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Solução Numérica de Equações Diferenciais Ordinárias
Solução Numérica de Equações Diferenciais Ordinárias
Introdução
Diversos problemas técnicos e científicos são descritos matematicamente por equações
diferenciais que representam variações das quantidades físicas que os descrevem. Alguns
exemplos de equações diferenciais são:
dC A
(1) reação química de 1a ordem A → ← B , descrita pela equação = − kC A , na qual CA é a
dt
concentração do reagente A, k a constante da reação e t o tempo decorrido desde o início
da reação.
(2) descarga de um circuito elétrico contendo uma resistor em série com um capacitor,
dQ C
descrito pela equação V0 = R + , para a qual V0 é a tensão contínua de alimentação
dt Q
do circuito, R a resistência, C a capacitância, Q a carga elétrica acumulada no capacitor e
dQ
i= a corrente do circuito.
dt
dT
(3) condução de calor num material sólido, descrito pela equação de Fourier q& = kA , na
dx
qual q& é o fluxo térmico, k a condutividade térmica, A a área de secção transversal ao
fluxo térmico, T a temperatura e x a coordenada espacial na direção do fluxo de calor.
d 2θ g
(4) pêndulo simples, descrito pela equação =− sen θ , na qual θ é o ângulo formado
dt 2 l
pelo pêndulo em relação ao eixo vertical, g a aceleração da gravidade, l o comprimento do
pêndulo e t o tempo.
Dos exemplos citados, vemos que o grau (ou ordem) de uma equação diferencial pode
variar. O grau de uma equação diferencial é definido pelo termo da equação que contém a
derivada de maior ordem. Por exemplo, a seguinte equação diferencial y´ +x − 2 = 0 é uma
equação diferencial de 1o grau porque a derivada y´ é de 1a ordem. Já a equação diferencial
y ′′′ − 2 xy ′′ + 5 y ′ + y − x + 8 = 0 é uma equação diferencial de 3o grau porque o termo de
derivada de maior ordem é de 3a ordem. Se a solução de uma equação diferencial y for uma
função de uma única variável x, isto é, se y = y(x), então a equação diferencial é chamada de
equação diferencial ordinária.
Definição
Uma equação diferencial ordinária de grau n é uma equação que pode ser descrita na
forma geral como:
y ( n ) = f ( x , y , y ′, y ′′ ,K , y ( n−1 ) ) (1)
dny
sendo que y ( n ) ≡ empregando a notação de Leibniz.
dx n
Uma equação diferencial ordinária (E.D.O.) de 1a ordem para duas variáveis x e y é
definida como uma equação da forma espacial:
dy
y′ = = f ( x, y ) (2)
dx
dy
y& = = f ( y, t ) (3)
dt
No caso particular f(x,y) = f(x), podemos obter a solução geral para E.D.O. de 1a ordem (2)
por separação de variáveis:
dy
y′ = = f(x) ⇒ dy = f ( x ) ⋅ dx (4)
dx
y=
∫ f ( x ) ⋅ dx + C (5)
onde C é a constante de integração. Para obtermos uma solução particular (ou seja, um valor
específico para a constante C), é necessário fornecer uma condição de contorno para a
equação (2):
f ( x 0 , y 0 ) = C0 (4)
Exemplo 1
Seja a E.D.O. de 1a ordem: y ′ = y , cuja solução analítica geral é expressa por y = Ce x . Se
impusermos como condição de contorno y(0) = 1, isto é, em x = 0, y = 1 e substituirmos na
solução geral, vem que, 1 = Ce 0 = C .
Portanto, a solução particular da E.D.O. y’ = y é obtida substituindo-se o valor da constante
de integração C calculada da condição de contorno y(0) = 1, resultando:
y = ex
Exemplo 2
Seja a E.D.O. de 1o grau, y' = x + y, cuja solução analítica, obtida pelo Método dos Fatores
Integrantes1, é expressa por: y(x) = Cex -x - 1. Se adotarmos a condição de contorno y(0) = 0,
vem que y(0) = C - 1 = 0. Portanto, C = 1, que substituindo na solução geral, resulta a solução
particular: y(x) = ex - x - 1.
É importante salientar que a solução geral representa uma família de soluções (isto é,
um conjunto infinito de soluções) e que a solução particular representa uma solução única.
Como nos métodos numéricos pressupõe-se que a solução do problema seja única, isto irá
requerer na descrição do problema a especificação da condição de contorno juntamente com a
equação diferencial.
Método de Euler
O Método de Euler é um método aproximado de 1a ordem, isto é, ele aproxima a
solução da E.D.O. de 1o grau y(x) = y(x) por uma função de 1o grau, isto é, por uma reta. A
Fig. 6.1 ilustra a aproximação da solução exata y = y(x) por uma solução aproximada y ,
obtida pelo prolongamento de uma reta tangente à curva de y = y(x) até o valor de x para o
qual deseja-se obter a solução da E.D.O.
A equação genérica para o cálculo da solução de uma E.D.O. de 1o grau pelo Método
de Euler é expressa por:
y i +1 = yi + hf ( xi , y i )
para a qual
h = x i +1 − xi
Exemplo 3:
Seja a E.D.O. y’ = x, com a condição de contorno y(0) = 2. Calcular a solução da E.D.O.
empregando o método de Euler em x = 2.
No enunciado do exemplo não foi especificado o valor do sub-intervalo de integração h, de
modo que vamos calcular inicialmente com h = 1.
A equação do método de Euler para a E.D.O. do exemplo tem a forma:
yi +1 = yi + h. xi
1
Matemática Superior, E. Kreyszig, Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro,1969, p.69.
(a) h = 1
i=0 x1 = x0 + h = 0 + 1 = 1
y1 = y0 + h.x0 = 2 + 1.0 = 2
i=1 x2 = x1 + h = 1 + 1 = 2
y2 = y1 + h.x1 = 2 + 1.1 = 3
(a) h = 0,5
dy x2
= x ⇒ ∫ dy = ∫ x.dx ⇒ y = +C
dx 2
02
y (0) = 2 ⇒ 2 = +C ⇒C = 2
2
x2
Desta forma, a solução analítica particular para este problema é: y = + 2 . Calculando-se a
2
22
solução exata em x = 2, resulta y(2) = +2=4.
2
Assim, o erro da solução pelo método de Euler com h = 1 vale
valor exato - valor aproximado = 4 - 3 = 1, enquanto que para h = 0,5 o erro vale
4 - 3,5 = 0,5. Observa-se, assim, que quando o intervalo h é reduzido pela metade, o erro
reduz-se pela metade.
Para verificarmos este resultado, vamos calcular a solução aproximada de uma outra E.D.O.
pelo método de Euler com diferentes valores de h e comparar com a solução exata.
Exemplo 4:
Seja a E.D.O. y’ = y, com a condição de contorno y(1) = 1. Calcular a solução da E.D.O.
empregando o método de Euler em x = 2, para h = 0,5 e h = 0,25.
Neste exemplo, por questão de conveniência, vamos realizar os cálculos numa tabela que
sumariza os resultados.
A equação do método de Euler para a E.D.O. y’ = y é:
yi +1 = yi + h. yi
(a) h = 0,5
i xi yi yi+1
0 1,0 1,0 1,5
1 1,5 1,5 2,25
2 2,0 2,25
(b) h = 0,25
i xi yi yi+1
0 1,0 1,0 1,25
1 1,25 1,25 1,5625
2 1,5 1,5625 1,9531
3 1,75 1,9531 2,4414
4 2,0 2,4414
dy dy
= y ⇒ ∫ = ∫ dx ⇒ ln y = x + C ′
dx y
y = Ce x
y (1) = 1 ⇒ 1 = Ce1 ⇒ C = e −1
que, substituindo na solução analítica geral, resultará na expressão: y = e x−1 como solução
analítica particular do problema.
Calculando-se a solução exata em x = 2, obtém-se y(2) = e2-1 = e1 = 2,7183. Comparando-se o
resultado exato com os resultados aproximados de (a) e (b), resulta:
o que corresponde a uma redução de 1,7 vezes no erro quando o intervalo h é reduzido pela
metade.
h2
y i +1 = y i + hf ( xi , yi ) + f ′ ( xi , y i )
2
Observar que, além do cálculo da derivada da função y = y(x), este método requer o cálculo da
sua derivada segunda também.
y i +1 = yi +
h
2
[ f ( xi , yi ) + f ( xi + h, yi +1 ]
Métodos de Runge-Kutta
Os Métodos de Runge-Kutta consistem em métodos de aproximação de 2a e 4a ordem.
No caso do Método de Runge-Kutta de 2a ordem, a expressão para o cálculo aproximado de
yi+1 é equivalente à do Método de Euler Modificado, ou seja,
[ f ( xi , yi ) + f ( xi + h, yi +1 ]
h
y i +1 = yi +
2
y i +1 = yi +
h
(k + k2 )
2 1
k1 = f ( x i , yi ) k 2 = f ( xi + h, yi + hk1 )
y i +1 = yi +
h
6 1
(k + 2k2 + 2k3 + k4 )
k1 = f ( xi , y i )
k2 = f ( xi + h / 2, yi + hk1 / 2)
k3 = f ( x i + h / 2, y i + hk 2 / 3)
k2 = f ( xi + h, y i + hk 3 )
Exemplo 5
Seja a equação diferencial ordinária y’ – y = 1 – x, com a condição de contorno y(1) = -2,
calcular a solução numérica empregando o método de Euler, o método de Euler Modificado e
o método de Runge-Kutta de 4a ordem. Vamos verificar numericamente que a solução pelo
método de Runge-Kutta de 2a ordem é igual à do método de Euler Modificado. Sendo a
solução exata y(x) = Cex + x, vamos calcular a constante de integração e, à partir da solução
exata particular, determinar o erro para cada um dos métodos numéricos.
Solução
Re-escrevendo a E.D.O. na forma canônica, y’ = y – x + 1, vem que:
f(x,y) = y – x + 1
yi+1 = yi + h.y’m
10 3.0 -19.17 -19.17 0.00 -21.17 -23.38 -23.61 -26.09 3.20 -23.87
11 3.2 -23.87 -23.88 0.00 -26.07 -28.78 -29.05 -32.08 3.40 -29.67
12 3.4 -29.67 -29.67 0.00 -32.07 -35.38 -35.71 -39.41 3.60 -36.79
13 3.6 -36.79 -36.79 0.00 -39.39 -43.43 -43.83 -48.36 3.80 -45.53
14 3.8 -45.53 -45.53 0.00 -48.33 -53.27 -53.76 -59.28 4.00 -56.25
15 4.0 -56.25 -56.26 0.00 -59.25 -65.28 -65.88 -72.63 4.20 -69.39
16 4.2 -69.39 -69.40 0.00 -72.59 -79.95 -80.69 -88.93 4.40 -85.49
17 4.4 -85.49 -85.49 0.00 -88.89 -97.88 -98.78 -108.84 4.60 -105.19
18 4.6 -105.19 -105.19 0.00 -108.79 -119.77 -120.87 -133.16 4.80 -129.30
19 4.8 -129.30 -129.30 0.01 -133.10 -146.51 -147.85 -162.87 5.00 -158.79
20 5.0 -158.79 -158.79 0.01 -162.79 -179.17 -180.80 -199.15 5.20 -194.85
Para comparação visual, o gráfico contendo as soluções numéricas e a solução exata está
mostrado na Fig. 1 e os resultados numéricos resumidos na Tabela seguinte.
-20
-40
-60
y(x)
-80
Euler
-100 Euler Mod.
Runge-Kutta
-120
Exato
-140
-160
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0
x
Exercícios propostos
1. Calcular a solução das seguintes E.D.O. de 1o grau nos valores indicados, utilizando o
método de Euler e compare com a solução exata à partir da solução analítica: