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Direito Internacional Público I

Introdução

1. Direito Internacional Público

1.1. Noção
O Direito Internacional Público é o conjunto de princípios e regras que regulam as relações
internacionais.
O Direito Internacional Público é o conjunto de regras e princípios que regulam a existência e o
funcionamento da comunidade internacional.

Porquê da classificação Direito Internacional Público ao invés de Direito Internacional?


A maioria da Doutrina prefere a denominação DIP. Maria Luísa Duarte está de acordo com a opinião
doutrinária maioritária. Esta denominação permite evitar confusões entre o Direito Internacional Público e
o Direito Internacional Privado.

Direito Internacional Privado: consiste em decidir que Direito (de que Estado) é aplicável em casos
que envolvam agentes de Estados diferentes em relações jurídicas privadas.

Porque é que o DIP é o conjunto de regras e princípios que regulam a existência e o funcionamento
da comunidade internacional e não da sociedade internacional?
Alguns autores defendem a referência a sociedade internacional ao invés de comunidade
internacional.za
aTönnies (autor do século XIX) estudou os conceitos de comunidade e de sociedade. O seu estudo
influenciou a concepção destes conceitos no Direito. A distinção entre comunidade e sociedade migrou
para o DIP através da Escola de Veneza. Tönnies procurou o critério explicativo da organização de
agregados humanos (como família, escola, fábrica, Estado).
Tönnies identifica dois tipos de agregados humanos:
- Agregados humanos de tipo societário ou associativo;
- Agregados humanos de tipo comunitário.
Nos agregados humanos de tipo societário, os elementos que compõem esse agregado
permanecem separados apesar de todas as semelhanças que os unem. Há uma representação alargada
de interesses comuns e os seus elementos podem concertar esforços. Porém, prezam a sua liberdade e
individualidade.
Nos agregados humanos de tipo comunitário, os elementos permanecem unidos apesar das
dissemelhanças que os separam. Isto deve-se à existência de um poder exercido com autoridade. Há
uma limitação da liberdade individual e existe uma estrutura organizada e hierarquizada.

Direito Internacional Público: que tipo de agregado humano: societário ou comunitário?


No DIP há uma coordenação de soberanias ao invés de uma organização limitadora de soberanias
em prol de interesses comuns.

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Maria Luísa Duarte afirma que a resposta a esta questão não é definitiva nem unívoca, pois o DIP
não é uma realidade homogénea (por exemplo, o Direito Internacional dos Conflitos Armados é um
modelo de tipo societário, enquanto que o Direito Internacional dos Direitos do Homem é um modelo de
tipo comunitário. Quanto ao Direito Internacional Penal caminha-se para um modelo de tipo comunitário.)
Assim sendo, porquê a adopção da expressão comunidade internacional?
- Razão prática: é a expressão mais usada.
- Razão programática: esperança de se alcançar um modelo de tipo comunitário no DIP.

1.2. A relação entre o DIP e a Teoria das Relações Internacionais

O DIP e a Teoria Relações Internacionais têm o mesmo objecto, ou seja, o plano internacional.
Porém, enquanto o DIP está no plano do dever ser, a Teoria das Relações Internacionais consiste na
compreensão das relações internacionais e na procura das regras do seu funcionamento, ou seja,
consiste no estudo de regras que permitam compreender o passado, o presente e prever o futuro.

2. Formação e evolução histórica


3. Direito Internacional clássico
4.
5. Sendo nos séculos. XV, XVI e XVII que se encontram as origens directas do Dto. Internacional
moderno e é nos séculos. XVIII e XIX que ele se desenvolve e ganha importância crescente.
Sucedem-se três fases:
6. - A primeira, de primórdios, abrange os tempos anteriores à paz de Vestefália (1648). Entre o
séc. XV a 1648 sucedem-se grandes eventos históricos: a quebra do poder do imperador do Sacro-
Império, os descobrimentos, o Renascimento, A reforma a Contra-reforma.
7. Serão os descobrimentos a trazer problemas que se reportam, à delimitação da acção e das esferas
das potências europeias em expansão (aqui entra a famosa contraposição entre Hugo Grócio e Frei
Serafim de Freitas – Mare Clausum Vs. Mare Liberum).
8. - A segunda decorre até à Rev. Francesa e Século XVIII – os tratados de Vestafália reconhecem o
princípio da soberania dos Estados como princípio de independência dos Estados europeus entre si
e de exclusão de qualquer poder que lhes seja superior. Multiplicam-se as relações comerciais,
celebram-se tratados e vão surgindo normas consuetudinárias em áreas vitais (limites do poder do
Estado, Territórios, representações diplomáticas).
9. Afirma-se o Dto. Das gentes com crescente alcance e vai-se projectando na vida dos Estados.
10. - A terceira começa nessa altura e termina na 1.ª guerra mundial – as rev. Francesa e americana
marcam uma nova fase, coincidente com o liberalismo burguês, com o nacionalismo romântico e
com o apogeu do poderio europeu.. introduzem-se noções de soberania popular (o Dto.
Internacional passa a ser concebido como o Dto. Das relações entre os povos, livres e iguais). A
Santa aliança é a expressa da nova ordem de consenso que emerge através de conferências
diplomáticas. Emergem os EUA e Japão, aparecem uniões administrativas internacionais, e cria-se
um Dto. Humanitário de guerra.

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11.
12. . Direito internacional contemporâneo
13.
14. Divide-se em duas fases:
15. - Uma primeira até 1939, até a 2.ª guerra Mundial – o desmembramento dos chamados impérios
centrais levam à reafirmação dos princípios da autodeterminação dos povos e das nacionalidade,
separadamente ou conjugados. Novos estados emergem. Desenham-se movimentos anticoloniais
fora da Europa.
16. Em anexo ao Tratado de Versalhes é criada a Sociedade das nações (embora não confinada a
objectivos de segurança, são eles que avultam, sendo ainda os países europeus que dominam a
Sociedade das Nações).
17. Aparecimento da Organização Internacional de Trabalho a qual irá desempenhar uma função
decisiva no progresso social, através das convenções e das recomendações que elaborará a partir
da sua assembleia, a Conferência Internacional do Trabalho.
18. Aparecimento de um Tribunal Permanente de Justiça Internacional – instância jurisdicional de
solução de litígios internacionais de harmonia com critérios estritamente jurídicos.
19. - A segunda, após 1945, sob a égide das Nações Unidas. Esta foi criada a pensar num sistema
mundial mais dinâmico. Tem os seguintes aspectos:
20. - A elevação da cooperação económica e social – art. 1.º, 33.º e 55.º da Carta.
21. - O empenho no progresso político, no sentido da autodeterminação e da independência – art. 73.º e
75.º.
22. - A proibição da guerra – arts. 2.º, n.º 3, 4 e 5, e 51.º.
23. - Conjunto complexos de órgãos.
24. A par das N.U e da organização internacional do trabalho constituíram-se outras organizações
(organização das N.U. para a educação, a ciência, e a cultura).
25. Criação numerosas organizações de âmbito continental ou subcontinental, com objectivos políticos,
militares, económicos e culturais.
26.
27. O aparecimento dos novos Estados dir-se-ia pôr em causa algumas das bases do Dto. Internacional.
Para certas correntes de doutrina teria mesmo de se dar uma ruptura com os princípios e regras
anteriores, produto do domínio de países imperialistas e exploradores, à semelhança do que
ocorreria como Dto. Interno, também haveria um Dto. Internacional e o desenvolvimento. Porém,
ultrapassado apriorismos ideológicos, verificar-se-ia que o Dto. Internacional conseguiria adaptar-se
às transformações, revelando-se dotado mesmo de maior capacidade de adaptação do que o Dto.
Interno, em vez de ser mera superestrutura dependente de quaisquer interesses.
28. Entre os aspectos mais cadentes da actualidade internacional podem ser destacadas:
29. - A globalização económica
30. - A globalização da comunicação social e cultura.
31. - O agravamento das desigualdades
32. - Os extensos movimentos de pessoas
33. - O exacerbamento dos contrastes nacionais, rácicos, religiosos e mundiais.
34. - Os problemas do clima e da preservação do ambiente e dos recursos naturais.

No ano de 3010 AC foi celebrado um tratado com o objectivo de estabelecer fronteiras. Há quem
se reporte a esse momento como o início do DIP. Maria Luísa Duarte discorda, pois nessa altura não

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existia aquilo que é hoje o DIP; um conjunto de regras e princípios que regulam a comunidade
internacional. O DIP nasce com a concepção de Estado em sentido moderno de Jean Bodin, nos fins
do século XV, início do século XVI. O Estado é caracterizado como tendo poder supremo, como
soberano (independente no plano internacional). Assim, os Estados são iguais e independentes.

Escolas doutrinárias (como manifestação política da época):


- Escola Espanhola:
- Francisco de la Vitória
- Francisco Suarez

- Escola Holandesa:
- Hugo Grotius foi o fundador do Direito Humanitário. Escreveu “Do Direito da Paz, do
Direito da Guerra”, em 1625. Defendeu a posição do mare liberum, em 1609.

- Escola Portuguesa:
- Frei Serafim de Freitas redigiu, em 1625, “Pelo justo império luso-asiático”, no qual
defendia o mare clausum. Foi o fundador do DIP em Portugal.

Com as Descobertas, as potências europeias entram em conflito para deter mais terras além-
mar. Assim, torna-se necessário regular as relações entre esses Estados.
Fases do DIP:
- DIP Clássico: inicia-se no século XV-XVI e termina no século XX, com o fim da I Guerra Mundial e
a assinatura do Tratado de Versalhes (1919).
- DIP Contemporâneo: inicia-se m 1919 até hoje.
- Há quem defenda uma terceira fase, a fase do DIP Pós-Moderno, mas há divergências quanto ao
momento inicial desta fase. Uns apontam para a queda do muro de Berlim, em 1989; outros indicam os
atentados do 11 de Setembro de 2001; outros afirmam o colapso económico de Setembro de 2008.

As guerras são o motor da evolução do DIP. O epílogo das guerras permite a reavaliação do DIP.

I Fase
Direito Internacional Público
Clássico
- século XV/XVI até 1919 -

Guerra dos 30 Anos: guerra entre credos religiosos. Durou até


1648, em que se assinou a Paz de Vestefália.
A Paz de Vestefália assegurou:
- O princípio da igualdade entre o catolicismo, o luteranismo e o
calvinismo;
- O princípio da igualdade entre os Estados;
- A ideia da não ingerência nos assuntos internos.

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Congresso de Viena (1814-
1815) marcou o fim das
Guerras Napoleónicas. Com
o Congresso de Viena
promoveu-se:
- O reconhecimento do
Direito das Nacionalidades;
- O aprofundamento das
relações internacionais. As
relações bilaterais clássicas
estavam ultrapassadas.
Tornava-se necessário
encontrar novos mecanismos
de relação entre os Estados
que assentassem no
respeito, de modo a prevenir Epílogo da I Guerra Mundial. Tratado de Versalhes (1919)
as guerras. promoveu:
- O Concerto Europeu: - A evolução do DIP.
consultas periódicas entre os - DIP de base convencional e não costumeiro. Ou seja, o DIP
Estados, as potências baseia-se em convenções internacionais.
europeias.
- O multilateralismo, através Surgem as verdadeiras organizações internacionais dotadas de
da assinatura de tratados. personalidade jurídica distinta dos Estados, como por exemplo a
(Comissão Fluvial do Reno, Organização Internacional do Trabalho.
1814, primeira organização
internacional, mas em O DIP pretende regular o maior número de matérias possível. Hoje,
moldes distintos dos actuais) potencialmente, todas as matérias são susceptíveis de ser
internacionalizadas e tratadas em convenções internacionais. O
DIP é uma normatividade expansiva, que alastra a todas as
matérias. Isso pode trazer consequências negativas, como por
exemplo a sobreposição de convenções ao nível do Direito
II Fase Humanitário.
Direito Internacional Público
Contemporâneo Papel do indivíduo no DIP. Na I Fase só os Estados eram sujeitos
- 1919 até hoje - de DIP. Na II Fase surgem, primeiro, as organizações
internacionais dotadas de personalidade jurídica e, em seguida, o
indivíduo começa a ser encarado como sujeito de DIP, pois tem
direitos e deveres.
Ou seja, houve uma institucionalização das organizações
internacionais e das relações internacionais, surgindo as
organizações internacionais como elementos estruturantes da
política internacional. Houve, também, uma subjectivização do
indivíduo ou uma internacionalização da vida jurídica (não há
matérias imunes à regulação internacional).

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Crises/Abalos ao modelo do DIP:
- 1989: Queda do Muro de Berlim
- 11 de Setembro de 2001
- Setembro de 2008: crise económica

As crises podem, num primeiro momento, abalar o DIP e, num segundo momento, reforçá-lo,
pois mudam as regras. São as normas que melhor se adaptam às crises que substituem as anteriores.
As normas violadas:
- Ou têm força sistémica (do Sistema) e mantêm-se;
- Ou não têm efectividade e são substituídas pelas normas contrárias (costume contra legem).

Paradigma Clássico: DIP refém dos Estados.


Novo Paradigma: DIP baseado em valores e alforriado da vontade dos Estados.
Será realista pensar no DIP distanciado ou contra os Estados? Maria Luísa Duarte julga que tal
não é possível. Os Estados são peças fundamentais, são elementos estruturantes da comunidade
internacional. Sem Estados há anarquia. Os Estados continuam a ser os elementos estruturantes da
comunidade internacional. Só os Estados permitem a estabilidade necessária ao respeito do DIP.
Francis Fukuyama (A Construção dos Estados; Failed States) julgou que com a Queda do Muro
de Berlim tinham acabado as divergências ideológicas. No entanto, assiste-se a um outro paradigma das
diferenças: já não tanto das diferenças ideológicas mas das diferenças religiosas. Fukuyama refere os
Estados fortes como oposição aos Estados fracos (Estados de Direito).

Papel dos Estados: maior ou menor centralidade do Estado:


- Até 1919, os Estados eram os únicos sujeitos de DIP, grande importância do Estado.
- Pós 1919, houve uma multiplicação dos sujeitos de DIP, como as organizações internacionais,
as ONG’s (organizações não governamentais). Os Estados competem com outros poderes na vida
internacional (competição ideológica).
Contudo, o Dt. Internacional surge como expressão das soberanias dos Estados, a partir dos seus
interesses e vontades; ainda hoje não se pode negar o peso decisivo que os Estados têm dentro da
comunidade internacional. Para além disso existem, não uma, mas várias comunidades
internacionais.

O prof. Jorge junta os dois últimos critérios. O Dt. Internacional compreende processos de formação
específicos; e singulariza-se pelo papel mais extenso do costume, pela ausência de lei como acto
normativo, autoritário e centralizado e pelo significado peculiar de factores convencionais. Mas esses
procedimentos não valem nem se explicam por si mesmos; derivam, naturalmente, das condições
próprias e mutáveis da vida internacional, dos modos e das circunstâncias, como nela se inscrevem os
Estados e os demais sujeitos, bem como das conexões entre eles e as pessoas físicas.
Tendo começado como Dt. das relações recíprocas dos estados ele foi-as estruturando em termos
permanentes através de meios organizativos a se e de formas avançadas de institucionalização.
Ele liga-se a uma dinâmica feita tanto de entidades colectivas como de pessoas singulares que não acaba
nas fronteiras políticas, antes pressupondo a inserção num plano mais vasto e mais complexo; patenteia
a existência de círculos alargados de comunidades jurídicas para além da comunidade estatal.

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35. A questão existencial do DIP: fundamento e juridicidade

Será que o DIP existe? Problema das constantes violações de normas de DIP, como por exemplo a
existência da prisão de Guantanamo, que desrespeita a Convenção de Genebra; as violações dos direitos
do homem, que desrespeitam a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Porém, a violação do DIP
não implica a sua inexistência; implica, pelo contrário, a necessidade da existência e adaptação do DIP à
realidade.

O DIP é verdadeiro Direito? Ou é um conjunto de regras de ética internacional? Será antes soft
law? O DIP é Direito! Que tipo de Direito?
1. O DIP é direito imperfeito (lex imperfecta), pois carece de aplicação coactiva em algumas
situações. Problema da coercibilidade e efectividade do DIP.
2. O DIP tem características jurídicas próprias para ser Direito. O DIP não é um ramo do Direito.
O DIP é um ordenamento jurídico autónomo, tal como o Direito Português e o Direito da União Europeia o
são. O DIP tem fontes próprias, tem características jurídicas específicas. O DIP não é um ramo, é uma
outra árvore, cujas características não se confundem com as estaduais. Até no ordenamento jurídico
Português há regras que carecem de aplicação coactiva. Apesar dessas normas serem imperativas, não
há aplicação coactiva das mesmas na iminência da sua violação. É isso que também se passa no DIP. A
coercibilidade não é uma característica obrigatória das normas jurídicas.

Qual é o fundamento do DIP? O DIP é muito frágil/vulnerável. Porque é que os Estados


cumprem o DIP? O que é que pode demover potenciais violadores?
Maria Luísa Duarte defende a posição neo-contratualista. O DIP deve ser respeitado pelos seus
sujeitos não porque eles querem mas porque devem.
Qual o fundamento desse dever? Teses contratualistas: Rousseau, Kant. Imperativo categórico:
regra é um fim em si mesmo, não depende das conveniências dos intervenientes. A relação do DIP com
os seus sujeitos é de imperatividade absoluta e não de conveniência em função de interesses.
Qual seria a alternativa a este fundamento do DIP? A existência do Estado Natureza,
caracterizado pelo caos e pela guerra (Hobbes).
A passagem do Estado Natureza ao Estado Sociedade implica cedências. Se os Estados
querem coabitar numa comunidade internacional têm de respeitar sempre o DIP, e não apenas quando
lhes convém (pois assim cair-se-ia no Estado Natureza).
Os Estados não têm alternativa, a não ser a de garantir o respeito do DIP (contrato que convém
respeitar sempre, que se impõe para evitar o caos).
Há quem afirme que o DIP não tem legislador, juiz nem polícia. No entanto, tal não é verdade.
Há formas de criar Direito, as fontes do DIP. Há formas/mecanismos de regular o cumprimento do DIP.
Problema das polícias autoproclamadas, problema da legitimação do polícia. De todo o modo, apesar
desses problemas há um polícia, os EUA.
do processo. Os Estados têm de reconhecer a autoridade e legitimidade do tribunal em causa, como por
exemplo do Tribunal Internacional de Justiça. O Tribunal Penal Internacional já pode julgar indivíduos
cujos Estados não aceitem a autoridade dos tribunais internacionais. (Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem: os Estados europeus (47, incluindo a Rússia e a Turquia) submetem-se à jurisdição desse
tribunal).

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Hobbes – negava-lhe carácter jurídico.

O positivismo tende a definir o Direito através da estadualidade e da coercibilidade; e dele não se fasta.
Não havendo na ordem internacional «nem legislador, nem juiz, nem policia o direito internacional ou não
seria verdadeiro direito ou , a sê-lo, não passaria de um direito estatal externo.

No séc. XX prevalecem na doutrina as posições não voluntaristas, as teses que explicam a


obrigatoriedade jurídica ou a necessidade de cumprimento das normas de Direito Internacional à margem
ou para além da vontade estatal.
Entre estas teses:
- Teses normativistas – reconduzem o sistema de Direito internacional não à vontade, mas a uma norma.
- Teses solidarista – fundamentam o Direito internacional na solidariedade entre os indivíduos.
- Teses institucionalistas –
- Teses jusnaturalistas – assenta em valores suprapositivos, em critérios éticos de obrigatoriedade.

O Direito Internacional faz parte do universo jurídico o mesmo fundamento e a mesma razão de
ser do restante Direito. Apresentando, por certo, características específicas, nem por isso deixa de conter
aquilo que de essencial assinala o Direito: a estrutura normativa necessária duma sociedade ou de certo
tipo de convivência entre as pessoas humanas.
Existe uma pluralidade de ordenamentos em cada um, o Direito assume expressões peculiares,
dependentes de factores culturais, políticos e económicos.
Por que motivo se obedece a qualquer norma jurídica? Para além da reciprocidade de
interesses, para além do temor ou não de sanções, o que determina a obediência é o sentido racional e
ético, mais ou menos conscientemente assumido, da pertença a um grupo, a uma comunidade, a um
sistema de relações. O destinatário da norma é livre de cumprir ou não, mas a norma que se lhe dirige
não tem por base a sua vontade; funda-se em princípios objectivos de ordem que o transcendem ou num
sentido de bem comum.

Quanto à lei, ela não pode ser decretada em Direito Internacional, seguro é que há sucedâneos
ou aproximações: o tratado multilateral geral e, em certos casos, a decisão de organização internacional
ou de entidade afim.
Quanto a tribunais, afora os arbitrais, refiram-se o TIJ, o Tribunal Europeu e Interamericano de
Direitos do Homem, os tribunais de administrativos da ONU, o Tribunal Internacional do direito do Mar.

Apenas de polícia e exército permanente não dispõe a comunidade internacional. Mas a carta
das Nações Unidas prevê (no capítulo VII) medidas coercivas, e até sanções de carácter militar (arts. 42.º
e 43.º)
CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE INTERNACIONAL
A sociedade internacional é:
UNIVERSAL: porque abrange todos os entes do globo terrestre;
PARITÁRIA: porque há uma igualdade jurídica; é ABERTA, o que significa que qualquer ente, ao reunir
determinados elementos, pode nela ingressar, sem que haja necessidade de que os membros já
existentes se manifestem sobre o ingresso;

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ABERTA: significa que qualquer ente, ao reunir determinados elementos poderá ingressar, sem que haja
necessidade de aprovação dos membros já existentes. DESCENTRALIZADA: porque não possui poderes
executivo, legislativo e judiciário.
ORIGINÁRIA: porque não se fundamenta em outro ordenamento jurídico, a não ser no direito natural.
- A sociedade internacional é composta por entes que possuem direitos e deveres outorgados pela ordem
jurídica internacional. São eles os Estados, as Coletividades Interestatais, as Coletividades Não Estatais e
o Indivíduo.
Entretanto, ao lado desses entes atuam diversas forças que acabam por influenciar a sociedade
internacional. São elas:
FORÇAS ECONÔMICAS: onde, devido aos acordos comerciais, todos os problemas de natureza
econômica só podem ser resolvidos através de uma cooperação interestatal.
FORÇAS RELIGIOSAS: que com o passar da história tiveram uma influência decisiva no DI, vez que o
catolicismo angariou uma série de institutos, tais como, a Paz de Deus, a Trégua de Deus, etc.
FORÇAS CULTURAIS: se manifestam pela realização de acordos culturais entre os Estados, na criação
de novos organismos internacionais destinados à cultura e na aproximação entre os Estados.
FORÇAS POLÍTICAS: onde claramente se vê a luta pelo poder e, pelo aumento do território dos Estados.
(Busca da hegemonia da ordem internacional
BASES SOCIOLÓGICAS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

O DIP, para existir, pressupõe a existência de determinados fatores que os doutrinadores denominam de
bases sociológicas, que podem ser assim resumidas:
PLURALIDADE DE ESTADOS SOBERANOS: devem existir vários Estados soberanos, porque é o DIP
que regula as relações entre eles. Ressalve-se, entretanto, que um Estado é soberano dentro de suas
fronteiras, mas fora delas todos os Estados se equivalem.
COMÉRCIO INTERNACIONAL: havendo comércio entre vários Estados são necessárias normas que
regulem as relações existentes.
PRINCÍPIOS JURÍDICOS COINCIDENTES: ou seja, comuns aos Estados (pacta sunt servanda) - se não
existirem valores comuns, não poderá existir o DIP.
Diz respeito à possibilidade de conflito entre uma norma internacional e uma norma interna. Quando isto
ocorre, qual das duas normas vai prevalecer? O Estado, por exemplo, assina um tratado que entra em
conflito com norma interna anterior.
Algumas constituições têm contemplado as relações entre o Direito Internacional e o Direito Interno. Vêm
sofrendo um processo de internacionalização. A nossa, infelizmente, é omissa quanto à matéria.
Normalmente cabe ao Poder Judiciário decidir, que o pode fazer até com primado do Direito Interno.
Existem três correntes sobre o assunto:1- Dualismo
- Monismo com primazia do direito Interno
- Monismo com primazia do Direito Internacional
O Dualismo é uma das 3 correntes que estudam as relações que o Direito Internacional e o Direito Interno
guardam entre si.
São elas:
- Dualismo
- Monismo com Primazia do Direito Internacional
Monismo com Primazia do Direito Interno
No momento em que ocorre um conflito, perguntamo-nos qual será a norma que deverá prevalecer.
Muitos autores, como Ross, consideram o assunto uma mera "disputa de palavras" e negam sua
importância.
O primeiro estudo sistemático da matéria foi feito por HENRICH TRIEPEL, em 1899.
Parte ele do princípio de que não existe possível conflito entre essas duas normas. Declara sua
independência dizendo não existir entre elas nenhuma área comum e que lhes é possível apresentarem-
se como tangentes, mas nunca como secantes.
A Teoria de Triepel baseia-se nas diferenças entre as duas normas, interna e internacional e que
tentaremos aqui resumir:
A primeira diferença: na ordem internacional o Estado é o único sujeito de Direito, enquanto na ordem
interna, acrescenta-se também o indivíduo como sujeito de direito.
A segunda diferença: refere-se às fontes nas duas ordens jurídicas. Enquanto o Direito Interno é o
resultado da vontade de um só Estado, o DI tem como fonte a vontade coletiva dos Estados.
A terceira diferença: está na estrutura das duas ordens jurídicas. Na ordem internacional a estrutura está
baseada na coordenação, enquanto na ordem interna, baseia-se na subordinação.
Assim, esta concepção nos conduz à denominada TEORIA DA INCORPORAÇÃO, ou seja, para que uma
norma internacional seja aplicada no âmbito do Estado, é necessário que se faça primeiro sua
"transformação" em direito interno, incorporando-a em seu sistema jurídico.
O Dualismo com isso, nega o conflito, porque vai utilizar a norma mais recente.
O Direito Internacional não vai atingir diretamente a ordem jurídica interna, pois na medida que passa a
ser uma norma interna, pode ser mudada por outra norma interna.
A Teoria Dualista é passível de uma série de críticas, tais como:

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1ª) Nega a condição da personalidade internacional do indivíduo, na medida que só a aceita na ordem
interna. Entretanto, o homem também é sujeito internacional, uma vez que tem direitos e deveres
outorgados diretamente pela ordem internacional.
2ª) Sendo duas ordens independentes, como pode o Estado aparecer nas duas?
3ª) O direito não é produto da vontade nem de um Estado, nem de vários Estados. O voluntarioso é
insuficiente para explicar a obrigatoriedade do costume internacional.
4ª) KELSEN observa que coordenar é subordinar a uma terceira ordem. Assim, a diferença entre as duas
normas não é de natureza, mas de estrutura, ou seja, uma simples "diferença de grau".
TRIEPEL por sua vez dizia que são ordens independentes, que nada têm em comum. Mas, afirmamos, o
Tratado não fica pairando na ordem internacional. Ele vai ser aplicado na ordem interna.
MONISMO COM PRIMAZIA DO DIREITO INTERNO
O Monismo com Primazia do Direito Interno foi adotado por autores nazistas e algumas vezes por autores
soviéticos.
Essa Teoria parte do princípio que os Estados são absolutamente soberanos. Não estão sujeitos a
nenhum sistema jurídico que não tenha emanado de sua própria vontade.
É nesse momento que surge a pergunta: Ora, se os Estados são absolutamente soberanos, por que vão
se submeter às normas internacionais?"
A resposta é que o próprio Estado autolimita essa soberania para acatar a norma jurídica internacional.
Esta é a TEORIA DA AUTOLIMITAÇÃO
As diversas críticas a essa Teoria são:
- A primeira e mais importante de todas é que ela nega a existência do próprio DI como um direito
autônomo, independente. Ela o reduz a um simples direito estatal;
- 2ª crítica: alguns a classificam como pseudomonista, pois na verdade ela é pluralista, tendo em vista a
existência de várias ordens internas;
Finalmente, podemos apresentar uma 3ª crítica que é a de que se a validade dos Tratados Internacionais
repousasse nas normas constitucionais que estabelecem o seu modo de conclusão, toda a modificação
na ordem constitucional por um processo revolucionário deveria acarretar a caducidade de todos os
Tratados concluídos na vigência do regime anterior. Mas isso não ocorre, porque em nome da
continuidade e permanência do Estado ele é ainda obrigado a cumprir os Tratados concluídos no regime
anterior.
Assim é explicado porque um Tratado não pode ser inovado se o direito interno muda. O Tratado é feito
pelo Estado e não pelo Governo, pois este muda.
MONISMO COM PRIMAZIA DO DIREITO INTERNACIONAL
O Monismo com Primazia do Direito Internacional é uma das correntes que estudam as relações que o
Direito Internacional e o Direito Interno guardam entre si. São elas: Dualismo e Monismo com Primazia do
Direito Interno, Monismo com Primazia do Direito Internacional.
O Monismo sustenta, de um modo geral, a existência de uma única norma jurídica. Essa concepção tem
duas posições: uma, que defende a Primazia do Direito Internacional e outra, a Primazia do Direito
Interno.
Cabe-nos aqui discursar sobre o Monismo com Primazia do Direito Internacional, que foi desenvolvido
principalmente na Escola de Viena (Kelsen, Verdross, Kunz, etc)
Para KELSEN, toda ciência jurídica tem por objeto a norma jurídica. Ao formular sua Teoria enunciou a
célebre pirâmide de normas.
Afirma que as normas devem ter sua hierarquia: uma norma tem a sua origem e tira sua obrigatoriedade
da norma que lhe é imediatamente superior.
No vértice da pirâmide estaria a norma fundamental, a norma base ("Grundnorm"), que era uma hipótese
e cada jurista poderia escolher qual seria ela.
Assim, neste primeiro momento KELSEN não se define, dando ensejo à TEORIA DA LIVRE ESCOLHA
ou FASE DA INDIFERENÇA.
Num segundo momento, influenciado por VERDROSS, KELSEN sai do seu indiferentismo e elege a
norma costumeira pacta sunt servanda como norma do DI. É a norma fundamental no DI. É um princípio
ordenador da Ordem jurídica Internacional. Nenhuma outra norma pode modificar a pacta sunt servanda.
KELSEN não admite aqui o conflito entre as duas normas jurídicas.
Numa terceira fase, KELSEN continua a eleger a pacta sunt servanda como norma base, mas já admite o
conflito, com primazia da norma internacional. É o MONISMO MODERADO, que veio substituir o
MONISMO RADICAL de KELSEN em sua fase anterior.
Essa Teoria, majoritária, é a que maior segurança oferece às relações internacionais, tendo em vista a
garantia de que ela será cumprida.
A Teoria Monística com Primazia do Direito Internacional foi eleita por várias constituições, tais como a
espanhola, a alemã, os países baixos, a francesa (esta, sob a reserva de reciprocidade com a outra
entidade).
Críticas:
A principal crítica dirigida à esta Teoria é que ela não corresponde à História, que nos ensina ser o Estado
anterior ao DI. Os monistas respondem que sua teoria é "lógica" e não histórica. Realmente, negar a
superioridade do DI é negar a sua existência, uma vez que os Estados seriam soberanos absolutos e não
estariam subordinados a qualquer ordem jurídica que lhes fosse superior.

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Embora seja o Estado sujeito de Direito Interno e de DI, ele é a mesma pessoa e, assim, não se pode
conceber que esteja submetido a duas ordens jurídicas em choque. O direito, na sua essência, é um só e
a Ordem Internacional acarreta a responsabilidade do Estado, quando ele viola um dos seus princípios. E
o Estado aceita esta responsabilidade. Por este motivo é que ocorre a primazia do DI sobre o Direito
Interno.

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