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Não há vagas

Ando por aí buscando um emprego há um tempo. Eu sei que isso pode parecer estranho,
agora que as coisas parecem tão bem na TV, para quem quer trabalhar; mas eu não quero
trabalhar, e quem quer? Não fomos feitos para o trabalho, disso vocês sabem bem.

Sim, eu já pensei em fazer uma revolução: em criar um partido ou uma ONG, quem sabe, só
para não ter que trabalhar. Eu não sou mais um jovem universitário, não estou mais estudando
para ficar à toa, para me saciar nas tardes preguiçosas da juventude vendo sessão da tarde.
Quero um emprego!

Alguns poucos com tanto, outros tantos com tão pouco. Enquanto procuro, a frase mais
constante que ouço e leio, disfarçada às vezes, por e-mail ou ao vivo, é “não há vagas”.

Estou farto de não ter vaga, de não ter vaga para estacionar, pra poder viver em paz com
aquilo que estudei. Não tenho família, não tenho vaga e não tenho a sorte de ser uma dessas
exceções que conquistam a glória sem esforço.

Não que me sirva de consolo, mas nessa fila de desempregados sinto uma enorme falta de
vagas. Faltam vagas para a honestidade, para a educação, para a saúde dos homens, para a
nossa sanidade. Faltam vagas para ouvir os pássaros, para cuidar das pessoas, para um bom
livro, e até, vocês sabem..., para o amor cru e entregue. E até para aquele meio sem vontade
mesmo.

Por onde andei tanto tempo em minha juventude que não vi a fila, essa enorme e desgraçada
fila da falta de vagas?

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