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015/09
Texto extraído do Jus Navigandi
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13629
Apresentação
O autor, além de ter enorme experiência profissional na área penal, por ter
exercido durante mais de cinco anos o cargo de Promotor de Justiça do Estado da
Paraíba, e por estar há quase uma década como membro do Ministério Público Federal,
sempre foi um apaixonado pelo estudo do direito penal e processual penal, tanto que
exerceu a catédra de direito penal (parte geral, especial e leis penais extravagantes) na
Faculdade de Direito de Campos – RJ, onde também defendeu dissertação de mestrado
nessa área, e atualmente leciona Penal no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) –
PB. Já lecionou também na Escola Superior do Ministério Público da Paraíba e do Rio
Grande do Norte. Tem diversos artigos publicados na área penal e processual penal,
além da obra já mencionada.
Em função de alguns tipos penais terem sofrido mudanças mais significativas do
que outros, os comentários não seguiram a um mesmo padrão em todos os artigos.
Assim, alguns artigos possuem mais sub-itens que outros, e alguns sequer possuem. De
qualquer forma, todos os pontos principais foram abordados, tendo se priorizado
comentar as novidades, em detrimento de repetir o que todos os manuais de direito
penal já trazem e que não sofrerão alterações com a nova lei. Esperamos assim, com
este modesto trabalho, estar contribuindo para as discussões que serão travadas na
doutrina e jurisprudência acerca da nova L. 12.015/09.
Introdução
A L. 12.015 alterou de forma significativa o título que cuidava dos crimes contra
os costumes, agora nominado crimes contra a dignidade sexual. O novo vocábulo que
designa o título é mais adequado ao texto constitucional e a nova realidade social,
afinal, é de se entender que a dignidade sexual integra a dignidade humana. A nova lei,
além de alterar diversos artigos do mencionado título da parte especial do Código Penal,
igualmente modificou de forma pontual a lei dos crimes hediondos e o ECA e revogou a
lei 2.252/54.
O novo art. 213 do Código Penal que cuida do estupro passou a ter a seguinte
redação:
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Estupro Estupro
De fato, o ato que configura à conjunção carnal não gera qualquer discussão, pois,
como já dito trata-se da cópula vagínica. No entanto, não há um conceito preciso de ato
libidinoso, de sorte a abranger uma enormidade de atos, o que gera uma inquietação
tanto na doutrina como na jurisprudência. Nesse sentido, afirma Luiz Regis Prado [01]
"Assim, se é correta a classificação do beijo lascivo ou com fim erótico como ato
libidinoso, não é menos correto afirmar que a aplicação ao agente da pena mínima de
seis anos, nesses casos, ofende substancialmente o princípio da proporcionalidade das
penas."
Entretanto, muitos casos podem ser resolvidos pela análise do elemento subjetivo.
O beijo, por exemplo, mesmo que contra a vontade da vítima, não constituirá em um ato
libidinoso, se o intuito é a manifestação de um sentimento, e não, a satisfação de um
prazer sexual. Contudo, sempre é difícil no caso concreto só pela análise do ato em si,
saber qual foi o intuito do agente. Exemplo eloquente dessa situação, é o recente caso de
um turista italiano que teria beijado na boca sua filha de oito anos numa praia em
Fortaleza, causando a indignação de pessoas presentes. Será que sua intenção foi erótica
ou só foi uma demonstração mais efusiva de carinho? Bem, não tivemos contato com os
elementos de prova, para emitir qualquer opinião, porém, apenas retratamos o caso aqui,
para demonstrar a dificuldade de se aferir o elemento subjetivo.
Em síntese, entendemos na mesma linha do autor retro citado, que essa amplitude
de atos libidinosos, que podem ir, desde um beijo lascivo até o coito anal,
eventualmente levará a uma violação do princípio da proporcionalidade. É bem verdade,
que o juiz pode dosar a pena entre o mínimo e o máximo, de seis a dez anos, na hipótese
do caput, do art. 213. Mas, essa discricionariedade do juiz, é vinculada aos parâmetros
legais de aplicação da pena (art. 68, do CP), que são insuficientes no caso do estupro, de
atribuir uma pena justa e proporcional a atos que se situam em dois extremos, como o
beijo lascivo e o coito anal.
Com efeito, ainda que aplicada a pena no mínimo legal, seis anos para um beijo
lasvivo é uma pena muito alta, pois equivaleria a mesma pena mínima do homicídio
simples, porém, com uma gravidade maior na execução da pena, por ser o estupro,
mesmo na sua forma simples, crime hediondo (art. 1º, V, da L. 8.072/90, com a redação
dada pela L. 12.015/09). Lembrando que, no exemplo dado do turista italiano, as
notícias da mídia, é de que além do beijo na boca, ele também teria acariciado as partes
íntimas de sua filha. Como o fato ocorreu na vigência da L. 12.015, o possível
enquadramento legal é de estupro de vulnerável (art. 217-A) com a causa de aumento de
metade da pena, por ser pai da vítima (art. 226, II, do CP), o que elevaria a pena mínima
de 8 (oito) para 12 (doze) anos (a mesma pena mínima do homicídio qualificado).
Em relação ao beijo lascivo e outros atos libidinosos de menor gravidade, como
apalpar as nádegas, etc. , conclui-se que o legislador perdeu uma boa oportunidade de
equacionar o problema, criando um tipo privilegiado, que, se situaria num nível
intermediário, entre a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor (art. 61,
da LCP) e o atentado ao pudor simples. Caberá então, a jurisprudência apreciar o caso
concreto, com bastante cuidado para não condenar pessoas a penas desproporcionais a
gravidade da conduta.
O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual da pessoa. Não se pode admitir que
alguém seja compelido contra a sua vontade de ter conjunção carnal ou praticar ato
libidinoso ou permitir que com ele se pratique.
O homem ou a mulher podem ser sujeito ativo e passivo do delito de estupro.
Assim, o homem pode ser vítima do crime de estupro, ou porque foi constrangido à
conjunção carnal com uma mulher, ou porque foi forçado a praticar outros atos
libidinosos com uma mulher ou homem. É bem verdade que, a hipótese de uma mulher
compelir o homem a ter conjunção carnal com ela ou com outra mulher será bem menos
comum, que a hipótese do homem ser vítima do estupro porque foi forçado a praticar
outro ato libidinoso com outro homem. E neste último caso, a mulher também pode ser
o sujeito ativo em concurso com o homem (ex. A mulher aponta a arma para que a
vítima – homem, seja obrigada a praticar ato libidinoso com outro homem – co-autor).
Conclui-se pois, que o estupro de homem é uma nova realidade jurídica, que se
adequou ao princípio constitucional da isonomia, no sentido de que homens e mulheres
são iguais em direitos e obrigações. De fato, no mundo moderno, era inconcebível que
só a mulher tivesse sua liberdade sexual tutelada no crime de estupro. È bem verdade
que quando a vítima fosse o homem, para contornar o obstáculo legal intransponível de
que ele não poderia ser sujeito passivo desse crime, poder-se-ia tentar enquadrar como
atentado violento ao pudor, mas, não era o adequado, pois o dolo do agente seria para
pratica da conjunção carnal, sendo os atos libidinosos diversos atos preparatórios.
5. Qualificadoras
O §1º do art. 213 do CP, traz duas qualificadoras. Em primeiro lugar, se da
conduta resultar lesão corporal de natureza grave. Essa situação já era prevista na
redação anterior no art. 223, caput, do CP, porém com redação de menor alcance, que
mencionava se da violência resultasse a lesão grave. A expressão "se do fato resulta" é
mais ampla, pois, abrange a gravidade da lesão quando decorrente do ato violento, ou
quando da grave ameaça.
Essa qualificadora da lesão grave abrange tanto a lesão grave como a gravíssima.
Todavia, a L. 12.015/09 perdeu uma boa oportunidade de deixar expresso essa última
hipótese, embora, na justificação do PL 253/04 que culminou nesta lei, haja referência
que a qualificadora abrange o art. 129, §1º e §2º (lesão grave e gravíssima).
A segunda qualificadora prevista no §1º do art. 213 é uma novidade. Refere-se a
vítima ser menor de 18 ou maior de 14 anos. Na realidade, acreditamos ter havido um
erro redacional, pois aonde se lê "ou", deve ser lido "e". Não se trata de uma violência
presumida, sendo necessário que estejam presentes as elementares do tipo descrito no
caput, isto é, violência ou grave ameaça. Entretanto, o fato da vítima ser menor de 18 e
maior de 14 servirá de qualificadora. Há aqui uma especial proteção pela idade da
vítima. Se no entanto, a vítima for menor de 14, o crime será o do art. 217-A mais
adiante comentado.
O §2º, refere-se a qualificadora quando do fato resultar morte. Neste caso, não
houve mudança redacional quando comparado com o antigo art. 223, parágrafo único,
do CP. A nova lei contudo, foi mais severa, pois a pena, que era de 12 a 25 anos, passou
a ser de 12 a 30.
As qualificadoras do estupro quando do fato resulta lesão grave ou morte, são
punidas a título de culpa. Trata-se de um crime preterdoloso, ou seja, há dolo na conduta
antecedente (do estupro) e culpa no consequente (lesão grave ou morte). Essa é a
posição majoritária. Nesse sentido, Capez [05], Damásio [06] dentre outros. Em sentido
contrário, Nucci [07], para quem a qualificadora deveria ser possível também quando o
resultado lesão grave ou morte ocorresse a título de dolo. Concordamos com a posição
majoritária, de que neste caso, haveria concurso material entre estupro e lesão corporal
ou homicídio.
De fato, antes do advento da L. 12015 era defensável a posição de que haveria
tentativa de estupro na última hipótese descrita, porque o dolo do agente não era de
cometer um atentado violento ao pudor, e por isso, a acusação deveria ser de tentativa
de estupro. Com a unificação do tipo, nos parece irrelevante a ausência da conjunção
carnal, se os atos frustrados deste intento já caracterizam de per si, o estupro, face a
segunda parte do tipo.
Agora, com a fusão desses delitos que passou a constar de um único tipo,
entendemos que se o agente tiver conjunção carnal e praticar ainda, com a vítima ato
libidinoso diverso, deverá responder por um único crime, uma vez que, trata-se de crime
de conteúdo variado ou de ação múltipla, que no dizer de Damásio de Jesus [08] "são
crimes em que o tipo faz referência a várias modalidades de ação". Neste aspecto, o
novo art. 213 do CP é mais benéfico, podendo ensejar a revisão de diversas penas.
Quanto as críticas por essa unificação dos antigos crimes de estupro e atentado
violento ao pudor, temos algumas observações a fazer. Se por um lado, o novo tipo
penal de estupro gerou um benefício aos réus, por outro lado, a situação anterior
seguindo a corrente predominante que considerava haver concurso material, poderia
gerar algumas injustiças, conforme explicaremos.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Violação sexual mediante fraude
Posse sexual mediante fraude
Art. 215. Ter conjunção carnal ou
praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça
ou dificulte a livre manifestação de vontade Art. 215. Ter conjunção carnal com
da vítima: mulher, mediante fraude: (Redação dada pela
Lei nº 11.106, de 2005)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
Este artigo já havia sido alterado pela L. 11.106/05. A redação original previa
como sujeito passivo a mulher honesta. Dita lei, porém, excluiu a elementar "honesta"
do tipo penal. Agora, com o advento da L. 12.015 se corrigiu outra injustiça, ao
possibilitar que não apenas a mulher como também o homem possa ser sujeito passivo
deste crime. E outrossim, a exemplo do ocorrido no crime de estupro, o legislador
também unificou os crimes de posse sexual mediante fraude com o atentado violento ao
pudor mediante fraude, que agora passa a ser denominado de violação sexual mediante
fraude.
A conduta típica portanto, pode ser realizada de duas formas diferentes. a) ter
conjunção carnal; b) praticar outro ato libidinoso. Em quaisquer dos casos, o crime é
cometido mediante fraude ou outro meio que dificulte a livre manifestação de vontade
da vítima. Fraude é o ardil, o engodo que induz a vítima em erro. A sua manifestação
portanto, é viciada, porque a vítima (homem ou mulher) consente na conjunção carnal
ou na pratica de outro ato libidinoso, enganada.
Em que hipóteses a vítima poderia ser enganada pelo agente, sofrendo o
estelionato sexual ? O item 70 da exposição de motivos da parte especial do Código
Penal, suscita dois exemplos: 1) a simulação de casamento; 2) e o agente substituir-se
ao marido na escuridão da alcova. Os exemplos já demonstram a raridade deste crime.
Em pleno terceiro milênio quem seria tão ingênuo a ceder aos desejos sexuais de
alguém, por ter sido ludibriado? De fato, nos parece que não obstante raras as hipóteses,
elas são possíveis. Exemplo interessante dado por Greco [10] é de cafajestes espirituais
que aproveitando-se da fé dos seus seguidores sugere a pratica de ato libidinoso para
solucionar problemas.
O elemento subjetivo é o dolo genérico no caso do caput desse artigo. E o dolo
específico no caso do §1º, quando a conduta objetiva a vantagem econômica.
O bem jurídico protegido pela norma jurídica é a liberdade sexual. A exemplo do
crime de estupro, o sujeito ativo e passivo pode ser homem ou mulher, já que se refere a
alguém. Obviamente, que em relação a primeira parte do artigo (conjunção carnal), só o
homem poderá ser sujeito ativo e mulher o passivo.
4. Cumulatividade de pena
O parágrafo único desse art. 215 do CP, que previa uma qualificadora quando o
crime fosse cometido contra mulher virgem, menor de 18 e maior de 14 anos, foi em
boa hora, modificado. De fato, não fazia sentido que no século XXI, a lei atribuísse
tamanha importância e proteção jurídica a virgindade da mulher, em descompasso com
a realidade social. Agora, simplesmente é prevista uma pena de multa que é cumulativa
com a pena privativa de liberdade, se houver o dolo específico, referente ao intuito de
obter vantagem econômica.
Assédio sexual (art. 216-A)
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
O sujeito ativo do crime de assédio sexual pode ser homem ou mulher, mas
somente pessoa que seja superior ou tenha ascendência, dentro de uma relação
laborativa. Ex. Relação patrão-empregado. Em relação ao sujeito passivo, também
pessoas de ambos os sexos podem ser vítimas do delito, pouco importando a orientação
sexual (homossexual, bissexual ou heterossexual). Pois bem, a redação do caput do art.
216-A foi mantida, por isso, nos furtamos a fazer comentários mais delongados. A
alteração como dito restringiu-se ao acréscimo do aumento de pena de até um terço, na
situação descrita no §2º do art. 216-A (vítima menor de 18 anos). Buscou-se dar uma
maior proteção ao adolescente.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
O novo art. 217-A (figura do caput) trata do estupro com menor de 14 anos. Esse
artigo está inserido no capítulo II do título VI, agora sob o "nomen juris" dos crimes
sexuais contra vulnerável. A vulnerabilidade decorre da idade da vítima – menor de 14
anos. O legislador considera que a pessoa nesse estágio de desenvolvimento, ainda não
tem maturidade sexual.
A grande peculiaridade aqui, diz respeito a ausência da elementar violência ou
grave ameaça do tipo penal, por ter compreendido o legislador que a vontade do menor
de 14 anos não é válida. De fato, antes do advento desta lei, se exigia a elementar
embora se presumisse a sua existência (art. 224, "a", do CP). Acontece que, não
obstante as ultimas posições do STF tenham sido de que essa presunção era absoluta
(HC 75.608, HC 81268, etc.), ainda permanecia divergência jurisprudencial, pois,
inúmeros julgados consideravam relativa a presunção, e, na doutrina também
predominava a relatividade da presunção. Agora, a discussão deixa de existir, porque o
legislador não mais exige a elementar "grave ameaça ou violência", no caso do sujeito
passivo ser menor de 14 anos, tendo então revogado todo o art. 224 do CP, e criado o
novo tipo com "nomen juris" - estupro de vulnerável.
Em que pese, entendermos que com a supressão da elementar violência ou grave
ameaça do tipo penal de estupro com menores de 14 anos, não se possa mais discutir
acerca da relatividade da presunção da violência, não podemos deixar de fazer algumas
observações críticas a essa alteração legislativa, que acabou por retirar do magistrado a
possibilidade de afastar a violência quando a vítima embora menor de 14 anos,
demonstrasse esclarecimento suficiente sobre o sexo e suas consequências.
Diante do juiz, a adolescente vítima, diz que foi idéia dela o ato sexual, não
obstante a relutância do namorado. Neste caso, pela legislação anterior, ainda haveria a
possibilidade do juiz absolver o réu alegando que a presunção de violência é relativa, e
que no caso, inexistiria. Agora, como o tipo penal sequer fala em violência, estando
presentes as elementares do tipo, o juiz teria que condenar o acusado a uma pena de oito
anos, que por ser crime hediondo será cumprida inicialmente em regime fechado. Será
essa uma solução justa que atende os anseios da sociedade? Será justo levar esse jovem
ao cárcere em contato pernicioso com um sistema prisional superlotado e já considerado
falido na sua função socializadora? Obviamente que não. O legislador ao elaborar a
norma penal, certamente pensou no caso de muitos homens mais velhos que procuram
jovens para satisfazerem sua lascívia. Mas, a norma é para todos, daí a necessidade do
juiz analisar no caso concreto, se a vítima tinha ou não condições de consentir no ato
sexual. A opção do legislador, a nosso ver, poder gerar injustiças em certos casos
concretos.
De fato, o nosso entendimento é de que o legislador deveria ter seguido outro
caminho, qual seja, ou deixando claro que a presunção de violência seria relativa, ou se
preferisse torná-la absoluta, deveria reduzir essa idade para menor de doze anos, de
modo que, o ato libidinoso com criança (de acordo com a definição do ECA), seria
crime. No entanto, com adolescente, só constituiria fato típico se houvesse o
constrangimento ilegal mediante violência ou grave ameaça, ou na hipótese de
vulnerabilidade por tratar-se de pessoa explorada sexualmente (art. 218, B, §2º, I, do
CP). É também o pensamento de Nucci [12] . Só em um aspecto divergimos desse autor
quanto a questão da vulnerabilidade do menor de 14 anos. É que diferentemente dele,
entendemos que, com a criação do novo tipo penal do art. 217-A sem a elementar
referente ao constrangimento mediante violência ou grave ameaça, não haverá sob o
aspecto hermenêutico da norma ordinária em foco, como defender que essa presunção
poderá ser relativa. O juiz entretanto, poderá deixar de aplicar a norma do art. 217-A se
buscar algum fundamento constitucional no caso concreto, como a violação a
proporcionalidade, ou como explica Zaffaroni [13] "princípio da proporcionalidade
mínima da pena com a magnitude da lesão".
O elemento subjetivo do tipo é o dolo genérico. Há quem defenda que se exige o
dolo específico. Para maiores detalhes, ver último parágrafo do item 2, nos comentários
do art. 213.
O sujeito ativo do crime de estupro de vulnerável pode ser qualquer pessoa –
homem ou mulher, porém defendemos a impossibilidade do mesmo ser menor de 14
anos, ou seja, se dois menores de 14 anos têm conjunção carnal ou praticam ato
libidinoso diverso, não realizam a figura do tipo, não podendo responder por ato
infracional, por ocorrer a figura da confusão no direito penal, tema que será por nós
adiante comentado.
Para que o sujeito ativo responda pelo crime em testilha, é necessário que a idade
da vítima integre o dolo do agente, conforme já mencionamos. Admitindo-se erro de
tipo, que exclui o dolo, se o agente foi levado a acreditar que a vítima não era menor de
14 anos.
O sujeito passivo do delito de estupro de vulnerável, pode ser homem ou mulher,
porém, no caso do caput do artigo, necessariamente terá que ser menor de 14 anos. No
caso do §1º desse artigo, no entanto, o sujeito passivo será alguém portador de uma
enfermidade ou deficiência mental, que impossibilite ter o discernimento necessário, ou
então, que por qualquer outra razão não possa oferecer resistência.
Finalmente, na parte final desse §1º, do art. 217-A, o legislador usou uma fórmula
genérica consistente na expressão "por qualquer outra causa não pode oferecer
resistência", da qual, pode-se exemplificar, a inconsciência decorrente de embriaguez
completa, por uso de entorpecente ou de sonífero, hipnose, etc. Aliás, a mídia tem
noticiado recentemente, hipóteses de estupro cometido por médico que se aproveitava
do estado de pacientes que não podiam oferecer resistência.
Neste tópico, resolvemos inovar, abordando um tema inédito. É bem verdade que,
antes da L. 12015 já era possível desenvolver esta matéria, mas, ela ganhou especial
relevo com esta lei, ao criar o tipo de estupro de vulnerável (unificando num único tipo
os antigos crimes do art. 213, 214 e 224). Por se tratar de uma tese nova, de nossa
autoria, pode ou não, vir a ter alguma aceitação doutrinária.
Vimos que o sujeito ativo desse delito pode ser qualquer pessoa. Assim, se alguém
de 19 anos pratica um ato libidinoso com uma menor de 13 anos, consciente da idade da
vítma, responderá pelo delito do art. 217-A. Se o sujeito ativo, tiver 17 anos, também
terá cometido este fato típico, não obstante, haverá a exclusão da culpabilidade, face a
sua inimputabilidade, respondendo nos termos do ECA. Agora, vem a situação que dará
ensejo a nossa teoria. E se, dois menores de 13 anos de idade tiverem conjunção carnal
ou praticarem outro ato libidinoso entre si. Ambos terão praticado um fato típico (art.
217-A) ensejando a punição nos termos do ECA ? A nossa resposta é negativa, porque
haveria neutralização da vontade, no que resolvemos tomar emprestado o termo do
direito civil, para denominar de confusão (quiçá houvesse outro termo mais adequado).
A situação aqui, não é idêntica a do crime de rixa, já que a vontade sexual manifestada
por ambos não é válida. Vejamos o desenvolvimento teórico de nossa tese.
Leciona com maestria o grande jurista Damásio de Jesus [15]. "Aspecto interessante
oferece o crime de rixa (art. 137), em que os co-rixosos são, a um tempo, sujeitos ativos
e passivos. Não é, porém, exceção à regra. Trata-se de crime plurissubjetivo de condutas
contrapostas ou convergentes, em que os rixantes (sujeitos ativos) não são sujeitos
passivos da própria ação, mas da ação dos outros. O rixoso é sujeito ativo em relação a
sua própria conduta; é sujeito passivo em razão da co-autoria ou participação dos
outros." .
Como se percebe, no caso de rixa, o sujeito ativo responderá pela sua conduta,
embora seja vítima da conduta dos co-rixosos. Ou seja, todos responderão pelo delito.
No caso de dois menores de 13 anos praticarem um com o outro, ato libidinoso, não
podemos seguir a mesma lógica da rixa, para responsabilizar ambos nos termos do
ECA. A razão é simples. Se eles não são capazes de consentirem validamente no ato
sexual, por isso são sujeitos passivos do delito, como então considerá-los sujeitos ativos,
emprestando relevo as suas condutas desprovidas de vontades válidas ?
Enfim, resolvemos abordar o tema, para que ele possa vir a ser discutido e se for o
caso, aperfeiçoado.
5. Qualificadoras
O parágrafo vetado, objetivava punir mais severamente as pessoas que tendo um
dever especial para com a vítima, se omitia. De fato, não é raro, e a mídia tem divulgado
inúmeros casos, de mães que nada fazem para conter os abusos sexuais cometidos pelo
seus companheiros nas suas filhas. A mãe omissa no seu dever legal, irá responder em
concurso com o agente, nos termos do art. 217-A, c/c o art. 13, §2º, "a", ambos do
Código Penal. Além de incorrer no delito em tela, pretendia o legislador estabelecer
uma causa de aumento de pena. Acertadamente, esse dispositivo foi vetado, pois, evita
discussão acerca de um "bis in idem", ou seja, do dever legal ser usado como norma
extensiva para caracterizar o crime de estupro de vulnerável, e também como causa de
aumento de pena. Ademais, o art. 226, II, do CP (em vigor), já prevê uma causa de
aumento de pena, se o agente é ascendente da vítima.
O §3º do art. 217-A, trata da qualificadora, quando da conduta do sujeito ativo de
ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos, resultar em
lesão corporal de natureza grave. A situação aqui é idêntica a do §1º do art. 213 já
comentado, para onde remetemos o leitor para maiores esclarecimentos. A diferença á
apenas na pena, que no caso desse parágrafo do art. 217-A é de 10 a 20 anos. Por sua
vez, o §4º alude a hipótese de em razão da conduta do agente resultar em morte da
vítima menor de 14 anos. Também já comentamos essa situação no art. 213, §2º, do CP.
Aqui, entretanto, pela vítima ser menor de 14, a pena é mais severa, de 12 a 30 anos.
6. Concurso de crimes
Nós vimos que o constrangimento ilegal mediante violência e a grave ameaça não
integram o tipo penal, no caso de estupro de vulnerável. Indaga-se todavia, e se o agente
constranger o vulnerável, haverá crime único ou concurso de crimes ? Ora, se o
constrangimento não é elementar do tipo, então, por óbvio, caso aconteça, haverá
concurso dos crimes de constrangimento ilegal e estupro de vulnerável.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Corrupção de menores Mediação para servir a lascívia de
outrem
§ 3º (...)
O art. 218 do CP foi totalmente modificado. Na redação anterior era previsto a
corrupção de menores, que punia o agente que corrompia sexualmente o menor de 18 e
maior de 14. Agora, esse artigo visa tutelar o vulnerável – menor de 14 anos. Antes de
comentar esse novo tipo penal, cabe-nos tecer algumas considerações acerca da
supressão no crime de corrupção de menores das elementares que antes eram previstas.
Se por um lado é louvável a maior proteção jurídica ao vulnerável, com criação de
novos tipos penais, por outro, é questionável a opção legislativa de não mais se
preocupar com a possibilidade de um menor de 18 anos, ainda não iniciado na vida
sexual, vir a se depravar em função do ato libidinoso praticado. Não parece paradoxal,
que se alguém tiver relação sexual com um prostituta menor de 18 e maior de 14 anos,
responda pelo novo delito do art. 218-B, §2º, I, enquanto aquele que praticou ato
libidionoso com uma menor de 16 anos, que se depravou em função disso, vindo em
seguida a se entregar a prostituição, não responda por crime algum?
Talvez, o fato da corrupção de menores ter tido pouca incidência pratica, tenha
justificado sua supressão, além do fato, do legislador ter considerado que o maior de 14
anos tem maturidade sexual, só não conferindo total liberdade sexual ao mesmo, quando
em situação de vulnerabilidade, como é o caso das pessoas que vivem da prostituição.
Afinal, muitas vezes quem se entrega a prostituição, age dessa forma, buscando uma
melhoria financeira (vulnerabilidade econômica).
Por sua vez, o outro crime de corrupção de menores que era previsto na Lei
2.252/54 foi revogado, e o seu teor agora consta no art. 244-B, do ECA, mas sem o
nomem juris de outrora. Quanto a esse delito, comentaremos mais adiante.
O art. 218 do Código do Penal, trata de uma modalidade especial de lenocínio, em
que o sujeito ativo age para prestar assistência ao desejo sexual de outrem. De fato, o
que diferencia o lenocínio de outros delitos sexuais como o estupro, o assédio sexual e a
violação sexual mediante fraude, é que o agente não age para satisfazer os seus desejos
sexuais, e sim, a lascívia de outrem. Assim, sobressaí a figura do proxeneta (aquele que
intermedia os encontros amorosos), nos tipos penais do art. 218, 218-B, 227, 228 e 229,
do Código Penal.
O núcleo do tipo é induzir, que significa incutir a idéia na cabeça da vítima.
Noutras palavras, o proxeneta convence a vítima a satisfazer a lascívia (libido) de
outrem. Se a vítima entretanto, vier a praticar algum ato libidinoso com o terceiro,
aquele que induziu responderá como partícipe do crime de estupro de vulnerável, e não
pelo crime do art. 218 do CP. Incorreria no entanto, neste crime, o agente que induziu a
criança ou adolescente menor de 14 a ficar nu, na frente do terceiro, que atuaria como
voyeur (o indivíduo sente prazer sexual observando).
De fato, de acordo com a teoria monista adotada pelo Código Penal no art. 29 do
CP, partícipe, autor e co-autor respondem pela mesma figura típica. E, justamente por
essa teoria, tanto aquele que induziu uma pessoa menor de 14 a praticar o ato libidinoso,
como aquele que com ela praticou o ato respondem pelo mesmo delito, o de estupro de
vulnerável (art. 217-A). Todavia, não podemos olvidar que o Código Penal na parte
especial, adotou exceções a teoria monista. É o caso da corrupção ativa e passiva, do
contrabando e da facilitação de contrabando, dentre outras. Por esta razão, é
teoricamente defensável a interpretação de Nucci, no sentido de que o legislador quis
criar outra exceção a regra unitária do concurso de pessoas, de sorte que o agente que
induziu menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem responda pelo tipo penal do
art. 218-B, enquanto aquele que praticou o ato, responderia pelo art. 217-A.
Pensamos todavia que, o legislador não quis estabelecer uma exceção a teoria
monista. Em primeiro lugar, porque se assim desejasse, poderia ter utilizado no preceito
primário da norma do art. 218, as mesmas condutas descritas no art. 217-A, isto é, ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso. Assim, não o fez, então, pode-se
concluir que se a satisfação da lascívia se der de outra forma que não seja a pratica do
ato libidinoso, aí sim, incide a regra do art. 218.
3. Veto
Razão do veto
4. Consumação e tentativa
Quanto a consumação do delito do art. 218 do Código Penal, cremos que haverá
controvérsia doutrinária. Rogério Greco [18] e Nucci [19] defendem que a consumação
ocorra com a realização de algum ato por parte da vítima tendente a satisfazer a lascívia
de outrem. Adverte entretanto, aquele autor que o termo induzir poderia sugerir a idéia
de que a consumação ocorreria com o efetivo induzimento, ou seja, quando a vítima foi
convencida pelo agente em satisfazer a lascívia do terceiro. Essa é a nossa posição.
A nosso ver, trata-se de um delito formal cuja consumação ocorre quando a vítima
é convencida pelo agente em satisfazer a lascívia de outrem. O legislador resolveu
antecipar a consumação do crime objetivando proteger o menor de 14 anos que não tem
aptidão volitiva do ponto de vista sexual. Assim, pensamos que, se o agente induz a
vítima a praticar ato libidinoso com alguém, mas tal ato não se concretiza por razões
alheias a vontade da vítima, consumado está o crime do art. 218 do Código Penal. O
entendimento doutrinário predominante no entanto é que se trata de crime material,
conforme já mencionado.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Satisfação de lascívia mediante
presença de criança ou adolescente
Nada havia de semelhante.
Art. 218-A. Praticar, na presença de
alguém menor de 14 (catorze) anos, ou
induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou
outro ato libidinoso, a fim de satisfazer
lascívia própria ou de outrem:
A conduta do agente pode se dar por uma das duas formas: a) praticar conjunção
carnal ou outro ato libidinoso na presença de menor de 14 anos; b) induzi-lo a
presenciar esses atos.
A vítima pode presenciar o ato libidinoso estando próximo ao local, ou mesmo por
outro meio, como no computador com câmera, etc.
O concurso de pessoas será muito comum na prática deste crime. Assim, se as
duas pessoas que estão realizando o ato libidinoso o fazem conscientes de que o menor
vulnerável está assisitindo, para satisfazerem a libido, ambos responderão por esse
delito. Todavia, nem sempre haverá concurso. Se alguém convence o menor a assistir
pelo burado da fechadura um casal praticando ato libidinoso, que desconhece esta
circunstância, apenas aquele que induziu responderá pelo delito.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
II - o proprietário, o gerente ou o
responsável pelo local em que se verifiquem
as práticas referidas no caput deste artigo.
O sujeito ativo (homem ou mulher) através de uma das condutas referidas, faz
com que o sujeito passivo (homem ou mulher em situação de vulnerabilidade) se
prostitua ou seja de outra forma explorado sexualmente. Na prostituição a vítima
comercializa o seu corpo, em troca de dinheiro ou de outros bens, como roupa, comida,
etc. É possível contudo, que a vítima seja explorada sexualmente sem nada receber em
troca, por isso, o legislador mencionou "outra forma de exploração sexual".
Para que o agente incorra no fato típico do art. 218-B, mister se faz, além da
realização de uma das condutas mencionadas, que a vítima seja vulnerável. O conceito
de vulnerabilidade aqui foi ampliado. Além das hipóteses já estudadas no estupro de
vulnerável (menor de 14 anos, pessoa enferma ou deficiente mental que não tenha o
discernimento para prática do ato sexual), se previu o menor de 18, ainda que maior de
14. Pensamos que a justificativa para se ampliar o conceito, é o fato de que embora o
maior de 14 já esteja apto a manifestar sua vontade sexual, normalmente ele se entrega à
prostituição face a péssima situação econômica. Assim, sua imaturidade em função da
idade associada a sua má situação financeira, o torna vulnerável.
O elemento subjetivo do agente também tem que abranger a situação de
vulnerabilidade da vítima, assim por exemplo, se o agente desconhece que a pessoa
explorada sexualmente tem menos de 18, há erro de tipo que descaracteriza o delito em
apreço, causando a desclassificação para o crime do art. 228 do CP.
Por sua vez, se a vítima for pessoa menor de 14 anos, ou enferma ou deficiente
mental, sem possuir discernimento para prática de ato libidinoso e vier a praticá-lo,
deverá aquele que induziu ou realizou outra conduta do tipo responder pelo crime de
estupro de vulnerável em concurso de pessoa com o que praticou o ato. Se no entanto, a
vítima induzida, atraída etc., está sendo explorada sexualmente sem praticar ato
libidinoso (ex. fazendo striptease), aí sim é que ocorrerá a figura do tipo penal em
testilha. Essa questão já foi abordada nos comentários ao art. 218 do CP, para onde
remetemos o leitor para maiores detalhes.
3. Proxenetismo mercenário
Se o agente praticar uma das condutas objetivando o lucro, além da pena privativa
de liberdade será aplicada pena de multa. É o proxenetismo mercenário. Decerto, a
circunstância do §1º será mais comum, do que a hipótese do sujeito ativo agir sem ter o
escopo de obter vantagem econômica, embora isso seja possível. ex. objetivando outra
vantagem que não a econômica, como ganhar a amizade das pessoas para quem ele
arranja as prostitutas.
De acordo com esse §2º do art. 218-B, não apenas os que exploram sexualmente
as pessoas em estado de vulnerabilidade responderão pelo tipo, como também os que se
encontram em uma das duas situações previstas nos incisos. Em primeiro lugar, quem
praticou conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de
14. Trata-se de uma novidade legislativa, pois antes do advento da L. 12.015 era atípico
esta conduta. Ora, embora a prostituição em si não seja ilícito, o legislador resolveu
punir quem praticar qualquer ato libidinoso com uma pessoa prostituta ou explorada
sexualmente que for menor de 18 e maior de 14, por considerá-la vulnerável. Se a
vítima for menor de 14, conforme já dissemos, haverá estupro de vulnerável (art. 217-
A).
O legislador resolveu incriminar essa conduta, para desestimular a prostituição de
adolescentes, que tem crescido assustadoramente, de forma que agora, não apenas quem
explora sexualmente uma pessoa menor de 18 e maior de 14 anos, mas também quem
dela usufrui sexualmente responderá pelo delito. Na nossa opinião foi salutar essa
medida penalizadora, embora entendamos que a pena deveria ter sido fixada em um
patamar um pouco menor que a prevista no caput, pois, o agente aqui é um consumidor
do sexo, e não, um explorador.
Na hipótese do inciso II, trata-se de um crime próprio, cujo sujeito ativo terá que
ser proprietário, gerente ou responsável pelo local em que se verifiquem as práticas
referidas no caput deste artigo. Trata-se de uma modalidade semelhante a manter casa
de prostituição, cuja pena mais severa se justifica pelo fato da vítima neste caso, ser
vulnerável. É óbvio entretanto, que para ser responsabilizado penalmente, o agente
precisa saber que o seu estabelecimento está sendo usado como prostíbulo, senão
ausente estará o dolo. Ex. O proprietário alugou ou emprestou o seu imóvel para um
amigo que, passa a usá-lo como prostíbulo sem dar conhecimento ao dono.
O §3ª por sua vez, prevê um efeito automático da sentença penal condenatória
transitada em julgado, referente a hipótese descita no inciso II, do parágrafo anterior.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Art. 225. Nos crimes definidos nos Art. 225 - Nos crimes definidos nos
Capítulos I e II deste Título, procede-se capítulos anteriores, somente se procede
mediante ação penal pública condicionada mediante queixa.
à representação.
§ 1º - Procede-se, entretanto, mediante
Parágrafo único. Procede-se, ação pública:
entretanto, mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 I - se a vítima ou seus pais não podem
(dezoito) anos ou pessoa vulnerável. prover às despesas do processo, sem privar-se
de recursos indispensáveis à manutenção
própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso do
pátrio poder, ou da qualidade de padrasto,
tutor ou curador.
Esse artigo sofreu uma importante alteração, de sorte que, diferentemente de antes,
não há mais nos crimes contra a dignidade sexual, qualquer hipótese de ação penal
privada propriamente dita. Agora, seja qual for o crime, a instauração do processo será
feita através de ação publica, quer de forma incondicionada, quer condicionada à
representação em alguns casos. De fato, já estava ultrapassada a ideía de se poder
preservar a imagem da vítima dos crimes sexuais, deixando ao seu alvedrio a persecutio
criminis, que então, não raras vezes, por vergonha ou outra razão qualquer, resolvia não
processar o autor do delito. A gravidade desses delitos, impõe uma resposta estatal,
sendo interesse público a apuração dos fatos, buscando aplicar o "jus puniendi", pois a
impunidade é sem dúvida o maior estímulo a reiteração criminosa, o que gera o
sofrimento de novas vítimas.
É bem verdade que a omissão da vítima ainda pode obstar a apuração dos crimes
previstos no capítulo I, quando não atinja pessoa menor de 18 anos ou vulnerável. Isso
porque, se a vítima não quiser representar o Mnistério Público não poderá promover a
ação penal pública. Assim, em princípio são de ação penal pública condicionada à
representação os crimes do art. 213 caput, 215 e 216-A, caput. Todavia, se a vítima da
violação sexual for menor de 18 anos, a ação será pública incondicionada. No caso do
estupro e do assédio sexual, o fato da vítima ser menor de 18 anos, já está prevista no
§1º do art. 213 e §2º do 216-A respectivamente.
Quanto ao capítulo II, sua menção no art. 225 do CP, constituiu evidente equívoco
legislativo, pois, o seu parágrafo único informa que será de ação penal pública
incondicionada quando se tratar de pessoa vulnerável, e, todo o capítulo II trata
justamente de pessoa vulnerável.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
§ 3º (...)
Como se sabe, a prostituição em si, não constitui ilícito penal no Brasil, porém se
pune as pessoas que contribuem para o seu exercício. O título do art. 228, do CP, sofreu
um pequeno acréscimo para constar além do favorecimento da prostituição, o termo "ou
outra forma de exploração sexual." Assim, a descrição do tipo penal, apenas acrecentou
essa nova expressão, bem como, um novo verbo no núcleo, qual seja, dificultar. A pena
privativa de liberdade permaneceu a mesma, mas acrescentou-se a pena de multa.
A hipótese do §1º trata-se de um crime qualificado e próprio, pois só pode ser
praticado pelas pelas pessoas ali especificadas. Ao se comparar o rol das pessoas ali
constantes com as que constavam no §1º do art. 227 a que aludia o antigo §1º do art.
228, percebemos algumas modificações, como a exclusão do descendente da vítima e a
inclusão do preceptor ou empregador dela. Após a apresentação do rol das pessoas que
podem ser sujeito ativo do delito na forma qualificada, o legislador usou uma expressão
genérica, "ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância." A pena também permaneceu a mesma, três a oito anos, e, diferentemente do
caput, não se acrescentou a pena de multa, mas se a finalidade do ato foi o lucro se
aplicará a multa, por força do disposto no §3º, desse artigo 228 que foi mantido.
O §2º, do art. 228 também teve sua redação integralmente mantida. Trata-se de um
tipo qualificado quando houver emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Art. 229. Manter, por conta própria Art. 229 - Manter, por conta própria ou
ou de terceiro, estabelecimento em que de terceiro, casa de prostituição ou lugar
ocorra exploração sexual, haja, ou não, destinado a encontros para fim libidinoso, haja,
intuito de lucro ou mediação direta do ou não, intuito de lucro ou mediação direta do
proprietário ou gerente: proprietário ou gerente:
Esse artigo também teve uma modificação muito singela, apenas para substituir no
tipo penal, a expressão "casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim
libidinoso", por "estabelecimento em que ocorra exploração sexual". Entretanto, o
legislador esqueceu de alterar o título desse artigo para estabelecimento de exploração
sexual. A pena foi mantida.
De fato, essa alteração não trouxe maiores consequências jurídicas, permanecendo
a mesma dificuldade que antes imperava, qual seja, a de provar que o local é destinado
exclusivamente para a exploração sexual. Afinal, normalmente nesses locais, há
apresentação de shows eróticos ou não, serviços de bar, de massagem, etc.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Rufianismo Rufianismo
O caput desse artigo 230 teve sua redação original mantida, porém modificou-se a
redação dos §1º e 2º. O rufião é aquele que vive da prostituição alheia, participando
diretamente dos seus lucros, ou se fazendo sustentar por quem a exerce, enquanto o
proxeneta é aquele que pratica o lenocínio intermediando encontros amorosos, obtendo
ou não lucro.
O §1º do art. 230, trata-se de um crime qualificado e próprio. O sujeito ativo
somente pode ser uma das pessoas ali elencadas. A pena mais elevada se justifica pelo
fato da vítima ser menor de 18 e maior de 14, ou porque o agente consta do rol
exemplificativo ou se enquadra na situação genérica de garantidor, por tem um dever de
cuidado, proteção ou vigilância. O legislador apenas acrescentou algumas pessoas que
não constavam na redação original, como o padrasto, a madrasta. Todavia,
inexplicavelmente foi suprimido o descendente deste rol, ao passo que foi incluído o
enteado. A pena manteve-se de três a seis anos.
O §2º, também traz outro tipo qualificado. O legislador resolveu acrescentar outras
hipóteses que qualificam o rufianismo, além da violência ou grave ameaça, para inserir
também a fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade
da vítima. O preceito secundário da norma teve sua redação levemente alterada, de sorte
apenas a ser excluída a pena de multa, possibilitando entretanto, como já o era, a
cumulatividade com a pena correspondente a violência.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Tráfico internacional de pessoa para Tráfico internacional de pessoas
fim de exploração sexual
Art. 231. Promover ou facilitar a
entrada, no território nacional, de alguém Art. 231. Promover, intermediar ou
que nele venha a exercer a prostituição ou facilitar a entrada, no território nacional, de
outra forma de exploração sexual, ou a pessoa que venha exercer a prostituição ou a
saída de alguém que vá exercê-la no saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro:
estrangeiro.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
O Código Penal de 1940 , redação original, previa no art. 231 o tráfico de
mulheres que, com o advento da L. 11.106/05 passou a ter dupla tipificação – tráfico
internacional de pessoas (art. 231) e tráfico interno de pessoas (art. 231-A). Essa
importante modificação legislativa, permitiu que não apenas as mulheres, como os
homens passassem a ter a proteção penal, com a tutela da moralidade sexual e da
própria dignidade humana. De fato, embora o mais comum seja o tráfico de mulheres,
tem se tornado mais frequente o tráfico de homens (travestis, heterossexuais, bissexuais
e homossexuais). Esse tráfico pode ser para que alguém venha do exterior para ser
explorado sexualmente no Brasil, ou que saia daqui para ser explorado no exterior. Esta
última hipótese certamente é mais comum, pois os brasileiros são atraídos pela melhor
qualidade de vida de outros países, principalmente, na Europa.
Agora com o advento da L. 12015, a redação do caput teve uma alteração não
muito significativa, ao suprimir do núcleo do tipo, o verbo intermediar, substituir a
palavra pessoa por alguém, e acrescentar a expressão outra forma de exploração sexual.
A substituição da palavra pessoa por alguém não altera em nada o dispositivo
legal. Assim, a única alteração mais significativa no caput do art. 231, foi a utilização da
fórmula genérica após o vocábulo prostituição, qual seja, outra forma de exploração
sexual.
O §1º, do art. 231, agora prevê uma série de condutas que se equiparam aquelas
duas mencionadas no caput. Assim, estão sujeito as mesmas penas quem agenciar, isto
é, negociar. Aliciar (atrair, convidar, seduzir), e, finalmente, comprar a pessoa traficada.
Ou ainda, tendo conhecimento que a pessoa será traficada, transportá-la (conduzi-la),
transferi-la (mudá-la) ou alojá-la (abrigá-la, hospedá-la). Trata-se um tipo penal de
conteúdo múltiplo, bastando a realização de uma única conduta descrita. Assim, se
alguém transporta e hospeda a pessoa traficada para exercer a prostituição no exterior,
apenas responderá uma vez por esse delito.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na vontade de praticar uma das
condutas descritas no tipo para que alguém vá ser explorada sexualmente no exterior ou
venha a ser explorado no Brasil. Portanto, é necessário que a conduta, por exemplo, de
promover a saída de alguém, tenha como finalidade a exploração sexual, o que constitui
o dolo específico do tipo, evidenciado inclusive, no título desse crime ao se usar a
expressão "para fim de exploração sexual".
O novo §2º desse artigo, diferentemente das hipóteses previstas no antigo §1º e
§2º, não prevê qualificadoras, e sim, causas de aumento de pena. Assim, a pena é
aumentada da medade se: I- a vítima é menor de 18 anos. II- a vítima, por enfermidade
ou deficiência mental não tem o necessário discernimento para prática do ato.
Lembrando que, se a vítima for menor de 14 anos ou se encontrar na última situação
descrita, e vier a praticar algum ato libidinoso, desde que com o conhecimento do
traficante, este, responderá pelo crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A,
como partícipe. No entanto, se a vítima apenas praticou shows eróticos, de forma a
configurar a exploração sexual sem a realização do ato libidinoso, aí sim, restará
configurado apenas o crime do art. 231-A com a causa de aumento de pena.
O 3º agora, prevê uma pena de multa. A multa antes, era prevista no caput desse
art. 231, porém, agora, o legislador resolveu prever a multa cumulativa com a pena
privativa de liberdade, apenas se a finalidade da conduta for a obtenção de vantagem
econômica.
O crime ora comentado é de competência da Justiça Federal, nos termos do art.
109, V, da CF. Assim, atuará na fase investigatória a polícia federal, e a ação será
promovida pelo Ministério Público Federal perante a Justiça Federal.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
2. Consumação e competência
De fato, o art. 231-A sofreu uma pequena alteração na redação do caput, que pode
ter levado o autor acima citado a entender que o crime passou a ser formal. Enquanto na
redação anterior, era usada a expressão "que venha exercer a prostituição", agora, a
expressão é "para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual".
Pensamos, contudo, na linha de Greco, que o crime continua sendo material. Afinal, não
haveria razão para o legislador tratar de forma diferenciada o tráfico internacional do
tráfico interno, de modo a prever o primeiro como crime material e o segundo, como
formal.
3- Pena e retroatividade
O crime do tráfico interno de pessoas passou a ser apenado de forma mais branda,
pois, ao invés da pena ser de três a oito como antes, agora passou a ser de dois a seis
anos. Tratando-se de lei posterior mais benéfica há a retroatividade para alcançar os
fatos anteriores, inclusive os processos que já estão em fase de execução. Neste último
caso, caberá ao juízo da execução fazer a devida adequação. Assim, quem tinha sido
condenado na pena mínima de três anos, deverá agora ser readaptado para dois anos
(pena mínima após o advento da L. 12.015/09).
Imaginamos que a redução da pena tenha ocorrido para que a pena desse crime
ficasse menor que a referente ao tráfico internacional de pessoa para fim de exploração
sexual, o que nos parece correto. Afinal, é muito pior para vítima ser explorada
sexualmente noutro país, onde não domina a língua, não tem amigos, e não raras vezes,
está lá ilegalmente, dificultando o retorno para o país de origem.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Aumento de pena
O legislador não unificou as disposições gerais do título VI do Código Penal que
trata dos crimes contra a dignidade sexual. Assim, permaneceu neste título, o capítulo
IV que trata das disposições gerais (ação penal – art. 225; causas de aumento de pena –
art. 226), e acrescentou-se outro capítulo, o VII, que nos arts 234-A (aumento de pena) e
234-B (segredo de justiça) também cuidam de disposições gerais. O mais curioso é que
o art. 226 está em vigor com a previsão de duas causas de aumento, e o art. 234-A prevê
mais duas causas de aumento, quando o lógico seria ter sistematizado num único
capítulo as disposições gerais. Decerto, isso não foi feito, por uma dificuldade lógica.
As causas de aumento de pena do art. 226 do CP não se aplicam aos capítulos V (Do
lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração
sexual) e VI (Do ultraje público ao pudor). Ao passo que, as disposições gerais do
último capítulo acrescido pela L. 12.015 , se aplica a todo o título VI, ou seja, aos seis
capítulos que o precede.
Em síntese, as causas de aumento de pena do art. 234-A, III e IV são aplicáveis
aos capítulos I, II, V e VI (lembrando que o cap. III foi todo revogado pela lei 11.106 e
o cap. IV se refere a outras disposições gerais) do título VI. Por sua vez, as causas de
aumento de pena do art. 226 são aplicáveis aos capítulos I e II, do referido título.
O fundamento dos vetos dos incisos acima mencionados é que estas situações já
estão previstas no art. 226, I e II, do CP, respectivamente.
A primeira causa de aumento de pena do art. 234-A está prevista no inciso III (os
incisos I e II foram vetados, pelas razões acima expostas). O aumento é de metade, se
do crime resultar gravidez. Embora, como já dito, essa causa de aumento de pena se
aplique aos crimes previstos em qualquer um dos capítulos, é óbvio, que os crimes do
cap. VI não podem resultar em gravidez, já que se referem a ato obsceno (art. 233) e
escrito ou objeto obsceno (art. 234).
A propósito, no último caso citado, lembra com precisão Nucci [27]: "Porém, se do
estupro ocorrido entre pessoas conhecidas ou envolvendo sexo consentido, mas com
vulnerável, resultar gravidez, pode-se formar família. Nesse caso, o aumento de metade
da pena deixa de ter o caráter sancionador legítimo e passa a representar uma elevação
desnecessária e um fardo para nova família que se formou. A aplicação da causa de
aumento deveria ter sido fixada em caráter facultativo."
Como se vê, o legislador poderia ter evitado esse problema, prevendo uma pena
mais elevada, no caso da DST ser a AIDS. Como não o fez, pensamos que a única
solução é o enquadramento no art. 213, c/c o 234-A, IV, e o juiz aumentar a pena no
máximo permitido. Afinal, a última opção levaria a uma pena mínima menor, já que 12
(doze) anos, reduzido de um terço (menor redução possível da tentativa) levaria a pena
de oito anos. Ademais, a redução da tentativa deve levar em consideração a
proximidade da consumação do crime, e em função de anti-virais para combater o vírus
do HIV, a vítima pode viver anos, sem sintomas perceptíveis.
Destaque-se porém que, para o agente responder pela causa de aumento do inciso
IV, mister se faz que ele saiba ser portador de uma DST, ou pelo menos, se, deveria
saber. Essa expressão deveria saber, tem dado margem a discussões doutrinárias e
jurisprudencias, o que poderia ter sido evitado pelo legislador. Há quem veja nessa
expressão, a possibilidade de se punir na modalidade culposa, outros vislumbram na
expressão apenas o dolo eventual, como é o caso de Greco [28].
O art. 234-B do Código Penal é uma novidade no Código Penal que se harmoniza
com o art. 201, §6º do CPP, com a redação dada pela L. 11.690/08. A diferença é que o
legislador ao invés de facultar essa medida ao julgador, como fez a lei que cuidou das
provas no CPP, resolveu tornar obrigatório o segredo de justiça. De fato, essa medida
preserva o ofendido, já que somente as partes (Ministério Público, réu), juiz e
advogados é que podem ter acesso aos autos.
Art. 234-C. (VETADO) | Para os fins deste Título, ocorre exploração sexual
sempre que alguém é vítima dos crimes nele tipificados. |
Razões do veto
"Ao prever que ocorrerá exploração sexual sempre que alguém for vítima dos
crimes contra os costumes, o dispositivo confunde os conceitos de ‘violência sexual’ e
de ‘exploração sexual’, uma vez que pode haver violência sem a exploração. Diante
disso, o dispositivo estabelece modalidade de punição que se aplica independentemente
de verificada a efetiva prática de atos de exploração sexual."
Lei dos Crimes Hediondos
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
VI - estupro de vulnerável (art. 217- V - estupro (art. 213 e sua combinação
A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); com o art. 223, caput e parágrafo único);
Havia uma controvérsia doutrinária se o estupro e o atentado violento ao pudor, na
sua forma simples, eram hediondo ou não. A posição que prevalecia era a da hediondez,
mas, não havia consenso. Da mesma forma, também se discutia se em caso de violência
ficta, deveria ou não ser considerado hediondo o estupro e o atentado violento ao pudor.
Buscando elidir as controvérsias, e também por necessidade de se adaptar o texto da L.
8.072/90 as alterações realizadas no tipo penal de estupro e a criação do estupro de
vulnerável, o legislador alterou os incisos V e VI, do art. 1º, da Lei dos Crimes
Hediondos, de forma que não há mais dúvida, que o estupro é um crime hediondo, quer
na sua forma simples, quer nas qualificadas. Outrossim, é hediondo o estupro de
vulnerável em quaisquer de suas formas (217-A, caput, §1º, §3º e §4º). Lembrando que,
o §2º foi vetado.
ANTES DA LEI
COM A LEI 12.015/09
Lei 2.252/54
A redação do caput do art. 244-B, do ECA, acrescentado pela L. 12.015, manteve
as mesmas elementares da revogada L. 2.252/54 que cuidava da corrupção de menores.
Ressalte-se que essa corrupção não se confunde com aquela constante do título referente
aos crimes contra a dignidade sexual, já que a corrupção aqui, ocorre pela pratica de
infração penal com o menor de 18 anso, ou mediante o induzimento para que o mesmo
pratique.
O legislador, atento a evolução tecnológica, previu no §1º, uma extensão de pena,
para o agente que praticar as condutas do caput, utilizando-se de quaisquer meios
eletrônicos, incluindo as salas de bate-papo da internet. De fato, não é incomum que via
msn, salas de bate -papo e outros meios eletrônicos, o agente induza o menor a praticar
uma infração penal (crime ou contravenção penal).
No §2º, o legislador previu uma causa de aumento de pena de um terço, no caso da
infração penal que vier a ser cometida ou que houve o induzimento, esteja no rol dos
crimes hediondos do art. 1º, da Lei 8.072/90. De fato, a maior gravidade desses delitos
justifica o acréscimo. Todavia, entendemos que o legislador deveria ter mencionado
além dos crimes hediondos (art. 1º, da L. 8.072/90), os a eles equiparados, constantes do
art. 2º, da L. 8.072, como a tortura, o tráfico de entorpecentes e o terrorismo. Em função
dessa omissão legislativa, não se pode aplicar o aumento de pena, se o menor praticou
ou foi induzido a praticar um desses delitos equiparados a hediondos.
A lei 12.015 entrou em vigor na data em que foi publicada, ou seja, 10 de agosto
de 2009. Lembrando, todavia, que nas diversas hipóteses em que ela for mais benéfica,
a mesma retroagirá, apenas sendo vedado a combinação de leis, isto é, se aplicar a parte
benéfica da L. 12.015 para um acusado ou condenado, deixando de aplicá-la na parte
mais gravosa para essa mesma pessoa. Noutras palavras, em cada caso concreto, deverá
o juiz ou aplicá-la por inteiro se for mais benéfica no conjunto, ou deixá-la de aplicar.
Pode todavia, ela ser mais benéfica para um réu e mais prejudicial para outro, por isso, a
análise deve ser caso a caso. Em diversos tipos penais comentados neste trabalho,
mencionamos hipóteses em que esta lei é mais benéfica. Neste tópico, tentaremos
sistematizar todas as situações em que a L. 12.015 será mais benéfica.
A pena do estupro, na sua forma simples, não foi alterada, de sorte que, em
princípio, não haveria diferença em se aplicar a lei velha ou nova. Todavia, se o agente
praticou atos com a mesma vítima que configurariam estupro e atentado violento ao
pudor, deverá ser aplicada a lei nova por ser mais benéfica, já que essas condutas
configurarão um único crime. Para maiores detalhes remetemos o leitor para o item 7,
do art. 213.
No caso de estupro de vulnerável (art. 217-A), a aplicação da lei nova pode ser
mais benéfica ou mais prejudicial conforme o caso concreto. Isso porque, antes do
advento da L. 12.015/09 havia dois entendimentos possíveis quanto a causa de aumento
de pena do art. 9º, da L. 8.072/90, que previa uma majoração de metada da pena,
quando a vítima estivesse em qualquer das hipóteses do antigo 224 do CP (presunção de
violência). Uma corrente entendia aplicável essa causa de aumento no estupro e
atentado violento ao pudor, outra, entendia inadmissível por considerar haver um "bis in
idem", pois, a presunção de violência era considerada tanto para caracterizar a
elementar do tipo, quando para majorar a pena.
Assim, para a corrente que aplicava a majorante, a pena mínima desse crimes
elevar-se-ia para nove anos (seis mais três). Ora, como a pena mínima do art. 217-A é
de oito anos, neste caso, a lei nova é mais benéfica. Todavia, se o juiz não aplicava a
majorante, a pena ficava em seis anos, tendo agora passado para oito, portanto, a nova
pena do estupro de vulnerável é mais rigorosa, não retroagindo.
No caso do delito de rufianismo qualificado pela violência ou grave ameaça (art.
230, §2º, do CP), a nova lei é mais benéfica. Isso porque, embora a pena privativa de
liberdade não tenha sido alterada, houve a supressão da pena cumulativa de multa, o que
justifica a retroatividade da lei.
No caso do tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual, com
emprego de violência, grave ameaça ou fraude (art. 231, §2º, IV, do CP), a lei nova é
mais benéfica. Isso porque, com o aumento de metade da pena, a pena a ser fixada pelo
juiz, deve variar de 4 anos e 6 meses para 12 anos. Antes do advento da L. 12.015, a
pena nesse caso, era de 5 (cinco) a 12 (doze) anos. Portanto, a pena mínima foi
reduzida. Quanto a pena de multa para todas as modalidades de tráfico internacional, ela
continua sendo possível, mas apenas se o agente teve a intenção de obter vantagem
econômica, enquanto antes, era obrigatório, independente do que motivou o agente,
sendo por isso, neste aspecto também mais benéfica a nova lei.
No caso do tráfico interno de pessoas seja na sua forma simples, seja com a
incidência de uma causa de aumento de pena, a nova lei é mais benéfica. No caso do
caput, isso fica evidenciado, pois a pena que antes era de 3 (três) a 8 (oito) anos, agora é
de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Por sua vez, o parágrafo único do antigo art. 231-A,
determinava a aplicação dos §1º e §2º do art. 231. No caso das hipóteses referidas no
§1º, a pena era de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, enquanto as do §2º, previa pena de 5
(cinco) a 12 (doze) anos. Pois bem, as situações que antes eram abrangidas por esses
dois parágrafos, agora estão unificadas no §2º, do art. 231-A, que prevê uma causa de
aumento de pena de metade, a incidir sobre a pena de 2 (dois) a 6 (seis) anos, elevando a
pena mínima para 3 (três) e a máxima para 9 (nove) anos, pena esta, menor que as que
antes eram previstas.
Como se percebe, com a alteração de diversos tipos penais que integram o título
VI, pela L. 12.015/09, muitos inquéritos em curso, processos em andamento e em
execução irão ser alcançados por esta lei, em função da retroatividade da lei penal mais
benéfica ser um direito constitucional fundamental (art. 5º, XL, da CF). Por outro lado,
alguns tipos penais foram ampliados ou criados, e outros, tiveram suas penas
endurecidas, o que ensejá a sua aplicação somente para alcançar os fatos ilícitos
posteriores a sua vigência.
BIBLIOGRAFIA
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CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2005.
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NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. São Paulo: RT, 2008.
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. São Paulo: RT,
2009.
Notas
Sobre o autor
Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº2289 (7.10.2009)
Elaborado em 09.2009.
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico
publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
DELGADO, Yordan Moreira. Comentários à Lei nº 12.015/09 . Jus Navigandi,
Teresina, ano 13, n. 2289, 7 out. 2009. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13629>. Acesso em: 08 jun. 2010.