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Domingos Rodrigues Alves

Curso de Introdução ao estudo do Novo Testamento


- A literatura do Novo Testamento -

A história do Novo Testamento é a história das pessoas e das comunidades que


se formaram em torno da fé cristã.

Afirmamos isso porque os textos não formam escritos à toa, ao vento. Todos
tiveram sua razão de ser. Responderam a tensões específicas às vezes
localizadas em um grupo, às vezes generalizadas.

Compreender essa dinâmica será essencial na compreensão do texto e na


interpretação da intenção do autor.

Isso pode lhe parecer irrelevante, mas não é

Meta:

Nosso objetivo hoje é trazer uma visão geral sobre o texto do Novo Testamento
e seu estilo literário.

Objetivos:

Ao final do culto você será capaz de responder:

1 - quais são os estilos literários do novo Testamento

2 – Em que contexto eles foram escritos

3 – Qual a relevância deles na revelação de Deus.

I - A organização da Bíblia
1 – Diferente do Novo Testamento, não afirmamos que existem cartas no
Antigo Testamento, mas livros.
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Os Livros diferem das cartas, em primeira instância porque são os documentos


oficiais do reino de Israel, bem como as poesias, livros de sabedoria, contos e
escritos dos profetas. Contam a saga de Israel.

2 - A bíblia que você tem em suas mãos foi organizada por assunto.
É exatamente como uma estante de biblioteca, onde você escolhe os livros de
acordo com seus assuntos. Assim os livros do A.T. são dispostos de acordo com
os seguintes assuntos:

Ordem do   Velho Testamento


1 -    Pentateuco (Leis civis e cerimoniais de Israel)
Gênesis Levítico Deuteronômio
Êxodo Números

2 – Livros históricos -  História de Israel


Josué II Samuel II Crônicas
Juízes I Reis Esdras
Rute II Reis Neemias
I Samuel I Crônicas Ester

3 – Livros Poéticos -   Poéticos (contos, poesias e provérbios)


Jó Provérbios Cantares
Salmos Eclesiastes

4 – Livros dos  Profetas Maiores (maiores no sentido do volume de seus livros)


Isaías Lamentações Daniel
Jeremias Ezequiel

5 – Livros dos  Profetas Menores (menores no sentido do volume de seus livros)


Oséias Jonas Sofonias
Joel Miquéias Ageu
Amós Naum Zacarias
Obadias Habacuque Malaquias
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O Novo Testamento é diferente. É formado por epístolas, que são cartas com
um destinatário específico. Os livros do A.T. não são endereçados a alguém.
São documentos.

Por que existe essa diferença?

É tudo uma questão de cultura.

O Novo Testamento não é um texto isolado. Vem com toda a herança judaica e
helênica (grega), como veremos a seguir

3 - A organização do Novo Testamento

O Novo Testamento, que é nosso objeto de estudo, está organizado em:

Ordem do Novo Testamento

1 -  Evangelhos – Crônicas históricas.


Mateus - Aos judeus *(1) Lucas – A Teófilo *(3) João – Aos gregos *(4)
Marcos - cristãos gentios *(2)

2 - Carta   Histórica
Atos    

3 -   Cartas ou Epístolas Paulinas


Romanos Filipenses I Timóteo
I Coríntios Colossenses II Timóteo
II Coríntios I Tessalonicenses Tito
Gálatas II Tessalonicenses Filemom
Efésios

4 - Cartas ou  Epístolas Gerais


Hebreus II Pedro III João
Tiago I João Judas
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I Pedro II João

5 - Carta ou epístola de Revelação


Apocalipse  

*(1) Mateus - Foi escrito Principalmente aos judeus. Este ponto de vista está
confirmado pelas referências às profecias hebraicas, cerca de sessenta, e pelas
aproximadamente quarenta citações do Antigo Testamento. Ressalta
especialmente a missão de Cristo aos judeus, Mt 10:5; 15:24.

* (2) Marcos - Acredita-se que o escritor, ao preparar o seu livro, teve em


mente os cristãos gentios.

Parece claro que não foi adaptado especialmente aos leitores judeus, pelo fato
de conter poucas referências às profecias do Antigo Testamento. Ademais, a
explicação de palavras e costumes judaicos indica que o autor tinha em mente
os gentios.

*(3) Lucas - A Teófilo, cuja identidade é desconhecida. A evidência interna


indica que o livro foi escrito especialmente para os gentios. Esta dedução
decorre do fato de que o escritor se esforça para explicar os costumes judaicos,
e algumas vezes substitui nomes gregos por hebraicos.

*(4) João – Escreve para o mundo grego. Seu texto é carregado de elementos
culturais e formas gregas.

Mas não foi nesta ordem que a Bíblia foi escrita.


O objetivo de nosso estudo é conhecer o contexto em que a Bíblia foi sendo
escrita, ao sabor dos anos dos contextos, da cultura e da história.

II - A importância da compreensão do gênero literário


Para entender qualquer texto, primeiro precisamos identificar “O QUE
estamos lendo”.

Sem isso cairemos em um erro comum, que nos levará às mais esquisitas
interpretações de qualquer tipo de texto:
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Isso parece irrelevante, mas não é.

DINÂMICA

“Você poderia ler essa poesia para mim?”


(dinâmica – Ao invés de poesia, entregar manual de instalação qualquer, mas
não citar que é um manual de instalação. Pedir música de fundo ao técnico de
som.

Da mesma forma que é um erro ler um texto técnico como quem lê poesia,
assim também, ler qualquer dos textos da Bíblia, sem considerar seu estilo
literário, nos conduzirá ao mesmo tipo de inadequação que experimentamos ao
ler um texto técnico como se fosse poesia..

Alguns dos grandes erros de interpretação da bíblia acontecem porque não


temos noção do que estamos lendo. Dizemos: Estou lendo a bíblia.

- Sim, mas qual livro da bíblia você está lendo? A Bíblia é uma coleção de
66 livros, escritos durante um período aproximado de 1.500 anos, em
países diferentes, com contextos diferentes, pessoas diferentes, estilos
literários diferentes. Como podemos passar uma régua e afirmar que
estamos lendo um só livro?

- Com que olhos você está lendo a bíblia (olhos científicos? Olhos
doutrinais e dogmáticos? olhos textuais?)

- Muitos lêem um salmo como se lessem um ensino doutrinal.

- Salmo é poesia. E como tal, é cheio de licenças poéticas e


em especial no caso da Bíblia, repleto de sentimento
nacionalista e epopéias, que se tomadas literalmente
formarão uma imagem inexata de Deus e da vida.

- Outros lêem um conto como se lessem um relato histórico.

- Não podemos ler uma parábola, por exemplo, como quem


lê um jornal. Parábolas são instrumentos didáticos, ligados a
um assunto específico e sem ele, iremos para um caminho
completamente diferente do argumento de quem contou a
parábola. – Esse equívoco é muito comum ao ler as
parábolas de Jesus.
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Assim, é essencial para a leitura e compreensão do Novo Testamento,


compreender as características dos gêneros literários e o mundo que os
produziu, destacando as cartas, evangelhos, apocalipses e tratados teológicos.

A primeira coisa que devemos compreender é que o Cristianismo foi andarilho.


Começando por Jerusalém, o cristianismo foi se desenvolvendo ao longo do
século I, alcançando novas regiões, e sotaques, novos países e costumes e
assim, também novas lógicas de vida e novas culturas, como vemos pelas áreas
escuras do mapa.

Figura 1 - Expansão do cristianismo, em 20 anos

Essas novas lógicas de vida deram cor e sabor ao Novo testamento.

Não podemos imaginar que ele foi escrito somente no contexto judeu. Foi
principalmente no contexto grego.

III - Literatura e Contexto Histórico do Novo Testamento


De acordo com o Dr. Paulo Garcia em aula na Universidade Metodista, existiam
3 estilos literários mais conhecidos no século I:

- Cartas
- Evangelhos
- Apocalipses

Encontramos os três na Bíblia.


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Pelo fato de estarem no Novo Testamento, somos tentados a imaginar que


esses gêneros são originários da Bíblia, mas não é verdade. Todos os três eram
largamente usados na época do Novo testamento.

Cada um destes três estilos representa uma região do império romano.

A literatura e contexto histórico pode ser dividido em 3 regiões do império


romano. Apontam para 3 tipos de cultura.

- O mundo mediterrâneo
- O mundo siro fenício
- O Mungo egipcio

Esses três tipos de mundo influenciaram fortemente os três tipos de estilos


literários que temos no Novo Testamento:
Cartas
Evangelhos e
Apocalipses

IV - Mundo Mediterrâneo influenciou o Novo


Testamento porque produziu as cartas (epístolas).

O mapa acima mostra a região do


mediterrâneo onde estavam
localizadas a maioria das igrejas
do Novo Testamento. Hoje parte
dessa região é conhecida como
Turquia.
Apesar de Jerusalém ter sido o
berço do Cristianismo, Pedro e
Tiago ficaram presos à tradição
judaica. Permaneceram em
Jerusalém e entendiam o
Cristianismo como um
avivamento do judaísmo.
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Entendiam que tudo deveria passar por Jerusalém que que muitas das tradições
deveriam ser guardadas.
Paulo, no entanto, saiu em busca do mundo gentílico e assim influenciou todo o
movimento Cristão em todos os tempos.
Um dos grandes propulsores da evangelização que alcançou o mundo em
menos de 20 anos foi o comércio.
As rotas comerciais tinham um enorme fluxo de pessoas que iam e vinham
trazendo produtos e novas idéias.
1 - Por que o NT é cheio de cartas? E não de livros, como o Antigo
Testamento?

1.1 - Por causa da influência do mundo grego (ou mediterrâneo)

1.1.1 - Como alguém desse mundo resolvia os seus dilemas?

Segundo o Dr Paulo Garcia, da Universidade Metodista, o mundo grego


tinha a filosofia como pano de fundo: refletir sobre a vida e o mundo que
me cerca
- Os problemas eram enfrentados pensando debatendo sobre eles
Por isso no cristianismo paulino o enfrentamento dos problemas
se deu através de cartas.

As cartas eram o estilo mais comum desta região do mundo

Diz Paulo Garcia:


“Ora, se as cartas têm como característica refletir sobre problemas
concretos, isso nos aponta um caminho para o entendimento de
cada uma delas”

2 - Em outras palavras, como poderemos interpretar com equilíbrio o Novo


Testamento?

Compreendendo a história e os problemas por ele abordados.


É como um jogo de sinuca. Você bater em uma bola, para colocar a outra na
caçapa. Assim, você entende o pano de fundo, para entender o conceito divino.
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Assim, ficamos livres de uma interpretação legalista e garantimos uma


compreensão mais apurada das escrituras

Por isso as cartas do Novo Testamento são importantíssimas. Elas são um


retrato do mundo antigo e de que tipo de valores foram desenvolvidos nas
respostas.

Isso dá para nós uma leitura de entrelinhas. Deixamos de ler apenas o que está
escrito na literalidade do texto, para ler o por quê está escrito. Isso nos levará a
níveis profundos nunca antes imaginados por nós, pois libertaremos o texto
sagrado do papel e da doutrina e encontraremos para ele significados muito
mais relevantes para nossa alma e nossa fé em nosso dia a dia.

V – O Mundo Siro-Palestino nos deu os Evangelhos.

Esse é o mundo dos judeus, que estava dentro do mundo romano.


A maior produção e contribuição
que esse mundo deu ao novo
Testamento, foram os Evangelhos

1 – Evangelho quer dizer boa


notícia. Mas esse gênero literário
iniciou-se no palácio dos
imperadores e não com os
evangelistas.

Evangelho – boa notícia, era o


nome dado ao texto escrito sobre
os feitos heróicos do imperador,
no mundo Greco-romano. Por
exemplo:

Figura 3 - Cercado em preto está a região que produziu os 4 Evangelhos


“O Evangelho de César
Augusto, na guerra tal”.

O evangelho era na verdade uma crônica sobre os feitos do rei. Era a “boa
notícia” do imperador que após ter vencido os inimigos do povo romano, trouxe
a paz.
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O espírito do evangelho era o mesmo visto na época da ditadura, quando Silvio


Santos fazia ema espécie de evangelho de Figueiredo, com a Semana do
Presidente, um programa onde ele enaltecia os feitos do ex presidente João
Batista Figueiredo.

Esse era o espírito da literatura denominada “Evangelho”

O mundo do Novo Testamento também produziu os evangelhos apócrifos. Isto


é, evangelhos que estão fora da Bíblia, por não serem considerados inspirados
por Deus.

Por exemplo: O Evangelho de Judas.


Não era uma tentativa de falsificação do Novo Testamento, como muitos
imaginam, mas um texto escrito segundo a opinião de alguém, sobre os fatos.
Obviamente por ser um texto gnóstico, nenhum valor tem para a nossa fé. Por
isso não está na Bíblia.

2 - Apenas os 4 evangelhos Mateus, Marcos Lucas e João, são considerados


inspirados por Deus.

Ou seja, aqueles autores inspirados por Deus escreveram textos para contar a
história de Jesus, usando o estilo Evangelho, para narrar a história do Rei dos
reis.

É de particular interesse o fato de o primeiro dos três evangelhos ter sido o de


Marcos, escrito durante a guerra judaica. Só o fato dele ter escolhido o estilo
“Evangelho” para narrar a vida de Jesus, já é por si uma mensagem:

- Há um domínio em jogo. Há uma luta em questão: O reino de amor do


Cristo X o reino de violência de César: a mensagem ideologizada do
Evangelho é que o verdadeiro Rei dos Reis e Senhor dos Senhores veio
para reinar com um caminho oposto ao de César e que o próprio César
um dia se dobrará diante do Príncipe da paz.

- Os 4 evangelistas poderiam ter usado outro estilo literário para contar


a história de Jesus. Poderia ter usado a poesia, ou a carta, mas fizeram
segundo o estilo do palácio, para contar a vida do Rei dos reis.

Mas é interessante notar que apesar de ser um estilo também do mundo Greco-
romano, o estilo literário “evangelho” encaixou-se perfeitamente no mundo
palestino por causa da maneira como eles enfrentam os problemas da vida.
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Os judeus, assim como todos os povos semitas, a maneira de resolver os


problemas é olhar o passado. Para um palestino, o passado traz esperança e
ensina como lidar com o presente:

Vejam os salmos. Muitos deles narram os feitos de Deus. São a maneira


como Davi encontra consolo.

Veja o que diz Jeremias em Lamentações:

“Faze-me lembrar daquilo que traz esperança.”

A fé e as experiências do passado animam a fé no presente.

Veja a importância de conhecermos os estilos literários do N.T.

As cartas nos ensinam a olhar o presente e encontrar Deus nele

Os Evangelhos nos ensinam a olhar o passado perceber o sentido das


coisas, para que possamos entender as ações de Deus e assim, encontrar
esperança em Deus, no presente.

3 - Assim, o Evangelho é mais que a narração de uma história. É um tratado


sobre como resolver a nossa existência.
São livros escritos com o propósito de nos encher de esperança e fé, porque
assim como foi no princípio, assim será por todos os séculos. Essa é a grande
mensagem.

Por isso não devemos ler os evangelhos apenas para retirar dele doutrinas. |
precisamos dos olhos do palestino do século I, oprimido por Roma, para
perceber a grandeza deste texto.

VI - O terceiro estilo literário está no Mundo Egipcio

Diz Paulo Garcia

“Os
apocalipses
(e os
movimentos
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apocalípticos) podem ser entendidos (de forma


simplificada) como uma fé que ao celebrar o futuro
vitorioso (que é, na perspectiva da fé, uma certeza)
encontra bases para criticar, sobreviver e enfrentar os
conflitos do presente. Como gênero que nasce no mundo
semita, a certeza do futuro se dá a partir das experiências
do passado. Por isso, as imagens e símbolos estão
intimamente relacionados com toda a tradição
veterotestamentária e com todo o imagético pósexílico.

Essas imagens ganham uma nova roupagem, mas


expressam uma mesma
certeza: a fidelidade a Deus que atuou no passado é a
garantia de vitória presente e futura. Ao celebrar a vitória
futura, as comunidades apocalípticas já se apropriavam dela
no presente.

Por isso, essas imagens e tradições são encontradas em


todo o Novo Testamento. Não é de estranhar que, por
exemplo, na epístola de Judas encontramos alusões a
alguns desses escritos apocalípticos que figuram hoje na
lista de escrito apócrifos (Assunção de Moisés e Apocalipse
de Enoc). No mundo religioso do primeiro século, imagens e
idéias apocalípticas permeiam os diversos movimentos e
escritos.”

O Apocalipse também sendo uma linguagem literária, encontra muitos outros


textos que não o Apocalipse de João, que está na Bíblia. A literatura apocalíptica
era a literatura do oprimido. Por isso sua linguagem era cifrada, cheia de
símbolos que os governadores romanos jamais compreenderiam.
É importante dizer que somente o Apocalipse de João, foi inspirado por Deus e
por isso está na Bíblia.
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Apêndice 1 – Poesia para a dinâmica

Local para a instalação

Por Cônsul

Para sua segurança, o Ventilador de Teto deve ser


instalado:

Em um local que permita que as pás do ventilador


fiquem a uma altura igual ou superior a
2,30 m acima do piso e a uma distância mínima
de 0,50 m das paredes.

Em uma superfície plana e nivelada, que suporte o


peso do Ventilador de Teto em funcionamento (carga
mínima de 25 kg).

Recomendamos que a fixação


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do produto seja feita diretamente na laje de


concreto, em uma viga de madeira ou de metal.
Em local protegido de goteiras e vazamentos.

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