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LIRISMO AMOROSO

DE
GREGÓRIO DE MATOS
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente*
Em quem, senão em vós, se uniformara?
 
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama florescente?
A quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus o não idolatrara?
 
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio*, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
 
Mas vejo que tão bela, e tão galharda,
Posto que* os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
 
Quem a primeira vez chegou a ver-
vos,
Nise, e logo se pôs a contemplar-vos,
Bem merece morrer por conversar-
vos
E não poder viver sem merecer-vos.
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o
sinto.
Isto, que o Amor se chama,
este, que vidas enterra,
este, que alvedrios prostra,
este, que em palácios entra:
[.......................................]
este, que o ouro despreza,
faz liberal o avarento,
é assunto dos poetas:
[.......................................]
Arre lá com tal amor!
isto é amor? é quimera,
que faz de um homem prudente
converter-se logo em besta.

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