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Inquérito Policial

Para dar início a um processo penal, em regra, usa-de do inquérito policial para
colher um mínimo de prova.

1) Conceito: procedimento administrativo inquisitório e preparatório, consistente em um conjunto


de diligências realizadas pela polícia investigativa para apuração da infração penal e de sua autoria,
presidido pela autoridade policial, a fim de fornecer elementos de informação para que o titular da
ação penal possa ingressar em juízo.

2) Termo circunstanciado: não tem a mesma formalidade do inquérito, é quase um boletim de


ocorrência. Ele é utilizado para as infrações de menor potencial ofensivo: contravenções e crimes
cuja pena máxima não seja superior a dois anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a
procedimento especial. Ex.: porte de drogas para uso pessoal; desacato.

3) Natureza jurídica: trata-se de procedimento administrativo.


--> Por essa razão, eventuais vícios existentes no inquérito não afetam a ação penal a que deu
origem. Ex.: Delegado prendeu alguém em flagrante, porém deixou de comunicar ao juiz (ferindo a
CF). A prisão em flagrante tornou-se ilegal, porém nenhum prejuízo acarretará na ação penal.

4) Presidência do inquérito policial: fica a cargo da autoridade policial, exercendo as funções de


polícia judiciária. Geralmente a autoridade policial é determinada pelo local do delito, sobretudo
nas comarcas menores, onde não há, em regra, delegacias especializadas.

Polícia Judiciária X Polícia investigativa


Judiciária é a polícia que auxilia o poder Investigativa é a polícia quando atua na
judiciário no cumprimento de suas ordens apuração de infrações penais e de sua autoria.
Quando um juiz estadual expede um mandado
de busca e apreensão para a polícia civil, estará
ela exercendo essa função.
Uma mesma polícia pode exercer essas duas funções.
Nesse sentido, a CF diz que à PF cabe: apurar infrações penais, na função de polícia investigativa
(144, inc. I); cabe também à policia federal exercer com exclusividade as funções de polícia
judiciária da União (144, inc IV),

5) Atribuição da polícia investigativa:

– Se o crime for de competência da Justiça Militar da União: quem investiga são as forças
armadas, através de um IPM presidido por um oficial encarregado.
– Se o crime for de competência da Justiça Militar Estadual: quem investiga é a própria
polícia militar, através de um IPM encarregado por um oficial encarregado.
– Se o crime for de competência da Justiça Federal ou Eleitoral: quem investiga é a polícia
federal.
– Se o crime for de competência da Justiça Estadual: quem investiga é a polícia civil.
A polícia federal também pode investigar delitos que sejam de competência da justiça
estadual, pois as atribuições investigatórias da PF são mais amplas do que a competência
criminal da JF: apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas
(competência da JF), assim como outras infrações cuka prática tenha repercussões
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei
(competência da Justiça Estadual).
Lei 10.446/02: Traz alguns crimes que são investigados pela PF com repercusão
interestadual ou que exiga repressão uniforme, dispondo que – sem prejuízo da
responsabilidade dos órgãos de segurança pública (ou seja, além da PF, podem as outras
polícias investigarem também), a polícia federal investigará:
>Sequestro, cárcero privado e exteroção mediante sequestro, se o agente for impelido por
motivação política ou quando praticado em razão da função publica exercida pela vítima.
>Formação de cartel
>Relativas à violação de direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se
comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais.
>Furto, roubo ou recepetação de cargas, inclusive bens e valores, transportados em operação
interstadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilhas ou bando em
mais de um Estado da Federação.
Atendidos os pressupostos, o DPF procederá à apuração de outros casos, desde que tal
providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.

6) Características do inquérito policial:

6.1. Peça escrita: todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito
ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
Gravação de inquérito policial (art. 405, parágrafo primeiro): Sempre que possível, o registro dos
depoimentos do investigado indiciado, do ofendido e testemunhas, será feito pelos meios ou
recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisial,
detinada a obter maior fidelidade das informações. Em que pese esse dispositivo diga respeito ao
processo, alguns doutrinadores estão dizendo que, por conta desse parágrafo primeira, possa
autoridade policial se valer dos meios audiovisuais.

6.2. Instrumental: em regra, o inquérito é o instrumento utilizado pelo Estado para colher
elementos de informação quanto à autoria e materialidade do crime.

6.3. Obrigatório: havendo um mínimo e elementos, o delegado deve instaurar o inquérito.


Se a vítima faz requerimento e o delegado indefere a abertura do inquérito, cabe recurso inominado
para o chefe de polícia.

6.4. Dispensável: se o titular da ação penal contar com peças de informação com prova do crime e
da autoria, poderá dispensar o inquérito policial.
Fundamento legal – art. 27: qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do MP, nos casos
em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria,
indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

6.5. Sigiloso: a autoridade assegurará o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.
Apesar do sigilo, o Juiz, o MP e o Advogado (art. 5º, LXIII, CF) têm acesso aos autos. O advogado,
mesmo sem procuração, poderá ter acesso aos autos, conforme estatuto da OAB (se no inquérito foi
feito a quebra de sigilo de dados, somente o advogado com procuração poderá ter acesso aos autos).
O acesso do advogado ao inquérito: advogado tem acesso às informações já introduzidas no
inquérito, mas não em relação às diligências em andamento (jurisprudência).
Julgados relacionados ao tema: STF HC 82354 e 90232.
Qual o remédio constitucional cabível na hipótese de o delegado se recusar a dar acesso ao
advogado? Como advogado, MS; como representante do cliente, HC. Para o STF, sempre que puder
resultar, ainda que de modo potencial, prejuízo à liberdade de locomoção, será cabível HC (contra
quebra de sigilo de dados bancários cabe HC).

6.6. Inquisitivo: não há contraditório, não há ampla defesa. Se no momento da prisão, o preso não
indicar nome de advogado, o delegado deverá remeter cópia integral do APF para a Defensoria
Pública.

6.7. Informativo: visa a colheita de elementos de informação quanto à autoria e materialidade da


infração penal.
Qual é a diferença entre elementos de informação e priva?

Elementos de informação Prova


- São colhidos na fase investigatório; - Em regra, são colhidas em juízo.
- Inquisitivo; - Acusatório;
- Não há contraditório; - Contraditório;
- Não há ampla defesa. - Ampla defesa.
- Prestam-se para a decretação de medidas
cautelares e para a formação da opinio delicti.
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação.
Prova para MP e magistratura (jurisprudência): elementos informativos isoladamente considerados
não podem fundamentar uma condenação, porém não devem ser ignorados pelo juiz, podendo-se
somar à prova produzida em juizo, servindo como mais um elementos na formação de sua
convicação (STF RE 287658 e RE AGR 425734).
Prova para defensor público: elementos informativos não podem fundamentar uma condenação
pois não foram produzidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.

Prova não repetível: São colhidas na fase investigatória porque não podem ser produzidas
novamente na fase processual. Ex.: exame de corpo e delito no local do crime. O contraditório é
diferido na hipótese de prova não repetível.

Provas antecipadas: em virtude de sua relevância e urgência, são produzidas antes de seu momento
processual oportuno e até antes do início do processo, porém com a observância do contraditório
real. Ex.: art. 225 do CPP: se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou
por velhice, inspirar receio que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poerá, de ofício
ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento (depoimento ad
perpetuam rei memorium).
Súmula 455 do STJ no caso do Art. 366 (primeiro semestre de 2010):
"A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPC deve ser
concretamente fundamentada, não a justificando o mero decurso do tempo."
O art. 366 diz que: para os casos de citação por edital, quando o réu não comparece e não constitui
advogado, suspende-se a ação penal e a prescrição; além disso, o magistrado tem a opção de
produzir provas antecipadas e, eventualmente, decretar a prisão preventiva.

6.8. Indisponível: Delegado não pode arquivar inquérito policial.

6.9. Discricionariedade: Em relação às diligências, o inquérito policial é discricionário. Delegado,


ao conduzir o inquérito, não está vinculado a cumprir toda e qualquer diligência – ele pode fazer
apenas as mais convenientes e necessárias, por exemplo. Diz o art. 14 do CPP: O ofendido ou seu
representante legal, e o indiciado, poderão requerer qualquer diligência, que será realizada ou não, a
juízo da autoridade.

7) Formas de instauração do inquérito policial:

-- Ação penal privada: a ação é condicionada ao requerimento do ofendido.

-- Ação penal pública condicionada: depende da representação do ofendido ou requisição do


ministro da justiça (crime contra a honra do presidente).

-- Ação penal pública incondicionada: a) o inquérito pode ser instalado de ofício (através da
portaria); b) o inquérito pode ser instaurado por requisição do Juiz ou do MP; c) auto de prisão em
flagrante; d) notícia oferecida por qualquer do povo (delatio criminis).

• Com requisição do MP, o delegado é obrigado a instaurar o inquérito?


- Resposta para prova de juiz e promotor: requisição é sinônimo de ordem, então o delegado é
obrigado a acatar.
- Resposta para prova de delegado: requisição não pode ser entendida como uma ordem, pois não há
hierarquia entre MP e delegado. O delegado atende a requisição em virtude do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública.
• Denúncioa anônima: antes de instaurar o IP deve a autoridade policial verificar a
procedência das informações (STF e STJ).
• Autoridade coatora para fins de HC no caso de requisição do Juiz e do MP: autoridade
coatora é o MP ou o Juiz – quem julga o HC é a segunda instância.

8) Notitia criminis:

8.1. Conceito: é o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado, de um fato delituoso.

8.2. Espécies:

a) de cognição imediata (espontânea) – a autoridade policial toma conhecimento do fato através


de suas atividades rotineiras.
b) de cognição mediata (provocada) – a autoridade toma conhecimento do fato por meio de um
expediente escrito (requerimento da vítima, representação do ofendido, requisição do MP etc).
c) de cognição coercitiva – a autoridade policial toma conhecimento do fato em virtude da
apresentação do indivíduo preso em flagrante.

9) Diligências investigatórios:

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