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IMPORTANTE:
A COLÔNIA EM CRISE
- SÉCULO XVIII -
Caro aluno, neste módulo você estudará o processo que provocou o fim do
sistema colonial aqui no Brasil e o que desencadeou à independência do Brasil.
Para isso, é
necessário estudar em
linhas gerais, a situação
européia e a crise do
Antigo Regime.
Ah! Você estudará também como foi o Primeiro Reinado, isto é, o governo
de D. Pedro I aqui no Brasil e os fatores que levaram a sua renúncia.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A SITUAÇÃO EUROPÉIA
Veja bem, antes dessa época, quem possuía o capital (qualquer riqueza capaz
de dar renda e que se emprega para obter nova produção) eram os ricos
comerciantes. A indústria estava na fase do artesanato: o pequeno produtor
independente, o artesão, vendia seus produtos diretamente ao consumidor ou ao
grande comerciante que lhe fornecia a matéria-prima.
Com a Revolução Industrial, estabeleceram-se as grandes fábricas,
concentrando-se muitos trabalhadores, simples assalariados, dirigidos por um patrão,
dono da fábrica e do dinheiro, isto é, do capital. Para o capitalismo industrial, que
passou a dominar cada vez mais a economia, não interessava o monopólio
comercial.
Os industriais queriam o comércio livre, para poderem comprar a matéria-
prima de quem quisessem e venderem seus produtos nos mercados que
possibilitassem maiores lucros.
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Ao mercantilismo opunha-se, portanto, o LIBERALISMO, denominação
dada ao conjunto de idéias contrárias à intervenção do Estado na economia e
favorável à livre iniciativa. O capitalismo industrial voltou-se contra todos os
monopólios. Espanha e Portugal resistiram o quanto puderam, já que, sem o
monopólio comercial sobre suas colônias, seus impérios não teriam sustentação.
Portugal, em particular, vivia apenas como simples intermediário do
comércio entre as suas colônias e os países europeus: levava os produtos do Brasil
para os mercados consumidores e trazia para cá as mercadorias necessárias ao
consumo da população.
Saiba que a manutenção desse monopólio só era possível mediante a
imposição de sérias restrições às atividades econômicas da colônia, impedindo
que fossem produzidas aqui as mercadorias vendidas pelos comerciantes
portugueses.
Não é preciso dizer o quanto essas medidas restritivas dificultavam o
desenvolvimento da colônia, além de criar inúmeros problemas.
Os fornecedores portugueses atendiam muito mal às necessidades da
população, facilitando com isso a expansão do contrabando.
Seria preciso mudar esse estado de coisas, cortar as amarras que forçavam o
Brasil a produzir para exportar, de acordo com os interesses da metrópole, em vez de
procurar atender às próprias necessidades.
1) Revolução Industrial
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2) Revolução Americana
Agora, pense...
Será que essas idéias seriam válidas hoje? Será que o Brasil
atual deixaria um iluminista satisfeito?
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• A CRISE DO SISTEMA COLONIAL
As colônias tinham seu próprio modo de ser, isto é, sua estrutura econômica e
social possuía autonomia. Não eram meros suplementos das metrópoles. A Colônia
“funcionava” do seu jeito, e o que aconteceu dentro dela, estruturalmente, explica a
crise do sistema colonial.
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Bem, você não pode esquecer da Revolução Industrial, pois a Inglaterra
lançava "olhos gulosos" para os mercados consumidores que a América poderia
oferecer. Por outro lado, o pessoal das colônias também queriam comprar barato dos
ingleses, sem a intermediação da Metrópole.
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Claro que teve um papel importante, porque era o grande agitador junto ao
povo comum. Mas, um homem comum como ele, jamais seria aceito como líder
pelos ricos membros da elite colonial.
Em Salvador na Bahia, na
manhã de 12 de agosto de 1798, há
uma aglomeração em torno do
pelourinho...
Não havia somente um folheto para ser arrancado por algum riquinho que
passava por ali, havia muitos outros.
O projeto dos rebeldes baianos continha uma série de medidas importantes,
tais como:
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Assim, os revolucionários desejavam não somente romper com a
dominação colonial portuguesa, mas também modificar a ordem social interna do
Brasil, que se baseava no trabalho
A maçonaria era, na época, uma
escravo. organização secreta de ajuda mútua.
Os latifundiários exigiram Cada maçom deveria dar uma força
providências. As autoridades começaram a para um irmão maçom em
agir contra o movimento e contra as idéias. dificuldades.
Mas por onde começar? Geralmente os maçons eram
comerciantes, donos de oficinas de
artesanato, intelectuais e profissionais
Pela maçonaria: a loja Cavaleiros liberais.
da Luz difundia idéias iluministas. Mas era Isso ajuda a explicar o empenho
só ela? Não, era só uma ponta. Havia outra: da maçonaria em divulgar os ideais
Cipriano Barata, o médico dos pobres, o iluministas (liberdade e autonomia).
revolucionário de todas as revoluções.
Mais ainda? Sim, o O ILUMINISMO - propunha o fim do poder absoluto
dos reis, o fim dos privilégios da nobreza e do clero -
núcleo de revolucionários que eram características do Antigo Regime, e defendia
era composto por negros entre outras idéias, o liberalismo econômico (liberdade
e mulatos pobres, esses para os negócios) e a igualdade perante a lei.
sim, os mais perigosos.
Começou a repressão. Mais de cem pessoas na cadeia, a tortura. Os
trabalhadores portam-se com honra e altivez. Um deles, arrebentado pelas pancadas,
declarou, diante do irritado governador, que repartiria as fortunas dos ricos entre os
que nada tinham.
A resposta da Coroa: enforcamento de vários rebeldes.
Pedaços de corpos mutilados foram pendurados como carne de boi num
açougue. A lição para que o povo nunca mais fosse insolente.
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Como você já estudou, a Revolução Francesa ocasionou à derrubada do
governo absolutista de Luís XVI, sendo guilhotinado em 1793, na França. A vitória
da França provocou a ira de vários países europeus, que também eram absolutistas e
que tentavam combater o perigoso exemplo francês.
Em meio a essas guerras, surgiu um líder militar e político, que aproveitou
das dificuldades internas e do ataque internacional,
para assumir o governo francês com um golpe de
Estado, em 1799.
Quem foi esse líder?
Ora, era o baixinho Napoleão Bonaparte.
Após tomar o poder em seu país, Napoleão foi
vencendo a maioria dos inimigos e fazendo da França
uma potência no continente europeu.
Esse crescimento do poder francês não agradou
em nada a Inglaterra, maior centro capitalista e
industrial do período, e para superá-la, Napoleão
buscou o confronto direto, mas acabou derrotado pela
superioridade naval dos ingleses.
Como a França não conseguiu vencer militarmente a Inglaterra, tentou usar
uma outra estratégia. Napoleão resolveu isolar economicamente a Inglaterra. Como
assim?
Caro aluno, para isolar a Inglaterra, que é uma ilha, Napoleão decretou o
Bloqueio Continental em 1806, ou seja, os países do continente europeu não
poderiam comprar nem vender seus pr odutos para a Inglaterra.
A finalidade era sufocar os ingleses, impedindo que comprassem ou
vendessem para algum país europeu: “Quem comerciar com a Inglaterra, eu
invado!” disse Napoleão, e ele não estava brincando.
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Fingia que dava uma dura nos ingleses, fechando os portos, mas por debaixo
dos panos, negociava alternativas com seus aliados. Pouco adiantou. Napoleão
pressionou e D.João, covarde, prendeu os ingleses residentes em Lisboa. Só que a
invasão francesa já estava em curso.
O pavor tomou conta da nobreza. Os ingleses propuseram um acordo:
escoltariam os navios portugueses levando o rei e os nobres em segurança até o
Brasil, mas D. João teria de se comprometer a seguir as cláusulas de um pacto
secreto que abriria os portos brasileiros.
Apesar da idéia de transferência não ser uma novidade, os portugueses foram
pegos de surpresa pelo ataque francês. Então escoltados pelos ingleses, cerca de 15
mil nobres se acotovelaram nos navios. Não sem antes saquear o ouro das igrejas e
do tesouro nacional. O povo que enfrentasse os invasores sozinhos!
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Com a fuga da corte para o Brasil, Portugal ficou sob o domínio francês.
Durante 7 anos, o povo português lutou contra a ocupação. Em 1814, com a
expulsão dos franceses, Portugal passou a ser governado por um inglês. Por que
será?
Em 1815, as potências européias se reuniram no Congresso de Viena, que
visava colocar alguns soberanos (reis) no trono de seus países e restaurar o
absolutismo. Em Portugal isso não aconteceu, pois a família real estava aqui no
Brasil. Os reis europeus pressionaram D. João para que voltasse para a Europa.
Não querendo ceder a essas pressões, D. João transformou o Brasil em
Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves. Teoricamente essa lei favoreceu o
Brasil, pois como Reino Unido, subiu de uma condição de inferioridade (colônia) e
ficou unido a Portugal. Na prática, contudo, os portugueses continuaram dominando
o Brasil. D. Maria I (“a louca”) faleceu em 1816. O príncipe-regente tornou-se rei,
com o título de D. João VI.
D. João criou:
• A Biblioteca Real (hoje é a Biblioteca Nacional, uma das maiores do
mundo; fica no centro do Rio de Janeiro;
• O Museu Nacional, lá na Quinta da Boa Vista;
• O “belíssimo” Jardim Botânico;
• A Academia Militar;
• A Escola de Medicina.
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Os moradores de Pernambuco
conspiravam para conseguir a
independência do Brasil. Os participantes dessa rebelião eram padres, militares e
civis, como juizes, comerciantes e proprietários de terras.
Os grandes proprietários rurais pernambucanos queriam resolver seus
problemas econômicos, decorrentes da diminuição das exportações de açúcar e
algodão.
Queriam também assumir o poder político, se não de todo o país, pelo menos
de sua região. As pessoas das camadas sociais populares queriam melhorar sua
condição de vida e desejavam igualdade de direitos. Havia até mesmo os que
defendiam o fim da escravidão.
Os participantes do movimento foram denunciados e o governador da
capitania mandou prendê-los antes dos planos estarem prontos. Os conspiradores
militares resistiram à prisão, provocando tumultos que deram início à revolta
popular conhecida como Revolução Pernambucana, em 1817.
O governador da Capitania fugiu para o Rio de Janeiro e uma junta
revolucionária tomou o poder, organizando o governo provisório, que proclamou a
República.
Os revoltosos conseguiram o apoio de várias capitanias do Nordeste.
D. João VI enviou tropas, que logo conseguiram recuperar o controle sobre todas as
capitanias participantes do movimento. A repressão foi violenta e a maioria dos
revoltosos, executada.
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Naquela época, não existiam partidos políticos como hoje, isto é, com sede,
direção escolhida, programa, concorrendo às eleições, etc.
Os partidos eram grupos de pessoas com interesses e idéias mais ou menos
parecidos.
• O Partido Português não tinha só portugueses. O que acontecia é que havia os
comerciantes interessados no retorno do Pacto Colonial. Junto deles estavam os
militares portugueses e alguns funcionários da Coroa. Para eles, a independência
nunca poderia ocorrer.
• O Partido Brasileiro tinha brasileiros e até portugueses. A diferença não estava
no local de nascimento, mas sim na situação social. Ali estavam os homens mais
ricos da Colônia: latifundiários, altos funcionários da burocracia estatal e
comerciantes ligados ao comércio inglês ou francês e traficantes de escravos.
Evidentemente, queriam o fim das restrições coloniais, mas democracia não
constava no seu dicionário. Seu líder era José Bonifácio de Andrada e Silva.
• Os radicais eram um pequeno grupo com influência nos setores médios urbanos:
pequenos comerciantes, advogados, padres, professores, farmacêuticos,
funcionários públicos do baixo escalão, alfaiates, estudantes, ourives etc. Eles
vinham da longa tradição de revoltas anticoloniais e republicanas. Para eles, a
independência do Brasil deveria ter algo parecido com a Independência dos EUA
ou a Revolução Francesa, com garantia de liberdades individuais.
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Escravos ou lavradores pobres, submetidos aos latifundiários, morando no
campo e sem qualquer informação sobre o que acontecia na cidade, permaneciam
passivos diante dessas movimentações.
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E os conservadores (brasileiros), liderados por José Bonifácio que,
inicialmente, era contra a Constituinte (houve até quem contasse que ele teria dito:
“Hei de enforcar esses constitucionais na Praça da Constituição”), fizeram seus
pontos de vista prevalecerem: voto indireto e proibido aos que recebessem salário
(com algumas exceções, como os administradores de fazenda).
Em setembro de 1822 as Cortes Portuguesas enviaram, então, um ultimato:
“Voltai imediatamente!”
Não havia outra saída, D. Pedro estava viajando para São Paulo, quando fez a
pose para a foto. Era o dia 7 de setembro do ano de 1822. Deu o famoso berro:
Independência ou Morte! De preferência, independência para as elites, morte só
para o povo.
Em outubro seria aclamado e, em dezembro coroado imperador.
O Vulcão e o Trono
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Uma andorinha só não faz verão. Um sujeito só não faz a História. Quem
faz a História são as classes sociais em luta por seus interesses econômicos,
ideológicos e políticos.
Leia o poema do dramaturgo (autor de teatro) alemão do século XX,
chamado Bertold Brecht, na página seguinte.
Dá para você perceber como ele critica a História Tradicional, a que só fala
dos reis, dos césares, dos generais, dos ricos?
Com ironia, Brecht pergunta
pelo povo trabalhador, pelos pedreiros
da muralha da China, pelos escravos
de Atlântida, pelo cozinheiro de Júlio
César, o general de Roma.
A maioria das pessoas não
percebe o quanto a escola dá uma
educação política.
Se o homem comum do povo,
como eu e você, achar que a História
é feita somente pelos grandes
homens, acaba convencido de que ele
e o povo, gente simples e comum, que
tem conta a pagar, dor-de-barriga e
calças velhas, são incapazes de
mudar a sociedade.
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Imagine operários trabalhando numa fábrica. Um calor infernal, o
encarregado exigindo mais eficiência e produção, um barulho ensurdecedor, a
ameaça de serem despedidos, a cansaço, o salário miserável, a fome. Como se livrar
da opressão?
Se acreditam na lição que aprenderam na escola, que a Princesa Isabel
libertou os escravos, então nunca irão lutar pelos seus direitos.
Aprenderam a não acreditar nas suas forças, na capacidade de união de seus
companheiros. Supõem que suas vidas só irão melhorar quando aparecer algum
figurão para socorrê-los, quem sabe um novo patrão bem bonzinho!
Minha gente, direitos nunca são doados. Ninguém dá direitos a outros de mão
beijada. Direitos não vem através da caridade.
Os poderosos só abrem mão de seus privilégios, depois de terem sido
derrotados. O direito é sempre conquistado. E conquista envolve luta.
O povo trabalhador conquista seus direitos quando, unido e organizado, luta
para arrancá-los das classes dominantes.
Essa conversa de que quem faz a História são os heróis não é encontrada só
na escola. Na televisão, nas histórias em quadrinhos, vemos aos montes os
“salvadores dos oprimidos-coitadinhos”.
Sempre a mesma idéia: “o povo é fraco, é incapaz, é ignorante...”.
D. Pedro não foi o autor da Independência do Brasil. Ele era apenas a pecinha
de uma grande máquina, controlada pelos grandes latifundiários (fazendeiros) e
apoiada pela Inglaterra.
Se, em alguns momentos, ele assumiu um papel importante, e até de
liderança, foi porque tinha o apoio de poderosos grupos.
...e o povo?!
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Tantas histórias.
Tantas questões.
Bertold Brecht
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Um governo antidemocrático
O Brasil é um país que na sua história tem mais eleições pra “Rainha da
Primavera” e “Gata Verão” do que para escolha de governo. Nenhum
trabalhador votou em D. Pedro. Ele foi selecionado pelos homens mais ricos
do país e deveria governar em favor deles. O Estado tinha como principais
tarefas garantir a propriedade e os privilégios e reprimir revoltas populares.
Portanto, o governo de D. Pedro nada teve de democrático. Pelo
contrário, foi um período em que cresceram as oposições e ele respondeu com
repressão. O psiu de silêncio foi feito com a espada e o canhão. É assim que o
ex-professor da Universidade de Brasília, Hamilton M. Monteiro o caracteriza:
“A História do Brasil, de 1821 a 1831, é a história da violência das forças
conservadoras, prendendo, banindo do país e condenando à morte os líderes
populares e democráticos: é a história das devassas por delito de opinião, da
censura à imprensa, da suspensão das garantias individuais e da instalação
das tais odiosas comissões militares.”
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XBrasileiros Portugueses
Certos limites Poderes totais
ao Imperador ao Imperador
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Os autores de livros didáticos, e até mesmo alguns historiadores respeitáveis,
costumam se “embananar” com o tal “liberalismo brasileiro” da época.
Fica difícil dizer quem era liberal e quem era conservador. É que liberal não
era sinônimo de democrata. Além disso, nós não podemos cair na armadilha do
vocabulário da época, que fazia com que a palavra liberal fosse usada sem precisão.
É o caso dos radicais. Assim como, ainda hoje, basta uma pessoa não admitir
certas injustiças para que lhe acusem de ser comunista (o que acaba sendo um elogio
aos comunistas), na época eram chamadas de radicais pessoas dos mais diferentes
tipos.
Ora, como é possível que um radical como José Clemente Pereira tinha se
tornado ministro de Pedro I?
Eram a favor da
centralização do poder
(beneficiados com o Queriam maior
controle do Rio sobre as autonomia para as
demais províncias). Províncias.
O que não havia era a forma usual de fazer política. Existia uma participação
política popular importante, embora subterrânea e algo inconsciente.
D. Pedro I “Portugueses”
“Absolutistas”
Brasileiros Radicais
“Liberais”
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Era a moda trazida de Paris, era um quarto poder inventado por um pensador
reacionário (contrário à liberdade), chamado Benjamim Constant. O Poder
Moderador dava poderes discricionários, (quase ilimitados) ao imperador, que,
assim, tinha uma autoridade indiscutível sobre os outros poderes: podia nomear e
demitir ministros, fechar a Assembléia Geral, demitir juizes do Supremo Tribunal e
convocar tropas a hora que quisesse sem prestar contas a ninguém.
O poder estava totalmente centralizado. Isso quer dizer que os governadores
das Províncias eram nomeados pelo imperador e todas as decisões importantes sobre
as Províncias do Norte, do Nordeste ou do Sul não eram tomadas pelos de lá, mas
pelos do Rio de Janeiro. Os impostos pagos pelas províncias ficavam na capital.
Assim, o Rio de Janeiro e as províncias próximas eram as principais beneficiadas.
Foi uma verdadeira ditadura do Sudeste sobre o resto do Brasil.
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A Igreja Católica foi
oficializada. Através do
padroado, os bispos
passaram a ser pagos pelo
governo, que também os
nomeava.
As instruções do papa
só valeriam no Brasil caso
contassem com a
autorização do imperador.
Como se vê, a Igreja
era aliada do poder
estabelecido, “desobedecer
às autoridades era contrariar
a vontade de Deus”.
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A menina ainda era criança. Queria mesmo era brincar de boneca. Enquanto
não era adulta, quem governaria Portugal seria o regente D. Miguel, irmão
de D. Pedro.
Quando Maria da Glória tivesse mais idade, ela se casaria com o tio D.
Miguel. (Não se espante, essa embrulhada de casamento entre parentes era comum
na nobreza européia.)
D. Miguel não estava a fim de ser papagaio de pirata, nem marido de rainha.
Apoiado pela Áustria absolutista, usurpou o trono, em 1828. A Inglaterra, que
apoiava o outro lado, foi ao Brasil reclamar.
D. Pedro I vivia dando voltinhas na sala e roendo unhas. Preocupava-se
mais com a sucessão portuguesa do que com o Brasil. Como se fosse dono de tudo.
Por causa disso, os latifundiários preocupavam-se com D. Pedro, cada vez
mais perto de Portugal. Não dava mais para conciliar o irreconciliável. A batalha
entre brasileiros e portugueses deveria ser decidida puxando-se o tapete dos pés
do imperador.
Para isso, os latifundiários não hesitariam em sacudir as massas urbanas e
deixar certo espaço para os radicais. Os jornais da oposição castigavam o imperador.
Os radicais promoviam minicomícios e agitações.
Um jornalista, muito bom de ataque, sarcástico, popular entre os estudantes,
chamado Líbero Badaró, foi assassinado por gente ligada a D. Pedro. Nenhuma
punição aos criminosos. O ódio popular crescia.
O imperador resolveu visitar cidades mineiras, para ver se melhorava sua
popularidade. Comeu queijos, beijou crianças e prometeu melhorias. Não adiantou.
Nenhum “uai” de apoio.
Na volta para o Rio de Janeiro as ruas estavam cheias de gente. A maioria
do povo vaiava D. Pedro. Os portugueses ricos, apelidados de pés-de-chumbo, puxa-
sacos, começaram a agredir violentamente os manifestantes. Teve início a famosa
pancadaria da noite das garrafadas.
No dia seguinte, noticiaram que a culpa era do povo. A multidão, os
soldados, os ricos e os políticos, todos exigiam a queda de D. Pedro I. Arrogante
como sempre, ele dizia que só estava indo embora porque queria. Mas que foi, foi.
Em 7 de Abril de 1831, ele abdicava (renunciava ao poder) e partia para Lisboa.
Lá em Portugal, acredite se quiser, foi coroado rei D. Pedro IV. No fundo
era o que ele queria.
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Enquanto Pedrinho não tinha tamanho para receber a coroa, o Brasil foi
governado pelos regentes. Eles eram os chefes do poder executivo. Nessa época o
Brasil viveu uma espécie de minirepública espremida entre os reinados de Pedro I e
Pedro II (coroado em 1840).
Inicialmente, os regentes eram escolhidos pela Assembléia Geral do Império.
Depois, pelo voto direto e censitário (só votava quem tinha muito dinheiro!).
Esse foi um período muito turbulento. Estouraram várias revoltas contra o
governo central. Motins, rebeliões e guerra civil como Cabanagem, a Balaiada e a
Revolução Farroupilha.
Brasileiros enfrentaram brasileiros com espadas e pistolas. Como você vê, é
uma grande mentira essa conversa de que no Brasil as coisas sempre foram ajeitadas
pacificamente. Na verdade, nossa história é cheia de violências.
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O que estava em jogo era se as camadas oprimidas conquistariam direitos ou
se as classes proprietárias assegurariam sua hegemonia (supremacia), se o Sudeste
mandaria sobre o resto do Brasil ou não, se o país seria democrático ou autoritário.
Esses conflitos foram abertos, diretos, crus e brutais. A classe dominante não
hesitou em lançar mão das maiores atrocidades e infâmias para sustentar e perpetuar
seus privilégios.
Se nossa história é violenta, é porque os privilégios muitas vezes são
mantidos pela violência. E aí o povo responde com violência à violência...
Quando D. Pedro foi embora, em 1831, era preciso eleger logo os regentes.
Mas a Assembléia Geral do império estava de férias... Agora adivinha: o que é que
aconteceu!?
Os deputados e
senadores pararam o
descanso e arrumaram
logo as malas para o Rio
de Janeiro, ou acharam
melhor ficar curtindo a
vida mansa?
Não fique achando
que todos os políticos são
iguais.
Quem, hoje em
dia, pensa que o ideal é
fechar o Congresso e botar deputados e senadores na cadeia é a extrema direita, os
fascistas e nazistas, os reacionários empedernidos. Gente safada que despreza os
direitos do povo.
É claro que grande parte dos políticos atuais não faz nada pela população
trabalhadora, pois eles são representantes das classes dominantes.
São ricaços ou patrocinados por ricaços. O que não quer dizer que não haja
políticos progressistas, realmente sérios e empenhados em fazer algo para melhorar
a vida da gente. Por enquanto, são poucos, mas existem.
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O que não pode acontecer é fechar o Congresso, pois aí nem esses poucos
políticos ao lado do povo poderiam atuar. Não haveria essa importante oposição aos
desmandos dos poderosos.
Esse negócio de que "eleição não serve para nada" e "político é tudo igual" é
coisa de fascistão. Não embarque nessa! A história do Brasil mostra que todas as
ditaduras só favoreceram às classes privilegiadas.
Bem, os políticos do Império, quase todos, representavam os interesses dos
grandes proprietários. Assim guiaram a Regência.
Primeiro, elegeram uma Regência Trina Provisória.
Algumas semanas depois, com a rapaziada de volta ao Rio de Janeiro, foi
eleita a Regência Trina Permanente, cuja escalação era: Costa Carvalho (baiano,
mas com carreira política em São Paulo), o maranhense Bráulio Muniz e o
brigadeiro Francisco Lima e Silva, militar durão que tinha reprimido a Confederação
do Equador. Esse trio governou de 1831 a 1835. Depois disso, a Regência passou a
ser una, ou seja, só uma pessoa governaria.
Os liberais moderados e os exaltados fizeram um acordo para anular
politicamente os restauradores, que desejavam a volta de D. Pedro I.
Desse acordo, surgiu a idéia de promover uma pequena descentralização do
poder. Era uma forma de diminuir a indignação dos exaltados e das províncias
distantes do Sudeste com o centralismo exagerado da Constituição de 1824.
Essa descentralização aconteceu após três medidas importantes: a criação da
Guarda Nacional, o Código de Processo Criminal, o Ato Adicional de 1834.
GUARDA NACIONAL
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É por isso que ainda hoje no interior, chamam os fazendeiros de coronéis.
Porque no passado eles realmente foram coronéis, da Guarda Nacional. Assim, os
grandes proprietários passaram a comandar diretamente seu bando de homens
armados. As ordens vinham diretamente das fazendas, dos locais, e não do poder
central (regente).
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Com ele, criavam-se as Assembléias Provinciais, espécie de Câmara de
Deputados estaduais com direito de votar leis sobre assuntos diversos a respeito de
administração, receita e despesas, cargos públicos, questões jurídicas etc.
Era mais um passo na descentralização, embora não total, porque o presidente
da Província continuava sendo nomeado pelo poder central. Tavares Bastos o
chamava de pequena centralização, pois o local ficava submetido ao provincial.
Além disso, o Ato Adicional de 1834
transformou a Regência Trina em Una,
reforçando o Poder Executivo sobre o
Legislativo. Isso em contradição com a
autonomia provincial.
Uma novidade muito importante: o
regente passou a ser eleito com voto direto e
secreto, embora censitário, é claro.
Também foi extinto o Conselho de
Estado, formado por um grupo de pessoas
nomeadas pelo imperador para lhe dar palpites
quando solicitado. Geralmente, o palpite era
sobre política e bem distante dos gemidos do
povo sem sorte. Mas foi mantido o senado
vitalício, um reduto conservador (os senadores
tinham sido escolhidos por D. Pedro, lembra?)
Boa parte dos historiadores ressalta que
tais mudanças deram considerável autonomia
administrativa às Províncias, numa espécie de
concessão aos federalistas e de tentativa de
esvaziar as reivindicações dos exaltados.
Isso irritou políticos mais reacionários,
como o ex-liberal e agora regressista Bernardo
Pereira de Vasconcellos, que teria chamado o
Ato Adicional de código da "anarquia".
Todavia, as concessões à autonomia
provincial eram limitadas.
Não se deve se misturar bebida
alcoólica porque isso faz passar mais mal
ainda. Pois o Ato Adicional de 1834 misturava
unitarismo com federalismo.
Confusão danada, dor de cabeça,
estômago embrulhado. Na verdade, o que se
instalava era um aprofundamento da divisão
Centro X Províncias.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A contradição tornou-se mais aguda, e o resultado foi a
instabilidade política:
o país balançava mais do que um bêbado.
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A CABANAGEM
(1834-1840)
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Um dos líderes do movimento foi o padre Batista Campos, que costumava
benzer os pedaços de pau utilizados como armas pelos pobres. A Cabanagem teve
muitos outros líderes populares, conhecidos apenas pelos seus apelidos: Domingos
Onça, Negro Patriota, Mãe da Chuva, João do Mato, entre outros. Para eles, não
houve estátuas, nem praças ou nomes de escolas. Muitos não tiveram sequer direito
a uma sepultura. Porque sua luta apavorava os ricos.
Em janeiro de 1835, as tropas dos cabanos conquistaram a cidade de Belém
(capital da província) e mataram várias autoridades do governo, inclusive o
presidente da província.
Os cabanos tomaram o poder, mas tiveram grande dificuldade em governar.
Faltava-lhes organização, havia muita briga entre os líderes do movimento e a
rebelião foi traída várias vezes. Tudo isso facilitou a violenta repressão comandada
pelas tropas enviadas pelo governo central do Rio de Janeiro.
Segundo o historiador Caio Prado Jr., a Cabanagem foi o único movimento
regencial "em que as camadas mais inferiores da população conseguiram ocupar o
poder de toda uma Província com certa estabilidade".
Os cabanos só foram completamente liquidados em 1840, após muitos
combates. Calcula-se que mais de 30 mil cabanos morreram, e os sobreviventes
foram presos e escravizados.
A BALAIADA
(1838-1841)
A Balaiada foi uma revolta popular
que explodiu na província do Maranhão.
Nessa época, o Maranhão
atravessava grave crise econômica.
Sua principal riqueza, o algodão,
vinha perdendo preço e mercados no
exterior, devido à forte concorrência do
algodão produzido nos Estados Unidos,
mais barato e de melhor qualidade. As conseqüências dos problemas econômicos do
Maranhão recaíam sobre a população pobre, uma multidão formada por vaqueiros,
sertanejos e escravos.
Cansada de tantos sofrimentos, essa multidão queria lutar contra as injustiças
sociais, a miséria, a fome, a escravidão e os maus-tratos. Além disso, a insatisfação
política reinava entre a classe média maranhense da cidade, representada pelo grupo
dos bem-te-vis. Esse grupo iniciou a revolta contra os grandes fazendeiros
conservadores do Maranhão, contando com a participação explosiva dos sertanejos.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Os principais líderes populares da Balaiada foram: Manuel Francisco dos
Anjos, fazedor de balaios - daí o nome da revolta; Cosme Bento das Chagas,
ex-escravo que liderava um quilombo e Raimundo Gomes, um vaqueiro.
Apesar de desorganizados, os rebeldes balaios conseguiram conquistar a
cidade de Caxias, uma das mais importantes do Maranhão. Mas os objetivos dos
líderes populares não eram muito claros.
O poder foi entregue aos bem-te-vis, que então já passavam a se preocupar
em conter a rebelião dos sertanejos.
Para combater a revolta dos balaios, o governo enviou tropas comandadas
pelo coronel Luís Alves de Lima e Silva, mais tarde conhecido como
Duque de Caxias. Nessa altura dos acontecimentos, os bem-te-vis já haviam
definitivamente abandonado os sertanejos e passado a apoiar as tropas
governamentais. O combate aos balaios foi duro e violento. A perseguição só
terminou em 1841, quando já haviam morrido cerca de 12 mil sertanejos e escravos.
A SABINADA
(1837-1838)
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A REVOLUÇÃO FARROUPILHA
(1835-1845)
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
por cima da carne-seca. Nas estâncias (fazendas), trabalhavam homens livres (os
peões) e escravos.
Apesar de muito bem de vida, os estancieiros gaúchos não estavam satisfeitos
com o governo da Regência. Porque o charque argentino e uruguaio entrava no
Brasil sem pagar nenhuma tarifa alfandegária especial, fazendo uma concorrência
danosa aos interesses dos latifundiários riograndenses.
E, ao contrário, a importação de sal, tão necessário para salgar a carne na
fabricação do charque, pagava altas taxas alfandegárias.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
♦ os soldados e oficiais do exército farroupilha passassem a fazer parte do
exército imperial, com os mesmos postos militares;
♦ os escravos fugitivos que haviam lutado ao lado dos farroupilhas tivessem
garantido o seu direito à liberdade.
Apesar dos protestos, a verdade é que o governo central ia ficando cada vez
mais forte. É fácil explicar: desde 1827, o café já era o segundo produto de
exploração do Brasil e por volta de 1835 alcançou o primeiro lugar, botando o
açúcar na vice-liderança.
Ora, as províncias cafeeiras ficavam no Sudeste, exatamente onde estava o
poder central e a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império e senhora controladora
dos monopólios econômicos no Reino.
Para conter as revoltas, você já viu: usaram a violência. Aldeias incendiadas,
pelotões de fuzilamentos, camponeses assassinados em massa.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Os liberais exaltados foram sendo suprimidos pela maneira habitual que as
classes dominantes empregam para esmagar a oposição: perseguições,
encarceramento, execuções, banimento.
Triste ironia da história: a maior parte dos jornalistas, padres e artesãos presos
ou enforcados tinham sido ativos militantes da independência.
Com violência, as classes dominantes asseguravam a unidade do Brasil e a
obediência ao governo do Rio de Janeiro.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Nos municípios, delegados e subdelegados, tinham até alguns poderes de
juizes.
Em 1850, a Guarda Nacional também seria subordinada totalmente ao
Ministério da Justiça. Era a reação agindo. O Sudeste enriquecido pelo café
reassumia o comando.
Todas as providências para esmagar as revoltas e fortalecer o poder central
foram tomadas.
Na verdade, os políticos progressistas achavam que só havia uma maneira de
acabar com a falta de autoridade do governo central e preservar a unidade territorial
do império.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
O SEGUNDO REINADO
Bem, você acabou de estudar o
Período Regencial. Aprendeu que as
revoltas, os conflitos políticos e sociais
botavam fogo no país.
Aprendeu também que o menino
Pedro de Alcântara, filho de D. Pedro I, só
poderia assumir o governo ao atingir a
maioridade, ou seja, 18 anos.
Mas, os representantes do Partido
Liberal resolveram antecipá-la e deram o
“golpe da maioridade”, isto é, articularam-
se para modificar a Constituição, declarando
Pedro de Alcântara maior de idade no dia 23
de julho de 1840. No ano seguinte, com 14
anos, foi coroado imperador, recebendo o
título de D. Pedro II.
Com a coroação de D. Pedro II em
1840, iniciou no Brasil o SEGUNDO
REINADO - que se estendeu até 1.889 com a
Com apenas 14 anos, D. Pedro II Proclamação da República.
tornou-se imperador do Brasil.
O governo de D. Pedro II durou 50
anos, sendo o mais extenso de toda a história do Brasil independente. Nesse período
o país passou por profundas transformações, com a consolidação do café como
principal riqueza nacional e um primeiro surto industrial.
Apesar de todo o progresso econômico, o Segundo Reinado seria marcado
por vários conflitos com países vizinhos no sul do continente. O maior deles, a
Guerra do Paraguai, entre 1865 e 1870.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A SITUAÇÃO MUNDIAL
No final do século XIX, a indústria conheceu importantes mudanças
tecnológicas, que alguns historiadores chamam de Segunda Revolução Industrial.
Segunda
Primeira Revolução Industrial
Revolução Industrial
Começo Por volta de 1760 Final do século XIX
Tecnologia Máquina a vapor Motor diesel, à gasolina e elétrico
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Como ocorreu a concentração econômica nesses países?
A concorrência entre empresas capitalistas transformou-se numa verdadeira
batalha de preços. Nessa batalha, as empresas mais poderosas foram vencendo as
mais fracas.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
O processo de concentração econômica também se desenvolveu no setor
financeiro. Os grandes bancos associaram-se às grandes indústrias para financiar
seus inventos e participar dos lucros de seus projetos.
ESSA NÃO...
...PROBLEMAS!
Mercadorias encalhadas...
Diminuição da produção...
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Do ponto de vista prático, as potências imperialistas
exerciam o domínio político sobre os territórios conquistados
por meio da administração direta ou por acordo com as elites
locais. Dos dois modos obtinha-se a exploração econômica que
era o objetivo final da colonização.
Assim, criou-se o “mito da superioridade da civilização
industrial européia”, tendo por base elementos como:
O europeu estava destinado a levar o progresso técnico-
científico (Revolução Industrial) e os “bons costumes”
aos povos não europeus.
A “raça branca” é superior às outras (esse argumento
está contido em teorias raciais da época).
As nações cristãs tinham o dever de levar o cristianismo
a todos os povos que viviam mergulhados na “superstição” e na “barbárie”.
Valendo-se desses argumentos elitistas e racistas, as grandes potências
industriais exploraram, violentaram e mataram milhões de nativos da África a da
Ásia, enquanto dividiam entre si as riquezas desses vastos continentes.
Em uma improvisada escola da
Argélia, dois professores
franceses ditam lições a
crianças e adultos árabes, em
1860. Na foto, a frase escrita
na lousa aconselha em
língua francesa:
"Meus filhos, amai a FRANÇA,
vossa nova pátria".
Os capitalistas europeus
enriqueceram
a custa da miséria e do sofrimento de
milhões de africanos, asiáticos
e latino-americanos.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Entre o século XV e início do XIX, a África foi vista pelos europeus
somente como um grande empório, isto é, um A Ásia foi disputada pelas
grande centro de comércio de escravos e potências européias,
especiarias (pimenta, plantas, animais raros e Japão e Estados Unidos.
marfim), mas, com o extraordinário avanço do
capitalismo, os magnatas europeus passaram a encarar a África como um
vastíssimo mercado consumidor de produtos industrializados e
fornecedor de matéria-prima.
Nessa mesma época descobriu-se que as terras africanas
eram ricas em pedras preciosas, principalmente diamantes.
A divulgação dessa notícia fez com que essas terras
passassem a ser vista como uma área onde investimentos em
mineração, portos e estradas
...e como ficou o Continente
dessem lucros extraordinários. Africano após a repartição entre
as potências européias?
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A partilha da África ocorre a partir de 1870, quando a Alemanha e a Itália
entraram em disputa com a Inglaterra e a França pela conquista de territórios.
Ocupação
britânica
é a mesma coisa
que Império da
Inglaterra.
Em 1885, quando a
ocupação já se achava num
estágio avançado, as
potências européias se
reuniram na Conferência de
Berlim, convocada pelo
primeiro-ministro alemão
Bismarck, a fim de
oficializar a partilha da
A fome, o principal
problema de muitos
África.
países africanos, é uma Essa conferência
das heranças do
imperialismo europeu. determinou que, para tornar-
se dono de um território
africano tinha que ocupá-lo efetivamente.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Assim, as nações se armaram para conquistar novos territórios e enfrentar
ameaças das potências concorrentes. Após a partilha ocorreram movimentos de
resistência. Muitas manifestações foram reprimidas com violência pelos
colonizadores. A partilha foi feita de maneira arbitrária, não respeitando as
características étnicas e culturais de cada povo, o que provocou e ainda provoca
muitos dos conflitos atuais no continente africano. A colonização suprimiu as
estruturas tradicionais locais e deixou um vazio cultural de difícil reversão.
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Na verdade, a expansão imperialista dos Estados Unidos, tinha começado a
muitos anos antes - na Ásia. Em 1844, os Estados Unidos conseguiram assinar um
tratado comercial com a China; dez anos depois, forçaram o Japão a abrir seus
portos ao comércio americano. Nessa mesma época, conquistaram inúmeras ilhas do
Pacífico.
Como ocorreu na Índia e na China, a entrada de produtos americanos
arruinou a nascente manufatura e o antigo artesanato japonês. Os samurais
(guerreiros de origem nobre, possuidores de pequenos feudos) lideraram a reação
contra os estrangeiros e com o apoio dos camponeses e da população das cidades,
restauraram o poder do Imperador Mitsuhito - conhecida como era Meiji (mei, em
japonês, quer dizer "luz").
Em pouco tempo o Japão se tornou uma nova potência capitalista. E, como
os países do Ocidente, empenhou-se em ampliar sua dominação imperialista sobre a
Ásia.
...mas, e os ESTADOS
UNIDOS?
Quando começaram a se impor
por aqui?
A partir de 1870, os Estados Unidos começaram a se impor por aqui, tendo por base
a Doutrina Monroe “a América para os americanos”.
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Plantar café não exigia investimentos tão grandes quanto os exigidos num
engenho (que precisava de um equipamento caro). Geralmente, bastava derrubar a
mata, aproveitar a madeira e tocar fogo no resto.
Os grandes lucros Em seguida plantavam as mudas. Ninguém
gerados pela exportação do café usava ferramentas sofisticadas. Depois de
permitiram a recuperação plantado, o cuidado não era muito. Capinava
econômica do Brasil, cujas
finanças estavam abaladas para tirar as ervas daninhas e entre as fileiras de
desde a época da pés plantavam milhos e feijão.
independência, devido a O Sudeste tinha o clima (chuvas regulares)
empréstimos externos e à queda
nas exportações agrícolas.
e o solo ideais e, mais ainda, as condições
econômicas ideais para a cafeicultura.
Lembre-se que desde o século XVII, São Paulo expandia a produção
açucareira e isso fez surgir uma importante base econômica: capital para investir,
estradas, mercados. O Porto de Santos, antes de ser do café, foi do açúcar,
portanto, o dinamismo econômico da região favoreceu a expansão do café.
Com todos esses
recursos, o Brasil se tornou em
pouco tempo o principal
produtor mundial de café.
E foi pelo fato de poder
investir, que os latifundiários da
região aplicaram no café. A
partir de 1837, o café já era o
principal produto de exportação
do Brasil. Graças ao café, o
saldo da balança comercial
brasileira passou a ser positivo a
partir de 1861. Isso quer dizer
que se exportava (vendia) mais
do que se importava
Embarque do café no Porto de Santos. (comprava). Era dinheiro de
fora (libras esterlinas, a moeda
inglesa) entrando aqui (para o bolso dos latifundiários, é claro!).
Exportava-se café principalmente para os EUA, Inglaterra, França e
Alemanha.
As primeiras fazendas de café apareceram no fim do século XVIII, em São
Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. Em 1889 (ano da proclamação da República)
São Paulo já ultrapassava a produção do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, o café foi plantado inicialmente no litoral norte – VALE DO
PARAÍBA – e sem nenhuma preocupação ecológica. Os solos foram se desgastando
e a produtividade caiu.
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Essa solução era deficiente e temporária, pois, além do seu enorme preço, os
escravos não sobreviviam por muito tempo, obrigando à constante reposição.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Veja que essa lei permitia aos latifundiários monopolizar o trabalhador
imigrante, uma vez que o mesmo precisaria trabalhar muito e acumular muito
dinheiro para ter condições de adquirir suas próprias terras.
Saiba que foi no Oeste Paulista que se operaram as primeiras e decisivas
mudanças na estrutura de produção da economia brasileira.
Enquanto o Vale do Paraíba, apesar de sua preponderância, permanecia
preso ao escravismo e às técnicas rudimentares, o O trabalhador assalariado
Oeste Paulista iniciava a utilização da mão-de- consolidou-se no país a partir
obra livre, introduzia a mecanização no de 1870, concentrando-se,
beneficiamento do café. inicialmente, nos cafezais
do Oeste Paulista.
O centro do poder político e econômico
Nas demais regiões, o
(antes no Nordeste), transferiu-se para o Centro-Sul, trabalho escravo continuou a
pois o café ultrapassou o açúcar nas exportações ser amplamente utilizado.
brasileiras e os cafeicultores passaram a
desempenhar um papel de destaque na Foram bastante significativas as
administração dos negócios públicos, muitas inovações no sistema de
assim, definiu-se uma nova aristocracia trabalho e na sociedade brasileira na
área cafeeira do Oeste Paulista, mas,
rural: a dos fazendeiros de café, em grande parte do Brasil ainda
conhecidos também como Barões do café permanecia o uso da
em substituição à dos antigos senhores de mão-de-obra escrava.
engenho. Até quase o final do século XIX,
O café também foi o principal ESCRAVO e TRABALHADOR LIVRE
responsável pelo crescimento do nosso ASSALARIADO coexistiram de forma
mercado interno, principalmente com a CONTRADITÓRIA e DESARMÔNICA.
introdução do trabalho assalariado. As atividades ligadas direta ou indiretamente a
esse produto acabaram contribuindo para a expansão dos serviços urbanos e, por
conseguinte, para o crescimento das cidades, dinamizando o processo de
urbanização - o “café trouxe riquezas e cidades”.
O alvorecer da indústria: a
era Mauá CURIOSIDADE:
Popularmente, os trabalhadores que
varrem as ruas são chamados de garys,
Um viajante que visitasse o Rio de certo?
Janeiro, no início do século XIX, e depois Você sabe porquê?
retornasse na metade do mesmo século, É que nessa época, no Rio de Janeiro, a
ficaria surpreso com as novidades. A cidade limpeza urbana passou a ser feita pela
firma Aleixo Gary, que tinha empregados
crescia, as ruas passaram a ter luz de lampião – os lixeiros, logo apelidados de garys –
a gás em vez do velho lampião fedorento a aí a moda pegou...
óleo de baleia, apareceram os bondes
puxados por burros, lojas e mais lojas.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Havia menos “tigres”, que eram os escravos que pegavam os dejetos (lixo e
“tudo aquilo que se jogava dos penicos”) e jogavam na praia.
Firmas inglesas instalavam tubos de esgoto e encanamentos: maravilhas das
maravilhas iriam surgir nas casas ricas, a privada e o chuveiro! Nasceram fábricas,
bancos, companhias de seguro e ferrovias, empresas capitalistas.
Desde 1850, uma linha regular de navios a vapor ligava a capital do Império:
Rio de Janeiro a Londres (capital da Inglaterra), trazendo notícias quentinhas da
Europa: a elite brasileira conseguia se sentir mais europeizada, mais civilizada.
Era a modernidade chegando de mansinho na capital do Império. Esse
quadro de mudanças no Rio de Janeiro, lá pela metade do século XIX, caracterizou
a chamada Era Mauá - refere ao mais importante empresário capitalista da época,
o BARÃO DE MAUÁ – que dedicou-se com firme propósito, a criar no Brasil a
infra-estrutura que faltava à produção
Em quase todos os anos, o Brasil
nacional. teve déficit na Balança Comercial, ou
seja, o país importava (comprava)
Como foi possível essa gestação da mais do que exportava (vendia).
industrialização brasileira? Para cobrir os saldos negativos, o
governo imperial resolveu cobrar mais
impostos sobre importação de
As possibilidades que o país oferecia mercadorias - era a Tarifa Alves
haviam aumentado depois da decretação da Branco - de 1823 a 1844.
Tarifa Alves Branco em 1844 e da Lei O fato é que a tarifa encareceu os
produtos importados (comprados) da
Euzébio de Queirós em 1850, que liberara Inglaterra. Estava aí a chance para se
capital, pois, com essa lei, os brasileiros desenvolver uma indústria nacional e
responsáveis pelo tráfico, não podiam mais vender produtos nacionais com
preços menores que os importados.
lucrar no comércio de seres humanos.
Você retomará este assunto no módulo 8, por enquanto, basta você perceber
que o fim do tráfico de escravos fez “sobrar” capital.
Assim, por que não investir parte desse capital em negócios como bancos,
fábricas ou estradas de ferro? E mais, o desenvolvimento do café também provocou
o aumento da circulação de capitais e alguns fazendeiros investiram em outros
setores como bancos, estradas de ferro, comércio etc.
Mas, apesar dos esforços de Mauá, suas iniciativas não chegaram a implantar
uma industrialização efetiva, devido à insuficiência de nosso mercado interno, à
dependência econômica do Brasil e aos interesses imediatistas dos latifundiários,
que não hesitavam em aprovar leis e decretos prejudiciais ao desenvolvimento
industrial. A economia brasileira tomava rumos cada vez mais favoráveis aos
cafeicultores e a política do governo imperial variava conforme as pressões. Assim,
em 1860, as tarifas Alves Branco foram alteradas para satisfazer às exigências da
aristocracia agrária e as exigências dos grandes comerciantes ingleses.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Os portos reabriram a penetração de manufaturas e alimentos estrangeiros.
Com a concorrência dos produtos ingleses, baixou o custo de vida, favorecendo os
cafeicultores, mas prejudicando nossa frágil estrutura industrial.
O Barão de Mauá
Nascido no Rio Grande do Sul em 1813, perdeu o pai aos 5 anos de idade.
Começou a trabalhar como engraxador de botas e depois, como
modesto guarda-livros na loja de um comerciante escocês no Rio de Janeiro.
Anos depois, aos 27 anos, ficou sócio do patrão e viajou para a Inglaterra.
Voltou de lá encantado com o que viu: as máquinas as fábricas, as
fundições. Afastou-se do antigo patrão e, em 1848, comprou uma pequena
fundição em Niterói. Os anos passaram e, em 1854, inaugurou na capital do Império –
Rio de Janeiro, a primeira ferrovia brasileira – seus trilhos foram percorridos pela
primeira locomotiva brasileira, apelidada “Baronesa” em homenagem à sua esposa. Esse
feito levou o imperador D. Pedro II a conceder-lhe o título de barão de Mauá, pelo qual
ficaria conhecido.
O fato é que os negócios de Mauá não puderam de desenvolver com as
mudanças, ficou endividado por sucessivos empréstimos. E, não podendo pagar suas
dívidas, foi vendendo seus bens ou os entregou aos credores. Assim, numerosas
empresas suas passaram para as mãos de ingleses e norte-americanos. Além disso,
algumas empresas sofreram sabotagem, tais como “misteriosos” incêndios.
A concorrência inglesa, novamente forte por causa da renovação das facilidades
alfandegárias, fez o serviço principal. Mauá faliu.
Irineu Evangelista de Souza, o engraxador de botas que, depois de ser o homem
mais rico do Brasil, morreu pobre como tinha nascido. Faleceu em 21 de outubro de
1889, em Petrópolis.
A contribuição desse pioneiro residiu no fato de ter possibilitado
a modernização do país.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
desviando para a indústria os capitais antes empregados nesses setores.
A união dos industriais para defender seus interesses e impor seus objetivos.
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...e como era a política interna no Segundo Reinado?
2 – A POLÍTICA INTERNA DO SEGUNDO REINADO
• Os primeiros anos
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Em São Paulo e Minas Gerais políticos do Partido Liberal revoltaram-se
contra a anulação das eleições e com suas saídas do poder – são as Revoltas
Liberais de 1842. Os líderes dos liberais eram o Brigadeiro Tobias de Aguiar e
Diogo Antonio Feijó (em São Paulo) e Teófilo Otoni (em Minas Gerais).
O governo imperial, por meio das tropas comandadas por Luís Alves de Lima
e Silva, sufocou essa revolta liberal e prendeu os líderes do movimento. Só em
1844 esses líderes foram anistiados (perdoados).
• Parlamentarismo no Brasil
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A QUESTÃO CHRISTIE
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A QUESTÃO PLATINA
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
b) Choques políticos e militares com os
países platinos
Durante o século XIX, todas as
operações militares e guerras externas
realizadas pelo Brasil, se concentraram, sem
exceção, na área platina, envolvendo a
Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
Uma série de fatores justifica tal
concentração, de modo algum casual.
Entre eles podemos destacar, em ordem
crescente de importância os seguintes:
1 - As demais fronteiras do Brasil eram
praticamente desabitadas, separadas do resto
do país por extensas florestas quase
impenetráveis, sem qualquer importância
econômica.
♦ 2 - Na região platina, durante o período
colonial, ocorreu uma longa disputa
territorial entre Portugal e Espanha, ainda
não resolvida quando as colônias da região tornaram-se independentes. Por isso o
Brasil herdou as ambições e interesses de Portugal naquela área, enquanto a
Argentina herdou as ambições espanholas.
3 - Os rios da Bacia Platina (rios Paraná, Paraguai e Uruguai e a junção de
todos eles, o rio da Prata) eram bastante importantes econômica e militarmente,
pois por eles escoava quase toda a produção da Argentina, do Uruguai, do Paraguai
e das províncias brasileiras de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina.
Pelos motivos que você já viu, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai tinham
o máximo interesse em controlar a rede fluvial platina, interesse esse compartilhado
pelas principais potências estrangeiras: Estados Unidos, França e, principalmente,
Inglaterra. O governo inglês visando proteger seu imenso interesse econômico na
região do rio da Prata, procurou sempre atingir dois objetivos fundamentais:
Total liberdade de comércio e navegação nos rios da bacia platina.
Tentativa de evitar que o Brasil ou a Argentina se fortalecesse o suficiente
para controlar política ou economicamente o rio da Prata.
Desse modo, o mercado interno dos países da região foi sempre abastecido
com produtos da indústria inglesa e todas as guerras ocorridas entre os países
latinos, a influência inglesa foi sempre importante e, às vezes, decisiva.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Finalmente, é importante você ainda lembrar que as ex-colônias espanholas,
assim como o Brasil, eram países recém-independentes, com Estados Nacionais
ainda em formação e cuja unidade territorial (particularmente nos casos do Brasil e
da Argentina) via-se constantemente ameaçada por Províncias que pretendiam se
separar do país a que pertenciam, quer seja para se unirem a um outro país, quer
seja para se transformarem em nações independentes.
Por esse motivo, um dos aspectos mais importantes dos conflitos platinos
era este: para que um país da região de fortalecesse, era preciso enfraquecer ou
mesmo destruir o vizinho. Portanto, o fortalecimento econômico ou político de
qualquer país da região passava a ameaçar a segurança dos demais.
Agora você estudará a maior guerra em que o Brasil se envolveu até hoje...
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Se um viajante estrangeiro percorresse a América do Sul no século XIX,
perceberia que todos os países eram muito parecidos. A economia, agrária,
dominada pelo latifúndio exportador; mercados nacionais inundados pela Inglaterra,
governos nas mãos de uma elite de fazendeiros egoístas e corruptos.
Toda a América Latina...?
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Os vizinhos do Paraguai, Brasil e Argentina não olhavam com bons olhos
aquele país abusado que ousava representar um papel que não lhe tinha sido
oferecido.
É claro que o Paraguai não era nenhum paraíso na Terra. Solano López
fortalecia a economia do seu país, mas também armou um exército poderoso e
encomendou um moderno navio encouraçado – repare só – nos estaleiros ingleses!
Sonhava com um
grande país, com território
tão grande que talvez
alcançasse o mar, assim a
saída para o oceano
tornaria livre o comércio
paraguaio.
Acompanhe pelo
mapa: as exportações
(vendas) e as importações
(compras) paraguaias
eram bloqueadas em
Buenos Aires (Argentina)
e em Montevidéu
(Uruguai). O grande Paraguai
sonhado por
As taxas pagas Solano.
pelos comerciantes do
Paraguai em Buenos Aires e em Montevidéu, representavam grave bloqueio à
economia Paraguaia.
As ambições de Solano López se chocariam com os interesses da Inglaterra,
pois, com o desenvolvimento econômico do Paraguai, a economia inglesa corria o
risco de diminuir o comércio na América do Sul, que era abastecida, cada vez mais,
pelos produtos do Paraguai.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Diante do ato de
Solano, considerado uma
agressão ao Brasil, D. Pedro II
declarou guerra ao Paraguai.
A Inglaterra então
apóia seus aliados Argentina,
Brasil e Uruguai para realizar
a guerra. López sabia que a
coisa iria esquentar na região.
Por isso agiu com rapidez.
Em 1864, ocupou o Mato
Grosso com milhares de
soldados. O Brasil foi
apanhado de surpresa e pouco
pôde fazer para defender a Na charge, D. Pedro II justifica a declaração de
região distante da capital. guerra ao Paraguai, manipulado pela Inglaterra.
López imaginava o A Inglaterra e representada pela rainha Victória que
seguinte: que o Uruguai e a ocupava o trono na época.
Argentina não iriam se aliar ao
Brasil, pois tinha feito alianças com o Paraguai. O resultado que esperava era de que
a Guerra com o Brasil não fosse tão longe e que D. que Pedro II teria que negociar
as fronteiras numa situação de inferioridade e assim, o Paraguai sairia como uma
potência reconhecida na
região platina.
Mas López estava
errado. Uruguai e
Argentina se aliaram ao
Brasil e mais, a Inglaterra
apóia seus aliados para
realizar a guerra.
101
HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
O genocídio latino – americano
Foi uma guerra difícil, durante os 6 anos de guerra. Os soldados paraguaios
estavam muito bem treinados e armados – no início da guerra eram 64 mil soldados.
Nós tínhamos muito mais um “bando armado” do que um verdadeiro exército – a
maioria deles eram os “voluntários da pátria”.
OS VOLUNTÁRIOS
Para as forças aliadas, foi um verdadeiro inferno DA PÁTRIA...
de fogo, sangue e mortes. A resistência guarani
...estavam longe de ser
(paraguaios) era terrível, e cada vitória custaria muito patriotas apresentando-
caro. Com o apoio da Inglaterra, a marinha brasileira se espontaneamente
muito mais bem equipada, impediu que os paraguaios para “defender a
Pátria”. A maioria
avançassem. absoluta dos soldados
O grande general foi Luís Alves de Lima e Silva, o eram escravos negros
futuro Duque de Caxias. Ele reorganizou o exército, deu- e brancos pobres,
recrutados à força para
lhe disciplina, combateu a corrupção, conseguiu armas e o conflito. Os negros
equipamentos e traçou inteligentes estratégias. Caxias, vestiam a farda com a
comandando a Tríplice Aliança, liderou vitória atrás de promessa de se libertar
vitória. depois do conflito.
O nosso lado, colega, é que não foi muito legal. Pois os exércitos aliados,
comandados pelo Conde D’Eu, fizeram o diabo. Foi a fase mais selvagem da guerra.
102
HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
As tropas brasileiras torturaram prisioneiros e violaram mocinhas. Vilas
inteiras foram executadas. Doentes eram perfurados a baioneta no leito dos
hospitais. Meninas paraguaias de 12 ou 14 anos eram presas e enviadas como
prostitutas aos bordéis do Rio de Janeiro. Sua virgindade era comprada a ouro pelos
barões de império! O próprio Conde D’Eu tinha ligações com o meretrício do Rio -
Gigolô imperial.
Ao chegar em Assunção (capital do Paraguai), os exércitos aliados tinham
quebrado as fábricas e jogaram as máquinas nos rios. Eis o crime do país: quis ter
uma economia independente dos interesses poderosos. Pagou caro pela ousadia.
López foi perseguido até os confins do Paraguai. Não teve direito à clemência
que os chefes de Estado costumam receber: foi morto com golpes de lança e um tiro
de fuzil nas costas. Suas últimas palavras foram: “Muero por mi pátria” - morro por
minha pátria.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Vamos lá?
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A burguesia ligada às
indústrias e aos bancos foi a
grande beneficiária do
desenvolvimento industrial.
Enquanto isso, os
milhares de trabalhadores
viviam em condições
miseráveis. A jornada de
trabalho estendia-se até por 14
horas, com rápidos intervalos
para refeições. As moradias dos
trabalhadores eram cortiços
imundos, sem água, luz ou
esgotos. Fome, doença, alcoolismo, prostituição e mendicância eram normais entre
os trabalhadores.
Nos países industrializados formou-se uma camada média entre a burguesia
e a classe trabalhadora, formada por lojistas, donos de hospedarias, pequenos
empregadores, funcionários comerciais e bancários.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Não é difícil imaginar que não existia leis que protegessem esses operários.
Para tentar contornar a difícil situação, os próprios trabalhadores se uniram
fundando associações para atender seus interesses.
Na Inglaterra, por volta de 1824, os operários conquistaram o direito de livre
associação. Formaram-se os “trade unions”, que representavam a primeira tentativa
de organização dos trabalhadores.
Diante dessa situação de exploração, numerosos pensadores passaram a
propor tentativas de solucionar os problemas da classe operária. Uma dessas idéias
ficou conhecida como SOCIALISMO.
As Idéias socialistas espalharam-se por toda a Europa e defendiam a
igualdade social.
Socialismo Comunismo
Como exemplo
de pensadores da época, No século XIX, o termo socialismo,
temos Karl Marx e passou a indicar um conjunto de doutrinas e
Friedrich Engels. teorias políticas e econômicas que tinha por
objetivo transformar a sociedade.
Suas idéias
O comunismo seria o estágio final do
deram início ao
chamado socialismo socialismo. Aconteceria quando a sociedade
científico ou marxismo. tivesse alcançado uma maturidade social. Tanto
As idéias o socialismo como o comunismo, defende a idéia
marxistas surgiram com de uma igualdade social, na qual a propriedade
a publicação do é coletiva, tudo é de todos: todos trabalham e
“Manifesto Comunista” repartem POR IGUAL o que foi produzido.
(1848) e de “O Capital” No comunismo não existe Estado. O
(publicado a partir de comunismo só seria alcançado quando não
1867). existisse mais qualquer forma de repressão,
todos seriam livres e iguais.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Para Marx, a questão social de exploração dos trabalhadores só seria
solucionada através de uma ação revolucionária e da instauração de uma sociedade
comunista.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A História se repete...
... o tempo passou e essa história não mudou!
Ainda hoje, os Estados Unidos controlam os países
pobres e aqueles
que não se enquadram aos interesses
norte-americanos.
É mais um exemplo de domínio dos Estados Unidos sobre outros países. ALCA
- Área de Livre Comércio das Américas – é um acordo que os Estados Unidos está
querendo fazer com o Brasil até 2005.
Esse acordo, caso seja feito, trará graves conseqüências para o povo
brasileiro. Conforme as normas desse acordo, os serviços públicos como telefone, luz e
água, passam a ser controlados pela ALCA, que poderá abrir “concorrência pública”
para as empresas estrangeiras no fornecimento desses serviços à revelia dos próprios
governos, que não poderão dar preferência a empresas fornecedoras locais.
Como conseqüência desse acordo, também haverá um aumento do desemprego
e o fim dos direitos trabalhistas como: 13º salário, licença maternidade, aposentadoria e
outros direitos conquistados.
A biodiversidade da Amazônia será controlada pelas empresas americanas,
esses são alguns, entre outros prejuízos para o povo brasileiro(...)
Jornal da APEOESP, nº 259, p.4 , julho/agosto - 2002.
LIBERALISMO ECONÔMICO?
NACIONALISMO?
O QUE É ISSO?
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
MOVIMENTOS NACIONALISTAS
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Em tempo...
O clima de rivalidade entre os países
deu origem à chamada PAZ ARMADA. Na Inglaterra, na França e
nos Estados Unidos, surgiram
Como o risco de guerra era bastante Associações pacifistas, apoiadas
grande, as principais potências iniciaram uma por homens de negócios como
Carnegie e Nobel, que criaram o
corrida armamentista, isto é, trataram de Prêmio da Paz.
aperfeiçoar/estimular a produção de armas e Mas os sentimentos
de fortalecer/aumentar o contingente militar. humanitários desses grupos não
Assim, de 1871 à 1914, a Europa mudaram a situação do conflito
viveu em estado de vigilância permanente. mundial.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A França não confiava na Alemanha, pois perdera para ela a Alsácia-Lorena
em 1870; a Austrália e a Rússia disputavam interesses nos países balcânicos;
Inglaterra e Alemanha competiam economicamente.
Durante a paz armada, o clima de tensão levou as grandes potências a
firmar tratados de aliança. O objetivo desses tratados era somar forças para
enfrentar a potência rival.
Depois de muitas negociações e tratados, passaram a existir na Europa, em
1907, dois blocos distintos:
TRÍPLICE ALIANÇA – formada pela Alemanha, Áustria e Itália.
TRÍPLICE ENTENTE – formada pela Inglaterra, França e Rússia.
A aliança original entre os países de cada bloco sofreu alterações. Conforme
seus interesses imediatos, alguns países mudaram de lado. Exemplo disso foi a
Itália, que, em 1915 (após o início da guerra), passou para o Lado da Entente por ter
recebido a promessa de compensações territoriais.
As tensões entre os dois blocos foram ficando insuportáveis. Qualquer
incidente serviria de estopim para deflagrar a guerra.
Veja então que só faltava riscar o fósforo para acender o barril de pólvora.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Mas houve também conseqüências más da guerra. A pior delas foi a epidemia
da chamada 'gripe espanhola', que matou mais gente, no mundo inteiro, do que os
próprios combates, e que, no Brasil, ceifou 15.000 vidas.
A gripe era provocada e propagada como tradicionalmente acontecia
durante ou depois das guerras, pelas más condições de higiene nos países em
guerra e pelo natural enfraquecimento da população, civil e militar, em regime de
esforço excessivo e alimentação deficiente.(...)
A guerra de 1914-1918 não atingiu o Brasil somente nos planos econômicos e
da saúde pública: acabamos envolvidos nela pelo torpedeamento de navios nossos,
no Atlântico por submarinos alemães, tendo sido afundados os navios brasileiros
Paraná, Tijuca, Lapa, Macau e Ácari. Assim, o presidente Venceslau Brás
declarou guerra à Alemanha em 26 de outubro de 1917.
Não mandamos tropas para a Europa. Enviamos um corpo de voluntários
aviadores, uma missão médica e uma esquadra de seis navios a fim de cooperar com
os aliados”.
Extraído: “O Brasil na Primeira Guerra”, Editora Abril, São Paulo – 1971, p. 28.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A partir de 1918, a Alemanha foi perdendo fôlego, ficando isolada e sem
condições de sustentar a guerra. Em 11 de novembro de 1918, acabou assinando um
acordo de paz em situação bastante desvantajosa.
O TRATADO DE VERSALHES
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Bem, em linhas gerais, você estudou a situação mundial até o fim da
Primeira Guerra Mundial em 1918, já no século XX.
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O PARTIDO REPUBLICANO
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
ABOLICIONISMO OU ESCRAVISMO?
No período de 1871 a
1888, não faltaram leis para
mudar a situação de
escravidão no Brasil, uma
delas é a Lei Eusébio de
Queirós – 1850, que
acabava com a entrada de
escravos no Brasil.
Contribuiu para a
diminuição da mão-de-obra
nas lavouras.
Afinal, em razão das
precárias condições de vida
do negro, a sua mortalidade
superava, em muito, o
índice de natalidade. Praticamente, não havia aumento da população escrava no país.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Ao iniciar a década de 1860, diante da crescente redução do número de
escravos e da conseqüente elevação de seu preço, muitos latifundiários já optavam
pela utilização de mão-de-obra livre. Outros desfaziam de seus escravos, vendendo-
os para as produtivas lavouras do Sul cafeeiro.
Além disso, observavam-se cada vez mais vantagens econômicas do trabalho
livre, em virtude de sua maior produtividade e dos menores riscos de investimento.
Durante a Guerra do Paraguai, como você estudou no módulo 7, em troca da
liberdade, muitos negros lutaram ao lado dos brancos, mostrando grande bravura.
Internacionalmente, a imagem do Brasil era bastante negativa, pois, em 1870, era o
único país independente da América a manter a escravidão.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Era na verdade, uma lei conciliatória e paliativa, ou seja, uma lei para “tapar
o sol com a peneira”. Foi uma maneira de acalmar os ânimos dos oposicionistas.
Segundo essa lei, todos os escravos nascidos a partir daquela data seriam
considerados livres. Até 8 anos ficaria sob a autoridade do proprietário da mãe e, a
partir dessa idade, o senhor poderia libertá-lo (recebendo do governo uma
indenização em dinheiro) ou utilizar-se de seus serviços até 21 anos.
Note que a condição do negro não melhorou em nada. Se fosse libertado, para
onde iria uma criança de apenas 8 anos de idade, sem ter onde morar?
E se ficasse, continuaria escravo, pois seria o período em que o ser humano é
bastante produtivo, beneficiando apenas o senhor de escravos.
É importante você saber que a campanha abolicionista crescia em todas as
províncias. Muitos militantes promoviam fugas de escravos ou recolhiam em
esconderijos os negros fugitivos. Organizavam-se comissões a fim de recolher
fundos para comprar a liberdade dos cativos.
A oposição ao governo escravista aumentava e ganhava adeptos junto ao
clero, aos estudantes, aos militares, aos fazendeiros emancipacionistas e à imprensa.
O governo se encontrava mais uma vez diante da necessidade de promover nova
“concessão” aos oposicionistas.
Em 1884, o primeiro ministro Manuel Dantas apresentou um projeto de
emancipação (Projeto Dantas) ao Parlamento.
As discussões que se Lei do Sexagenário, artigo 10º, parágrafos 10
seguiram foram as mais violentas e 11.
que ocorreram e provocaram a queda
do Ministério. O projeto foi criticado §10. São libertos os escravos de 60
e recebeu modificações no Gabinete anos de idade, completos antes e
depois da data em entrar em
seguinte, sendo finalmente execução esta Lei. Ficando,
sancionado (aprovado) no governo porém, obrigados, a título de
do barão de Cotegipe, em 1885. indenização pela sua alforria, a
Era a Lei do Sexagenário. prestar serviço aos seus ex-
senhores pelo espaço de três
A lei ainda previa o pagamento de anos.
uma indenização aos proprietários de
escravos sexagenários pela sua §11. Os que forem maiores de 60 anos
libertação. e menores de 65, não estarão
Na verdade, a Lei do sujeitos aos serviços de
Sexagenário, também era para “tapar indenização, qualquer que seja o
tempo que tenham prestado com
o sol com a peneira”. relação ao prazo acima
O governo só estava declarado.
interessado em protelar por mais
tempo o problema do escravismo.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Afinal, o número de escravos que conseguia atingir 60 anos era insignificante
(os escravos, devido aos maus tratos, morriam antes de atingir essa idade) e a sua
libertação não prejudicaria a “vida nacional”.
No final de 1886, os abolicionistas conseguiram uma vitória significativa: foi
revogado dos estatutos brasileiros o uso do açoite como castigo para os escravos.
Sem a ameaça do castigo, o escravo sentia-se encorajado a lutar por sua liberdade
através de fugas e revoltas.
A partir de 1887, cresceu o número de escravos fugitivos, e muitas fazendas
viram-se, de repente, desprovidas de mão-de-obra. A polícia não conseguia atender a
todos os pedidos de busca feitos pelos fazendeiros.
O governo A situação do negro
convocou o Exército
para caçar os negros Com a Abolição, a alegria tomou conta dos
fugitivos; este por sua negros e dos abolicionistas. A festa prolongou-se por
vez manifestou-se vários dias. Mas rapidamente os negros tiveram de
contra essa enfrentar a dura realidade: tinham a liberdade, mas
determinação recusando não tinham terra, nem profissão, nem ajuda do
governo.
a condição de
“capitães-do-mato”, O governo era dos brancos, dos ricos fazendeiros
pois eram favoráveis a que queriam um novo Brasil em que os negros fossem
abolição. coisa do passado. Tinham dado a sua contribuição como
escravos. Agora deviam ser esquecidos.
No dia 11 de
maio de 1888, chegou O Brasil precisava torna-se um país de brancos,
ao Senado o projeto do como as nações européias: a França, a Inglaterra, a
primeiro-ministro João Alemanha, a Itália. Por isso o governo incentivou a
vinda de imigrantes europeus.
Alfredo, em que se
propunha a abolição Esse decreto de 1890, dizia que o Brasil estava
total e incondicional da aberto para a livre entrada de pessoas que tivessem
escravidão sem saúde e fossem capazes de trabalhar, “com exceção dos
nativos da Ásia e da África”. O governo brasileiro não
indenização.
queria saber de orientais e de negros.
Apesar das
violentas discussões, o AINDA HOJE, UM SÉCULO APÓS A
projeto acabou sendo ABOLIÇÃO, A MARGINALIDADE DOS NEGROS
aprovado. No dia 13 de É UM FATO: SÃO POUCOS OS QUE CHEGAM
maio ele foi assinado À UNIVERSIDADE.
pela princesa Isabel -
era a Lei Áurea, 1888.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
A Questão Abolicionista
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
Em 1872, porém, D. Vidal (bispo de Olinda) e D. Macedo (bispo de Belém),
resolveram seguir as ordens do papa Pio IX, punindo irmandades religiosas que
apoiavam os maçons. D. Pedro II, influenciado pela maçonaria interviu na questão,
solicitando aos bispos que suspendessem as punições. Como estes se recusaram a
obedecer ao imperador, foram condicionados a quatro anos de prisão.
Em 1875, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em
liberdade. Contudo, o império foi perdendo a simpatia da Igreja Católica.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
O governo imperial, percebendo, embora tardiamente, a difícil situação em
que se encontrava com o isolamento da monarquia, apresentou à Câmara dos
Deputados um programa de reformas políticas, contendo itens como:
• Liberdade de fé religiosa;
• Liberdade de ensino e seu aperfeiçoamento;
• Autonomia para as províncias;
• Mandato temporário para os Senadores.
Entretanto as reformas chegaram tarde demais. Em 15 de novembro de 1889,
o Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o comando das tropas revoltadas,
ocupando o quartel-general do Rio de Janeiro.
O gabinete imperial foi deposto. O Visconde de Ouro Preto (chefe do
gabinete) e Candido de Oliveira (ministro da justiça), foram presos. Na noite do dia
15, formou-se o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil.
D. Pedro II, que estava em Petrópolis durante esses acontecimentos, recebeu,
no dia seguinte, um respeitoso documento do novo governo, solicitando que se
retirasse do país juntamente com a sua família.
É importante você saber que a Proclamação da República em 15 de
novembro de 1889, foi preparada lentamente, através de mudanças sociais e
econômicas verificadas no Brasil desde 1850 como: instalação de ferrovias,
modernização na fabricação do açúcar, aumento de indústrias, expansão da
cafeicultura, adoção da mão-de-obra assalariada, imigração européia, formação do
mercado interno e surgimento de novos grupos sociais.
No entanto, essas transformações não haviam sido acompanhadas de
mudanças na estrutura política. Esta continuava excessivamente centralizada nas
mãos de um pequeno grupo.
Eram necessárias medidas que favorecessem os novos interesses:
descentralização político-administrativa, estímulo à imigração, incentivo à produção
industrial e melhora da estrutura urbana etc.
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Esses dois segmentos da sociedade representaram interesses diversos e
possuíam opiniões divergentes quanto aos objetivos do regime recém-instalado. Isso
explica a instabilidade política que marcou esse período, no qual foram
constantes os confrontos entre forças tão diferentes. Por outro lado, foi liquidada
qualquer ameaça da restauração da ordem monárquica.
A República da Espada, representou uma fase de transição entre o
centralismo do Império e o federalismo, que inspirou o movimento de 1889. Aos
poucos, e em meio a choques políticos e sociais, o novo regime foi se adaptando às
necessidades prementes (urgentes) do Brasil provocadas pelas transformações
sociais e econômicas ocorridas a partir de 1850.
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Quanto aos deveres dos ESTADOS:
eleger seu governante chamado na época de "Presidente do Estado";
eleger uma Assembléia Legislativa, que faria a Constituição Estadual;
organizar-se administrativamente, provendo as necessidades públicas;
aprovar seu Código Eleitoral e Judiciário;
organizar um corpo policial-militar e manter escolas.
O Estado também possuía liberdade para contrair empréstimos no Exterior,
decretar impostos sobre exportações, imóveis, indústrias, profissões e a transmissão
de propriedade. No entanto, essa autonomia não superava a força do governo
federal, que recebia as melhores fontes de renda pública, tinha o direito de mobilizar
os corpos policiais dos estados, controlar os selos e correios, taxar as importações,
manter e estabelecer a ordem interna e garantir a execução das leis federais.
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Sofria oposição da oligarquia cafeeira, que dispunha de diversos
representantes no Congresso Nacional.
Por não conseguir conviver politicamente com o Congresso nem com o
Senado e a Câmara Federal, estes procuraram restringir seus poderes presidenciais,
através de um projeto de lei, mas este foi vetado por Deodoro.
Porém, o Senado, ignorando a
ESTADO DE SÍTIO - Em estado
proibição de Deodoro, rediscutiu o
projeto, visando aprová-lo à revelia (sem de sítio, o presidente adquiria,
temporariamente, amplos poderes,
conhecimento) do presidente.
Irritado, o marechal ordenou o podendo governar através de
fechamento do Congresso e decretou o decretos-leis, suspender as
estado de sítio na Capital e em Niterói, a liberdades individuais, intervir nos
3 de novembro de 1891. Estados e fechar o Congresso e as
Com pouco mais de oito meses de Assembléias Estaduais.
governo constitucional, a República chegara a um impasse. Além da crise política, o
país ainda sofria uma profunda degeneração econômica. O golpe de 3 de novembro
de Deodoro desgastou sua imagem de chefe político, afastando-o dos grupos
militares que o apoiavam.
Vários militares, desiludidos com o autoritarismo do presidente, aprovavam a
idéia de derrubá-lo e substituí-lo por seu vice-presidente. O marechal Floriano
Peixoto, não se posicionava nem a favor nem contra Deodoro, mas também não
desestimulava a oposição.
Deodoro precisou ausentar-se do poder por motivo de saúde, e os seus
ministros expediram ordem de prisão contra militares e civis. Com isso, os militares
do Rio de Janeiro se rebelaram contra o governo, além disso, no Sul, aconteciam
vários conflitos locais, contribuindo para diminuir a autoridade de Deodoro.
Desgastado politicamente, Deodoro decidiu renunciar, passando o cargo para
o vice-presidente, Floriano Peixoto - em 20 de novembro de 1891.
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oposicionistas com energia. Floriano, não foi nada democrático: prendia quem fosse
contra seu sistema de governo, podia ser político, militar ou jornalista.
Quando o Congresso começou a questionar a legalidade da repressão, ele
respondeu: "vão discutindo, que eu vou prendendo".
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Segundo este, os adversários só poderiam bombardear-se sob as vistas da
esquadra estrangeira, a quem competia observar as provocações e as agressões,
evitando que a cidade fosse atingida.
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partidários entre os tradicionais estancieiros gaúchos. Os federalistas
eram apelidados de maragatos.
Como você leu na página anterior os federalistas uniram-se aos rebeldes da
Armada, no Rio de Janeiro, e ameaçavam atacar o Estado de São Paulo.
A Revolução Federalista transformou-se numa luta sangrenta, provocando a
morte de aproximadamente 10 mil pessoas.
Teve fim somente em 1895, já no governo de Prudente de Morais, sucessor
de Floriano Peixoto.
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Você verá que não. Foram muitos os problemas enfrentados durante o seu
governo, entre eles a Revolta de Canudos.
Com a burguesia cafeeira paulista no poder, terminava o período da
República da Espada e iniciava-se a República Oligárquica...
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
BIBLIOGRAFIA
. SCHMIDT, Mário. Nova História Crítica da América. São Paulo, Editora Nova
Geração, 1998.
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Editora Nova Geração, 1998.
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. PEDRO, Antonio e LIMA, Lizânias de S. História Geral – Compacto para o
Vestibular. Editora FTD, 1999.
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HISTÓRIA - ENSINO MÉDIO - APOSTILA 3
DIREÇÃO:
VOTORANTIM, 2003.
(Revisão 2007)
OBSERVAÇÃO
APOIO
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