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23ª aula

Sumário:

Forças de campos magnéticos sobre cargas eléctricas. Força sobre um condutor


percorrido por uma corrente. Campo criado por uma linha infinita de corrente.

Forças de campos magnéticos sobre cargas eléctricas

Na presença de um campo eléctrico, E , uma carga eléctrica pontual q fica sempre


sujeita a uma força eléctrica F e= qE . E se a carga “sentir” também um campo
magnético, B ? Nesse caso poderá ou não ficar sujeita a uma força magnética. Esta
força, que depende não só da intensidade do campo e do valor da carga, mas também da
velocidade da partícula, v , é dada por

F = qv × B . (23.1)

O módulo desta força é

F = q vB sin θ , (23.2)

sendo θ o ângulo entre a velocidade e o campo magnético (ver Fig. 23.1).

+q θ

Figura 23.1

Importa explicitar alguns aspectos da força magnética, contidos na expressão (23.1). Em


primeiro lugar, a força é nula se a velocidade da carga for nula: um campo magnético só
exerce uma acção sobre uma carga se esta estiver em movimento. Mas, mesmo estando
em movimento, a força poderá ser nula se a velocidade da partícula e o campo
magnético tiverem a mesma direcção. Finalmente, para um campo com uma dada
intensidade, a força sobre uma partícula de velocidade constante é máxima se o campo
magnético e a velocidade fizerem entre si um ângulo recto.

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Se a força magnética se mantiver perpendicular à velocidade, o movimento é circular
uniforme (o módulo da velocidade mantém-se constante). É este o caso representado na
Fig. 23.2 em que uma partícula de carga positiva descreve uma trajectória circular (se a
partícula tivesse carga negativa o sentido do movimento seria o oposto).

v
F
B

Figura 23.2

Vejamos qual é a frequência deste movimento. A força magnética que é, em módulo,


F = qvB , é a força centrípeta que origina o movimento circular uniforme. Como
sabemos das disciplinas de Elementos de Física / Física Geral I a força centrípeta vale
mv 2 / r , em que r é o raio da trajectória. Assim, de

v2
qvB = m (23.3)
r

obtemos o raio da trajectória:

mv
r= . (23.4)
qB

Esta expressão mostra que o raio é directamente proporcional ao momento linear da


partícula e inversamente proporcional à intensidade do campo magnético e à carga. O
2πr
período do movimento circular uniforme é T = e, portanto, a frequência, que é o
v
inverso do período, é

qB
fc = . (23.5)
2πm

O índice “c” significa “ciclotrão”: a frequência (23.5) é um parâmetro importante em


aceleradores de partículas que têm esta denominação. Da expressão anterior ressaltam

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duas importantes conclusões: a frequência é a mesma para todas as partículas para as
quais a razão q / m seja a mesma; a frequência não depende da velocidade da partícula.
O movimento de uma partícula que penetre numa região onde exista um campo
magnético uniforme com uma velocidade que não seja perpendicular a B vai ter um
movimento helicoidal. Consideremos a situação em que a velocidade se pode decompor
em dois vectores em direcções perpendiculares, v = v|| + v ⊥ , em que v|| é paralelo a B e
v ⊥ é perpendicular a B . No plano perpendicular ao campo magnético o movimento é,
como já vimos, circular uniforme. Segundo a direcção do campo, o movimento é
rectilíneo e uniforme pois a força magnética é nula segundo essa direcção. Da
combinação destes dois movimentos resulta um movimento helicoidal como se mostra
na Fig. 23.3.

v||
B
v⊥

Figura 23.3

No caso de coexistirem campos eléctricos e magnéticos numa mesma região do espaço


a partícula fica sujeita a uma força eléctrica e a uma força magnética cuja resultante é

(
F = q E +v ×B ,) (23.6)

denominada força de Lorentz, da qual existem numerosas aplicações. Com o auxílio de


campos eléctricos e magnéticos é possível guiar feixes de partículas carregadas.

Força sobre um condutor percorrido por uma corrente

Quando um fio condutor percorrido por uma corrente é colocado numa região
onde existe um campo magnético, em geral fica sujeito a uma força. A Fig. 23.4 mostra
um troço rectilíneo de um condutor, de comprimento , percorrido por uma corrente I,
colocado numa região onde existe um campo magnético uniforme de valor B que aponta
“para lá”.

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B
F A
vd
I

Figura 23.4

Vamos considerar que a corrente eléctrica é unicamente devida a electrões. A corrente I


é da esquerda para a direita e, por isso, a velocidade de deriva dos electrões é da direita
para a esquerda. Como a carga dos electrões é negativa a força sobre cada carga, de
acordo com (23.1) é para cima, como se indica na Fig. 23.4. O valor da força sobre cada
electrão é evd B . Designemos por n o número de electrões de condução por unidade de
volume. Assim, no troço de circuito considerado, cujo volume é A , a força resultante é

F = A nev d B . (23.7)

Recordemos da 17ª aula que a intensidade de corrente é I = eAv d n . Portanto, a força é

F=I B (23.8)

No exemplo estudado a corrente e o campo magnético são perpendiculares. Se não


fossem perpendiculares a força sobre o troço rectilíneo de circuito seria dada por

F = I ×B, (23.9)

onde o vector é o elemento rectilíneo de corrente com o sentido desta. A intensidade


da força é F = I B sin θ , sendo θ o ângulo que o elemento rectilíneo do circuito faz
com o campo magnético.

Campo criado por uma linha infinita de corrente

Vimos o efeito de campos magnéticos sobre cargas e correntes sem nos termos
preocupado com a origem desses campos. Mas sabemos já que a origem destes campos
está em magnetes permanentes ou em correntes. Que os campos magnéticos e as
correntes estavam relacionados era uma evidência experimental depois de o
dinamarquês Hans Christian Oersted se ter apercebido, em 1820, que a passagem de
corrente num circuito fazia rodar a agulha de uma bússola exactamente como quando
dela se aproximava um íman. No mesmo ano, Biot e Savart, já conhecedores da
descoberta de Oersted, estudaram o campo magnético produzido por uma corrente
rectilínea e muito extensa (que, na prática, se podia considerar infinita). Embora não
pudessem medir com precisão a corrente no fio, podiam mantê-la constante e
concluíram que a intensidade do campo, B, era inversamente proporcional à distância
ao fio, d. Mais tarde verificar-se-ia, também experimentalmente, que o campo era

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proporcional à corrente no fio. Conjugando os dois resultados, B ∝ I / d , ou,
explicitando a constante de acoplamento,

µ0 I
B= , (23.10)
2πd

onde µ0 é a permeabilidade magnética do vazio cujo valor em unidades SI é

µ0 = 4π × 10 −7 T m/A . (23.11)

A unidade SI de campo magnético é o tesla (símbolo T).


Como se viu na aula anterior, as linhas de campo são circunferências (o campo
magnético só depende da distância ao fio) e a sua orientação também foi referida nessa
aula − é perpendicular à corrente. A Fig. 23.5 (ver também a Fig. 22.4 a) mostra, em
corte, as linha de força do campo magnético produzido por uma corrente rectilínea
infinita.

Figura 23.5

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