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O espectador aprendeu, no final da peça, que é preciso reconhecer os princípios

de ação em conflito, ponderá-los adequadamente e reconhecer a sua hierarquia


implícita. O espectador aprende com os erros e a intolerância de Antígona e
Creonte. Ambos tiveram de aprender, a duras penas, que é, exatamente tal qual
era, como acontece com o divino, mas deixando sempre em lugar do indivíduo
que se vai e envelhece um. jovem que se assemelha a ele". (Platão, 1964, p. 69).

A teoria moral entre os gregos encontra sua expressão máxima na tragédia, nos
diálogos platônicos e no sistema filosófico de Aristóteles. Dramaturgos e filósofos
não polarizam a relação indivíduo-sociedade (cidadão-polis), porque concebem os
seres humanos como membros integrantes de uma comunidade (oikós-polis) e
não como sujeitos singularizados, fora de um contexto social. A ação moral, por
isso mesmo, toma-se indissociável da ação política . A moralidade praticamente
confunde-se com a ética, e esta com a decisão política, levando em consideração
o outro, no interior do seu grupo ou de sua comunidade política.

Agir corretamente (isto é, moralmente) significa agir de acordo com uma lei (a boa
medida) fixada por cada um a si mesmo. Mas agir corretamente (isto é, de forma
politicamente justa) significa seguir a lei da polis, fixada pelos filósofos e políticos,
empenhados na verdade e no bem coletivo, adequando-a ao caso particular.
Creonte acaba agindo corretamente quando adapta a lei da polis ao caso
particular de Antígona, perdoando-lhe o desafio à sua vontade e a transgressão da
lei de Tebas.

(Do livro: Itinerário de Antígona: A Questão da Moralidade,

Bárbara Freitag, SP, Papirus, 1992)

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