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4-O MISTÉRIO DO AMOR-02/Julho/2004

Nestes tempos modernos, quando o ódio impera, nada mais oportuno do que falar do
decantado, declamado e misterioso sentimento do amor, tão em desuso ultimamente! Afinal,
o que significa este nome, composto por apenas quatro letras e que tanto representa para a
sofrida humanidade? Ouso questionar a sua real eficácia no coração das pessoas. Será que o
ensinamento que nos foi dado pelos Céus, “amai-vos uns aos outros, como a ti mesmo”, foi
alguma vez, utilizado efetivamente neste Planeta? Não estaríamos sendo persuadidos por algo
mais profundo, mais subjetivo, do que imaginamos (e, por isso, não compreendido)? Como
interpretar algo tão sublime, tão cósmico? Por quê não conseguimos aplicá-lo na sua
plenitude? O mundo estaria melhor se assim o fosse? Em suma, o amor continua misterioso,
apesar dos líricos discordarem de mim. Caso contrário, a situação certamente seria outra.
Então, resta a pergunta óbvia: sabemos amar realmente? O excesso de sentimentalismo, não
estaria nos traindo e nos deixando demasiadamente – e paradoxalmente – superficiais?
Reconheço estar sendo petulante ao duvidar da aplicabilidade deste ato que, como disse, é
mais divino do que humano. Mas, devo ressaltar, também, que esta descrença não é revolta,
mas questionamento, ou questão de ponto de vista. Acho, enfim, que nós seres humanos
aprendizes, “amamos mal”, ou seja, indevidamente. Não como deveria ser. Fruto, talvez de
nossa ignorância. Seria, portanto, o sentimento do amor, uma atitude de contornos platônicos?
Ou pior, seria tal sensação, algo meramente fugaz, sentido mais pelas pessoas fracas e
inseguras? E que argumento teria eu para fazer estas observações nada amenas? O sentimento
da perda poderia responder. Em outras palavras, frustração e, em decorrência, a tristeza
profunda. Amando sem limites, não estaríamos alimentando um estado de sofrimento
iminente? O amor que damos e recebemos deveria ser mais racional e menos emocional? Ou
vice-versa? A verdade, é que nada na vida deve ser tratado de maneira extremada. Todos
sabem que tudo em excesso, mais prejudica do que beneficia. E o jeito de amar não poderia
ser diferente. Então, surge outra pergunta, não menos capciosa: como equilibrar algo que vem
de dentro de nós e que a maioria ainda não sabe controlar?
Um exemplo cabal: é justo amar intensamente uma pessoa de nosso convívio (seja da família,
ou do círculo de amizade), mesmo sabendo que talvez, mais dia menos dia, ela poderá
desaparecer abruptamente de nossa vida? A maturidade deveria nos ajudar a refrear o
passionalismo arraigado em todos nós? Mas isto não acontece. O que devemos buscar com
afinco, seria mesmo o autocontrole, isto é, o domínio da vida, como diriam os Rosacruzes.
Falar é fácil... Como poderíamos viver, conviver e sobreviver neste mundo sem amar? O
amor estaria mesmo interligado com o sofrimento? Eis uma típica “faca de dois gumes”. Eis
mais um dilema que o ser humano tem que absorver, querendo ou não. Pelo menos, enquanto
estiver aprendendo a ser mais pragmático. E para adquirir esta maestria, devemos nos mirar
no conselho de um famoso pensador quando, sabiamente, disse que para amar de fato, temos
que exorcizar três demônios íntimos: “o do medo, que é um demônio enraizado
profundamente e que se alimenta da necessidade de preservar a vida ante o perigo, mas que se
alia com a imaginação e cria neuroses que são capazes de paralisar completamente a vida de
uma pessoa; da ira, que é um demônio destrutivo, que se alimenta da reação normal de uma
pessoa ante o medo, mas por ser normalmente abafado e recalcado acaba criando o ódio (falta
de amor), que é uma raiva em conserva, podendo consumir uma pessoa por dentro até matá-la
e, finalmente, o do dever, que é um demônio que entulha o caminho das pessoas por causa das
suas muitas obrigações, podendo esmagá-las e que acaba produzindo tédio e imobilidade.”
Assim, em primeiro lugar, temos que nos purgar desses males para que possamos amar com
parcimônia e inteligência, a fim de evitar a cegueira que tanto atravanca o caminho que nos
leva à perfeição, ou à evolução almejada!
Se descobrirmos o amor real, desvelando o mistério que o cerca, com certeza iremos desfrutar
de nossa breve existência com muito mais sabedoria!

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