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UNEB/DTCS

Disciplina: Química e Fertilidade do Solo


Prof. Paulo Augusto da Costa Pinto1
ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

ASSUNTO: Determinação de Carbono orgânico em amostras de terra.


OBJETIVOS:

Mediante e execução da presente prática pretende-se que o aluno se torne capaz de:
a) determinar pelo método de Walkley-Black, adotado pela EMBRAPA a percentagem de carbono
orgânico em amostras de solo;
b) transformar os resultados de C org. obtidos, em % da matéria orgânica;
c) interpretar os resultados obtidos sob o ponto de vista agronômico;
d) descrever as transformações ocorridas no sistema solo (amostra de terra) – reagentes, durante a
realização da prática.

LEITURA PREPARATÓRIA

A matéria orgânica do solo representa um grande número de materiais de origem vegetal e animal
em vários estádios de decomposição. Quando o processo de decomposição atinge o ponto em que a
estrutura celular do material não pode ser reconhecida, tem-se o húmus (Broadbent, 1965, citado por
MALAVOLTA, 1976).
Níveis adequados de matéria orgânica beneficiam o solo em vários modos: 1 - melhores
condições físicas; 2 - maior infiltração de água; 3 - melhora solos declivosos; 4 - diminui as perdas por
erosão; 5 - supre nutrientes para as plantas.
Considerando-se que o húmus tem em média 58% de carbono, costuma-se usar o fator 1,7, fator
de van Benmilen que, multiplicado pelo carbono dosado, dá aproximadamente o teor de matéria orgânica
(Jorge, citado por MONIZ, 1975). Este fator, entretanto, é variável conforme o tipo de solo. Avaliações
mais recentes indicam que o valor de 1,9 seria mais correto para amostras superficiais de solos, e 2,5
para subsolos (Broadbent, 1953, citado por TEDESCO, et alii, 1985).
O carbono orgânico do solo é constituído de microorganismos, húmus estabilizado, resíduos
vegetais e animais em vários estádios de decomposição e carbono inerte (carvão vegetal e/ ou mineral).
O teor de carbono do solo varia de algumas frações de % em areais, até 40-50% em tufeiras.
Solos agrícolas contém em geral desde menos que 0,2 a 5,0% de C.
A oxidação de compostos orgânicos do solo por dicromato em meio ácido é um método simples e
rápido para avaliar o C orgânico (Schollem – Berger, 1927, citados por TEDESCO et alii, 1985). Conforme
reação:
2 Cr2O7-2 + 3 Co + 16 H+  4 Cr+3 + 3 CO2 + 8 H2O

Considerando-se neste método que a valência média do C do solo é igual a zero, o teor de Cr +3
formado pode ser determinado colorimetricamente, ou titula-se o dicromato adicionado em excesso (caso
desta prática). Interferem substâncias que podem ser facilmente oxidadas (como Cl- e Fe+2 que causam
erro positivo) ou reduzidas (como MnO2) que causam erro negativo. A oxidação dos compostos orgânicos
do solo é incompleta (70-90%) se não for suprido calor externo.

METODOLOGIA (SILVA, 1999)


PRINCÍPIO
Método volumétrico pelo bicromato de potássio. O carbono da matéria orgânica da amostra é
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Prof. Titular da UNEB/DTCS, Cx. Postal 171, 48 905 680 Juazeiro – BA, http://geocities.yahoo.com.br/pacostapinto;
oxidado a CO2 e o cromo (Cr) da solução extratora é reduzido da valência +6 (Cr+6) à valência +3
(Cr3+). Na seqüência, faz-se a titulação do excesso de bicromato de potássio pelo sulfato ferroso
amoniacal.

Extração
.
. Tomar aproximadamente 20 g de TFSA. Triturar em gral. Passar em peneira de 80 mesh;
. Pesar 0,5 g da TFSA triturada, colocar em erlenmeyer de 250 mL;
Pipetar 10 mL da solução de bicromato de potássio 0,2 M. Adicionar à amostra de solo;
Colocar um tubo de ensaio de 25 mm de diâmetro e 250 mm de altura, cheio de água e protegido
com papel aluminizado, na boca do erlenmeyer, onde funcionará como condensador, ou usar placa
de vidro;
Aquecer, em placa elétrica, até a fervura branda, durante 5 minutos.

Determinação

. Deixar esfriar. Juntar 80 mL de água destilada ou deionizada (medida em proveta), 1 mL de ácido


ortofosfórico e 3 gotas do indicador difenilamina a 10 g/L;
. Titular com solução de sulfato ferroso amoniacal 0,05 M. A viragem ocorre quando a cor azul
desaparece, dando lugar à verde;
Anotar o número de mililitros gastos;
Efetuar uma prova em branco com 10 mL da solução de bicromato de potássio. Anotar o volume
de sulfato ferroso amoniacal gasto.

Reagentes e soluções

Solução de bicromato de potássio 0,2 M - Pesar 39,22 g de K2Cr2O7 P.A., previamente seco
em estufa a 130°C, durante uma hora. Colocar em balão aferido de 2 L. Adicionar 500 mL de água
destilada ou deionizada para dissolver o sal. Juntar uma mistura já fria, de 1.000 mL de ácido
sulfúrico concentrado e 500 mL de água destilada ou deionizada. Agitar bem para dissolver todo o
sal. Deixar esfriar. Completar o volume do balão com água destilada ou deionizada;

Solução de sulfato ferroso amoniacal 0,05 M - Pesar 40 g de Fe(NH)2(SO4)2 . 6 H20


cristalizado (sal de Mohr). Colocar em balão aferido de 1 L. Juntar aproximadamente 500 mL de
água destilada ou deionizada contendo 10 mL de ácido sulfúrico concentrado para a dissolução do
sal. Agitar bem. Completar o volume do balão com água destilada ou deionizada;

Indicador difenilamina a 10 g/L - Pesar 1 g de difenilamina.


Dissolver em 100 mL de ácido sulfúrico concentrado;
Sulfato de prata - Utilizar o sal puro (Ag2SO4) como controlador
de interferência de CI- em solos salinos;
Acido ortofosfórico - Utilizar o produto (H3PO4) concentrado (85%), p.a.
Equipamento
. Balança analítica; Bureta;Peneira; Placa elétrica;

Cálculo

A percentagem de carbono orgânico existente na amostra é dada pela seguinte expressão:


g de carbono/kg de TFSE = 0,06 x V(40 - Va x f) x "f", onde:
TFSE = terra fina seca em estufa;
V = volume de bicromato de potássio empregado;
Va = volume de sulfato ferroso amoniacal gasto na titulação da amostra;
f = 40/ volume de sulfato ferroso amoniacal gasto na titulação da prova em branco;
0,06 = fator de correção, decorrente das alíquotas tomadas;
"f" = fator de correção para TFSE.
A quantidade de matéria orgânica existente na amostra é calculada pela seguinte expressão:
g de matéria orgânica/kg = g de carbono/kg x 1,724.
Nota: Este fator (1,724) é utilizado em virtude de se admitir que, na composição média da
matéria orgânica do solo, o carbono participa com 58%.

Vantagens e desvantagens

Trata-se de um método preciso e usado rotineiramente. Entretanto, o título da solução do


sulfato ferroso amoniacal (sal de Mohr) deve ser aferido ao se processar cada bateria de amostras.
Além disso, em laboratórios que manuseiam um grande número de amostras, seu uso torna-se
mais restrito, pelo tempo gasto nas titulações.

Observações

A técnica descrita é aplicada a solos com teores de carbono inferiores a 20 g/kg.


No caso de amostras com teores superiores a 20 g/kg, pipetar quantidades crescentes de
bicromato de potássio: 20, 30, 40 ou 50 mL, até que a coloração da solução permaneça amarela,
sem traços de verde. Proceder à fervura. Esfriar. Efetuar diluição de 1:5 obtendo então volumes
finais de 100, 150, 200 ou 250 mL, respectivamente. Pipetar 50 mL . Diluir com água destilada ou
deionizada e titular com sulfato ferroso amoniacal. Aplicar a mesma expressão indicada para o
cálculo do carbono.
No caso de amostras em que os 50 mL de bicromato de potássio são insuficientes para
oxidar toda a matéria orgânica, o procedimento deve ser seguido do uso de 0,25 g de TFSA. Nesse
caso, o resultado obtido com a expressão indicada no item "Cálculo", pág. 154, deve ser
multiplicado por 2.
Em caso de solos salinos, adicionar uma medida calibrada (± 20 mg) de sulfato de prata,
após a adição de bicromato de potássio.

Ao preparar o Relatório da prática responda:

1- As percentagens de C determinadas nas amostras são baixas, médias ou altas? (ver


MALAVOLTA, 1976, p. 190). Que implicações têm este fato para a produtividade agrícola? Em Num
cultivo racional nos solos estudados, o que você recomendaria?

2- Qual a razão do uso da prova em branco nesta prática? Que tem isto a ver com a fórmula usada
no cálculo final do C orgânico? Qual seria a função do H3PO4 usado antes da titulação?

3- Qual a razão do uso de H2SO4 conc. no processo e ainda de mais um aquecimento externo?

4- Se os solos estudados estivessem cobertos com grama, que teores de C. orgânico você esperaria
determinar em comparação ao caso se estivessem cobertos com floresta ou sob um cultivo qualquer?

LITERATURA CITADA
MALAVOLTA, E. Manual de Química Agrícola – Nutrição de plantas e Fertilidade do Solo. São Paulo:
CERES, 1976. 528 p.

MONIZ, A. C. Elementos de Pedologia. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo e Editora
Polígono, 1976. 459 p.

SILVA, F. C. da Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes/ Embrapa Solos,


Embrapa Informática Agropecuária. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de
Tecnologia, 1999. 370 p.

TEDESCO, N. J.; VOLKWWISS, S. J. & BOHNYN, H. Análise do Solo Plantas e outros materiais. Porto
Alegre, Departamento de solos, Faculdade de Agronomia, URFS, 1985. 188 p.(Boletim Técnico de solo,
5 ).

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