Você está na página 1de 10
(OVA BATALHA DO MUNDO DIGITAL a» 3 ‘wwW.exame.com.br RS 12.00, Os tentaculos DO ESTADO O inicio da campanha eleitoral traz a tona a discussdo sobre a necessidade de um Estado forte no Brasil. Mas o debate pode esconder apenas 0 desejo de um Estado grande, gordo, tentacular. Por que nao precisamos dele CAPA economia ‘omegou mal a discussfio mais importante sobre o Brasil que 105 ser no futuro. A questo decisiva para o tipo de pais que vamos constnuir — Estado grande ou Estado forte? — ressurgiv ‘embalada por muitas palavras de ordem, mais um escdndalo protagonizado pelo ex-ministro José Dirceu e quase nada de substincia, Aleada & condigdo de pré- candidata& Presidéncia da Repablica no megaevento do PT que sacramentou s nome, a minisira Dilma Rousseff foi fundo nas jlagSes sobre um suposto ata- ‘que “neoliberal” pronto a ser deflagrado. “Alguns ideslogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. resultado foi desastroso. Aqui. 0 de- sastre $6 nfo foi maior porque 0s bras leiros resistiram a esse desmonte e con- seguiram impedir a privatizacdo da Pe- trobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econdmica ou de Furnas”, disse Dilma. insinuando a linha a ser perseguida na ‘campanha. Por seu tumo, o principal ‘promotor de sua candidatura defendeu a pecha de “estatizante” da ministra. “Di- zem isso dela. Mas isso no € ruim. bom disse na ocasido o presidente Luiz Indcio Lula da Silva. fronicamente, as loas ao tal “estatismo” de Dilma foram ‘entoadas 2 poucos metros de Direeu — sempre ele —, nebulosamente envolvido na tentativa de eriar uma nova estatal para difondira banda larga no pats e que ‘pode resultar numa das maiores falca~ truas de sua complicada carreira de ‘consultor”. Por sua vez, ante a indefi- nigio do governador José Serra na cor- rida eleitoral, na oposicio reina o silén- io. Por ora ndo se sabe oque pretender ‘os tucanos se voltarem a reinar. Mas, ainda que de forma tortuosa, pelo menes a pergunta esté posta: como serio Bra sil a partir do prOximo ano, quando en cemrar aera Lula? No dificil. mas vital, ‘equilibrio entre Estado e mercado, que caminhos seguiremos? Queremos um Estado forte —na regulagio, na impo- sigdo da lei, no respeito aos contratos, na garantia da seguranga e em tantas ‘ounras dees da vida? Ou preferimos um Estado grande — que empregue cada vez mais, que produza bens © sctvigos. que interfira na atividade econdmica e 2alwemmaxame ‘que, em tiltima instincia, caracterize 0 ccapitalismo brasileiro do século 21? ‘Um olhar sobre os avangos recentes do pais evidencia a importdacia hist6ri- cadessa escolha. O Brasil que hoje des- ponta como lideranea global consoli- dou, ao longo dos tiltimos 20 anos, um impressionante conjunto de conquistas, na economia, na politica ena sociedade. Enterramos uma ditadura militar. Abri- ‘mos a economia, Domamos a inflacio. A PETROBRAS virou instrumento para impulsionar A ECONOMIA —e ela nao para DE AMPLIAR sua presenca em novos setores Aceitamos regras bisicas da boa macro- ‘economia. Tiramos milhoes de pessoas da pobreza. Criamos um enorme mer- cado consumidor. Estamos, como nacio, mais fortes do que nunca. © prdximo paso — decisivo para nossas pretenses, —é entender o que queremos de nosso Estado. Historicamente, ele é responsé- vel por algumas das principais mazelas do pais. como a péssima qualidade da educagiio, o atendimento sofrvel na sai de, ainsegoranga que ceifa quase 50 000 vidas a0 ano, uma carga tributéria asfi- xiante, a burocracia que inferniza 0 ci- dado, barra o empreendedorismo e se perpetua governo aps governo, A altr- nativa nfo 6 tornd-lo insigaificante —se alguém ainda precisava de comprovagio {de que o mercado no pode ser deixado totalmente solto, recomenda-se uma visita aos Estados Unidos e & Europa para ver o estrago que a falta de regula gio nas finangas produziu. O ponto € outro. Naquilo que elegermos como prioritério, o Estado precisa funcionar, & Rusgas elsitorais pate no ajuda em pada o Fla-Flu que surgia em tomo da questdo. “A ideologia esti turvando © ‘debate. Os liberais néo pregam o fim do Estado. $6 recomendamos cuidado, pois a mo pesada pode gerar distor- goes", diz o economists Gustavo Loyo- ia, ex-presidente do Banco Central VALE, ENTAO, TIRAR UM POUCO da paixiio que envolve o tema, Nao é ver- dade que o Brasil enha fletado com 0 Estado minimo durante a gestdo FHC. Também no € verdade que Lula esteja cconstrainde um estatismo sovistico. Nos ‘quadros que ilustram esta reportagem. EXAME traz um diagnéstico completo sobre o tema, A radiografia mostra que. apesar de certa edug30 ma méquina e de algumas importantes privatizagdes na era FHC, Lula herdou um Estado ainda pesado em muitos aspectos. $6 que, em ver de diminuf-lo, sua opgao foi Fazé-lo cerescer mais. Desde 2003, 0 tamanho da méquina cresceu em 120 000 funcioné- ios. Seu custo aumentou 60%, Fora criadas ito novas empresas, @ apenas uma delas, a Empresa Brasil de Comu- nicagio, responsivel por um canal de ‘TV desprezado pela audincia e, poran- {0 init] sob todos os pontos de vista. conta com quase 1 500 funcionarics, Felizmente, no Brasil democrético ¢ criagio de estatais no € tio ficil come cera na ditadura militar — as novas er presas pablicas precisam ser aprovada: pelo Congresso. A primeira tentativa de © govemo Lula aprovar uma grande ¢s tatal,a Petrosal, foi recentemente barra da pelos pariamentares. Talvez 0 que realmente preocupe seja nfo tanto o pre semte, mas a tendéncia furura. Todas 2 indicagées das autoridades sao de que ogi pelo creseimento da méquina consciente que no haverd volta rol de medidas gestadas consta até mes ‘mo a ideia de criar uma empresa para de fertlizantes. ja ridicule O.ESTADO COMO MAQUINA Apresenca do Estado na economia se dé de maltiptas formas — desde a mordida no bolso dos contribuintes, por meio da cobranca de impostos, até a participacao como acionista em empresas privadas. No caso do Brasil, em todas as frentes a presenca do Estado ¢ grande L..econtribuindo para que a carga ddeimpostos se mantenha & |Aburocracia brasileira conta com um quadro cada vez maior de servidores e seu altura depaises desenvohvides custeio 6 uma despesa em alta Cay tats od ai Evolugio do total de sorvidores federais nos governos FHC ¢ Lula (em mihoes) ppaises® (em %doPIB) Govern FHC i Paces deservolvidos 35 Govero Lalo am Paises emergentes { SDinaniatta ~~ sikiaiga representanco uma conta cada vez maior. Gasto total anual com servidores federais! 75 bthoes de reais _ Governo FHC | 7164.5, Governo Lula Onde o gasto cresceu mais (Gariaga0 de 2002 22008) T22% 61.8% Meio Ambiente Caicae 326.6% Presidéncia “110686 AGU a0 asm de 202 bro 2008 caressa, assets ersartas (2) tm com os 208, aso ra tesa Oc Reear Maran Br erseara ca anges 10 de margo de 2010 123, caPA economia zada pelo apelido de “Adubobris”. “O ‘governo precisa ser cuidadoso. O Brasil no pode se comportar como se fosse 2 China”, diz Jim O'Neill, chefe do depar- tamento de pesquisas do banco Goldman Sachs e autor do termo Brie, que desis na os quatro principais paises emergen- tes — Brasil, Ressia, {ndia ¢ China ‘No centro das discuss6es esti boje a proposta do governo de ressuscitar a Telebrés, a antiga holding das operado- ras telefOnicas privatizadas no final dos anos 90. O propésito de revigorar a Te- lebris, hoje apenas uma administradora de antigas dividas, seria torn-la na ped tiea uma nova estatal, com wma miss0 specifica: acelerar a disseminagao da internet de alta velocidade, a chamada banda larga. Trata-se de algo que algu- mas das economias mais avancadas do ‘mund estio empreendendo no momen- {0 (veja reportage na pég. 32). Contar ‘com ume internet mais ripida e que dé ‘conta do erescente tréfego de imagens e de dados é uma meta de indiscutivel valor para a competitividade da econo- mia. A questio é a maneira de concre- tizé-la, Enquanto outros paises dese: volvem solugdes que privilegiam @ competigio privada no setor— como 0 Brasil jé fez com éxito para destravar a telefonia 13 anos atraés — ou formulas de parceria publico-privad nis até agora so de um vigs estatizan- te, Ignorando o histérico de ineficiéncia + das estatais num setor em constante mu danga tecnol6gica. 0 governo cogita tomar para si a implantagdo do Plano Nacional de Banda Lars ‘SEGUNDO ESPECIALISTAS do setor ouvides por EXAME, a recriagiio no ‘apenas € desnecesséria como se tomou tuma fonte de incertezas, “Ao anu (que vai reinventara’elebris para com- petir com as empresas privadas, o go- ‘vero inibe novos investimentos no Se tor”, diz um alto executivo de uma ope- radora de tslecomunicagdes. A primeira ontraindicago em relagio a ideia tem a ver com a histérica ineficiéncia ja de- monstrada pela botding. Em 1998 quiando a Telebrés comandava.o stor de telefonia no pais, apenas 32% dos do- ilios brasileiros tinham linhas tele- fonicas. Hoje. entve celula mais de 80% dos lares disper de tele- fone. Natiltima décuda. somente as em- presas de telefonia mével investicam bilhdes de reais. O sistema no é pertei to, Ha muito espaco para aprimori-lo. ‘Mas sua evolugdo nas maos da iniciati- ‘va privada, conforme demonstram todos 05 dados, € incomparivel. Além disso. os cerca de 200 funciondrios 1 centes da Telebras sao técnicos a ser 0 da Anatel. Tird-la do limbo po significar a eriagdo de um novo ote cargos de confianga e sabe-se Iki m {quantos empreges comuns. Jd a segunda contraindicagto ten + com a nebulosa yalorizag3o (000% dos papeis da Telebris na E

Você também pode gostar