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1 ego: 2000 Sma Competéncias, habilidades e curriculos de educacao profissional | crénicas e reflexdes 3 edicdo Dados tnteracionais de Cataopacio na Publica (C1?) (Camara Brasira do Livre, SP, Bras) abildades ¢curseuos de eecaslo profit: exes / Desi Deffoe, Lés Deprestiteris.— i 'SENAC Sto Patlo, 20K, Bidtognata ISBN'EST39-1366 Deisi Deffune deca profissonal- Brasil 1. Depesbiteris Ls. Th Léa Depresbiteris e131 Indies para catalog sstematico: 3, Brasil: Edueagio proisional 370,1130881 _AbMInasTRAGRO REGIONAL DO SENAC NO ESTADO DF SAO PAULO Pree de Coo Regn: Nr Spr ‘Diruor do Departamento Regina aiz Fresco de A Sipenmendente Unvorsrio« de Desewrahinent: Lit Clos Douro Cordero de Prospero Prato Spero de Proce Coil it Se repro de Than Wooe PB. Gree ‘Roa de Te cis Baron Fach ‘Capt Siney to, soe Composite, de Kandy IReerader Dover Devigleny, Megs Bude, CDs ds imagens Inpro «Acabonese: Barra Gris © Bator i spe Sipemin de Wd Ri Coorenago Admonsratve: Cates Albers roi «ryote sta expess edo ca Sits desta dg reservados 9 v= Sto Palo ~ SP 2s B ol Sumario Nota do editor Tntrodugio ‘A procura de um trabalho: 0 mundo de Joao (José) Habilidades — urna questio de competéncias? ‘As miltiplas faces da competéncia E possivel humanizar os curriculos de educagio profissional? Bibliografia ‘Um dos muitos conceitos deste livro expostos com mesidiana clateza 60 de pofivalinia A polivaléncia, ensina-se aqui, “refere-sea uma série de capacidades e comperéncias que permitam a pessoa viver em sociedade como cidadio participante, critico e consciente””. O Joao ou José trabalhador, que um dia se viu despedido do emprego sem entender por que iss0 Ihe acontecia, pode, € deve, tornar-se um polivalente, em muito melhores condigies de atender aos seguintes aspectos, que 0 livro relaciona: resolucio de problemas, autonomia, iniciativa, critividade, desenvolvimento de raciocinio mais elaborado, constnugio de conhecimentos, preserva¢io do meio ambiente e ética, Ei facil de ver-se, pela breve referéncia ao que propde o livro, a ‘visceral compatibilidade dele com 0 que tem sido o trabalho ceducacional do Senac Sio Paulo ao longo de mais de meio século de existéncia, Algar 0 wabalhador a esfera da consciéncia de cidadio profissional, propiciar-Ihe condiges para o completo desen- volvimento de suas potencialidades, permitindo-Ihe alcangar o que neste livro se denomina polivalinda com enriguecinento das tarefas, umn lagdgico professado aqui por Deise Deffune e Léa Depres- -ale como urn compromisso em favor do qual a instituigio Senac também milita~ ¢ a Bditora Senac Sio Paulo se orgulha de lancar. Ceio que nunca se discutiu tanto sobre educasio profissional. Puderal Anova Lei de Diretrizes e Bases da Educacio Brasileira n* 9.394/ 96 dedicou um capitulo especial ao tema. Palavras podem ser comoventes como as palavras contidas nessa LDB. Expressam forte preocupagio com a educacio profissional Mas seri que essa preocupacio vai gerar agdes coerentes com 2 filosofia pensada? “Muita coisa precisa acontecer para que a pritica possa estar coerente ‘com o discarso, e aprofundar alguns conceitos que permeiam @ literatura da educacao profissional nos dias de hoje é apenas uma delas, uma vez que pensas, por exemplo, em competéncias como forma de competir é totalmente diferente dg que pensar em competéncias como meio de desenvolvimento da maioria das pessoas para que possam sobreviver num mundo de trabalho complexo, repleto de incertezas. Polivaléncia, competéncias, habilidades, certificagao, entre outros, so termos polissémicos que precisam de maior estudo ¢ melhor contextualizacio, pois podem provocar sérios problemas aos trabalhadores. Este livro resine quatro artigos, jé divulgados, que tém a finalidade de estimular areflexo de alguns desses termos. Por que juntar num livro artigos publicados ou em fase de publicacaio? Uma das razdes € 0 niimero de pessoas que solicitam cépias dos artigos, interessadas em discuti-los. Organizé-los num livro pode favorecer seu acesso 2 essa pessoas. Oprimeiro arti procura de um trabalho: de Joio f retin: Veeco do St ‘Departamento Nacional, Rio de Janeiro, volume 22, n* 3, setembro- dezembro, 1996, pp. 29-34. Jodo ou José, enfim, um trabalhador ‘que perdeu o emprego, busca nova oportunidade no mercado de trabalho ¢ se defronta com uma série de diividas, de incertezas. Conseguiri um novo emprego? A leitura mobiliza oleitor a decidir tum final para o personagem de ficcio, identificado com persona- gens reais © segundo artigo foi claborado sob solicitagao da Secretaria de Formacio Profissional (Sefor) do Ministério do Trabalho FAT/ Cadefat, Brasilia, 1996. O artigo aborda a compreensio do conceito de habilidades bisicas, questiona a especificdade desse conceito para ‘uma populacio de baixa escolaridade e apresenta sua relago com ‘a questio da competéncia (O terceito artigo também foi feito pata a Sefor (1997) ¢ foca um assunto polémico — 0 das competéncias, apresentando miluplas interpretagdes ¢ exigindo do leitor uma andlise criteriosa, Finalmente, o timo artigo éinédito e detalha uma sésie de premissas pedagégicas e procedimentos metodoldgicos que podem ausiliar na humanizacio dos curriculos de educagio profissional, fazendo com que neles sejam incorporados outros aspectos diferentes daqueles que se referem exclusivamente a uma formacio para o “saber-fazer” Esperamos contribuir para a reflexio das pessoas vinculadas ou nio a instituicdes educacionais, preocupadas com a formacio educacional mais ampla do trabalhador. ON k=” Aprocura de um trabalho: o mundo de Joao (José) A DEMISSAO ‘Naquelas semanas ele haviabatido porta de muitas empresas. Nem se recordava mais das respostas que dera is intimeras entrevistas de selecio. Tinha a nitida sensagio de que em algunas oeasides havia se saido bem, em outras fracassara, (O mais angostiante, porém, era uraidéia que o atormentava desde aque perdesa 0 emprego: afinal, que erros teria comerido? Procurava estar sempre atualizado, fazia cursos por conta pr6pria, mantinha um bom relacionamento no trabalho, gostava do que fazia, ‘o seu desempenho sempre foi considerado muito bom. Por que, entio, o jogatam na rua, depois de tantos anos? Respicou fundo, tentando afastar o pensamento de ter sido descartado como uma pega velha CChegou em casa exausto. Os pés doiam, a eabega em tumulro- Convetsou rapidamente com a mulher e foi direto para o chuveiro. Enquanto tomava banbo, algumas imagens pareciam saltar das goss de agua que calam sobre seu corpo. Imagens da Fabrica, des ‘mquinas, do supervisor cobrando a produgio. AHORA DA GLOBALIZACAO Depois do jantar, sentou-se no sof para vero telejornal. As noticias cram quase sempre as mesmas; uma delas era da globalizagao da economia, Incrivel! Ble nfo conseguin entender direito 0 que eraisso, Também, ora 2 televisio mostrava vantagens tais como diversidade de prodatos, baixo custo das mercadorias, aumento da concorréncia centre os fabricantes, ora mostrava algumas fabricas fechando porque no conseguiam competit com os precos de outros paises. Como poderia ter uma opiniio firme sobre 0 assuato se, além das contradigées dos noticiétios, as noticias eram dadas de maneira tio superficial Seri que a globalizacio também se referia ao desemprego, & pobreza, a violencia? Seré que ela estaria provocando desindustrializagio aumento do desemprego? Pensou em voz alta. De repente, uma propaganda desviou sua atencio. De um aparelho de som ultramoderno comecaram a sair notas de uma miisica que transportava as pessoas para um paraiso colorido, Ficou com descjo de gozar aquele cenario ¢ decidia que quando arrurnasse um emprego, compraria o tal aparelho de som. De repente, o medo. E se ele nunca mais arrumasse um emprego? 0 DESEMPREGO Lembrou-se com tristeza de uma reportagem que havia lido em tum jomal e que dizia mais ou menos o seguinte: Durante muito tempo, trabalho ¢ emprego foram considerados sinénimos; dizia-se que uma pessoa trabalhava quando tinha um a emprego. Ter emprego significava estar ligado a uma organizacio, ocupar uma fangio claramente definida, com obrigagies, horitios, faixas de remuneragao e de promogées, tudo isso mais ou menos padronizado. sce tipo de emprego passou a ser um aspecto central na vida das pessoas ¢ dos paises industralizados, Sua importineia foi muito grande, porque satisfazia muita necessidades dos gerenteserécnicos aque tinham bem claras as tarefas da linha de montagem, dos trabalhadotes que protegiam seus direitos; enfim o emprego dava ‘uma sensagao de seguranca e se constituia em um principio de onganizagio da sociedade. Hoje em dia o emprego esté se tornando um artigo em extingao. Ficou tio chocado com a lembranca dessa reportagem que mal ouviu quando sua mulher o chamou para jantar. 0 PESADELO ‘Naguela noite dormiu mal Em cada virada na cama inka um sono, ou melhor, um pesadelo, Em um deles,a fabrica na qual trabalhava ‘estava toda automatiaada. Os poucos funciontios presentes pareciam muito atarefados com os problemas que iam surgindo durante © processo de produsio. Teve uina seasagzo agradivel vendo aquelas pessoas conversandoe discutindo em equipe. Quis entrar para um desses grupos, mas foi impedido. Por que woofs nfo me deixam paricipas? ~pergunton ele angustialo Porque vocé é um trabalhador acostumado a ter um posto de trabalho ¢ no a exetcer uma profissio. Antgamente 0s artesios cexetciam a profissio, depois ela fo se desmembrando em pequenos pedagos, ou seja, em postos de trabalho, Somente exercia uma profisio um médico, um advogado, um professor. B

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