Radioisótopos. – 2010/1
Em 1895 teve início a ciência das radiações, com a descoberta dos raios
X pelo físico alemão Wilhelmm Konrad ROENTGEN, seguindo-se a observação
da radioatividade natural por Henri BECQUEREL em 1896 e a descoberta de
fontes naturais emissoras de radiação, como Radio e Polônio, por Pierre e Marie
Curie, em 1898. Estas descobertas empolgantes conduziram a uma nova era
com muitos avanços científicos para o bem da humanidade e alguns para a
fabricação de armas poderosas que destruíram as cidades japonesas Hiroshima
e Nagasaki, causaram danos à população das ilhas Bikini, Chernobyl e Goiânia.
Apesar destes acidentes, a utilização de fontes radioativas possui um histórico
de segurança muito satisfatório. Radio e os Raios X foram logo utilizados para o
tratamento de câncer.
A Medicina Nuclear (MN) tem contribuído de forma importante para o
esclarecimento das causas de várias patologias, notadamente no diagnóstico
diferencial das complicações clínicas e cirúrgicas.
A vantagem destes procedimentos de Medicina Nuclear é que eles
fornecem informações funcionais adicionais, enquanto as imagens obtidas pela
radiologia e pela ultra-sonografia convencional são estáticas e
predominantemente anatômicas. Os procedimentos de MN são exames
seguros onde a quantidade de radioisótopos administrada é pequena, não
provocando alterações do metabolismo do órgão.
O uso das fontes radioativas de vários tipos e atividades se encontram
largamente difundido em outras áreas, incluindo indústria, arqueologia, estudo
das funções climáticas, agricultura, conservação de alimentos, esterilização de
materiais cirúrgicos, engenharia, biologia molecular, e outros.
Os efeitos da radiação não podem ser considerados inócuos, a sua
interação com os seres vivos pode levar a teratogenias e até a morte. Os riscos
e benefícios devem ser ponderados. A radiação é um risco e deve ser usada de
acordo com os seus benefícios.
RADIOISÓTOPOS
São elementos com estrutura nuclear instável que procuram alcançar a
estabilidade a partir da emissão de partículas e/ou ondas eletromagnéticas.
Os átomos radioativos fazem parte de nosso meio ambiente, estão nos
alimentos e nos seres vivos. Existem cerca de 340 nuclídeos naturais dentre os
quais, aproximadamente, 70 são radioativos. (Todos os elementos com Z>80
possuem isótopos radioativos e todos os isótopos de elementos com Z>82 são
radioativos). Entretanto, muitos dos isótopos de elementos mais leves também
são radioativos (H3; C14, I125; I131).
Os isótopos radioativos ou radioisótopos, devido à propriedade de
emitirem radiações, têm vários usos. As radiações podem até atravessar a
matéria ou serem absorvidas por ela, o que possibilita múltiplas aplicações.
Pela absorção da energia das radiações (em forma de calor) células ou
pequenos organismos podem ser destruídos. Essa propriedade, que
normalmente é altamente inconveniente para os seres vivos, pode ser usada
em seu benefício, quando empregada para destruir células ou microorganismos
nocivos. A propriedade de penetração das radiações possibilita identificar a
presença de um radioisótopo em determinado local.
HISTÓRICO
As emissões radioativas foram descobertas pelo cientista francês Henri
Becquerel, em 1896. Estudava a fosforescência e fluorescência de vários
elementos, quando observou que algumas placas fotográficas que se achavam
guardadas, ficavam estranhamente escurecidas ao permaneceram próximas
de uma amostra de um composto do elemento Urânio. Alguma emanação
desconhecida proveniente da amostra atravessava o invólucro protetor das
placas. Becquerel concluiu que o Urânio tinha propriedade de emitir radiações
penetrantes, capazes de atravessar corpos opacos à luz. Logo depois, em
1898, os estudantes de Becquerel, Marie e Pierre Curie, anunciaram mais dois
novos elementos de grande atividade, denominando-os de Polônio e Radio.
Há duas formas diferentes de radiação. Uma delas as RADIAÇÕES
ELETROMAGNÉTICAS, constituídas por um amplo espectro de radiações que se
diferenciam pelo comprimento de onda e variando de ondas elétricas até os
raios gama e radiações cósmicas secundárias. O outro tipo é constituído pelas
RADIAÇÕES CORPUSCULARES, formadas por partículas alfa, beta, nêutrons,
etc. Os dois tipos de radiações são semelhantes em muitos aspectos e suas
ações biológicas são qualitativamente iguais.
As radiações eletromagnéticas possuem propriedades distintas quanto à
maneira pela quais os fótons provenientes de um feixe de raios X ou gama
interagem com o meio absorvente. Portanto, existem três mecanismos de
interação dessas radiações com a matéria: Efeito Fotoelétrico, Efeito Compton
e Produção de Pares.
No efeito fotoelétrico, quando um fóton de raio X ou γ penetra na matéria
produz a liberação de elétrons do átomo, que são expulsos com grande
velocidade. O fóton transmite toda a energia ao elétron contra o qual ele se
choca e o separa da órbita.
No efeito Compton, o raio X ou γ ao incidir sobre um elétron, este é
expulso de sua órbita, e o raio incidente muda de direção por ter perdido parte
de sua energia, que foi transmitida ao elétron expulso. A transferência de
energia do fóton para o elétron é parcial, assim o fóton continua transferindo
sua energia para outros elétrons. Os elétrons ejetados passam a ionizar a
matéria.
Quando a energia do fóton incidente é maior de 1,02 MeV, pode ser
absorvido pelo mecanismo de Produção de Par, que ocorre quando um fóton
incidente interage com um núcleo atômico do material por onde se propaga,
transformando-se em um elétron e um pósitron (o par formado por uma
partícula e sua antipartícula).
Radiações ionizantes são as que possuem comprimento de onda pequeno
(Raios X e Raios γ) e podem liberar energia suficiente para produzir ionização
dos tecidos. As radiações gama muito penetrantes, assim como as radiações
cósmicas são capazes de alterar o núcleo do átomo. As radiações
corpusculares também são radiações ionizantes.
Os núcleos de alguns elementos de alto peso atômico, portanto muito
energéticos, são naturalmente instáveis, e por terem excesso de partículas ou
de carga, tendem a estabilizar-se, emitindo algumas partículas. Este fenômeno
é denominado de Radioatividade.
Os elementos naturais podem ser divididos em dois grupos: leves e
pesados. Do hidrogênio ao chumbo seriam os leves e, do bismuto ao urânio, os
pesados. Os elementos pesados e todos os seus isótopos são radioativos
naturais. Os elementos transurânicos são também radioativos. Quanto aos
elementos leves, apenas alguns admitem isótopos radioativos (H, In, Lu, K, C,
etc.).
Pode-se ainda induzir produção de radioisótopos artificialmente por
modificação dos núcleos atômicos (Por exemplo: aceleração de elétrons a
grandes velocidades em equipamentos como Ciclotron ou os Aceleradores
Lineares). Desta forma são produzidos I131, I125, P32, Au198, Co60, Tl201, etc. Estes
radioisótopos possuem meias vidas menores e possíveis de serem utilizados
em seres humanos.
DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA:
Como foi visto, um núcleo com excesso de energia tende a estabilizar-se,
emitindo partículas alfa, beta ou gama. Em cada emissão de uma dessas
partículas, há uma variação do número de prótons no núcleo, isto é, o
elemento se transforma ou se transmuta em outro, de comportamento químico
diferente. Essa transmutação também é conhecida como DESINTEGRAÇÃO
RADIOATIVA, designação não muito adequada, porque dá a idéia de
desagregação total do átomo e não apenas da perda de sua integridade. Um
termo mais apropriado é decaimento radioativo, que sugere a diminuição
gradual de massa e atividade.
A desintegração radioativa é um processo probabilístico. A probabilidade
de um átomo radioativo se desintegrar é igual para todos os átomos da mesma
espécie. O núcleo emite espontaneamente uma partícula alfa, uma beta (e+ou
e – ), ou um raio gama, adquirindo assim uma configuração estável. Portanto, a
radioatividade depende do número de átomos presentes em um determinado
tempo e da constante de desintegração.
1 = 1 + 1 ou tE = tF x tB
tE tB tF tF + tB
RADIAÇÃO X:
Foi descoberta pelo físico alemão Roentgen. Ele observou que saíam
raios misteriosos de uma ampola de Crookes (físico inglês), capazes de
atravessar folhas de papelão. Por isso, ele os chamou de raios X. A descoberta
de Roentgen permitiu fotografar o interior de muitos objetos e o corpo humano,
opacos à luz, mas transparentes aos raios-X.
Ampola de Crookes
As primeiras aplicações dos aparelhos de raios-X ocorreram na Medicina,
para diagnóstico de fraturas ósseas e, logo após, na Odontologia, para
diagnóstico de canais dentários.
Rutherford descobriu a existência de três outros tipos de radiações
emitidas pelas substancias radioativas, tanto naturais como artificiais: alfa,
beta e gama. A maioria dos elementos radioativos emite os três tipos de
radiação, em maior ou menor proporção.
RADIAÇÃO ALFA:
São radiações corpusculares de núcleos de Helio constituídas de dois
prótons e dois nêutrons (cargas elétricas positivas). As partículas alfa
produzem grande ionização nos tecidos. Devido a sua elevada massa (sete mil
vezes a dos elétrons) e suas duas cargas elétricas positivas, possui um baixo
poder de penetração, sendo barrada pelas camadas mais superficiais dos
tecidos. Entretanto, é extremamente perigosa para o ser vivo a ingestão ou
inalação de uma fonte emissora de radiação alfa.
RADIAÇÃO BETA:
As radiações beta são elétrons emitidos pelos núcleos que se
desintegram dos elementos radioativos. A energia com que são liberados é
muito variável, caracterizando os elementos em emissores beta de baixa
energia e emissores beta de alta energia. Os raios beta ao penetrarem nos
tecidos expulsam os elétrons das órbitas dos elementos que se encontram no
trajeto (produzindo um efeito fotoelétrico ou um efeito Compton), originando
uma ionização cuja intensidade varia com a energia da radiação. Portanto, sua
capacidade de penetração é bem maior que a da radiação alfa, mas devido sua
menor energia e menor massa, produz menos ionização. Para barrar a radiação
beta utiliza-se material plástico ou alumínio.
RADIAÇÃO GAMA:
A radiação gama é do tipo eletromagnética, e muito semelhante aos
raios X. Os raios gama diferem dos raios X apenas em sua origem, ou seja, os
raios gama são produzidos no interior do núcleo atômico, e os raios X têm sua
origem em processos eletrônicos. São produzidos na desintegração nuclear do
elemento radioativo quando um pósitron se desprende de um próton e se une
a um elétron negativo, transformando em energia a massa de ambos,
constituindo as radiações gama.
A radiação gama não tem massa e tem um alto poder de penetração. Na
trajetória dos raios γ nos tecidos há produção de baixa ionização, entretanto é
imprevisível a distância que o raio gama percorre antes de interagir. Pode-se,
no entanto, ter-se uma estimativa através do que se denomina de Camada
Semi-redutora, na qual há 50% de chance da interação ocorrer.
A espessura de um material igual a uma camada semi-redutora reduz à
metade a intensidade da radiação gama. Por exemplo, a camada semi-
redutora para raios gama de 662 keV emitidos pelo Césio-137 é de 0,64 cm
para o material chumbo; 3,5 cm para o material alumínio; e 7,2 cm para o
tecido humano. A blindagem para emissores gama pode ser feita utilizando-se
chumbo, concreto, aço, ferro ou areia.
APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA:
Os vários seguimentos industriais fazem uso dos radioisótopos devido a
sua propriedade de penetrar na matéria e assim pode-se examinar o interior de
materiais e conjuntos lacrados sem destruí-los. A aplicação de radioisótopos
mais conhecida na indústria é a radiografia de peças metálicas ou
gamagrafia(impressão de radiação gama em filme fotográfico) industrial,
utilizada na área de controle da qualidade para verificar se há defeitos ou
rachaduras no corpo das peças. São utilizados na inspeção da qualidade das
soldas em aviões, carros, navios, trens, tubulações (de gás, água, metrô).
Vários tipos de radiações que podem ser utilizadas para indução e
intensificação de cores em cristais: - raios gama e feixe de elétrons na gema
(pedra preciosa) devido ao tipo de interação nuclear que ocorre (não induzem
radionuclídeos). Quando se utiliza nêutrons (no caso de topázios) é possível
haver a indução de radionuclídeos, mas as pedras só são liberadas para o
público após o decaimento destes radionuclídeos, um tempo de
aproximadamente dois anos.
APLICAÇÃO NA AGRICULTURA:
É possível acompanhar, com o uso de traçadores radioativos, o
metabolismo das plantas, verificando o que elas precisam para crescer, o que é
absorvido pelas raízes e pelas folhas e onde
um determinado elemento químico fica retido.
Uma planta que absorveu um traçador radioativo pode, também, ser
“radiografada”, permitindo localizar o radioisótopo. Para isso, basta colocar um
filme, semelhante ao usado em radiografias, sobre a região da planta durante
alguns dias e revelá-lo. Obtém-se o que se chama de auto-radiografia da
planta.
APLICAÇÃO EM ARQUEOLOGIA:
Datação radiométrica permite estimar a idade da matéria orgânica em
milhões de anos (M.a.), através da desintegração regular de isótopos
radioativos naturais.
A determinação da idade radiométrica, baseia-se na desintegração de isótopos
radioativos naturais, geralmente de potássio (K-40), rubídio (Rb-87), urânio (U-
235 e U-238) e carbono (C-14), que têm meias-vidas longas. O C-14 resulta da
absorção contínua dos nêutrons dos raios cósmicos pelos átomos de nitrogênio
nas altas camadas da atmosfera, onde se combina com o oxigênio, formando o
CO2, que é absorvido pelas plantas. Fósseis de madeira, papiros e animais
contêm C-14, cuja meia-vida é de 5.600 anos. Isso significa que, a cada 5.600
anos, a atividade do C-14 é reduzida à metade. Medindo-se a proporção de C-
14 que ainda existe nesses materiais é possível saber a “idade” deles.