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A Sociedade

em rede em 
Portugal 2008

Multitasking e Preferências de 
Media na Sociedade em Rede
Março 2009
Fevereiro 2009

A Sociedade em Rede em Portugal 2008


Multitasking e Preferências de Media na Sociedade em Rede

Multitasking – um novo modelo de consumo de media?.................................... 3

Posse Múltipla de Bens na Sociedade em Rede................................................ 5

Preferências e Valorização dos Media............................................................... 8

Multitasking na Sociedade em Rede.................................................................. 15

Conclusão: Padrões de Consumo num Sistema Mediático de Oferta Múltipla.. 18

Referências Bibliográficas.................................................................................. 19

Ficha Técnica
A Sociedade em Rede em Portugal 2008
Multitasking e Preferências de Media na Sociedade em Rede

Cerca de 30,8% dos portugueses costuma falar ao telefone ou ao telemóvel enquanto


vê televisão, e perto de 14% tem o hábito de enviar SMS, deixando antever novos
padrões de consumo de media face à proliferação dos dispositivos e meios
tecnológicos. .
_____________________________________________________________________

Multitasking – um novo modelo de consumo de media?


Vivemos hoje em dia num ambiente mediático onde emerge um sistema de oferta
múltipla que acompanha os indivíduos nos tempos e nos espaços do seu quotidiano.
O actual ambiente de fragmentação mediática caracteriza-se por um crescente
número de alternativas que concorrem entre si pelo tempo das pessoas. No entanto,
as pessoas continuam a dispor das mesmas vinte e quatro horas de sempre. Assim,
existe uma tendência para o multitasking, ou seja, realizar simultaneamente várias
tarefas ou, se nos referirmos exclusivamente ao caso dos media, expor-se a diversos
meios em simultâneo (Roberts, Foehr e Rideout, 2005).
Este não é no entanto um fenómeno novo para o consumidor, e de facto foi
comentado por diversos investigadores da área no passado. Robinson e Godbey
(1997), por exemplo, referem que a audição de rádio costumava ser uma experiência
absorvente, tornando-se, com o advento da televisão, quase exclusivamente uma
actividade secundária, algo que escutamos enquanto fazemos algo. Não obstante, na
última década, o fenómeno de multitasking tem vindo a tomar novas proporções. Por
um lado, o uso do computador e das aplicações da Sociedade em Rede promove o
multitasking, ao providenciar paragens nas tarefas em curso (por exemplo, os tempos
de download, etc.) e interrupções regulares (tais como ecrãs pop up com solicitações
de instant messaging ou com publicidade). Por outro lado, à medida que a oferta
mediática se foi multiplicando, os indivíduos foram encontrando formas de a encaixar
nas suas rotinas, levando a conclusões tais como as apresentadas num estudo
desenvolvido pelo Yahoo e a OMD (2006), onde se destaca que os consumidores nos
Estados Unidos vivem, devido ao multitasking, dias equivalentes a jornadas de 43
horas, incluindo 16 horas de interacção com media e tecnologia.
Os estudos relativos ao multitasking têm-se vindo assim a intensificar, com particular
relevo no campo do consumo de media (Brown e Cantor, 2000; Roberts et alia, 2005;
Media Center at the American Press Institute, 2004a; Media Center at the American

3
Press Institute, 2004b). Como é que os diferentes meios de comunicação são
valorizados pelos utilizadores? Que meios oferecem maiores potencialidades de uso
simultâneo? Quais as áreas de interesse que comandam a atenção durante a
utilização simultânea de diversos meios?
Antes de mais, é necessário balizar o conceito de multitasking. Referir que multitasking
consiste na realização de várias tarefas em simultâneo não é suficiente, pois não abre
pistas acerca da distribuição da atenção dos indivíduos pelas diversas actividades. No
âmbito da presente investigação, consideram-se então três níveis de análise (com
base em MediaEdge, 2007 e Jackson, 2008). No primeiro nível, “Atenção Focada”, o
indivíduo dedica-se exclusivamente a uma só tarefa, estando a totalidade da sua
concentração focada nessa mesma tarefa, não se registando assim o fenómeno de
multitasking. No segundo nível, a que chamaremos “Atenção Alternante”, o indivíduo
vai desenvolvendo diversas tarefas em paralelo, aproveitando os “momentos mortos”
para alternar de suporte mediático, mas fixando a sua atenção numa só tarefa de cada
vez. Por exemplo, quando uma pessoa está a ver televisão e aproveita o intervalo para
mandar SMS, ou quando aproveita um tempo de download enquanto está ao
computador para fazer os trabalhos de casa. O terceiro nível, a “Atenção Difusa”,
acontece quando a atenção do indivíduo fica de facto dispersa entre vários estímulos.
Por exemplo, quando um indivíduo está a navegar na Internet e a ouvir música em
simultâneo.
Uma vez delimitadas as fronteiras do conceito de multitasking, o presente relatório
realiza uma análise exploratória deste fenómeno em Portugal, examinando para tal 1)
Posse múltipla de bens; 2) Preferências e valorização dos media; e 3) Caracterização
dos padrões de consumo de media no âmbito do multitasking. Esta análise baseia-se
nos dados do Inquérito A Sociedade em Rede em Portugal 2008, desenvolvido pelo
OberCom (ver ficha técnica).

4
Posse Múltipla de Bens na Sociedade em Rede
Vivemos num ambiente mediático onde proliferam os aparelhos electrónicos e os
gadgets. Os ecrãs e pequenos aparelhos electrónicos estão presentes na
generalidade das casas e em quase todos os compartimentos. Para podermos estar
expostos a diversos media em simultâneo, é antes de mais necessário ter acesso a
essas diversas plataformas. Como se encontra configurada a posse de bens e
suportes mediáticos em Portugal? A posse múltipla de bens é frequente? Quais os
suportes e equipamentos mais comuns?
A televisão e o rádio são dispositivos amplamente difundidos na sociedade
portuguesa, sendo que a quase totalidade dos inquiridos dispõe destes equipamentos
(99,9% e 96,7%, respectivamente). De realçar também a ubiquidade dos telemóveis,
cuja penetração na sociedade portuguesa passou de cerca de 74,4% em 2006, para
perto de 90% em 2008. A percentagem de indivíduos que possui computador pessoal
portátil cresceu também substancialmente nos últimos dois anos (mais 17,4 pontos
percentuais), registando actualmente um valor próximo dos 26%.

Figura 1 – Posse de Equipamentos de Media (%)

99,9
televisão
96,7
rádio
74,4
telemóvel 89,7

leitor/gravador DVD 59,8

telefone fixo 51,5


34,3
computador pessoal fixo 44,5

42,1
acesso à Internet em casa

máquina fotográfica digital 40


11,4
leitor MP3 34,4 2006*
8,3 2008
computador pessoal portátil 25,7
9
câmara web 21,2

placa/USB 3G para acesso à Internet 16,3


11
home cinema 13,9

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039
*Fonte: CIES-ISCTE – Sociedade em Rede 2006 (N=2000)

5
Se observarmos agora a posse conjunta de vários bens e equipamentos de media,
análise imprescindível no âmbito do estudo do fenómeno de multitasking, verificamos
que existe uma tendência genérica para a posse de vários dispositivos em simultâneo.
Ou seja, a propensão para a posse de um determinado equipamento tende a ser
superior entre os que já possuem outros dispositivos quando comparados com a
população em geral. Por exemplo, 34,4% do total de inquiridos afirmou possuir um
leitor MP3 (Figura 1). No entanto, esse valor sobe para 58,2% se considerarmos
apenas os inquiridos que possuem um computador pessoal fixo, e para 63,7% no
âmbito dos que têm um computador portátil (Tabela 1). Similarmente, apenas 13,9%
da população em geral tem um sistema de Home Cinema (Figura 1), mas se
considerarmos apenas o universo dos que possuem máquina fotográfica digital, por
exemplo, esse valor eleva-se para 26,2%, ou seja, quase o dobro (Tabela 1).
Tal fenómeno terá com certeza ligações com o estrato socioeconómico dos inquiridos,
mas as suas causas não se esgotam nesse pressuposto. O que se verifica de facto é
que existem pessoas mais propensas à posse de bens e dispositivos de media que
outras, e que os diversos equipamentos não actuam tanto numa óptica de
concorrência mas sim de complementaridade (Cardoso, 2006). Tal elação poderá
parecer obvia no âmbito de dispositivos que realmente necessitam de outros para
funcionar de forma adequada (por exemplo, é compreensível a percentagem de
inquiridos com câmara Web ser mais elevada no âmbito dos que possuem
computador), mas poderá não ser tão perceptível se pensarmos por exemplo em
casos como o telemóvel: a percentagem de inquiridos com telefones móveis passa de
89,7% na população em geral para 99,3% no grupo dos que possuem um sistema de
Home Cinema. Parece assim existir uma espécie de “pirâmide das necessidades”
informal a determinar a posse de dispositivos de media: só depois de se adquirir um
determinado conjunto de equipamentos considerados essenciais e amplamente
domesticados pela população (tais como a televisão, o rádio ou o telemóvel) é que se
passa para a adopção de dispositivos mais específicos tais como um computador ou
uma máquina fotográfica digital.

6
Tabela 1 – Posse Múltipla de Equipamentos de Media (%)

computador Leitor/ câmara


computador câmara home Telefone
pessoal Telemóvel gravador fotog. rádio leitor MP3 PDA
pessoal fixo web cinema fixo
portátil de DVD digital

Possui computador pessoal fixo - 39,2 97,6 39,2 79,9 64,5 98,3 23,2 58,2 7,1 60,6

Possui computador pessoal


67,8 - 98,9 54,7 85,0 75,3 98,9 24,3 63,7 12,0 59,9
portátil

Possui telemóvel 48,4 28,3 - 23,4 65,1 43,9 97,7 15,3 38,0 4,2 50,5

Possui leitor/ gravador de DVD 59,4 36,6 97,7 32,0 - 56,4 97,7 23,2 51,5 5,8 53,1

Possui câmara fotográfica digital 71,6 48,3 98,3 44,0 84,1 - 98,3 26,2 62,0 7,9 58,4

Possui rádio 45,2 26,3 90,6 21,5 60,4 40,7 - 14,2 35,4 4,0 51,6

Possui home cinema 74,3 45,1 99,3 48,6 100,0 75,7 99,3 - 68,1 12,5 60,4

Possui leitor de MP3 75,4 47,6 99,2 44,5 89,6 72,3 99,7 27,5 - 9,2 61,6

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039
Preferências e Valorização dos Media
Uma vez analisado o panorama da posse de equipamentos de media, e face a esta
multiplicidade de plataformas, uma pergunta impõe-se: como são valorizados os
diversos suportes mediáticos? Quais as preferências em termos de media?

Em termos de tempo médio diário de utilização, verifica-se que a televisão continua a


pesar no âmbito das rotinas dos indivíduos, sendo que 20,7% dos inquiridos afirmou
passar mais de três horas por dia a ver televisão, e 26,5% entre duas a três horas, ou
seja, perto de metade dos portugueses vê em média mais de duas horas diariamente.
Os resultados demonstram ainda que 15,5% dos indivíduos passa mais de três horas
por dia a ouvir rádio, assim como 12,1% a utilizar a Internet e 10,2% a ouvir música.

Figura 2 – Comparação de Media - tempo diário médio de utilização (%)

62,6 18,6 8,6 10,2


ouvir música

53,4 22,2 12,3 12,1


utilizar a Internet

ouvir rádio 52,5 22,2 10,1 15,5

ver televisão 30 22,8 26,5 20,7

1h ou menos entre 1 e 2h entre 2 e 3h mais de 3h

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


Base – utilizadores de cada meio

Numa perspectiva temporal, verifica-se que a utilização do telemóvel e da Internet tem


vindo a crescer, sendo que 65,9% dos inquiridos afirmou utilizar mais o telefone móvel
do que há cinco anos atrás, assim como 43,2% em relação à Internet. Já a utilização
do telefone fixo decresceu de forma acentuada: 50,8% dos indivíduos afirmou recorrer
menos frequentemente a este dispositivo na actualidade.
Figura 3 – Comparação de Media – Evolução do Consumo em relação há 5 anos atrás (%)

telemóvel 65,9 29,5 4,6

Internet 43,2 49,3 7,5

televisão 31,9 49,5 18,6

rádio 26,1 50,8 23,1

música 24,3 59,5 16,2

jornais e revistas 20,7 57,2 22,1

telefone fixo 10,8 38,4 50,8

aumentou manteve-se diminuiu

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

O consumo de rádio e imprensa manteve-se relativamente estável, com percentagens


similares de indivíduos cujo tempo de exposição a estes suportes aumentou e
diminuiu. Já o consumo de televisão registou um ligeiro aumento: 31,9% dos inquiridos
afirmou que o tempo dispendido a ver TV cresceu em relação há cinco anos atrás,
contra apenas 18,6% que declarou ter diminuído.

Perante a escolha entre diversas plataformas de media, destacamos uma vez mais a
importância da televisão: a partir de uma lista de actividades relacionadas com o
sector dos media e comunicação, 55,3% dos respondentes afirmou que a actividade
mais difícil de deixar de fazer seria ver televisão. Outro dispositivo que se tornou
bastante indispensável para os indivíduos é o telemóvel, que registou 25,6% das
respostas.

9
Figura 4 –Valorização de Media - destas actividades, qual seria mais difícil deixar de fazer? (%)

ver televisão 55,3

usar o telemóvel 25,6

ouvir rádio 7,6

usar a Internet 6,4

ouvir música 3,1

ler jornais e revistas 1,5

jogar videojogos 0,5

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Apesar da sua importância, a preferência pela televisão deverá ser analisada à luz da
categoria etária dos indivíduos. De facto, se considerarmos o grupo dos 15-24 anos,
verifica-se que o meio mais valorizado é o telemóvel, em detrimento da televisão,
ganhando também a Internet uma posição de maior destaque, com 15,2% das
respostas (contra apenas 6,4% no seio da população em geral).

10
Figura 5 – Valorização de Media, por categoria etária - destas actividades, qual seria para si mais

difícil deixar de fazer? (%)

80, 1

70,5

61,8
49,1 52,7
ver te levisão

ouvir rádio
35,9
usar o telemóvel
38,4
25,8
usar a Internet
25, 5 15,2
8,6
18,2
ouvir música
3, 6 4, 8 15,1
5,6
4,3 5, 3
0
9,7 2,9 2,9
1,4 0,6
4,2 10 5
6, 6
6,5 7,7

15/24 ANO S 25/34 ANOS


35/44 ANO S 45/54 ANO S
55/64 ANO S
65 E + AN OS

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Em termos de credibilidade, o destaque vai para a rádio, que surge como o meio
percepcionado como sendo o mais credível: 66,2% dos inquiridos afirmou confiar
totalmente ou bastante na rádio. A televisão e a imprensa também inspiram a
confiança da maioria dos respondentes. Em oposição, 26,2% dos portugueses confia
pouco ou nada na informação proveniente da Internet.

11
Figura 6 – Comparação de Media – Credibilidade da Informação (%)

11,2 15 36,6 32,1 5,1


Internet

1,4
6,3 33,5 51,1 7,7
Imprensa

0,5
Rádio 5,1 28,2 53,7 12,5

0,2
5,3 30,6 51,9 12
Televisão

não confio nada confio pouco confio confio bastante confio totalmente

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Se atentarmos agora à disponibilidade para despender recursos financeiros em bens e


serviços de media e comunicação, o telemóvel afirma-se como a plataforma que reúne
maior propensão para a despesa. De facto, apenas 10,3% dos inquiridos afirmou não
estar disposto a pagar nada para poder usufruir de um serviço de telecomunicações
móveis, contra 48,5% no caso do telefone fixo, 57,7% no caso dos jornais, 58,9% para
a televisão, 60,8% para as revistas, 77,1% no caso do cinema, 78,5% no caso da
música, e 95,4% para os videojogos. Por outro lado, cerca de 11,7% dos respondentes
afirmaram estar dispostos a gastar 30 euros ou mais mensalmente em despesas de
telemóvel, assim como 8,8% em despesas relativas aos serviços pagos de televisão.

12
Figura 7 – Comparação de Media – Willingness to Pay? (%, valores referentes ao mês)

0,8 1,9

Videojogos 95,4
1,6 0,3

78,5 10,5 5,4 0,6 5


Música

4,9 5,1
Cinema 77,1 12,7 0,2

0,3

Revistas 60,8 33,2 3,2


2,5
0,6
58,9 19,3 8,8 12,4
TV

0,8
Jornais 57,7 32,1 6,3 3,2

Telefone 48,5 6,9 26,7 4 13,9

Telemóvel 10,3 19,7 52,6 11,7 5,7

nada até 9,99 euros entre 10 e 29,99 euros 30 euros ou mais ns/nr

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Se analisarmos a disponibilidade para despender recursos financeiros em bens e


serviços de media e comunicação por idades, verifica-se que, embora a televisão seja
um meio muito valorizado pelas categorias etárias mais idosas (ver figura 5), são as
camadas jovens que demonstram uma maior propensão para despesas em serviços
pagos de televisão. Por outro lado, verifica-se também que a imprensa é pouco
valorizada pelos jovens (64,8% dos indivíduos com idades entre os 15 e os 24 anos
afirmou não estar disposto a pagar nada para ter acesso a jornais), assim como pelos
idosos (69,1% do total de inquiridos com 65 anos ou mais). Quanto ao telefone fixo, as
camadas mais idosas são as que apresentam uma maior propensão para a despesa,
sendo que apenas 36,5% das pessoas com 65 anos ou mais afirmou não estar
disposto a pagar nada para usufruir de tal serviço.

13
Figura 8 – Comparação de Media – Willingness to Pay, por categoria etária

(% da resposta “nada, 0 euros”, para cada categoria)

97,1 9 7,8
100 97,2
9 2,8 98,9
85,5 95,5 95,7
8 4,1 91,4

78

78,8 76,2
69,2 75,3
64,8 69,1
6 4,6
57,5
61,8 59,1 59,7
58,2
56,1
54,7
4 7,9 53,2
50,5 51,2
52,5
49,7
49,1
44,7 46
36,5
34,3

7,6 11,5
4,3
3
1,2

15/24 ANOS 25/34 ANOS 35/44 ANOS 45/54 ANOS 55/64 ANOS 65 E + ANOS
videojogos jornais música telefone televisão cinema telemóvel

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

14
Multitasking na Sociedade em Rede
As observações tecidas acerca da posse múltipla de bens e da valorização dos
diversos media pelos jovens fornecem-nos o quadro de análise necessário para
enquadrar de forma adequada a avaliação do fenómeno de multitasking em Portugal.
Qual será então a sua verdadeira dimensão? Que tarefas são normalmente realizadas
em simultâneo, e quais os grupos sociodemográficos mais propensos a tal?

A utilização simultânea da televisão e do telemóvel destaca-se. De acordo com os


dados do presente estudo, 30,8% dos respondentes afirmou falar ao telefone ou
telemóvel frequentemente enquanto vê televisão, assim como 14% declarou enviar
SMS.

Figura 9 – Multitasking - enquanto vê televisão, é frequente... (%)

falar ao telefone/telemóvel 30,8

enviar SMS 14

ler jornais, revistas ou livros 9,8

8,1
ouvir música

utilizar a Internet 7,7

ouvir rádio 5,1

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Em geral, observa-se uma maior propensão das mulheres para a realização de várias
tarefas de media em simultâneo. De facto, verifica-se uma maior proporção dos
inquiridos de sexo feminino que falam ao telefone/telemóvel (31,4%) ou que enviam
SMS (15,9%) enquanto vêem televisão, em comparação com 30,1% e 26,7% dos
homens, respectivamente. Verifica-se também uma maior percentagem de inquiridas
que afirma ler ao mesmo tempo que vê televisão (10,4%), do que de homens (9,2%).
Não obstante, observa-se uma proporção ligeiramente superior de indivíduos do sexo
masculino que declarou utilizar a Internet enquanto vê televisão (8,1%), em
comparação com a registada no caso das mulheres (7,3%).

15
Figura 10 – Multitasking, por género – enquanto vê televisão, é frequente... (%)

15,9
enviar SMS 11,8 mulheres
homens
10,4
ler jornais, revistas ou livros 9,2

31,4
falar ao telefone/telemóvel 30,1

7,3
utilizar a Internet 8,1

5,5
ouvir rádio 4,7

8,9
ouvir música
7,1

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

Em termos gerais, apesar do fenómeno de multitasking estar acima de tudo associado


às camadas mais jovens, a realização em simultâneo de tarefas de media parece estar
relacionada também com o tipo de plataformas em questão. De facto, se a utilização
da Internet ou a actividade de ouvir música são as mais realizadas em simultâneo com
o visionamento de televisão pelos indivíduos do grupo etário 15/24 anos, outras
actividades ganham destaque no âmbito de outras categorias etárias, tais como a
leitura de jornais, revistas ou livros nos escalões 35/44 e 45/57 (12,9%) ou falar ao
telefone/telemóvel no grupo dos 25/34 anos (37,4%).

16
Figura 11 – Multitasking, por categoria etária – enquanto vê televisão, é frequente... (%)

37, 4

34,5 33,3
33, 5
29,7

24,7

21, 6 22,1
20
13, 4
16,4

12,9 12,9
11,1 8,8

9,6 10,8
9,1
6,7 10, 6 6,6
3,6
4,27 6,5
1,1
5,9
3,5
2,5 5 2,9
4,7 5,8 4,4
0,6
3,9

15/24
25/34
35/44
45/54
55/64
65 e +
ou vir música ouvi r rádio utilizar a Internet falar ao telefone/telemóvel ler jor nais, revistas ou livros envia r SMS

Fonte: Sociedade em Rede, 2008.


N=1039

17
Conclusão: Padrões de Consumo num Sistema Mediático de
Oferta Múltipla

Em suma, o quotidiano dos indivíduos está cada vez mais impregnado de um sistema
mediático de oferta múltipla. Contudo, em vez de escolher entre práticas mediáticas
diversas e que poderão ser concorrentes, verifica-se frequentemente uma tentativa de
articulação, em simultâneo, de diversas actividades tais como ver televisão, navegar
na Internet, ou ouvir música. Os dados mostram que a televisão continua a ter um
peso decisivo nas práticas mediáticas, contudo começa a ser muitas vezes preterida
em relação a outros media emergentes. A presença da televisão não está a ser
necessariamente mais reduzida, porém, é muitas vezes relegada para “pano de
fundo”. A televisão continua ligada, mas remete-se cada vez mais para um papel de
contextualização atomizada em rede e é algo que se deixa ligado em fundo enquanto
desenvolvemos outras actividades, tais como estar na Internet (Espanha, Soares e
Cardoso, 2006). Por outro lado, o aumento do uso da Internet ou dos telemóveis não
significa que esta substitui o consumo de outros meios comunicacionais. Pelo
contrário, estes novos meios poderão desempenhar um papel de reforço de
informação. Segundo Espanha, Soares e Cardoso (2006), verifica-se também a
tendência para a multiplicação de interesses e actividades no âmbito da Sociedade em
Rede, reforçando a hipótese de que a utilização das novas tecnologias de
comunicação leva à diversificação e ampliação das capacidades comunicativas.

18
Referências Bibliográficas

Beentjes, J. W. J., Koolstra, C. M., & van der Voort, T. H. A. (1996). Combining background
media with doing homework: incidence of background media use and perceived effects.
Communication Education, 45, 59–72.
Bergen, L., Grimes, T., & Potter, D. (2005). How attention partitions itself during simultaneous
message presentations. Human Communication Research, 31(3), 311–336.
Brown, J. D., & Cantor, J. (2000). An agenda for research on youth and the media, in Journal of
Adolescent Health, nº 27 Supplement 1).
Cardoso, G. (2006), Os Media na Sociedade em Rede, Ed. Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Espanha, R., Cardoso G. e Soares, L. (2006), "Do multimédia à comunicação Wireless: as
dietas de media portuguesas", in Gustavo Cardoso e Manuel Castells (org.), A Sociedade em
Rede, Do Conhecimento à Acção Política, Debates, Presidência da República.
Foehr, U. (2006), Media multitasking among american youth: prevalence, predictors and
pairings, Kaiser Family Foundation, disponível em http://www.kff.org/entmedia/upload/7592.pdf
Jackson, M. (2008), Distracted: The Erosion of Attention and the Coming Dark Age, Prometheus Books
MediaEdge (2007), Pay Attention Please, disponível em
http://www.mecglobal.com/files/pdf/NL_RESULTS%20Global%20PayAttentionPlease.pdf
Roberts, D. F., Foehr, U. G., & Rideout, V. J. (2005). Generation M: Media in the Lives of 8-18 year-olds,
Kaiser Family Foundation, USA.
Robinson, J. & Godbey, G, (1997) “Time for Life”, Penn State Press.
The Media Center at the American Press Institute. (2004a). Meet Generation ‘C’ - Executive Summary.
The Media Center, disponível em http://www.mediacenter.org/simm/generationc
The Media Center at the American Press Institute. (2004b). Seventy Percent of Media Consumers Use
Mulitple Forms of Media at the Same Time, According to a Study for The Media Center at API. The Media
Center, disponível em http://www.mediacenter.org/content/3673.cfm
Yahoo e OMD (2006), The Media Evolution of the Global Family in a Digital Age, disponível em
http://l.yimg.com/au.yimg.com/i/pr/familyaffair_final.pdf.

19
Ficha Técnica

O presente relatório é o segundo de um conjunto de Flash Reports publicados pelo


OberCom relativamente à caracterização da Sociedade em Rede em Portugal 2008:
A Sociedade em Rede em Portugal 2008

Título A Sociedade em Rede em Portugal 2008

Investigadores Vera Araújo

Coordenação Científica Gustavo Cardoso e Rita Espanha

Coordenação Editorial Rita Espanha

Questionário “A
Gustavo Cardoso, Rita Espanha, Rita Cheta e Vera
Sociedade em Rede em
Araújo
Portugal 2008”

Ficha técnica Inquérito extensivo por questionário, através de uma


entrevista directa, a uma amostra representativa da
questionário “A
população portuguesa residente em Portugal continental,
Sociedade em Rede em de idade igual ou superior a 15 anos de idade. A
amostra teve como universo de referência a população
Portugal 2008”
portuguesa e os resultados do Recenseamento Geral da
População - Censos de 2001. Os indivíduos foram
seleccionados através da definição de quotas a partir do
cruzamento das variáveis sexo, idade, escolaridade,
região (5 regiões INE - NUT’s II) e habitat/dimensão dos
agregados populacionais. A partir de uma matriz inicial
de região e habitat, foi seleccionado aleatoriamente um
número significativo de pontos de amostragem, onde
foram realizadas as entrevistas, através da aplicação de
quotas acima referidas. Em cada localidade, existiam
instruções que obrigaram o entrevistador a distribuir as
entrevistas por toda a localidade. A amostra final foi
constituída por 1039 entrevistas. O trabalho de campo
foi realizado em Junho de 2008 e aplicado pela Metris
GfK.

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