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Letras de Sangue

A Estranha

Edson Tomaz da Silva


Letras de Sangue

A Estranha

As horas que Nilson passou encolhido sob a escada naquele beco escuro não
haviam sido entediantes como ele imaginara, ou como qualquer um poderia
supor de uma longa espera de mais de oito horas. Apesar das condições
extremamente desconfortáveis, de ficar agachado, escondido no vão formado
por duas fedorentas lixeiras, ele saboreara cada minuto, imaginando a cena,
quadro a quadro, do que iria acontecer quando estivesse frente a frente com
ela.

Tudo que ele sabia sobre ela era o primeiro nome: Sabrina. Sobrenome: nem
fazia idéia. Aliás, tudo sobre Sabrina parecia terminar em perguntas para as
quais ninguém tinha resposta. O que era mais estranho ainda era que, desde
que ele a conhecera três semanas atrás, eles haviam se visto praticamente
todas as noites e conversado por longas e longas horas.Conversado talvez não
fosse exatamente o termo. Ela quase não falava, ele é quem acabava falando
sem parar. Estranho, pois normalmente ele era muito reservado e bem, uma
mulher que fala pouco é sempre algo estranho, não é?

Eles haviam se conhecido num barzinho da zona leste, videokê até a meia-
noite, samba ao vivo até o último cliente. Ela chamara a atenção dele por três
motivos: primeiro, porque ela era um absurdo de linda; o segundo, porque a
palidez da pele dela sozinha já era bastante chamativa e quando comparada
aos habituais tons morenos e negros da pele dos outros freqüentadores, ela
praticamente brilhava no escuro do bar. Terceiro, e este era o motivo mais
estranho, era que ela não tirava os olhos dele, como se estivesse hipnotizada.

Como Nilson bem sabia, ele era tudo, menos boa pinta. Não que fosse feio, ele
era algo mais complicado do que isso. Nilson era extremamente... comum. Era
tão comum que normalmente acabava entrando e saindo sem que ninguém
percebesse. E também não era um cara cuja atitude e postura pudessem
justificar o olhar fixo que aquela mulher maravilhosa lhe dirigia, parecendo
sonhar em devorá-lo vivo e impaciente por ver chegar logo este
momento.Nilson era essencialmente um perdedor e isso se traduzia na sua
postura, em seus ombros caídos e andar meio cabisbaixo.

Nilson era aquele tipo de cara que até que todo mundo simpatiza com ele, que
todo mundo define como um carinha legal, mas ninguém chama pra festa, só
chama quando precisa que ele faça alguma coisa. As irmãs - e ele tinha um
monte delas - ligavam para pedir ajuda em tudo: para levá-las para fazer
compras no mercado, para trocar botijão de gás, para consertar torneira
pingando, para trocar cartucho de impressora, todas as tarefas que
normalmente um marido faria, com exceção de sexo. Ele detestava esses
chamados, mas a absoluta ausência de qualquer coisa que parecesse com

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uma vida social faziam com que ele não tivesse uma desculpa pra não ir. Só
tinha parado naquele barzinho porque era aniversário de uma colega de
serviço e, como ela errara na hora de enviar o convite por e-mail, este acabara
indo para todos os funcionários do administrativo. Até para o Nilson. Ele sabia
que não havia sido convidado de verdade, mas que diabo: se ficasse em casa,
sabia que alguma das irmãs ia arrumar alguma coisa para ele fazer. E isso era
tudo que ele não queria.

Porém ali, naquele momento, para aquela mulher, Nilson parecia o mais
delicioso macho já nascido na face da Terra, e ela não parecia disposta a
perder a oportunidade. Ainda que o olhar fixo dela tenha parecido durar uma
eternidade, segundos depois de ele ter percebido que ela olhava para ele, ela
se aproximou da mesa onde ele estava sentado. Taí outra coisa sobre ela da
qual ele não se lembrava: de vê-la atravessando o salão para chegar na mesa.
Quando tentava se lembrar, parecia que ela simplesmente havia se
materializado ao lado dele.

- Olá! Meu nome é Sabrina! Está sozinho? - a voz ligeiramente rouca traduzia
um leve sotaque, que ele não conseguia identificar de onde era. A partir desta
pergunta, começavam um sonho e um pesadelo.

O sonho: eles saíram do barzinho, foram para o apartamento dele e transaram


como dois coelhos desesperados por toda aquela noite e por todos as noites
das três semanas seguintes. Ele achava incrível como ela parecia não se
cansar, não precisar dormir, não precisar de nada a não ser transar e ouvir o
que ele tinha a dizer. E ele passara as últimas três semanas contando a ela
tudo, absolutamente tudo sobre ele. Para um solitário como Nilson, não poderia
haver mulher mais perfeita: linda, silenciosa e interessada em tudo que ele
tivesse a dizer.

Mas eu havia falado também de um pesadelo...

Uma manhã, Nilson acordou sentindo frio, muito frio... E logo a confusão
mental de quem está acordando foi substituída por uma confusão ainda pior: a
de quem acordou e descobriu estar tudo errado. Era óbvio que estava frio...
ele estivera dormindo na rua! Acordara e se descobrira caído num beco,
cercado pelos homens do resgate. Sua camisa estava em frangalhos, a calça
estava suja - ele havia se mijado todo, seus sapatos haviam desaparecido. Sua
pele apresentava profundos arranhões, como se ele tivesse brigado com uma
onça. Havia um pequeno corte em seu pescoço, mas que apesar de pequeno,
era bem profundo e, para desespero do paramédico que o atendia, não
fechava de forma alguma.

Foi levado ao hospital, onde precisou ser submetido a uma pequena cirurgia
para fechar o corte em seu pescoço. De acordo com o cirurgião, o corte fora
banhado com algum tipo poderoso de anti-coagulante, o que impedia o seu
fechamento. Se não tivesse tido a sorte de ter sido encontrado por um grupo de
adolescentes que voltava de uma festa, teria ficado ali, caído naquela calçada,
sangrando até a morte.

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Precisou ficar no hospital por quase uma semana, recuperando-se da cirurgia e


tratando-se de uma intensa anemia. Mas o que não tinha cura era a confusão
toda que emaranhava sua cabeça. Tinha certeza de ter trabalhado naqueles
dias, tinha uma sólida lembrança de ter transado e conversado com Sabrina -
embora não tivesse a menor lembraça do que dissera. Não lembrava de
detalhes, mas tinha uma certeza tão grande de que tudo havia acontecido, que
parecia um pesadelo de Kafka que todos a sua volta pudessem estar dizendo
não ter notícias suas nas últimas três semanas. As irmãs haviam acionado a
polícia para localizá-lo. Seu chefe solicitara ao departamento pessoal da
empresa que deixasse pronto um anúncio de abandono de emprego, para
publicar no jornal, uma vez que ele não aparecia mais no emprego.

Após a alta do hospital, Nilson voltou ao seu apartamento e descobriu que este
havia sido vendido, bem com seu carro. Sua conta bancária tinha sido
esvaziada e seus investimentos, zerados. Estava sem nada. E descobriu que
estava sem nada porque ele mesmo tinha feito tudo aquilo: vendido casa,
carro, esvaziado as contas. Não soube o que dizer quando viu-se na filmagem
da câmera de segurança do banco, retirando todo o dinheiro de sua conta. Só
lhe restou sentar em um banco de praça e chorar.

E ninguém se lembrava de Sabrina.

Os colegas de serviço negaram tê-la visto. Ninguém se lembrava dele saindo


do bar naquela noite, só ou acompanhado. Lembravam de ter comentado como
ele havia sido negligente ao deixar as bolsas das meninas largadas na mesa,
sem ninguém para tomar conta. Ainda bem que ninguém havia sido
roubado.Como o chefe suspeitava que aquela história toda só podia ser coisa
de quem estava se drogando, Nilson acabou sendo mandado embora.

Desorientado, voltou ao beco onde fora encontrado. O beco ficava entre um


pequeno prédio antigo, caindo aos pedaços, e uma casa muito velha e muito
mal cuidada, onde funcionava um puteiro. Embora sua mente não trouxesse
nenhuma lembrança de ter passado por ali nas últimas semanas, foi tomado
por uma certeza inabalável de que ali naquele prédio baixo e decadente, uma
verdadeira pocilga, estava a resposta do mistério infernal que tinha se
transformado sua vida.

Foi ao puteiro algumas vezes, tomando todo o cuidado para não transparecer
que fora ali para investigar, não para transar. E logo foi recompensado com as
informações que queria por uma das meninas, uma moreninha até que
bonitinha, mas que tinha o defeito de não parar de falar nem por um minuto.
Ficou sabendo por ela que no prédio do lado funcionava uma tecelagem
clandestina, onde imigrantes ilegais da Bolívia trabalhavam em regime semi-
escravo e que, no porão, morava uma mulher meio maluca, que devia ser
garota de programa, porque saia todas as noites usando roupas bastante
sensuais e só voltava de manhã. Ninguém jamais a vira na região durante o
dia. Como ela não fazia concorrência direta com as garotas do puteiro,
ninguém se interessara por ela. Devia ser alguma drogada, que fazia programa

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para sustentar o vício. Ela devia ser gringa, também, porque tinha a pele
branca demais pra ser brasileira. Nessa hora, Nilson teve certeza: era Sabrina.

Com a ajuda do dono do bar onde tomava café todos os dias, Nilson chegou a
um traficantezinho de drogas que lhe vendeu uma arma fria e munição. E agora
estava lá, aquela hora, esperando como um louco o momento em que ela
chegasse, o momento em que teria sua vingança.

Lá pelas quatro horas da manhã um táxi parou em frente ao prédio e dele


desceu Sabrina, acompanhada de um homem que se movia de um modo meio
estranho, como se fosse uma pessoa drogada. Assim que ela pagou o táxi - o
sujeito parecia incapaz de fazer qualquer coisa sozinho - o motorista saiu de lá
cantando pneu, afinal não era uma vizinhança para se ficar parado à toa,
pedindo para ser assaltado. Só aceitara levar aquela piranha e aquele drogado
pra lá porque a prestação do táxi estava atrasada, e a noite tinha sido muito
fraca. Senão, não ia para aquele cu de mundo de jeito nenhum.

Acompanhada do homem, ela entrou pelo beco, desceu uma pequena escada
que levava a uma porta, a qual ela abriu sem auxílio de chave. Parecia confiar
tanto que ninguém entraria ali que não se preocupava com a segurança. Ela e
seu acompanhante entraram, mas nenhum dos dois acendeu a luz.

Auxiliado unicamente pelas luzes que vinham do puteiro ao lado, Nilson


esgueirou-se até uma janela onde, apesar da pouca luz, ainda era possível
enxergar o interior do aposento. Nilson pretendia esperar que ela fosse dormir
para entrar. Quanto ao desconhecido, tinha certeza que ele devia ser uma
vítima do mesmo esquema que ela armara para ele, e que estava drogado
demais para interferir.Assim que ela dormisse, acertaria suas contas com
aquela vagabunda. Ela ia pagar por tudo. Com juros.

Mas o que Nilson viu, dentro do porão do prédio, ele jamais poderia ter
imaginado, mesmo em seus pesadelos mais insanos.

Sabrina aproximou-se do homem que a acompanhava, que ficou


absolutamente parado, sem esboçar nenhuma reação. Com um movimento
rápido, ela rasgou a camisa do rapaz, expondo seu peito. E começou a
arranhá-lo, lentamente. O cara devia estar muito chapado, pois não gemia ou
sequer fazia alguma expressão de dor perante os fortes arranhões provocados
pelas longas unhas de Sabrina. Aliás, aquela mulher devia ter unhas de aço,
senão como ela produziria cortes tão profundos, sem quebrar unhas tão
compridas como aquelas?

Nilson ficou horrorizado com aquela cena, mas sentiu também um certo alívio,
proporcionado pela explicação de um entre tantos mistérios: a origem dos
arranhões profundos em seu próprio corpo.

Tornando tudo ainda mais estranho - Deus, onde toda aquela loucura iria
chegar? - Sabrina começou lentamente a lamber o sangue que escorria das
feridas no peito de sua silenciosa vítima. E, com o sangue que absorvia, seus
olhos começaram a assumir um tom de vermelho, a princípio muito pálido mas
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que foram se intensificando cada vez mais, até que lágrimas de sangue
começaram a escorrer deles.

Mas o que estava por vir faria Nilson duvidar ainda mais de sua sanidade.

Com uma das mãos, Sabrina levantou a cabeça do rapaz, expondo seu
pescoço. E de sua boca, uma gosma incolor começou a escorrer, em
abundância, e ela derramou esta gosma por sobre o pescoço do sujeito. Com a
longa unha do indicador da outra mão, em um gesto rápido e preciso, rasgou a
pele e cortou a jugular de sua vítima. O sangue, que em condições normais
espirraria longe, foi segurado pela gosma extremamente viscosa, passando
apenas a escorrer sobre o peito do desconhecido. Ela então se debruçou sobre
ele e começou a sorver aquele sangue em goles generosos, como quem
saboreia com calma uma deliciosa taça de vinho.

Com o corpo paralisado pelo medo, assim como a vítima dentro do porão,
Nilson assistia a tudo com o cérebro funcionando em desesperada batalha pela
sanidade.

De repente, Sabrina se levantou, caminhou até um ponto onde a escuridão não


permitia mais a Nilson ver o que ela estava fazendo. O desconhecido levantou-
se, caminhou em direção a porta em seu passo agora ainda mais cambaleante
e ganhou a rua. Foi nessa hora que ficou claro o que acontecera: assim como
para aquele estranho, ela também sugara o sangue de Nilson e o deixara
partir, para cair morto em algum canto qualquer da cidade, longe do
esconderijo. No caso dele, alguma coisa deve ter dado errado, e ele caíra por
ali mesmo e fora resgatado. Agora, por mais absurda que fosse a verdade,
tudo passava a fazer sentido.

Sua vingança, antes motivada apenas pelo desejo pessoal de desforra da


mulher que o humilhara e destruíra sua vida, agora ganhava um significado
maior: uma criatura monstruosa estava a solta, se beneficiando da descrença
do mundo moderno para destruir vidas e se alimentar de seres humanos.
Ficava claro para ele que o dinheiro devia ser o que menos importava ao
monstro que ele descobrira escondido naquele porão. Ela só deveria roubar o
dinheiro de suas vítimas para cuidar dos detalhes mundanos de seu disfarce. O
que lhe interessava de verdade era muito claro: sangue.

Nilson não estava se importando naquele momento se a criatura era um ser


alienígena perdido no planeta Terra ou um demônio das profundezas do
inferno. Era preciso destruí-lo, imediatamente, antes que fizesse novas vítimas.

Seria o revólver em seu bolso capaz de destruir uma criatura como aquela?
Será que ele precisava de balas de prata? E onde arrumar tal coisa numa hora
daquelas? Tinha apenas uma coisa a seu favor: aquele prédio era uma
tecelagem, e tecelagens tendem a pegar fogo muito fácil. Especialmente as
clandestinas, que não cuidam de manutenção.

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Se fosse um filme de terror, ele iria entrar e enfrentar a criatura, mas este não
era o caso. Ele não iria fazer uma imbecilidade daquelas. Pelas explorações
que fizera no bairro ao planejar sua vingança, sabia que algumas quadras
abaixo, na avenida principal, havia um hipermercado 24 horas, no qual também
havia um posto de gasolina.

Jogou seu revólver e as balas dentro de uma das lixeiras, não queria correr o
risco de ser parado pela polícia e ser detido por porte ilegal de armas. Procurou
atravessar a distância entre o covil da criatura e o posto de gasolina da
maneira mais discreta possível, rezando muito para não ser assaltado, rezando
ainda mais para que aquela coisa não o seguisse.

Comprou um pacote de estopa e dois galões plásticos no supermercado, que


pediu para encherem de gasolina no posto, alegando que seu carro o deixara
na mão, sem combustível. O frentista, antes de ele partir, ainda aconselhou -
"Tome cuidado, moço, que a vizinhança é perigosa!". Nilson só pode pensar
que o frentista não tinha idéia do tamanho e muito menos do tipo de perigo
que existia naquele lugar.

De volta ao beco, derramou a gasolina de um dos galões sobre os degraus e a


porta de entrada do porão. Tinha medo, pois a criatura poderia sentir o forte
cheiro da gasolina e fugir ou, pior ainda, sair e dar cabo dele. Não teria a
mesma sorte duas vezes, com certeza. Corria ainda o risco de alguém no
puteiro visse o que estava fazendo e chamasse a polícia.

Sabrina, ou o que diabo fosse aquilo, não se manifestou. No puteiro, a música


continuava alta e animada e, no porão, o silêncio continuava absoluto.
Utilizando a estopa que comprara no supermercado, Nilson fez do segundo
galão um imenso coquetel molotov. Acendeu o pavio e atirou o galão contra a
janela por onde vira aquelas cenas tão hediondas.

O galão estilhaçou os vidros da janela e seu efeito se fez sentir rapidamente.


As chamas tomaram conta do pequeno porão e, em instantes, houve uma
grande explosão lá dentro. As chamas subiram rápido para o andar de cima e
começaram a tomar conta do prédio.

A rua logo ficou cheia de curiosos e Nilson tratou de se misturar a eles o mais
rápido possível. Gritos desesperados vinham de dentro da tecelagem: eram os
trabalhadores semi-escravos. O prédio estava trancado por fora. Quando os
bombeiros chegaram, tiveram de usar de machados para abrir as portas.

Nilson observava todos os que saíam da tecelagem, por seus próprios pés ou
resgatados pelos bombeiros. Nenhuma das vítimas sequer se parecia com
Sabrina. Ele permaneceu lá até o fogo se extinguir, no meio da tarde. Não viu
nada que indicasse que o monstro pudesse ter sobrevivido ao incêndio. O
acontecimento teve ainda um efeito colateral muito útil: com a exposição da
situação dos bolivianos na imprensa, o empresário que os escravizava foi
preso. O incêndio ajudara a destruir outro tipo de monstro.

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Nos dias seguintes, Nilson pesquisou tudo que pode sobre o fato. Fingindo-se
de parente de uma desaparecida, foi aos hospitais da região e não localizou
nenhuma vítima do incêndio cuja descrição batesse com a de Sabrina. Entre
médicos, policiais e bombeiros, não achou ninguém que tivesse sequer noção
de que havia uma moça como aquela morando naquele porão. Entre os corpos
das vítimas fatais, todos foram identificados e nenhum era dela.

Deu um jeito de visitar o empresário dono do prédio na cadeia onde estava


detido. Alugara o porão para a tal mulher, onde ela armazenava um monte de
caixas, mas não sabia e não acreditava que ela estivesse morando lá. Achou
ridículo, até. Por que uma mulher tão bonita iria morar num porão nojento
daqueles? Ela sempre pagara o aluguel em dia e, se desconfiava das
atividades ilegais da tecelagem, não se manifestara. Aliás, todo o arranjo do
aluguel fora feito por telefone, ele só a vira no dia de assinar o contrato. Depois
disso, só se lembrava dela quando conferia o extrato e via o depósito feito em
sua conta.

Nilson retomou então sua vida. Ter sido capaz de vencer uma força
sobrenatural daquelas desenvolveu muito sua auto estima. Arranjou um novo
emprego, mandou as irmãs se virarem para resolverem seus problemas
sozinhas e começou a freqüentar a vida noturna. Todas as mulheres que
conheceu, daí para frente, eram absolutamente normais. Ele nunca mais teve
notícias de Sabrina ou de qualquer outra criatura sobrenatural como ela.

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O problema de Giuliano não era apenas a má aparência: ele era um


fracassado, um solitário e alguém totalmente sem perspectivas na vida. Entrara
naquele bar de beira de estrada com o único propósito de se embebedar, para
ganhar coragem para se jogar no lago da represa da hidrelétrica. Ninguém iria
sentir mesmo falta dele: não tinha parentes, seu casamento fracassara e,
depois de pagar todas as dívidas de sua última tentativa de se tornar
empresário, ele estava falido.

Por isso achou tão estranho aquela linda mulher de cabelos negros e pele tão
pálida estar olhando para ele com tanto interesse...

----FIM----

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Sobre o Autor

Edson Tomaz da Silva nasceu em São Paulo, capital, em 26 de abril de 1971.


A paixão pelos gêneros de terror e suspense é antiga, mas o autor só começou
a publicar seus textos em 2009.

Em 2010, criou o site Letras de Sangue (www.letrasdesangue.rg3.net), onde


publica seus textos, na companhia de outros escritores amadores, também
apaixonados por terror e suspense.

Para ajudar na divulgação do site, passou a publicar seus textos também no


Scribd (www.scribd.com/edsontomaz), criando a coleção Letras de Sangue.

Sobre a Obra

O conto “A Estranha” foi escrito em 2009 e publicada pela primeira vez no site
do “Recanto das Letras” (www.recantodasletras.uol.com.br/autores/edsontomaz)
e hoje faz também parte do acervo do Letras de Sangue.

Licenciamento da Obra

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons


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da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ ou mande
uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San
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