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SUMÁRIO.
1- INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por escopo apresentar uma visão crítica da representação
popular à luz da Teoria do Poder Constituinte, através da análise da ordem política nacional,
da organização dos Poderes e de como são constituídos.
O povo, que deveria ser tudo e nada é, na visão e ao tempo de Sieyés, pela adoção
dos postulados da Teoria do Poder Constituinte nas Constituições Republicanas encontrou a
expressão do exercício do poder, por meio de representantes eleitos, naquilo que se
convencionou identificar por democracia representativa.
O que se busca discutir, portanto, é a legitimidade de tal representação sob o prisma
do ordenamento jurídico e sistemas eleitoral e político-partidário adotados no Brasil.
A análise teórica dos instrumentos de representação popular na ordem política
brasileira permite identificar se ela se dá na sua integralidade, com o exercício pleno da
soberania popular, através de representantes eleitos através de escrutínio universal e direto.
O voto, como desdobramento do exercício da cidadania, a soberania popular como
peça fundamental da democracia, são temas constitucionais de indiscutível relevância. O
estudo da organização dos Poderes da nação como institutos de exercício da vontade popular
constitui um dos aspectos basilares do presente estudo. A análise quanto à forma de produção
legislativa, o estudo de seu resultado em comparação com a vontade popular, enfim, a
afirmação da legitimidade frente ao modo de agir dos agentes políticos é o que se busca
alcançar.
Especificamente, trata-se de identificar a existência de desvios de representação, o
predomínio de determinado interesse em contraposição ao interesse coletivo.
3
2- DESENVOLVIMENTO.
A delegação política engendrada pelo Abade Sieyés seria regulada pela Teoria do
Poder Constituinte, através da qual se firmaria o conceito de Constituição da Nação como
decorrência da vontade do povo.
Há um novo titular do poder de constituir, o povo enquanto nação, a quem se admite
o poder de elaborar, modificar ou mesmo extinguir a Carta.
Os governantes são meros agentes políticos, um Poder Constituído limitado
formalmente pelo texto constitucional.
O povo, titular do Poder Constituinte, deverá, em um ato inicial de criação do Estado,
ao qual não se opõe qualquer limitação jurídica, eleger seus representantes em uma
Assembléia Constituinte, que deverá desempenhar a missão de elaborar o estatuto básico do
Estado: a Constituição.
5
Ato Institucional de 9 de abril de 1964 apud GASPARI, Elio, A Ditadura Envergonhada, São Paulo:
Schwarcz, 2002, p.340
6
6
Ibidem, p.340.
7
SILVA, Jose Afonso da, apud ZIMMERMANN, op. cit. p.216
8
ibidem, p.216.
7
9
O Senado e a República. Disponível em: http:// www.senado.gov.br . Acesso em 4 nov. 2007
10
ZIMMERMANN, op. cit. p.221.
8
11
MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, v. II - Introdução à Teoria da Constituição, 2.ed.
revista, Coimbra: Coimbra, 1983, p. 62.
9
Neste sentido, o poder constituinte material vem antes do poder constituinte formal, e
busca lhe dar conformação, embora este último confira força normativa ao poder constituinte
material.
Os princípios gerais que refletem os anseios do poder constituinte material devem ser
submetidos ao poder constituinte formal a fim de serem conformados segundo opções
jurídicas e políticas fundamentais, estando sujeitos a pressões que podem vir a favorecer,
ainda mais em um ambiente onde hegemonia política não se encontre plenamente
estabelecida, a importância do poder constituinte formal na definição de tais princípios.12
Miguel Reale tece críticas ao momento da convocação para a Assembléia Nacional
Constituinte, afirmando que esta se realizou fora de hora, havendo sido inspirada em
preceitos estatizantes originários do ideário marxista, como a luta de classes como fator
determinante da história.
Seria esta a razão, segundo o prof. Reale, que levou a uma Constituição na qual a
“proclamação de direitos individuais e sociais, reclamada pela sociedade civil, contrasta,
paradoxalmente, com a redução do povo a simples massa de manobra de uma estrutura
burocrática rotineira”. 13
Esta “certa idéia de Direito” a que se refere Jorge Miranda, pode ser vista na Carta de
1988, como a de um novo Estado de Direito, Social, Providência, que se contrapõe à idéia de
Estado de Direito emanada do Estado Liberal, aqui entendida a expressão Estado de Direito
no sentido que lhe emprestou Norberto Bobbio, Estado limitado pelo direito, ou seja, o
Estado cujo poder é exercido nas formas do direito e com garantias jurídicas
preestabelecidas, que até então se sobrepunha e que visava, sobretudo, garantir a iniciativa
privada, a livre empresa, os interesses individuais, limitando a interferência do Estado a uma
possibilidade mínima.
Não buscou a Carta Magna de 1988, restringir o Estado apenas aos limites da
proteção às liberdades individuais e à propriedade privada.
Tal constatação encontra-se em Princípios constitucionais tais como o da função
social da propriedade- Art. 5º, Inciso XXIII, em contraposição à visão liberal da propriedade.
O Estado vislumbrado pela Carta vê-se compromissado com a idéia do apoio
solidário ao indivíduo, potencializando seu livre desenvolvimento pessoal, garantindo-lhe um
mínimo de condições materiais. 14
12
CARRION, Eduardo Kroeff Machado, A Constituição de 1988 e sua Reforma.Disponível em: JUS
NAVEGANDI, http://www.jus.uol.com.br. Acesso em 4 nov 2007.
13
REALE, Miguel, apud ZIMMERMANN, op. cit. p. 216.
14
ZIMMERMANN, op.cit. p. 64.
10
15
GRAU, Eros Roberto, A ordem Econômica da Constituição de 1988: interpretação e crítica, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1990, p.40.
16
CLÈVE, Clèmerson Merlin, Atividade Legislativa do Poder Executivo no Estado Contemporâneo e na
Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p.35.
17
BARROSO, Luís Roberto (Org.) e BARCELOS, Ana Paula de, O Começo da História. A Nova Interpretação
Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro, in A Nova Interpretação Constitucional, 2. ed.,
revista e atualizada. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p.329.
18
Ibidem, p.329.
11
19
Ibidem, Ibidem.
20
História das eleições no Brasil. Centro de Memória. Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em:
http://www.tse.gov.br/institucional/centro_memoria/hi.Acesso em 16 nov 2007.
21
CLÈVE, op. cit. p.37.
12
22
Noticias de Universidades e Centros de Pesquisa. Agência de Noticias Prometeu.Disponível em:
http://www.prometeu.com.br/noticia.asp? cod=453. Acesso em 17 nov 2007.
14
23
Revisão Eleitoral. Justiça Eleitoral. Disponível em: http: // www.tse.gov.br. Acesso em 17 nov 2007.
24
ZIMMERMANN, op.cit. p.447.
25
Ibidem, p.447.
26
STUART MILL, John, apud ZIMMERMANN, op.cit. p. 451.
17
27
LOEWENSTEIN, Karl, apud ZIMMERMANN, op. cit. p.449.
28
JESUS, Damásio de in Ação Penal sem crime, Complexo Jurídico Damásio de Jesus. Disponível em:
www.damasio.com.br. Acesso em 18 nov 2007.
18
29
ROUSSEAU, Jean-Jacques, O Contrato Social, Livro Segundo Capítulo III apud ZIMMERMANN, op. cit.
p.354.
19
30
MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional, 11ª ed., São Paulo: Atlas, 2002, p.587.
31
ZIMMERMANN, op. cit, p. 581.
32
BONAVIDES, Paulo, Curso de Direito Constitucional, 20. ed.São Paulo: Malheiros, 2007, p.325.
22
33
Ibidem, p. 328.
34
Ibidem, p.328.
35
Ibidem, p.328.
36
Ibidem, p. 329.
23
37
MENDES, Gilmar Ferreira, Jurisdição Constitucional, 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 145 apud
ALMEIDA, Vânia Hack de, Controle de Constitucionalidade, Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2004, p.63.
24
em outros, proferindo decisões que iriam de encontro à maioria que pelo voto escolheu os
governantes e seus programas de governo.
O caso, não obstante o respeito às opiniões divergentes, parece ser, mais uma vez, de
choque de visões de Estados e de idéias, como anteriormente explicitado e não de supremacia
judicial sobre os demais poderes.
Não é constitucionalmente aceitável que determinado grupo eleito em hipótese de
alternância de poder, alternância de poder esta que não revele o rompimento institucional
verificado no período pré-constituinte de 1988, queira alterar o ordenamento vigente pela
imposição de novo ideário político, através de leis e atos normativos casuísticos, sem
observância dos princípios constitucionais legitimados pelo Poder Constituinte originário.
Em 1988, após longo período de supressão de liberdades democráticas e garantias
fundamentais, a sociedade civil organizou-se de tal modo que, pela força dos seus anseios, no
papel de poder constituinte material, impôs a alteração da ordem constitucional,
legitimamente, pelo voto, pela eleição de representantes, poder constituinte formal que deu
conformação social ao novo Estado de Direito.
Daí exsurge a força normativa constitucional de 1988, e se o órgão máximo do Poder
Judiciário, a quem a ordem constitucional delegou o papel de guardião da Constituição,
decide segundo o padrão constitucional originário, tornando concretos os anseios da
sociedade civil, o que verifica é supremacia constitucional, não uma mera supremacia
judicial.
Por outro lado, como a sociedade não é estática, estando em estado de mutação
constante, a ordem constitucional vigente deve adequar-se à solução dos novos conflitos
surgidos das relações de emprego, do aparecimento de novas mídias, do sistema global de
comércio e indústria, do transnacionalismo contemporâneo, sendo certo que tal adequação
cabe ao órgão ao qual se delegou originalmente tal poder, utilizando-se para tal do desenho
constitucional estabelecido em 1988, até que nova ordem constitucional venha a alterá-lo, se
esta for a vontade da nação.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
regime militar que a partir do golpe revolucionário de 1964 governou o país com mão - de-
ferro, até exaurir-se em lutas internas e pela pressão da sociedade civil organizada.
O movimento que culminou com a convocação de 1986 para a elaboração da Carta de
1988, deu efetiva concretude aos postulados da Teoria do Poder Constituinte, principalmente
no que diz respeito ao povo, titular do Poder, que em um ato inicial de criação do Estado, ao
qual não se opôs qualquer limitação jurídica, elegeu seus representantes em Assembléia
Constituinte, Assembléia esta que desempenhou a missão de elaborar o estatuto básico do
Estado: A Constituição.
Como o rompimento institucional não se deu de forma violenta, com a tomada de
poder pelas armas como se viu acontecer tantas vezes na história das nações, mas sim de
forma pacífica, sem maiores sobressaltos, estiveram representados na Assembléia
Constituinte todos os estratos da sociedade, inclusive aqueles que apoiavam o antigo regime,
resultando de tais circunstâncias a manutenção de determinados modelos e idéias que
implicam em desvios importantes de representação popular.
Não se pode olvidar como demonstrado anteriormente, que a representação popular
não encontra perfeita expressão nas bases em que está assentado o sistema eleitoral,
mormente no que tange à consciência cívica dos eleitores, na ausência de espírito público dos
eleitos, nos financiamentos privados de campanha que resultam em influência indevida do
poder econômico sobre a liberdade de voto.
Com a edição da Lei 11.300, de 10 de maio de 2006, como se expôs no item
pertinente, ampliou-se significativamente o leque de medidas de combate à influência do
poder econômico, cabendo à sociedade a fiscalização quanto à sua aplicação, de forma a
garantir-se igualdade de condições de elegibilidade.
Ainda no plano eleitoral, em combinação com o político-partidário, verifica-se talvez
o mais importante desvio de representação, consubstanciado na manutenção pela Carta de
1988 do sistema proporcional na eleição dos deputados federais, que como demonstrado,
representa violação ao princípio básico da Teoria do Poder Constituinte e da soberania e
representação popular, manifestado na expressão da igualdade de voto: um homem, um voto.
No que tange à representação política, os problemas enfrentados dizem respeito à
facilidade atribuída pela ordem constitucional à criação de novas agremiações partidárias,
que se traduz em fragilidade dos partidos políticos.
Com relação aos aspectos internos dos partidos, o instituto da fidelidade partidária,
definido em decisões proferidas pelo Superior Tribunal Federal e pelo Supremo Tribunal
Federal na Consulta 1398 e Mandados de Segurança 26602, 26603 e 26604, respectivamente,
28
REFERÊNCIAS.
ALMEIDA, Vânia Hack de, Controle de Constitucionalidade, Porto Alegre: Verbo Jurídico,
2004.
BARROSO, Luís Roberto (Org) e BARCELOS, Ana Paula de, O Começo da História. A
Nova Interpretação Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro, in A Nova
Interpretação Constitucional, 2. ed., revista e atualizada. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
BONAVIDES, Paulo, Curso de Direito Constitucional, 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
História das eleições no Brasil. Centro de Memória. Tribunal Superior Eleitoral. Disponível
em: http://www.tse.gov.br. Acesso em 16 nov 2007.
JESUS, Damásio de in Ação Penal sem crime, Complexo Jurídico Damásio de Jesus.
Disponível em: http:// www.damasio.com.br. Acesso em 18 nov 2007.
29
MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional, 11. ed., São Paulo: Atlas, 2002.