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NO ENSINO DE GEOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Professores de Geografia! Afinal, qual é o nosso papel? Assim como todos
vocês, temos pensado muito firmemente nisso. Cremos que nesse exercício geramos
mais dúvidas do que certezas, mas será que a dúvida não é aquilo que nos garante a
liberdade de continuar pensando? A certeza não nos proporciona tal caminhada, apesar
de ser importante, pois, de algum modo, atende a nossa ânsia de procurar por respostas.
No entanto, será que mesmo as respostas encontradas podem ser vistas como
conclusivas?
Algumas luzes surgem desse embate entre dúvidas e certezas. De algum modo,
elas iluminam nossa prática pedagógica, conduzindo-nos a algumas reflexões
fundamentais, como:
Ensinar é apenas repassar informações? Mas será que informar também não é
nosso papel?
De que modo podemos contribuir com nossos alunos para que sigam para além
da visão maniqueísta de mundo que possuem? Entretanto, será possível ensiná-los sem
partir da leitura de mundo que eles possuem hoje?
A Geografia é uma ciência que na atualidade ganhou grande reconhecimento?
Quais os motivos dessa ascensão? Apenas ela valorizou-se ou será que todas as ciências
vivem um momento de exaltação com a atual conjuntura social, natural, política e
econômica?
Afinal, o espaço garante à Geografia uma fatia na leitura do mundo em que
vivemos? O espaço constitui-se em nosso objeto de estudo ou em nossa clausura?
Estas perguntas e diversas outras precisam permanecer em nossas mentes, pois
nos mobilizam a buscar respostas (temporárias) ao que nos aflige dentro e fora de sala
de aula, como cidadãos que são professores de Geografia. A dúvida nos mantém em
movimento, para que acompanhemos o movimento do mundo no qual vivemos e do
qual fazemos parte.
É nessa perspectiva que valoriza-se o caráter semiótico das linguagens de
interesse geográfico, entre elas a cartográfica e a iconográfica, pois ambas permitem
construir e reconstruir significados nos mais diferentes contextos espaço-temporais.
Enfim, debruçar-se a respeito do nosso papel como professores de Geografia
deve ser algo contínuo e, por isso mesmo, uma resposta a ser buscada no cotidiano de
cada um de nós. Admitir esse desafio é uma condição para que nossa prática pedagógica
mantenha-se hodierna.
Cartografia e iconografia
Uma abordagem semiótica do conteúdo de Geografia
A Geografia se vale de diversas linguagens para explicitar aquilo que lhe diz
respeito: o espaço e sua espacialidade. Contudo, algumas dessas linguagens estão mais
presentes na abordagem geográfica do que outras.
Podemos afirmar que dentre as mais presentes destacam-se a cartografia e a
iconografia. Seguem abaixo alguns de seus conceitos e, também, os de seus objetos de
estudo, para ampliar nossos horizontes:
A semiótica
Parece estranho, quando se pensa sobre isso, que um signo deva deixar que seu
intérprete supra uma parte de seu significado; mas a explicação do fenômeno está no
fato de que todo o universo – não apenas o universo dos existentes, mas todo o
universo mais vasto, abrangendo o universo dos existentes como parte dele [...] – [...]
está repleto de signos, se não for composto exclusivamente de signos (PEIRCE, 1905-
1906: 5. 448n.).
Admite-se, hoje em dia, que a semiótica, como ciência, possui duas vertentes: a
lingüística e a filosófica.
A vertente lingüística, denominada “semiologia”, tem como principal expoente o
suíço Ferdinand Saussure. Ele publicou vários trabalhos no início do século XX, que
foram compilados sob o nome de Cours de Linguistique Générale (1916). Seu modelo
analítico baseava-se em dois pólos: o significado e o significante. Conforme o
diagrama:
SIGNIFICADO
--------------------------------------------------
SIGNIFICANTE
SIGNIFICADO
INTERPRETANTE
REPRESENTAMEN OBJETO
SIGNIFICANTE REFERENTE
Devido ao recorte que cada uma destas vertentes propõe e, mais do que isso,
tendo em vista nosso objetivo de trabalhar com a semiótica da cartografia e da
iconografia aplicadas à Geografia, optamos por tomar o caminho da vertente filosófica.
A reflexão a respeito dos signos e de seus significados com base na filosofia,
como não podia deixar de ser, iniciou-se na Grécia Antiga, com Platão, no manuscrito
Cratylus (385 a.C.). No entanto, o primeiro a utilizar a palavra “semiótica” foi John
Locke, no seu Ensaio Sobre o Conhecimento Humano (1690). Suas idéias tiveram forte
influência do filósofo de origem lusitana John Poinsot, que, em seu livro Tractatus de
Signis (1632), já trazia uma consciência temática mais explícita sobre o assunto.
Resumidamente pode-se dizer que “na verdade, o que está no cerne da semiótica
é a constatação de que a totalidade da experiência humana, sem exceção, é uma
estrutura interpretativa mediada e sustentada por signos” (DEELY, 1990, p. 22). Essa
afirmação projeta a semiótica como ferramenta conceitual, na busca dos significados
explícitos e, principalmente, implícitos das linguagens cartográfica e iconográfica, já
que nos permite trabalhar com o produto das significações dos nossos alunos.
No entanto, os semioticistas concordam em afirmar que a semiótica não possui
um método, mas, sim, um ponto de vista. Contudo, não se pode negar que ela “é uma
perspectiva ou um ponto de vista que emerge de um reconhecimento explícito daquilo
que todo método de pensamento ou todo método de pesquisa pressupõe.” (DELLY,
1990, p. 29). Isso significa que na tentativa de tematizar o campo da semiótica, é
necessário atender aos princípios científicos mais genuínos de investigação, ou seja,
adotar um “método”.
O processo de significação dos signos foi chamado por Peirce de “semiose”.
Trata-se de um processo de revelação individual, portanto traz consigo a possibilidade
de engano ou confusão. Não uma confusão irremediável, mas um ponto de partida para
novas leituras mais profundas e melhor fundamentadas.
Como nosso objetivo é realizar a “semiose” para fins educativos, essa
característica da leitura semiótica permitirá realizar investigações ainda mais
interessantes, pois o próprio “método semiótico” traz consigo a possibilidade do engano
e da reconstrução. Ambas típicas dos processos de ensino e de aprendizagem. Ainda
vale a pena lembrar que “uma das funções primordiais da análise da imagem (signo) é
sua função pedagógica. Embora possa se exercer num contexto institucional como a
escola ou a universidade, a análise com objetivo pedagógico não se atém a ele.” (JOLY,
M. 1996, p. 48).
Na realização de atividades pedagógicas de cunho semiótico, devemos ter alguns
cuidados. Eles são fundamentais para que o trabalho não se torne banal ou sem
objetividade, desvalorizando a experiência semiótica. Os semioticistas acreditam que
“uma boa análise se define, em primeiro lugar, por seus objetivos. Definir o objetivo de
uma análise é indispensável para instalar suas próprias ferramentas, lembrando-se que
elas determinam grande parte do objeto da análise e suas conclusões.” (JOLY, M. 1996,
p. 49).
Entretanto, outros dois cuidados devem ser considerados na análise dos signos
visuais, ambos ligados à premissa de que o signo visual é uma mensagem para o outro.
São eles: o estudo da sua função e o contexto do seu surgimento.
Obviamente, além desses cuidados a utilização da semiótica em sala de aula
permitirá ao professor uma conexão direta entre os conteúdos de Geografia, sua
mediação pedagógica e a participação efetiva dos alunos.
Semiótica e Cartografia
A conexão entre estas duas ciências possui um histórico que remonta meados do
século XX. Segundo SANTAELLA e NÖTH (1997, p. 35), desde a Semiologia
Cartográfica de Bertin (1967), existe o ramo da cartossemiótica na área das ciências
geográficas. Os resultados desses estudos estão documentados na série de estudos
Kartosemiotica (1991). Outros estudiosos do tema são Palek (1986), Moore (1989),
Freitag (1992) e Nöth (1998).
Estes dados demonstram que a proposição de realizar atividades semióticas,
tendo por base mapas e outros produtos cartográficos, não se constitui em uma
novidade. Além disso:
...a imagem pode ser um instrumento de conhecimento, porque serve para ver o
próprio mundo e interpretá-lo. [...] uma imagem (um mapa ou um quadro) não é uma
reprodução da realidade, mas o resultado de um longo processo, durante o qual foram
utilizadas alternadamente representações esquemáticas e correções. (JOLY, M., 1996,
p. 60).
Atividade 1
O que pode ser extraído do mapa América do Sul – Físico?
Atividade 2
O que pode ser extraído do mapa África – Político?
Possíveis respostas: tipos de limites, território dos países, latitude, colonização, etc.
Semiótica e Iconografia
Como foi afirmado nas páginas iniciais, entendemos por iconografia, ao menos
neste trabalho, o conjunto de todos os recursos visuais, com exceção da cartografia.
Nesse caso, ela abarca diversas linguagens representadas por signos, como as
fotografias, as imagens de satélite, os gráficos, as gravuras, as tabelas, entre outros.
Devido a essa diversidade, focaremos nosso trabalho, principalmente, em três
tipos de signos: as fotografias, os gráficos e as gravuras. Isso se deve a maior facilidade
na sua “leitura” por parte dos alunos. Contudo, com o amadurecimento do debate
semiótico, a longo prazo, é possível atrever-se a fazer a “semiose” de signos mais
estéreis.
Segundo SANTAELLA e NÖTH (1997, p. 107), a semiótica da fotografia foi
intensamente estudada por um significativo número de teóricos. Os mais destacados
foram Peirce, Hjelmslev, Greimas e Barthes, sendo que cada um deles deu origem a
uma linha semiótica ligada à fotografia.
Em nosso trabalho, não há a necessidade de detalharmos, ou mesmo de
distinguirmos, qual dessas linhas iremos seguir, mesmo porque a proposta é utilizar
todas as linhas de uma maneira híbrida, pois nossa preocupação é menos técnica e mais
pedagógica.
No entanto, é necessário ter em mente que, independentemente do caminho que
sigamos, durante o processo de “semiose”
Atividade 3
O que pode ser visualizado por meio da fotografia a seguir?
Serra do Rio do Rastro–SC
Possíveis respostas: vale, divisores de água, vegetação, relevo, ação antrópica, etc.
Atividade 4
Que elementos podem ser identificados por meio da fotografia abaixo?
João Pessoa–PB
Possíveis respostas: verticalização, proximidade do mar, arborização urbana, etc.
Os gráficos constituem-se em uma linguagem de grande valor semiótico, pois,
como signos, explicitam por meio dos dados que apresentam uma forma de sistematizar
seu conteúdo de modo intencional, com isso podem-se ressaltar alguns aspectos e
“mascarar” outros.
Segundo SANTAELLA e NÖTH (1997, p. 107), existem vários estudos sobre a
semiótica dos gráficos, destacando-se os de Krampen (1965), Berger (1979), Bertin
(1967, 1989) e Savarese (1991).
Nesse sentido, trata-se de uma aposta interessante para potencializar o conteúdo
presente em materiais didáticos, sendo um convite à reflexão.
Atividade 5
Que análise pode-se fazer dos dados explicitados pelo gráfico abaixo? O que ele
mascara?
# IBGE 2000
Atividade 6
Que fenômeno está representado na gravura a seguir? Indique alguns de seus
motivadores:
Considerações finais
Referências bibliográficas