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ESCRITURAS

SANGRADAS
Livro #1

Toscas Fatias de Escrevinhaduras

Civone Medeiros
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Copyleft Civone Medeiros [c.m] 2009


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civonemedeiros@gmail.com

Rosa Maciel
Fotos da Capa
A. Martins
Montagem/Fotos
Camila Loureiro
Revisão
Realização Colaborativa

FICHA CATALOGRÁFICA

Medeiros, Civone, 2009


Escrituras Sangradas – Livro #1 – Toscas Fatias de
Escrevinhaduras / Civone Medeiros. – 2ª Ed. –
- Natal/RN: Coleção POETIGUARES, 2009/10
65 p.

1. Poesia. 2. Literatura Brasileira. 3. Poesia Potiguar.

www.naredecomcivone.blogspot.com
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Em homenagem à
Fernando [tantas] Pessoas
Clarice Lispector
Bosco Lopes
Helena Kolody
Allen Ginsberg
e
Edgar Borges [Blackout]
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Dedico à
Meus pais, Maria Ivone e Cícero Lourenço
Bianca Medeiros, minha filha
Alexander Tönig
GAHP - Grupo Habeas-Corpus Potiguar
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UMA POÉTICA CORPORAL


Falar sobre a poesia de Civone Medeiros é se colocar diante do poema moderno e,
de imediato, indagar o que seria uma composição poética, pelo menos, tendo em
vista a apreensão ou a elaboração da poesia no poema. Inspiração ou transpiração.
Eis o dilema da poesia contemporânea. É impossível estabelecer um tipo de
composição ou um juízo de valor absoluto na poética hodierna, já até então
problematizada por Rimbaud e Mallarmé, em suas diferenças estéticas. Não há
uma determinante composicional hoje no fazer poético. O ato poético é um ato
íntimo e solitário, sem testemunha. Cada poeta tem sua verve. Seu timbre, sua
opção e rumo, seja de que maneira for. Poesia do risco. Poesia do som. Poesia do
grito. As diferenças composicionais são permanentes travessias, sem nenhuma
fórmula fixa. Olhar com olhos livres. Desse ponto de vista, a problematização
recorrente no fazer poético de Civone seria a nível de metalinguagem: o que é
poesia? Como se apreende ou elabora-se a poesia? Nos fatos, nos acontecimentos,
na experiência ou na lapidação vocabular pura? Somente na leitura das “toscas
fatias de escrevinhaduras” do livro “Escrituras Sangradas” estas indagações poderiam
ser respondidas. A composição poética de Civone Medeiros se estabelece nas
relações sujeito/objeto, ou seja, corpo/mundo, onde se perpassa uma poética
truncada e pontilhada sob um eu - poético fragmentado e sussurrante. Poética de
cunho pagão, sugada e sangrada nas sagrações profanas do habitante humano,
apreendida e elaborada nas experiências vivenciais, tendo o corpo como foco
molecular. Poética mundana. Ritmo solto e trovejante. Derramagem coisificada.
Arte/natureza. Corpo/consciência como travessia poética: “Golfar poesia como quem
goza e esporra/Como quem orgasma em gozo/Como quem sua e assume” a sua condição
de fazer poesia. Longe do academicismo. Inspiração. Transpiração. Respiração.
Pulsação: “Ara e sangra o coração cético emotivo/que pulsa em corpo”. Metalinguagem
gravita na linguagem dessa camaleoa potiguar: na busca vocabular simples, na
tortuagem sintática e no roteiro salpicado. Poesia e prosa: proesia. Poética oxidada
pela ferrugem da ventania e do mar. Artéria da alma do mundo urbanóide. Civone
Fênix. Ser devorativa e criativa: MamiferAntropofágica oswaldiana: “Não arengo
mais nem com a rima nem com arames farpados”. Dicção toante e consoante: sopro
corporal como forma poemática. Consciência de um fazer poético: “pretensão de
poetar ocasos acasos aos casos”. O corpo fala uma lírica aliterante e reticente, vestida
na estética do precário: entre o comum e a complexidade, o banal se torna original.
Poética da confissão da carne/alma se fazer poesia na lida cotidiana. “Vai-se
saturno, ficam-se os anéis”, sem abrir mão das “toscas improvisações sangradas”. Fluxo
corporal assoante. Ritmos. Diálogos. Roteiros. Enfim, Civone é uma poeta que se
doma com o pé sobre a garganta de sua própria canção.

Bianor Paulino da Costa


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Um roteiro guisado, de sugesta:


Inventário d'uma morta > Pré vidência > Solidão de Cacto num Jardim
Urbano > Transparências > Revoada > Sempre outra > Imprópria >
Gravita > Mamiferantropo > Rama Bianca > Leitura reticente >
Ruminações > As pessoas podem ser anjos > [a] Culpa não cabe > Arribar
> Enovic > Afins > Todas as Eras > Ás > Escarcéus > Labaredas > Florestas
d’arranha-céus > Cheiro de pedra > Saudade nada > Vinda Vida > Silêncio
sem rumo > Chama > Historieta d'uma Mulher de Ribanceira de Porto >
Jorros > Desvarios > Mulher > Roxo, Roxo, Roxo > Rimance > O Beijo! >
Olho > Passeio a ponte Potengi > Rude Poesia > Esculhambo meu
opúsculo > Ab-sinto > Tragos > Bardos > E’screvoletras > Sangra feito
regra > Sangra da sinistra > Etopéia a gosto > Bilhete da Ribeira > Elo >
Natal da gema > Espuma aos pés > Viver > Flocos de neve > Phoenix >
Face > Sinas e Sensos > Destino iça velas > Ofertório >
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VOCÊ, LEITOR
“Você, leitor, que pulsa
de vida e orgulho e amor,
assim como eu:
Para você, por isso,
os cantos que aqui seguem!”
—Walt Whitmam
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Em 01 de junho de 1996 faleceu Civone Maria de Medeiros, aos 24 anos, amargamente assassinada por P. Jr. – seu
amante com quem convivia, em Natal/RN. Tudo que deixou foi por meio d'um inventário, a seguir:

INVENTÁRIO D'UMA MORTA


1. Deixo minhas explosões para estourarem nas mãos dos covardes...
2. Dou minhas vestes ao forno do lixo.
3. Minhas estórias e histórias malescritas para serem cremadas como se
fossem minha alma e minhas carnes....
4. Minha contentice triste levo comigo.
5. Minha alma tantas vezes roubada em fotos, deixo-as aos cegos do
mundo.
6. O brilho do meu olhar deixo para que a lua o guarde...
7. Meu jeito non-sense e non-grata quero manter em seu comum lugar: o
esquecimento.
8. Todas as minhas ressacas deixo ao vasto mar.
9. Meus mênstruos, que se espalhem e penetrem na pele dos falsos....
10. Minha doçura, que se afogue em terras de canaviais.
11. Minhas inconveniências, que fiquem com os canalhas...
12. O amor que havia em mim, cedo aos vazios e céticos; e o meu sexo
ardente entrego aos frívolos...
13. Meus trêmulos nervos de angústia, gozo e repulsa dou aos vermes.
14. O que não há de belo em mim deixo aos conhecidos e estranhos...
15. As minhas lágrimas passadas sejam sempre um presente de alívio aos
descrentes.
16. Aos meus sonhos decreto alforria...
17. Minha companheira, a solidão, peço que me acompanhe.
18. E a minha fragrância natural, que exale sedutora entre as narinas dos
que me esquecerem...

Que eu não me lembre que quando dei por mim... Mataram-me. E só depois
descobri.
Que esse "inventário" não passe d'uma amarga invenção semi-over-dramática e
quase desnecessária....

P.S.: Que bom que ela é Fênix!!!! Então aos 27 anos, renascida por seu amor
próprio; sabe que a estas mortes sempre sobreviverá seu coração amoroso.
E segue na lida – ainda – na sina, de estar viva.
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Pré vidência
Toscos improvisos de mim
Apreender momentos idos indo e por vir
Aprender com isso deleitado
Deleitando-me a cabo de dissipar leituras cruas elementares
Segmentadas e subjetivas
Obra em construção inacabada desconstrução
De signos, ismos, imagens e egos
Por assim ab-usar do suporte de escrita como expressão
Isto não se trata nem assada, nem tão poética assim
Mas, d'um gritante querer de continuação
Que'u nem suporte, poeta sem porte
Anseios em coalizão
Não quero o aclamar nem os podres tomates de outrens
Senão, o alívio urgente e são
De um parto... Isto independe aceitação
Sina de índole difusa, diversa, infantil, perversa.
Ambição poética de ser-se poeta
{mesmo que não seja} luxo ou lucro sê-la (¿)
A não ser alvo fácil "no front"
A mercê de pretensos árbitros pseudo-infalíveis
E crível, propensos a detonar essas pequenas ambições.
Como exemplo: eu ser poeta
Além dessa desejável liberação, ciente do risco de tornar-me vulnerável,
sem dúvida, também
sem medo algum de me revelar.
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Solidão De Cacto Num Jardim Urbano


Úmido coração a rolar sem rumo
Sobre rachado barro
Chão d'um açude passado
Quisera ser gotas de orvalho ou chuva
O encarnado líquido que brota do coração
Que acaricia-se por entre cactos e raios de sol e seco ar
E, chora suave
E lentamente como quem sua...
Sangra.
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transparências
Meu silêncio é minha mais autêntica loucura e mais bruta sanidade. Desse
néctar posso doar meus sufocantes abraços, meus olhos quentes, minha
pele salinizada, alma selvagem, meus beijos assexuados, calor violento,
meu riso assustador e útil, meu prazer desconcertante, silêncio urgente!
Todas as respostas ao que possuo são inquietos silêncios vácuos; mesmo
que outrens tantos pareçam se aproximar e se atrair ao deslumbre cáustico
da minha crua realidade...
É rara a possibilidade de penetrar nessa essência que brota. Não sou
minhas aparências. Nem remotos atrativos externos.
A transparência que sou é meu silêncio de anima. Há alguém que entenda?
Que aceite, entre, silencie e se deleite... Que eu jamais me contenha! E que
ao menos eu mesma seja "esse" alguém; sem enfeites.
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Revoada
Uma folha assim
Seca
Cerca as palavras
A cerca dos sentidos
Folhas secas em revoada outonal
Sobre - tons do que sou
Cor terra – telha – areia
Carne seca
Sangue seco
Secas lágrimas

Um reencontro aprazível com meu espelho imaginário


Essa verve escritural e a necessidade de labutar toda possível creação

Fortaleza na certeza
De saber
Secretamente
A que vim

Volto aos cantos


Pelos mundos
Com atos e fatos
A expor
Cantos a passar e a cantar
Folhas presas à soltar e frutos vários à germinar
Assim...
Sem fim

Voou
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SOU SEMPRE OUTRA


que não a própria que encarnei

RÉSTIA POUCA
no ancoradouro
DO PRESENTE SER
outr'hora

TRANSBORDANDO EM VAZIO

a secura nos olhos


DE ALMA QUE NÃO LACRIMA

ardor disperso por todo o corpo

AO TEMPO MESMO EM QUE É DORMENTE

a semente poética
DO NÃO-SER
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Imprópria
O QUE SERIA FILOSOFIA
LEMBRANÇAS DO CÁRCERE CARNAL
CARÊNCIA FOME
H U M A N A V I D A
A ESPERA D'UM RETORNO SEM IDA
UM AMARGO TRAGO DO PRÓPRIO FEL
UM ENGASGO NA PARTIDA
UM FURO NO CÉREBRO E NO CÉU
[De Meus Dias]
UM ESCAPE SIMULADO
VEIAS MINADAS DA DESCENDÊNCIA
SANGUES ESTANCADOS
OU
TRANSCENDIDOS
SANGUE JORRADO POR VULVA
OU
NARINA
ORIFÍCIOS EXATOS
DE
VITAL ENGENHARIA
FUROR DE MISSÃO AINDA INCUMPRIDA
E
A IMPRÓPRIA CERTEZA
DA
ILUMINAÇÃO DEVIDA
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Gravita
Não apelo mais até que'u suporte.
Qualquer morte me traz e me empurra ao espelho...
Aaaaaaaaaaaahhh! Sou eu no reflexo!
Vela amarela ligada acesa na mesa onde só, bebo branco vinho.
Sem nada comemorar, pois não decifrei os anseios íntimos de meu eu.
Nem sei que motivos há.
Uma força bizarra e fugaz me leva a expressar que sobre tudo: DESEJO.
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MAMIFERANTROPO
Lux a mor vita
O futuro vindo
cresce em meu ventre
Mexe, sente, enche meus seios
mais tesudos desde então
Tão belo e bizarro
Tão dentro assim, de mim
Outra vida pulsante
Excitada e crescente
Semente pró-criada
por nós amantes
Tão cedo sua chegada
Feliz!
Melhor que antes
Me torno fortaleza
Instintos animais afloram
sua essência em mim
Mamiferantropo
Realeza
Real’amor
Realização femina humana
de concepção vital
Amo ainda mais a vida
Vital Bianca
Amada filha

<1994>
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Rama Bianca
Imenso amor
Deleite à alma
Alegria à tez
Afável aos ouvidos
É muito mais que’u possa descrever, pensar, sentir...
Mais além do que possível escrever sobre amar
Extremo prazer d'animal humano
Coração incha e arde, amacia-se e ama intensamente e sem porquês ou
comos...
Imensa amante maternal sou
Desta rama cria, alma linda, mulher, amiga, inda menina, pessoa
deslumbrante, amada Bia
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Leitura Reticente
No varal estendida a alma...
...uma terceira idade na prisão de laços atados num pretérito pretenso
futuro insosso...
Um escorpião assassinado antes do possível suicídio...
...besouros e mosquitos de espécies várias...
Um bambuzal em ascensão...
...um cristo na cruz ateado...
Cadeados abertos sob o céu estrelado...
Não arengo mais nem com a rima nem com arames farpados...
Declaro meu amor às reticências e minhas quedas nas redundâncias...
...eucaliptos pomposos dão o tom dos tempos e a plástica de seus troncos se
faz abstratas e
surreais...
Um ninho de gatos num canto acuado...
...ninhos abandonados de pássaros passados...
Cigarras granjeiam com seus cantos exaltados e as palhas dos coqueiros
pelejam sem remanso
em seu bailado...
Temo e tenho que admitir enfim que a rima em minhas sangradas
escrituras para sempre irão
persistir...
Miséria estética ou retórica? Rima pobre ou rica rima?
...por ser semi-alfabetizada, conhecimentos não tenho para definir;
certamente só sei do que
vem de mim assim: por vir.
Rimo e fim/ns (?).
.................................. Um retiro frugal, fugaz e apraz...
...Um sono maneiro e uma aura lilás, azul, ensolarada, areada, regada,
enevoada e clara.
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Ruminações --------------------------------------abismo
que ata e separa.
Anseios que espumam como água tocando em carbureto.
Como ventos que atiçam chamas óxidas.
...penduricalhos de emoções.
Discreta perturbação de maré baixa.
... Forno de barro o corpo humano se fez só.
O além, findado por limites da razão.
Comportas da alma, cerradas e umas outras arrombadas por--------------------
--Vastos outros eus / mesma.
Inquebrável véu que cada ser transporta...
Chaves confusas no molho dos segredos do espírito.
Todo ser se faz revelação / pois toda alma é plástica, ossos, aura, carne,
emoções, plasma,
excrementos e possessão.
Par'além de enigmático / sexo de lábios rubros e rósea cor.
A profunda visão dos confins dos desejos.
Prisma em chamas a crepitar.
É da raça a mais rica revelação.
O alicerce.
A própria essência sublime e absoluta da humana existência.
Dela é a mais pura, ofuscante e crua linhagem de iluminação.
Ser devoração e criação \ união e partilha...
Uma fêmea deseja e vai buscar.
É da beleza a mais bruta expressão..
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As Pessoas Podem Ser Anjos


ou puro desencanto
PÚRPURO ENCONTRO
um caminho de pedras
PARELHAS NA VISTA IMAGÉTICA
nus pés em passos
UMA MENTE CACTO
caatinga
CREPUSCULAR OS OLHOS
garganta da razão
PODER SER ANJO
diferente
E NÃO!
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[a] CULPA NÃO CABE


na bagagem
[a] CULPA PESA E É FALSA
o caminho é linear-não-linear
MESMO AOS SOBRESSALTOS
do devir
AOS TRONCOS TORTOS DAS SELVAS
e aos pedregulhos dos desertos
...
BURACOS SÃO PORTAS
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ARRIBAR
À Bendita Alcatéia Maldita!
Pros/Sigo estourada em ânsias
Tais rimas sem cadência estética
Nem mansas
Pro/Curo ao menos arrimar com
Arrojo e arroubo meu arrimo
Arguta
A própria de alcatéia escrevinha
Canhota o que vinha
Feito praga
De imã que rima-rima
Lengalenga
Romanceiro a beira da aresta eira
Idílio
Caótico despenhadeiro
Do nada

A dizer...¿
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ENOVIC
– O alto falante da raça *
A-TIRADA

Sou suicida e ensandecida

Como um meteoro

Atiro-me ao escuro, ao muro, no esmeril, as noites

As bocas, ao mar, na rua, aos copos, a música,

as garoas e proas, aos raios de sol que me ofusca,

aos palcos e botecos, aos mundis...

Micros/macros-fones

E auto-falante/s

Arrisco-me a ser eu:

Disforme.

* Definição de Ciro Pedroza


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Afins
Toda parte é porto

É inteiro porto do todo

Meio alvo que somos se


Se ignora a parte

Junta!

O que não se revela


Não se mostra ainda
Ainda não é poesia

Chego mais perto peito


Se mostra fragmento
Nuance sem face
Somos sem fim
Sede infinda
Paralém das fantasias
Parabém
Assim!
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Todas As Eras-------------------É
ERA PRIMITIVA
A Emoção
ERA CRISTÃ
Madalena
E Eu Não
ERA HISTÓRICA
A Civilização
ERA BÁRBARA
A Aldeia
ERA HERA
A Mãe De Todos
E ERA HERA
A Planta Do Muro
ERA GLOBAL
A Fase No Mundo
ERA ESPACIAL
A Mente
ERA GLACIAL
O Coração
ERA AQUÁRIO
Os Olhos
E ERA PEIXE
O Alimento

do Dia.
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Ás
Minha tez
Como esse suporte
Esse óxido
Esse ácido.
Minha mente ácida
Como esse aço
Como espirais
Como ópio.
Meu âmago absorto
Como esse azo
Como essa liga.
Minha alma urge
Em lusco-fusco
A mercê da ferrugem.
Minha poética oxidada
Com o luxo desta chapa
Com esse lixo.
E sigo na lida
De a cada era
Me fazer polida.
Que agora é o artifício teia
Que me inspira
E suporta o enferrujado poema
Que me deu a ventania e o mar
A maresia.
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ESCARCÉUS
Cada sombra uma vida
Todo vulto por um triz
Um postal de Saint Tropéz
Ou será de Acarí?
Nos escombros uma estrela
Na palma da mão minhas trilhas
Guardar sóis para amanhã
Uma cortina de veludo encarnado a se abrir
Desfocos loucos da Persona
A luz da lua a me lamber
Banho-me em espumas de champanha
Ou serão ondas praianas a me engolir?
Oceânico espelho de meus céus
Uma poética em escarcéus
Uma bula a se infringir
Um bulevar a se passar
Umas brumas a me embrenhar
Um brilho a alcançar
Uma rima a ruir...
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LABAREDAS
Golfar poesia
Como quem goza e esporra
Como quem orgasma em gozo
Como quem sua e assume
Como quem grita e baba
Lapidar experimental
Como quem andarilha
Por destinos
Incertos
E arredios
Adeus à calma
Da lamparina o pavio
Da chama da vela a luz
Encontro certo
Com o que mascara e revela
Labaredas de fogueira interior
A se rebelar com o meio-dito
Meias palavras
E verdades
Meias...
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Florestas d’arranha-céus
Galhos secos, poeira no ar...
Arfam os pulmões, na selva ou na sala em Sampa...
Rufam tambores
Durante a madrugada...
Sussurros, desejos e segredos desmascarados
Do mais aparentemente áspero
Íntimo
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Cheiro de Pedro pedra em meu


coração impostor
Quentura de renascer aos
Poucos por mim
Tenho agora um coração
Livre
Ora frio, cego, inda
Bruto
Pulsar ávido por horiz
Ontes outrora
Lapidado a sangue lágr
Imas
Absorta e imune pela
Perdição que me faz essa
Liberdade
Estou alheia a ser fêmea
...E as carências de assim se ser
Me atenho tão somente
A especulação psíquica
De todas essas possíveis
Emoções
E não sei se vivo d'outro
Modo
Para além deste espectro
Mundo fantasia que dou
Cria
E luz
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SAUDADE DE NADA
Completude e vácuo
Portância ânsia diletante
Desimportante
Missão sangrada
De invisível sangue a escorrer
D'alma [corpórea?]
Alegria contida pela cegueira
do dia-a-dia
Vibrante em meu ser livre
Odor de relva ao amanhecer
Suavizo-me sentindo a vida assim...
Divina
Como suo, como sou
Digna
E confiante de meu caminho
Percorrido e o a se trilhar
...Minha coragem não espanta nem a mim, nem aos meus não-eus/não-
meus Seres
...Se estou a favor de mim, quem deveria conspirar contra?
Que saia da minha boca esse gosto de azinhavre!
Que o cheiro bom da vida de mim exale!!!
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Epigrama #1
------------------SILÊNCIO SEM RUMO.

Meus Sentimentos Encurralados


Num Beco Da Lama
Sem Saída
Qualquer De Você.
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Epigrama #2

VINDA VIDA

INDA IDA
VINDA MORTE
INDA MOR (R) IDA
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tu me CHAMA
Ardo
Queimo
E o que resta é cinza
Um amor, um desejo...
Um prazer que se vai...
...e s vai...se
Que fica dentro
Em minha essência
Em mente, espírito, corpo, sexo, coração

Em mim toda
Presente passado
Quiçá futuro [?]
É bom ser labaredas
De vez em quando, meu bem!!
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...historieta d'uma mulher de ribanceira


de porto, um tanto diferente - Ribeira quente!
Para Nalda Medeiros e todas elas em nós!
---umas querências outras...
um certo desejo pelo atrevimento errado d'alguém que possa vir a me
abordar, aportar em mim,
quem sabe eu mesma me aporte aparte apenas no que sou soul:
expectadora dos anseios mundanos, e
não nem nada menos participante também da divina decadência comédia
humana; ascendência
arteira culturística romanesca.
ah! uma ribeirice emocional, boêmia, sensual! rediviva beira de rio,
margem a margem das
carências desta cidade berço, ardente Natal.
um porto bar, umas bandeiras, uma ex-lata, um blackout, uma
cigarreira, todos a ancorar
e bebemorar... pretensão de poetar, textar pensamentos, passamentos
crepusculares, ocasos
acasos aos casos, nasceres, gerares... nem aos escombros, amores... não
jazem minhas beiras
jamais.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ navegar em paqueras
que não existem ou não acontecem...
que bom! estou na beira, à beira de me encontrar, esbarrar por mim,
me encantar e me
inventar assim, tão anjo e cão: Ribeira então!
sou.
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Jorros
Neste dia, longa é a noite
Curtos só meus pêlos e apelos
[não borbulho como champanha]
...Aquele orgasmo encardiu a bandeira de paz de anil que estendi
estuquiada no varal
Íris arco!
Há uma falta de silêncio em meu sexo côncavo
...Só hiatos de solidão há!
E’ncontros furtivos convexos
Há um estridente grito em meu corpo parco
...Não o ouço
O que não vem do porto
Não me é parte
Nem pertence só aos Deuses...
...Foi-se o tempo noite
Amolo foices e adagas ao amanhecer
e antes que venha a noitice
Fico a lambê-las com uma tesão tanta
Como se teu corpo fosse
Homem Felino Maroto
Menino Deus Pagão
Quero-te sempre entre madrugada-noite

...Armo e amo em moitas e crateras


Em cena e camarins
Poços e mirantes
Em asfaltos, mangues e ribanceiras
Basta que um vivente corpo encontre...
Então, apeteço, devoro
...Entrego o ouro e os diamantes
Sugo, apaziguo e como fonte de amor,
Jorro!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Epigrama #3
DESVARIOS

Beijar muitas bocas

Tomar umas
Tragar uns

Pelo Campus
Com alguns
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

MULHER
Grita e Rouca-se
Ri e Leve-se
Pensa e Texta-se
Chora e Seca-se
Lambe e Molha
Morde e Marca
Fuma e Baga
Sua e Lava-se
CICLO E SANGUE
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Roxo, roxo, roxo!


MEU ROXO ROSTO
FOSCO FROUXO
FELINO E FERINO
ESTÁ CADA VEZ MAIS ROXO
E MEUS SEIOS E PESCOÇO
TÃO ROXOS
PELOS ROXOS ÓSCULOS
DOS MEUS DEUSES
OUTROS...
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

RIMANCE
Sexy

Coma a minha boca e xeque-


Mate minha fome louca
cavalo, rei, bispo, pião.
Rasgo teus olhos "en passant"
Num beijo escaldante
No belvedere da torre de meu eu
Além do maior roque, tua língua...
Em uma teta régia... Minhas mãos atacantes não sei
Onde (?) captura a ardência no sentido de todos os movimentos reais.
Entretece
-se nus corpos nossos
...sós
Alívios d'amor incontido
E o xeque-mate é desculpa boa para deitar com o rei inimigo e fazer dele
amante!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

O beijo!
Encarnados
Grandes Lábios
Osculam
Molhados
Êxtases
Sublimes
Safados
A
Glande
Pulsante
Amada
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Epigrama #4
.OLHO descalço do lado DE FORA

DE FORA espreito tudo com CISMAS


CISMAS na pia suja do bar ACIMA
ACIMA o espelho VELHO
VELHO cisco no OLHO.
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Epigrama #5
PASSEIO A PONTE POTENGI
Um sonho de por do sol
Raiar reverencial litoral
Paiol de bombas e anseios a se detonar...
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

RUDE POESIA
como gata mia
NO ASFALTO FUMACENTO
que respinga gotas cruas
CHUVISCOS DE VERÃO PASSAR
o limbo a limpo palavras
SEM CRIAS
grunhia
A VIA NEM HAVIA
meu contexto paráfrase
MIA.
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Epigrama #6
...ESCULHAMBO MEU OPÚSCULO
Nunca me concluo...
Terei outras vidas
Serei cadáveres outros
Comerei muitas poeiras...
Terei muitas estrelas
Devoro minha nobreza, as misérias, a poética, as entranhas e exponho à
livre feira dos
mortos vivos...
...Nunca me concluo
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Ab-sinto...
Cair em cachos.
À eira, à guisa d'uma cachoeira.
Tequila...
Sal, limão, etílica comunhão.
Vinho...
Vem um sono bom. Antes, a efusão.
Vem-me Bacante, uma d'elas que sou.
Baco? São.
Ver-mute...
Mutantencarnado, róseo.
Na passagem: "mezzo" rascante.
Na chegada: suave.
Que lida! Uma sede na partida.
Cerveja...
Refrescante para a sede urgente.
Veja! Há tantos goles pr'um porre.
E para lavar? Mansamente.
Cachaça...
Na calçada ou num boteco.
Um caju no "tira".
- Mais uma lapada!?! ...Do Beco o eco.
No Nasi uma meladinha...
A pinga, o mel, o limão, gira e mexe.
D'um só gole desce.

- Que poesia sóbria é a minha?


Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

<TRAGOS>
Trago beijos
a tragos teus
Trago teus beijos
Pêlos
Tez

Cheiros

Trago tudo teu

Qualquer trago me traz


aos desejos teus
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Bardos
A multidão que fui
Nunca mais soou
A multidão que sou
Desejo
Desejo a calma d'alma avessa aos anseios
Bélico belo ao toque e ao tocar
Teus acordes
Acordes...
Despertam a urgência da artista em mim
Ela deve bailar...
Despertam-me sonhos bardos
O corpo palpita ardência
Na onipresença de teu semblante
Sonho...
Recordo...
O cheiro maroto de mar
A carne trêmula
O tempo a passar
- Quem foi que disse que agora os dias passam lentos?
- Foi você bardo?
- E o tempo célere, a passar?
Os sonhos, os quereres, os desejos fluem
Fluem do rio dos riscos
Quero mutar minha ausência em presença
Intensa

Os olhos expulsam os ciscos


que o destino me atira
E arteira, me precipito ao abismo
Daí me lembro que sei volitar
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

E
SCREVOLETRAS
graal almáticas
E ÉTICAS EM PÓ
essência arteira
ESQUINA MUNDANATAL
amar elo carne
NERVURAS TISN'ENCARDIDAS
sulco encarnado
JORRAMESPICHAM
do bico da teta
DA MENINA DOS OLHOS
da jugular arteira
DO BURACO DO UMBIGO
desentupido

DO ESCRITO.
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Sangra feito regra


Artéria arteira visceral
Entranhas d'alma
Arte ara e rega
Vibra mutante / incendiária e enxurrada d'água
Cio desregra certeiro o destino de quem arde...
Emoção
...Sensitividade
Ara e sangra o coração cético emotivo
Que pulsa em corpo
Escrituras psicografadas, aradas, ardis, silentes, febris, gritantes, serenas...
Sangradas emanações que de minhas visões e vivências brotam.

Sou toda artéria, aorta a arte.


Artéria da alma do mundo, águia...
Vibro!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Sangra da sinistra
Amostras
Espicha artéria
Desmanche em sangue
Multicor olor dor odor ardor amor
Sangra sagrações / rezas pagãs
Recorrente / sonora destoante
Ríspida sonoridade / idade vã
Arde ao atear-se arte
Infla amável véu ao léu translúdico
Hermética / híbrid'alma
Luz de templo
Grinalda amálgama

...Intimidades d'altar
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

ETOPÉIA A GOSTO
Atemporal extemporâneo sentido que sigo
Saúda idades tidas, idas vindas
Além brandos ósculos viscerais
Matéreo etéreo
Somos no espaço de ser uno
Desejo imo amoroso de ser nó; emancipados nós
Álacres gotas selvagensuaves do humor segregado pelos olhos...
Teço texto entorpecente
Mente

Brio exteriorizar venturoso querer
Ex-te rio
Risar bizarro que fruo
Minaz e apraz inteiro ser
Ter a se dar sentir
Belo e bélico arfar que se faz afeto
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Bilhete da Ribeira
Quero comer teu riso
Não tema!
É instinto!
Insisto!
Se antena!
Na madruga...
Quero te comer no Beco da Quarentena
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

ELO
Tenho um frio ardente escaldante
E quero sempre teu calor gélido
Para fluir meu sangue e fruir teu sexo
Para brincar de amantes \ de estranhos no primeiro encontro de corpos ao
cio
Para romper minha veia
Solitária
E fazer teu solitário brilhar feito estrela
...Vai-se saturno – ficam-se os anéis
Vens de víeis \ lunático
E fico noturna \ não só
Como teu mel
Como teu sol
Como teu céu
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

NATAL DA GEMA
Gema Poética/Gêiser Natal/Gêiser Poética/Gema Natal

Badaladeira
Atiro Pedras
No seu Quintal
Da Baladeira
Faço a Zoada
Ladeira do Sol

Coqueiral a Guisa d'uma Embolada


Fonte do Coco a Aguar Toadas

Balanço Zueira / Gazua Ganzá / Praieira Usina/ Gazel Maracá / Badalo À


Beira lá do Manguezal

Da Baladeira
Atiro Estrelas
Lá na Ribeira
Puxo a Toada
Canto Natal

Coqueiros a Guisa D'um Coqueiral


Fonte de Zambê
O Coco-do-Natal

Gêiser Poética/Gema Natal/Gema Poética/ Gêiser Natal


Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

espuma aos pés


-------------------pegadas marcadas na areia da praia d’alma.
Pipa solta sobre meus céus, sou
mais solitária alma que abandonada beleza.
contemplativo e desértico olhar.
a todos os verdes do mar ------------------------
imensidão de amor e solidão.
possibilidades além-mar (...)
horizontes às sombras de toda possível--------
---------------impossibilidade de me encontrar
sem falta!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

VIVER
Vibrante e atrevida, bela, alegre sou a imaginação farta de vida, a vivo, vivo
a vida de minha farta imaginação e sou alegre meio contente, bela, atrevida,
vibrante... Não sou só ela, como também todos os eus do mundo

...Essa imagem é minha!

Esse rio seco, baixa-mar atlântica, Potengi, sol a se pôr, nuvens passar,
mangue chorado a pôr as patas pra fora, a um passo a pátria, a um
contorno noturno, a lua... Algo memorável meus sóis e dons

Amanheceres entardecentes, noiturnas madrugas, um rio a correr sem


pressa alguma, pois o destino é certo e não carece de precipitá-lo, livre
arbitre-se e ele acontece

Escurece e brilho mais, a alguns olhos, ameaçadora, a outros inexpressiva, a


muitos sedutora e a tantos nem tanto... Brilhante prata azula o rio,
buganvílias balançam

...manhosamente suas verdes e encarnadas, róseas, laranjadas e amarelas


cores balançam, me precipito somente a ser a mim... Fruto de minhas
paixões, imaginação, ousadia, invenção, calmaria, vida, tufão!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Flocos de neve
Vienense inverno
Temporada de amor
Invernal e celeste.
O calor que me aquece nesse frio de grau...
...zero
Não são roupas
Nem "os" sobre-tudo
Todo que seja...
Mas, o coração que arde em chamas e...
Brasa-me
O amor que toco...
Amado...
Vienense...
Universal...
...natalense, quiçá?
...sou eu?
Amor Mundi...
Artéria pulsante...
...em canto qualquer do mundo
Estéticas étnicas que sejam linguagens estas...
...Ich spreche kein Deutsch! Aber, Ich spreche mehr oder weniger!
Frases e flocos que os ventos trazem...
...e minha poética parda não é nada!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Phoenix
Minha história se faz aos remendos
Em retalhos pobres e nobres
Costuro-me a pulsos
Bordo em tantas cores o meu sangue
As linhas que unem minhas trilhas
Muitas vezes se fez desencanto e noutras encontro

Às vezes meus desejos alfinetam minha alma com uns encantos, outras,
minha alma anseia em sutil contraponto

A súbita razão que me estica e estreita os restos do que tanto fui, as quantas
que fui e flui de meu destino árduo, lépido, febril, vasto

Me esboço, me desenho, me alinhavo, me costuro, me arremato e peça nova


me faço, e peça nova me faço entre meus retalhos, feito a ave que das cinzas
renasce

Arre! Ave!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

face
É
Uma calma estranha
E bem-aventurada em meu coração
Turbulento e romanesco...
¿Causa estranhes? O amor que apazigua
As ansiedades e incendeia acelerando a pulsação...
Lapidada certeza bruta das emoções
Que emanam amor...
...E a essência anima d'uma fênix novamente
Incorpora e abranda meu ser irrequieto...
Bate asas o coração alado...
Magnetismos unem ambas caras
E das metades fazem uma face
Ante a face de precipícios abismais
Não titubeio nem me estilhaço
Sempre presente em frente futuro...
...Tenho amor
E sei voar!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Sinas e Sensos
...Babel querida,
Onde estás?
Nas alturas, atrevida?
Tresloucada gangrena de fragrâncias natimortas de tuas línguas
E divindades...

Que saudades do Olimpo, Oh! Lindo!


Haja Néctar, haja Ambrósia...

Recordo de Ys e Hy Brasil...
As brumas, as luas...

O topo me aguarda, não tenho pressa

Ambiciono viver de morte vivida


E morrer de vida morrida

...Gerações de estrelas poentes e expoentes

Incessantes sensações de múltiplas vidas

Sina bárbara e instigante


Nessa terra se sentir artista
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

DESTINO iça velas


Desatracada âncora
Correntezas, correntes de ar, atlântico
Corta entre - mares / afluentes
nem o Danúbio nem o Potengi são azuis:
as Veias = os Rios
Rios Grandes
espaçosos na memória
guardo a imagem de crepúsculo sobre o Potengi
... as valsas de Tonheca Dantas
céu de âmbar flamejante
cinza verde lodo Donau é Danúbio
Dúbio prazer em re ver ora Outonal
...céu d'azul luzente
valsas vienenses
Próximo porto, taça de "Sekt", beijo espumante
Sina, emoções fluentes, cheias de sangue veias, ventos nas andejas costas...
estratégias de xadrez, pulsação d'amor...
respiração, inspiração, transpiração

e a discreta Primavera do lado hemisférico de cá


Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

OFERTÓRIO
TE OFEREÇO MEU CAFÉ AMARGO
Para que você possa distinguir o agridoce de meus beijos cálidos
TE OFEREÇO MINHA EBRIEDADE
Para que você possa gozar de minha lúdica lucidez
TE OFEREÇO MEU ORGASMO SILENTE
Para que ouça os gemidos e gritos estridentes de minh'alma
TE OFEREÇO MINHAS LÁGRIMAS DE GOZO
Para nosso sexo ser humano
Prazeroso
TE OFEREÇO DO MEU VINHO UM TRAGO
Trago do cigarro
TE OFEREÇO UM POUCO
Trago um desejo louco
De sorver-te...
Não posso me dar toda
TE OFEREÇO DE MIM UM POUCO
TE OFEREÇO UM TRAGO DO MEU CORPO
Um trago
TE OFEREÇO MEU OLHAR VENENOSO
Para que descubra a cura no meu riso solto
TE OFEREÇO MINHA DISPLICÊNCIA
Para te lembrar que nem sempre as boas coisas da vida guardamos

ENTÃO, TE OFEREÇO UMA CHANCE:


Receba o que te ofereço
E de quebra,
NÃO ME ESQUEÇA!
Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Epílogo »

Escrituras Sangradas... Livro I e II

A obra de Civone Medeiros inquieta por se lê numa livre desordem e


rizomática transgressão. Pois, há um único mandamento das Escrituras
Sangradas: todas as formas de leituras possíveis. A fluidez de seu itinerário
poético - sem o engessamento de sumários, com começo e fim - permite
uma viagem singular de cada ser único. De súbito, o leitor vê-se um
camaleão, criador de suas próprias zonas de intimidade e de desejo.
Navegar “entre a poesia” de Civone provoca uma espécie de
experimentação estética de êxtase e redenção, designações peculiares ao
novo e antigo testamento. A Sangria dos versos é um fluxo, um orgasmo,
um grito, um rapto, um espasmo do seu “devir mulher”, sempre no
movimento da contra-corrente, do contra-sentido, e da contra-cultura
maçante e massificadora. Libertina ou libertária? Con-sagrada ou profana?
Tanto faz... Civone liberta para o acesso à subjetividade e à transcendência
de uma poética de embriaguez e lucidez. E assim faz-se o belo e a
dimensão artística da vida, conforme os dizeres nietzscheanos: “os
contrastes mais perfeitos produzem uma existência mais fecunda”.

Da amiga, Camila Loureiro Marinho Barbosa.


Escrituras Sangradas – Livro #1 Toscas Fatias de Escrevinhaduras...

Agradecimentos à:
Nalva Melo, Ceiça Lima, Jackson Garrido, Marcelo Veni, Otávio Augusto, Lênio Santos,
Alex Tigre, Sidney Cavalcanti, Bianor Paulino, Flávio Rezende, J. Pinheiro, Magali, Ilo Tonel,
Wescley, Civonaldo Medeiros, Guaraci Gabriel, Jorge Negão, Jailton e Jácio Torres, Múcia
Teixeira, Nalda Medeiros, Pedrinho Abech, Tiquinha Rodrigues, Nino de Sousa, Airton,
Ricardinho, Cleudo Freire, Fátima Bezerra, Marisrela Marsicano, Fábio Henrique, Titina
Medeiros, Dedé/GHAP, Celino/Metáfora, Geraldo Carvalho, Sônia Godeiro, Sânzia e
Simonsem Pinheiro, Edmundo Negão, Nice Fernandes, Dona Odete, Nasi Canaan, Meri
Medeiros, Cida Lodo, Edinho, Luciano Almeida, Carlos Alexandre, Cazuza, Chico Science,
Fred 04, Siba e Mestre Ambrósio, Lenine, Chico Antônio e Paulírio, Severina Embaixatriz,
Roberto Monte e Maíse, Afrânio Melo, Ramos, Lisboa, Madê & Paolo Weiner, Pagú,
Erinaldo, Madame Satã, Glauber Rocha, Edu Gomes, Fábio Ada, Manú, Herval, Os
Andrades: Drummond, Oswald e Mário, Iracema Macedo, Paulo Procópio, Fernanda
Montenegro, Ângela Rôrô, Bessie Smith, Ana Silva, Renata Silveira & Tchello, Paulo
Augusto, Selma Diel, Paulo Ubarana, Ana Cristina César, Ana Cristina Tinôco, Elisa
Lucinda, Alice Ruiz, Palmira Wanderley, Jesiel Figueiredo, Gumercindo Saraiva, Marcelo
Randermark, Liege, Tarsila do Amaral, Argemiro Lima, Benedita da Silva, Sandoval
Wanderley, Gustavo Luz, Pedro Grilo, Aires Marques, Andréa Gurgel, Jô Soares, Raul
Seixas, Marisa Monte, Tim Maia, Varela Barca, Nelson Motta, Gerald Thomas, Débora
Colker, Helena Kolody, Cássia Eller, Goethe, Denise Stoklos, Tom Waits, Ney Lisboa, Pedro
Almodóvar, Krïsna, Baco, Lao Tsé, Caetano, Gil, João Gilberto, Chico César, Jorge Costa,
Lilith, Path Smith, Osho, Gonzagão, Rita Lee, General Junkie, Costa Filho, Stanley Kulbrik,
Andy Warhol, Camile Paglia, Zila Mamede, Jota Medeiros, Gilson Nogueira, Zumbi, Raul &
Alcatéia, Tonheca Dantas, Felinto Lúcio, Iansã, Oxalá, Iemanjá, Allan Kardek, Jaime Lúcio
Figueiredo, Falves Silva, Marcelo Amorim, Madonna, Planet Hemp, O Rappa, Janis Joplin,
Fellinni, Paulo Leminski, Peter Greenway, Vênus, Afrodite, Lesbos, Apolo, Hera, Djavan,
Dali, Miró, Picasso, Matisse, Lina Bo Bardi, Nísia Floresta, Sergio Medeiros, Eli Celso, Rejane
Cardoso, Carlinhos Brown, Djalma Maranhão, Nietzsche, Hesse, Dadá e Lampião, Jorge
Fernandes, Auta de Souza, Câmara Cascudo, Maínha e Banda, Yoko Ono, Van Ghog, Regina
Casé, Jan Saudek, Milan Kundera, Lennon, Brigite, Nara Leão, Tiradentes, Joana d’Arc,
Emanuel Bezerra, Che Guevara, Cora Coralina, Mishima, Witman, Bob Dylan, Martins,
Lorca, Wally Salomão, Karl Marx, Einstein, Buda, Elizabeth Venturini, Bill Boy, Chaplin,
Clara Camarão, Marquinhos, Silvana Sitonio, Hemenson Amaral, Lucas, Quilombo/RN,
Ambrósio Santana, Shirley My House, Jesus, Allan Poe, PC do B/RN, George Câmara,
Maiakovski, Pablo Neruda, Mick Jagger, Hemingway, J.S. Basquiat, Borges, Zore, Sylvia
Plath, Jim Morrison, Vinícius de Moraes, Antonin Artaud, James Dean, Jimmy Hendrix,
Lobato, Freud, Elis Regina, Oscar Wilde, Jean Paul Gautier, Silvio Santiago, Tiago Vicente,
João Pinheiro, Jacira Gabriel, Sabine Schebrack, Irene Strobl, Carlão de Souza, Almir Lopes,
Vicente Januário, Rodrigo Hammer, Cícero Cunha, Sandro Lobão, Raquel Lúcio, Ana
Potiguar, Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, Zeca Baleiro, Núbia Albuquerque, Subhadro,
Tuchir, Zé Ramalho, Bob Marley, B.B. King, Santana, John Mayall, Joe Cooker, Rosa Maciel,
Dunga, Rimbaud, Mallarmé, Kerouac, Kafka, Rainer Maria Rilke, Henri Miller, Anais Niin,
Hainer Miller, T.S. Eliot, Michele & Cia, Garagem, Centro de Direitos Humanos/RN,
Haroldo Sopa D’osso, Lula Belmont, Marcellus Bob, Fernando Mineiro, Jânia Sousa, Bob &
Amélia, Mídiã, Tia Maria, Heudis Régis, Gilson Nascimento, Plínio Sanderson, Ivanaldo
Bezerra, Joaquim Patrício, Paulo Oliveira, Lenilton Lima, Clenor Jr., Dr. Alexandre, Renato
Russo, Janaína Spinelli, Marcelo Fernandes, Chico Miséria, Sérgio Dieb, Milton Siqueira,
Palmeira Guimarães, Juan d’ela Calle, Mabel Velolso, Violeta Porra, Aristóteles, Sófocles,
Emídio Luisi, Green Peace, Eduardo Felipe, Ivanísio Ramos, Osório Almeida, Molliére,
Vlademir, Cinara, Mano de Carvalho, Fábio d’Ojuara, Hernesto Amazonas, Rondon...
P.S.: ...Aos nomes que não me veio à memória, peço perdão!

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