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_ ESTADO DA PARAIBA ae TRIBUNAL DE JUSTIGA 2 Dit Gabinete do Des. José Di Lorenzo Serpa ACORDAO ‘Apelagao Civel n® 001.2008.030868-5/001 Relator + Miguel de Britto Lyra Filho, juiz convocado em Substituigo ao Des. José Di Lorenzo Serpa. Avelanto Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro - Adv. José Francisco Fernandes Jtinior ¢ outro. ae Apelada Maria do Socorro Gongalves de Lima — Adv. José: Laecio Mendonga e outro. Responsabilidade Civil - Indenizagao. Preliminar de ilegitimidade passive. Rejeigao. Orgao responsdvel pelo cadastro restritivo de crédito. Registro efetuado sem a prévia comunicagéo ao consumidor. N&o cumprimento. do que determina 0 Cédigo de Defesa do Consumidor. ‘Ato ilicito. Nexo causal e culpa evidenciados. Dano moral puro. Dever de inder Valor indenizatério excessivo. Redugao para valor simbélico. Provimento parcial do recurso, . + Compete ao arquivista, e no ao credor, a obrigagdo | de comunicar o devedor acerca da futura negativagdo. i = 0 dano moral puro se projeta com maior nitidez e i intensidade no 4mago das pessoas, prescindindo, 4 assim, de rigorosa demonstragdo probetéria. Desse mede, provada a llicitude do fato, necessdria a indenizaca - _ Aindenizagéo por danos morais deve ser suficiente 7 @ reparagao dos danos, cabendo & instancia revisor reduzir o valor da parcela em comento quando verificar ‘que ela foi fixada de forma excessiva, a fim de que nao Se conVerta em fonte de enriquecimento indevido.. “Vistos, relatados e discutidos estes identitizados, acorda a Eorégia 1° Camara Civel do Tribunal de Jus ‘Estado da Paraiba em PROVER PARCIALMENTE © RECURSO REDUZIR A INDENIZAGAC PARA O VALOR SIMBOLICO DE RS (UM REAL), POR MAIORIA, CONTRA © VOTO DO DES. MANOEL S, MONTEIRO QUE DAVA PROVIMENTOO AO RECURSO. RELATORIO: Trata-se de apelago civel (fis, 94/106) interposta pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro contra sentenga (fis. 91/99) prolatada pelo Juizo da 2* Vara Civel da Comarca de Campina Grande, que julgou procedente o pedido felto por Maria do Socorro Gongalves de Lima, nos autos da acao de indenizacao por danos morals, condsnando 0 réu/apelante a pagar em favor da autora/apetada indenizagao no valor de RS 2.000,00 (dois mil reais), devidamente corrigido, a titulo de danos morais, além de honordrios fixados em 20% sobre o valor da condenacao. Irresignado, o apelante se insurgiu contra a deciséo de primeiro grau, aduzindo, preliminarmente, a sua ilegitimidade passive. No mérito, se apegou ao Enunciado n° 5, do Encontro de Desembargadores de Camaras Civels do Tu/Rd e alegou néo ter responsabilidade pela efetivagao do registro. Ao final, sustentou ser excessivo © valor da condenagéio & requer2u o provimento da apelacao. Contrarazées as fis, 110/119, pugnando pela manutengao da sentenga atacada. ‘A Procuradoria de Justiga emitiu parecer (fis. 192/135), opinando pelo desprovimento do apelo. E orelatério. voTo: ADMISSIBILIDADE: Presentas os pressupostos intrinsecos = Jegtimidade e interesse para apelar - © extrinsecos - temp ie Preparo as fis. 107. Juizo de admissibilidade positivo. PRELIMINAR: O apelante alega ser parte ilegitima para figurar no polo passivo da demanda. No entanto, no merece quarida tal pretensdo. art. 43, § 2°, do CDC determina que cabe aos érgaos responsdveis pelo banco de dados @ cadastros a notificagdo prévia do consumidor. : Assim, a ago fol corretamente movida em face daquele que tinha a obrigagao de notificar, ou seja, 0 Clube de Diretores Lojistas do. Rio de Janeiro. Com isso, rejeito a preliminar, MERITO: qe ‘© caso em exame cinge-se a averiguagéo da conduta adotada pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro ao efetuar 0 A registro do nome da autora nos seus cadastros restritivos de crédito, em i: ‘especial sobre © cumprimento da determinagéo legal de prévia notificagao 20 consumidor, a fim de aleangar um julgamento sobre 0 possivel cometimento de ato lito, passivel de indenizagao por danos morais, ‘Aduz a apelada que se surpreendeu com a negalivagéo do seu nome, pois ndo foi informada da possivel restrigdo. Por seu turno, a instituigao apelante tenta se escudar da. imputacao, sustentando que a comunicagéo referida no art. 43, § 2, do CDC, independe de maior formalidade e prescinde de comprovagéo de aviso de recebimento, , informativa acerca da restrigéo crediticia que 0 consumidor pode caso nao regularize sua situagao. " wel Registre-se, por oportuno, que o apelante nao fez prova da expedigao de correspondéncia, com o fim de comunicar a autora sobrea incluséo do seu nome no cadastro de maus pagadores, conforme determina 0 Cédigo de Detesa do Consumidor. CDC. Art. 43. § 2° A abertura de cadastro, ficha, registro © dados pessoals e de consumo deveré ser ‘comunicada por escrito ao consumidor, quando nao solicitada por ele. ‘Assim, verifica-se que o Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro adotou uma condute ilictta quando efetuou a incluséo do nome da promovente na sua relagao de maus pagadores, sem a prévia comynicagao determinada em tei. Por outro lado, a restrigéo de crédito sofrida pela promovente esté devidamente comprovada no caderno processual, mediante 0 documento juntado as fis. 13. Dessa forma, torna-se inquestiondvel a ocorréncla do Gano moral e, analisando sua extenséo, observa-se que a demandante teve sua moral maculada, atingindo a sua imagem e 9 seu bom nome, pois na medida em que se torna publica a inadimpléncia, surgem possibilidades de consectarias restrigies crediticias. ‘A inscrigao irregular da promovente em cadastro de inadimplentes 6 consicierada dano moral puro, Para sua caracterizaao no se exige orave do efetivo prejulzo, pois com a restricao do nome ja surge a idéia de inadimpléncia, implicando em consideragdes moralmente danosas & sua imagem, jd que é na intimidade do individuo que ele se projeta com maior nitidez e intensidade. ‘A lesdo exige reparagao, visto ser essa a unica forma de compensar 0 dano sottido, havende violagéo do patriménio subjetivo do. autor. A honra subjetiva é a valoragdo que cada um tem de si, porquanto, a0 ‘set ferida, 0 conforto apenas sera encontrado na compensagao recon compor 0 pélo passive da agéo. Deciséo reforma, porquanto ndo se ciscute eventual no cadestro, mes, sim, @ auséncia de notif da _inscrig&o. jurispridencial no sentido de que compete arquivista, @ nao 0 credor, 0 dever de comunicer 0 devedor acerca da futura negativagdo. 3. Possivel apreciagzo meritéria, com base no permissive do art. 575, § 3°, do CPC. 4. A correspondéncia enviada pela 1 comunicando 0 autor acerca da incluséo foi remetida a endereo diverso, no qual o autor nfo mais reside, Equivoco que ndo pode ser imputado exolusivamente & coperadora local, na medida em que o arquivista assume © Misco inerente a atividede lucrativa que explora, respondendo perante 0 consumidorlesado. 5. Dano moral puro caracterizado, Patamar indenizaténio fixado em RS 2.500,00, quantia suficiente para atender a duplice finalidade do institute (punitiva @ reparatoria). RECURSO PARCIALMENTE PROVIOO.”* No entanto, para a fixagao da verba indenizatéria, toma: ah se necessério considerar todos 0s pormenores pertinentes ao caso. Além disso, os critérios utilizados devem estar de acordo com a melhor orientagao outrinéria e jurisprudencial pertinente A matéria sub examine, consoante a ‘qual incumbe ao magistrado arbitrar, observando as peculiaridades do caso concreto, bem como as condigées financsitas do agente e a situagdo da vitima. de modo que ndo se torne fonte de enriqueciento, tampouco que seja inexpressivo a porta de nao atender aos fins a que se propée. No mesmo sentido, 9 Superior Tribunal de Justiga ecidiu que: "Como cedigo, © valor da indenizagéio por dano sujeita-se a0 controle do Superior Tribunal de Jt sendo certo que, na fixagéo da indenizagao 8 Recurso Civel N® 71001106871, Segunda Tuma Recursal Ojvel, Turmas Eduardo Kraomor, uigado em 14/02/2007. de cada caso," Neste diapasdo, a indenizagéo fol estabelecida em excesco. A autora, funciondria publica, diz que foi surpreendida com a” restriguo softida. Todavia, ndo pode ser desconsiderado 0 fato de que a mesma possvir, de acordo com © documento de fis, 18, outras nagativagées. Além disso, em momento aigum ela demonstrou ou afirmou que estava em dia com suas contas, ou seja, se ela era sabedora de suas divides, 4 poderla esperar 0 que de fato ocorreu, sua Inscrigéo nos 6rG805 de protegdo ao crédito, Portanto, deve ser reduzido © quantum indenizatério ‘fixado na sentenga, eis que exorbitante para compensar o dano suportado pela autora. ‘Ante 0 exposto, considerando os aspectos acima celineados, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO APELO para reduzir a indenizagao para RS 1,00 (um real), a titulo de danos morals, Presidiu os trabalhos 0 inclto Desembargador Manoel ‘Soares Monteiro, Participaram do julgamento, além do Eminente Relator, Doutor Miguel de Britto Lyra Filho, juiz convocado para substituir 0 Des. José Di Lorenzo Serpa, 0 Exmo. Des, Manoel Soares Monteiro e a inclita Doutora Maria das Neves do Egito de Araijo Duda Ferreira, juiza de direito designada em razzo do a'astamento do {nclito Des. Marcos Antonio Sout Maior. Presente & sessao a Exma, Dra, Marilene Lima C. Carvalng, Promotora de Justiga convocada. Sala de Sessées da Egrégia 1° Camara Civel do Tribunal de Justiga do Estadg da Paraiba, aos 28.dias do més de junho do ano de 2007. BLL * gag na Ag 705.190/RL, 2052006, D4 26,08,2008 p, 184. Estado da Paraiba Poder Judiciério Tribunal de Justiga do Estado da Paraiba Gab. Des. Manoel Soares Monteiro ACORDAO APELAGAO CIVEL n. *: 001.2005.030.866-5 / 601 - Originério da 2 Varn Civel da ‘Comarca de Campina Grande ~ PB. & Apelante: Clube dos Diretores Lojistas do Rio de Janeiro Advogado: José Francisco F Jnior e outros ‘Apelada: Maria do Socorro G de Lima ‘Advogade: Tosé Laécio Mendonca DECLARAGAO DE VOTO VENCIDO Yoto Vencido ~ Des. Manoel Soares Monteiro Quso em discordar dos entendimentos dos meus pares, em razio a responsabilidade de indenizar amparar-se no tripé de existéncia do dano, do ato ilfeito ; praticado peto agente © 0 nexo de enusalidade entre ambos. A L4l Maior criou @ indenizagéo por danos morais, determinando ue & reparagio hd de fundamentar-se na violagéo de intimidade, da honra, da vida privada A 61 da imagem ds pessoas. Essa € a ligdo do inciso X, do artigo, da Carta Magna. Portanto, para o deferimento de indenizagéo por dano moral, necessirio perquitir 2 existéncia de uma conduta do autor do ilicito hébil a gerar constrangimento, ¢, assim, imputar-se a ele a responsabitidade pelo evento danoso. 0 verifico, in casu, a configuragio de dano moral. Os documentos apresentades por parte da apelante, junto 2 sua Jal, demonstram que seu nome estava incluido no cadastto resrtivo de crédito da NY Todavia, esse mesmo documento, de Ml 13, faz mengho a vévios outros apontamentos auteriotes a0 procedido pela reconrente, Ora, inaplicivel qualquer sangBo @ tecorrente a titulo de dana / ‘motel, pois mesmo que & negativecéo tenha se dado de forma indevide, esta nfo foi capaz : Ge werar 9 apeluda qualquer abalo em sua moral, bem com no seu exit, haja vist que, repit-se, a cecorida jf pose outros resists negitivas em seu nome, antes mesmo do apontanieto da apelante. ‘Outrossim, alega a apelada em sua inicidl, fl, 03, que se viu ‘moralmente sbalada, visto que ao tentar abrir uma conta corrente no Banco Bradesca eve ‘sus pretensio obstaculods, oportunidade em que tomou conhecimento. que figurava no -cadastro de inadimplentes da SPC. Note-se, porém, que no documento de fl. 13, constam dels apontamentos, diga-se de passagem, anteriores ao registro da apelada, 10g0, Gi) sé sradwiam em Rirbagdes da) dnimo, em Urearban desagradéveis, desconfortdveis, ou constrangedoras, ou oulras — esse nivel, produzidas na esfera do lesado (...) = Nao estou aqui defendendo a necessidade da comprovagio do sno moral, mas estou afirmando que, para a existéncia do dever de indenizar hi de se ter ato iicito, nexo ceusel e dano, porque aplicdvel, xo caso, indiscutivelmente, as tegras do ‘Cbdigo dé Defesa da Consumidor, em que o fornecedor responde, independente da prova de culpa - responsubilidade objetiva -, pela reparagio dos danos causados aos consumidores Ht eo por defeitos relativos & prestagio do servigo, somente isentando-se de tal responsabilidade i. ‘se provar que 0 defeito inexiste ou que tenha ele ocorrido por culpa exclusiva da vitima, E que, na verdade, inexistiv o proprio dano. Por tais razdes, ENTENDI PELO PROVIMENTO DO APELO ¢ em conseqtiéncia, a improcedéncia do pedido da inicial. Eo voto vencide. Joo Pessoa, 19 de setembro de 2007. ee Des. Manoel Soares Monteiro felator do Voto Vencido

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