LITERATURA PROFESSOR: DR. PIERO EYBEN ANÁLISE LITERÁRIA PRELIMINAR
O VERBO
prodígio do sonho ou do longe
ao meu país o trouxe: aos lindes pensei: até que a antiga norne volvesse à fonte do seu nome lá o colherei espesso e forte que ora no berço fulge e flore... um dia vim de boa-jornada com jóia rica e delicada ela buscou e ao fim me informa: "nada igual no mais fundo dorme" e se escapou de minha mão e ao meu país não coube o dom... tristonho aprendi a renúncia coisa alguma onde o verbo míngua.
Stefan George ARTE POÉTICA
Fitar o rio feito de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio, Saber que nos perdemos como o rio E que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar e que a morte Que teme nossa carne é essa morte De cada noite, que se chama sonho.
No dia ou no ano ver um símbolo
Dos dias de um homem e de seus anos, Transformar o ultraje desses anos Em música, em rumor e em símbolo,
Na morte ver o sonho, ver no ocaso
Um triste ouro, tal é a poesia, Que é imortal e pobre. A poesia Retorna como a aurora e o ocaso.
Às vezes pelas tardes certo rosto
Contempla-nos do fundo de um espelho; A arte deve ser como esse espelho Que nos revela nosso próprio rosto.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
Chorou de amor ao divisar sua Ítaca Verde e humilde. A arte é essa Ítaca De verde eternidade, sem prodígios.
Também é como o rio interminável
Que passa e fica e é cristal de um mesmo Heráclito inconstante, que é o mesmo E é outro, como o rio interminável.