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In Vino, Veritas!
In Vino, Veritas!
In Vino, Veritas!
“In vino, veritas!” - Antigo ditado romano, que significa “No vinho está a
verdade!”
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Embora possa parecer que não, ser bonito às vezes tem algumas
desvantagens. Aquela, para Ignácio, era uma rara situação onde ele
lamentava a beleza que já lhe abrira tantas portas.
Ter de deixar um emprego maravilhoso como aquele, onde havia gostado não
apenas da família que o contratara, mas também da cidade onde estava
morando, das amizades que ali fizera, tinha sido triste. Mas era óbvia a
direção que as coisas estavam tomando.
Ela devia ter seus cinqüenta e tantos anos de idade, mas Ignácio só soube
disso mais tarde, pelas empregadas da casa. Quando a vira pela primeira
vez, lhe dera no máximo quarenta e dois anos. Belíssima, dona de longos
cabelos loiros e de olhos de um azul profundo, Veronika Van Hoorsten,
definitivamente, fazia faltar palavras no dicionário para descrever sua beleza.
In Vino, Veritas! Página 2
Letras de Sangue
No geral, Ignácio seguia o velho ditado de que um bom mordomo faz uma
sala parecer mais vazia com sua presença do que com sua ausência. Mas
não pode deixar de perguntar a Leopold Van Hoorsten, no que seria talvez o
único momento de indiscrição em toda sua carreira, como conseguiam plantar
uvas naquele lugar.
- Isto, meu caro, é o tipo do segredo que pode custar a alma de um homem!
Quanto a Veronika, Ignácio não tinha muito contato, ela passava a maior
parte do tempo viajando. Pelas conversas que ouvia, Ignácio ficara sabendo
que ela coordenava a parte comercial do negócio mantido pelos dois irmãos.
Depois de dois anos trabalhando na propriedade sem que nenhum dos dois
irmãos recebesse uma visita sequer, Ignácio estranhou quando recebeu
ordens para preparar os aposentos de hóspedes para a chegada de um
grande grupo de convidados, que ficariam na propriedade durante um fim de
semana. Como de costume, restringiu suas perguntas ao necessário para
saber como deveria acomodar o grupo adequadamente. Quem eram e o que
fariam lá, não era de seu interesse.
Mas, estranha mesmo foi a ordem que recebera de dar folga a todos os
empregados no domingo.
- Desculpe, Ignácio, mas poderia vir até o meu quarto? Estou com um
probleminha inesperado.
Vestidos com túnicas e capuzes nas cores vermelho e preto, bordados com
estranhos símbolos que Ignácio desconhecia, vinte e dois estranhos olhavam
para ele com olhos impiedosos. Percebendo que ele acordara, um deles
apontou para ele e ordenou:
- Comecem!
- Ora, ora, ora. Belos pulmões, senhor Ignácio, belos pulmões. Fizemos bem
em dar folga aos outros empregados. Eles com certeza ouviriam o senhor.
- Mas... Por quê? – perguntou Ignácio, com lágrimas nos olhos devido a dor
que sentia.
- O senhor não quis saber o segredo do nosso vinho, senhor Ignácio? Acabou
de descobri-lo. Nosso vinho é o único que pode ser usado em cerimônias
satânicas do mundo todo, porque é produzido numa situação totalmente
antinatural. E, para que as vinhas produzam nesta situação, é necessário o
sacrifício periódico de um inocente. No caso, hoje, este inocente é o senhor.
- Mas que loucura é essa? Cerimônias satânicas? Isso só pode ser mentira...
- Eu não poderia mentir num assunto desses, senhor Ignácio. O senhor nunca
ouviu falar “in vino, veritas”?
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