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Essa é a minha ou a sua?

10-09-2004

NEUROCIÊNCIA

Entenda por que alguém pode confundir uma mão de borracha


com a sua própria

Experimente se concentrar para tentar mexer os dedos


de uma mão de borracha! (foto: reprodução)

Mãos de borracha, dessas encontradas em lojas de mágica, podem


ser bastante realistas -- mas se você pousar uma delas sobre a
mesa, é pouco provável que você a confunda com uma de suas
próprias mãos. Curiosamente, isso não é impossível. Com a mão de
carne e osso escondida sob a mesa e a de borracha na posição
correspondente visível sobre a mesa, basta que você sinta alguém
tocar em um de seus dedos de verdade ao mesmo tempo que vê
alguém tocar o mesmo dedo da mão de borracha e, como num
passe de mágica, a falsa, sobre a mesa, passa a ser 'sua'.

A ilusão da mão de borracha resulta da interação da visão, tato e


propriocepção no córtex, e da dominância da visão sobre a
propriocepção (termo que designa a sensibilidade própria aos ossos
e músculos). Além disso, sabe-se que essa ilusão envolve os
córtices parietal (no alto da cabeça) e frontal. As evidências vêm da
localização de lesões corticais que causam uma condição bizarra
em que uma parte do corpo deixa de ser reconhecida como própria
(e é confundida, por exemplo, com a perna de um cadáver
entrecoberta pelos lençóis!), e de registros eletrofisiológicos feitos
em macacos na mesma situação que provoca a ilusão.
Populações neuronais que representam as posições aparente e real
da mão são de fato encontradas nas regiões parietal e pré-motora
do córtex de macacos apresentados à ilusão-da-mão-de-borracha.
O problema, no entanto, é que macacos não falam. Assim, como
saber se a atividade nessas regiões de fato corresponde à
sensação de propriedade de uma parte do corpo?

Henrik Ehrsson, Charles Spence e Richard Passingham, do Instituto


de Neurologia de Londres e da Universidade Oxford, na Inglaterra,
resolveram a questão criando a ilusão da mão de borracha para
voluntários sadios dentro de um aparelho de ressonância
magnética.

Quando a posição da mão falsa e toques sincronizados nas mãos


falsa e verdadeira permitiam a sensação de 'apropriação' da mão de
borracha -- e somente nessas condições --, havia ativação do córtex
pré-motor, que recebe as informações multissensoriais integradas
pelo córtex parietal posterior. Quanto mais forte a sensação de
apropriação da mão de borracha, inclusive, mais forte havia sido a
ativação do córtex pré-motor, e também do cerebelo.

No artigo que relata os resultados do estudo, publicado em 6 de


agosto na revista Science, os autores sugerem que o córtex pré-
motor é capaz de realocar a noção de 'espaço corporal' que norteia
os movimentos em função de sinais dos sentidos.

Saber que uma mão e não a outra lhe pertence, portanto, seria uma
questão de integração multissensorial em regiões parietais e
cerebelares, seguida da recalibração de representações
proprioceptivas que guiam os movimentos, e por fim da
'apropriação' daquele membro pelo córtex pré-motor – talvez à
medida que este usa as informações integradas dos vários sentidos
e passa a antecipar movimentos daquela mão.

Tudo isso lembra aquela brincadeira de criança onde se entrelaçam


os dedos das mãos, com os braços retorcidos, e tenta-se mover um
dos dedos, mas um dedo escolhido por outra pessoa. Você pode
olhar à vontade, mas só terá certeza de qual dedo mover... quando
já tiver movido um dos dedos!

Pensando assim, talvez a razão para a mão de borracha sobre a


mesa ser apenas uma mão de borracha para a maioria das pessoas
seja mais simples do que se pensava. É que você tenta movê-la,
mas ela não obedece...

Fonte:
Ehrsson HH, Spence C, Passingham RE. That’s my hand!
Activity in premotor cortex reflects feeling of ownership of a
limb. Science 305, 875-877 (2004).

Suzana Herculano-Houzel
O Cérebro Nosso de Cada Dia
10/09/04

Fonte:
http://ich.unito.com.br/oldsite/cerebro/cn61.htm

Livros publicados: SHH

 neurocientista: SUZANA HERCULANO-HOUZEL

• Fique de bem com o seu cérebro (2007)


• Por que o bocejo é contagioso? (2007)
• O Cérebro em Transformação (2005)
• Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate (2003)
• O Cérebro Nosso de Cada Dia (2002)

Fique de bem com seu cérebro

Suzana Herculano-Houzel
Editora Sextante, 2007

208 p., R$ 19,90

Este livro foi escrito para quem deseja alcançar o bem-estar e torná-lo algo cada
vez mais intenso e freqüente em sua vida. Suzana Herculano-Houzel mostra o
melhor caminho para a conquista desse objetivo: ficar de bem com o próprio
cérebro, isto é, cuidar para que ele funcione da melhor maneira possível − sempre.

Aqui você conhecerá uma série de descobertas recentes da neurociência e saberá


de que modo elas podem ajudar você a manter o cérebro saudável. Com um texto
claro e cativante, a autora apresenta uma abordagem prática desse assunto, com
dicas que estimularão você a arregaçar as mangas e se dedicar a obter mais paz e
felicidade no dia-a-dia.

Cada um dos 15 capítulos deste livro contém informações a respeito de um aspecto


relacionado ao bem-estar. Entre outras coisas, você aprenderá que é essencial:

- Cuidar bem da sua saúde física − o cérebro precisa do corpo.

- Identificar e cultivar os seus prazeres − eles são a base do bem-estar.

- Ouvir as suas emoções − elas são imprescindíveis para as boas decisões.

- Sorrir e buscar a felicidade − ela torna o corpo mais saudável.

- Saber a diferença entre tristeza e depressão − para respeitar a primeira e


tratar a segunda.

- Tirar proveito do estresse agudo − é surpreendente, mas ele tem efeitos


benéficos.

- Lidar com a ansiedade − em doses saudáveis, ela é uma benção.

- Fazer as pazes com os remédios − às vezes os medicamentos são realmente


necessários.

- Combater o estresse crônico − um vilão causador de muitos males físicos e


mentais.

- Exercitar-se regularmente − isso pode funcionar como um "exilir da


juventude".

- Dormir bem e bastante − descubra a importância das sonecas para o cérebro.

- Cultivar os relacionamentos − o isolamento é um fator intenso de estresse


social.

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Por que o bocejo é contagioso?


e outras curiosidades da neurociência do cotidiano

Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007

Há perguntas que nós fazemos todos os dias e, mesmo assim, nunca conseguimos
responder: por que sentimos medo de filmes de terror? Por que suamos frio? Por que
comer chocolate é tão bom? Por que fui contar aquele segredo? O que não desconfiamos
é que as respostas para todas estas questões estão na neurociência.

Em Por que o Bocejo é Contagioso?, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel


responde a 80 dessas perguntas que tanto nos intrigam no cotidiano. Tudo isso de um
modo simples, fácil de entender e, ao mesmo tempo, de acordo com as pesquisas mais
recentes em sua área. A publicação inaugura ainda a série Ciência da Vida Comum,
nova coleção de divulgação científica da Zahar, que apresenta para o leitor as aplicações
da ciência e da tecnologia em nossas vidas cotidianas.

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Cérebro em Transformação

Ed. Objetiva, 2005.

Cabeça de adolescente é um mistério: tédio, paixão, bobeira, ansiedade, e muita, muita


irresponsabilidade. Em O Cérebro em Transformação, da neurocientista Suzana
Herculano Houzel, você vai descobrir que nem só de hormônio vive a adolescência. Na
verdade, tudo o que ocorre entre os 11 e os 18 anos é fruto de uma grande revolução
química e neurológica. Daí as súbitas mudanças de humor, as inúmeras questões, a
insegurança.

Numa abordagem original, Suzana Herculano revela que a adolescência é um período


necessário e desejável da vida. O que acontece então na cabeça do adolescente é muito
mais do que uma simples enxurrada hormonal. Seu comportamento é fruto de um
cérebro adolescente, que passa por uma grande reformulação.

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Sexo, Drogas, Rock'n'Roll... & Chocolate

O Cérebro e os prazeres da vida cotidiana

Vieira & Lent Casa Editorial, Rio de Janeiro, 2003. 2a edição.

O que nos faz querer mais? Por que tudo o que envolve sexo, música, comida e drogas
dá prazer? O que todos os prazeres cotidianos têm em comum? Respostas a essas e
outras perguntas você encontra neste livro, escrito em linguagem acessível e bem-
humorada.

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O Cérebro Nosso de Cada Dia

Descobertas da neurociência sobre a vida cotidiana

Vieira & Lent Casa Editorial, Rio de Janeiro, 2002. 8a edição.

A neurociência é o conjunto de áreas da ciência que se interessam pelo sistema nervoso:


como ele funciona, se desenvolve, evolui, é alterado por substâncias químicas, e como
resultado disso tudo produz a mente e os comportamentos. Neste, que foi o primeiro
livro da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, você descobre como a neurociência
explica vários aspectos da vida cotidiana, da dificuldade de lembrar dos sonhos às
vantagens cognitivas das mães, passando pela razão da falta de originalidade da ficção
científica e pela descoberta intrigante das falsas memórias. Um livro escrito em
linguagem ágil, acessível e bem-humorada, para o leitor não-especialista curioso com o
que traz dentro da própria cabeça.

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