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A Nau Catrineta e a História Trágico-Marítima

Lições de Liderança

Autor
Libório Manuel Silva

Editor
Centro Atlântico

Colecção
Desafios

Sugestões
António Clemente Lázaro, C3IM, Helena Oliveira

Imagem de capa
Enrique Casanova (in Os Lusíadas, 1880), Library of Congress, Washington, D.C., EUA

Capa e paginação
António J. Pedro

Impressão e acabamento
Papelmunde – SMG, Lda
1.ª edição: Abril de 2010
ISBN: 978-989-615-090-7
Depósito Legal: ------/10

© Centro Atlântico, Lda., Ap. 413


4764-901 V. N. Famalicão, Portugal

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dos editores da obra.

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 índice

5 ensaio preambular
8 A epopeia
10 Os naufrágios
13 As relações de naufrágios
16 A História Trágico-Marítima
19 Jorge de Albuquerque Coelho – o capitão-general
22 Prosopopeia
26 Sobre o romance da Nau Catrineta
30 Almeida Garrett
33 Lições de Liderança
43 a nau catrineta
49 naufrágio, que passou jorge
d’albuquerque coelho, capitão e
governador de pernambuco,
vindo do brasil no ano de 1565
103 Referências

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ensaio
preambular
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Almeida Garrett, em 1851, lançaria a suspeita, na sequência da


publicação de uma curiosa relação, em 1736, por Bernardo
Gomes de Brito.
Suspeita de quê?
De mais uma das estórias da saga da projecção global
portuguesa de Quinhentos em que, provavelmente, um des-
conhecido capitão do mar se vê envolvido.
Em 1565, o capitão Jorge d’Albuquerque Coelho, um
quase-náufrago, seria o ‘culpado’ dessa suspeita (nesse mesmo
ano, Camões terminaria Os Lusíadas).
Em 1578, o capitão permitiria mais algumas horas (minu-
tos?) de vida ao jovem aventureiro monarca D. Sebastião em
Alcácer Quibir.

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Em 1601, a história do quase-naufrágio em que Jorge é
capitão e principal protagonista, é cantada pelo primeiro poeta
brasileiro.
As qualidades e valores morais e éticos do capitão são,
neste livro, agora apresentados como exemplo de liderança.
Toda a epopeia portuguesa de Quinhentos é uma lição
de liderança – no plano da estratégia (do desígnio estratégico)
e da gestão de operações, no amplo sentido de gestão táctica,
gestão dos homens, gestão logística. Liderança em circunstân-
cias críticas.
A liderança é a questão-chave da gestão dos homens e da
forma de lidar com os eventos extremos, sejam eles uma missão
tida como impossível como o desígnio estratégico de ‘chegar’
à Índia, ou a de chegar a bom porto no meio de ‘batalhas’ con-
tra o traiçoeiro mar, as arremetidas dos corsários e a perda de
esperança dos comandados.

Mas comecemos pelo princípio…

 a epopei a

A epopeia marítima, dos portugueses de Quatrocentos e


Quinhentos, é um activo secular narrado e cantado pelos mais
ilustres historiadores, académicos e poetas. Camões exaltaria a
bravura e o atrevimento lusitano pela voz do Adamastor,

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 lições de lider a nça

Essa implacável sede de conquistas


Que no inquieto peito vos referve

O astro novo, não visto d’outra gente
Antes que o luso nauta lho amostrasse
almeida garrett, Camões

A Arte da Guerra, Odisseia, Macbeth, ou, por exemplo,


O Príncipe são obras lidas e estudadas em muitas escolas,
nacionais e internacionais, pois colocam questões de Liderança,
intemporais e universais. Porém, esta prática de reflexão sobre
Liderança fora das habituais fronteiras do mundo empresarial,
através de textos literários, é quase inexistente no que respeita
à literatura portuguesa.
Mas não só no meio académico essas obras são fonte
de inspiração, como se pode observar pelo êxito desses livros
– já distribuídos entre nós com revistas e jornais – junto de
públicos com diferentes interesses e ocupações profissionais
distintas. Aliás, as questões sobre Liderança dizem respeito
a todos. Um professor, um desportista, um responsável de
uma Associação, um autarca local, mesmo um pai/mãe, por
exemplo, precisam tanto de desenvolver e reflectir sobre os
princípios de Liderança quanto um General do Exército,
um Administrador de um grande grupo empresarial ou um
político profissional.

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a nau
catrineta
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 a nau catr ineta

Lá vem a nau Catrineta


Que tem muito que contar!
Ouvi, agora, senhores,
Uma história de pasmar.

Passava mais de ano e dia*


Que iam na volta do mar;
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar; * «Sete anos e um dia»,
em diversas variantes
Logo foi cair a sorte do Minho, Lagos, Ilha
de S. Jorge e Rio Grande
No capitão general. do Sul, entre outras.

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naufragio,
que passou

jorge d’albuquerque
cœlho,
capitao e governador de pernambuco,
vindo do brasil no ano de 1565

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 Capítulo XI 

os vinte e sete deste mesmo mês, que foi

A dia de S. Cosme e S. Damião, começámos a lan-


çar ao mar algumas pessoas que nos morreram
de fraqueza e com pura fome e trabalhos. E foi
tanta a necessidade de fome que padecíamos, que alguns dos
nossos companheiros se foram a Jorge de Albuquerque e lhe
disseram que bem via os que morriam e acabavam de pura
fome, e os que estavam vivos não tinham coisa de que se sus-
tentar; e que, pois assim era, lhes desse licença para comerem
os que morriam, pois eles, vivos, não tinham outra coisa de
que se manter.
Abriu-se a alma de Jorge de Albuquerque de lástima e
compaixão, e arrasaram-se-lhe os olhos de água quando ouviu
este espantoso requerimento, por ver a que estado os tinha
chegado sua necessidade, e lhes disse, com muita dor, que aquilo
que lhe diziam era tão fora de razão, que erro e cegueira muito
grande seria consentir em tão bruto desejo; mas que bem via
que, vencidos da necessidade presente, tomavam aqueles con-
selhos que lhes dava tão ruim conselheiro como a fome era, mas
que lhes pedia que olhassem bem o que queriam fazer, porque
ele, enquanto fosse vivo, tal não o havia de consentir, e que,
depois dele morto, podiam fazer o que quisessem e comê-lo
a ele primeiro.
Bem pode quem que isto ler julgar que tais estariam os
homens, que chegaram a termos de fazer coisa nunca ouvida,
senão no cerco de Jerusalém.

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 r eferênci as

1 Nascimento Rodrigues, Jorge e Devezas, Tessaleno (2007), Portugal


– O Pioneiro da Globalização, 1ª edição, Centro Atlântico
2 Nascimento Rodrigues, Jorge e Devezas, Tessaleno (2009), Portugal –
O Pioneiro da Globalização (A Herança das Descobertas), edição
revista e ampliada, Centro Atlântico
3 Viana, Mário Gonçalves (1941), História Trágico-Marítima, Ensaio
Preambular, Editora Educação Nacional
4 Azevedo, Fernando de (1992), Catálogo da Exposição de pintura de Maria
Gabriel, Soc. Nac. de Belas Artes
5 Vieira, Padre António (1640), «Sermão pelo Bom Sucesso das Armas
de Portugal contra as de Holanda»
6 Peres, Damião (1942), História Trágico-Marítima (Nova edição),
Companhia Editora do Minho
7 Brito, Bernardo Gomes (1736), História Trágico-Marítima, [na con-
clusão do] tomo 2, Da causa, e desastres, por que se perderam muitas
naus da Índia, Oficina da Congregação do Oratório
8 Koiso, Kioko (2004), Mar, medo e morte: aspectos psicológicos dos
náufragos na história trágico-marítima, nos testemunhos inéditos
e noutras fontes, Patrimonia
9 Voigt, Lisa (2008), «Naufrágio, cativeiro, e relações ibéricas. A História
trágico-marítima num contexto comparativo», Varia Historia, vol. 24,
nº 39, pp. 201-226
10 Castro, António de; Luís, Afonso (1601), Naufrágio, que passou Jorge
Dalbuquerque Coelho, capitão, & governador de Paranambuco,
Cap. I, António Álvares
11 Brito, Bernardo Gomes de (1735), História Trágico-Marítima, tomo 1,
Oficina da Congregação do Oratório; Brito, Bernardo Gomes de (1736),
História Trágico-Marítima, tomo 2, Oficina da Congregação do
Oratório

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12 Viana, Mário Gonçalves (1941), História Trágico-Marítima, Ensaio
Preambular, Editora Educação Nacional
13 Ortigão, Ramalho e Queiroz, Eça de (1878), As Farpas, Crónica
Mensal da Política, das Letras e dos Costumes, Terceira Série –
Tomo II, Tipografia Universal
14 Braga, Teófilo (1867), História da Poesia Popular Portuguesa,
Tipografia Lusitana
15 Marques, Marisa Pires (2005), «Os funcionários do Rei: os car-
gos da administração colonial no Atlântico Sul nos reinados de
D. João III e D. Sebastião», Centro de História de Além-Mar – FCSH/
UNL
16 Forjaz, Cláudio Ricardo Hehl (2005), «Duarte Coelho: o primeiro
estadista do Brasil», Revista Liderança Militar, v. 2, n. 2, pp. 79-82
17 Castro, António de; Luís, Afonso (1601), Naufrágio, que passou Jorge
Dalbuquerque Coelho, capitão, & governador de Paranambuco,
Prólogo, António Álvares
18 Teixeira, Bento (1601), Prosopopea, António Álvares
19 Lima, Fernando de Castro Pires de (1954), A Nau Catrineta – Ensaio
de Interpretação Histórica, Portucalense Editora
20 Braga, Teófilo (1867), História da Poesia Popular Portuguesa,
Tipografia Lusitana
21 Dias, Gastão Sousa (1954), «A Nau Catrineta - um interessante problema
literário», Revista Ocidente, vol. XLVIII, separata
22 Braga, Teófilo (1867), Romanceiro Geral, Imprensa da Universidade
de Coimbra
23 Ramalho Ortigão (1876), As Praias de Portugal, Magalhães &
Moniz
24 Viana, Mário Gonçalves (1937), Figuras Nacionais: Almeida Garrett,
Editora Educação Nacional

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