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DIVISÃO TERRITORIAL DO ESTADO DO PARÁ

INTRODUÇÃO

Um dado praticamente tão antigo quanto à própria existência do Brasil


é a instabilidade de suas fronteiras internas. Somente de 1940 até os dias
atuais, o nosso país sofreu 17 alterações na sua configuração de suas
atividades político-administrativas através da criação e extinção de estados e
territórios federais. As últimas modificações do gênero ocorreram com a
constituição de 1988, que deu origem ao Tocantins, elevou os territórios de
Amapá e Roraima à categoria de estados e anexou o território federal de
Fernando de Noronha a Pernambuco.
Passadas quase duas décadas de estabilidade, quem apostava num
longo período sem mudanças pode surpreender-se num futuro não muito
distante. Dezenas de projetos de novos estados e territórios federais –
entidades governadas diretamente pela União – tramitam atualmente no
Congresso Nacional, provocando debates emocionados que incluem conflitos
entre elites locais, acusações de interesses políticos pela criação de cargos e
amplas divergências sobre como combater as desigualdades e trazer
desenvolvimento a regiões isoladas do país.
A Região Amazônica é composta por sete Estados. Dentre esse, o
Estado do Pará é a segunda maior unidade federativa em extensão territorial
brasileiro, por isso existe todo um interesse político-administrativo de criar
novas unidades federativas: como a possível criação de novos estados, isto é,
dividindo o Estado do Pará em três Estados: Carajás, Tapajós e Território
Federal do Marajó. Essa nova regionalização proposta por deputados e
senadores, entre eles o Deputado Federal Benedito Dias (pp), do Amapá, com
a proposta de criação do território federal do Marajó e o Giovane Queiroz que
está solicitando o desmembramento da região sul e sudeste Estado do Pará e
o senador Mazarildo Cavalcante (PTB), de Roraima: projetos esses que estão
tramitandos no Congresso Nacional e na Câmara Federal, se forem aprovados
por essas duas entidades, vai ocorrer a formalização através de um plebiscito
com a população paraense, para que, toda a sociedade vote a respeito do
assunto, se é contra ou a favor de uma nova unidade federativa para o Brasil.
Dessa forma o problema esta posto! Há de se perguntar a quem vai se
beneficiar com essa divisão? Qual o interesse políticos em relação a esses
projetos? Qual é realmente a principal finalidade da divisão? Será que a grande
maioria da sociedade, dos possíveis novos estados serão contemplados com
políticas pública-sociais? Também temos que analisar, quais as conseqüências
que o desmembramento vai causar para o Estado do Pará?

O TERRITÓRIO FEDERAL DO MARAJÓ.


O arquipélago do Marajó é um complexo flúvio-marinho, composto por
dezenas de ilhas localizadas na porção do litoral amazônico conhecido como
golfão marajoara, o qual é constituído pela foz do rio amazonas, numerosas
ilhas e canais que formam a região denominada de furo de breves e a baía de
Marajó, onde deságua o rio Tocantins.

Mapa do arquipélago do Marajó

Esse complexo de ilhas é uma unidade geomorfologica de terras


baixas, formada a partir da deposição de sedimentos halocênicos recentes1
1-
Estudo recente remontam a história do Marajó (ROSSETI,2006) levanta evidências de que a
região se separou do continente num tempo geologicamente bastante recente provavelmente
já no holoceno, ou seja, nos últtimos 10 mil anos. Antes deste período , o rio Tocantins cortava
toda a região no sentido Norte em direção ao oceano, até que falhas tectônicas desviaram o
seu curso para o Nordeste. Este processo foi seguido pela criação do rio Pará, no Sul da Ilha,
refletindo sistemas de falhas com direção principal E-W, o que culminou com a total separação
de Ilha do Marajó do continemte.
A maior ilha do arquipélago é a do Marajó, com 48.000Km2, enquanto
que o arquipélago totaliza cerca de 62.000km2. Além da ilha do Marajó as mais
habitadas são as ilhas de Mexiana, Cauiana, dos Porcos, Mututi e Uituquiara.
Existe no arquipélago um conjunto de vegetação singular a da
Amazônia, onde predominam os campos naturais, florestas de terra firme na
porção oriental com altitudes variáveis de 4m a 20m, banhado pelo oceano
atlântico não sofre inundações, enquanto que na porção ocidental, predomina
as florestas úmidas, sujeitas as inundações dos vários rios e canais que
formam pequenas ilhas.
Devido essas características naturais das áreas alagadas, a criação de
búfalos foi facilmente adaptada à região, sendo que hoje detém o maior
rebanho do país. Isso gera sustentabilidade econômica para a ilha, junto com
outros tipos de atividade como o artesanato marajoara, basicamente cerâmica,
já é reconhecido fora do Pará como uma das expressões mais interessante da
cultura popular. Agricultura e a indústria madeireira, também são responsáveis
pelo desenvolvimento econômico da Ilha.

Búfalo Marajoara. Guará vermelho do Marajá


Artesanato Marajoara, Ilha de Marajó.

De acordo com todas essas características que foram citadas sobre o


arquipélago marajoara. Devido à região ser considerada um santuário
ecológico, e por esse tema ser de muita relevância para a conjuntura atual da
geopolítica ambiental do mundo, surge à questão do arquipélago de se tornar
um território federal, por causa de uma política de poder – administrativo por
parte da elite-local.
Segundo o Marcelo Souza, o território, é fundamentalmente um espaço
definido e delimitado por e a partir de relações de poder. A questão primordial,
aqui, não é, na realidade, quais são as características geoecológicas e os
recursos naturais de certa área, o que se produz ou quem produz em um dado
espaço, ou ainda quais ligações afetivas e de identidade entre um grupo social
e seu espaço. Estes aspectos podem ser de crucial importância para a
compreensão de gênese de um território ou do interesse por tomá-lo ou mantê-
lo, como exemplificam as palavras de Sun Tzu a propósito da conformação do
terreno, mas o verdadeiro leitmotiv é o seguinte: quem domina ou influencia e
como domina ou influencia esse espaço? Este leitmotiv traz embutido, ao
menos de um ponto de vista não interessado em escamotear conflitos e
contradições sociais, a seguinte questão inseparável, uma vez que o território é
essencialmente um instrumento de exercício de poder.
Na verdade o que a elite marajoara quer é ter domínio e gestão total do
território, ou seja, ter o poder de decidir as suas políticas e não de formar
indireta como acontece hoje na região. Porque sempre as decisões são
tomadas de maneira exógenas e isso deixa a elite-local descontente.
Um dos pontos centrais porque os separatistas defendem a criação do
território federal do Marajó, é por causa de uma questão política histórica, ou
seja, as políticas são aplicadas hierarquicamente nos grandes centros
econômicos. A região marajoara detém certo isolamento no contexto
socioeconômico, não existe nem uma política de integração da região com o
restante do Estado. Entretanto, essa integração só acontece através de
navegações fluvial. Segundo Ricardo Nogueira, "Segmento de transporte na
Amazônia de cargas e passageiros, é caracterizado pelo uso de barcos de
madeira, com proprietários de uma única embarcação, sem existência de
frotas, atendendo com regularidade praticamente todas as cidades da
Amazônia, e participando de um mercado com uma concorrência acirra desde
o momento em que o estado decidiu acabar com a regulamentação da
navegação interior, representa o que há de mais original nos transporte da
região...As embarcações que navegam nos mais diversos rios da Amazônia
operam dentro de condições singulares, como dispersão dos passageiros,
baixo poder administrativo dos mesmos e longas distancias a serem
navegadas.
Como podemos observa esse sistema de transporte e muito precário,
com embarcações muito desconfortáveis, e nas maiorias das vezes com alto
grau de insegurança dos passageiros, como a superlotação dos barcos. Porém
a forma como ocorre esse transporte para o arquipélago parece que esta
acontecendo a segunda revolução industrial na Amazônia, ou seja, as
embarcações estão saindo do sistema de caveiras que era movido a vento e
entrando na era dos motores a propulsão.
Segundo Nogueira pode ser visto algumas “Inovações que estão
ocorrendo, como a ampliação das potências dos motores, casco de ferro,
porem com pouca ou nenhuma orientação técnica, sejam de profissionais da
área de engenharia, ou de economia. Talvez ai esteja o campo aberto para a
participação de estado no sentido de estimular estes empreendedores com
apoio técnico, créditos, infra-estrutura portuária etc,” essas políticas seriam
uma forma de integrar e desenvolver a região, para que não haja criação de
políticas separatista como vem ocorrendo hoje no território paraense.

Mapa do projeto da Hidrovia do Marajó

Figura do livro Hidrovia do Marajó

Por exemplo, se colocassem em prática o projeto que esta no papel da


criação da hidrovia do Marajó que interliga dos rios: o Atuá e Anajás, o canal
que seria criado artificialmente ligando os dos rios, isso permitiria a ligação
entre as cidades de Belém-PA e Macapá-AP, passando pelo interior da ilha do
Marajó, trazendo uma rapidez na viagem, por causa do encurtamento do
trajeto, aliado à melhora das condições de transporte na região, espera-se uma
melhoria das condições de vida da população, junto com um desenvolvimento
econômico e social da região, de forma ordenada e consciente.
A hidrovia terá condições de realização de todas essas metas, de
desenvolvimento da parte central da ilha, com todo o projeto pronto estaria em
pratica o sistema intermodal de transportes, distribuindo os seus efeitos numa
área mais ampla, e não apenas num pólo de desenvolvimento concentrado e
sim em uma determinada região, já que, interligará duas capitais e promoverá
uma conecção direta com o eixo hidroviário Araguaia/Tocantins.
Segundo alguns estudos a união destes dois eixos hidroviários
possibilidade que os produtos produzidos no centro oeste do Brasil possam
chegar aos EUA e a união européia, através dos portos de exportação de Vila
do Conde - PA e Santana-AP, de forma mais rápida e bastante competitiva,
devido a redução do custo com o transporte.
O Marajó oferece uma grande potencialidade turística natural. Mas a
infra-estrutura, para que, aconteça o desenvolvimento é muito precária, tudo
isso, por causa das políticas no Brasil, que causam a ausência do estado com
faltas de políticas publica que tem uma grande responsabilidade para a
qualidade de vida das pessoas.
Segundo AMAM (associação dos municípios do arquipélago do Marajó)
que é uma defensora da emancipação porque faz parte da reivindicação dos
grupos locais (elite), preferem a proposta de território, pois afirmam ser mais
viável do ponto de vista econômico. Porque as verbas para os municípios do
território vão ser repassadas de maneira direta da união para os municípios do
arquipélago sem o intermédio do governo do Pará. Pois isso teria um maior
volume de verbas e facilitaria o desenvolvimento da região marajoara.
De acordo com a professora Bertha Becker, “O governo federal
determinou que uma faixa de 100Km de ambos os lados de toda estrada
federal pertencia à esfera publica, segundo a justificativa de sua distribuição
para camponeses, em projetos de colonização. Só para o estado do Pará isto
significou a perda de 83.000.000 m (66,57% desse estado) para as mãos
federais. Através dessa estratégia, o governo federal passa a controlar a
distribuição de terra, adquirindo grande poder de barganha”.
Enfim, se o arquipélago do Marajó tornar um território Federal, pós essa
não é a saída para o desenvolvimento regional. Essa questão a Professora
Bertha Becker, deixou claro. Ou seja, se fosse por isso o Estado do Pará seria
o mais desenvolvido da federação brasileira.
O ESTADO DO TAPAJOS

No coração da floresta Amazônica, a porção Oeste do Pará convive

com propostas de emancipação há praticamente tanto tempo quanto a própria

independência do Brasil. Em 1876, o militar Augusto Fausto de Sousa propôs

nova divisão do Império em 40 províncias, incluindo a criação do Estado do

Tapajós no Oeste paraense. A proposta foi esquecida, mas o nome

acompanha até hoje o movimento de emancipação da região.

Após atravessar o século passado, a discussão sobre a criação do

plebiscito não tomou forma e chegou a ser descarta em diversas ocasiões. A

idéia voltou a ganhar fôlego em novembro de 2000, quando foi aprovado no

Senado o projeto de convocação de um plebiscito sobre a criação desse

estado. A proposta, de autoria do senador Mozarildo Cavalcante (PPS-RR),

precisa ser aprovada na Câmara dos Deputados para que o referendo seja

definitivamente autorizado.
Santarém, futura capital do Estado do Tapajós.

O pretenso Estado do Tapajós possui território maior do que o da

França1 ou da Espanha. Apesar de representar 58% da área total do Pará, a

região responde por apenas cerca de 10% do PIB estadual e tem

aproximadamente 16% da sua população atual. Tamanha desigualdade de

desenvolvimento e de ocupação é em grande parte explicada pela histórica

concentração de investimentos governamentais na região metropolitana de

Belém, a capital. É naquela área que se encontram, por exemplo, quase

metade das rodovias estaduais e os melhores índices paraenses no que

respeita a domicílios com água canalizada, iluminação elétrica e instalações

sanitárias. O déficit de infra-estrutura e de serviços públicos é visível em

Santarém, terceira maior cidade do Pará e a principal candidata a capital do

Estado de Tapajós. Com cerca de 270 mil habitantes, o maior pólo econômico

do Oeste paraense, Santarém apresenta problemas agudos de falta de

saneamento básico, emprego e renda.


As longas distâncias amazônicas, associadas à baixa presença do

poder público, mostram como o exercício da vida cívica pode ser uma tarefa

bem mais complicada do que imaginam os que vivem nos grandes centros

urbanos do país. Para as populações ribeirinhas do Oeste do Pará, por

exemplo, atividades como ir até um cartório ou mesmo ter acesso a

determinado órgão do poder público pode requerer dias de deslocamento.

Longe de ser exclusividade das camadas mais pobres da população, o

discurso do abandono encontra sustentação também entre os representantes

do empresariado local.

1-
A área territorial da França corresponde a 551.110 Km²

As longas distâncias amazônicas, associadas à baixa presença do

poder público, mostram como o exercício da vida cívica pode ser uma tarefa

bem mais complicada do que imaginam os que vivem nos grandes centros

urbanos do país. Para as populações ribeirinhas do Oeste do Pará, por

exemplo, atividades como ir até um cartório ou mesmo ter acesso a

determinado órgão do poder público pode requerer dias de deslocamento.

Longe de ser exclusividade das camadas mais pobres da população, o

discurso do abandono encontra sustentação também entre os representantes

do empresariado local.

A idéia de criação do estado do Tapajós, porém, não conta com a

simpatia de lideranças políticas de Belém. Existe temor de que a aprovação do

projeto seja o estopim para um amplo processo de fragmentação do Estado,

que convive também com articulações política para a criação do estado de

Carajás, no sudeste do Pará, além da proposta, ainda incipiente, de


transformar a ilha de Marajó em território federal. Com o objetivo de esvaziar os

movimentos emancipacionistas, o então governador do estado, Almir Gabriel,

chegou a propor em 2000 a transferência da capital2 para a região do

Complexo Hidrelétrico Belo Monte, no centro do mapa paraense.

A onda separatista no Pará é carregada de desconhecimento e

preconceito. A rigor, não existe um debate sobre as demandas das regiões do

Oeste e Sul do Pará por autonomia política. Em Belém, isso não existe por

desconhecimento das razões desses pleitos, que acaba gerando preconceitos

em torno da questão.

2-
O ex-governador do Estado do Pará Almir Gabriel, propôs que a atual capital do Estado fosse
transferida para a cidade de Belo monte na região do Baixo Amazonas.

Em Santarém e Marabá, candidatas a capitais, o debate é débil em

virtude da profunda dependência político-partidária das elites local em relação

aos grupos de poder político e econômico sediado na capital do Pará. Não

havendo, lá, lideranças sócias não partidárias engajadas no embate

separatista, o que deveria ser um debate salutar, lá e cá, tornam-se conversa

sazonal que se transfere para o âmbito de comissões do Congresso, em

Brasília.

No Oeste do Estado existe consistência histórica para o pleito, que

vem do momento em que Pedro II assinou, em 1850, o decreto de criação da

Província do Rio Negro, mais tarde Província e Estado do Amazonas, depois

que as elites daquela unidade intentaram, sem êxito, a separação por conta

própria, em 1832.

Retomando a questão, quando o assunto é desigualdade de

desenvolvimento, porém, não são poucas as queixas dentro da própria região


sobre o possível monopólio que lideranças políticas e econômicas de Santarém

exerceriam sobre as ações do futuro Estado. A falta de um programa político

abrangente, capaz de abrigar os anseios da sociedade e não somente de uma

pequena elite política e econômica interessada em regular o território segundo

interesses específicos, é justamente uma das principais críticas feitas aos

projetos de redivisão territorial hoje debatido no Brasil.

A CRISE NA CONFEDERAÇÃO

Impulsionado pelo surgimento de pólos econômicos e populacionais

no interior do país, marcadamente em regiões do Norte, Nordeste e Centro-

Oeste, o debate em torno da criação de Estados e territórios sofreram um

desvio com o fim do regime militar³. O aumento de poder de Estados e

municípios ocorrido a partir de então se deu sobre frágeis pactos políticos

regionais estimulando o conflito entre novas e velhas elites em diversas partes

do território nacional. Em um país como o Brasil, ainda não totalmente

apropriado, é de se esperar que em locais para os quais haja deslocamento

populacional, com o conseqüente surgimento de dinâmicas econômicas, cria-

se à demanda por poderes públicos.

O primeiro passo para a criação de Estados ou territórios é a

aprovação, na Câmara e no Senado, de projeto que convoca a realização de

plebiscito entre a população diretamente interessada. Caso o resultado seja


favorável à divisão, cabe novamente ao Congresso Nacional ouvir as

respectivas Assembléias Legislativas e aprovar uma lei complementar sobre o

tema.

Além das discussões jurídicas, outro acalorado ponto de debate é o

provável aumento que novas unidades federativas trariam às já consideráveis

distorções de representativa existente no parlamento brasileiro. Pela

constituição, cada Estado tem direito a, no mínimo, 8 deputado federais, além

de três senadores.

__________________

³- No período militar (1964- 1985) as políticas territoriais foram redefinidas por conta de
questão de segurança nacional.

Não podemos esquecer que, além do que já foi apresentado, temos à

questão da segurança nacional. Os separatistas alegam que institucionalizar

ainda mais o território tornaria-o mais seguro. Outro ponto relevante, diz

respeito a um melhor equilíbrio das desigualdades regionais e o inchaço

populacional.

Quando o assunto é a preservação da natureza, experiências

passadas de reordenamento do território na Amazônia Legal mostram que

unidades federativas menores não necessariamente garantem melhoria dos

indicadores ambientais. Rondônia, por exemplo, apresenta nos últimos anos

estatísticos de desmatamento sensivelmente mais acentuado que o Amazonas

e o Pará.

As duas mais recentes experiências de redivisão do território

brasileiro foram à criação do Mato Grosso do Sul, ocorrida em 1977, e do

Estado do Tocantins4 11 anos depois. Os resultados dessas duas experiências

constituem possivelmente o principal argumento de militantes pró-divisão na


busca de aprovação de propostas desse gênero. "Tais exemplos, por si sós,

são suficientes para mostrar que, na prática, a redivisão territorial induz ao

desenvolvimento da parte desmembrada e melhora as condições da

remanescente", afirmou em plenário o senador Mozarildo Cavalcanti, um dos

principais articuladores de proposições para a divisão do território nacional.

4-
O Estado do Tocantins foi criado pela constituição em 1988, desmembrado da região Norte
de Goiás.

Quando foi criado o Estado do Mato Grosso do Sul5 temia-se que a

parte remanescente - e menos desenvolvida - do estado estivesse sendo

condenada a atravessar um período negro em sua história. Mas, superando as

expectativas, o Mato Grosso vem crescendo em ritmo superior à média

nacional, tornando-se um dos motores do aclamado aumento de produtividade

da agroindústria. No aspecto social, o estado saltou da 16ª para a 9ª posição,

entre 1970 e 2000, no ranking de desenvolvimento humano do país. O Mato

Grosso do Sul também vem apresentando crescimento acima da média do

país, com a diversificação de seu perfil econômico apoiada em políticas de

incentivo que favoreceram a industrialização. O Tocantins, por sua vez, nasceu

na condição de estado mais pobre da federação. Desde 1990, seu PIB cresce

numa média anual de 7,82%, o triplo da brasileira.

5-
O Estado de Mato Grosso do Sul foi criado em 1977.
O QUE RESTARIA AO ESTADO DO PARÁ

O Estado do Pará é um Estado privilegiado geograficamente, por se


localizar numa posição estratégica na região norte do Brasil. É atravessado no
extremo norte pela linha do equador, possuindo terras, portanto nos dois
hemisférios, com predominância no hemisfério sul. Limita-se ao norte com a
Guiana, Suriname e Amapá, ao sul com Mato Grosso, a leste com Maranhão e
Tocantins e a oeste com o Amazonas. É o segundo maior Estado brasileiro em
superfície, com 1.253.164 Km², correspondendo a 14,6% do território nacional.
Detém uma área superior a de países como França (551.110 Km²), Espanha
(504.750 Km²), Alemanha (356.910 Km²), Itália (301.225 Km²) e Grã-Bretanha
(244.013 Km²). As atividades econômicas do Estado concentraram-se
principalmente no extrativismo vegetal, animal e mineral. Mas é no extrativismo
mineral que o Pará se destaca.
Graças ao Estado do Pará, o Brasil figura entre os maiores produtores
de bens minerais do Ocidente. Isso se deve às suas reservas minerais, de
escala internacional. Os principais minerais encontrados em solo paraense são
o ferro, a bauxita, o ouro, o manganês e o caulim. As atividades econômicas do
estado concentraram-se principalmente no extrativismo vegetal, animal e
mineral. Mas é no extrativismo mineral que o Pará se destaca.
A Região Metropolitana de Belém (185ª maior área metropolitana do
mundo e a maior da região norte), criada por Lei Complementar federal em
1973, alterada em 1995, é uma conurbação com 2.200.00 habitantes (2007). A
Região Metropolitana de Belém (RMB), constituída pelos municípios de Belém,
Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara do Pará.
A população recenseada em 2000 totalizou 1.794.981 habitantes,
sendo a maior concentração no município de Belém, que tem 1.279.861
habitantes. A população urbana da Região Metropolitana é de 1.754.099
habitantes, o que corresponde a 97,7% da população total, dos quais 72,5%
residem na cidade de Belém (IBGE, Censo, 2000). Este contingente
populacional apresenta uma densidade demográfica de 1.201,39 Hab/Km².

Belém do Grão-Pará foi fundada em 16.01.1616, por Francisco


Caldeira Castelo Branco, Capitão-mor do Rio Grande do Norte, a partir da
construção do Forte do Presépio, às margens da Baía do Guajará, próximo à
foz do rio Guamá6 onde, hoje é o Forte do Castelo, o qual visava à proteção
daquela região contra as incursões de piratas franceses, ingleses e
holandeses. Situado na entrada da Bacia Amazônica, o local oferecia ótimo
abrigo à navegação e proporcionava fácil acesso a toda Amazônia.
Belém situa-se geograficamente 1º25’ Latitude do Equador,
avizinhando-se à Foz Atlântica do Rio Amazonas, à cerca de 120 km do mar.
Belém do Pará, conta com uma área de 736 Km2, cerca de dois terços desse
território estão representados em ilhas. São cinqüenta e cinco no total – vinte e
sete ainda em estado selvagem e o restante povoado por poucos habitantes e
um modo de vida muito primitivo, similar ao da alta floresta. A parte continental
da cidade é formada por uma complexa rede hidrográfica.
A Zona Bragantina é uma frente de colonização antiga, com uma
importante população urbana e infra-estrutura desenvolvida. Historicamente, o
crescimento de sua população resultou da migração provocada pela
construção da antiga Estrada de Ferro de Bragança e pelo boom da borracha.
A conseqüência lógica desse crescimento populacional foi o desenvolvimento
das cidades, da rede rodoviária e dos diversos tipos de produção agrícola. Em
face de um processo de colonização de mais de um século e um grande
desenvolvimento demográfico, a vegetação dessa região foi intensamente
antropizada. As áreas de floresta primária, que há um século ainda cobriam
quase totalmente a região, praticamente desapareceram e correspondem a
menos de 5% da superfície total hoje.
Conseqüentemente, os sistemas agropecuários são mais estáveis, em
relação aos demais encontrados nas outras fronteiras que compõem a Região
Amazônica.

6-
Rio que nasce na região do nordeste do Estado e que desemboca na cidade de Belém, até
desaguar no mar.

A Zona Bragantina2 localiza-se a leste de Belém, principal centro


urbano da Região Amazônica. Estende-se desde a proximidade desta cidade
até a cidade de Bragança, às margens do Oceano Atlântico, englobando 13
municípios, cuja superfície total chega a 11.609 km2, o que representa menos
de 1% da superfície total do Estado do Pará. A Zona Bragantina faz parte de
uma unidade geográfica maior, conhecida pelo nome de Nordeste Paraense.
Vale notar que esta proposta de criação de novos Territórios, a partir
da configuração atual do Estado do Pará, já está dando margem a um intenso
debate no seio da sociedade paraense. Os argumentos prós e contras vêm
sendo desenvolvidos, ao sabor de grande paixão, e nos seus mais diferentes
aspectos (ambientais, geopolíticos, sócio-econômicos, geográficos, políticos,
administrativos, de segurança nacional etc.).
Mas vale advertir que a implementação da proposta envolve ainda um
longo e penoso processo. Ela exigirá, entre outras coisas, a realização de
plebiscitos com as populações envolvidas, votação posterior e confirmação dos
resultados pela Assembléia Legislativa do Estado. Em caso de aprovação,
votação no Congresso Nacional, além de toda uma série de outras
providências orientadas no sentido de implantar um mínimo de infra-estrutura
político-administrativa em vastas áreas onde ela é praticamente inexistente.
É possível que, pelo menos de início, a criação destes novos territórios
venha “esvaziar” os respectivos interiores, pelo fato de as melhores e maiores
oportunidades de emprego ser criadas nas futuras capitais.

2-
A Zona Bragantina situa-se no nordeste paraense, com uma dinâmica econômica própria,
baseada na pesca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.

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São Paulo, Ed. Hucitec. 2004.
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Bertrand Brasil, 2006.
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Tapajós, 1° edição. Belém: Ed. NAEA/UFPA. 1999.

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