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ESPECIAL inovacao futuro a Gg omida Salm@es e porcos transgénicos, sementes de trigo ecolégicas, soja que produz émega 3, milho resistente a seca — a nova geragao de alimentos geneticamente modificados jd esta saindo dos laboratérios. Resta saber se 0 consumidor vai gostar da ideia Tiaco LeTHBRIDGE, oF Sz. Louis © existe mesmo um cemitério para as més ideias, € para 1 que os alimentos transgénicos pareciam caminhar hé pouco mais de urna década. No fim dos anos 90, quando 05 primeiros produtos feitos com vegctais geneticamente * modificados chegaram as prateleiras, a reacdo foi ruidosa, O cantor Paul McCartney liderou a campanha “Say 110 10 GMO”. ou “Diga nao aos transgénicos” — que acabaram apelidados de frankenfood. Temia-se que sua ingestio colocaria a satide dos con- suimidores em risco. Até o principe Charles se meteu na histéria, pro- fetizando que as empresas de biotecnologia causariam 0 maior desas- tre ambiental de todos os tempos. Ativistas irados destrufram centros de pesquisa. Diante desse temor. 05 transgénicos acabaram banidos em boa parte do mundo. fracasso da tecnologia, portanto, parecia liquido e certo. Mas, apesar do barulho, do quebra-quebra e da turma gue torcia contra, o resultado foi 0 oposto. Em dez anos, a étea plan- {ada com transgénicos quase quadruplicou: cerca de 14 milhdes de fazendeiros de paises como Estados Unidos. Brasil e Argentina aderi- ram, Hoje. mais de 75% da soja e 25% do milho cultivados no mundo sio geneticamente modificados. Centenas de milhdes de pessoas ‘comem produtos com ingredientes transgénicos todos os dias. A calamida- de sanitéria e 0 apocalipse ambiental previstos pelos crticos nao vieram. ‘Apesar do sucesso recente, 0 atual estégio da pesquisa com transgénicos & frequentemente comparaso a0 inicio da cera do transistor na eletrBnica — ou se- ja, 08 cientistas ainda estdo longe de explorar as possibilidades criadas pela adogio da biotecnologia no campo. Até hoje. os ransgénicos se limitam, basica- ‘mente, a proteger as plantas contra her~ bicidas e pragas. Mas essa realidade vai mudar nos proximos anos. Empresas de biotecnologia c centros de pesquisa. to nos estigios finais do desenvolvi- mento da segunda geragio de alimentos, geneticamente modificados. Segundo ‘um estudo da Comissio Europeia, o ni- ‘mero de sementes disponiveis no mer- SALMAO + Oselmao transgénico da ° americana AquaBounty. ‘que cresce no dobro da velocidace do salmzo normal esta nos estagios finais de aprovagio governamental ff “A FELJAO + Apés tise ee tongues boaters. 2 Erop rtrd uth tare pos ‘do moszico dourado, tuepaede Sinks TRIGO + Na tina 5 décads. fazer um pod ce base detiga ransgnico sate» as trauma Hoje apes Asrovas ne ‘pecio dos produtores seropbes de a stb send cds milhoter30 a vatiedades resistontes Nmegre | ea sEcneteous mectcatos 0 ‘ jet eobrar 3 Spredtivdade cone 77 BANANA. Pescuisdores décadas de Uganda langarao versbes resistentes a | pragas etortiticadas com vitaminas — 2 banana é base alimentar do pais ¥ SOJA+ AMonsanio ARROZ - Num passo historic, desenvoWveu uma sojacujo leo a China aprovouno ano z ccontem acidos omega3.que_passado umarraz transgénico : trazembenetics 20 coragao—_— varedades fortticadas 2 ~ oproduto deve chegar com vitamina Aja aguardarm 5 ‘aomercado em dois anos aprovagdo em outros paises Cultivo de arroz na China Os paises cemergentes também se destacam na pesquisa CChegou-se a uma variedade de soja que produz, em menos de meio hectare, a mesma quantidade de mega 3 presente «em 10 000 porgdes de salmiio. Fuchs dis- teibuiu As empresas de alimentos 0 éleo feito com a nova soja para que elas co- mecema desenvolver produtos “ticos em ‘mega 3”. A Monsanto s6 aguarda 0 si- nal verde do govemno americano para vender a nova semente. Serd um marco naevolugéo da biotecnologia —um ali- ‘mento transgénico que traré beneficios dirctos 3 savide do consumidor. ‘Nenhuma empresa ou instituigao vesic tanto no desenvolvimento de tras icos quanto a Monsanto. Instalada na Cidade americana de St. Louis, @ com- ppanhia emprega mais de 5000 pesquisa- dores como Roy Fuchs. cuja tarefa € criarnovas sementes. investimento em pesquisa supera bithao de d6tares por ano. E natural que seja assim, No fim dos anos 90, a Monsanto basicamente ctiou esse mereado, ao lancar variedades de soja e milho resistentes ao herbicida Roundlip (produzido. claro, pela prépria Monsanto). experiéncia de uma déca- dae 0 dinheiro investido ano apés ano colocam a empresa numa posigao dnica para langar produtos como a soja 6me- 1223. O desenvolvimento de uma nova semente pode custaraté 100 miles de dstares,e poucas companhiastérm caixa para gastar tanto numa projeto que sem- pre come o risco de dar errado. Com o Conhecimento acumulado ra diltima dé- cada. a Monsanto hoje pode inserir no tum ou dois, mas oito genes diferentes numa semente de milho, por exemplo. Sao seis para matar insetos e dois para sesistir aherbicidas. Agora, a Monsanto vai partir para algo inédito: colocar no topo dessa pilha genes cuja fungao € au- meniar 0 potencial produtivo de cada planta. Assim. a empresa espera dobrar 2 produtividade de culturas como milho soja nas préximas duas décadas. “De zero. 10, ainda estamos na fase se a EXAME 0 escocés Hugh Grant, presidente mundial da empresa. “O po- tencial da tecnologia é enorme.” Executivo da Monsanto ha quase trés © oe 62 / nt Y oral ‘ Africa do Sul Austria fae 21 ; ¥ Argentina ‘Area cultivada com organismos transgénicos oe deve chegar a 200 milhdes de hectares em 2015 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2015 compat 20 1148, rom ESPECIAL inovacao a vida. de adotar priticas comerciais abusivas. de contaminar o campo com suas semientes transgénicas ¢ de expor 0 ‘mundo‘a uma possfvel calamidade sani- {éria, "Mutanto" foi um de seus apelidos ‘mais populares entre aivistas. A reac0 4 investida da Monsanto no mercado de transgénicos foi téo violenta que a em- presa perdeu dinheiro em altas doses (1.7 bilhio de détares em 2002). Mas. nos titimos anos, a maré mudou. O su- ccesso dos transgénicos fez a Monsanto ganar muito dinheiro. Olucro foi de 2.1 bithies de délares no ano passedo. E,n0 campo das relagies pablicas, a empresa 16 Lees exare Loja de produtos ‘organicos (noalte, desq.). Hugh Grant. presidente ‘da Monsanto. o porco ecolégico eas ovas do salmao transgenico: a escotha &do consumidor conseguin marear pontos a favor 20 an- sgzarlar o apoio de personalidades dedica- das 20 combate &fome, como 0 filantro- po Bill Gates e 0 economista Jeffrey Sachs, da Universidade Columbia. ‘Uma conjuncao de fatores ajudou a recolocar a engenharia genética (e, por- tanto, a Monsanto) no centro da discus siio sobre o futuro da comida. © primei- ro deles foi a inflagio de alimentos de 2008. que causou panico em pafses co- mo México, Egito e Etiépia, O fenéme- no serviu de alerta para questOes que ‘estZo transformando a indstria mundial de alimentos. O enriquecimento de pa da da carne de animais geneticamente modifice Jer a polémica —~ ¢ ercados vai reace UO sa himi tre fses como China {ndia tem aumentado ‘consumo de came —e, para cada qui- To de came bovina vendido no super- mercado, sao necessérios 7 quilos de gros para producir racio animal. O in- Vestimentoem biocombustveis, por sua vez, aumentari ainda mais a demanda por gros como 0 milho. usado na pro- ugdo de etanol. Finalmente. as Né Unidas estimam que a populagio mu dial crescerd cerca de 30% nas proxirnas ‘décudas. até atingir 9 bilhies dc pesso- as em 2050. Calcula-se que 0 consumo de comida nos proximos 40 anos seré ‘maior que em toda a histéria da huma- nidade. Seré preciso. em resumo, dobrar producdo mundial de alimentos. Ebem verdade. o mundo jé esteve em situagdo semethante,e nao faz tanto tem- po. A explosio demogrifica na segunda metade do século 20 fer com que cien- tistastracassem eensrios cataclismicos para humanidade — como seria pos vel produzir comida para tanta gente? Coube ao americano Norman Borlaug provar que o pessimismo era exagerado. Ao propora combinacao de técnicas co- mo 0 aperfeigoamento de sementes. a ‘de inseticidas, fertlizantes e ir- , Borlaug ajudou a eriar a Rev lugio Verde, que multiplicou a produti- vidade no campo a partir dos anos 60. Morto em 2009, Borlaug ¢ tido como responsivel por salvar I bilhio de vidas no século 20. Tudo isso, claro, feito sem transgénico algum. Por que. entio. usa los agora? Segundo os defensores da biotecnologia, as téenicas da Revolucio Verde ndo bastardo para dobrar a prodi- ‘40 de alimentos nas proxirnas décadas ‘A rea dedicada & agricultra dificilmen- te aumentar — fatores como a urbani- zacdo em paises emergentes tendem a atrapathar nesse quesito. Serd nevessétio, ortanto fazer mais com menos espago. E 0 proprio Borlaug argumentava que abrir mao do potencial da biotecnologia nao fazia o menor sentido, Em seus til- timos anos. ele foi um dos principais

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