Você está na página 1de 1

A GRANDE MARCHA1

Ao Tenente-Coronel
AYRTON LOBO

No silêncio da noite sertaneja,


pontilhada de estrelas;
Nas manhãs cheias de luz,
Nas tardes, violeta e cereja,
Nos meios-dias corruscantes e ardentes;
Pelas trilhas requeimadas e quentes;
Por ínvios caminhos;
Nas estradas asfaltadas;
Nos carreiros de barro, batidos de tantas pisadas;
Nas aléas silvestres, cobertas de ninhos,
Na longa extensão das picadas quase virgens,
penetrando , como veias, o corpo da terra,
alcançando-lhe as origens;
Pelos rios,
arrostando correntezas e cachoeiras;
Pelas serras,
subindo escarpas infinitas;
dos altos cumes nas cimeiras;
Furando gróta e socavões;
eu vejo a longa fila penetrando os sertões...
São os homens de meu país!
Curvos
Cansados
Risonhos
Enérgicos
Destemidos
Sofredores
Cheios de sonhos
abrindo, em cada passada, rotas sem fim.
Como uma antífona, nas quebradas,
eu ouço o grande nome: -Brasil ! -
ecoando como se fôra mil...
Rostos de olhos claros,
do sul.
Rudes perfís de caboclos,
secados ao sol,
do Norte.
Fisionomias sorridentes e abertas,
do Centro,
caminham, unidos, pelo sertão a dentro.
È a marcha para Oeste...
É um exército, como bandeira desfraldada,
no tricolor das três grandes raças,
como um amplíssimo orfeão;
trazendo nos lábios,
da luta e do Progresso,
radiante, a intensa e maravilhosa canção!

PEDRO AVELINO2
1 Poema publicado no jornal o Estado de Mato Grosso em 10/11/1941
2 Poeta mato-grossense.

Você também pode gostar