. Foram buscá-lo a uma das universidades dos estados do Golfo, atraídos pelas suas impressionantes qualificações e pela experiência diversificada. E o homem ainda é jovem, segundo os comentários que ouvi. Deve ter pouco mais de trinta anos. E parece que já trabalhou para a Petrofiche no passado.

    – É estranho pensar num biólogo a trabalhar para uma indústria petroquímica – disse Bob.

    – Querido, francamente – exclamou Helena a sorrir. – Achas que os especialistas em biologia marítima só fazem filmes sobre tubarões e corais?

    – É claro que não.

    – Hoje em dia, todas as grandes empresas, especialmente as multinacionais, esforçam-se para construir e manter uma imagem de responsabilidade ambiental – explicou Annie. – Derrames de óleo têm sempre efeitos devastadores sobre os mares e oceanos e sobre as suas formas de vida; é isso que leva companhias como a Petrofiche a empregar especialistas em biologia marítima.

    Estavam fora do carro e a caminho do restaurante.

    Os donos, marido e mulher ainda jovens e bastante conhecidos pelos frequentadores, costumavam receber os clientes mais próximos pessoalmente. Liz Rainford sorriu ao vê-los.

    – Reservei a tua mesa favorita – sussurrou, enquanto chamava um empregado para os acompanhar. Liz fazia parte de um comité de caridade com o qual Annie colaborava angariando fundos. Além disso, a comerciante conhecia a história à volta do acidente e sabia do seu relacionamento com Helena e Bob. – Sei que esta é uma noite especial para todos.

    A mesa em questão ficava num canto afastado do salão principal, ao lado de uma janela donde era possível ver o jardim e o rio. Sentada, Annie suspirou, invadida por uma súbita alegria. Às vezes sentia que tinha renascido naquela manhã há cinco anos, quando abriu os olhos e viu Helena parada ao lado da cama hospitalar, a olhar para ela. Embora já se lembrasse de boa parte da infância e da adolescência, as recordações ainda eram confusas como imagens num filme sem foco e, em alguns momentos, era difícil acreditar que aquelas lembranças, aqueles períodos, fizessem parte da sua vida.

    Para confortá-la nos momentos de maior preocupação, Helena dizia sempre que aquele era o efeito do trauma sofrido pela mente e pelo corpo, um mecanismo de defesa de que a mente lançava mão para a proteger.

    O restaurante estava cheio. Havia um salão secundário cujas portas permaneciam fechadas para garantir a privacidade do grupo da Petrofiche. As raparigas do escritório passaram dias a comentar a chegada do novo consultor e Annie ouviu algumas opiniões antes de sair de licença na semana anterior.

    – Ele é dono de uma empresa. A Petrofiche é apenas uma cliente – revelou com ar importante a chefe das secretárias, Beverly Smith. – O homem só virá duas vezes por semana, quando não estiver em campo.

    – Humm... Talvez ele esteja a precisar de uma assistente. Adorava passar alguns dias na Barreira de Corais – suspirou a outra funcionária.

    – Corais? – retorquiu a outra. – Acabavas por ir ao Alasca! É lá que todos os especialistas em biologia marítima gostam de fazer as suas pesquisas.

    Annie ouviu animadamente a conversa com um sorriso nos lábios.

    Embora recebesse muitos convites de colegas da empresa, nunca aceitou sair com um deles. Helena preveniu-a sobre os riscos de deixar que o amante imaginário dos seus sonhos a cegasse para a realidade e impedisse a aproximação de parceiros reais, mas Annie sabia que a relutância não era fruto apenas dos sonhos românticos.

    Era quase como se, de alguma forma, algo a impedisse de envolver-se com alguém. Como se esse envolvimento fosse errado. Não sabia de onde vinha essa sensação e os sentimentos eram tão confusos e nebulosos, tão inexplicáveis e estranhos, que preferiu não comentá-los com Helena. Tudo o que sabia era que devia esperar. Mas... esperar o quê? Ou quem? Não fazia ideia. Só sabia que era algo que devia fazer.

    CAPÍTULO 2

    Mais tarde, quando esperavam pela sobremesa, Annie pediu licença aos amigos para ir à casa de banho.

    Passava pelo salão reservado, quando a porta se abriu e um grupo de quatro homens surgiu no corredor. Dois deles eram executivos da companhia para a qual ela trabalhava, o terceiro era um desconhecido e o quarto...

    O choque fez o seu coração bater mais depressa. Parada e boquiaberta, ficou a olhar para o quarto homem do grupo com um misto de terror e incredulidade.

    Era ele! O homem dos seus sonhos! O amante imaginário! Mas como podia ser ele, se a criatura era apenas produto da sua imaginação? Não era possível! Devia estar a imaginar... com alucinações... Tinha bebido champanhe demais!

    Fechou os olhos e contou até dez antes de os abrir. O homem continuava no mesmo lugar, a olhar para ela. Era como se o sangue parasse de correr nas suas veias, como se fosse apenas um corpo vazio. O pânico invadiu-a. Tentou mover-se e não conseguiu. Tentou falar, mas nenhum som saiu da garganta bloqueada por um nó. O medo era mais forte do que todos os outros sentimentos. Queria mover-se. Queria falar. Mas não conseguia. E, com uma certeza devastadora, soube que ia desmaiar.

    Annie abriu os olhos e constatou que estava nos aposentos pessoais de Liz. Bob e Helena estudavam-na com ansiedade e apreensão.

    – Querida, o que é que aconteceu? – perguntou Helena, preocupada, segurando na sua mão. Os dedos procuraram a veia no seu pulso e a profissional tomou o lugar da amiga.

    Determinada, Annie sentou-se.

    – Estou bem. Foi só um desmaio – sussurrou, chocada demais para revelar o verdadeiro motivo do desmaio. – Nunca tolerei bebidas alcoólicas.

    De qualquer maneira, Bob e Helena insistiram para que ela dormisse no seu antigo quarto na casa do casal. Tensa, a médica e amiga sugeriu que ela devia realizar alguns exames de rotina.

    – Não há nada de errado comigo – insistiu Annie. – Foi apenas o choque...

    – Choque? Que tipo de choque?

    – Eu... pensei ter visto alguém. E... Bem, deve ter sido um engano. Imaginei alguém. Sei que foi isso, porque é impossível...

    – Quem era? Quem é que tu pensaste ter visto, Annie?

    – Ninguém. Como disse, foi só um engano – mas, ao estender a mão para pegar na chávena de chá que Bob preparou, começou a tremer tanto que teve de deixá-la onde estava. Cobriu o rosto com as mãos e admitiu: – Oh, Helena, eu vi-o... O homem dos meus sonhos. Ele estava... Sei que é impossível, que ele não existe, mas...

    – Estás a ficar muito agitada. Vou dar-te algo para descontraires e dormires e amanhã conversaremos com mais calma.

    Apoiada nos travesseiros, Annie ofereceu um sorriso pálido. Sabia que a amiga tinha razão, como sempre.

    Vários minutos mais tarde, Helena voltou ao quarto com um copo de água e dois comprimidos. Com uma ternura quase maternal, ajudou-a a tomar o remédio e arranjou as cobertas.

    – Lamento ter estragado a tua noite.

    A frase trémula foi a última que Annie pronunciou antes de começar a sentir os efeitos do medicamento.

    Mais calma, estranhou a própria reacção intensa e infantil. Por causa de uma semelhança imaginária entre um desconhecido e o homem com quem sonhava constantemente, o seu amante imaginário, perdeu os sentidos no meio de um restaurante cheio. Pensando bem, o homem criado pela sua imaginação nunca a teria olhado como aquele desconhecido, com uma hostilidade fria e agressiva nos olhos azuis e um desprezo cuja intensidade rivalizava com a da raiva estampada no seu rosto.

    Sonolenta, fechou os olhos e ouviu o som da porta a fechar-se. Helena ainda descia as escadas quando ela adormeceu.

    – Suspeito de que a emoção da noite e as recordações provocadas causaram o episódio – comentou a médica com o marido quando o encontrou na sala.

    – Não sei. Tens a certeza de que o tal homem não pode ser alguém que ela tenha conhecido?

    – Bem, é uma possibilidade. Afinal, Annie ainda não recuperou completamente a memória. Ela lembra-se de ter chegado a Wryminster, mas não sabe quando

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