A palavra Memorial, do latim memoriale, significa escrito em que alguém relata fatos
memoráveis 1. Substituiu, ou passou a ser utilizada, em lugar de Curriculum Vitae, que
significa conjunto de dados relativos ao preparo profissional e às atividades pregressas de
quem se candidata a um cargo ou posição.
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Escrever um Memorial é realizar uma obra literária, que exige que o tema seja o
próprio candidato; inquestionavelmente, sugere a imprudência da escrita autobiográfica.
Hoje, sabe-se do súbito prestígio do “ego historie” que vem se juntar ao argumento prático.
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O memorial deve ser escrito de acordo com as Normas para Julgamento de Títulos da
Faculdade ou Universidade, para o qual o mesmo se destina. Por exemplo, na Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os capítulos devem ser
classificados em quatro categorias principais, a saber: 1) Categoria A: Formação Acadêmica;
2) Categoria B: Produção Técnico-Científica; 3) Categoria C: Experiência Didático-
Pedagógica; 4)Categoria D: Outros Títulos.
É conveniente fazer uma apresentação específica de cada uma das quatro categorias
de títulos supramencionados, imediatamente anterior à descrição dos mesmos, bem como
apresentar uma sinopse dos referidos títulos.
O autor em seu memorial descritivo comenta: “Este foi o Memorial que escrevi, por
exigência do Edital deste concurso. O tempo que me levou a escrever este, parecia estimular
esperanças excessivas. Comungo com a opinião de Fernando de Azevedo (In: A Cultura
Brasileira: Introdução ao Estudo da Cultura do Brasil. 6.ª ed. Rio de Janeiro, Editora
da UFRJ; Brasília Editora da UNB, 1996. 940p.), quando escreveu”:
“ Dizia-me certa vez , um amigo que o brasileiro não só não gosta de trabalhar,
como se irrita quando outros trabalham, por ver na atividade alheia, uma
advertência impertinente à própria indolência. O que eu observara e mais uma
vez se confirmou é exatamente o contrário. Se há, realmente, poucos que nos
estimulam, quase todos esperam demais de quem trabalha”.
“...Mas, além do risco, apontado por Horácio, de, à força de ser breve, cair na
obscuridade (“brevis esse laboro, obscurus fio”) não me seria possível, dada a
sua amplitude, abranger-lhe a matéria, se a reduzisse a menores proporções.
Ainda assim, não me parece ter tocado senão em pontos essenciais, e mais
momentosos...”.
Mas, para finalizar com pouco mais de reflexão e brilhantismo este tema, torna-se
necessária à citação de um texto do Professor Doutor Aloysio Veiga de Paula (saudoso e
ilustre mestre da medicina brasileira, Membro Titular e Ex-Orador Oficial da Academia
Nacional de Medicina), abaixo mencionado:
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Em sua trajetória possui consciência do que o que foi realizado até aqui, foi com
devoção irrestrita, o que tem por fazer também deverá ser feito com redobrado empenho,
sincronizando passado, presente e futuro, na perspectiva de nova e plena realização. A esse
respeito, bem significativos são os versos do ilustre poeta lusitano Fernando Pessoa (Lisboa,
Portugal, 1888 - Lisboa, Portugal, 1935) 6:
Crer que a visão do amanhã na vida humana pode ser prevista pelo lastro do seu
passado e pela esperança do presente 7.
Ao encerrar o prólogo ou prefácio é importante dizer que espera ter uma leitura
benevolente do seu memorial acadêmico. Sentiria-se ferido na própria essência de sua
personalidade, se estas considerações fossem vistas como presunção ou jactância.
Indiscutivelmente, é o relevo da ocasião 7, que faz referir-se, de modo mais completo
possível, aos acontecimentos que pontilharam seu percurso e percalços.
8
Werner Wilhelm JAEGER (1888-1961) em sua excelente obra de investigação histórica
sobre a formação do homem grego, fez o seguinte comentário:
De modo similar à obra Minha Formação, do notável Joaquim Nabuco (Recife- PE,
1849 - Washington, EUA, 1910) 9, escrita aos cinqüenta anos de idade, afirma que o seu
Memorial foi escrito com mais complacência do que rigor crítico, todavia, objetivando
sugestionar a Comissão Julgadora, a elite e o público mais culto de seu País.
... “Infeliz de quem entre nós não tem outro talento ou outro gosto senão o de abater!”.
No balanço global, acredita que teve uma vida produtiva. Construiu ao longo dos anos
uma carreira refutável como muito boa para um médico e professor universitário, que não
contou com apadrinhamento ou proteção para se fazer. No seu dia-a-dia sempre batalhou
muito, andando as suas próprias pernas.
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“A vida é combate
Que aos fracos abate
Aos fortes, aos bravos
Só pode exaltar”.
Em todas suas atividades deixou marca profunda, vigor e brilho. Prefiro, porém, que
seja visto na sua simplicidade natural, sem artifício de nenhuma espécie. É ele mesmo a
matéria deste memorial descritivo.
Está aí, leitor e/ou examinador, parte de sua vida, títulos e obra, um memorial de
boa-fé.
NOTAS
1
Ferreira, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1.ª ed. 14.ª
Reimpressão. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1975. 1499p. p.910. Para Koogan
& Houaiss, Memorial significa “Exposição escrita, dirigida a uma autoridade pública, na
qual se pleiteia alguma coisa./ Obra literária na qual o autor (ou um dos personagens)
evoca fatos a que tenha assistido ou que tenha tomado parte; memórias : o “Memorial de
Aires”, de Machado de Assis” (In: Koogan, Abrahão & Houaiss, Antônio. Enciclopédia e
Dicionário Ilustrado. Rio de Janeiro: Edições Delta, 1997. 1730p. p 477.
2
Robb, Graham. Introdução. In: Robb, Graham. Victor Hugo: Uma Biografia. Trad. de
Alda Porto. Rio de Janeiro, São Paulo: Ed. Record, 1999. p.7-12.
3
Gaukroger, Stephen. Descartes: Uma Biografia Intelectual. Trad. de Vera Ribeiro. Rio
de Janeiro: Ed. UERJ: Contraponto, 1999. 593p.
4
Gusdorf, Georges. Condição e Limites da Autobiografia. 1956. Apud Hollanda, Heloísa
Buarque de. Memorial. Apresentado ao Departamento de Teoria da Comunicação da
Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para Concurso de
Provimento do Cargo de Professor Titular no Setor de Teoria Crítica da Cultura. Rio de
Janeiro: UFRJ, 1993.
6
In: Odes (1946), de Ricardo Reis (heterônimo), poeta clássico e pagão, horaciano, de
métrica rigorosa e enunciados perfeitos.
7
O candidato conhece e fez reflexões sobre os ensinamentos bíblicos (Provérbios de
Salomão, filho de Davi, rei de Israel). O Provérbio 3 informa textualmente “...Não te
consideres sábio a teus próprios olhos...” . O Livro dos Provérbios é, talvez, o mais
representativo do gênero sapiencial, se são atendidos dois aspectos característicos deste
gênero - a forma e o tema dos provérbios, que resumem, em frases soltas, o
conhecimento popular e a experiência da vida -- e ainda ao duplo sentido da SABEDORIA,
humana e divina. “...É o Senhor que dá a sabedoria, de sua boca procedem a ciência e o
discernimento...” (Provérbio 2-6). In: Biblia de Jerusalén.
8
Jaeger, Werner Wilhelm (1888 - 1961). A Nobreza e Arete. In: Jaeger, Werner Wilhelm.
Paidéia: A Formação do Homem Grego. 3.ª ed. Trad. de Arthur M. Pereira; adaptação
para edição brasileira Mônica Stabel; revisão do texto grego Gilson César Castro de Souza.
São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 23-36.
9
Nabuco, Joaquim. Minha Formação. Introdução de Gilberto Freire. Brasília: Senado
Federal, 1988. 248p. (Coleção biblioteca básica brasileira; 2). É autobiografia tão
psicológica como sociologicamente valiosa, além de notável pela sua qualidade literária,
no dizer do escritor e sociólogo pernambucano Gilberto de Melo Freire (Recife - PE, 1900 -
Recife - PE, 1987). O autor tem afeição por esse gênero de literatura: autobiografias,
biografias, confissões, memórias, diários e pela História da Medicina, da Ciência e da
Filosofia. A história do mundo é a história dos grandes homens (Carlyle, 1795 -1881,
Historiador inglês). Conviveu com ilustres homens do passado, através da leitura. Possui
bases humanísticas e filosóficas.
10
Este filósofo, oriundo de uma família de comerciantes de vinho na cidade de Bordeaux -
França, publicou “ESSAIS” (Ensaios), “Théologie naturelle” (Teologia Natural). Teve sua
obra enaltecida por livres-pensadores e foi duramente criticado por BOSSUET e
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MALEBRANCHE.
11
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo. Seu pai era o senador e conselheiro José
Tomás NABUCO DE ARAÚJO (Salvador - BA, 1813 - Rio de Janeiro - RJ, 1878), vulto de
relevo do Partido Liberal em meados do século XIX e maior influência em sua vida, cuja
imagem perpetuou na biografia “Um Estadista do Império”. Graduou-se em Direito na
Faculdade de Direito do Recife (1870). Foi o Primeiro Secretário perpétuo da Academia
Brasileira de Letras. Produziu vasta correspondência e panfletos políticos. Suas obras
foram: Camões e os Lusíadas (1872); O Abolicionismo (1884); Balmaceda (1895); A
Intervenção Estrangeira durante a Revolta de 1893 (1896); Um Estadista do Império,
Nabuco de Araújo, sua vida, suas opiniões, sua época (1897 - 1898); Minha Formação
(1900), sua principal obra literária, considerada a melhor autobiografia brasileira; O
Direito do Brasil (1902 - 1903); Discursos Parlamentares (1949 - obra póstuma). In: Nova
Enciclopédia Barsa. Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro - São Paulo, Encyclopaedia
Britannica do Brasil, 1997. v.10. p. 235-6.
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