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Obs. Esses roteiros não foram revisados pelo professor.

PARTE GERAL-Código Civil/2002

Introdução:

Noções (Conceito) de Direito.

Realidade: é enfocada de três modos diferentes mundo da natureza;


mundo dos valores;
mundo da cultura.

Mundo da natureza: tudo o que existe independentemente da atividade humana. É o


princípio da causalidade das leis naturais. As leis naturais são as leis do ser, que não
podem ser violadas e se explicam quando indagamos e delas fazemos um juízo de
realidade. Ex. Lei da gravidade.

Mundo dos valores: A tudo o que afeta ao homem, direta ou indiretamente, é atribuída
qualidades e significações, isto é, atribui-se um valor. Ex. segurança, trabalho, estética,
moral, religião etc.

Mundo da cultura: é o mundo das realizações humanas, da adaptação da natureza à


satisfação das necessidades vitais e impelidos pela exigência da perfeição. Ex.
automóvel, poesia etc. O mundo da cultura se compreende, apreende-se seu sentido e
significado e dele fazemos juízo de valor. Ex. Direito: princípios e normas (expressão
formal)

Idéia de fim, de valor e de bem: fim é aquilo pelo qual todos fazem alguma coisa
(Escolástica); valor é o produto de nossa subjetividade (subjetivismo axiológico),
consubstanciado na realidade objetiva consistente em qualidades e perfeições que nos
atraem; bem será tudo aquilo que pertence a uma classe especial de objeto sobre a qual
repousa, incide nosso valor, isto é, a coisa afetada de valor é sinônimo de bem.

Silogismo: se fim é aquilo pelo qual se faz alguma coisa, valor é uma classe especial de
coisa afetada, que se constitui em um bem, pode-se concluir que fim é sinônimo de valor.

Valor é um bem; (premissa maior)


Bem coincide com o fim; (premissa menor)
Fim equivale a valor. (conclusão)

Direito: À medida que a natureza se mostra insuficiente para satisfazer as necessidades


humanas, passa o homem a agir sobre ela, com base nos valores atribuídos às
necessidades, criando uma realidade que é produto de sua criatividade. Para regular e
disciplinar essas atividades (um fim) criadas pelo homem, concernindo a valores (classe
de coisas afetadas = bem), apareceu o Direito, fato histórico apenas existente na
sociedade: Ubi societas, ibi ius – onde a sociedade, aí o Direito.

Conceito: é a ciência do “dever ser”, é ordem normativa, sistema de normas


harmônicas entre si, que regula a conduta humana, egoísta por natureza, que vem
sempre acompanhada de uma sanção. Segundo Ruggiero e Maroi: “O direito é a norma
das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização soberana e
imposta coativamente à observância de todos”. Direito, enfim, é instrumento de
controle social.

Intuição de Dante Alighieri: “Jus est realis ac personalis hominis ad hominem proportio,
quae servata servat societatem; corrupta, corrumpit” (O Direito é uma proporção real e
pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva a sociedade; corrompida,
corrompe-a).

Diferenças entre o “ser” e o “dever ser”: um determinado metal disposto a certa


temperatura muda do estado sólido para o líquido (disposição imutável); o homem que
comete determinado delito “deve ser” punido (circunstâncias próprias).

Teoria tridimensional do direito: aspecto normativo – o Direito como ordenamento e


sua respectiva ciência; um aspecto fático – o Direito como fato, ou em sua efetividade
social e histórica; e um aspecto axiológico – o Direito como valor de Justiça (Miguel
Reale).

Fato: é uma dimensão (aspecto) do Direito, é o acontecimento social que envolve


interesses básicos para o homem e que por isso, enquadra-se dentro dos assuntos
regulados pela ordem jurídica.

Valor: é o elemento moral do Direito; se toda obra humana (ação) é impregnada de


sentido finalístico ou moral, igualmente o Direito: ele protege e procura realizar valores
fundamentais da vida social, notadamente a ordem, a segurança e a Justiça.

Norma: consiste no padrão de comportamento social imposto aos indivíduos, que devem
observá-la em determinadas circunstâncias.

Direito e moral: A Teoria do Mínimo Ético (filósofo inglês, Jeremias Bentham e jurista
alemão, Georg Jellinek): consiste em dizer que o Direito representa apenas o mínimo de
Moral declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. A moral, em regra, é
cumprida de maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é indispensável
que se impeça a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar
indispensável à paz social. Assim o Direito não é algo diverso da Moral, mas é parte
desta, armada de garantias específicas (imagem dos círculos concêntricos): “tudo o que é
jurídico, é moral; mas nem tudo o que é moral, é jurídico”. (círculos concêntricos).

Controvérsias: regra de trânsito modificada, atinge a moral? Dois sócios da empresa: um


trabalha e o outro não. É moral, embora legal, os dois receberem o mesmo “pro-labore”?
(imoral tutelado pelo Direito). Assim, Moral e Direito podem ser vistos como dois círculos
secantes; estes representam a concepção real; aqueles (concêntricos), a concepção
ideal.

Teoria dos Círculos Secantes: (Claude du Pasquier): Segundo Du Pasquier, Direito e


Moral possuem um campo de competência comum e, ao mesmo tempo, uma área
particular independente. A representação das suas relações é a de dois círculos secantes;
esta a opinião de Miguel Reale.

Direito Positivo/Objetivo: Quando surgem, as normas jurídicas se põem ou se positivam


como uma realidade objetiva; elas se positivam e se objetivam , vigem e têm eficácia em
certo tempo, como realidades culturais, postas e garantidas pela sociedade e pelo Estado;
elas são direito positivo objetivo. Daí poder-se dizer que os termos “objetivo” e “positivo”
se implicam. Assim, o Direito positivo é o ordenamento jurídico em vigor, o conjunto de
normas impostas pelo Estado, de caráter geral, a cuja observância os indivíduos podem
ser compelidos coercitivamente, é o conjunto de normas que a todos se dirige e a todos
vincula; é a norma agendi.

Direito Natural: é a idéia abstrata do direito, o ordenamento ideal, correspondente a uma


justiça superior. Revela ao legislador os princípios e valores fundamentais de proteção ao
homem, que deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se tenha uma ordem
jurídica substancialmente justa. Denominado “jusnaturalismo”, foi defendido por Santo
Tomás de Aquino e Santo Agostinho, que defendiam, ao lado de outros pensadores dos
séculos XVII e XVIII a existência de um direito ideal e eterno, ao lado do direito positivo.
Ex. cumprimento de obrigação natural.

Direito Subjetivo: Na conceituação de Miguel Reale, direito subjetivo, como espécie de


situação subjetiva, vem a ser “a possibilidade de exigir-se, de maneira garantida, aquilo
que as normas de direito atribuem a alguém como próprio”. É a facultas agendi, que se
traduz na faculdade individual de agir de acordo com o direito objetivo. Trata-se de
faculdade conferida ao indivíduo de invocar a norma a seu favor, ou seja, da faculdade de
agir sob a sombra da regra positiva/objetiva.

Teorias de Duguit e Hans Kelsen: integram as doutrinas negativistas que não admitem a
existência do direito subjetivo. Para eles, a obrigação jurídica é a própria norma jurídica e
o direito subjetivo o próprio direito objetivo.

Doutrinas afirmativas: teoria da vontade; teoria do interesse; e teoria mista.

Teoria da vontade: o direito subjetivo constitui um poder da vontade (Windscheid);


Teoria do interesse: direito subjetivo é o interesse juridicamente protegido (Ihering); e
Teoria mista: conjuga o elemento vontade com o elemento interesse, definindo como o
interesse protegido que a vontade tem o poder de realizar (Jellinek).

Direito Público/Direito Privado: Direito público é o destinado a disciplinar os interesses


gerais da coletividade, tais como a organização do Estado (Dir. Constitucional), atividades
políticas, administrativas e financeiras (Dir. Administrativo), a repressão aos delitos (Dir.
Penal) etc. Correto é também dizer que direito público é o direito que regula as relações
do Estado com outro Estado, ou as do Estado com os cidadãos. Direito privado é o que
regula as relações entre os homens, tendo em vista o interesse particular dos indivíduos,
ou a ordem privada; é o que disciplina as relações entre os indivíduos, predominando o
interesse de ordem particular. O Direito privado se confunde com o Direito Civil, pois em
determinadas situações essas expressões se equivalem. Do Direito Civil destacou-se o
Direito Comercial em razão de oferecer características próprias; outro ramo que se
destacou foi o Direito do Trabalho. As normas de ordem pública são as cogentes, de
aplicação obrigatória; as de ordem privada são dispositivas, que vigoram enquanto a
vontade dos interessados não modificá-las.

Publicização ou constitucionalização do direito privado: na atualidade há um


movimento de renovação do direito, impregnado de essência antiindividualista, já que a
função do direito é atender e satisfazer primeiramente os interesses gerais da
coletividade. (Dir. família, dir. trabalho, contratual – art. 421/2). Fala-se, inclusive, na
extinção do direito privado e na permanência do direito público por sua influência
socializante.

Fontes do Código Civil: A fonte primordial e inspiradora de nosso direito civil é o direito
romano. Na fase do Brasil colonial estavam em vigor as Ordenações do Reino
(Afonsinas – Manoelinas – Filipinas). Após a Independência, entra em vigor a Lei de 20
de outubro de 1823, que determinou que continuasse a aplicar a legislação do Reino.
Vigorou essa legislação até sua revogação pelo artigo 1807 do Código Civil – Lei n.
3.071/1º/Jan./1916) Houve grande influência do Código de Napoleão (1804) e do Código
Alemão (1896 – pandectistas germânicos calcado na legislação latina – Pandectas ou
Digesto designa a coleção de fragmentos dos jurisconsultos romanos, incluídos no
Corpus Juris Civilis de Justiniano: compilação efetuada sob a supervisão de Triboniano,
que também participou na elaboração das Institutas).

Outras fontes:

a) 1858 - Consolidação das Leis Civis, de Teixeira de Freitas;


b) 1865 – “Esboço” – de Teixeira de Freitas (- CF de 1824 / C. Civil argentino)
c) Nova Consolidação das Leis Civis, de Carlos de Carvalho (Bruxelas, 1899; publicada
no Porto, em 1915);
d) Projeto de Lei de Coelho Rodrigues
e) Projeto de Lei (Clóvis Beviláqua), de 1899 - transformado na Lei n. 3.071/16.
f) Projeto de Lei n. 634/75 (Miguel Reale); 634/B e 118/94: Lei n. 10.406/02.

CÓDIGO CIVIL – Lei n. 10.406/2002

Divisão

Parte Geral (Livro I – Das Pessoas)


(Livro II – Dos Bens)
(Livro III – Dos Fatos Jurídicos)

Parte Especial (Livro I – Do Direito das Obrigações)


(Livro II – Do Direito de Empresa)
(Livro III – Do Direito das Coisas)
(Livro IV – Do Direito de Família)
(Livro V – Do Direito das Sucessões)

Tentativas de Reforma: Primeira tentativa se deu na década de quarenta, pelo


Anteprojeto de Código de Obrigações, de juristas como Orozimbo Nonato, Philadelfho
Azevedo e outros. A Segunda tentativa se deu na década de sessenta com anteprojetos
dos civilistas Orlando Gomes e Caio Mário da Silva Pereira. Em 1975, após revisões e
emendas, foi apresentado o Projeto de Lei n. 634/75, elaborado por uma comissão de
juristas, entre eles, Agostinho de Arruda Alvim, com supervisão de Miguel Reale, procura
unificar parcialmente o direito privado, trazendo a primeira parte do Código Comercial.
Posteriormente tramitou no Senado Federal como Projeto de Lei n. 118/94, conforme
publicado no Diário do Congresso Nacional, sendo transformado na Lei n. 10.406/02.

Leis Esparsas modificadoras: Lei n. 883/49 – possibilitou o reconhecimento dos filhos


adulterinos; Lei n. 2.437/55 – modificou os prazos de prescrição; Lei n. 3.133/57 – alterou
o instituto da adoção; Lei n. 4.121/62 – Estatuto da Mulher Casada; Lei n. 6.515/73 – Lei
do Divórcio; Lei n. 8.971/94 e Lei n. 9.278/96 – Lei dos companheiros e conviventes etc.

Fontes do Direito: é a verificação sob o aspecto da origem criadora do Direito. Expressa


a Lei de Introdução ao Código Civil – Decreto-Lei n. 4.657/42, Art. 4º: serem fontes do
Direito a lei, a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito.
Sistemas Jurídicos: romano-germânico: com maciça supremacia do direito escrito; e o
sistema Common Law, dos países de língua inglesa, que é basicamente de direito não
escrito, fundado em normas costumeiras e precedentes jurisprudenciais.
Fontes históricas: são aquelas das quais se socorrem os estudiosos quando pretendem
investigar a origem histórica de um instituto jurídico ou de um sistema, tais como o
Digesto, as Institutas, as Ordenações do Reino etc.

Fontes atuais: são aquelas às quais nos reportamos para afirmar o nosso direito e o juiz,
para fundamentar a decisão.

Fontes formais (diretas, imediatas ou primárias): são aquelas que por si sós têm força
suficiente para gerar a regra jurídica; é o modo de expressão do Direito Positivo. Ex. lei e
costume. A lei é fonte formal principal e o costume fonte formal acessória

Fontes mediatas ou secundárias: são aquelas que não têm a mesma força que as
primeiras, mas servem para esclarecer o espírito dos aplicadores da lei e de precioso
substrato para a compreensão e aplicação global do Direito. Ex. a doutrina, a
jurisprudência, a analogia, os princípios gerais do Direito e a eqüidade.

Lei: podemos conceituar lei como uma regra geral de direito, abstrata e permanente,
dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho
obrigatório e de forma escrita.

Nota: é geral porque dirigida a todos indistintamente; abstrata porque regula uma
situação jurídica hipotética, que só atualiza quando o particular se submeter a sua
descrição; é permanente porque rege todos os casos a que se aplica, de maneira
indefinida, até ser revogada; dotada de sanção que é o elemento constrangedor, que
obriga seu cumprimento de maneira obrigatória; emanada de autoridade competente
porque advém da estrutura formal do Estado; é de forma escrita porque nosso
ordenamento assim a prevê (contrariamente ao sistema do Common Law).

Classificação das Leis: dentre as várias características que a lei possui, destacam-se:

1) Quanto à origem legislativa: são federais, estaduais ou municipais (hierarquia das


leis);

2) Quanto à duração: são temporárias e permanentes. Aquelas, constituindo a exceção


do ordenamento jurídico, já nascem com um tempo determinado de vigência, surgem
para atender a uma situação circunstancial ou de emergência (leis orçamentárias,
disposições transitórias); as permanentes, que fazem a regra, são editadas para
vigorar por tempo indeterminado, permanecendo no ordenamento jurídico até sua
revogação;

3) Quanto à amplitude ou ao alcance: são leis gerais, especiais e excepcionais. São


gerais aquelas que disciplinam um número indeterminado de indivíduos, atingindo uma
gama de situações genéricas (Código Civil); são especiais as leis que regulam
matérias com critérios particulares, específicos (Lei n. 8.245/91 – Lei do Inquilinato);
são consideradas excepcionais aquelas leis que regulam, por modo contrário ao
estabelecido na lei geral, fatos ou relações jurídicas que, por sua natureza, estariam
compreendidos nela (Atos Institucionais que contrariavam as garantias
constitucionais).
4) Quanto à força obrigatória (imperatividade): leis cogentes e dispositivas. São
cogentes as leis que se impõem por si mesmas, ficando excluído qualquer arbítrio ou
convenção individual (CC, art. 1.548), são equiparadas às leis de ordem pública; são
dispositivas, ou supletivas, aquelas normas colocadas à disposição do indivíduo e só
aplicadas supletivamente na ausência da vontade das partes (opção pelo regime de
bens, na falta da escolha, supletivamente a lei adota o regime da comunhão parcial)
(CC. 1.639 e 1.640);

5) Quanto à sanção: as leis podem ser perfeitas, mais que perfeitas, menos que perfeitas
e imperfeitas.

Perfeitas são aquelas cuja violação importa em sanção de nulidade, ou possibilidade de


anulação do ato praticado (Ex. negócio jurídico praticado por absolutamente incapaz);

Mais que perfeitas são as normas cuja violação dá margem a duas sanções: nulidade
do ato praticado somado à aplicação de uma pena ao infrator (casamento de pessoa já
casada, CC, art. 1.521, VI, pratica bigamia punida pelo artigo 235 do CP);

Menos que perfeitas as leis que trazem sanção incompleta ou inadequada, tais como a
aplicada ao viúvo que contrai novas núpcias antes de promovido o inventário:
obrigatoriamente se casará sob o regime da separação de bens (CC. art. 1.523, I, 1.641,
I);

Imperfeitas são as leis que prescrevem uma conduta sem impor uma sanção. Exemplo
disso é a prescrição de trinta dias de prazo, a contar da sucessão, para o início do
processo de inventário (CPC. Art. 983). Nota: leis estaduais prescrevem uma sanção –
multa. Também serve como exemplo o pagamento de dívida prescrita (o sistema jurídico
não fornece meios coercitivos para seu recebimento – CC, art. 814).

6) Quanto à natureza: as leis podem ser substantivas, também denominadas materiais,


são de fundo, porque tratam do direito material, ou adjetivas, também denominadas
processuais, traçam o meio de realização do direito.

7) Quanto à hierarquia: podem ser: a) constitucionais; b) leis complementares, aquelas


que se situam entre a norma constitucional e a lei ordinária e tratam de matéria especial;
c) leis ordinárias, as elaboradas para ter vigência geral, são elaboradas pelo Poder
Legislativo; d) leis delegadas, elaboradas pelo Poder Executivo, com autorização do
Legislativo, possuindo a mesma hierarquia das ordinárias.

Autorizamento: (coação): segundo Goffredo da Silva Telles, é o fato de ser autorizante


que distingue a lei das demais normas éticas, é essa característica que legitima o lesado
a exercer a faculdade da coação legal através da exigência da reparação do dano, já as
normas morais não possuem esse autorizamento.

Costume: é o uso reiterado de uma conduta levado a efeito por uma coletividade, é
aquela prática constante e habitual que brota espontaneamente do meio social e acaba
por se tornar obrigatório. Sua formação é paulatina e quase imperceptível, mas num dado
momento sua observância é obrigatória. Seu papel de fonte criadora do Direito foi mais
intenso nos sistemas jurídicos da Antigüidade; hoje são mais observados nos sistemas do
Common Law. O costume circunda a lei e não pode contrariá-la.

Diferenças entre o costume e o uso: note-se que nem todo uso é costume; costume é
um uso juridicamente considerado. Para que assim seja, são necessárias algumas
características: tem que ser geral (disseminado no meio social), que tenha certo lapso de
tempo (há de ser um hábito arraigado), ser constante (repetitivo na sociedade).

Requisitos necessários: de ordem objetiva (o próprio uso, palpável, exteriorizado e


percebido pelos sentidos), e de ordem subjetiva (consciência coletiva da obrigatoriedade
de sua prática).
Costume secundum legem, praeter legem e contra legem: no primeiro caso, o
costume já foi erigido em lei, portanto perdeu a característica de costume propriamente
dito; no segundo caso, coincide com aquele referido no artigo 4º da lei de Introdução, isto
é, aquele que serve para preencher eventuais lacunas da lei como recurso que se serve o
julgador ao pronunciar a sentença quando a lei for omissa; o costume contra legem é
aquele que se opõe ao dispositivo de lei, denominando-se costume ab-rogatório, ou
quando torna uma lei não utilizada, denominando-se desuso.

Nota: Pode ser admitido o costume contra a lei? Interpretação do disposto no artigo 5º da
Lei de Introdução (fazer a leitura e problematizar).

Doutrina: a doutrina é o fruto do trabalho concebido pelos juristas, pelos estudiosos do


Direito dentro do campo técnico, científico e filosófico. O valor da obra jurídica funda-se no
fato de não ficar na repetição de conceitos ou permanecer na estratificação do sistema,
mas sim em buscar soluções, avaliar o direito comparado, criticar a injustiça e lacunas da
lei (M. H. Diniz). É pela doutrina que se forjam o vocabulário e os conceitos jurídicos,
importantíssimos para a exata compreensão da ciência.

Jurisprudência: atualmente é aplicado o nome jurisprudência ao conjunto de decisões


dos tribunais, ou a uma série de decisões similares sobre uma mesma matéria. No Direito
antigo, significava a “sabedoria dos prudentes”, ou seja, dos “sábios do direito”. Também
teve por significação a própria “ciência do Direito”, termo que ainda se encontra
empregado nesse sentido na modernidade. É o Direito “ao vivo”, no seu dia-a-dia. Os
julgados não possuem força vinculante, mas é inegável que influi nas demais decisões
vindouras sobre o mesmo caso, principalmente a publicação periódica das Súmulas de
jurisprudência dos tribunais. A importância dessa fonte está em que as leis envelhecem e
levam tempo para modificar-se; a jurisprudência atualiza a interpretação dessas leis
(união estável). Há inúmeros repertórios jurisprudenciais publicados em revistas, tais
como Revista dos Tribunais, Revista Forense, Revista Trimestral de Jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça etc.

Analogia: Na aplicação do Direito, o juiz não poderá se escusar desta aplicação alegando
inexistir lei determinada a aplicar, deve buscar soluções nas demais fontes do Direito. A
analogia é um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a
casos não diretamente compreendidos na descrição legal, isto é, transporta para o caso
concreto, semelhante àquela hipótese da lei, mas não igual, a mesma aplicação desta.
Pode ser analogia legal: o aplicador do Direito busca uma norma que se aplique a casos
semelhantes. Ex. contrato de leasing (locação com opção de compra), que em caso de
omissão da lei pode aplicar os princípios da compra e venda e da locação; e analogia
jurídica: quando não havendo uma norma semelhante a aplicar, busca no trabalho de
interpretação, um raciocínio mais profundo e complexo, extrair do pensamento dominante
um conjunto de situações que possa aplicar.

Princípios gerais de direito: por este princípio, o intérprete investiga o pensamento mais
alto da cultura jurídica universal, buscando uma orientação geral do pensamento jurídico.
Enfocados nos brocardos de Ulpiniano, a idéia global desses princípios funda-se na
honeste vivere, neminem laedere, suum cuique tribuere: viver honestamente, não lesar a
ninguém e dar a cada um aquilo que é seu.

Princípio: violar um princípio constitui maior ofensa ao ordenamento jurídico de uma


nação do que violar ou transgredir uma norma legal. Postulando a importância do
princípio podemos citar lição de Bandeira de Melo:” Violar um princípio é muito mais
grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a
um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos. É a mais
grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio
atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia (injúria, insulto) irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão
de sua estrutura mestra”.

Eqüidade: é uma forma de manifestação de justiça que tem o condão de atenuar a


rudeza de uma regra jurídica no momento de sua aplicação ao caso concreto. É uma
posição filosófica e subjetiva em que cada julgador dará valoração própria, mas com a
mesma finalidade de abrandar o rigor da norma.

Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) – Decreto-Lei n. 4.657/42:

Tema central: a Lei de Introdução ao Código Civil cuida do estudo da própria lei, é
doutrinariamente denominada de “regra de sobredireito”.

Da vigência da lei: expressa o artigo 1º da Lei de Introdução que, salvo disposição em


contrário, a lei começa a vigorar em todo o território nacional quarenta e cinco dias após a
sua publicação. No entanto, a maioria das leis entram em vigor na data que vem prevista
em seu texto; normalmente coincide com a sua publicação. Quando a lei brasileira for
admitida no exterior (atribuições de ministros, embaixadores, cônsules, convenções de
direito internacional), a sua obrigatoriedade se dará após três meses de sua publicação.
Os decretos e regulamentos não estão sob a regra desse prazo, pois sua obrigatoriedade
é determinada publicação oficial.

Fases da lei: são três as fases porque passam as leis até a sua obrigatoriedade:
elaboração – estudos e discussões iniciais até a votação do Projeto; a promulgação –
que é o ato pelo qual o Presidente sanciona a lei já votada e remetida a seu exame (pode
ser vetada e passar novamente pela votação no Congresso); publicação – após a
sanção da lei, esta será publicada à Nação, momento em que tem início o prazo para
entrar em vigor e se tornar obrigatória a todos.

Do conhecimento da lei: a ninguém é dado escusar-se do cumprimento à lei alegando


ignorá-la (Art. 3º LICC). “nemo ius ignorare censetur”.

Vacatio legis: o intervalo – lapso temporal – havido entre a publicação e a efetiva entrada
em vigor da lei denomina-se vacatio legis.

Da revogação da lei: pelo princípio da continuidade ou da permanência da lei, esta


nasce e tem vigência por prazo indeterminado, salvo aquelas temporárias que fazem a
exceção, tendo sua vigência até que outra a revogue ou modifique. Revogação, portanto,
é a supressão, a retirada da força obrigatória, da eficácia da lei, que só pode ser feito por
outra lei. A revogação pode ser total e se tem a denominada ab-rogação, ou parcial, e
se tem a derrogação. A lei pode também perder sua eficácia por decretação de
inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, cabendo ao Senado suspender-lhe
a execução.

Tipos de revogação: expressa ou tácita. Expressa quando a lei revogadora traz em seu
texto a declaração de que a lei anterior está revogada (ou parte dela); tácita quando
ocorrer de a nova lei não se referir à anterior mas com ela for incompatível ou for de forma
que regule inteiramente a matéria tratada na lei anterior. Ex. do primeiro caso: Lei n.
883/49, que revogou o artigo 358 do C. Civil (reconhecimento de filho adulterino)
(derrogação); exemplo do segundo caso temos a própria LICC que revogou a primeira (de
1916) sem a ela se referir.

Do efeito repristinatório da lei: a lei nova, revogadora da lei velha, uma vez sendo
também revogada ou perdendo sua eficácia por qualquer das formas previstas
(inconstitucional), não faz com que ressuscite, que seja restaurada a lei anterior, salvo
disposição expressa nesse sentido. Repristinação é, portanto, o efeito restaurador da lei
revogada quando revogada for a lei revogadora daquela. Ex. Lei n. 10.182, de 12 de
fevereiro de 2001, restaura os efeitos da lei n. 8.989/95, sobre IPI (imposto sobre produto
industrializado).

Da Obrigatoriedade da lei: a lei é uma ordem, um comando normativo dirigido à


vontade geral. Segundo o artigo 3º da LICC, ninguém se escusa de cumpri-la alegando
sua ignorância – “ignorantia legis neminem excusat”. O dispositivo legal visa a garantia
global da eficácia da ordem jurídica, que restaria comprometida sem o seu cumprimento.
Visa a segurança das próprias relações sociais.

Justificação do preceito: três teorias dividem a justificação: a) teoria da presunção legal:


prescreve que a lei, uma vez publicada, torna-se conhecida por todos; b) teoria da ficção:
pressupõe do conhecimento de todos a partir da publicação da lei; c) teoria da
necessidade social: é a mais aceita e sustenta que a lei, sendo obrigatória e geral, todos
devem cumpri-la não porque haja um conhecimento presumido ou ficto, mas por relevante
interesse público, ou seja, para seja possível a convivência social.

Da integração das normas: o direito, estaticamente considerado, pode conter falhas ou


lacunas; sob o aspecto dinâmico, da aplicação ao caso concreto, o próprio sistema prevê
mecanismos de integração das fontes para que nenhum caso fique sem solução. É a
plenitude lógica do sistema. Os meios colocados à disposição do aplicador do direito são
aqueles especificados no artigo 4º da LICC e 126 do CPC.

Da aplicação e interpretação das normas jurídicas: a norma jurídica é genérica, um


comando geral e abstrato que não se refere especificamente a nenhum caso concreto.
Quando o fato (ocorrência) se enquadra, se define no tipo legal (da norma), diz-se que
ocorreu o fenômeno da subsunção. O intermediário entre a norma e o fato é o magistrado.

Do silogismo interpretativo: a norma funciona como premissa maior, a hipótese sub


judice como premissa menor; a conclusão será a decisão. Exemplificar. Mas nem sempre
a clareza da lei está presente, há situações obscuras em que o intérprete deverá lançar
mão de um conjunto de situações para chegar à conclusão; essa operação intelectual que
busca clarear, precisar e verificar o alcance da norma chama-se interpretação. A ciência
que estuda a interpretação das leis denomina-se hermenêutica.

Fontes da interpretação: dependendo de onde promana a interpretação da lei, diz-se


que ela é autêntica, a que emana do próprio legislador, que declara o sentido da norma;
doutrinária, aquela exposta pelos juristas nos compêndios científico-literários; e
jurisprudencial, elaboradas nos tribunais através das decisões do Poder Judiciário.

Interpretação quanto ao meio: método tradicional, é aquele que busca conhecer qual a
intenção do legislador. Para descobrir qual a intenção do legislador recorre-se à
interpretação literal ou gramatical, que consiste no meticuloso exame e análise do texto
para ressaltar o sentido dado pelo legislador (análise semântica etc); à interpretação
lógica, que é o confronto da norma em análise com outras existentes no ordenamento
jurídico de forma a não permitir o conflito de regras apontadas para casos análogos; e
interpretação histórica, que consiste no exame dos trabalhos que precederam a
promulgação da lei (processo legislativo - discussões em plenário, anseios a que se
buscou atender, ideais, necessidades atuais etc.). A interpretação que busca a finalidade
da norma, qual o objeto a que se destina, chama-se interpretação teleológica ou
sociológica. É endereçada aos juizes no artigo 5º da LICC.

“In claris cessat interpretatio”: brocardo latino que diz que a norma, quando clara e
precisa, nada tem que ser interpretada. Na atualidade tal brocardo é visto com reservas.

Da eficácia da lei no tempo: segundo preceitos constitucionais expostos no artigo 5º,


XXXVI, bem como na LICC, artigo 6º, nossa legislação adotou o princípio da
retroatividade como regra e da irretroatividade como exceção. Tal tendência vem ao
encontro da moderna concepção exposta na Teoria de Gabba, para o qual deve-se
respeitar sempre o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido. Assim,
a retroatividade da lei, em nosso ordenamento, não vem proibida expressamente, tal fato
ocorre da exclusão de certos e determinados atos especiais acima previstos. (Da
interpretação poderá surgir os conflitos da lei no tempo).

Da retroatividade da lei: diz-se ser retroativa a lei nova posta em vigor que busca ter
eficácia sobre os efeitos de atos que tiveram seu nascimento antes da sua entrada em
vigor. A defesa de que a lei nova deve retroagir, resguardando aqueles atos
intransponíveis, é expressa nos argumentos de que a lei nova atende melhor os anseios e
interesses sociais (impedimento matrimonial etc). Ex. maioridade civil = 21 anos (CC. Art.
9º). Se diminuir p/ 18: aplica-se a nova; se aumentar para 24: respeita-se o direito
adquirido.

Critérios para solução: a) disposições transitórias – elaborados pelo legislador, no


próprio texto da lei, tem vigência temporária e visa evitar ou solucionar eventuais conflitos
do confronto das leis velha e nova; b) irretroatividade – é a não aplicação da lei nova às
situações anteriormente constituídas, objetivando assegurar a certeza, a segurança e a
estabilidade do ordenamento jurídico, preservando as situações consolidadas.

Da eficácia da lei no espaço: em razão da soberania estatal, poder maior exercido pelo
Estado politicamente organizado sobre seu território e seus habitantes, a norma tem
aplicação dentro dos limites de suas fronteiras. É a aplicação do princípio da
territorialidade, expresso no brocardo “leges non valent ultra territorium”. Contudo, isso já
não é mais absoluto.

A questão do intercâmbio, cosmopolitismo, globalização: dado o relacionamento


cada vez maior entre os indivíduos – pessoas físicas/jurídicas – de países diferentes, com
soberania própria, fez surgir outra realidade mundial que levou os Estados a permitirem
que leis estrangeiras possam ter vigência em seu território, sem comprometimento de sua
soberania nacional, admitindo a extraterritorialidade para regular situações entre
estrangeiros nesse território localizados. O sistema brasileiro é o da territorialidade
moderada.

Expressão “território nacional”: estende-se a expressão “território nacional” às


embaixadas, consulados, navios e barcos de guerra, onde quer que se encontrem, navios
mercantes, em águas territoriais ou em alto-mar, navios estrangeiros (menos de guerra)
em águas territoriais, e aeronaves no espaço aéreo do Estado.

Extraterritorialidade: é a norma de um estado aplicada em outro, segue princípios


estabelecidos em Tratados e Convenções internacionais e estipulam certos privilégios
pelos quais determinadas pessoas escapam à jurisdição do Estado em cujo território se
encontram, ficando adstritos à jurisdição de seu próprio país. Assim, a norma estrangeira
acaba por integrar momentaneamente o ordenamento jurídico nacional.

Estatuto pessoal: é a situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu país de
origem, baseado na lei da nacionalidade ou na lei do domicílio. É a norma de um Estado
que acompanha seu cidadão para regular seus direitos em outro país.

O Artigo 7º da LICC: (ler e comentar): por este artigo nota-se que as questões acerca do
estatuto social reger-se-á pelo critério do domicílio da pessoa, ao contrário da lei anterior
que se baseava no critério da nacionalidade.

Obs. mesmo no caso do critério do domicílio, há situações em que o juiz aplicará o direito
alienígena em vez do direito interno. Ex. brasileira + estrangeiro que reside em seu
próprio país, querem casar no Brasil, sendo que os dois possuem 18 anos de idade e a
lei do país de origem, onde é domiciliado, exige o consentimento dos pais para
casamento de menores de 22 anos (Argentina), ele terá que apresentar tal
consentimento no Brasil em razão da aplicação da lei do domicílio. Se o noivo for aqui
domiciliado não precisará da autorização. É a lex fori (lei do foro competente).

§ 1º: casamento no Brasil, ainda que os nubentes sejam estrangeiros, aplicar-se-á a lei
brasileira em relação aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração (CC.
art. 1.521, I a VIII). É a lex loci actus (lei do local do ato). Mas se os estrangeiros forem
domiciliados fora do Brasil e só se casarem aqui, aplicar-se-á a lei de seu país ou a de
seu domicílio.

§ 2º: pode o estrangeiro casar-se perante as autoridades diplomáticas ou consulares de


seu país, mas de ambos os cônjuges, sob a lei do país do celebrante. O mesmo se dá
com brasileiros que se casam fora do país (os dois).

O regime de bens será também aquele da lei do domicílio dos noivos; se domicílios
diversos, a lei do primeiro domicílio do casal (§ 4º).

O divórcio de brasileiros obtido no estrangeiro será reconhecido no Brasil, se observadas


as normas da Lei n. 6.515/77 e homologada a sentença pelo STF.

Art. 10: sucessão “causa mortis”: lei do domicílio do de cujus. A capacidade para suceder
será regulada pela lei de seu domicílio. A sucessão de bens de estrangeiros situados no
Brasil será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge e dos herdeiros, sempre
que for mais favorável que a lei do de cujus (redação do § 1º dada pela lei n. 9.047/95)

Art. 12: competência da autoridade judiciária em razão do domicílio ou da execução da


obrigação.

Art. 15: sentenças proferidas no estrangeiro para serem executadas no Brasil devem
preencher os requisitos do artigo (ler e comentar).

Pode ser aplicada a lex rei sitae (lei da localização dos bens) para qualificar os bens e
regular as suas relações (Art. 8º). Mas para qualificar e reger as obrigações aplica-se a lei
do lugar em que se constituírem essas obrigações. Também as provas de fatos ocorridos
no estrangeiro rege-se pela lei desse país.

Código de Bustamante: oriundo da Convenção de Havana, de 1928, contém regras de


direito internacional privado, ratificado pelo Brasil mas não observado integralmente.
Limites à extraterritorialidade da lei: sem eficácia no Brasil aquilo que ofender a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes (Art. 17).

Livro I – Das Pessoas


Título I – Das Pessoas Naturais
Capítulo I – Da Personalidade e da Capacidade

Art. 1º. Toda pessoa (homem) é capaz de direitos e deveres (obrigações) na ordem civil.

Pessoa moderna: capaz de direitos e contrair obrigações (deveres) – é a capacidade de


direito ou personalidade.

Medicina Legal: elemento determinante da individualidade de uma pessoa (Freud)

Filosofia: conjunto de qualidades

Pessoa: do latim persona – linguagem teatral na antigüidade romana = máscara

Personare: ecoar, fazer ressoar – a máscara era persona por ressoar a voz da pessoa.

Evolução: papel que cada ator representava - o próprio indivíduo (atualmente)

Escravos: Direito Romano – ausência de direitos – legislação protetora dos escravos =


animais.

Estrangeiros: Direito Romano = jus gentium comum aos diversos povos da antigüidade)
e não jus civile - não reconhecimento da titularidade de direitos – gozo de direitos
recíprocos.

Início e Fim da Pessoa Natural:

Capacidade de Direito (de aquisição ou de gozo, é a personalidade jurídica): nascimento


com vida, é inerente ao ser humano (art. 2º). Salvo o direito do nascituro: (formal)
implicações no nascimento. Ex. mãe grávida e pai morre.

Docimasia hidrostática de Galeno: exame do nascimento com vida / Sinais


inequívocos. Vitae Habilis : C. Civil Espanhol – 24 horas

Capacidade: é elemento da personalidade : aptidão para adquirir direitos e exercer –


por si ou por outrem – os atos da vida civil.

Nascituro: ser já concebido, mas que se encontra no ventre materno – cortar o cordão.
Pessoa Condicional: condição suspensiva para adquirir direitos = o nascimento com vida.
Antecipação da personalidade (Planiol).

Capacidade de Exercício / Fato: (legitimação) inibição da prática do ato por si. (Ex.
venda efetuada por menor). Também é denominada capacidade de ação.

Capacidade x legitimidade: toda pessoa é capaz, mas nem toda é legítima a praticar
qualquer ato; legitimação será a aptidão para a prática de determinado ato jurídico. Ex.
venda de ascendente a descendente (CC, art. 496).
A incapacidade de exercício/fato não suprime a capacidade de gozo, aquela é suprida
pela representação/assistência (CC, art. 166, I e 1.634, V).

Sentido Protetivo da Incapacidade: falta maturidade ao menor; tirocínio ao amental e


senso ao silvícola. Incapacidade é exceção da regra.

Incapacidade Absoluta / Relativa: Art. 3º / 4º : decorrem da


imaturidade ou da deficiência. A diferença entre as duas é de grau.

Art. 3º - Incapacidade Absoluta: (Proibição) A prática do ato jurídico é ato da vontade


humana que a lei empresta conseqüências (elemento substancial do ato jurídico). O
absolutamente incapaz não possui discernimento/maturidade para externar sua vontade e
por isso não pode praticar, por si, qualquer ato jurídico (representante).

Nulidade: Ato praticado diretamente por absolutamente incapaz – Art. 166, I (Não gera
efeito, não convalesce, não se ratifica).

Art. 3º, I - Menores de 16 anos: Impúberes – exíguo desenvolvimento mental,


imaturidade e reduzida adaptabilidade à vida social negocial – não por incapacidade de
procriar. Representados por pais, tutores ou curadores.

Inovação: Ordenações – varão –14 e mulher – 12 (base era a puberdade). A mulher


alcançaria a capacidade limitada antes do homem. (Hoje é idade núbil acima de 16 anos;
de 16 a 18 necessita consentimento).

Art. 3º, II – Enfermidade ou deficiência mental: insanidade mental (permanente e


duradoura), amentais, psicopatas - Todos aqueles que, por defeito psíquico, não
podem reger sua pessoa e seus bens.
Processo de interdição – Art. 1.177 do CPC. Registro no 1º Ofício da comarca. E os
atos praticados nos intervalos de lucidez? E antes da interdição? Boa-fé do contratante.
(Decreto n. 24.559/34 – Alterações –Perícia médica = classificação. Processo: curador
provisório do bens, até 2 anos – Interdição judicial considerado relativa ou
absolutamente incapaz). Afasia / Embriaguez e Toxicômanos (Decreto-lei 891/38 - Lei
6.368/76) relativa ou absolutamente (Art. 30, par. 5º decreto). Sentença de natureza
declaratória.

Art. 3º, III – Causa transitória: independe da interdição (CC, art. 1.767, II), mas durante a
manifestação da causa (arteriosclerose, pressão arterial excessiva, embriaguez e
entorpecentes eventuais), seus atos civis são considerados nulos.
Art. 4º: Incapacidade Relativa: (Restrição) A lei já não despreza o ato de vontade do
relativamente incapaz, apenas requer a assistência na prática de atos jurídicos, nos quais
comparece pessoalmente juntamente com uma pessoa capaz (Art. 171, I).

Diferença: de grau ou de natureza: certos atos ou à maneira de os exercer

Anulabilidade: O ato jurídico praticado sem a assistência será apenas anulável – Art.
171,I CC.

Art. 4º, I - Maiores de 16 e menores de 18 anos: menores púberes, desenvolvimento


intelectual – discernimento pessoal. Atribui efeitos ao ato desde que submetido a certos
requisitos: assistência. Podem praticar alguns atos desacompanhados de seus
assistentes: aceitar mandato, testemunhar, fazer testamento.
Perda da proteção legal: CC, art. 180: Equiparação ao maior obrigando-se aos
resultados praticados dolosamente (ato ilícito).

Art. 4º, II – Ébrios habituais, viciados em tóxicos etc: Verificar arts. 1.772 e 1.782 CC.

Art. 4º, III – Os excepcionais...: Os surdos-mudos, que não possuem educação


adequada, enquadram-se neste inciso.

Art. 4º, IV - Os pródigos: Há no pródigo um desvio de personalidade e não um estado de


alienação mental. No Código Civil de 1916 só aplicava a tutela àquele que possuía
cônjuge, descendentes ou ascendentes, que podiam interditá-lo (CC/16, art. 460). Na
vigente lei civil tal dispositivo não veio repetido. A norma visa a salvaguarda dos
interesses patrimoniais destes e limitados aos atos negociais de seu patrimônio (CC,
art. 1.792).

Art. 4º, par. único - Silvícolas: direitos restritos até que não se adaptem à civilização. A
Lei n. 6.001/73 – Estatuto do Índio – é que regula seus direitos e a Funai – Fundação
Nacional do Índio – é quem exerce essa tutela, em nome da União. A Lei n. 6.015/73 –
Lei dos Registros Públicos – esclarece que o índio, enquanto não integrado na civilização,
não está obrigado ao registro de nascimento.

Proteção legal conferida aos incapazes:

Contra o absolutamente incapaz não corre prescrição (Art. 198, I); mútuo feito não
pode ser reavido (CC, art. 588), exceção (CC, art. 589); pode recobrar dívida de jogo
(CC, art. 814) (obrigações naturais).

Benefício da Restituição: (restitutio in integrum) prerrogativa concedida pelo direito


anterior (Ordenações) que facultava ao menor, lesado no negócio jurídico válido, de
pleitear a devolução do valor envolvido na transação. No direito atual inexiste.
Cessação da Incapacidade: Quando cessar a causa que a motivou.

Fim da Menoridade: CC, art. 5º => aos 18 anos de idade. (Se nascido em 29 de fevereiro
(ano bissexto) atinge a maioridade no dia 1º de março).

Emancipação: Há três espécies:

1) Voluntária: ato específico da vontade do titular do poder familiar (CC, arts. 5º, par.
único, I, e 1.630);

2) Judicial: requerida pelo menor ao juiz, ouvido seu tutor e posterior homologação
judicial (CC, art. 5º, par. único, I).

Critérios para a concessão: quando o menor contar com 16 anos completos.

Determinações legais: A emancipação é irrevogável e deve ser procedida por


escritura pública; essa forma é obrigatória. Proceder-se-á à inscrição em livro especial
no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil ou subdivisão judiciária da comarca, com
remissões no assento de nascimento (CC, art. 9º, I e Lei 6.015/73, art. 107). Antes do
registro a emancipação não produz efeitos (LRP, art. 91, par. único) Sentença: menor
sob tutela (Art. 1.103 e s. do CPC): liberdade do juiz na concessão.
3) Legal: decorre de fatos que se enquadram na determinação legal constante nos
incisos II a V do parágrafo único do art. 5º do CC. Deflui de determinado
evento/ocorrência previsto em lei, tais como:

a) Casamento (CC, art. 5º, par. único, II): situação irreversível


(separação, viuvez etc.) Exceção: casamento nulo ou anulado.
Nota: o casamento putativo (aparência de verdadeiro, de boa-
fé) mantém a emancipação.
b) emprego público efetivo (CC, art. 5º, par. único, III):
maturidade para o serviço público. Vicente Ráo – status de
servidor público;
c) colação de grau superior (CC, art. 5º, IV): maturidade da
pessoa.
d) estabelecimento civil/comercial c/ economia própria (CC,
art. 5º, V): maturidade adequada, discernimento,
desenvolvimento mental.

Registro: na emancipação legal os efeitos ocorrem desde a ocorrência do fato,


desnecessário o registro.

Fim (extinção) da personalidade jurídica: o morto (não é ninguém – não é sujeito de


direitos/obrigações). Mors omnia solvit : a morte extingue tudo.

1) Morte Civil: Na Antigüidade: status libertatis – perdia o status de pessoa (escravos)


Ficta mors – morte civil : condenados à pena perpétua /
religiosos professos.

Código Civil : Art. 1.814 e 1.816 – exclusão da herança por indignidade – como se
morto fosse.

Decreto-lei nº 3.088, de 10/Fev/1941: militar indigno c/ o oficialato – percepção das


pensões pela família como se houvesse falecido (Decreto-lei 9698/46 – art. 111)

2) Morte Real: CC, art. 6º (leitura): prova-se o fato pela certidão de óbito ou pela
justificação (morte presumida – art. 7º).

Comoriência (morte simultânea) CC, art. 8º: comorientes são pessoas que falecem na
mesma ocasião, sem que se possa determinar qual morreu antes (exame pericial).

Conseqüências: direito das sucessões - na comoriência não estabelece relação


jurídica entre eles (ex. pai e filho).

3) Morte presumida: CC, art. 7º.

DA AUSÊNCIA - CC, arts 22 a 39

Conceito: entende-se por ausente a pessoa que desaparece de seu domicílio sem deixar
notícia ou representante e ninguém souber de seu paradeiro (art. 22).

Proteção da lei: a lei busca, nesse caso, proteger o patrimônio do ausente;


primeiramente assegurando o próprio interesse, depois o interesse dos herdeiros e
mesmo, em terceiro, da sociedade.
Fases da declaração de ausência: 1) curadoria do ausente; 2) sucessão provisória; 3)
sucessão definitiva.

1) Da curadoria do ausente: tendo havido o desaparecimento, nos moldes do art. 22 CC,


o juiz nomeará um curador que administrará os bens com o propósito de preservar-lhes.
Pode pleitear a nomeação ao juiz qualquer interessado ou o Ministério Público.

Quem pode ser curador: cônjuge, desde que não separado legalmente; companheiro(a);
pai, mãe ou descendentes. Na falta deles, o juiz escolherá o curador (art. 25).

Procedimento da fase: empossado o curador e arrecadados os bens, o juiz ordenará a


publicação de editais durante um ano, reproduzidos a cada dois meses, convocando o
ausente a comparecer. No fim do prazo de um ano, contado a partir da última
publicação, não tendo aparecido o ausente, o juiz, a requerimento do interessado,
permite a abertura da sucessão provisória. Nota: CPC, art. 1.163 – prazo de 1 ano a
contar do 1º edital.

2) Da Sucessão provisória: nesta fase passa a lei a tutelar também os interesses dos
herdeiros, entendendo que provavelmente morreu o ausente. A sucessão provisória,
então, levará em conta uma situação fática presumindo que tenha falecido o ausente.

Pessoas legitimadas à sucessão provisória: são aquelas apontadas pelo art. 25: a)
cônjuge não separado judicialmente; b) companheiro ou companheira, na vigência da
união estável.

Direitos assegurados ao ausente: CC, art. 28: a) a sentença que determina a abertura
da sucessão provisória só produzirá efeitos seis meses depois de publicada na
imprensa; b) proceder-se-á à partilha dos bens com o deferimento da imissão na posse,
mas os herdeiros darão garantias da sua restituição por penhor ou hipoteca; c) fica
proibida a alienação dos bens recebidos, a não ser em caso de ordem judicial,
desapropriação ou ruína; d) as rendas produzidas pelos bens do ausente pertencerão
integralmente aos herdeiros necessários, cônjuge ou companheiro, mas aos demais
herdeiros só caberá metade da renda e a outra metade será poupada.

3) Da Sucessão Definitiva: após dez anos da abertura da sucessão provisória ou cinco


anos, se o ausente já conta com 80 anos de idade, sem que haja qualquer notícia do
ausente, a probabilidade de sua morte é maior. Assim sendo, passa-se à sucessão
definitiva levantando as cauções prestadas pelos herdeiros e as demais limitações a
eles impostas.

Retorno do ausente: se, depois de passada à sucessão definitiva, o ausente retorna, seu
direito será retomar seus bens no estado em que se encontrarem. Se uns entraram em
lugar de outros, ele os recebe pela ocorrência da sub-rogação real (art. 39).

Morte presumida do ausente e limites para efeitos matrimoniais:

Na vigência do art. 315 da lei n. 3.071/16, previa-se que o casamento só se dissolvia com
a morte de um dos cônjuges, não se aplicando ao caso as hipóteses de morte
presumida de conformidade com o art. 10 (481/2) CC. Assim, o cônjuge do ausente não
estaria desimpedido para novo casamento.

Alteração constitucional: o art. 226, § 6º, possibilitou o divórcio direto após a separação
de fato por dois anos. Pode, assim, após dois anos do desaparecimento do ausente, o
cônjuge requerer o divórcio e contrair novas núpcias.
Vigência na Lei n. 10.406/02: o art. 1.571, I, CC prevê o término da sociedade conjugal
pela morte, acrescentando em seu § 1º a aplicação da presunção da morte do ausente.
Assim, basta a ocorrência da ausência, nos moldes estudados, para pôr termo ao
casamento.

DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE (CC, Arts. 11/21)

Introdução: Direitos Subjetivos do homem - Destacam-se 2 espécies

Espécies: 1) destacáveis da pessoa titular = dir. crédito / propriedade / posse

2) inerentes à pessoa titular, ligados para sempre = vida / liberdade /


honra / imagem / corpo

ESTES ÚLTIMOS SÃO OS CHAMADOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Inerentes à pessoa humana – saem da esfera patrimonial e são : inalienáveis /


intransmissíveis / imprescritíveis / irrenunciáveis.

Preocupação da pessoa humana : contra as agressões do Poder Público – Declaração


dos Direitos do Homem (1789) e Nações Unidas de 1948 (mesmo texto).

ANSEIOS DE PRESERVAR A VIDA, A LIBERDADE E DIGNIDADE HUMANA = Campo


de Direito Público. “São direitos subjetivos da pessoa de defender sua integridade
física, sua integridade intelectual e sua integridade moral” (M.H.D)

Código de Napoleão: 191 artigos aos regimes matrimoniais;


20 aos muros e fossas divisórias;
Nenhum sobre defesa do nome

Acórdão Lecocq – 22/junho/1902 = “a faculdade inerente a sua própria personalidade.”


(A Corte de Cassação francesa reconheceu o direito do autor de uma obra literária ou
artística o direito de dispor dela, modificá-la como bem lhe aprouver).

Código Italiano de 1942 : primeira disciplina legal dos direitos da personalidade.

Fundamentos dos Dir. Personalidade = Art. 5º, X, da CF/ Arts. 11/21 CC

Da Proteção aos Dir. Personalidade: CC, art. 12 e jurisprudência brasileira (dir.


alienígena) = meios de fazer cessar a ameaça ou lesão; direito de exigir reparação.
Pede-se a cessação do dano e sua reparação: cumulação de pedidos.

Forma de exercício: declaração judicial (dir. francês = seqüestro de publicações)

Atos de disposição do próprio corpo:

Permissivo: por exceção é permitido pelo art. 13 CC – salvo exigência médica

Lei nº 9.434, de 4/Fev/1997 (alterada pela Lei n. 10.211/01): disciplina os transplantes


(Revogou disposições da lei nº 8.501/92 e Decreto 879/93 e sofre alterações trazidas pelo
código civil em vigor). O art. 199, § 4º, CF, veda expressamente a comercialização de
órgãos do corpo humano.

Operações Transexuais:

Condenação de cirurgião, em primeira instância : Provocou Projeto de lei nº 1.909-A, de


1979, acrescentava o parágrafo 9º no artigo 129 do Código Penal (p. 90).

Inseminação Artificial:

Código de Ética Médica – Art. 53 : Inseminação homóloga (do marido).


Inseminação heteróloga (impotência generandi).

Problemas: presunção pater is est quem justae nuptiae demonstrant (CC, art. 1.601)
filho havido da mulher casada: legítimo ou adulterino (CC, art. 1.608).

Após a morte: se tiver por objetivo fins científicos ou altruísticos.

Do Tratamento Médico:

Art. 15 do Código Civil: prerrogativa de recusar a submeter-se a um tratamento


perigoso. (E quando está inconsciente? Família : pietatis causa).

Individualização da Pessoa Natural:

Nome (CC, art. 16)  Conceito: é o sinal exterior pelo qual se designa, se identifica e se
reconhece uma pessoa no seio familiar e na comunidade. Serve durante a vida e após a
morte.
Pseudônimo: CC, art. 19 => recebe a mesma proteção que o nome

Aspectos: aspecto individual (privado) = CC, art. 16/17); aspecto público = LRP, arts.
56 a 58 e CC, arts. 16 a 19.

Natureza Jurídica: (CC, art. 11) => direito da personalidade, exercitável erga omnes e
cujo objeto é inestimável. (Limongi França, Ferrara e Ruggiero).

Elementos do nome: O nome possui duas partes essenciais e uma circunstancial:

1) Sobrenome: (apelido de família/patronímico familiar) - é essencial e representa uma


herança que se transmite de pai a filho, indica a filiação, a estirpe. Pode ser o do pai, o da
mãe ou de ambos.

É adquirido pela mulher ou pelo marido através do casamento (escolha) – CC, art. 1.565,
§ 1º.

Adquire-se pela adoção: CC, art. 1.627, art. 47, § 5º ECA (o nome completo)

Reconhecimento de filhos havidos fora do casamento: CC, art. 1.609

Nota: pelo art. 56 da lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) é imutável.

2) Prenome - essencial à pessoa, é atribuído por ocasião de seu assento de


nascimento. Segundo o art. 58 da Lei nº 6.015/73, com redação da Lei n. 9.708/98, é
imutável. Pode ser escolhido livremente pelos pais, desde que não exponha o filho ao
ridículo (LRP, art. 55).

3) agnome (circunstancial): é o sinal que distingue pessoas da mesma família, tais como:
Sobrinho, Júnior, Neto.

Nota: axiônimo (circunstancial): é a designação que se dá à forma cortês de tratamento.


Ex. Sr., Dr etc.

NOTA: A imutabilidade é a regra; a mutabilidade a exceção. Portanto, a imutabilidade


não é absoluta.

Mutabilidade: o art. 58 da Lei dos Registros Públicos (com redação da Lei n. 9.708/98)
dispõe que o prenome é definitivo, admitindo a substituição por "apelidos públicos
notórios" Também permite a modificação por:

a) retificação em caso de erro gráfico evidente (110 da LRP);


b) mudança em caso de exposição ao ridículo (arts 55, par. único e. 109 LRP);
c) tradução de nomes estrangeiros (jurisprudência);
d) mudança pelo prenome de uso (jurisprudência – RT, 537:75);
e) no primeiro ano após a maioridade civil, não o patronímico (art. 56 e 110 LRP);
f) por ameaça ou coação decorrente de colaboração na apuração de crime (Lei 9.807/99)

Nota: Em qualquer caso, requerimento ao juiz corregedor (Há entendimento divergente


que acata a alteração administrativa).

Prerrogativas do titular em reivindicá-lo: Investigação de paternidade; formas gerais de


negativa do nome ou seu mau uso (jornal etc).

Nota: em relação a filhos havidos fora do matrimônio, os arts. 59/60 da Lei Registros
públicos proíbe o lançamento do nome do pai na certidão de nascimento, sem expressa
autorização deste; a Lei n. 8.560/92 determina a obrigatoriedade do escrivão do registro
civil em remeter ao juiz os dados sobre o suposto pai.

HISTÓRICO: Entre os gregos: único e individual, não transmitia;

Hebreus: individualizados e conhecidos pelo nome do genitor – José


Bar-Jacó = José, filho de jacó.

Atualmente: árabes, russos, etc.

Estrangeiros: tradução ou adaptação do nome ao português (Lei nº 6.815/80, Art. 43, III
e 115)

DAS PESSOAS JURÍDICAS – CC, art. 40 s.

Propositura do tema: NÃO HÁ DIREITO SEM SUJEITO


LEI PROTEÇÃO AOS INTERSSES HUMANOS
REL. JURÍDICA: TITULAR DE DIREITO: HOMEM

Situação cotidiana: RELAÇÕES JURÍDICAS SEM A PARTICIPAÇÃO DIRETA DO


HOMEM (suj. ativo/passivo = instituições)
Entes: CONSTITUÍDOS PELA UNIÃO DE INDIVÍDUOS

Personalidades jurídicas: DIVERSAS – NÃO SE CONFUNDEM

A Lei atribui personalidade: NOMEM JURIS : PESSOA JURÍDICA/MORAL/COLETIVA

Pessoas Jurídicas: ENTIDADES QUE A LEI EMPRESTA PERSONALIDADE.


SERES QUE ATUAM NA VIDA JURÍDICA.
PERSONALIDADE JURÍD. DIVERSA DOS INDIVÍDUOS.
CAPAZES DE SEREM SUJ. DIR/OBRIGAÇÕES CIVIL.

Escopo da lei: PROTEÇÃO AOS INTERESSES HUMANOS

Origem: SUPRIMENTO DA DEFICIÊNCIA HUMANA (empresa de vulto)


FINS: ECONÔMICOS / RECREATIVOS / CULTURAIS / RELIG.
FUNDACIONAIS

Natureza Jurídica: Há dois grupos: teorias da ficção e teorias da realidade.

Atos Constitutivos: associações (sem fins lucrativos) => estatuto; sociedades (simples
ou empresárias – antigas sociedades civis e comerciais) => contrato social; fundações
=> escritura pública ou testamento (CC, art. 62).

Registro (CC, art. 45): a) do contrato social da sociedade empresa: na Junta Comercial;
b) estatutos e atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito privado: Cartório
de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (CC, art. 1.150/ LRP, art. 114 s); c) sociedade
simples de advogados: na OAB (arts. 15/16 da Lei n. 8.906/94).

Autorização: além do registro, há pessoas jurídicas que necessitam de autorização do


Poder Executivo para funcionar (art. 45): seguradoras, instituições financeiras,
administradoras de consórcios etc.

Classificação das pessoas jurídicas: PELA ESTRUTURA OU ATUAÇÃO (CC, art. 44)

Pela estrutura: a) CORPORAÇÃO (UNIVERSITAS PERSONARUM): elemento


subjacente é o homem, se compõem pela reunião de pessoas –
associações e sociedades;

b) FUNDAÇÃO ( UNIVERSITAS BONORUM): elemento subjacente é


um patrimônio destinado a um fim certo – fundações.

Pela órbita de atuação: a) direito público externo (nações) / interno (União); b) direito
privado: corporações e fundações.

Distinção: 1) Corporações a) associações = sem fins lucrativos (CC, art. 57);


b) sociedades = agrupamento de pessoas c/ fins
lucrativos (simples (engenheiros)/empresárias). CC, art. 44, par. único, 967 e 982.
2) Fundações CC, art. 62: (públicas e particulares/fins externos)

Requisitos para existência legal: INSCRIÇÃO DO ATO CONSTITUTIVO NO


(Elemento jurídico/formal) REGISTRO PÚBLICO - art. 114 LRP/art. 45 CC.
AUTORIZAÇÃO PARA FUNCIONAR
Existência de fato: (elemento material - preexistente) - comparação com nascituro (CC,
art. 45). Representação da sociedade de fato: CPC, art. 12, VII.

Concepção ideal da pessoa jurídica: a) elemento material; b) formal/jurídico

Capacidade e Representação: Com o registro adquire personalidade, isto é, capacidade


para ser titular de direitos.

Vinculação obrigacional: O ato do representante vincula a pessoa jurídica enquanto


atuar dentro dos poderes conferidos.

Responsabilidade das pessoas jurídicas: órbita civil, contratual e extracontratual.

Responsabilidade: contratual: CC, art. 389 / extracontratual: CC, arts. 186 e 932, III.

Fases: 1) da irresponsabilidade; 2) civilista: teoria da culpa => ônus da prova cabia à


vítima (art. 15 CC/16): 2) publicista: teoria objetiva => cabe inversão do ônus se provar
culpa exclusiva da vítima ((CC, art. 43).

Desprezo da Personalidade Jurídica: “Disregard theory” ou “Disregard of the legal


entity” (Ocultar as pessoas dos sócios = holding – vantagens nos impostos, na
transmissão causa mortis) Abusos praticados.

QUANDO SE RECORRE À FICÇÃO DA PESSOA JURÍDICA PARA ENGANAR


CREDORES, FUGIR À INCIDÊNCIA DA LEI OU PARA PROTEGER ATO DESONESTO:
DEVE O JUIZ DESCONSIDERAR A PERSONALIDADE JURÍDICA PARA CONSIDERAR
SEUS COMPONENTES PESSOAS FÍSICAS – CC, ART. 50.

Em vigor: Código de Proteção e Defesa do Consumidor – lei 8.078/90, art. 28

Jurisprudência anterior: aplicação do art. 135 do CTN, por analogia.

Extinção das pessoas jurídicas: CC, art. 1.033 => a) convencional (deliberação dos
sócios; b) legal (motivo determinando por lei - art. 1.034); c) administrativa
(descumprimento obrigação imposta na autorização); d) natural (morte do sócio); e)
judicial (ingresso em juízo por algum sócio: balanço patromonial).

Destinação dos bens: pessoa jurídica com fins lucrativos/lucro = sócios – art. 61
sem fins lucrativos = estatutos / deliberação dos sócios /
estabelecimento público congênere / Faz. Pública – art. 61

Das Fundações: CC, art. 62.

Fundação é uma organização que gira em torno de um patrimônio. Este patrimônio


destina-se a certa finalidade determinada pelo instituidor.

Cumpridos certos requisitos, a lei atribui personalidade a esse acervo de bens =


capacidade para ser titular de direitos/obrigações.

Elementos de Constituição: patrimônio e fim. - substrato da idéia de fundação.

Instituidor - criador da fundação, pessoa que faz a dotação de bens livres e especifica a
finalidade a que se destina.
Formalização : escritura pública ou testamento.

Fases: 1) ato de dotação ou instituição (reserva de bens livres – art. 62); 2) elaboração
dos estatutos (direta ou própria / fiduciária) => CC, art. 65 e par. único; CPC, art. 1.202);
3) aprovação dos estatutos (encaminhados ao MP – CC, arts. 63, 65/67 e 69; LRP, art.
155; CPC art. 1.201 e 1.203); 4) registro (Registro Civil das Pessoas Jurídicas)

Promotoria de Justiça das Fundações: órgão do MP incumbido de fiscalizar as


fundações em SP.

Polêmica: patrimônio = bens – universitas bonorum; objeto e não sujeito de direito.


Visa o bem da pessoa natural.

No Brasil: forma solene p/ criação = escritura pública/testamento - fim destinado =>


acomodado à lei e à ordem social (CC, art. 62, par. único).

Uma vez destacado o patrimônio da fundação nem o instituidor pode revogar o ato
(CC, art. 64).

Inalienabilidade dos bens: relativa e não absoluta: necessidade comprovada, crivo do


MP e autorização judicial.

Modificação do estatuto: CC, art. 67 => condições:


a) deliberação da maioria dos
administradores;
b) respeito à finalidade original;
c) aprovação da autoridade competente.

Impugnação: dez dias (CC, art. 68; CPC, art. 1.203, par. único).

Lei n. 6.435/77: dispõe sobre as entidades de previdência privada, sob fiscalização do


Ministério da Previdência e Assistência Social. Nota: há controvérsias pois alguns
julgados entendem necessária a intervenção do MP nos feitos que as envolvem.

Extinção: a fundação terá sua extinção em decorrência de dois casos (CC, art. 69):

1) vencido o prazo de sua existência;


2) torna nociva (ilícita) ao interesse público, impossível ou inútil sua finalidade;

Patrimônio: terá o destino dado pelo instituidor, no ato constitutivo, ou na omissão, vai
para outra instituição de fins idênticos/semelhantes, cf. art. 69 CC. Nota: não havendo
outra com a mesma finalidade, aplica-se por analogia o art. 1.822 CC (bem vago
destinado ao Município, Distrito Federal ou União).

ROTEIRO DE AULAS DE DIR. CIVIL – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES


(Professor: Antonio Carlos)

INTRODUÇÃO: Divisão do direito: dois grandes ramos: direitos não patrimoniais, que
se referem à pessoa humana (à vida, à liberdade, à honra, ao nome etc.), e direitos
patrimoniais, de valor econômico, que se divide em direitos reais e obrigacionais.
Dir. reais: integram o Direito das Coisas, o direito mantém um vínculo direto entre o
sujeito ativo e a coisa, direta e imediatamente, prescindindo na existência do sujeito
passivo e conferindo ao titular o jus persequendi (dir. seqüela) e o jus praeferendi (dir. de
preferência), podendo ser exercido contra todos (erga omnes).

Dir. das Obrigações: obrigacionais, pessoais ou de crédito, que confere ao credor o


direito de exigir do devedor uma determinada prestação.

Princípios diferenciadores:

a) quanto ao objeto: os reais incidem sobre uma coisa, os pessoais exigem o


cumprimento de uma obrigação;

b) quanto ao sujeito: nos reais o sujeito passivo é indeterminado (erga onmes), nos
pessoais ou obrigacionais o sujeito é determinado ou determinável;

c) quanto à duração: os reais são perpétuos, não se extinguindo pelo não-uso, mas
somente nos casos expressos em lei (desapropriação, usucapião etc.), enquanto os
pessoais são transitórios e se extinguem pelo cumprimento da obrigação ou pela
prescrição/decadência;

d) quanto à formação: os reais só podem ser criados pela lei, tendo número limitado e
regulado por ela (numerus clausus) (CC art. 1.225), ao passo que os obrigacionais podem
resultar da vontade das partes , sendo ilimitado o número de contratos inominados
(numerus apertus);

e) quanto ao exercício: nos reais o exercício se dá diretamente sobre a coisa, sem


necessidade da existência de um sujeito passivo, enquanto o exercício dos direitos
pessoais exige uma figura passiva, intermediária, que é o devedor;

f) quanto à ação: o titular do direito real exerce seu direito de ação contra quem quer que
detenha a coisa, já o exercício da ação no direito pessoal deve ser dirigida somente
contra quem figura na relação jurídica como pólo passivo.

Introdução: A pessoa humana, ser essencialmente social, dependente das relações


sociais, conta com a cooperação dos outros homens para prover as suas necessidades. À
medida que evolui o meio social, multiplicam-se as necessidades humanas em razão do
reclamo de conforto pelo indivíduo (exemplo). Para satisfazer essas necessidades o
homem precisa partilhar as tarefas, dividir os trabalhos contando com a especialização de
cada um, cada vez mais exigida nessa evolução geral. A troca, a compra e venda,
depois outros contratos vieram possibilitar ao ser humano a obtenção de número cada
vez maior de utilidades. Essas convenções estabelecem um vínculo entre as partes, o
qual limita sua natural liberdade, obrigando-se a cumprir uma prestação (exemplo).

Estímulo/valor: para que nos sintamos impulsionados a contrair uma obrigação haverá
sempre um estímulo gerado por um valor. E ao mesmo tempo em que o estímulo nos
impulsiona a obter algo, leva-nos a limitar nossa liberdade (compra/pagamento). Do
equilíbrio entre o estímulo e a limitação psíquica que sofremos nasce a noção
essencial de obrigação (perfil do homem equilibrado).

Conceito: É o vínculo de direito pelo qual alguém (sujeito passivo) se propõe a dar,
fazer ou não fazer alguma coisa (objeto), em favor de outrem (sujeito ativo). Três são
os elementos essenciais que se extraem do conceito: vínculo jurídico, partes (elemento
subjetivo) e objeto da prestação (elemento objetivo).
Definição de Clóvis Beviláqua: “obrigação é a relação transitória de direito, que nos
constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, em regra economicamente apreciável,
em proveito de alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente
relacionado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou
emissão”.

Definição de Washington de Barros Monteiro: “obrigação é a relação jurídica, de


caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa
prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo,
garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”.

Conflito doutrinário: o elemento responsabilidade (integra ou não o âmago do conceito


do instituto?).

Nascimento/inadimplemento: a obrigação surge de várias fontes (da lei, do contrato


etc.), devendo ser cumprida livre e espontaneamente. Quando não cumprida, ocorre o
inadimplemento, o que faz surgir a responsabilidade.

Obrigação/responsabilidade: Não se confundem os dois institutos; a responsabilidade


só vai surgir se o devedor não cumprir sua obrigação. A responsabilidade é
conseqüência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional. Uma
pode existir sem a outra (malgrado divergências doutrinárias – W. B. Monteiro): As
dívidas prescritas e as de jogo (obrigações naturais) constituem exemplo de obrigação
sem responsabilidade, pois o devedor, nesses casos, não pode ser condenado a
cumprir a obrigação, isto é, não pode ser responsabilizado; já o caso do fiador, pode ser
utilizado como exemplo de responsabilidade sem obrigação, pois é responsável pelo
pagamento do débito somente na hipótese de descumprimento da obrigação assumida
pelo afiançado (locatário).

Elementos constitutivos da obrigação: as partes – sujeito ativo ou credor e sujeito


passivo ou devedor, o vínculo jurídico (relação jurídica) e o objeto.

1) Os sujeitos da obrigação (elemento subjetivo): tanto ativo como passivo pode ser
pessoa natural ou jurídica de qualquer natureza, inclusive as sociedades de fato. Há de
ser determinado ou determinável (Ex. doação ao melhor aluno). Se forem incapazes
serão representados ou assistidos.

2) O vínculo jurídico (relação jurídica): resulta de diversas fontes e sujeita o devedor a


determinada prestação em favor do credor que, se não cumprida, vem acompanhada de
uma sanção patrimonial (Ex. O Mercador de Veneza – W. Shakespeare – período das
legis actio: escravidão/venda/morte até o advento da Lex Poetelia, de 326 a.C.). É dividido
em débito (obrigação), chamado de vínculo espiritual ou pessoal, pois une o devedor
ao credor e exige que este cumpra pontualmente a obrigação assumida, e
responsabilidade, chamado vínculo material, que confere ao credor, não satisfeito, o
direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, submetendo à satisfação os
bens do devedor (CC. art. 391) (Teoria dualista).

débito/obrigação = vínculo espiritual ou pessoal


Vínculo jurídico responsabilidade = vínculo material

3) O objeto da obrigação (elemento objetivo): é sempre uma conduta humana (dar,


fazer ou não fazer) e chama-se prestação ou objeto imediato. Já o objeto mediato da
obrigação é o próprio objeto da prestação, que se descobre formulando a pergunta: dar,
fazer, ou não fazer o quê? O objeto da obrigação há de ser lícito (CC. art. 104),
possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica.

imediato = conduta humana da prestação (dar, fazer...)


Objeto da obrigação mediato = objeto da prestação ( o quê?)

Lícito: não contraria a lei, a moral e os bons costumes (CC. art. 104);

Possível: Nula será a obrigação se o objeto for ilícito ou impossível. A impossibilidade


pode ser física ou jurídica: será física quando ultrapassar as forças humanas; será
jurídica quando a prestação for proibida por lei, como a alienação de herança de pessoa
viva. Deve ser ainda real, não se tratando de mera dificuldade da prestação, e absoluta,
isto é, atingir a todos indistintamente.

física
Impossibilidade jurídica

Determinado ou determinável: CC. art. 243 – “a coisa incerta será indicada, ao menos,
pelo gênero e quantidade” (contrato de safra futura).

Economicamente apreciável: obrigações jurídicas, mas sem conteúdo patrimonial, como


o dever de fidelidade entre os cônjuges e outros do direito de família, são excluídas das
obrigações.

Obrigações naturais: vimos que a estrutura da obrigação apresenta-se sob dois


aspectos principais: o débito, ou obrigação, e a responsabilidade, isto é, caracterizado o
débito (obrigação) e deixando o devedor de cumpri-lo, surge o dever de responsabilidade
patrimonial. Assim, coloca a legislação à disposição do credor os meios necessários para
exigir do devedor a garantia patrimonial face ao inadimplemento obrigacional. Esta é a
chamada obrigação perfeita ou civil. Já as obrigações naturais são obrigações
incompletas, pois apresentam características de não serem judicialmente exigíveis,
mas uma vez cumpridas espontaneamente pelo devedor, o pagamento será tido por
válido e o devedor, que pagou, não poderá repeti-lo. Há, na obrigação natural, uma
inspiração moral, embora não se reduza à moral, que é dever de consciência. Ex. dívidas
de jogo ou aposta (CC. art. 814). Exceção: dolo, perdida por menor ou interdito. Dívida
prescrita, gorjetas, corretagens etc.

Distinção entre obrigação natural e obrigação civil: na obrigação natural não existe o
poder coativo imposto na obrigação civil, mas cumprida espontaneamente aquela, não
há mecanismo para a repetição.
Obrigações reais propter rem (em razão de, por causa de): Há situações nas quais o
proprietário ou possuidor é por vezes sujeito de obrigações apenas porque é proprietário
ou possuidor e qualquer pessoa que o suceda assumirá essa obrigação. Contudo, o
proprietário poderá liberar-se da obrigação se se despir da condição de proprietário
(venda do bem). Embora ligadas à coisa, essas obrigações não se desvinculam
totalmente do direito pessoal e de seus princípios. O elemento obrigacional é fornecido
pelo conteúdo dessa obrigação, enquanto que o elemento real se realça na vinculação
do proprietário como sujeito passivo da obrigação. Trata-se, no caso, de obrigações
relacionadas com a coisa (res), sendo um acessório do direito real cuja execução
prende-se ao aspecto obrigacional. É o que a doutrina chama de obrigação real, uma
particularização do princípio erga omnes do direito real. Ex. direito de vizinhança –
construção e conservação do muro limítrofe, pagamento do condomínio etc. Assim, a
pessoa do devedor, nesse tipo de obrigação, poderá variar de acordo com a variação da
propriedade ou da posse sobre a coisa (ônus sobre veículo).
Ônus Reais: É qualquer gravame que recai sobre uma coisa, restringindo o direito do
titular de direito real. Difere da obrigação real porque naquele a responsabilidade é
limitada ao bem onerado, ao valor deste, desaparecendo o objeto, desaparece o ônus;
enquanto na obrigação real (propter rem) o devedor responde com seu patrimônio em
geral, sem limite; mesmo desaparecendo a coisa, a obrigação permanece. Outro fator
diferenciador é que o ônus real se apresenta sempre como obrigação positiva, enquanto
a obrigação real pode surgir como obrigação negativa.

Obrigações com Eficácia Real: O direito real só pode ser criado pela lei; nossa
legislação, no entanto, traz exemplos de relações contratuais que podem ser registradas
no cartório imobiliário, ganhando eficácia que transcende o direito pessoal. Assim por
exemplo, o contrato de locação registrado (Art. 33 da Lei n. 8.245/91) que permite o
locatário a oposição à terceiro na preferência na aquisição. O compromisso de compra e
venda registrado carrega os mesmos benefícios, dispondo ao seu titular o direito de
requerer adjudicação compulsória.

Obrigações de meio e de resultado ou fim: são de meio as obrigações que o devedor


cumpre integralmente quando presta seus serviços com diligência e escrupulosamente,
independentemente do resultado final. Ex. médico, advogado etc. São de resultado ou de
fim as obrigações assumidas com garantia do resultado contratado. Ex.

Obrigações com cláusula penal: (moratória / compensatória) diz respeito à multa, à


pena, à cominação, tem natureza acessória acompanhando sempre um contrato principal.
No contrato de locação, quem descumprir o contrato arcará com o pagamento de multa.

Obrigações civis e naturais: a primeira resulta do Direito Civil e está estruturada de tal
forma que o credor tem a seu dispor os meios necessários para exigir o cumprimento da
obrigação que pode, em última instância, resolver-se em perdas e danos; a segunda
resulta do Direito Natural e navega no âmbito moral, ficando ao devedor a possibilidade
de realizá-la espontaneamente. O credor não dispõe de meios para exigir seu
cumprimento em caso de inadimplência, permanecendo no nível da consciência, um
dever moral. Ex. pagamento de dívida de jogo – CC, art. 814., pagamento de dívida
prescrita – CC, art. 882. (soluti retenti = retenção do pagamento)

Fontes das Obrigações: Fonte da obrigação é o seu elemento gerador, são aqueles atos
ou fatos que lhe deu origem, de acordo com as regras de direito. Buscar a fonte da
obrigação é descobrir as razões pelas quais alguém se torna credor ou devedor de
outrem. Já no direito romano buscava-se essa indagação e a resposta era obtida nas
Institutas, de Gaio, na qual o jurisconsulto afirma que a obrigação surge do delito ou do
contrato. Nas Institutas, de Justiniano, vêm enumeradas quatro fontes das obrigações: o
contrato, o delito, o quase-contrato e o quase-delito.

Contrato: é fonte de obrigação porque pactua a avença entre as partes e faz gerar um
liame (vínculo) entre elas de modo que uma ou ambas se comprometem a realizar uma
prestação. Ex. Compra e venda – entrega da coisa e pagamento do preço.

Delito: é fonte da obrigação porque o sujeito que intencionalmente causa dano a outra
fica obrigado a repará-lo. Ex. roubo, a injúria.

Quase-contrato: é figura que surge para justificar o aparecimento de obrigações


advindas de atos humanos lícitos, que não provém de acordo de vontade, mas que
representa um procedimento em muito parecido com a relação convencional. Ex. gestão
de negócio (CC, art. 861 s.) Ex. alguém sem procuração assume a defesa de um
interesse alheio – companheiro de viagem; ou a repetição do indébito (CC, art. 876). Ex.
alguém efetua um pagamento por engano: pode requerer de volta. A relação entre o
solvens (quem pagou) e o accipiens (quem recebeu) não é de ordem contratual, mas se
assemelha a um contrato de mútuo.

Quase-delito: é o ato que se aproxima do delito, mas se diferencia pelo idéia de intenção,
pois no delito há a figura do dolo (vontade, desejo), enquanto que no quase-delito o
procedimento nascerá da culpa (imprudência, imperícia, negligência). Ex. pedra pela
janela em direção à rua.

A lei: Para Pothier, além das fontes indicadas por Justiniano, adiciona-se a lei, manancial
de obrigações.

Nota: a gestão de negócios passou a ser ato unilateral, o delito e o quase-delito


denominam-se atualmente de atos ilícitos (CC, art. 927).

Código Civil: para a legislação civil pátria, três são as fontes das obrigações: o contrato,
a declaração unilateral da vontade e o ato ilícito.

Parecer de S. Rodrigues: a) obrigações que têm por fonte imediata a vontade humana:
são aquelas que provém do contrato e as que decorrem da manifestação unilateral da
vontade (promessa de recompensa); b) obrigações que têm por fonte imediata o ato
ilícito: são aquelas que se constituem através da ação ou omissão culposa ou dolosa do
agente, causando dano à vítima; c) obrigações que têm por fonte direta a lei: tais são
aquelas previstas em lei, tais como a obrigação de prestar alimentos ou as que advêm da
necessidade de reparar o prejuízo causado, em caso de responsabilidade fixada pela
teoria do risco (dano em viagem, etc.).

Síntese de fonte das obrigações: a obrigação resulta da vontade do Estado, por


intermédio da lei, ou da vontade humana, manifestada no contrato, na declaração
unilateral ou na prática de um ato ilícito. (A lei sempre será fonte; imediata ou mediata).

Modalidades das Obrigações:

1) Quanto ao objeto: prestação de dar (coisa certa ou incerta); prestação de fazer e;


prestação de não fazer. Duas são positivas (de dar e de fazer) e uma é negativa (não
fazer).

Das obrigações de dar: CC, art. 233 s. (obligationes dandi) consiste na efetiva entrega
(tradição/transcrição) de alguma coisa pelo devedor ao credor. Pode adquirir os aspectos
de entrega de coisa certa ou coisa incerta. Naquela, há um vínculo jurídico entre as
partes em que um se compromete a entregar um objeto (coisa) previamente
individualizado e caracterizado, como uma jóia, um animal específico, uma peça de
mobiliário etc. A expectativa do credor é obter aquilo que o agrada por suas qualidades
intrínsecas (CC. art. 313); nesta, basta a especificação do gênero e quantidade. Ex. 20
sacas de feijão, um caminhão de laranja etc.

Nota: o artigo 461-A do CPC permite a execução específica da obrigação, antes de cair
na vala comum das perdas e danos.

Obrigação de dar / obrigação de restituir: a diferença está em que na obrigação de dar,


o credor não é o dono da coisa; na de restituir, o credor é o dono da coisa (depositário,
comodatário). Se a coisa se deteriorar sem culpa do devedor, o credor receberá esta
da forma em que se encontrar, sem direito à indenização, se a coisa se perder nessas
condições, arcará com os prejuízos; havendo culpa do devedor esta se resolverá em
perdas e danos. Da mesma forma, caso o bem se valorize nas mãos do devedor, sem
que este tenha tido despesa ou trabalho para isso, o credor receberá o bem valorizado
sem pagar qualquer indenização. (Vide artigos 238/241CC). Havendo despesas se
resolverá pelos critérios da boa e má-fé (arts. 1.214 a 1.216).

Obrigação de dar coisa certa: na obrigação de dar coisa certa o bem deverá estar
individualizado, especificado e conhecido (CC, art. 233 s.). Nota: pode-se requerer ao juiz
a tutela específica da prestação (execução específica), segundo o disposto no art. 461-A
do CPC.

Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa: perda, em sentido jurídico, é o


desaparecimento completo da coisa para fins patrimoniais; deterioração é fato que não
faz desaparecer a coisa, mas tão somente danificá-la de forma a sofrer desvalorização
monetária ou mesmo perda da capacidade de utilização. Em um ou outro caso, marco
fundamental para apuração da responsabilidade é a caracterização da existência ou não
de culpa do devedor (CC, art. 234/236). Ex. a) sem culpa: cavalo adquirido e pago, morre
no pasto do vendedor, sem culpa deste, resolve-se a compra com a devolução do preço,
mas sem perdas e danos; b) com culpa: devolve o dinheiro e suporta perdas e danos.

Melhoramentos na coisa: deve ser pago pelo credor ao devedor (CC, art. 237). Ex.
frutos percebidos (colhidos) são do devedor; pendentes do credor. Animal adquirido que
fica prenhe ou dá cria antes da tradição, o filhote será pago ao devedor. Verificar artigos
1.214/1.216 – quanto aos frutos; 1.219/1.222 – quanto às benfeitorias.

Resumo:

Perecimento ou deterioração do objeto: a perda (desaparecimento) ou deterioração


(desvalorização) do objeto pode ocorrer em duas situações: com culpa do devedor / sem
culpa do devedor. Cada uma resultará num efeito diferente.

Perecimento c/ culpa devedor: o credor recebe o equivalente acrescido de perdas e


danos – CC. art. 234, 2ª parte, (obrigação de dar) e 239 (obrigação de restituir).
Ex. “A” ia entregar (restituir) um objeto a “B”, que pereceu por sua culpa.

Deterioração c/ culpa do devedor: o credor opta a receber a coisa no estado em que se


encontra acrescida a indenização por perdas e danos, ou a não aceitar a coisa e exigir
seu valor em dinheiro acrescido das perdas e danos – CC. art. 236 e 240, 2ª parte
(restituir). Ex. “A” ia entregar (restituir) um objeto a “B”, que deteriorou-se por sua culpa.

Perecimento s/ culpa do devedor: não havendo por parte do devedor qualquer culpa
pelo perecimento da coisa, nenhuma responsabilidade lhe será imposta ou exigida
qualquer obrigação. Ex. “A” ia entregar (restituir) um objeto a “B”, quando este pereceu
sem culpa do devedor. Resolve-se a obrigação para ambos. CC. art. 234, 1ª parte e
238.

Deterioração s/ culpa do devedor: se exaure a relação obrigacional voltando as partes à


situação primitiva, ou o credor recebe a coisa no estado em que se encontra, com
abatimento do preço na parte perdida do objeto (naquilo que desvalorizou). CC. art. 235.
Na obrigação de restituir o dono (credor) recebe a coisa no estado em que se encontra,
sem direito a indenização. CC. art. 240.

Nota: Princípio res perit domino (a coisa perece para o dono) = não ocorrendo culpa do
devedor a coisa perece, total ou parcialmente, sempre para o dono.
*Dação em pagamento: (CC. arts. 356 a 359): um dos meios de extinção da obrigação
em que uma coisa é dada por outra, mas com o consentimento do credor.

Principais problemas: trata o capítulo (obrigações de dar) quase que exclusivamente


dos efeitos advindos com a deterioração ou perda do objeto da prestação, disciplinando
as conseqüências daí advindas. Efeitos em relação ao negócio, decide seu desfazimento
ou permanência; considerando os efeitos em relação às partes, atribui a uma delas os
riscos sofridos (CC. art. 389).

Acessórios da coisa: CC, art. 233 em consonância com 237, do Código Civil: havendo
aumento na natureza do tratado (denominado cômodo), pode o devedor exigir seu
pagamento (aluguel da casa e restituição com linha telefônica, empréstimo de uma égua
devolvida com um potro).

Execução da obrigação de dar coisa certa: na restituição cabe busca e apreensão


(móvel) ou reintegração de posse (imóvel); nas de dar, quando possível, a prestação há
de ser in natura, quando não, resolvidas em perdas e danos.

Obrigação de dar coisa incerta: neste tipo de obrigação, a coisa, ainda que incerta,
haverá de ser indicada ao menos pelo gênero e quantidade (CC, art. 243).

Da impropriedade legislativa: na coisa incerta, melhor que lhe fosse exigida a


quantidade e a espécie, em vez do gênero, pois este é amplo, aquela mais específica.
Assim, se o devedor contrata a entrega de cereais, em quantidade de 100 sacas, o
cumprimento da obrigação poderá ser em feijão, arroz, soja, milho, trigo etc., se
especificada na espécie, seria tantas sacas de um ou de outro dos citados. Nota: o PL n.
6.960/02 trata da alteração do termo.

Direito de escolha: enquanto a coisa objeto da obrigação se encontrar de forma


genérica, a quem competirá escolher sua qualidade, ao credor ou ao devedor? A situação
deverá ser resolvida por disposições contratuais, se não for assim, supletivamente pela
lei. Quem responde é o artigo 244 do CC: qualidade “A”, “B” e “C”, deverá entregar a
intermediária. Interpretação contratual conforme a “boa-fé” e aos usos do lugar da
celebração – art. 113 CC.

Remição à coisa certa: após a escolha do devedor, sobre a especificação da entrega da


coisa incerta (fenômeno da concentração) passa ela a ser de natureza de coisa certa,
determinada, pois a obrigação de dar coisa incerta é transitória (e fugaz). Assim, volta a
ser tratada de conformidade com o artigo 313 s. do Código Civil. Assim é especificado no
artigo 245 do mesmo diploma legal (ler e comentar).
Nota: remissão = dó, perdão, isenção de pecados)

Perda / deterioração antes da escolha: segundo o artigo 246 do CC, mesmo ocorrendo
caso fortuito ou força maior o devedor não poderá alegar a perda ou deterioração da coisa
a seu favor – genus non perit. Assim, se o devedor assume a obrigação de entregar 1
tonelada de milho e esse milho, armazenado se deteriora ou é roubado, não se
desincumbe ele da obrigação de conseguir outro tanto e cumprir a obrigação.

Das Obrigações de Fazer: a obrigação de fazer, obligatio faciendi, é de natureza


positiva, como a obrigação de dar. Por ela, o devedor compromete-se a prestar uma
atividade qualquer, lícita e vantajosa, ao seu credor. Consiste, portanto, em uma
realização pessoal ou não, de cunho material ou imaterial (intuitu personae) Ex. pintar um
quadro, executar uma obra, assinar contrato definitivo (ato jurídico).
Quadro: devedor (se compromete) junto ao credor (de prestar) um ato (ação) seu
(próprio) ou de terceiro. É a atividade humana.

Diferença entre obrigações de dar e de fazer: aquele que se compromete a dar alguma
coisa pode ser constrangido a entregá-la, por ordem judicial (tutela específica – CPC, art.
461), quer queira, quer não o devedor; salvo impedimentos justificáveis. Já quem se
obriga a fazer alguma coisa não pode ser, de regra, constrangido a fazê-la contra sua
vontade, resolvendo a obrigação em perdas e danos quando não for cumprida. Contudo,
o art. 461-A do CPC, acrescentado pela Lei n. 10.444/02, impõe a possibilidade de exigir
a tutela específica da prestação de dar.

Espécies de obrigação de fazer – Art. 247 CC: (coisas fungíveis – art. 85) a) obrigações
infungíveis = intuitu personae = obrigação personalíssima, aquela em que a pessoa do
devedor é essencial ao credor da prestação avençada; só se desincumbe do
compromisso realizando pessoalmente o combinado. Ex. atriz para um filme; jurista para
dar parecer etc.

Nota: a obrigação infungível deve estar expressa quando não houver outra forma clara
de interpretá-la); b) obrigações fungíveis, aquelas em que a pessoa do devedor não é
relevante para o seu cumprimento; neste caso o devedor se desincumbe da obrigação
realizando a tarefa, ou mandando que outrem a realize. Ex. pintura da parede etc.

Inadimplemento da obrigação de fazer – Art. 247 CC: pode se dar por duas formas: 1)
pela recusa do devedor em cumprir o objeto da prestação; 2) pela impossibilidade de seu
cumprimento.

Caso de recusa: ato voluntário do devedor, duas hipóteses se apresentam: 1) ou o


credor pode exigir que o objeto do contrato seja realizado pelo devedor, embora possa sê-
lo por terceiro. Ex. “A” contrata “B” para executar um serviço porque confia nele, mas o
serviço poderia ser realizado por outra pessoa; ou 2) o credor quer a realização do ato
contratado pelo devedor porque ele é o único capaz de realizá-lo dadas as suas
qualidades pessoais. Ex. “A” é o único pintor daquela especialidade (impressionista).
Nota: CPC, art. 461 s.
Em ambos os casos a obrigação possui caráter personalíssimo, ela é intuitu personae e
seu inadimplemento se dá por ato voluntário do devedor que obsta a realização
obrigacional. O devedor será responsabilizado pelas perdas e danos (Art. 247 CC.).
Observar a situação da obrigação “intuitu personae”.

Substituição a critério do credor – CC, art. 249: pode incumbir terceiro na realização do
serviço, às custas do devedor, por ordem judicial, ou exigir perdas e danos. Tal matéria
vem também regulada nos artigos 632/633 do CPC. De uma ou de outra forma perde-se a
natureza personalíssima da obrigação em razão da possibilidade de substituição do
devedor.

CPC – Art. 634 s: escolhendo o credor a hipótese de incumbir terceiro à realização da


obrigação inadimplida pelo devedor, deverá seguir o procedimento exposto nesses
artigos. Inclusive ajuizando, como medida de precaução, a chamada vistoria ad
perpetuam rei memoriam, se o devedor já iniciou a obrigação e a retardou (deve retratar o
estado em que se encontra a execução da obrigação e municiar-se de elementos para o
processo principal).

Declaração judicial supletiva – Arts. 639/641 CPC: quando a obrigação se constituir em


emissão de declaração de vontade à prática de ato jurídico (assinar escritura definitiva,
aperfeiçoar doação prometida em separação etc.), transitada a sentença da última ação e
vencido o prazo concedido pelo juiz para que o devedor a cumpra, sem que tenha
cumprido, a própria sentença produzirá os efeitos da declaração negada (adjudicação
compulsória).

Nota: neste caso o juiz funcionará como um terceiro sujeito da relação jurídica contratual
que praticará, por sentença, o ato não praticado pelo devedor, suprindo a recusa ou o
retardamento da execução obrigacional.

Tutela específica: já adotada no CDC (Lei n. 8.078/90, arts. 18, § 1º, I; 19, III; 35, I; 84),
veio na reforma do CPC ocorrida em maio/02 pela Lei n. 10.444/02, que introduziu o art.
461-A ao CPC, com a seguinte redação: “Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o
juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.” O juiz
poderá impor multa penal, astreintes, para forçar o cumprimento.

Caso de impossibilidade no cumprimento obrigacional: CC. art. 248: duas situações


também se apresentam devendo ser analisada a existência ou não de culpa do devedor:
a) se a obrigação não se consuma por fato alheio à vontade deste, com a completa
ausência de culpa sua, resolve-se a obrigação voltando as partes à situação anterior.
Caso haja prejuízo para uma ou outra das partes, ninguém poderá reclamar indenização.
Ex. concerto de piano sofre acidente no trajeto: devolve valor recebido. B) caso haja
incorrido em culpa o devedor não se desincumbirá do implemento da obrigação e
responderá por perdas e danos. Ex. mesmo exemplo com viagem a outra cidade, perde o
avião etc. Nota: CPC, art. 461, § 1º.

Art. 250 CC: Obrigação de não fazer: de aspecto negativo, ao contrário das obrigações
de dar e de fazer, a obligatio non faciendi se consubstancia numa abstenção; é a
obrigação de fazer sob o prisma negativo. Quem se obriga a não fazer e faz, comete
inadimplemento obrigacional.

Ex. “A” se compromete junto à Municipalidade a construir em seu terreno um prédio de no


máximo 3 andares; constrói 4 andares. Outros exemplos: locador não pode perturbar o
locatário na utilização da coisa locada; obrigação do locatário em não sublocar o imóvel;
obrigação do artista em não atuar para outro empresário etc.

Conseqüências do inadimplemento: Art. 251 CC / 642/3 CPC: pode o credor exigir


judicialmente o desfazimento do ato, sob pena de determinar o juiz que o desfaça às
expensas do devedor. Pode, ainda, o credor, exigir indenização por perdas e danos
quando o ato contar com a culpa do devedor.

Obs. A questão explicitada pelo artigo 251 CC é de natureza facultas agendi, pois a
reposição da coisa ao statu quo ante dependerá da vontade do agente (credor). Já o
artigo 643 do CPC deixa dúvidas ao expressar: “ ....o credor requererá ao juiz...” .

Perdas e danos: caso o credor não opte pelo desfazimento do ato praticado, pode
requerer apenas as perdas e danos do devedor, com base nos artigos 186 c/c. 389 do
CC.

Impossibilidade do desfazimento: casos como a divulgação, pelos meios de


comunicação, de notícia danosa ao credor, por parte do devedor, que se obrigara a não
publicá-la. Nessa situação só restará ao credor a reparação dos danos causados; material
e moralmente.
Descumprimento da abstenção sem culpa do devedor: se a prática do ato se der por
impossibilidade de abstenção, sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação nos moldes
determinados pelo artigo 250 do CC. Tal. A situação do vizinho, que se comprometera a
não edificar um muro para não turbar a visão do outro, intimado pelo poder público estará
obrigado a descumprir o assumido cometendo o ato.

Posição do art. 251, par. único: possibilita a reposição da coisa ao statu quo ante sem
interferência do Judiciário – manu própria – a exemplo do que ocorre atualmente com a
autotutela da posse (legítima defesa (turbação) e desforço pessoal (esbulho) – Art. 1.210
CC).

2) Modalidade da obrigação quanto aos seus elementos: três são os elementos


constitutivos da obrigação: os sujeitos (ativo/passivo), o vínculo jurídico (a relação
jurídica) e o objeto.

Em relação a esses elementos, as obrigações se dividem em simples e compostas (ou


complexas).

a) Obrigações simples: são aquelas que apresentam apenas um sujeito ativo, um


sujeito passivo e um objeto, isto é, todos seus elementos são singulares. Ex.

b) Obrigações compostas: são, por conseqüência, aquelas que se apresentam com


pluralidade em um ou dois de seus elementos constitutivos; multiplicidade de sujeitos
ou de objetos. Ex.

A obrigação composta ou complexa por multiplicidade de objetos se classifica em


cumulativas ou (conjuntivas) e alternativas ou (disjuntivas).

Multiplicidade de objetos cumulativas ou conjuntivas (e)


alternativas ou disjuntivas (ou)

Obrigação composta cumulativa (ou conjuntiva): é aquela em que os objetos


apresentam-se ligados pela conjunção “e”, isto é, tendo mais de uma prestação a
obrigação, todas devem ser cumpridas pelo devedor. Ex. obrigação de entregar um trator
e um cavalo; no contrato de empreitada de material e obras, o empreiteiro deve fornecer o
material (obrigação de dar), bem como realizar o serviço (obrigação de fazer). O
cumprimento da obrigação só se dará com a efetiva entrega dos dois objetos.

Obrigação composta alternativa (ou disjuntiva): nessa os objetos estão ligados pela
conjunção disjuntiva (ou alternativa) “ou”, podendo haver duas ou mais opções. Ex..... O
cumprimento da obrigação estará aperfeiçoado com a entrega de qualquer dos objetos.

Das Obrigações Alternativas – Art. 252 CC: modalidade de obrigação composta pela
multiplicidade de objetos, caracteriza-se pelo poder de liberação com a entrega de
apenas um deles; o objeto da obrigação é disjuntivo ou alternativo. O brocardo romano
resumia esta obrigação: nas obrigações alternativas “plures sunt in obligatione, uma
autem in solutione (a obrigação concerne a várias prestações, mas só uma delas é que
será realizada).

Ex. contrato de seguro => a reparação do dano ou entrega de outro veículo. Duas
prestações possíveis; uma só se aperfeiçoará ou se cumprirá.

Direito de escolha (concentração): se outra coisa não se estipulou, caberá ao devedor


a escolha. A lei, no caso de silêncio das partes na elaboração do contrato, supre a inércia
e estabelece que à parte onerada na obrigação cabe a escolha inclusive por conhecer
melhor seu patrimônio.

Nota: guarda semelhança com a obrigação de dar coisa incerta em razão da escolha,
mas são situações diferentes. Vejamos:

Obrigação alternativa: circunscrito a objetos determinados; o perecimento de um ou


alguns dos objetos faz concentrar a obrigação no remanescente; se perecerem todos a
obrigação se extingue. Ex. entregar um entre 3 bois da raça nelore. (se morrerem dois a
obrigação se torna simples).

Obrigação de dar coisa incerta: (CC, art. 243) refere-se a gênero e/ou quantidade; o
gênero não perece “genus non perit”; a obrigação, nesse caso, não se extingue (CC, art.
246). Ex. dar cavalo da raça “X”. Realizada a escolha, a obrigação se torna simples.

Do prazo da escolha: CPC art. 571: “nas obrigações alternativas, quando a escolha
couber ao devedor (regra – CC, art. 244), este será citado para exercer a opção e a
realizar a prestação dentro de dez dias, se outro prazo não lhe for determinado em lei, no
contrato ou na sentença. Decadência do dir. de escolha: § 1º Devolver-se-á ao credor a
opção, se o devedor não a exercitou no prazo marcado”.

Características das obrigações alternativas: a) pluralidade de objeto; b) prestações


independentes entre si; c) concede a uma das partes o direito de escolha (concentração)
que, no silêncio fica a cargo do devedor; d) realizada a escolha, a obrigação concentra-se
na prestação eleita e passa a ser regida pela entrega da coisa certa.

Assim, não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte
em outra (art. 252, § 1º), da mesma forma, caso a escolha caiba ao credor, não pode este
exigir receber parte de uma e parte de outra prestação, mas se for opção anual, a cada
ano poderá modificar (art. 252, § 2º); se uma das prestações tornar-se inexeqüível,
subsistirá o débito em relação à outra (art. 253).

Impossibilidade superveniente de uma das obrigações: Escolha credor / devedor.

Sem culpa do devedor (CC, art. 253): concentração do débito na remanescente.

Com culpa do devedor: 1) Escolha do devedor: concentração do débito (art. 253)

2) Escolha do credor: art. 255, 1ª parte = opção pela prestação


remanescente ou o equivalente em dinheiro da outra
prestação + perdas e danos.

Impossibilidade de todas as prestações: Escolha do devedor.

Sem culpa do devedor (CC, art. 256): extingue-se a obrigação por falta do objeto

Com culpa do devedor 1) escolha do credor entre o valor de qualquer das prestações +
perdas e danos (Art. 255, 2ª parte).

2) obrigação do devedor em pagar o valor da prestação que


ficou por último + perdas e danos (Art. 254).

Obrigação facultativa – “sui generis”: derivada da obrigação alternativa, é a obrigação


simples, em que é devida apenas uma única prestação, ficando facultado ao devedor, e
só a ele, exonerar-se mediante o cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É
caracterizada pela faculdade de substituição. Ex. A prestação devida e prevista era in
obligatione; a segunda constitui faculdade conferida apenas ao devedor em preferi-la para
saldar o débito, é in facultate solutionis. Perecendo por alguma forma a coisa, sem culpa
do devedor, o liame obrigacional estará desfeito.

Obrigações compostas (ou complexas) por multiplicidade de sujeitos: dividem-se


em obrigações divisíveis, indivisíveis e solidárias.

divisíveis
Multiplicidade de sujeitos indivisíveis objeto
solidárias pessoas

Das obrigações divisíveis e indivisíveis: Art. 314 a 263 C. Civil.

Introdução: as obrigações podem ser simples, se apresentam unidade de credor, de


devedor e de objeto ou complexas, se apresentarem pluralidade de objetos (conjuntiva,
facultativa ou alternativa) ou pluralidade de sujeitos (divisíveis, indivisíveis e solidárias).

Regra geral: CC, art. 257: vários credores = cada um recebe sua parcela da prestação;
vários devedores = cada um estará obrigado à fração de sua dívida.

Exceções: indivisibilidade (da coisa = objeto), decorre da natureza da coisa, da


impossibilidade de divisão, e solidariedade (de pessoas = sujeito), decorre da lei ou da
vontade das partes.

Conceito de prestação indivisível: é indivisível a prestação quando seu objeto é uma


coisa insuscetível de divisão por sua própria natureza, por disposição da lei (módulo do
imóvel rural – ET art. 65) ou pelo modo porque foi instituído pelas partes. (CC, art. 88).
Logo, a indivisibilidade diz respeito à alteração da substância da coisa, bem como à
diminuição sensível de seu valor (jóia).

Efeitos da indivisibilidade:

1) pluralidade de devedores: Art. 259 CC: dois ou mais devedores de prestação


indivisível, cada um será obrigado à dívida toda. Aquele que paga sub-roga-se no
direito do credor em relação aos demais devedores. Nota: Se se tornar impossível a
prestação e resolver-se em perdas e danos, a prestação volta a ser divisível.

2) pluralidade de credores: Art. 260/261 CC: cada credor poderá exigir a dívida por
inteiro, mas o devedor só se desobriga: a) se pagar a dívida a todos eles em conjunto.
Ex. insolvência do que recebe; b) se pagar a um deles mediante caução deste de
ratificação ou anuência dos demais. Aquele que recebeu à mais, indenizará aquele
que não recebeu ou recebeu à menos.

3) perdão parcial da dívida por um dos credores: o benefício se volta para o devedor.
Como a prestação é indivisível, os demais credores a podem exigir por inteiro,
descontado o valor do credor remitente.

Obrigações solidárias: essa modalidade de obrigação independe da natureza divisível


ou indivisível do objeto da prestação porque resulta ela da vontade das partes ou da lei.
Pode ser ativa ou passiva; se forem vários devedores solidários cada um deles responde
pela dívida inteira (CC. art. 283). Ex. CC, arts. 829 (fiança) e 1311, par. único e 1.312 (dir.
de construir)
Das Obrigações Solidárias – CC, art. 264 s: Conceito: pluralidade de sujeitos ativos ou
passivos. Constitui-se em modo de alteração das feições da obrigação promovendo, em
uma só, a reunião ou comunhão de relações jurídicas autônomas.

Princípio geral: “concursu partes fiunt” – o liame obrigacional se reparte em tantas


relações jurídicas autônomas, quantos forem os credores ou os devedores.

Exceção: indivisibilidade do objeto; solidariedade das partes.

Solidariedade ativa: CC. art. 267: havendo mais de um credor, cada um poderá exigir do
devedor a dívida inteira.

Solidariedade passiva: CC. art. 275: havendo vários devedores, o credor tem direito de
exigir e receber de qualquer um a dívida inteira.

Conseqüências da solidariedade nas obrigações complexas:

a) se inexiste solidariedade ativa, o devedor paga parcialmente a um credor e cai na


insolvência; os demais credores nada recebem; existindo solidariedade ativa, o
pagamento parcial será rateado;

b) se o devedor não solidário se tornar insolvente, o credor sofre o prejuízo; em havendo


solidariedade entre devedores, a insolvência de um não prejudica o recebimento junto
aos outros.

c) Distinção entre obrigações solidárias e indivisíveis: a semelhança está em que,


tanto numa quanto noutra a obrigação se mantém indivisa, pois cada credor pode
exigir a coisa por inteiro e cada um dos co-obrigados respondem pela integralidade da
prestação.

A indivisibilidade:

a) decorre da natureza do objeto, que é insuscetível de partilha, da vontade das partes, ou


porque importa em diminuição do seu valor (perda da substância, perda do valor);

b) convertendo-se as prestações em perdas e danos, na indivisível ocorre a perda de sua


natureza e cada co-obrigado só será devedor de quota-parte;

c) a indivisibilidade tem por base uma relação jurídica objetiva (relaciona-se com o objeto
que integra a prestação);

d) na indivisibilidade, o devedor, embora seja obrigado ao todo, pela natureza da


prestação, só deve parte;

e) a indivisibilidade não termina pela morte do credor, pois não se reparte o objeto entre
os sucessores.

A solidariedade:

a) decorre da vontade das partes ou de disposição legal;


b) na solidária, por ser oriunda da vontade das partes ou da lei, convertendo-se a
obrigação em perdas e danos, continua a solidariedade; a situação persiste;

c) a solidariedade funda-se em relação jurídica subjetiva (partes = sujeitos);

d) na solidariedade o devedor pode pagar por inteiro porque deve o todo;

e) a solidariedade cessa, extingue-se com a morte do credor, cujo crédito será repartido
aos herdeiros.

Vantagens da solidariedade: para o credor de devedores solidários: a) pode reclamar a


dívida de mais de um devedor, aumentando sua garantia de recebimento; b) pode
escolher sobre qual devedor recairá a obrigação.

Desvantagem: para o credor no caso de solidariedade de credores: a) qualquer credor


pode exigir a dívida toda do devedor, que ficará desobrigado perante os demais. (é muito
rara).

Fontes da solidariedade: (art. 264 CC): convencional: por vontade expressa das partes
no negócio jurídico (contrato, testamento, doação – art. 129 CC); legal: se derivar da
vontade do legislador. Ex. arts. 154; 1.460; 585; 680; 942, par. único CC.

Da solidariedade passiva: (CC art. 275): de maior relevo no meio social, é aquela que se
apresenta entre os devedores, por vontade das partes ou por força de lei (acima).

Art. 275: a dívida paga por um apenas dos devedores faz remanescer os demais
solidariamente obrigados àquele que honrou o pagamento ao credor.

Art. 276: os herdeiros do devedor solidário estão obrigados, individualmente, não


solidários, a pagar a cota parte referente ao seu quinhão hereditário. Todos eles,
reunidos, substituem o de cujus na solidariedade perante os demais devedores.

Art. 277: pagamento parcial ou perdão (remissão) parcial da dívida só atinge o devedor
em questão; aos outros sobra o restante (Ao credor é facultada a cobrança – art. 388).

Art. 278: o pacto (cláusula, condição ou obrigação) adicional efetuado entre um dos
devedores e o credor não poderá prejudicar os demais se a este pacto não aderiram (CC.
art. 365 – novação)

Art. 279: culpa de um dos devedores solidários pelo inadimplemento da obrigação:


permanece para todos a obrigação, mas as perdas e danos daí advindas só estará a
cargo do devedor culpado.

Art. 280: promovida ação contra os devedores solidários, todos respondem pelos juros de
mora, mas o culpado estará obrigado aos outros pelo acréscimo.

Art. 275, par. único: possibilidade do credor de acionar judicialmente um devedor e aos
demais em seguida.

Art. 281: a expressão “exceção” corresponde a “defesa”. Pode o devedor defender-se


quando impossibilitado o cumprimento da obrigação por perda do objeto (sem culpa dos
devedores = resolve-se a obrigação), ou por culpa de um devedor, o que desobrigará
das perdas e danos; pode, ainda, receber a remissão = perdão, e livrar-se da dívida. (Ex.
vício do consentimento – CC, art. 171), compensação (pessoal): extinção da obrigação =
comum a todos.

Art. 282: renúncia da solidariedade a cargo do credor. Par. único: se exonerar algum
devedor, dos demais pode cobrar a dívida abatida do valor do exonerado.

Art. 283: sub-rogação do devedor que satisfaz a dívida toda no direito de exigir dos
demais a parte da dívida de cada um.

Art. 284: caso caia em insolvência um dos devedores solidários, sua parte será dividida
em partes iguais aos outros devedores, inclusive aquele exonerado.

Art. 285: se o benefício da dívida só satisfaz a um devedor e outro a honra, poderá exigir
daquele o total da dívida paga. Ex. avalista em nota promissória que paga sozinho a
dívida pode exigir do emitente o valor integral.

RESUMO: Segundo o Código Civil, temos três espécies de obrigações:

2 positivas = dar (dare) e fazer (facere) / 1 negativa = não fazer (non facere) = alguma
coisa.

Podem ser simples e compostas (ou complexas):

Obrigações simples: apenas um credor, um devedor e um objeto.

Cumulativas/conjuntivas (e)
Obrig. compostas: multiplicidade de objetos alternativas/disjuntivas (ou)
facultativas (sui generis-espécie alt)

divisíveis (o que divide é o objeto)


Obrig. compostas: multiplicidade de sujeitos indivisíveis (o objeto)
solidárias (se dá entre sujeitos)

Nota: fala-se da divisibilidade ou não da prestação, mas o fato se dá sobre o objeto

Obrig. solidárias (pluralidade de credores) Solidariedade Ativa

Credores objeto devedor


A / B / C / (cada um pode exigir o todo) (cavalo ou dinheiro) D

(O credor que receber o todo indenizará aos demais – CC, art. 272).

Obrig. solidárias (pluralidade de devedores) Solidariedade Passiva – (CC, arts. 275 e


277)

Credor objeto devedores


A (cavalo ou dinheiro) B/C/D

“A” pode exigir e receber, total/parcial, todo obj. da prestação, de um/alguns/todos)


TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

Cessão de Crédito – CC, art. 286 a 298

Conceito: é negócio jurídico bilateral pelo qual o credor transfere seus direitos na relação
jurídica obrigacional, a outra pessoa. Ex. desconto bancário.

Nota: a cessão poderá se caracterizar tanto na alienação onerosa quanto na gratuita.

Cessão no pagamento de dívida: neste caso, caracterizará a dação em pagamento


(datio in solutum).

Cessão de crédito e venda: embora a cessão de crédito a título oneroso tenha


semelhança com a compra e venda, desempenhando o mesmo papel, há nítida diferença
entre ambos, pois na cessão o objeto é bem incorpóreo (o crédito), na venda, a alienação
se dá sobre bens corpóreos.

Participantes: aquele que transfere seu crédito é denominado cedente; aquele que
recebe denomina-se cessionário. O devedor, que não participa necessariamente da
relação de cessão, mas tem que ser notificado dela, é denominado devedor ou cedido.

Capacidade e legitimidade: na relação jurídica, o cedente há de ser pessoa capaz e


legítima para praticar a alienação. O mandatário deverá ter poderes especiais para tanto.

Cessão de crédito e cessão de contrato: na primeira, só se transfere ao cessionário o


direito ao crédito; na segunda, transfere-se ao cessionário, com anuência do credor, toda
a posição contratual do cedente, ficando este totalmente liberado da relação jurídica
contratual.

Cessão de crédito e novação subjetiva ativa: na primeira, faz-se a transferência do


crédito que subsiste original e integralmente com todos os seus acessórios (CC, art. 287);
na segunda, além da substituição do credor, ocorre também a extinção da obrigação
anterior, que é substituída por novo crédito pactuado.

Cessão de crédito e sub-rogação legal: também não se confundem, pois o sub-rogado


não pode exercer os direitos e ações do credor além dos limites daquilo que desembolsou
(CC, art. 350); a cessão de crédito, quando onerosa, mantém o propósito de lucro, tendo,
pois, caráter especulativo.

Cessão de crédito e sub-rogação convencional: na hipótese do art. 347, I, do Código


Civil, são tratadas de forma idêntica (CC, art. 348).

Objeto da cessão: de regra, todos os créditos podem ser cedidos, tendo ou não título
representativo, estando ou não vencidos. Salvo disposição em contrário prevista na
primeira parte do art. 286 do Código Civil. Pela natureza: relações jurídicas
personalíssimas e direito de família; por lei: direito de preempção ou preferência (CC, art.
520), benefícios da gratuidade da justiça (Lei n. 1.060/50, art. 10); por convenção das
partes: pacto de incessibilidade do crédito.

Espécies: a cessão poderá ser total ou parcial, abrangendo todos os acessórios do


crédito, tais como os juros e os direitos de garantia (CC, art. 287). Pode ainda ser judicial,
nos casos em que cabe ao juiz decidir sobre a quem pertencerá o crédito, como nos
casos de partilha causa mortis em que atribui-se o crédito ao herdeiro, ou quando, após a
penhora de crédito, transfere-se-o ao arrematante. Há também a espécie legal, aquela
determinada em lei, como exemplo a transmissão dos direitos acessórios do crédito, a
cessão que o reivindicante deve fazer ao possuidor de boa-fé que pagou o valor da coisa
existente em poder de terceiros etc.

Formas de cessão de crédito: para valer entre terceiros deverá obedecer ao disposto no
art. 288 CC; entre as partes, sendo a cessão convencional, não se exige forma especial.

Nota: a cessão de título de crédito é realizada através de endosso (CC, art. 910); a
aquisição de título à ordem por outra forma que não seja o endosso, tem o efeito de
cessão civil (CC, art. 919).

Notificação do devedor: embora não participe da relação jurídica da cessão, o devedor


haverá de ser notificado dela, sob pena de em relação a ele, não produzir eficácia (CC,
art. 290); se não for notificado, a cessão é inexistente para ele, produzindo efeitos o
pagamento realizado ao primitivo credor (CC, art. 292).

Nota: sendo solidária a obrigação, todos os co-devedores devem ser notificados (Ex.
citação, habilitação falimentar etc).

Cessão de título ao portador: dispensa notificação por ser realizado por simples
tradição manual.

Oposições ao cessionário: CC, art. 294. Nota: se o cedido (devedor), notificado da


cessão não opor, naquele momento, as exceções pessoais (compensação, pagamento
etc) contra o cedente, não poderá argüi-las contra o cessionário.

Responsabilidade do cedente: segundo o disposto no art. 295 do Código Civil, o


cedente a título oneroso, mesmo não se responsabilizando, fica responsabilizado junto ao
cessionário pela existência de crédito no momento da transferência; nas gratuitas,
somente se tiver agido de má-fé.

Solvência do cedido: salvo estipulação em contrário, o cedente não fica responsável ao


cessionário pela solvência do devedor, tal risco fica por conta do cessionário, é a cessão
pro soluto (CC, art. 296). Se ficar convencionada a responsabilidade do cedente pela
solvência do devedor, tal responsabilidade estará limitada ao que recebeu, acrescido das
despesas e correção, é a cessão pro solvendo (CC, art. 297).

Cessão onerosa de título nulo ou inexistente: estará o cedente obrigado a ressarcir o


cessionário (duplicata “fria” sacada e cedida, descontada).

Crédito penhorado: por força de lei, não poderá ser cedido pela espécie convencional,
apenas na espécie judicial (CC, art. 298).

Assunção de Dívida – CC, art. 299 a 303

Conceito: novidade legal introduzida no código em vigor, é negócio jurídico pelo qual o
devedor transfere a terceiro sua posição na relação jurídica. É também denominado de
cessão de débito. Ex. cessão do financiamento da casa própria.

Anuência do credor: segundo expressa o art. 299, para ter validade a assunção da
dívida deverá contar com a anuência expressa do credor; o silêncio será interpretado
como recusa (par. único).
Transformação em novação subjetiva: se o negócio não permanecer na simples
cessão do débito e acarretar a criação de nova obrigação, extinguindo-se a anterior, ao
lado da substituição do devedor, estará caracterizada a novação subjetiva.

Cessão de débito e garantias: de regra, com a cessão da dívida extinguem-se as


garantias originariamente dadas pelo devedor primitivo; salvo se este consentir em sua
manutenção (CC, art. 300).

Restauração do débito original: caso seja anulada a substituição do devedor, restaura-


se o débito original com todas as suas garantias, menos aquela dada por terceiro. Se o
terceiro conhecia o vício que impedia a cessão, sua garantia original também se restaura
(CC, art. 301).

Exceções pessoais: o novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que
competiam ao devedor originário (apenas as pessoais próprias) (CC, art. 302).

Cessão de débito de imóvel hipotecado: fazendo a exceção de que o silêncio induz a


recusa do credor, na cessão do débito (CC, art. 299, par. único), no caso da aquisição de
imóvel hipotecado em que o adquirente obriga-se a pagar a hipoteca, este, notificando o
credor hipotecário e não obtendo impugnação em trinta dias, o silêncio interpretar-se-á
como concordância (CC, art. 303).

ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Do Pagamento – CC, art. 304 s.

Fim da obrigação: é o seu cumprimento, por meio do qual se alcança o objeto por ela
perseguido e se põe termo à relação jurídica entre devedor e credor, liberando-o.

Adimplemento: é o ato jurídico que extingue a obrigação pelo seu cumprimento.

Pagamento: é espécie do gênero adimplemento, tal como a novação, compensação,


confusão, transação e remissão.

Elementos do a) vínculo obrigacional justificador. Ex. contrato.


Pagamento b) presença do agente passivo/pagador – solvens.
c) presença do agente ativo/recebedor - accipiens.

Nota: inexistindo o vínculo jurídico obrigacional poderá evidenciar o surgimento da figura


do “pagamento indevido”, previsto nos artigos 876/883 CC.

Quem deve pagar – CC, art. 304 a 307

Nota: o principal interessado na solução da dívida é o solvens (=devedor).

Art. 304 – 1) terceiro interessado: como no caso do fiador (responsável pela garantia do
cumprimento da obrigação), a lei confere prerrogativa de efetuar o pagamento, obrigando
o credor a receber e dar quitação.

Efeitos: libera o devedor mas mantém a relação jurídica pelo instituto da sub-rogação:
transferência dos direitos do credor para o terceiro que solveu a dívida. Nota: o instituto
da sub-rogação pode ocorrer por disposição da lei ou convenção das partes.
2) terceiro não interessado: permitido o pagamento sob esta modalidade porque o
escopo da lei, em última instância, é a manutenção da paz e interesse social. O devedor
não sofre qualquer prejuízo e o credor recebe a dívida.

2.1) terceiro não interessado que paga em nome do devedor: art. 304, par. único.
Efeitos: extingue a obrigação sem surgir vínculo jurídio entre o solvens (terceiro que paga)
e o devedor beneficiado porque presume-se ter havido uma liberalidade, um animus
donandi.

2.2) terceiro não interessado que paga em seu próprio nome: CC, art. 305: Efeitos:
extingue a obrigação inicial e o solvens tem direito ao reembolso do valor pago (nova
relação jurídica), mas não se sub-roga nos direitos do credor em razão da vedação legal o
enriquecimento sem causa. Se o pagamento se der antecipado, o reembolso só terá lugar
na data do vencimento (CC, art. 305, par. único). Nota. ver CC, art. 1.368.

2.3) terceiro não interessado que paga com oposição do devedor: Art. 306 CC: Efeitos:

a) se a oposição é por capricho ou motivo irrelevante, é válido o pagamento;

b) se a recusa for motivada, tal como a alegação de exceções pessoais oponíveis ao


credor (compensação, remissão), com possibilidade de ilidir a prestação, o solvens só
será reembolsado da importância aproveitada pelo devedor.

Nota: há que se observar os casos em que a prestação se constitui em obrigação


personalíssima ou intuitu personae, podendo ser recusada pelo credor seu cumprimento
por terceiro.

3) pagamento efetuado por transferência de propriedade: Art. 307 CC.

“Dação em pagamento”: forma de execução ou cumprimento voluntário da obrigação que


consiste na entrega de uma coisa (de um bem) em substituição à prestação contratada e
devida, extinguindo-a.

Elemento essencial: anuência do credor que não está obrigado a receber outra coisa,
ainda que melhor e mais valiosa (CC, art. 313).

Nota: o pagamento só terá validade, neste caso, quando feito por quem possua
legitimidade para alienar o objeto (a coisa) dada em pagamento.

Restrições: a) à pessoa do solvens: ter capacidade e legitimidade;


b) ao objeto: há de ser idôneo, além de lícito (CC, art. 104, II).

a) pagamento feito em coisa fungível (CC, art. 85);


Exceções: b) a boa-fé do accipiens;
c) consumo pelo accipiens.

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