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Primeiros Ensaios Economicos
Primeiros Ensaios Economicos
Ensaios
Econômicos
Publicação do Programa de Ensino Tutorial (PET) de Ciências
Econômicas da Universidade Federal do Paraná
ISSN 2175-9022
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Expediente
Editores Responsáveis:
Fabiano Abranches Silva Dalto
Iara Vigo de Lima
Editores Associados:
Alexandre Possidente Taveira
Nelson Nei Granato Neto
Adriana Krainski
Newton Gracia
Ronald Wegner Neto
Paulo Roberto Liberti Tippa
Danielle Cristina Guizzo
Leonel Toshio Clemente
Guillermo José Mateo Leder
Erick Aguilar
Fabean Augusto Nadolny Batista
Otávio Jr. Barancelli
Valéria Faria dos Santos
Carla Zwierzchaczewski Kuss
Denise Ton Tiussi
Leonan Novaes
Capa
Leonel Toshio Clemente
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Dedicado à Professora
Iara Vigo de Lima
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Sumário
Editorial.........................................................................................................9
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Editorial
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
A queda tendencial da taxa de lucro: evidência empírica
e estimação para o caso dos EUA*
1 INTRODUÇÃO
Em 1964, o expressivo economista polonês Michal Kalecki
afirmou que o modelo econométrico e o materialismo histórico são
abordagens distintas, mas não irreconciliáveis. Segundo ele, “os
esquemas de reprodução de Marx nada mais são do que modelos
econométricos simples”(KALECKI, 1980).
Se, por um lado, é verdade que a matemática e a modelização,
na ciência econômica, estiveram estreitamente ligadas à evolução da
teoria neoclássica hegemônica, por outro, a abdicação por parte dos
marxistas deste instrumental tornou esta corrente de pensamento
ainda mais marginalizada dentro da Economia e afastou-a de vários
debates econômicos. Percebendo isso, vários economistas marxistas
começaram a desenvolver trabalhos utilizando mais extensivamente a
análise econométrica e sem se furtarem ao debate sobre os problemas
econômicos mais atuais. Esses economistas, como Anwar Shaikh e
Fred Moseley, fizeram diversos estudos testando e estimando os
*
Agradecemos o Prof. Dr. Ademir Clemente e Prof. Dr. Claus Magno Germer, e os
mestrandos Geraldo Augusto Staub Filho e Leonardo de Magalhães Leite, pelos importantes
conselhos e contribuições. As pessoas e instituições aqui citadas não são responsáveis pelas
opiniões dos autores.
**
Graduando do Curso de Ciências Econômicas da UFPR e membro do PET/Economia.
***
Graduando do Curso de Ciências Econômicas da UFPR, Coordenador Geral do CACE e
bolsista de Iniciação Científica pela UFPR/TN.
****
Graduando do Curso de Ciências Econômicas da UFPR e membro da equipe técnica do
Boletim Economia e Tecnologia da UFPR.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
modelos desenvolvidos por Marx que, como os esquemas de
reprodução lembrados por Kalecki, são muitos em sua análise do
capitalismo. Um desses modelos é a “Lei da Queda Tendencial da
Taxa de Lucro”, considerada pelo próprio Marx a mais importante da
economia política, pois é a “lei” que prevê a tendência de depressão
dos lucros devido à mudança tecnológica.
Esse modelo, como veremos, deságua na explicação sobre as crises
econômicas e esteve no centro do debate, entre os marxistas, sobre a
estagnação americana da década de 80. O objetivo deste artigo,
portanto, é ver como se comporta estatisticamente esse modelo
teórico marxiano, tomando como amostra o período pós-guerra da
economia norte-americana.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Naturalmente, sendo a taxa de lucro igual a l/(c+v) e sendo l a
massa de lucros, um investimento cada vez maior em capital constante
leva, ceteris paribus, à diminuição da taxa média de lucro. Assim a
própria tecnologia, que é adotada pelo capitalista com intuito de obter
mais lucro, acaba ocasionando uma queda na taxa média de lucros da
economia. Pode-se objetar que um aumento na taxa de mais-valia
(pelo acréscimo na produtividade do trabalhador) acarreta o efeito
contrário: crescimento da taxa de lucro. Ao fim, o movimento real é
definido pela relação entre a variação da composição orgânica e da
taxa de mais-valia: se a primeira cresce proporcionalmente mais do
que a última, a taxa de lucro cai, do inverso, ela sobe. Para Marx, a
tendência dominante no desenvolvimento do capitalismo é a queda da
taxa média de lucro. É precisamente essa proposição da teoria
marxista que pretendemos avaliar estatisticamente neste artigo.
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RS AOCC ARP
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DADOS DE RS, AOCC E ARP NO PERÍODO DE 1947 ATÉ
1977 (MOSELEY):
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Sendo assim, a função de regressão amostral estimada foi4:
∆ln(ARPt)= - 1,033360*∆ln(AOCCt) + 0.303932*∆ln(RSt)
6 CONCLUSÕES
A regressão no formato log-linear obtida foi:
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Política Monetária de Metas:
a evidência chilena no período de 2001 a 2007
1 INTRODUÇÃO
O Chile adotou um regime de metas de inflação em 1991.
Mesmo com um controle da taxa de câmbio por meio de bandas
cambiais, o país andino foi um dos primeiros emergentes a adotar um
regime de metas de inflação para alcançar seus objetivos de
estabilidade dos preços.
Como os outros países que adotaram esse sistema, o Banco
Central do Chile (BCCh) determina basicamente a taxa de juros de
curto prazo e deixa os agregados monetários livres do seu controle
restrito. O BCCh tenta por meio da taxa de juros, e não do controle
monetário, chegar aos seus objetivos.
Desde 2001 o país vivencia uma expansão do agregado M1
muito forte, porém a inflação do período permanece baixa e, de certa
forma, controlada, ao contrário do que poderia imaginar a Teoria
Quantitativa da Moeda (TQM). Apresentar como a política monetária
chilena é conduzida no período 2001/07, bem como suas
características e efeitos é o foco desta pesquisa cujo objetivo é
*
Graduando em Ciências Econômicas pela UFPR.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
entender como a baixa inflação e expansão monetária coincidem no
período, contrapondo a visão da TQM, e qual o verdadeiro
instrumento que o BCCh pode controlar para executar sua política
monetária.
Para tanto serão utilizados os dados disponibilizados pelo
BCCh e gráficos elaborados de maneira a visualizar os efeitos da
política monetária. Tentar-se-á responder se o instrumento utilizado
pelo BCCh garante a ele controlar a inflação sob uma elevada
expansão de M1.
A seção 2 mostra como se deu a implantação do regime de
metas de inflação em 1991 e quais foram as diretrizes adotadas para a
manutenção da meta. Mostra também os resultados na inflação após a
adoção do regime. A seção 3 aborda o objetivo da pesquisa de
apresentar os efeitos da política monetária no período 2001 a 2007.
Serão revisados o crescimento do PIB, as variações dos agregados
monetários, a velocidade de circulação da moeda, as taxas de juros de
curto prazo impostas e as taxas de câmbio constatadas. Pese o
exposto, a seção 4 resume as conclusões auferidas sobre a condução
da política monetária chilena e seus efeitos sobre a economia deste
país no período 2001 a 2007.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
voltaria a impulsioná-lo como fiz no passado”. (apud: GREGÓRIO,
2003).
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
O BCCh estimou equações simplificadas que representariam os
modelos estruturais utilizados para simular os mecanismos de
transmissão da política monetária. Como descreve Joel Bogdanski, as
equações básicas seriam uma curva IS, uma curva de Phillips, uma
curva que represente uma condição de equilíbrio no mercado de
câmbio e a paridade descoberta da taxa de juros.
Por outro lado, o BCCh adotou o regime de metas de inflação
junto com um controle da taxa de câmbio através de bandas cambiais,
bem como o Plano Real que também foi implantado com um regime
de câmbio administrado,e que este foi “um instrumento muito efetivo
para reduzir e manter baixa a inflação” (BOGDANSKI, et al., 2000). É
por isto que Manuel Marfán afirma que o sistema de metas
implementado pelo Chile em 1991 é um “sistema impuro” e que ele
somente se torna pleno em 2000, com a adoção do regime de câmbio
flutuante. As bandas cambiais existiram no Chile de 1984 a 1999.
O termo impuro vem à tona porque o mecanismo de
transmissão da política monetária (em um RMI) passa pela da taxa de
câmbio. Segundo Bogdanski:
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GRÁFICO 2: METAS DE INFLAÇÃO E INFLAÇÃO EFETIVA
NO CHILE (1990-2007, %AA)
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
O país teve um crescimento do produto compatível com
outros países emergentes, a uma média de 4,35% a.a. É fácil perceber
que o ano de maior crescimento do período, 2004, foi também o ano
em que houve uma inflação tão baixa a partir da uma pequena
deflação no começo do ano. Entretanto, há um fenômeno que merece
destaque: a expansão de M1 e a inflação baixa e, em certo grau,
controlada. Como O BCCh atua neste contexto? A tabela abaixo
mostra os agregados monetários e suas respectivas expansões
comparadas com a inflação.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
GRÁFICO 4: Variação de M1 e do IPC (2001-2007; %).
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Variação M1
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Inflação
10
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
1
Ver equação MV=PT
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GRÁ FICO 5: VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO M1 (2001-2007)
Velocidade de Circulação
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Velocidade de
11 Circulação
10
5
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
5
TPM; IPC (Variação)
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
700
650
600
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500
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
4,5
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2,5
1,5
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
4 CONCLUSÕES
Em 1991 o país andino adotou um regime de metas para
inflação e com isto reduziu sua taxa de inflação a taxas de países
desenvolvidos. Entre 2001 e 2007 o Chile vivenciou uma expansão
acentuada de M1 e uma expansão relativamente alta dos demais
agregados monetários. Esta expansão, ao contrário do que diz a teoria
quantitativa da moeda, não foi acompanhada de um aumento no nível
dos preços da economia. Vimos que a hipótese da velocidade de
circulação da TQM também foi quebrada com esse exemplo empírico.
O controle da TPM, no caso chileno, foi eficiente em um cenário de
crescimento da moeda na economia.
A política monetária chilena é conduzida através de uma meta
para a inflação. Para tanto, o BCCh controla a TPM e descarta a
hipótese de controlar agregados monetários. No período analisado, o
BCCh manteve a meta em 3% a.a. e controlou a TPM de modo a
atingir essa meta. Mesmo com as alterações, as taxas de juros
permaneceram relativamente baixas em todo o período (gráfico G6).
Somado a isto, tem-se que o Chile é um país emergente que opera
abaixo do pleno emprego, ou seja, o aumento da moeda é
impulsionado, de alguma maneira, pela economia que cresce mais de
4% a.a. Como mostrado, a economia chilena é bastante adepta do
comércio internacional e a queda na taxa de câmbio devido às maiores
entradas de divisas a partir de 2003, quando os preços dos alimentos e
dos minerais no mercado mundial começaram a subir, ajudou para
uma deflação nos primeiros meses de 2004. Este fato foi seguido de
uma quebra da seqüência baixista da TPM de forma a se atingir a
meta.
Então, por fim, é certo dizer que o caso chileno analisado pode
ser considerado como uma evidência empírica do modelo
endogeinista sobre a oferta de moeda ou, de outra forma, ele mostra
que o controle da política monetária baseado no controle,
basicamente, da taxa de juros de curto prazo, consegue ser eficiente na
execução da política monetária. Por outro lado, como vimos, a
economia chilena é aberta sendo a taxa de câmbio uma variável
fundamental para a inflação e que, no Chile, ela é flutuante. Em outras
palavras, é arriscado afirmar categoricamente que o BCCh controla a
inflação por meio da TPM, sem levar em conta externalidades que
afetam a inflação importada. Agora, pode ser que o BCCh e o bicho
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
papão da inflação estejam brigados, o difícil é saber quando eles
voltarão a fazer as pazes.
REFERÊNCIAS
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
O empresário inovador: Sua importância, características
e habilidades*
1 INTRODUÇÃO
Provavelmente não exista ainda uma definição concreta e única
para o termo empresário inovador, sendo que cada autor que trata do
assunto pode ter escolhido focar em um aspecto que julgue
importante, mas que outros não consideram da mesma forma. O
objetivo deste artigo é mostrar a importância do chamado empresário
inovador para uma firma, apresentando as características deste, bem
como o que diferencia o simples homem de negócios ou
administrador da empresa do empresário inovador, também chamado
de schumpeteriano.
O artigo será estruturado em três tópicos. A primeira parte
busca tratar das habilidades e características de um empresário
considerado inovador e nos principais pontos de diferenciação deste
para com o administrador, fazendo uso das principais teorias que dão
*
Este artigo é parte da monografia de conclusão de curso defendida pela autora, sob a
orientação do professor Dr. Mauricio Aguiar Serra.
**
Graduanda de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná e bolsista do
programa de Monitoria da Universidade na matéria de Macroeconomia sob a tutela do
professor Dr. Luciano Nakabashi.
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base a discussões sobre inovação tecnológica em economia, a saber,
Schumpeter e seu estudo referente ao empresário e Nelson e Winter
com a questão das habilidades individuais como proxy para as
características de uma firma inovadora. A segunda e terceira partes
apresentam a importância do empresário schumpeteriano para a firma
e como se dá sua atuação.
O referencial teórico utilizado para a discussão proposta no
artigo versa sobre os principais autores que trataram do tema de
inovação tecnológica em termos econômicos, como Schumpeter, que
é considerado o pai da inovação; Nelson e Winter e a Teoria
Evolucionista formulada por estes; e Penrose, que mesmo não
havendo unanimidade no tocante à sua contribuição para a inovação
tecnológica, apresenta pontos bastante interessantes para a discussão
específica no tangente ao presente artigo. Será ainda utilizado o
trabalho de Giovanni Dosi, autor Evolucionista que comenta sobre a
importância do empresário.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
constatação que o autor inicia a análise de pessoas com diferentes
características, que serão capazes de inovar e assim alterar o curso da
economia em vários aspectos. São as inovações que irão tirar a
economia de seu estado estacionário e levá-la a atingir um estágio de
desenvolvimento econômico superior, e serão os empresários os
responsáveis por permitir a realização destas inovações pelas firmas.
Para Schumpeter, é o empresário na firma que deve inicialmente
realizar a inovação e educar os consumidores a adquirir os produtos
resultantes de tais inovações. O empresário irá realizar estas inovações
a partir de combinações novas de fatores de produção que já estão
presentes na empresa, o que é denominado de empreendimento.
Portanto, o empresário pode ser independente ou subordinado à
alguma firma, mas o que o definirá realmente como empresário
inovador será o fato deste realizar as inovações, alterando o processo
produtivo das firmas e conseqüentemente atingindo um nível
diferente de desenvolvimento econômico. Da forma mais simples
possível, o empresário schumpeteriano será aquele que inova, seja na
sua empresa ou de forma independente, ou seja, aquele que realmente
leva a cabo novas combinações. Muitos são aqueles que têm a
possibilidade objetiva de inovar, mas são poucos os que realmente
irão realizar estas inovações, muito devido ao fato de que a maioria
das pessoas não gosta muito de alterar a seqüência de atividades, bem
como a forma como são realizadas estas atividades que já fazem parte
de sua vida há algum tempo para experimentar algo novo, até, às
vezes, sabendo que esta novidade será melhor em muitos sentidos
quando comparada a atividade anteriormente praticada
(SCHUMPETER, 1911).
Nelson e Winter (1982) tomam como base a análise de
Schumpeter na questão da inovação, mas seu tratamento do
empresário é um pouco diferente do deste autor. Diferente
basicamente no sentido de que Schumpeter analisou o empresário
como um agente econômico imprescindível para a realização da
inovação no sistema econômico, inovação esta que possibilitaria à
frente um processo de desenvolvimento econômico. A Teoria
Evolucionista toma um rumo diferente nesta análise, já que se baseia
muito no interior das firmas, a chamada “caixa-preta”, e em como a
inovação e conseqüentemente o empresário estão inseridos nestas
firmas e atuam para possibilitar o processo de inovação e a posterior
mudança econômica.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Para realizar tal análise interna à firma, Nelson e Winter partem
de uma analogia relativamente simples. Como são as pessoas que
tomam as decisões por uma firma e que num sentido mais geral,
formam a empresa e suas características, deve-se analisar estas pessoas
para se ter um relato das firmas e de como estas funcionam e atuam
no mercado. As habilidades individuais daqueles que formam a
empresa são análogas ao processo pelo qual as firmas passam, a rotina.
É por este fato que os autores decidem analisar as habilidades
individuais para entender de uma forma geral as rotinas das
organizações. Aqui se faz necessária uma análise um pouco mais clara
do que é considerado como rotina para a Teoria Evolucionista.
Nelson e Winter (1982) comentam que o termo geral para todos os
padrões comportamentais regulares e previsíveis das firmas é
denominado como rotina. São as rotinas de cada firma que definirão
suas características básicas, desde os gastos com pessoal até os
investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, ou seja, características
que determinam o comportamento possível de cada empresa. Da
mesma forma, as habilidades individuais irão determinar os processos
de seleção dos indivíduos fora e dentro das empresas. Não pode-se
afirmar que as estratégias destas empresas irão se adaptar para atender
as características dos empresários que as formam. Parece que neste
ponto, cada caso é um caso, a adaptação ou não da empresa.
Vale destacar aqui um ponto bem interessante: Schumpeter
quando escreve a "Teoria do Desenvolvimento Econômico", destaca
o indivíduo com maior importância, atribuindo a este a tarefa de
inovar numa empresa e conseqüentemente no sistema econômico
como um todo. Já numa publicação posterior, em "Capitalismo,
Socialismo e Democracia", o autor passa a dar destaque maior à
própria firma. É esta que é responsável pelas inovações neste
momento. É a partir desta última obra, que partem as idéias dos
Evolucionistas Nelson e Winter, e até mesmo de Giovanni Dosi.
Trata-se a partir daí da firma inovadora, não mais da figura individual
de um empresário. Para Schumpeter (1942) é a empresa capitalista que
dá o impulso fundamental para manter em funcionamento a máquina
capitalista. Tanto Nelson e Winter como Dosi tentam se desvincilhar
da visão de serem seguidores de Schumpeter, mas não conseguem
fazê-lo por completo, justamente por seguir um pouco as idéias
discutidas em "Capitalismo, Socialismo e Democracia" da importância
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
da firma capitalista como um todo para a inovação de sistema
econômico.
É importante neste ponto, fazer um pequeno resumo de como
ocorre o processo de inovação na empresa de acordo com as idéias
evolucionistas. A empresa apresenta uma série de características que se
apresentam através de sua história, características estas tanto em
termos empresariais quanto em termos internos de pessoal e aspectos
relativos à coordenação. A partir desta história que cada empresa
apresenta, existe a rotina, definida pelos autores como técnicas e
processos organizacionais que mostram de que forma os bens são
produzidos, desde as atividades cotidianas até as de caráter inovativo.
Os mecanismos de seleção se definem como a busca, que nada mais é
do que uma avaliação de todas as rotinas existentes, e a seleção
propriamente dita torna capaz a acumulação do conhecimento. É a
partir desta acumulação de conhecimento da firma, que irá se fazer
possível o processo de inovação.
Como os autores comentam, a seleção são “escolhas
incorporadas numa capacidade”, ou seja, para um bom e eficaz
processo de tomada de decisão, o comportamento habilidoso por
parte daqueles que tomam as decisões de caráter produtivo e de
coordenação da empresa se torna fundamental.
Ainda na questão do empresário e da habilidade empresarial, a
implementação ou deliberação de alguma alteração no sistema
produtivo requer uma capacidade diferenciada da firma,
principalmente por parte de seus empresários, no sentido de mudar o
sistema anterior, o que não é tão simples como possa parecer. É
função da firma e do empresário propriamente dito criar inovações
que sejam importantes e possam ser inseridas no sistema econômico,
e posteriormente, “ensinar” os consumidores a olhar este novo
produto, por exemplo, com outros olhos, e que passem a adquiri-lo. A
forma como o empresário fará com que a sociedade aceite bem o
novo produto a ponto de adquiri-lo pode surgir de formas diversas.
Em certos casos é a propaganda que faz toda a diferença a partir de
campanhas fortes e bem-sucedidas de marketing. Vale sempre ressaltar
que este “ensino” nada mais é do que um processo de convencimento,
no qual a empresa que fez a inovação deverá mostrar para o mercado
como um todo o porque seu produto é melhor e necessário. Esta é
sem dúvida uma habilidade que um empresário inovador deve possuir.
Este deve perceber as necessidades de sua firma ou do mercado de
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
uma forma geral e buscar produtos ou processos inovativos que
possam suprir estas necessidades de uma forma positiva, tanto para o
mercado, quanto para o próprio empresário. Porém, o inovador não
deve tomar suas decisões baseado somente na demanda do mercado,
mas principalmente, deve ser capaz de inovar e mostrar para o
mercado que seu produto novo é positivo e necessário, e que
portanto, deve ser consumido.
É nesta capacidade de influenciar o mercado a seu favor, o que
permite o crescimento da firma, que entra Penrose (1959). É bastante
claro o tratamento e a importância que esta autora dá para o
empresário como fator para o crescimento da firma. Não importa qual
cargo o empresário ocupe na empresa, mas para ser considerado
inovador ou schumpeteriano, deve contribuir à introdução ou
aceitação de novas idéias que possam ser aproveitadas no processo
produtivo e pelo mercado, não só em termos de novos produtos, mas
também de revoluções no que concerne à localização ou alterações
referentes à tecnologia aplicada em algum processo. (PENROSE,
1959)
Outras características colocadas como fundamentais no caráter
do empresário para o crescimento da firma são chamadas pela autora
de questões de versatilidade. Como ponto de partida da inovação para
o crescimento da firma, está a intuição e imaginação empreendedora,
principalmente quando a firma não é de grande porte e necessita de
decisões acertadas. Neste caso, o papel fundamental do empresário é
acertar o momento em que a firma necessita de alguma inovação e a
partir desse ponto, saber tomar as decisões corretas de acordo com as
oportunidades produtivas que poderão ser implementadas. Num
sentido maior, é a qualificação e a capacidade do empresário que irão
decidir se a firma será bem sucedida no mercado ou não. Em
situações de firmas com estruturas parecidas, um empresário
schumpeteriano mais versátil em uma delas, pode colocá-la numa
posição de muito mais destaque quando comparada às outras.
(PENROSE, 1959)
Dosi (1984), comenta que boa parte do conhecimento
“tecnológico” necessário para ser aplicado em um processo de
inovação além de ser bem menos articulado que o conhecimento
científico, não foi escrito e está implícito na experiência e nas
habilidades do empresário. Vale a pena inserir aqui algumas outras
discussões tratadas por Dosi, entre elas os conceitos de trajetória e
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
paradigma tecnológicos. "Definiremos o paradigma tecnológico como
um "modelo" e um "padrão" de solução de problemas tecnológicos
selecionados.(...) Definiremos a trajetória tecnológica como o padrão
da atividade normal de resolução do problema" (DOSI, 1984, p. 40-
42).
A partir de esforços tecnológicos de caráter genérico, que
podem ser chamados de necessidades genéricas, surgem certas
tecnologias específicas, com suas próprias "soluções" para as
dificuldades, a partir da exclusão de outras tecnologias nocionalmente
possíveis. Essa capacidade de exclusão apresenta-se devido aos
esforços e à imaginação tecnológica dos engenheiros e de suas
organizações, os quais focalizam em direções específicas. São as forças
econômicas juntamente com fatores institucionais e sociais que
funcionam como um dispositivo seletivo para definir as trajetórias
reais a serem seguidas dentro de um conjunto bem maior de trajetórias
possíveis. (DOSI, 1984)
Voltando à questão da versatilidade, está inserida nesta
capacidade a habilidade de mobilizar recursos financeiros, o que para
uma empresa de médio ou pequeno porte é de extrema importância
no momento em que esta decidir inovar. Empresas de grande porte
não apresentam esta dificuldade, visto que podem fazer uso de
recursos de outros setores, ou até mesmo já apresentam um setor
específico de Pesquisa e Desenvolvimento, que recebe uma
determinada quantia para aplicar em desenvolvimento de inovações.
Agora, é muito difícil para uma empresa pequena, com possibilidades
restritas de capital, ser capaz de alocar parte deste capital em uma
atividade que não irá apresentar grandes volumes de lucro no curto
prazo, às vezes até mesmo não apresentando resultados positivos no
longo prazo, em ocasiões que a pesquisa não resulta em produtos que
possam ser aplicados no mercado. Para atrair o capital, já que o
empresário não é alguém que assume riscos, este deve ser capaz de
inspirar confiança dos capitalistas para investir em sua empresa.
Ainda quanto à versatilidade, há duas características que devem
estar presentes nos empresários schumpeterianos, quais sejam, a
ambição e o tino empresarial (PENROSE, 1959). Um empresário sem
ambição não irá buscar desenvolver inovações que possam melhorar
algum produto ou processo produtivo, simplesmente estará contente
com o estado da empresa no momento e será relutante a fazer
qualquer tipo de mudança. Já no quesito tino empresarial, é
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
praticamente impossível algum indivíduo que não apresenta aptidão
para os negócios ser capaz de inovar e contribuir ao crescimento de
uma empresa. Alguns nascem para ser pianistas, outros para ser
empresários. Não há como alterar certas características que fazem
parte da formação do indivíduo de uma hora para outra.
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
negócios que sejam capazes de bem administrar a empresa e seus
funcionários. É necessário ter um controle sobre a produção, algo que
não deve ficar nas mãos dos inovadores, que não podem ser
sobrecarregados com outras tarefas que não sejam as relacionadas a
questões de Pesquisa e Desenvolvimento ou conhecimento do
produto, do processos de produção e do mercado. Em casos
especiais, pode ocorrer que as inovações ou combinações novas,
como chama Schumpeter, possam ser realizadas pela mesma pessoa
que controla o processo produtivo ou o ramo comercial da empresa.
A distinção entre tais grupos para Schumpeter (1911), se faz no
momento em que alguns “sujeitos econômicos” se especializam,
lembrando que são estes sujeitos que irão realizar os fatos
econômicos, que por sua vez irão alterar a dinâmica do
desenvolvimento econômico. Ainda para o mesmo autor, a distinção
se faz porque alguns indivíduos simplesmente tiram conclusões de
circunstâncias conhecidas, sem fazer diferença se estes são dirigentes
ou dirigidos, já que o comportamento de ambos está sujeito às
mesmas regras. Neste caso, os que dirigem a empresa sem se
preocupar com as inovações, somente executam o que lhes foi
apontado pela demanda e pelos métodos de produção dados. Não são
capazes de pensar em algo para alterar esta demanda ou esta produção
e por isso não são considerados como empresários schumpeterianos.
O empresário, para realizar as inovações, não precisa
necessariamente estar vinculado a uma determinada empresa, e deve-
se deixar de lado aqueles indivíduos que somente operam um negócio
estabelecido. Para Penrose (2006) os serviços empresariais são muito
diferentes dos serviços administrativos, já que estes últimos apenas
colocam em prática o que os empresários definiram como a melhor
estratégia possível. Os administradores ainda são responsáveis, como
já foi citado aqui, pelas tarefas de controle da produção, desde
matérias-primas a funcionários, mas sua mudança se prende à rotina,
não à mudança da rotina.
45
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
empresa. Isto posto, vale mostrar neste tópico porque uma firma
necessita de um inovador.
Por qual motivo uma firma necessita de um administrador
parece estar bastante claro até mesmo para o senso comum. É óbvio
que um empresa necessita de um indivíduo ou em certos casos de um
grupo de indivíduos coordenando-a e tomando todas as decisões
cabíveis para seu bom funcionamento, resultando em ganhos que
tomam forma nos lucros recebidos pela firma no mercado. Porém, foi
mostrado no tópico anterior que há uma clara diferença entre estes
administradores e um empresário inovador. Portanto, isso nos leva ao
seguinte questionamento: por que uma empresa necessita ter em seu
quadro de funcionários o chamado empresário schumpeteriano? O
que este trará de positivo para a empresa que o administrador não
pode proporcionar?
Agora que as questões se mostram claras, fica mais fácil tentar
encontrar uma resposta que as esclareça. A partir da época de
Schumpeter, e de forma cada vez maior, a concorrência entre grandes
e médias empresas é cada vez mais acirrada. Devido a isso, aquelas
empresas que decidem continuar auferindo ganhos no mercado
devem partir para algo chamado por Schumpeter de inovação. Para
Schumpeter (1988), o desenvolvimento, também entendido como
uma mudança econômica viria a ocorrer através de uma iniciativa
própria de pessoas capacitadas para tal ato. Estas mudanças seriam
reflexos de inovações no sistema econômico e seriam trazidas para a
empresa e para o sistema econômico de uma forma geral através dos
chamados empresários inovadores que ficaram conhecidos também
como empresários schumpeterianos. Vemos então que, para que
ocorresse uma mudança no sistema produtivo que pudesse permitir
um desenvolvimento de uma forma geral no sistema, uma inovação
deveria partir de um empresário.
Portanto, as firmas que tivessem interesse em inovar para se
tornarem capazes a ser pioneiras nestas mudanças econômicas, que
seriam de toda a forma positivas de uma maneira geral, deveriam ter
em seu quadro indivíduos capazes de realizar tais mudanças, ou seja,
empresários inovadores.
Penrose (1959) afirma que uma firma só irá crescer se aproveitar
as oportunidades produtivas que aparecerem no decorrer do percurso.
Porém, são inúmeras as oportunidades que irão lhe aparecer e tomar
uma decisão correta pode ser muito complicado.
46
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
As pessoas de uma forma geral enfrentam situações parecidas no
decorrer de sua vida. Um jovem, por exemplo, deve decidir aos 17
anos que profissão irá exercer no futuro antes de entrar na
universidade. Para uma firma isso não é diferente e o seu futuro
depende da tomada de decisão hoje. Se a firma escolher trilhar um
determinado caminho e este se mostrar correto no futuro, esta irá
auferir ganhos maiores e portanto, pode ultrapassar suas concorrentes
e se colocar muito bem no mercado. Mas sempre há o outro lado, no
caso em que a decisão tomada hoje pela firma se mostra no futuro
como o caminho errado. Esta firma terá dificuldades de mercado e
financeiras e não irá crescer da mesma forma que suas concorrentes,
podendo até perder fatias de mercado para estas. Este é o diferencial
da tomada de decisões da firma: o resultado, ou seja, saber se o
caminho trilhado foi o mais correto dentre todas as oportunidades
apresentadas, só irá aparecer no médio prazo, e não instantaneamente.
Alguns autores comentaram sobre tal fato, de que o resultado da
inovação só será percebido em um momento posterior à tomada de
decisão e por isso a firma deverá considerar e pesar diversos fatores
antes de definir por uma trajetória tecnológica em detrimento de
outra. Como exemplo, tem-se a abordagem de Dosi e também de
Nelson e Winter.
Em muitos casos, as características das firmas que concorrem no
mercado são muito parecidas, em termos de custos ou processos
produtivos. O que irá se mostrar como um diferencial importante são
as qualidades dos empresários que estão inseridos nestas firmas. A
firma que apresenta empresários capazes de inovar e portanto de
diferenciá-la das demais terá ganhos de mercado, na forma de um
produto novo, ou de um processo economizador de insumos ou de
mão-de-obra, por exemplo. Para finalizar, é o que Penrose chama de
“qualidade” da empresa, ou seja, qualidade dos tipos particulares de
que uma firma dispõe, que têm uma importância estratégica na
determinação de seu crescimento. Então, tem-se que o crescimento de
uma firma é muitas vezes determinado por um determinado
empresário inovador.
Pode-se até a relacionar tal discussão de Penrose dos tipos
particulares presentes em cada firma, com a discussão de habilidades
dos indivíduos como proxy para as habilidades das empresas de Nelson
e Winter.
47
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
4 O EMPRESÁRIO SCHUMPETERIANO E SUA ATUAÇÃO
NA EMPRESA
No tópico anterior, foi apresentada a importância do empresário
schumpeteriano para a diferenciação da empresa, o que permite seu
crescimento e a dá vantagens quando comparada com suas
competidoras. Mas, como se dá a atuação do empresário internamente
na empresa?
É o produtor que deve iniciar a mudança econômica e
posteriormente educar os consumidores para adquirir os produtos
diferentes daqueles que estavam acostumados a usar, e não apenas
realizar inovações devido a uma necessidade mostrada pelos
consumidores. O desenvolvimento é definido pela realização de novas
combinações, já que para produzir são utilizados determinados fatores
produtivos, e para produzir outras coisas, ou seja, inovar, estes fatores
devem ser combinados de formas diferentes. Este conceito de novas
combinações para a inovação engloba cinco casos distintos: 1)
introdução de um novo bem ou de uma qualidade diferente de um
bem existente; 2) introdução de um novo método de produção; 3)
abertura de um novo mercado; 4) conquista de uma fonte diferente de
matéria-prima ou de bens semi-manufaturados que serão utilizados na
produção; e 5) estabelecimento de uma organização diferente de
qualquer indústria, como a criação de um monopólio por exemplo.
(SCHUMPETER, 1911)
Especificamente no caso do empresário, Schumpeter (1911, p.
49) comenta que “(...) não é essencial, embora possa acontecer, que as
combinações novas sejam realizadas pelas mesmas pessoas que
controlam o processo produtivo ou comercial a ser deslocado pelo
novo”. O autor cita que o comando sobre os meios de produção deve
existir para que ocorra a realização das novas combinações que
permitam a inovação. “Chamamos “empreendimento” à realização de
combinações novas; chamamos “empresários” aos indivíduos cuja
função é realizá-las” (SCHUMPETER, 1911, p. 54).
A partir dos cinco casos de novas combinações possíveis
abordados por Schumpeter, pode-se ver que um inovador tem
diversos campos para atuar, e para permitir esta inovação, uma
condição sine qua non que este deve ter é o profundo conhecimento do
produto. Isto porque ele pode inovar introduzindo no mercado uma
qualidade diferente de um bem já existente, ou abrindo um novo
mercado. Ou pode ainda mudar o método de produção ou conquistar
48
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
uma fonte diferente de matéria-prima. Nestes dois grupos
apresentados, percebe-se que no primeiro, o empresário atua no
mercado, e no segundo, atua na produção do bem. Isto mostra
claramente que a inovação pode surgir em diferentes áreas, e que,
portanto, o empresário pode estar inserido em diversas áreas dentro
da empresa. A inovação não ocorre em algum lugar específico e o
empresário pode ocupar diversos cargos. Schumpeter (1911) comenta
que as inovações não precisam necessariamente ser realizadas por
aqueles que controlam o processo produtivo, e daí que surge a
diferenciação apresentada num dos tópicos anteriores entre
empresário schumpeteriano e homem de negócios. Este ainda
comenta que os empresários inovadores podem ser pessoas
independentes, podem ser subordinados a alguma empresa ou ainda
ter controle da maioria das ações por exemplo. Por isso, o empresário
inovador não necessita ocupar qualquer cargo pré-determinado na
firma.
Assim como o cargo não é especificado, tem-se que sua atuação
internamente também pode ser diferenciada. Como foi mostrado
anteriormente, um pode atuar em termos do mercado, outro pode
atuar mais especificamente no processo de produção do bem e em
suas matérias-primas. Mas algo que pode ser recorrente na maioria dos
casos de inovações, é o empresário atuar num setor específico, o de
Pesquisa e Desenvolvimento, o qual tem por objetivo inovar em todos
os sentidos, seja na matéria-prima, no mercado, ou no processo de
produção.
Algo importante destacado por Penrose (2006) é que para uma
firma permitir que haja investimento para o crescimento, deve
investigar as oportunidades possíveis não somente através de cálculos,
mas com uma análise profunda do mercado em que a firma se insere e
suas possibilidades. Esta análise e a tomada de decisão que se segue é
de responsabilidade do inovador e pode ser considerada como a
decisão inicial, onde e como investir. A partir desta tomada de decisão,
se o processo correr bem e a invenção for bem sucedida, o
departamento de Pesquisa e Desenvolvimento irá aplicar juntamente
com o empresário a invenção no mercado e obterá assim os resultados
que ela irá proporcionar. Porém, em alguns casos, pode ocorrer da
invenção não ser bem sucedida, e do empresário ter que retornar ao
ponto de partida para decidir novamente onde e como reaplicar o
dinheiro, de forma não rotineira.
49
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
5 CONCLUSÃO
A partir da análise apresentada até aqui, é possível perceber
uma notável relação entre as teorias de Schumpeter, Nelson e Winter
e no que tange à firma e seu crescimento, que podem ser entendidas
como uma seqüência da análise do empresário inovador.
Primeiramente veio Schumpeter concluindo que a inovação era um
aspecto de suma importância para permitir o desenvolvimento
econômico, e mostrou também que o empresário teria um papel
fundamental para permitir a realização desta inovação. É das
discussões dele que surge o nome de empresário schumpeteriano para
aqueles que buscam a inovação em suas empresas. Depois da análise
inicial de Schumpeter, tem-se a discussão de Nelson e Winter, que
tocou principalmente nas habilidades dos inovadores com o intuito de
compreender as características das firmas inovadoras. Nelson e Winter
vieram complementar a teoria schumpeteriana naquilo que ela tratou
pouco, ou seja, o aspecto da inovação interna a empresa e do processo
de como ocorre esta inovação.
Fazendo um apanhado geral das características citadas pelos
autores que nos interessam, temos que o que não deve faltar num
empresário schumpeteriano é conhecimento do produto, processo de
produção e do mercado para fazer mudanças que possam ser aceitas,
versatilidade para arrecadar capital, tino empresarial, ambição, intuição
e imaginação empreendedora e, finalmente, habilidades para o
processo de busca e seleção da melhor opção de inovação possível,
com forte atenção para o setor de Pesquisa e Desenvolvimento da
firma. Estes aspectos foram abordados por quase todos os autores
citados até aqui de forma a destacar a importância do empresário
schumpeteriano para a inovação na firma.
REFERÊNCIAS
50
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
PENROSE, Edith. A Teoria do Crescimento da Firma. Editora da
Unicamp – Campinas, 2006. [1959]
51
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Os Efeitos “Pré-Sal” e a polêmica da regulação
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
GRÁFICO 1: COTAÇÃO DO BARRIL DE PETRÓLEO (BEP)
MENSAL EM US$, DE JANEIRO DE 1957 A SETEMBRO DE
2008, EM VALORES NOMINAIS
3 PRÉ-SAL E REGULAÇÃO
Voltamo-nos agora para as descobertas de novas jazidas de
petróleo na camada pré-sal pela Petrobras. Em 2005, a empresa
anunciava que havia atingido a camada pré-sal, abaixo da camada pós-
sal em que explora petróleo atualmente, e os primeiros estudos
afirmam que existe um potencial de até 80 bilhões de barris de
petróleo e gás natural na área pré-sal (ANP, 07/11/08). Se
confirmadas as primeiras estimativas, o Brasil passaria a deter a 6ª
maior reserva de petróleo no mundo, podendo ficar à frente de países
produtores como a Venezuela e a Rússia (VEJA, 20/08/08).
Dessa forma, a polêmica da regulação entra em questão: uma
vez que os lucros advindos do petróleo são repassados para a União e
divididos entre os governos federal, estadual e municipal, com o início
55
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
da exploração na camada pré-sal, apenas algumas unidades federativas
seletas serão beneficiadas, caso a legislação atual permaneça.
Revisando o passado da Petrobras, após o fim do monopólio
estatal do petróleo durante o governo FHC, a Agência Nacional do
Petróleo (ANP) foi criada, sendo responsável pela regulação,
fiscalização e contratação das atividades do setor. Assim, a ANP
promove também licitações de blocos a serem explorados, baseados
em contratos de concessão. São nesses contratos que o pagamento
dos royalties à União está incluído, bem como outras
responsabilidades da empresa para com a ANP (FORMAN, 2002).
Após as descobertas de novas jazidas de petróleo, a legislação
atual dos royalties entra em xeque: uma vez que ela parte de critérios
distorcidos, caso ela permaneça em vigor, mesmo com uma mudança
sensível nos lucros provenientes da exploração petrolífera em maiores
proporções, essa renda paga ao setor público não será maximizada da
melhor maneira, favorecendo amplamente apenas alguns estados
costeiros (SERRA, 2006).
A legislação atual (“Lei do Petróleo”, n. 9478/1997) determina
uma alíquota de 10% de pagamentos de royalties à União, incidentes
sobre o valor bruto da produção, e também amplia as possibilidades
de investimentos de tais recursos por parte das prefeituras (POSTALI,
2008). Para se ter uma idéia dos números: em 2004, o setor público
brasileiro recebeu R$ 11,1 bilhões em rendas petrolíferas, e desse
montante, R$ 4,3 bilhões (ou 46, 3%) foram destinados ao estado do
Rio de Janeiro e seus municípios. Finalmente, 63,9% desses R$ 4,3
bilhões estão concentrados em apenas 10 cidades do estado do Rio de
Janeiro (SERRA, 2006).
Nota-se que atualmente o estado mais favorecido pelas rendas
advindas do petróleo é o Rio de Janeiro, pois é em seus domínios em
que se encontra a área da Bacia de Campos, bem como toda a infra-
estrutura industrial necessária para a exploração do petróleo, como
refinarias, redes de distribuição e escritórios.
56
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
tendem a se agravar nos casos em que os critérios de repartição das
transferências são inadequados, gerando grupos de estados e
municípios sobrefinanciados, o que já ocorre atualmente no Rio de
Janeiro.
As Tabelas 1A e 1B comprovam esse fato:
1
Royalties: se a empresa consegue retirar petróleo dos poços, paga ao governo um porcentual
sobre o valor produzido. O dinheiro arrecadado é dividido entre o governo federal, o estado
em que se encontra o poço e os municípios (VEJA, 20/08/08).
2
Participações Especiais: é a compensação financeira que se paga nos casos de grande volume
de produção ou de grande rentabilidade dos campos sob exploração (VEJA, 20/08/08).
57
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
TABELA 1B: DISTRIBUIÇÃO DAS RENDAS PETROLÍFERAS:
PARTICIPAÇÃO DE CADA BENEFICIÁRIO NO TOTAL
PAGO A CADA ESFERA GOVERNAMENTAL E
PARTICIPAÇÃO DAS RENDAS PETROLÍFERAS NAS
RECEITAS TOTAIS DE CADA BENEFICIÁRIO,
CORRESPONDENTE AO ANO DE 2003:
Receitas Totais do % das
Beneficiário Rendas
% do Total Pago (Execução petrolíferas
Total das Rendas às Esferas
Orçamentária dos na Receita
Beneficiários Petrolíferas em R$ Governamentais3
(Royalties+P.E.’s) Estados e Total do
Municípios) em R$ Beneficiário
Estado do 2.869.041.089,66 84,1% 24.392.821.768,53 11,8%
RJ
Campos dos
Goytacazes 4 475.182.177,54 24,3% 465.000.000,00 102,2%
Macaé 256.136.554,11 13,1% 528.712.592,06 48,4%
Rio das 201.942.934,33 10,3% 333.766.420,03 60,5%
Ostras
Cabo Frio 87.556.221,75 4,5% 225.011.293,61 38,9%
Quissama 63.064.726,98 3,2% 128.316.328,13 49,1%
Armação de 36.247.341,45 1,9% 76.609.254,84 47,3%
Búzios
Fonte: ANP, Secretaria do Tesouro Nacional – STN e Serra, R.V.
60
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
A estatal se associa Risco O retorno
a grupos privados para reduzido para a não seria tão
Partilha da cuidar da prospecção. companhia e volumoso a fim de
Produção maiores ganhos atrair grandes
Exemplo: Angola. pelo governo. investidores.
Mescla do modelo
de concessão com o de Manutenção
partilha. O Brasil do regime de A atração de
caminha nesse sentido ao concessões em investimentos pode
Misto estudar a adoção do áreas fora da ser reduzida.
sistema norueguês para Camada Pré-Sal e
as reservas do pré-sal e a adoção de sistema
manutenção das semelhante ao
concessões nas demais Norueguês.
áreas.
Exemplo: Rússia.
Fonte: Revista VEJA, 20/08/08, elaboração própria.
6 E COM A CRISE?
Como já dito anteriormente, o preço do petróleo teve quedas
substanciais nos últimos meses após atingir patamares históricos,
causado principalmente pela incerteza nos mercados e previsões de
queda de demanda por parte dos grandes compradores (EUA, Japão,
China, etc). Uma vez que os preços relativos do petróleo não
favorecem, no curto prazo, novas explorações de petróleo e
incentivos ao desenvolvimento de combustíveis alternativos, pode-se
inferir que o governo e a Petrobras diminuiriam seu ritmo tanto para o
início das explorações como para mudanças substanciais na legislação
que recai sobre o mercado petrolífero. Porém, relatos na própria
teoria neoschumpeteriana consideram que, no longo prazo, a detenção
61
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
de novas tecnologias, como é o caso da exploração em águas
profundas pela Petrobras, proporcionam ao país maior dinâmica ao
longo do tempo, bem como maior independência em relação à infra-
estrutura e às tecnologias desenvolvidas no próprio país.
Declarações recentes da Petrobras, da ANP e do próprio
governo federal deixam claro que seguirão em frente com as
explorações mesmo com o preço do barril de petróleo em níveis mais
baixos. Estudos recentes da empresa afirmam que a exploração de
petróleo nas novas jazidas é economicamente viável até com o preço
do barril cotado a, aproximadamente, US$ 35,00 (Folha de São Paulo,
05/12/08). As explorações na camada pré-sal, até 2020, terão um
custo de aproximadamente US$ 600 bilhões, mas no longo prazo as
mudanças proporcionadas pela exploração de petróleo no Brasil “não
só modificam o panorama da geopolítica mundial do petróleo como
coloca o Brasil numa perspectiva completamente nova do ponto de
vista de serviço e de base industrial”, afirmou o diretor-geral da ANP,
Haroldo Lima (Folha de São Paulo, 07/11/08).
REFERÊNCIAS
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Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
FORMAN, J. ‘Plano Decenal de Estudos e Serviços de Geologia
e Geofísica Aplicados à Prospecção de Petróleo e Gás Natural’,
17º World Petroleum Congress – 2002.
63
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
64
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
Inflação, dinheiro e política monetária: Uma tentativa de
análise marxista
1 INTRODUÇÃO
A recente aceleração inflacionária que ocorreu no mundo
inteiro, com reflexos no Brasil, suscitou uma escalada de críticas ao
modo como o Banco Central brasileiro conduz o seu combate à
inflação, com a sua política monetária considerada muito
conservadora, inclusive para padrões internacionais. O presente artigo
é uma tentativa de análise da política monetária do Banco Central sob
a perspectiva da teoria marxista. Este artigo pretende ser um
pequeno resumo do que a teoria marxista entende sobre dinheiro,
política monetária e inflação e desfazer algumas confusões que
existem na comparação da teoria marxista com outras teorias sobre
esses temas. Para isso os conceitos como endogeneidade da moeda,
valor socialmente necessário e política monetária serão abordados e a
teoria do dinheiro-extra será utilizada para explicar o surgimento da
inflação. E assim este artigo contribui para novas abordagens,
diferentes do mainstrem oficial, sobre os problemas econômicos como
a inflação.
*
Aluno do curso de Ciências Econômicas e bolsista do Programa de Educação Tutorial
(PET) de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
1
Além dessas funções na esfera da circulação, o dinheiro tem outras funções importantes na
teoria econômica marxista: a de medida de valores (o dinheiro como a expressão de valor para
as mercadorias, ou seja, do tempo de trabalho) e a de entesouramento, que será abordada
posteriormente.
65
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
dinheiro é parte essencial da troca (HILFERDING, 1985). O esquema
abaixo ilustra isso:
M – D – M (meio de circulação)
M – T – M (meio de pagamento)2
2
O T representa um título de dívida quando o pagamento é realizado depois da compra, ou
seja, uma venda a prazo. O vendedor recebe um compromisso de pagamento, o título de
dívida, que é pago posteriormente.
3
Essa idéia de Hilferding vem do conceito marxista de ‘grau de saturação da esfera da
circulação’ (MARX, 1983. p. 113) que determina o ‘volume de dinheiro funcionando como
meio circulante’ (id. ibid. p.104). Quando o volume de dinheiro está acima desse grau de
saturação, ele é entesourado; se não há dinheiro suficiente, o dinheiro é então desentesourado.
66
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
3 ENDOGENEIDADE DA OFERTA DE DINHEIRO
Outro aspecto importante para ser discutido é o caráter
endógeno da oferta de dinheiro na teoria marxista. É muito comum
comparar a teoria pós-keynesiana da endogeneidade da moeda com a
teoria marxista, convém ressaltar as diferenças e apresentar a teoria
marxista da endogeneidade do dinheiro.
A teoria pós-keynesiana, conhecida como ‘Teoria Horizontalista
da Moeda’4 reconhece a oferta de moeda como endógena, e é
determinada pela demanda entre três instancias: entre empresas e
bancos (bancos criam moeda em resposta à demanda de crédito das
empresas), entre bancos e o banco central, e entre famílias e bancos
(SAAD e LAPAVISTAS, 1999). Isso implica em: empréstimos criam
depósitos, depósitos criam reservas, e a oferta de moeda-crédito;
fazendo com que taxa de juros e demanda por moeda tenham relação
inversa; a criação de moeda-crédito permite às firmas financiar seus
gastos antes que o valor seja produzido; os lucros são investidos antes
de serem criados; a composição dos ativos bancários deriva de leis
macroeconômicas e não da preferência pela liquidez; e a taxa de juros
não é um preço de mercado, mas um fenômeno puramente monetário
(SAAD e LAPAVISTAS, 1999).
Na teoria marxista, a endogeneidade do dinheiro (termo
preferível ao de moeda, por ser um conceito mais amplo que um mero
meio de circulação) tem um enfoque diferente. Em um artigo ainda
inédito5, o Profº Claus Germer afirma que a oferta monetária é
necessariamente endógena na teoria marxista porque o dinheiro é uma
mercadoria por definição, por isso a chamada endogeneidade
produtiva. Como já foi mencionada, a função de dinheiro como meio
de circulação é muitas vezes desempenhada por títulos de dívidas (o
chamado dinheiro de crédito), que não é dinheiro por definição apesar
de cumprir funções de dinheiro, o que gera confusões entre as teorias
não-marxistas e a marxista, uma vez que no marxismo o dinheiro é
definido pela sua essência e as outras teorias o definem a partir de suas
funções, o que gera confusões entre dinheiro e outras categorias que
desempenham determinadas funções de dinheiro.
Essas confusões são sintetizadas na citação abaixo:
4
A oferta endógena de moeda é representada por uma curva horizontal nos gráficos juros-
dinheiro, origem do seu nome.
5
GERMER, Claus M. “Endogeneidade produtiva”, um enfoque alternativo da hipótese da endogeneidade
da oferta monetária. (artigo inédito).
67
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
[a incompreensão da diferença entre o dinheiro e o dinheiro
de credito resulta na incompreensão] do papel do ouro
como dinheiro – como base da pirâmide creditícia sobre ele
erigida – uma vez que o sistema de crédito culmina em um
saldo resultante das compensações finais de dividas
recíprocas de todo o sistema, representados pelo dinheiro
de crédito, saldo esse que deve ser coberto pelo dinheiro
real, isto é, o ouro (GERMER).
6
Adaptado de: MARX, Karl. O Capital. Livro I. Vol. 1. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p.113 e
118.
7
Adaptado de: GERMER, Claus M. op. cit. p. 20.
68
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
teorias8, estas apresentam bases teóricas diferentes o que impede uma
equivalência entre as análises pós-keynesiana e marxista.
4 POLÍTICA MONETÁRIA
Sobre a política monetária, é preciso ficar claro que, do ponto de
vista marxista, a política monetária é uma ideologia de uma prática
estatal que é garantir a coerção monetária (BRUNHOFF, 1978) (um
exemplo disso é a função estatal de manter a moeda como
equivalente-geral). Esta política tem duas frentes: 1) gestão da moeda:
a cargo do Banco Central; 2) sanção da política referente à moeda:
referente à tomada de decisões políticas. Como a política monetária é
feita pelo Estado, que na visão marxista é um instrumento da
burguesia para gerenciar seus negócios comuns, essa política não deixa
de ser também um instrumento de classe, ao contrário do discurso
oficial que a apresenta como de ‘interesse geral’.
As intervenções governamentais são apresentadas como
política monetária de interesse geral, quando não passam de
decisões que procuram tornar possível uma nova gestão da
moeda, indispensável à expansão da acumulação capitalista
(BRUNHOFF, 1978)
O capitalismo atual tem necessidade desta noção ideologia
[a política monetária] bem como da noção de inflação para
exprimir sua própria relação com as condições de produção
(BRUNHOFF, 1978).
9
Para manter a coerência com o marxismo, a emissão de dinheiro-extra por parte dos bancos
trata-se de dinheiro de crédito.
10
A emissão de dinheiro de crédito e de papel-moeda pode desvalorizar o padrão de preços, o
que freqüentemente ocorre.
70
Primeiros Ensaios Econômicos - PET Economia – UFPR
fenômenos monetários11, o que muitas vezes leva à conclusão
precipitada de que o marxismo tem uma teoria quantitativa da moeda.
Entretanto as implicações teóricas disso são diferentes: enquanto na
teoria quantitativa da moeda há uma relação direta entre quantidade de
dinheiro e inflação, na teoria econômica marxista há outra abordagem.
A emissão de dinheiro-extra pode provocar inflação ou não, isso vai
depender da capacidade produtiva dos setores da economia: em
setores com capacidade ociosa o dinheiro-extra estimula o
investimento e a demanda e não provoca inflação, o contrario ocorre
nos setores com capacidade produtiva esgotada (BRUNHOFF, 1978);
entretanto o seu efeito quanto a preço e/ ou quantidade são
imprevisíveis (BRUNHOFF, 1978). Além disso, dependendo de como
é emitido e como circula, o dinheiro-extra pode mudar
irreversivelmente o nível e a estrutura da composição do produto
nacional (BRUNHOFF, 1978).
6 CONSIDERAÇÕES
Ao final desse artigo de conjuntura é possível tirar algumas
considerações acerca da política monetária do Banco Central do Brasil
atualmente.
Não é de hoje que a taxa de juros do Banco Central do Brasil
está entre as mais altas do mundo, sempre com a justificativa de
manter a inflação em um nível baixo. O que a teoria marxista tem a
dizer sobre isso é que se o objetivo é controlar a inflação, o Banco
Central fatalmente não terá como controlá-la com uma taxa de juros
alta, uma vez que o Banco Central não tem controle sobre a oferta de
dinheiro na economia e muito menos sobre as variáveis de
acumulação da economia nacional, isso só seria possível se a economia
fosse planejada, o que esta fora de cogitação em um sistema
capitalista.
Isso não implica que o marxismo concorde com avaliações
semelhantes feitas por outras teorias, os pressupostos teóricos são
diferentes. Apesar de haver semelhanças entre o marxismo e o pós-
keynesianismo no diagnóstico que as decisões do Banco Central
11
A teoria quantitativa da moeda usa a fórmula: MV=PQ (massa monetária*velocidade da
circulação da moeda=nível de preços*nível de produção).
E Marx no Capítulo III do Livro I do Capital usou a seguinte fórmula: volume do
dinheiro funcionando como meio circulante=soma dos preços das mercadorias/número de
cursos das peças monetárias.
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quanto a política de juros, isso não se deve a endogeneidade bancária
da moeda, mas sim devido a endogeneidade produtiva do dinheiro.
Assim como a semelhança que há no diagnóstico de que emissão de
dinheiro (ou moeda) pode gerar inflação tanto no marxismo quanto
na teoria quantitativa da moeda, isso se deve a imprevisibilidade dos
efeitos da emissão de dinheiro-extra e não a uma suposta relação
direta entre quantidade de moeda e inflação.
Ou seja, sob a luz da teoria marxista, a política monetária do
Banco Central com os seus juros altos que não tem efeitos sobre a
inflação, só tem sentido como uma estratégia política para favorecer
determinados setores da burguesia, notadamente os banqueiros. E seu
discurso de combate à inflação não passa de retórica para justificar
essa estratégia política.
REFERÊNCIAS
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Entrevista Com Mario Cimoli
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E BREVEMENTE, COMO VOCÊ DEFINIRIA A
VISÃO DA CEPAL SOBRE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO?
Se alguém me pede uma definição da visão da Cepal sobre
desenvolvimento, eu diria que a Cepal vê o desenvolvimento como
algo integrada. Quando falamos de desenvolvimento, preocupa-nos o
desenvolvimento de cada cidadão latino americano, para que ele possa
ter acesso ao bem estar, aos direitos e à cidadania e que a distribuição
desses direitos seja o mais equitativa possível. Mas também
entendemos que isso não é possível sem crescimento, educação, uma
boa condução de políticas macroeconômicas e também uma boa
gestão do meio ambiente. Mas prevalece a visão integral do
desenvolvimento.
E O CHILE?
O Chile é um país interessante, que mudou muito, cresceu, mas
se falamos de políticas industriais, o Brasil, com todos os seus defeitos
e problemas, está na frente. Tem instrumentos e uma planta
tecnológica muito interessantes. O BNDES é notável, o que estão
fazendo com a Petrobrás também o é. Não está perfeito, há críticas,
mas o que quero dizer é que se há um exemplo regional, é o Brasil.
No entanto, fazer comparações é difícil, porque o país é muito grande
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e tem muitos recursos. Os países têm que fazer suas políticas com
relação ao que há disponível, de acordo com sua história, sua
tecnologia.
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Mas temos que raciocinar, principalmente os jovens. Pensa-se
pouco, discute-se pouco, debate-se pouco. Eu penso em uma
sociedade latino-americana diferente. Pelo menos devemos começar a
pensar em um acordo em que os jovens possam ir de uma
universidade a outra. Por que não começar com o simples? Por que
não reunimos os vinte reitores que se deve reunir para que resolvam o
problema da integração acadêmica, para que os jovens possam se
deslocar de uma universidade a outra? Integremos a região, essa é a
América Latina que quero.
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