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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

392 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.1)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-385-5
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Artesanato
4. Turismo 5. Cultura I. Duarte, Renata Barbosa de Araújo II. Série
CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


TRANSFORMANDO PALMEIRAS
DE MIRITI EM BRINQUEDOS
PARÁ
MUNICÍPIO: ABAETETUBA

INTRODUÇÃO

“Meu viver é alegre e colorido,


Meu trabalho é suave e divertido,
Minhas mãos dão vidas às cobras, tatus e pombinhas.
Pinto círculos, traços e linhas.
Brinco com meu fazer manual lembrando de ti,
Construindo nosso futuro com brinquedo de miriti.”
J. Lisboa

C arnaval carioca. Madrugada de fevereiro de 2004. A escola de samba


Viradouro pisa na Marquês de Sapucaí com todo o brilho dos artistas,
levando para a avenida as cores e os cheiros do Pará. Na mesma madru-
gada, dezenas de outros artistas paraenses reunidos em torno da TV vibram
a cada aparição de suas obras.
Longe da avenida do samba, os artesãos do miriti, cujas obras reina-
vam soberanas no sambódromo carioca, fazem a sua festa de orgulho no
interior do Pará. Esses artesãos – homens e mulheres – vivem em Abae-
tetuba, município distante 70 quilômetros de Belém, e confeccionavam
brinquedos de miriti, palmeira típica da região amazônica que ganhou
destaque no desfile que homenageou o Círio de Nazaré1.
A ala dos brinquedos na Viradouro foi o coroamento de uma arte que
passa de geração em geração e que é muito conhecida por todos os pa-
raenses e apreciada por turistas do mundo inteiro. Mas o sucesso na tela
da TV não se deu de maneira fácil, tendo de percorrer um longo caminho
– iniciado em 2000 – até que os artesãos conseguissem viabilizar o escoa-
mento regular de sua produção, comercializada de forma sazonal até o
início de 2003.
Jecyone do Socorro da Silva Pinheiro, técnica jornalista do SEBRAE/PA, elaborou o estudo de caso
sob orientação do professor Rafael Lobato de Mattos e Boubolhosa, do Centro Universitário do Pará
(Cesupa), integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.
1
A Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré é a maior procissão de fé cristã católica no mundo
reunindo, anualmente, na cidade de Belém, no Pará, cerca de 2 milhões de pessoas.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Rafael Boubolhosa

A DELICADEZA DOS TRAÇOS MOSTRA O TALENTO


DOS ARTESÃOS NOS OBJETOS DECORATIVOS
Rafael Boubolhosa

PRODUTOS ARTESANAIS SENDO


COMERCIALIZADOS NAS PRAÇAS
TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

Os artesãos do miriti passavam boa parte do ano se preparando para


escoar a produção somente no mês de outubro, quando acontecia o Círio
de Nazaré, em Belém. A sazonalidade fazia com que eles procurassem ou-
tras ocupações durante o resto do ano. Uns sobreviviam de serviços espo-
rádicos; outros, subempregados na cidade, cuja economia de base
diversificada girava em torno da pesca, agricultura, atividade oleiro-cerâmi-
ca, comércio e carpintaria naval. “Eu não tinha emprego, fazia somente al-
guns bicos para sustentar a minha família”, ressaltou Valdeli Alves –
artesão do município.
Eram artistas que viviam o dilema arte versus sobrevivência, já que pre-
cisavam manter suas famílias, mas o miriti não rendia o retorno necessário.

O DESPERTAR DOS BRINQUEDOS

O miriti – Mauritia flexuosa L. – é uma palmeira encontrada o ano in-


teiro nas florestas de galeria, margens de rios, igarapés e savanas.
Também conhecido como buriti-do-brejo, o chamado “pecíolo” do miriti é
usado na produção de artesanato, de brinquedo e confecção de matapi,
paneiro, pipa, gaiola, divisória e venezianas.
A palmeira também é aproveitada em outras atividades. As folhas, por
exemplo, são usadas na cobertura de casas e barcos, sendo que as folhas
jovens são utilizadas na fabricação de redes, chinelos e bolsas. O seu fru-
to é aproveitado em cremes, sorvete, mingau, suco e até na indústria de
cosméticos, sendo a haste do miriti excelente repelente natural de insetos.
Para que todas as potencialidades da palmeira sejam utilizadas, é preciso
esperar cerca de dez anos até seu total amadurecimento.
O brinquedo de miriti tem sua origem perdida no tempo, embora alguns
historiadores associem sua comercialização ao Círio de Nossa Senhora de
Nazaré, maior festa religiosa dos paraenses, que acontece no segundo do-
mingo de outubro. Supõe-se que essa relação tenha surgido por ocasião do
primeiro Círio, realizado em 1793, quando ocorreu a Feira de Produtos Re-
gionais da Lavoura e da Indústria. Para essa feira, cada vila ou cidade do
interior enviou produtos como cacau, baunilha, guaraná, mandioca, arroz,
cerâmica, tabaco, redes de pesca, pirarucu salgado, cesto, esteira e outros
bens, estando, possivelmente, aí incluídos os brinquedos feitos em Abaete-
tuba, apesar de não existirem registros históricos que os nomeiem explici-
tamente como integrantes do rol de produtos dessa feira.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


ARTESANATO

Do miritizeiro em fase de crescimento cortam-se os talos, chamados de


“braços da folha verde”. Essa ação não prejudica o desenvolvimento da
planta. Após isso, os braços, com até cinco metros de comprimento cada,
são descascados e postos para secar. Em seguida, são levados de barco
para a cidade e vendidos aos artesãos em feixes de 100 unidades que ain-
da deverão secar por mais alguns dias para, então, dar-se início à feitura
das peças. A partir daí começa a transformação da palmeira em brinque-
dos que alegram as crianças e colorem as ruas com pedacinhos da fibra
transformados em cobras, tatus, barcos, peixes, dançarinos, casinhas, ma-
cacos, soca-soca, caboclos, ribeirinhos e diversas outras peças que expres-
sam a riqueza do imaginário amazônico.
Para alguns moradores da cidade, o miriti sempre foi utilizado por crian-
ças da região, que faziam seus brinquedos – pequenas montarias e vigilen-
gas – para usar em competições nos rios, igarapés e furos.
Os artesãos, no entanto, afirmavam que as miniaturas de embarcações
associaram-se ao Círio de Nazaré, inicialmente, pelos votos de fiéis. Ar-
tesão de Abaetetuba, Manoelzinho expressava claramente essa relação:
“Começou a idéia da venda com as canoinhas de promessas. Uma pessoa
do interior, por exemplo, fez uma promessa por uma canoa dela que su-
miu. Se aparecesse, ele levava uma montaria2 para Nossa Senhora”. (O
brinquedo no Círio de Belém, 1987, p. 11).
As origens do município de Abaetetuba se encontram atreladas às pri-
meiras incursões na mata realizadas pelos frades Capuchos, que funda-
ram o Convento do Una, e, ainda, às dos jesuítas, que instalaram a
freguesia de São Miguel de Beja, cujas datas de ocorrência teriam sido
posteriores a 1653. Abaeté, na língua tupi, significa “homem forte, valen-
te, prudente e ilustre”.
Com uma população de 119.152 habitantes, de acordo com o censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), Abaetetuba foi
fundada em 1880 às margens da Baía de Marapatá, onde se encontram as
águas dos rios Tocantins e Abaeté, sendo um município que abrange
grande quantidade de ilhas e que ocupa uma área de 1.606,77 quilôme-
tros quadrados. Seu clima é equatorial quente e úmido, propício para o
cultivo do miritizeiro, cuja altura varia de 30 a 50 metros.
A produção comercial do brinquedo de miriti remonta aos idos de
1930, quando a sua comercialização se incorporou ao Círio de Nazaré.

2
Embarcação típica da região.

4 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

Antes, os índios já faziam uso da fibra do miriti para confeccionar cesta-


rias. “Trata-se de um produto de grande valor e identidade cultural, com
boa aceitação no mercado e forte apelo de marketing cultural e social”,
lembrou Adilson Rocha, gerente do SEBRAE em Abaetetuba.
Até 2000, a comercialização do produto era feita de forma sazonal, com
ênfase na festa do Círio de Nazaré, em outubro. Os artesãos trabalhavam
de forma isolada e viam no miriti um complemento à renda familiar, sen-
do a atividade secundária para a maioria deles. Com baixa auto-estima, o
trabalho era visto como um “bico” e o rendimento médio proveniente da
venda do produto era de R$ 100,00 ao mês.

UNIÃO DE ESFORÇOS, BRINCADEIRA DE VERDADE

A partir de 2000, graças a um esforço coletivo empreendido pelo SEBRAE


no Pará e pelos artesãos do município, o artesanato em miriti ganhou
novo formato. Essa mudança de referencial foi adotada a partir da realiza-
ção do Miriti Design, em 2000, que diversificou a produção do artesanato,
até então restrita a brinquedos e elementos da fauna e flora amazônicas
para a venda a romeiros e observadores do Círio de Nazaré, quando os
tradicionais brinquedos colorem as ruas de Belém.
Após o evento, aconteceu o despertar dos artesãos, que perceberam
o valor do seu trabalho e o interesse do público por seus produtos.
Mas, principalmente, perceberam que era urgente a necessidade de a
categoria se organizar, tanto quanto o seu próprio trabalho, adotando
padrões, novas técnicas administrativas e de produção, que permitiriam
a melhoria na comercialização de seus brinquedos – o que nunca ha-
via acontecido, já que eles trabalhavam de forma isolada, produzindo
sazonalmente.
Os associados participaram de cursos, oficinas, seminários e de even-
tos nacionais, estratégicos para a geração de demanda no mercado e o
conseqüente aumento na produção. Tais ações, de acordo com a Associa-
ção dos Artesãos de Brinquedo e Artesanato de Miriti de Abaetetuba
(Asamab), foram relevantes por servirem de fatores de inclusão social
e por terem gerado excelentes resultados comerciais e de marketing. Os
artesãos de Abaetetuba participaram de feiras nacionais e internacionais
e contaram com vários aportes tecnológicos até 2002: uma oficina Best
Game, três oficinas de gestão, quatro palestras técnicas, quatro oficinas

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


ARTESANATO

específicas, um workshop de design, um seminário de cooperativismo,


um diagnóstico, dois estudos científicos, 13 apoios a feiras e sete espaços
de comercialização.
Uma ação implementada com o Banco do Brasil financiou material de
acabamento das peças. Esse recurso foi negociado com o apoio do
SEBRAE/PA e permitiu a liberação de crédito acessível. Também houve
maior atuação em consultorias para adequar os produtos às tecnologias
apropriadas e fomentar formas de trabalho coletivo para que os artesãos
percebessem a necessidade de cooperar para competir. Isso se deu pela
capacitação contínua dos artesãos em gestão e no uso de tecnologias ade-
quadas, o que permitiu a melhoria dos produtos para atender às exigên-
cias do mercado interno e externo.
“Sentíamos necessidade de mais organização, pois trabalhávamos de
forma isolada”, lembrou Valdeli Alves, 36 anos, pai de quatro filhos, e que
há seis anos trabalhava com o miriti, para quem a mudança efetiva se deu
com a visita do antropólogo Ricardo Gomes Lima, do Museu de Folclore
Edison Carneiro, do Rio de Janeiro, em 2002.
O antropólogo levou três mil peças de miriti para a capital carioca e,
por meio do Projeto Artesanato Solidário do Programa Nacional de Artesa-
nato, trabalhou em parceria com o SEBRAE, visando à sensibilização da co-
munidade quanto à importância de se unir em associação para melhorar a
qualidade do produto e promover as vendas.
“Ninguém acreditava no seu Ricardo, me lembro que éramos 11 pessoas.
Entregamos as peças que foram levadas para o museu. Foi um sucesso, o
pagamento chegou direitinho”, lembrou seu Célio Ferreira, que, antes de
ser artesão, era carpinteiro. “Larguei a carpintaria e hoje vivo somente do
miriti e estou muito satisfeito”, ressaltou o artesão, que trabalha com a es-
posa e mais seis filhos. A parceria com o Museu de Folclore do Rio de Ja-
neiro passou a dar frutos, tendo feito com que os artesãos de Abaetetuba
continuassem a enviar suas peças para a capital carioca.
O projeto teve como objetivo articular os artesãos de miriti de Abaete-
tuba para que eles se organizassem no sentido de melhorar a produção e
agregar valor ao produto. Estava nascendo a Asamab, cuja ata de inaugu-
ração foi assinada em fevereiro de 2003 pelos 54 artesãos sócio-fundado-
res. Desde então, a produção – antes comercializada somente na época do
Círio de Nazaré – passou a ser intensificada e vendida com regularidade
em diversos pontos-de-venda fixos no Pará e até em outros Estados, como
Rio de Janeiro e São Paulo.

6 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

A partir do Miriti Design, eles passaram a apostar na qualificação de suas


atividades para ganhar novos mercados. Desse modo, a tradição da venda
dos brinquedos no Círio, além de ter sido mantida, fez com que surgissem
novos elementos para compor o cotidiano das 70 famílias – congregando
327 artesãos – envolvidas no projeto de aperfeiçoamento da produção, tais
como: botos, barcos, aves, casas de ribeirinhos, objetos domésticos, entre
outros. Essas novas peças incentivaram os artesãos e os técnicos do
SEBRAE a continuar as pesquisas temáticas e de mercado.
“Antes, nós estávamos à margem, sem orgulho e com baixa estima, tra-
balhando sem motivação”, comentou Valdeli Alves. Todos os artesãos da
Asamab foram unânimes em afirmar que a mudança de comportamento do
grupo se deu após a realização desse evento.
Após a formalização da Asamab, em fevereiro de 2003, foi realizada uma
pesquisa pioneira para identificar a origem da matéria-prima e a resistência
da palmeira do miriti, bem como as características da fibra e as formas como
que ela poderia ser trabalhada. A pesquisa, intitulada Ensaio fitológico, foi
resultado de uma parceria entre o SEBRAE e a Universidade Federal do Pará.
Outro ponto de destaque na Asamab foi a preocupação com a formação
profissional de seus membros. “Já fizemos muitos cursos e aprendemos a me-
lhorar a qualidade das peças”, afirmou seu Célio, ao lembrar a importância
das etiquetas de contextualização das peças e do selo de procedência.
Inicialmente presos ao ciclo religioso do Círio de Nazaré, quando os ar-
tesãos começavam a trabalhar em meados de julho, culminando com a fes-
ta religiosa em outubro, desde 2003, quem visita Abaetetuba pode encontrar
os brinquedos durante todo o ano, além de artesãos trabalhando para aten-
der às encomendas que chegam de centros como Rio de Janeiro e São Pau-
lo e a cinco pontos permanentes de vendas, sendo eles: Loja do Museu
Emílio Goeldi, Museu de Folclore Edison Carneiro (RJ), Aeroporto Interna-
cional de Belém, Central Arte Sol e Associação São José Liberto.
Em Abaetetuba, a maioria dos artesãos que trabalhava com miriti era
do sexo masculino, sendo que as mulheres representavam pequena par-
cela na produção propriamente dita, embora presentes, ajudando seus
maridos, pais e irmãos, o que fez da atividade um fator de agregação
familiar, já que pôde envolver toda a família em pequenos núcleos de
produção. A confecção do artesanato de miriti era uma tradição familiar,
que sempre passou de pai para filho. “É muito importante porque junta
a família”, disse Célio Ferreira, que desde o final da década de 80 traba-
lhava com brinquedos de miriti.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


ARTESANATO

A partir de 2003, a atividade deixou de ser secundária e passou a ser a


principal fonte de renda dos artesãos, trazendo ganhos sociais, uma vez
que eles passaram a ter maior poder de compra e melhoria na qualidade
de vida. Em 2004, o grupo passou a manter uma loja funcionando na sede
do SEBRAE, em Abaetetuba, além de em outros pontos permanentes.
Em 2003, a Asamab levou cerca de 38 mil peças para serem vendidas
no Círio de Nazaré. Para 2004, a associação levou 50 mil unidades, que
foram vendidas a um preço mínimo de R$ 5,00 e máximo de R$ 30,00.
Uma pesquisa realizada pelo SEBRAE em Abaetetuba mostrou que
antes da ênfase no associativismo, o trabalho individual e informal dos
artesãos rendia, em média, R$ 100,00 ao mês para cada um, passando o
faturamento médio, em 2004, a ultrapassar os R$ 350,00 mensais.
Um dos importantes resultados gerados pela qualificação técnica dos
artesãos da Asamab foi o repasse de conhecimento, aprendido em dois
seminários oferecidos pelo SEBRAE, sobre o armazenamento e a secagem
do miriti para os seus fornecedores de matéria-prima, o que fez com que
ela se valorizasse 100% entre 2003 e 2004, em função da melhoria de sua
qualidade.
Até julho de 2004, já eram 78 os artesãos recém-associados à Asamab
sendo que, segundo Amadeu Santos, vice-presidente da Associação, um
ano antes, haviam sido registrados 108 artesãos no município.

“Passei da condição de desempregado a patrão”


Valdeli Alves, artesão

Orgulhoso de seu trabalho, Valdeli possui obras espalhadas por


vários países, como Guatemala, Alemanha, Itália, França, Chile e Japão.
“Desde criança fazia os brinquedos por brincadeira”, lembrou o arte-
são, que fez um curso de Desenho Artístico e Publicitário e que traba-
lha com mais nove pessoas no ateliê que montou em sua residência.
“Depois que fundamos a associação, tudo mudou. Hoje, quando um de
meus filhos fica doente, eu não preciso mais bater na porta de gabine-
te de nenhum vereador para pedir ajuda, eu mesmo vou até a farmá-
cia e compro o remédio, levo ao médico, pago exame. Era isso que
queria pra mim e minha família”, disse Valdeli, que sonha com o tér-
mino da construção de sua casa de alvenaria bem como de uma lojinha
na frente. “Já tenho até o projeto”, lembrou, mostrando, orgulhoso, o
protótipo da futura construção.

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

Nascido em Tauerá de Beja, colônia de Abaetetuba, Valdeli aprendeu


a trabalhar com miriti aos 12 anos, quando fabricava seus próprios brin-
quedos. Especialista na confecção de pássaros, o curso de Desenho Ar-
tístico, que fez por correspondência, contribuiu para que o artesão
trabalhasse com mais conhecimento na confecção da fauna e flora ama-
zônica, sua especialidade. “Gosto muito de fazer pássaros, onças, tatus,
cotias, pesquiso em livros, procuro informações para me inspirar”, con-
tou o artesão. Para ele, o Círio de Nazaré passou a ser só mais um even-
to em que pode comercializar sua arte, já que consegue vender todos os
dias e não precisa mais esperar somente pelo mês de outubro. Em 2004,
Valdeli levou 500 peças para Belém. “Já fiz as contas, tendo levado as
500 peças e vendido a cinco reais cada, conseguirei terminar minha
casa”, assegurou.
A mesma alegria contagiou Célio Ferreira: “Antes eu tinha vergonha de
levar as pessoas para visitar minha casa, hoje ela é ajeitadinha”, comen-
tou seu Célio, cuja oficina sempre funcionou no quintal de sua residên-
cia. Para o Círio de 2004, seu Célio levou cerca de três mil peças.
Para Valdeli, foi importante investir no aperfeiçoamento e reciclagem de
conhecimentos. “Eu compro livros para aprender mais sobre as histórias e
as lendas com as quais me inspiro para produzir uma peça”.
Desde o início dos anos 1990 trabalhando com o miriti, seu Amadeu
Gonçalves de Sarges lembrou que, na infância, brincava com barqui-
nhos feitos da fibra, mas que se apaixonou pelo ofício quando foi à
Belém participar do Círio na juventude. Seu Amadeu desenvolveu,
como sua rotina de trabalho, estar na feira pela manhã, e passou a re-
servar as tardes e as noites para o miriti, na oficina construída em sua
casa. Tendo montado uma equipe com 11 pessoas entre parentes e vi-
zinhos, seu Amadeu levou 2.100 peças para Belém no evento realizado
em 2003, número que cresceu para 2.500 peças em 2004. “Aqui em
Abaetetuba, mais de 100 artesãos dependem desse trabalho. Estamos
muito melhor que no passado e não pensamos mais em quantidade,
mas na qualidade do produto”, comentou o artesão, que já fechou
bons contratos com o Rio de Janeiro e São Paulo por meio da associa-
ção. “Somente dos pontos-de-venda fixos, costumo receber, em média,
300 reais por mês”, contou seu Amadeu, ao ressaltar que a maior con-
quista vinda do miriti foi a construção de sua casa e a compra de tudo
o que tem dentro: “Telefone, geladeira, televisão, tudo isso comprei
com o dinheiro dos brinquedos”.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


ARTESANATO

“Eu mesma fabricava minhas bonecas”


Nina Abreu, artesã

Aos 69 anos, completados em 2004, dona Nina Abreu aprendeu a trans-


formar o miriti em brinquedo aos 12 anos. “Só trabalho com miriti, os fi-
lhos querem que eu pare, mas não posso porque é uma terapia”, diz a
artesã, que é uma das mais antigas da cidade e que três anos antes havia
sofrido uma isquemia cerebral, tendo utilizado o trabalho com o miriti
como uma maneira de melhorar sua saúde.
“Eu criei um leque de miriti que foi vendido no Círio de 2004, também criei
o pato no paneiro e a canoa com os ribeirinhos”, contou a artesã ao ressaltar
que, após desenvolver uma peça, sempre tem o cuidado de registrá-la em car-
tório. O leque a que dona Nina se referiu era utilizado pelas senhoras duran-
te a procissão do Círio de Nazaré para amenizar o calor, já o pato no paneiro
é uma alusão ao principal prato servido no almoço do evento, o pato no tu-
cupi, iguaria sem igual, de sabor singular e muito apreciada pelos paraenses.
Dona Nina conta: “Peguei gosto pela arte ainda moleca”, quando via os
“homens dos brinquedos” vendendo a produção em girândolas coloridas
nas ruas de Abaetetuba. “Sei que tudo começou depois que seu ‘Cabôco’ da
dona Negolina começou a fabricar cobra, tatu, eu era moleca e via esse
trabalho na rua”, lembrou dona Nina, que vende sua produção em uma
lojinha construída em frente de sua casa.
A exemplo dos demais artesãos, dona Nina levou suas peças para o
I Miriti Fest, que aconteceu em abril de 2004, quando, segundo a Asamab,
mais de 100 mil pessoas visitaram o município.
O trabalho de dona Nina Abreu rendeu muitos e bons frutos na cida-
de, a exemplo de uma “discípula” sua, a artesã Daniela Delamare, que
aprendeu a arte dos brinquedos com dona Nina. Para Daniela, o I Miriti
Fest foi o ápice do trabalho iniciado pelo SEBRAE, principalmente para
sua produção, já que, após o evento, a artesã não teve mais do que recla-
mar em relação à suas vendas, tendo passado a receber muitas encomen-
das. “Vendi mais de 400 peças, tive um bom retorno e estou construindo
minha casa”, disse a artesã que, nas horas vagas, trabalha com decoração
de festas. “Mas a atividade que me sustenta é o miriti”, ressaltou.
A ação desenvolvida em Abaetetuba repercutiu em outros municípios da
região, a exemplo de Oeiras do Pará, Limoeiro do Ajuru e Barcarena, onde a
atividade já teve início, o que se verificou por meio da procura que os arte-
sãos desses municípios fizeram pela Unidade de Artesanato do SEBRAE.

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TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

Outro resultado importante após a revitalização e profissionalização da


atividade foi a ação desenvolvida pelo Centro de Formação Profissional
Cristo Trabalhador, que funciona em Abaetetuba e pertence à Diocese do
município e que inseriu o artesanato de miriti em suas oficinas, o que des-
pertou o interesse de grandes empresas no projeto, como Petrobrás, Vale
do Rio Doce e Alunorte/Albrás, tendo, esta última, distribuído miniaturas
de pássaros entre seus colaboradores.
O primeiro Miriti Fest também foi resultado da ação de várias parcerias
estabelecidas entre a Asamab, com o apoio do SEBRAE, e a Associação Co-
mercial de Abaetetuba, a Câmara de Dirigentes Lojistas e a Fundação Rô-
mulo Maiorana, que surgiram a partir do artesanato de miriti.
O artesanato de miriti passou a ser contemplado como um Arranjo
Produtivo Local (APL)3 e, inserido nesse contexto, dentro da política
nacional e estadual, o que denota seu grau de importância para a eco-
nomia brasileira. “A associação dos artesãos de Abaetetuba caminha no
sentido de se auto-sustentar e está em condições de estabelecer parce-
rias, dando continuidade ao projeto”, comentou Adilson Rocha, ao se
referir à exposição no aeroporto internacional de Belém, realizada pela
Infraero, e à empresa de cosméticos Natura, que já utilizou fotos de
brinquedos de miriti como ilustração de um de seus catálogos de
circulação nacional. Em vista disso, a associação mostrou que existe
ampla possibilidade de continuidade do projeto com parceiros potenciais
para a captação de recursos.
Para permitir que se chegasse ao nível de desenvolvimento observa-
do, a Asamab apoiou-se em várias parcerias – Fundação Nacional de
Artes (Funarte), prefeitura de Abaetetuba, Secretaria Especial de Traba-
lho e Promoção Social (Seteps), Associação São José Liberto, Museu
Emílio Goeldi, Associação Comercial de Abaetetuba e Câmara de Diri-
gentes Lojistas – conseguindo maior interação dessas entidades na cap-
tação de recursos financeiros e na cessão de espaço para exposições.
O SEBRAE/PA, desde que se envolveu com o projeto, passou a atuar
como o principal articulador nas outras entidades, no sentido de captar
recursos e parcerias, como a da Albrás, que liberou recursos para via-
gens, e a da Seteps, que viabilizou passagens, transporte e espaço físi-
co para exposições.

3
São aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que atuam em torno de uma
atividade produtiva principal.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 11


ARTESANATO

Como resultado relevante para os participantes do projeto e os mo-


radores de Abaetetuba, em 2004, a atividade do artesanato de miriti
passou a gerar ocupação para cinco pessoas, em média, por ateliê, supe-
rior aos dados encontrados no ano anterior (quatro pessoas por ateliê).

CONCLUSÃO

O maior objetivo da Asamab passou a ser ampliar o universo de membros


e melhorar a gestão da associação, bem como trabalhar a produção com
vistas a um melhor produto final (pintura, design, embalagem) e à comercia-
lização. “São necessárias uma melhor organização social da entidade e a
melhoria da comercialização do produto final para que o grupo caminhe
sozinho, pois ainda depende muito dos consultores do SEBRAE”, disse Adilson
Rocha, gerente do SEBRAE em Abaetetuba. Por outro lado, eles passaram
a investir em cursos e treinamentos de associativismo focados na gestão,
o que os levou a esperar um futuro de auto-sustentabilidade.
Em 2004, segundo Valdeli, a Asamab estava em plena atividade, mas
precisava de maior dinamismo e de visão estratégica das ações desenvol-
vidas. “Contamos com um cenário propício e temos um bom produto nas
mãos. Falta perceber com maior nitidez o valor de tudo isso”, comentou o
artesão, que passou a defender mais atuação das consultorias na adequa-
ção dos produtos às tecnologias apropriadas e no fomento a novas formas
de trabalho coletivo para que os artesãos pudessem perceber a necessida-
de de um modelo de cooperação e assim tivessem condições de competir.
Ele, inclusive, passou a atuar no projeto Educando com Arte, mantido pelo
Centro de Ensino Profissionalizante Cristo Trabalhador e que tem como
objetivo ensinar o artesanato aos jovens para que eles tenham renda sem
que precisem parar de estudar.
Capacitação contínua e mais intensa dos artesãos em gestão e no uso
de tecnologias adequadas também foi identificada como uma das carências
que, caso seja superada, permitirá, segundo a Asamab, a melhoria dos pro-
dutos para atender as exigências do mercado interno e externo.
Valdeli destacou ainda a necessidade de aproveitamento das sobras do
miriti, que sempre foram queimadas ou deixadas no fundo do quintal.
“Nossas mulheres poderiam aprender a fabricar papel com as sobras, já se-
ria outra fonte de renda”, disse o artesão ao destacar que cada folha de
papel reciclada do miriti custa, em média, R$ 6,00.

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TRANSFORMANDO PALMEIRAS DE MIRITI EM BRINQUEDOS – SEBRAE/PA

Depois de pouco mais de um ano de vida, a associação que passou a


agregar os artesãos já comemorava algumas vitórias, enquanto busca
soluções para os novos dilemas apresentados, pois muita coisa ainda
precisava ser feita. “Tenho muito ciúmes das minhas peças, sempre que
faço alguma coisa diferente, vendo e guardo uma amostra para mim.
Tenho muito orgulho da profissão que sustenta minha família, só quero
poder crescer mais e ajudar meus amigos a crescerem também. Hoje posso
dizer que estou muito feliz”, finalizou Valdeli, mostrando que a auto-estima
alcançada pelo grupo elevou a vontade de melhorar e fez dos artesãos de
Abaetetuba um exemplo de superação e de conquistas.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• O que fazer para atrair mais associados, uma vez que ainda existem
muitos artesãos desarticulados em Abaetetuba?

• Como trabalhar melhor a coletividade com o grupo? Qual a importân-


cia da união para atender melhor às encomendas?

• Que ações poderiam ser implementadas para que os artesãos obtives-


sem redução em seus custos de produção?

• Que ferramentas de marketing poderiam ser utilizadas para a propaga-


ção desta forma de artesanato?

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/PA: Augusto Jorge Joy Neves Colares, Maria Oslecy Rocha Garcia,
Valdemar Massao Ohashi.

Coordenação Técnica: Maria Alice Gomes da Cunha, Antônio Tadeu Campos.

Colaboração: Associação dos Artesãos de Artesanatos e Brinquedos de Miriti de Abaetetuba; Diocese


de Abaetetuba; Adilson Raimundo Cardoso Rocha, SEBRAE; Ana Cristina Ramos Barbosa, SEBRAE;
Valdeli Alves, artesão; Célio Ferreira, artesão; Raimundo da Silva Peixoto, artesão; Nina Abreu,
artesã; Amadeu Santos, artesão; Daniela Delamare, artesã; Maria Alice Gomes Cunha; Ronald
Junqueiro Fernandes Vieira; Rafael Lobato de Mattos e Boubolhosa.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 13


ARTESANATO

BIBLIOGRAFIA

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BRINQUEDO NO CÍRIO DE BELÉM, O. Belém, PA, 1987.

CARVALHO, Luciana Gonçalves; LIMA, Ricardo Gomes. O Brinquedo que


vem do norte. Rio de Janeiro: Funarte, 2002.

DIÁRIO DO PARÁ. É Tempo de brinquedos de Miriti. Caderno A. 24 set. 1995.

LIBERAL, O. A poesia dos brinquedos. Caderno 1º. 12 out. 1985.

___________ A dança dos brinquedos. Caderno 2º. 11 out. 1992.

___________ Brinquedos populares em livros já lançados. Caderno Jornal


dos Bairros. 23 out. 1989.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivos de


plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plartanim, 1992.

PROVÍNCIA DO PARÁ, A. Arte de fazer Brinquedos. Caderno X. 29 out. 1991.

_____________________. A arte do Miriti. Caderno 2º. 16 junho 1998.

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Caderno 2º. 31 out. e 01 nov. 1993.

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