Você está na página 1de 4

A ESCOLHA DE ALESSANDRO: POR QUE UM EX-PETISTA VOTARÁ EM JOSÉ SERRA

Os primeiros que lerão essa mensagem me conhecem,  no entanto, como entendo um


pouco a internet, sei que ela pode chegar aos olhos de pessoas que nunca tiveram o
menor contato comigo. Sendo assim começo o texto me apresentando.

Sou o Alessandro, tenho 28 anos, católico desde os 15, tenho graduação em ciências
sociais e mestrado em sociologia. Sou professor na Universidade e no Ensino Médio.
Me interesso bastante por filosofia, história e literatura. Também devo dizer que,
excetuando a última eleição, sempre votei no Partido dos Trabalhadores e que vibrei
com a primeira vitória do Lula em 2002.

Poucos dias antes do primeiro turno das eleições mandei uma mensagem para aqueles
cadastrados no meu Orkut. Nessa mensagem disse os motivos de alguém que sempre
votou no PT mudar seu voto agora em 2010. Percebi que o texto deu frutos, afinal
recebi várias mensagens em resposta.

Agora, escrevo este texto para explicar porque eu que sempre me identifiquei com
algumas das propostas do PT, tive ojeriza pelo PSDB e votei na Marina Silva no
primeiro turno,  votarei no tucano José Serra, número 45, daqui a algumas semanas.

Acredito valer a pena explicar  os motivos pelos quais votava no partido do presidente
Lula antes de passar a fazer críticas. Nunca  fui marxista e não acho que o comunismo
seja um bom projeto para o mundo. Tenho grandes resistências teóricas a
compreensão da realidade feita por Marx...Votava no PT sem ser comunista porque
sabia (e sei) que este partido possui diversas correntes internas e nem todas elas
advogam em favor deste regime totalitário.

Votava no PT por encontrar nesse partido a defesa de algumas bandeiras com as quais
me identifico, como a reforma agrária, a maior distribuição de renda, uma ênfase em
políticas que favorecem os menos favorecidos, uma visão de saúde e educação que
não privilegiam o mercado...Isso só para citar algumas.

Quando o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder confesso que me entristeci com
algumas medidas adotadas, como a manutenção da taxa de juros e a política
assistencialista, além, é claro, dos grandes escândalos de corrupção em um grupo que
se autodenominava defensor da ética.

Peço que o leitor não me julgue ingênuo.  Sou leitor de Robert Michels e conheço
todos os limites da democracia representativa, conheço também a triste tradição de
confusão entre público e privado que temos no país. Apesar disso tudo, esperava uma
política um pouco diferente.

Mesmo chateado e decepcionado com algumas posturas, no ano de 2006 votei em


Luis Inácio Lula da Silva e em deputados e Senadores que fizessem parte de uma
bancada favorável a ele. Minha decepção continuou...Durante uns dois anos, para
minha vergonha e por motivos pessoais, fiquei um pouco alheio ao cenário político
nacional, embora continuasse acompanhando as notícias.  Foram meus anos de
mestrado. De um tempo para cá, voltei a acompanhar com mais atenção o cenário
político e confesso que mais uma vez me entristeci.

O Partido dos Trabalhadores passou a defender posturas que julgo inaceitáveis, como
o assassinato de crianças ainda não nascidas e leis que ofendem a liberdade de culto e
religião, direitos que julgo fundamentais. A punição de dois deputados que militavam
contra o aborto foi a gota d’água. Parece que no PT divergências de opiniões não são
tão bem vindas assim. (Essa é a conseqüência do tal centralismo democrático!!!).

Fora aqueles que militam a favor da vida, outras grandes figuras foram mal tratadas
pelo Partido dos Trabalhadores. Sim, estou falando de Marina Silva e Cristovam
Buarque...Ah...existem também aqueles que fundaram o PSOL. Aparentemente todos
aqueles coerentes com suas bandeiras e com sua base eleitoral e que não fazem  o
jogo  desejado pelos dirigentes  não são bons o suficiente para continuarem no
partido.

Algo de bom que essas posturas do PT acarretaram para mim foi a realização de uma
revisão crítica do governo do PSDB. Confesso que ainda não sou um entusiasta desse
partido, mas hoje julgo bastante injusta a visão maniqueísta que afirma serem os
tucanos o mal encarnado e os Ptistas a vanguarda da política brasileira, aquilo que o
Brasil tem de melhor.

Percebi também que meu voto no PT era bem pouco consciente, votava no carisma de
um partido e não em uma proposta concreta. Percebi que no mundo político as coisas
são mais complicadas e que muito do que o atual partido governista fez foi dar
continuidade a políticas e projetos elaborados durante o governo Fernando Henrique.

Devo reconhecer que os números do governo Lula são melhores, mas isso não se deve
a mudança de projeto macro-econômico, mas aos frutos do projeto que o governo
anterior teve a coragem de implementar. Até mesmo o Bolsa família é uma
continuidade de projetos anteriores. Em alguns pontos avançamos qualitativamente,
como na questão do Ensino Superior Público, mas são situações pontuais. Em uma
visão geral, o PT colheu o que o PSDB plantou.

A política é mais complicada que um jogo maniqueísta e nem sempre é possível


escolher o bem maior. Algumas vezes, com um engasgo na garganta, temos que
escolher o mal menor. Acredito ser bem esse o caso do segundo turno das eleições
presidenciais deste ano.

Mesmo nas questões morais, como o aborto, o candidato José Serra já deu suas
escorregadas. Como ministro da saúde, fez uma portaria que facilitou muito o aborto
nos hospitais públicos.  Nessa campanha, no entanto, ele se declarou contrario a essa
prática e foi coerente com o discurso do início ao fim da campanha. Situação bem
contrária e a da candidata ptista que mudou o discurso porque perdeu alguns votos.
Os dois podem estar sendo espertos, no entanto Serra é coerente e sabe que grande
parte dos que votaram (e votarão) nele o fizeram por causa da postura nesta questão.
Além disso, como já disse, a agenda do PT fere valores fundamentais. E, nunca é
demais  dizer, alguns valores são inegociáveis!

Antes de encerrar o texto, que já está bastante longo, quero me deter em alguns
argumentos utilizados por aqueles que não vão votar no Serra: “Ele vai privatizar a
Petrobrás”, “Hoje nós temos mais poder de compra”, “as políticas sociais do PT são
melhores”.

Acho que nenhum desses argumentos é convincente. Em primeiro lugar, embora o


PSDB tenha uma política mais ligada a privatizações,  o partido sabe o custo político
que foi privatizar a vale do Rio Doce. Sinceramente, não creio em uma privatização das
grandes estatais. Fora o fato de jeito que o PT lida com a Petrobrás é praticamente
uma privatização. Afinal usar uma estatal para o benefício do partido não significa
defender os interesses nacionais...(alguém viu também o uso dos espaços público para
planejamento de campanha????)

Em relação ao poder de compra, é verdade. No entanto, como já frisei, isso é fruto de


uma política corajosa do PSDB mantida pelo governo do PT. Ah...e não posso deixar de
dizer que o momento internacional também é outro!

Quanto às políticas sociais não vejo tanta diferenças assim, embora reconheça avanço.
Acredito sinceramente que elas não serão cortadas, uma vez que possuem raízes em
projetos anteriores e alavancam muitos votos.

Antes de terminar devo dizer que é um mito que a dívida externa foi  paga. O
candidato Plínio de Arruda Sampaio tocou nesse ponto em alguns debates... A dívida
continua enorme.

Os projetos econômicos são muito parecidos, com algumas nuances, é claro. Então, e
se ainda não fui claro, digo de forma mais direta porque votarei em José Serra.

 VOTAREI em José Serra porque quando os projetos são parecidos devemos escolher o
melhor gerente, e nesse quesito não há discussão possível ao se comprar Serra e
Dilma. Nossa amiga nunca teve um cargo para o qual foi eleita...

VOTAREI em José Serra porque algumas questões morais fundamentais receberão um


tratamento menos pior em seu governo.

VOTAREI em José Serra porque acredito que uma certa rotatividade no poder é salutar
para o país.

VOTAREI em José Serra porque o PT não é, e creio, nunca mais será o mesmo.

VOTAREI em José Serra, mesmo com um engasgo, porque é impossível votar no PT


sem trair minha consciência.

E por favor não votem nulo e nem deixem de votar. No último domingo o número de
pessoas que deixaram de votar foi de 24 milhões, mais do que a terceira colocada
conseguiu. Deixar de votar é favorecer os primeiros colocados porque são computados
apenas os votos válidos. Quantos mais votos nulos ou brancos e abstenções, menor o
número de votos que o candidato precisa para ser eleito. 

Você também pode gostar