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S.

João do Estoril, 4 de Julho de 2010

Amigo Saramago,

Envio-te, aqui do planeta Terra, saudações fraternas. Aproveita para descansar, dos
sofrimentos da carne, que atormentam as criaturas presas num corpo físico grosseiro.

Finalmente poderás calar essa angustia, que te fazia gritar aos quatro ventos. Que a
misericórdia de Deus, a Inteligência Suprema, Causa Primeira de todas as coisas, o Deus
infinitamente bom e justo, te encontre e te mostre que aquela personagem que a tacanha
imaginação de alguns homens criou, afinal era apenas um retrato desses mesmos homens
e não a descrição do Criador.

Podias ter-te informado melhor aqui na terra, para teu próprio beneficio. Sei que a dúvida
te assolava e te fazia doer e que as tuas palavras eram apenas um grito de socorro,
embora não o confessasses, nem a ti mesmo, talvez.

Porque achavas que o Criador viria ajoelhar-se aos teus pés, para te explicar o que a tua
grande inteligência podia compreender, sem grande esforço? Por seres o grande José
Saramago, o prémio Nobel da literatura? Deus não se submete aos valores dos homens.
Para Ele somos todos iguais, não te iludas. As honras dos homens, aí de nada te servem.

É verdade, homens como Allan Kardec, académico, como tu, quando por aqui passou,
escreveram tudo muito clarinho, que nem água cristalina. Era só procurar. Ali não há
preconceitos, nem superstições, mas a verdade nua e crua. É a descodificação dos quatro
evangelhos, o Santo Graal que todos procuram. O bom coração é o passe mais valioso
para a sua compreensão.

Não é preciso passar pelas peripécias do Indiana Jones, mas não é tarefa mais fácil. É
enfrentar-se a si próprio, sem a venda do orgulho, que nos esconde as nossas mazelas
morais, que nos impedem de ser mais felizes do que somos e nos abrem o caminho da
felicidade eterna.

Mas ainda podes procurar. Nada está perdido. E com a inteligência que te caracteriza,
podes até tornar-te um divulgador da mensagem de Hippolyte Rivail, quem sabe? Fica a
sugestão. Sugerir não ofende...

Agora já não necessitas dos correios. Envias os teus pensamentos, mesmo sem carteiro,
não é? Ou será que aí também há serviço postal?

Vitor Santos

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