Processo Penal:
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
1) Introdução:
1.1) A doutrina das consequências jurídicas do crime:
Uma vez estudada a doutrina geral do crime (como conjunto de
pressupostos de que depende a verificação de uma consequência jurídica), importa de
seguida considerar outra grande doutrina que integra a parte geral do Direito Penal que
diz respeito, fundamentalmente, às reacções ou sanções que ao crime se encontram
juridicamente ligadas.
É ainda hoje dominante a afirmação de que a doutrina geral do crime
encerra a dogmática jurídico-penal, enquanto a doutrina das consequências jurídicas
do crime se inscreve no âmbito da política criminal. Por esta forma se pretende
traduzir a ideia de que, no plano da realização prática do Direito Penal, a doutrina das
consequências jurídicas do crime assume apenas um relevo derivado, acessório ou
instrumental, relativamente à doutrina geral do crime (o que estaria de acordo com
pensamento de VON LISZT, segundo o qual, a dogmática jurídico-penal constitui a
barreira intransponível da política criminal).
Uma tal concepção deve ser repudiada, pois entre a política criminal e a
dogmática jurídico-penal intercede uma relação, não de independência, mas de autêntica
unidade funcional, o que vale por dizer que as próprias valorações político-criminais
hão-de penetrar toda a dogmática jurídico-penal.
Direito e Processo Penal 2
—Introdução—
Principais
Penas Acessórias
De
1.4.4.1) A descriminalização:
Acessórias
De Substituição
Breve resumo:
De substituição
isso, a prisão deve ser «ultima ratio» (mas ainda não encontramos outro meio que
respeite os propósitos da prevenção geral positiva).
Devido aos apontados inconvenientes da pena de prisão é que foram
criadas as penas de substituição.
Se o tribunal encontrar uma pena superior a três anos (pena de longa
duração) não haverá que recorrer a qualquer outra operação, mas se, ao contrário, o
tribunal encontrar uma pena inferior a três anos (penas de curta ou média duração),
coloca-se o problema da escolha da pena, podendo haver lugar à aplicação de uma
pena de substituição.
O regime de prova (que era uma pena de substituição aplicável a título
de pena principal) desapareceu como prova de substituição autónoma. Hoje, há que,
previamente, determinar uma pena principal de até três anos.
A aplicação de uma pena de substituição pressupõe sempre a operação
de escolha da pena, mas não vice-versa, ou seja, uma operação de escolha da pena não
pressupõe uma possível aplicação de uma pena de substituição (v.g.: o caso das penas
alternativas — a um determinado ilícito pode ser aplicada uma pena de prisão ou de
multa, ou seja, há uma alternativa entre duas penas principais).
Hoje abandonamos a pena de multa principal cumulada com a pena de
prisão.
Obs: ver no Código Penal as hipóteses em que pode haver lugar a estas penas de
substituição.
C.1) Prisão por dias livres (artigo 45º do Código Penal): nos termos do
n.º 2 do mesmo preceito legal, a prisão por dias livres consiste numa privação de
liberdade por períodos correspondentes a fins-de-semana ou feriados.
→Substitui penas de prisão não superiores a 3 (três) meses (penas de
curta duração — crimes de bagatela) e não pode ser superior a um período de
detenção superior a 18 (dezoito) fins-de-semana.
mas sofreu modificações em 1995. Com ela não se aplica, efectivamente, a pena de
prisão.
Nasceu da ideia de ameaçar o respectivo agente com uma pena de
prisão, para que o agente não venha a praticar outros crimes.
Foi inspirado pelo «sursie» belga e francês, mas sofreu,
posteriormente, a influência da «probation» do sistema anglo-saxónico.
Probation Sursie
Para que haja substituição da pena principal, isto é, para que seja
aplicada ao agente uma pena de substituição, o juiz deve atender ao critério do artigo
70º do Código Penal. Os paços que o juiz deve colocar começam com a 1
determinação da pena concreta a aplicar ao agente. É depois de encontrada a medida
da pena concreta que o juiz deve 2 decidir se a substituição da pena principal se
adequa às finalidades da punição: começa por apurar se o agente manifesta
necessidades de socialização (prevenção especial) e se a substituição de pena não
acarretará o abalo da confiança da comunidade na vigência da norma violada
(prevenção geral positiva). Só então, tendo em conta estes dados, é que o julgador 3
optará ou não pela substituição da pena principal, adoptando a pena de substituição
mais conveniente para o caso concreto.
Na prática, as penas de substituição são muito pouco aplicadas entre
nós. A nossa jurisprudência tem ainda alguma dificuldade em aplicar penas de
substituição. Até 1995, isto era inteiramente justificável devido às insuficiências
legislativas. A partir de 1995, esta razão já não existe, visto que todos os artigos
relativos às penas de substituição foram «purificados». A razão estará, talvez, na
sua difícil execução prática.
A Alemanha resolve cerca de 80% da sua criminalidade com penas de
multa.
Artigo 70º do Código Penal: «Realização das finalidades de
prevenção». Um artigo equiparável a este já vinha do Código Penal de 1982; só que
este critério (manifestamente preventivo) era confundido e adulterado: parecia que o
legislador se referia ao critério da retribuição da culpa. Em 1995, o legislador desfez
a confusão — é agora claro que o critério a ter em conta é o da prevenção.
A substituição da pena principal por uma pena de substituição tem que
satisfazer as necessidades de prevenção geral e especial. Não deve entrar, para esta
escolha de pena, o critério de culpa: → a) a culpa é, tão-só, pressuposto e limite de
aplicação da pena e já foi tomada em conta pelo juiz ao definir a
medida concreta de pena (principal).
Direito e Processo Penal 27
—Penas—
Tudo que se tem conseguido é evitar (como entre nós sucedeu — cfr. o
artigo 65ºdo Código Penal) que aqueles efeitos acessórios decorram necessariamente
da aplicação de penas de certa natureza.
O Código Penal de 1982 acabou com o carácter necessário da produção
de efeitos acessórios das penas (artigo 65º do Código Penal) e chamou aos efeitos não
necessários «penas acessórias», dando a estas um sentido e um conteúdo, não
apenas de intimidação da generalidade, mas de defesa contra a perigosidade individual.
Restava saber se, com tudo isto, não acabava por acentuar, no que
denominou «penas acessórias», o seu carácter tradicional de efeitos (agora não
automáticos) da condenação na pena principal — e, portanto, de providências, por
inteiro, estranhas à ideia da culpa — afastando-as, apesar da «mudança de
etiquetas» da natureza de verdadeiras penas.
Tal problema foi resolvido em 1995 do seguinte modo:
Ligação das penas acessórias à culpa; e
Criação de limites (ou molduras) para as penas acessórias.
Esta pena não tem lugar quando o agente deva sofrer, pelo mesmo facto,
uma medida de segurança de interdição da faculdade de conduzir (sob a forma de
cassação da licença de condução ou de interdição da sua concessão).
O Código Penal de 1982 tinha o mérito de haver terminado com a
automaticidade (ou necessidade por mor da lei) da produção de efeitos da condenação
(dos crimes ou das penas).
Mas o Código Penal 1982 não consagrava mais do que um sistema de
efeitos penais não automáticos da condenação: as «suas» penas acessórias não eram
verdadeiras penas, pois não se encontravam referidas à culpa do agente pelo facto
praticado, mas antes, unicamente, referia-se a exigências de prevenção (nomeadamente
de segurança geral e individual).
Direito e Processo Penal 30
—Penas—
A solução mais correcta a estas questões parece dever ser uma solução
diversificada.
As chamadas penas acessórias, sempre que justificáveis apenas à luz de
uma prevenção especial de neutralização ou de inocuização, devem, na verdade, ser
eliminadas como penas e transformadas em verdadeiras medidas de segurança.
No entanto, parece indiscutível continuar a existir espaço, além disto,
para sanções acessórias ou adjuvantes da função da pena principal, que reforcem e
diversifiquem o conteúdo penal sancionatório da condenação.
O que importa então é que tais sanções se assumam como verdadeiras
penas, indissociávelmente ligadas ao facto praticado e à culpa do agente, dotadas de
uma moldura penal específica (e permitindo, assim, a tarefa judicial de determinação
da sua medida concreta em cada caso).
A revisão de 1995 que reconverteu a pena acessória de demissão, o que
eliminou aquilo que era uma fonte de grandes dúvidas para a jurisprudência e a
doutrina portuguesas: o relacionamento entre a demissão «penal» e a «disciplinar»
(a demissão resta hoje apenas como sanção disciplinar).
Assim:
Limites gerais da
pena de prisão
→ O limite mínimo é de 1 (um) mês
Quanto à duração mínima de 1 (um) mês, ela foi logo proposta na Parte
Geral do Projecto de 1963 e manteve-se inalterada ao longo dos trabalhos de revisão.
A subida do limite mínimo (dos 3 (três) dias previstos pelo Código Penal de 1886, para
1 (um) mês) foi quase sempre justificada como a expressão natural do movimento de
luta contra as penas de prisão de curta duração. Mas um tal fundamento é duvidoso,
pois também as penas de prisão de 1 (um), 2 (dois), 3 (três), 4 (quatro), 5 (cinco) e 6
Direito e Processo Penal 33
—Penas—
Começando a análise desse preceito legal pelo seu n.º 2, devemos dizer
que esta norma pretendeu sublinhar o altíssimo relevo da matéria da execução na
conformação normativa concreta da pena privativa da liberdade. Relevo tão alto que já
hoje algumas doutrinas consideram que uma tal matéria deve constituir disciplina
autónoma no universo das ciências criminais e, consequentemente, dar lugar a um
ensino particularizado no conjunto da formação jurídica (o Direito Penitenciário —
Direito da Execução das Reacções Criminais Privativas da Liberdade).
O Decreto-lei 265/79 constitui uma espécie de lei fundamental em tema
de execução das reacções criminais detentivas (penas e medidas de segurança
privativas da liberdade), cujas ideias mestras se casam com as concepções político-
criminais básicas do Código Penal em matéria da pena de prisão.
A multiplicidade de problemas considerados naquele diploma legal
(finalidades de execução; posição jurídica do recluso; regulamentação do decurso da
vida diária e trabalho prisional; assistência espiritual e médico-sanitária; visitas e
correspondência; saída do estabelecimento) confirma, em absoluto, a conveniência de
um tratamento autónomo de toda esta problemática.
Nas últimas décadas, de resto, o problema da execução das reacções
criminais detentivas foi sentido com tal intensidade na generalidade dos países que, em
consequência, se desenvolveram esforços a nível internacional para codificação das
exigências mínimas que deveriam ser aceites por todas as legislações em matéria de
execução das sanções privativas da liberdade. Produto desses esforços são:
«Standard Minimum Rules for the Treatment of Prisioners» (1955);
«Regras Penitenciárias Europeias» (contidas em regulamento de 1987).
Tanto o Decreto-Lei 265/79, como as Regras Penitenciárias
Europeias, têm como pressuposto fundamental a ideia de que a privação da liberdade
Direito e Processo Penal 34
—Penas—
deve, em todos os casos, ser levada a cabo em condições morais e materiais que
garantam o respeito pela dignidade do homem.
O artigo 2º do Decreto-Lei 265/79 declara que «a execução das
medidas privativas da liberdade deve orientar-se de forma a
reintegrar o recluso na sociedade, preparando-o para, no futuro,
conduzir a sua vida de forma socialmente responsável, sem que
pratique crimes» (assim como prescreve o acima transcrito n.º 1, do artigo 43º do
Código Penal).
A finalidade precípua da execução é, assim (ressalvados certos casos
limite concretos, em que tal se torne impossível), a prevenção especial positiva ou de
socialização.
Esta finalidade traduz-se em oferecer ao recluso as condições objectivas
necessárias não à sua reforma moral, nem sequer à aceitação ou reconhecimento, pelo
recluso, dos critérios de valor da ordem jurídica, mas à «prevenção da
reincidência» (condução da vida de forma «socialmente responsável») —
posição minimalista.
Compatibilização do artigo 2º, n.º 1, com artigo 2º, n.º 2 do Decreto-
Lei 265/79: tem razão ANABELA RODRIGUES quando conclui que a exigência
geral preventiva de defesa da sociedade, além contida, limita a consecução da
finalidade socializadora primária (conflitua com ela).
Mas esta necessidade de defesa social nada tem a ver com necessidades
de prevenção geral de intimidação, mas, exclusivamente, com exigências de que as
tarefas de socialização sejam limitadas por limiares mínimos de prevenção geral de
integração, que a própria execução da pena privativa da liberdade tem de respeitar. A
ideia do mínimo de prevenção geral positiva é essencial para a correcta interpretação
do n.º 2, do artigo 2º do Decreto-Lei 265/ 79.
A posição jurídica do recluso na execução caracterizar-se-á dizendo que
ele deixou de ser «objecto», para passar a ser sujeito da execução.
Prescreve o artigo 4º, n.º 2 de Decreto-Lei 265/79 que «o recluso
mantém a titularidade dos direitos fundamentais do homem, salvo
as limitações resultantes do sentido da sentença condenatória, bem
como as impostas em nome da ordem e da segurança do
estabelecimento».
E, nos termos do n.º 2 do mesmo preceito legal: «o recluso deve
ter direito a um trabalho remunerado, aos benefícios da segurança
social, assim como, na medida do possível, ao acesso à cultura e ao
desenvolvimento integral da personalidade».
Segundo a «Magna Carta» do condenado, o recluso tem o direito de
acesso aos tribunais.
Já não existe uma visão do recluso (típica do Estado de Direito Liberal)
como alguém submetido a uma «relação especial de poder», em nome da qual
lhe podiam ser discricionariamente limitados ou negados direitos fundamentais. A
visão do recluso (promovida pelo Estado de Direito Social) é agora a de uma pessoa
sujeita a um mero «estatuto especial» jurídico-constitucionalmente credenciado e
que deixa permanecer naquela a titularidade de todos os direitos fundamentais (à
excepção daqueles que seja indispensável sacrificar ou limitar para realização das
Direito e Processo Penal 35
—Penas—
Breve resumo:
Limites da pena
de prisão
Breve conclusão:
No caso de multa em quantia certa fixada pela lei não há, pois,
qualquer procedimento a ser observado pelo juiz para a determinação concreta da pena,
não podendo ela adequar-se, assim, nem à gravidade do ilícito e da culpa, nem à
condição económico-financeira do agente. Esta espécie de pena de multa, para além de
ser contrária ao espírito político-criminal que subjaz ao nosso ordenamento, é
inconstitucional:
para quem considere o «princípio da culpa» jurídico-
constitucionalmente reconhecido, ela é inconstitucional porque a
sua aplicação viola, de forma irremediável, aquele princípio; e
é indiscutivelmente inconstitucional, na medida em que, ao
prejudicar o agente de mais fraca condição económico-
financeira por absoluta incapacidade para a tomar em conta no
momento da determinação concreta da pena, viola o «princípio
da igualdade» previsto pelo artigo 13º, n.º 2 da Constituição
da República Portuguesa.
Breve resumo:
Direito e Processo Penal 47
—Penas—
O juiz deve aplicar a pena de multa no seu mínimo e, não sendo ela
paga e devesse o condenado, então, cumprir subsidiariamente pena de prisão, deveria
então a execução (da prisão, não da multa!) ser suspensa, acompanhada de deveres e
regras de conduta de conteúdo não económico financeiro.
Relativamente a este aspecto, era diferente a solução legal antes da
Revisão de 1995: o juiz fixava o quantitativo diário no mínimo legal e, em seguida,
caso o condenado não cumprisse, suspendia a execução da pena de multa, uma vez que
o condenado não a podia pagar. Contudo, este instituto da suspensão da execução da
pena (que é uma pena de substituição) não se adequa político-criminalmente à pena de
multa, pois:
a) esta solução podia colocar a sanção abaixo do limiar
mínimo da prevenção de integração;
b) a justificação político-criminal do instituto da suspensão
da execução da prisão não serve para o instituto da
suspensão da execução da multa: a primeira tem um
efeito especial preventivo (de intimidação), já que a
prática de novo crime ou simples não cumprimento dos
deveres de conduta a que fique sujeito, conduzem à
revogação da suspensão e ao cumprimento efectivo da
prisão. Na segunda, o agente sabe que a pena não será
executada, por mais grave e indesculpável que seja o
motivo do incumprimento dos deveres condicionantes,
enquanto a aludida impossibilidade subsistir (com o que
desaparece, de todo, o efeito de prevenção especial que
deve ser apanágio de toda a pena).
Estes problemas não oferecem, já, discussão, uma vez que, a partir de
1995, o artigo 48º, n. º 2 do Código Penal manda aplicar os artigos 58º, n.º 3 e 4 e
59º, n.º 1 do Código Penal à substituição da multa por trabalho.
Prescreve o n. º 1 do artigo 49º do Código Penal: «se a multa, que
não tenha sido substituída por trabalho, não por paga voluntária ou
coercivamente, é cumprida prisão subsidiária pelo tempo
correspondente reduzido a dois terços, ainda que o crime não fosse
punível com prisão, não se aplicando, para o efeito, o limite mínimo
dos dias de prisão constante do n. º 1 do artigo 41º».
O Código Penal de 1982 previa ainda (no seu artigo 47º, n.º 5) o crime
de colocação intencional em condições de não pagar a multa, o que era de todo
criticável do ponto de vista político-criminal (não estando, por isso, contida no actual
Código Penal):
era sistematicamente contraditório (e absurdo) prever um crime
para o caso de o condenado se colocar em condições de não
pagar a multa; mas já nada se prever para o caso de o
condenado, pura e simplesmente, não querer pagar a multa (ou
prestar trabalho);
atingia-se o cume do ridículo por a pena cominada para o crime
ser a de prisão e multa.
Assim:
Determinação da medida da pena de multa (artigo 47º do
Código Penal):
1) numa primeira operação, a pena de multa é
estabelecida em função dos dias, de acordo com o
critério do artigo 47º, n.º 1 do Código Penal, que remete
para os critérios gerais de determinação da medida da
pena (artigo 71º, n.º 1 do Código Penal).
Cada dia vai corresponder ao uma quantia fixada
pelo tribunal.
Caso 2: A foi condenado a uma multa principal de 90 dias, com o quantitativo diário
de 1000$00 (mil escudos).
B foi condenado a uma pena de multa de substituição de 90 dias com o
quantitativo diário de 1000$00 (mil escudos).
Nem A nem B pagaram. Quid iuris?
Indivíduo B:
relação que se estabelece entre o juiz da causa, o juiz de execução da pena e a própria
administração executiva da sanção. Institutos como os das Penas Relativamente
Indeterminadas, da LC, da suspensão da execução da prisão, mostram como o
Tribunal das Execuções Penais (TEP) e a própria administração executiva podem ter
influência decisiva na determinação da pena que é efectivamente cumprida.
de valor, mas que também não descreve com a técnica detalhada que utiliza para os
tipos, antes nomeia através de uma exemplificação padronizada.
A descrição feita constitui exemplo indiciador das situações que devem
conduzir à agravação (podendo, contudo, o juiz negar aquele efeito indiciador mesmo a
uma situação coincidente com um exemplo de que o legislador se serviu, se considerar
que a razão de ser da agravação se não verifica em concreto).
Por outro lado, não sendo a enumeração da lei esgotante, mas só
exemplificativa, o juiz pode, no entanto, considerar que a razão de ser da agravação é
válida, apesar de a situação do caso não integrar a enumeração legal.
O nosso Código Penal reconheceu claramente a técnica dos exemplos
padrão em seu artigo 132º, n.º 2. Mas há aqui uma diferença relativamente ao Direito
Penal alemão: no n.º 2 do artigo 132º, não se consagra o exemplo-padrão para dele
resultar o efeito agravante de forma imediata, antes, ele é feito funcionar por referência
a uma cláusula agravante determinada e suficientemente descrita no n.º 1 do mesmo
preceito legal.
Trata-se aqui de verdadeiras regras de determinação da pena e não de
elementos de um tipo qualificado.
Esta técnica, não sendo inapelavelmente de condenar, tem vantagens
que não superam os inconvenientes da imprecisão legal «in malam partem» e da
consequente insegurança que acarreta para as garantias do cidadão, sobretudo quando o
efeito agravante resulte, sem mais e imediatamente, da enumeração exemplificativa.
Caso 4: A foi cúmplice num crime punido com pena de prisão de 2 a 9 anos e tem 19
anos de idade. Proceda à primeira operação de determinação da medida da
pena.
Tirávamos então 3 (três) anos pela cumplicidade mais 3 (três) anos pela
idade, de modo que a moldura penal ficaria entre 1 (um) mês a 3 (três) anos.
Uma vez fixada a moldura penal que em abstracto ao caso, o juiz passa
então a enfrentar a tarefa mais complexa de todo o processo de indeterminação da
pena: a de encontrar a pena concretamente cabida ao caso, o «quantum» de pena que
vai constar na condenação (a medida da pena em sentido estrito).
Para este efeito, serve-se o juiz do critério global contido no n.º 1 do
artigo 71º do Código Penal, segundo o qual: «a determinação de medida da
pena, dentro dos limites definidos na lei, far-se-á em função da culpa
do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de
futuros crimes».
Algum autores acusam este tipo de fórmulas de só aparentemente
auxiliarem o juiz. Este negativismo, contudo, pelo menos entre nós, se mostra de todo
injustificado.
É certo que o artigo 71º, n.º 1 do Código Penal não fornece ao juiz
conceitos fechados e aptos à subsunção, de modo a possibilitar uma formalização e
automatização do procedimento de medida da pena, mas tal não seria conveniente nem
adequado às tarefas em causa.
Direito e Processo Penal 70
—Penas—
2. 6) A medida da pena:
Nos termos do artigo 71º, n.º 1 do Código Penal, «a determinação
da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita em
função da culpa do agente e das exigências de prevenção».
Culpa e prevenção são, assim, os dois termos do binómio com auxílio
do qual há-de ser construído o modelo de medida da pena (ou de «determinação
concreta da pena»).
Porém, permanecem em aberto as seguintes questões:
a) como se entendem ou conceitualizam a culpa e a
prevenção para efeitos de medida da pena?
b) como se relacionam uma e outra entre si?
c) como se relaciona a prevenção especial com a
prevenção geral?
2.6.1.1) Prevenção:
2.6.1.2) A culpa:
Tal como sucede na discussão à roda dos fins das penas, também na
doutrina da medida da pena, a culpa e a prevenção devem manter-se distintas, quer na
sua determinação conceitual, quer na sua determinação teleológico-funcional, isto é, no
estabelecimento da função que cada uma delas deve exercer no sistema da medida da
pena.
A razão desta crítica não reside em que esta via implicasse aceitar que a
medida da culpa pode fornecer logo um «quantum» de pena e não apenas uma
«moldura de culpa» dentro da qual poderiam actuar considerações preventivas
(esta crítica é, contudo, feita por MAURACH).
A verdadeira razão da crítica reside em que, desde logo, a teoria do
valor de posição não se mostra compatível com o teor do artigo 71º, n.º 1 do Código
Penal, que quer, indiscutivelmente, dar relevância a pontos de vista preventivos
também para a medida e não apenas para a escolha da pena.
Os pontos de vista da culpa não são suficientes, nem idóneos, de uma
perspectiva político-criminal, para se encontrar, só com eles, a pena concreta: a pena
determinada exclusivamente à luz de critérios de culpa será, sem dúvida, uma pena
justa, mas, então, não pode saber-se se é, ao mesmo tempo, adequada, conveniente ou
sequer necessária.
E a necessidade de pena em sentido amplo é «conditio sine qua
non» de legitimação da pena nos quadro de um Estado de Direito Democrático e
Social. Somente pontos de vista preventivos podem constituir penhor seguro daquela
necessidade, conveniência e adequação.
Só uma visão exasperadamente retribucionista da aplicação da pena, em
que esta encontrasse na culpa o seu único fundamento, poderia, em, definitivo,
justificar uma teoria como a do valor de posição.
Nestes casos, até onde poderá a pena baixar? Segundo ROXIN, a pena
poderá baixar até ao mínimo da moldura penal, por ser neste
marco que o legislador fixou as exigências mínimas de
prevenção geral positiva sob a forma da tutela (defesa) do
ordenamento jurídico.
Mas, acima do limite máximo do espaço de liberdade fornecido pela
moldura de culpa nunca a pena poderá ser fixada, mesmo que para esse sentido
apontem razões de prevenção geral de intimidação ou de prevenção especial de
segurança ou neutralização (defesa da sociedade contra a perigosidade do agente).
Uma tal pena violaria irremediavelmente o princípio da culpa e, portanto, um dos
fundamentos político-criminais.
Crítica:
A teoria da moldura da culpa é de repudiar, por não ser aceitável o
modo como estabelece a concordância das finalidades antinómicas da pena no caso
concreto.
O conferir-se à medida da culpa força determinante (ainda que através
de uma «moldura», que não de um «ponto exacto» de culpa) na medida da pena
contraria a ideia básica (e que, todavia, é sufragada, por exemplo, por ROXIN)
segundo a qual são considerações de prevenção que constituem, de forma esgotante, as
finalidades da pena, não existindo, por conseguinte, uma relação biunívoca entre pena
e culpa.
Contraria a ideia, em suma, segundo a qual, a culpa é pressuposto e
limite da pena, mas já não critério da sua medida, em termos de a aplicação da pena ter
por finalidade compensar ou retribuir a culpa do agente.
Toda esta ideia básica fica em definitivo prejudicada quando se atribui,
apenas a considerações de culpa, força determinante da medida da pena, enquanto os
pontos de vista preventivos são relegados para uma actuação, ou só dentro da moldura
da culpa, ou também abaixo dela, mas apenas em casos especiais.
Nas antípodas desta posição por nós assumida encontram-se aqueles
autores que criticam a teoria da margem de liberdade por conceder de menos à
essência da culpa e à sua função no sistema (tratar-se-ia de uma mera excursão à culpa,
que permite considerar adequadas, penas de medida diferente). Esta posição enferma,
obviamente, de um claro retribucionismo.
Acresce que, mesmo nas hipóteses «especiais» aludidas, a força de
oposição às considerações de culpa é apenas conferida à ideia de (re) socialização,
enquanto para a prevenção geral fica a magra função de assinalar o limite abaixo do
qual a necessária defesa do ordenamento jurídico se tornaria irrealizável. Com a
agravante de que um tal «mínimo dos mínimos» de pena possível derivaria de
uma fixação abstracta do legislador (o limite mínimo da pena aplicável) e não poderia
ser modificado pelo juiz no caso concreto; apesar de que o que está em questão em
todo o processo é a determinação pelo juiz da pena necessária e justa para o caso
concreto.
Direito e Processo Penal 79
—Penas—
integração seja apenas um outro nome, ou uma outra perspectiva, da mesma realidade
que seria a culpa; trata-se de realidades diferentes e que exercem funções diversas na
doutrina da medida da pena.
Por exemplo: seria tarefa votada ao insucesso tentar imputar ainda ao ilícito e à culpa,
por exemplo, a circunstância de ter decorrido muito tempo sobre a
prática do crime e ter o agente, durante esse tempo, mantido boa
conduta. Circunstância que, à parte dos casos em que releve como
específico factor de determinação da pena no caso especial do artigo
72º, n.º 2, alínea d) do Código Penal (circunstância modificativa
atenuante) deverá relevar em geral para a medida da pena, nos termos
do artigo 71º, n.º 2, alínea e) do Código Penal.
De acordo com artigo 71º, n.º 2 do Código Penal, não devem ser
tomadas em consideração, na medida da pena, as circunstâncias que façam já parte do
tipo de crime. Nisto se traduz o essencial do princípio da proibição da dupla
valoração.
Assim, não devem ser utilizadas pelo juiz para a determinação da
medida da pena circunstâncias que o legislador já tomou em consideração ao
estabelecer a moldura penal do facto (não apenas os elementos do tipo de ilícito em
sentido estrito, mas todos os elementos que tenham sido relevantes para a determinação
legal da pena).
Direito e Processo Penal 83
—Penas—
O princípio não deve ser entendido como se ele valesse apenas para os
factores relevantes pela via da culpa e já não para os relevantes pela via da prevenção.
Finalmente, deve dizer-se que não há razão bastante para afastar a
incidência do princípio da proibição de dupla valoração relativamente a circunstâncias
que devam também ser tomadas em conta nas operações de determinação legal ou de
escolha da pena.
A concreta circunstância que sirva para determinar a moldura penal
aplicável ou para escolher a pena não deve ser de novo valorada para a quantificação
da culpa e da prevenção relevantes para a medida da pena.
mas, muitas vezes, nomeadamente nos casos especiais de
determinação da pena ou nos de escolha da pena, a lei manda
atender, para o efeito, a particulares características da culpa ou
da prevenção. Isto não impede que o juiz tenha depois de lançar
mão daqueles dois princípios regulativos para o efeito de medir
a pena. Apenas impede que o juiz valore uma segunda vez as
circunstâncias concretas que relevam já para a determinação
legal ou para a escolha da pena.
nestes casos, os princípios regulativos da culpa e da prevenção
reflectem-se na imagem global do facto par a determinação da
moldura penal aplicável (assim no concurso de crimes ou na
atenuação especial), o que não deve, de todo, impedir que tais
princípios entrem de novo em conta (sem qualquer restrição) na
operação de medida da pena. Neste contexto, o princípio da
proibição de dupla valoração não pode dizer-se violado.
Uma tal medida em nada pode ser influenciada por considerações seja
de culpa, seja de prevenção especial. Decisivo só pode ser o «quantum» de pena
indispensável para que se não ponham irremediavelmente em causa a crença da
comunidade na validade de uma norma e, por essa via, os sentimentos de confiança e
de segurança dos cidadãos nas instituições jurídico-penais.
O critério de defesa do ordenamento jurídico ganha o seu mais decidido
relevo em matéria de escolha da pena e de penas de substituição.
Factores relativos à
execução do facto
Factores relativos à
Art. 72º, n.º 2 do CP personalidade do agente
Nos factores relativos à execução do facto, entram, por outro lado, todas
as circunstâncias que respeitam à reparação do dano pelo agente, ou mesmo só aos
esforços por ele desenvolvidos neste sentido; como ainda, de um modo geral, o
comportamento da vítima. Todas estas circunstâncias podem relevar por via da culpa
(v.g.: o comportamento da vítima no crime de violação) e, as mais das vezes, pela via
da prevenção (nomeadamente, prevenção geral positiva).
Por esta via, as investigações vitimológicas tornam-se importantíssimas
para a doutrina da medida da pena. É importante sublinhar que não deve valorar-se a
falte de reparação do dano ou de esforços do agente nesse sentido, com o intuito de
elevar a pena.
Outras circunstâncias atinentes à execução do facto servem para
caracterizar a medida da censurabilidade e dizem, por isso, directamente respeito ao
juízo e ao tipo-de-culpa. Assim, desde logo, os sentimentos, os motivos e os fins do
agente manifestados no facto (contexto em que assume relevo decisivo determinar se o
facto radica numa determinada disposição do agente ou só numa situação ocasional —
com todo o relevo que tais circunstâncias possuem na vertente da prevenção especial).
É importante notar, no que toca aos sentimentos e emotivos, que neles
reentram não apenas circunstâncias da motivação interior (ódio, cólera, compaixão,
medo, etc.), mas também estímulos externos (necessidade económica, coacção, pressão
política, etc.).
De considerar, por último, neste enquadramento, é o grau de violação
dos deveres impostos ao agente (a violação do dever de cuidado não deve relevar neste
enquadramento, antes sim pela via do disposto no artigo 71º, n. º 2, alínea b) do
Código Penal).
Os deveres impostos ao agente, a que alude o artigo 71º, n.º 2, alínea
a) do Código Penal, são as particulares relações do agente (com o bem jurídico, a
vítima, o objecto da acção, etc.) que, não fazendo parte do tipo (proibição de dupla
valoração), todavia, devem servir para caracterizar uma culpa agravada (com tais
elementos se depara tanto nos crimes negligentes, como nos dolosos).
Estes factores podem relevar tanto pela via da culpa, como pela da
prevenção. Por exemplo:
não será a mesma a sensibilidade à pena que se esperará de um
multi-reincidente e de um delinquente primário, ocasional ou
por afecto; e
não será o mesmo o juízo de prognose a fazer num caso e noutro
e, pois, a possibilidade de um e outro serem influenciados pela
pena.
Breve resumo:
Fases de determinação da pena:
⇒ Forma de
preenchimento do ilícito típico.
⇒ Elementos Configuração do substracto da
atinentes à personalidade do agente, medida da pena, a partir do qual
manifestados na prática do facto. vamos encontrar a medida da pena.
⇒ Aspectos
extratípicos (vg.: comportamento
anterior e posterior ao facto)
Direito e Processo Penal 96
—Penas—
mais frequente (e, por conseguinte, para uma mais cabal realização da intenção
político-criminal que a todo este instituto preside).
Todavia, é duvidoso que uma verdadeira «Teoria Geral» deste campo
problemático esteja em vias de ser alcançada no conspecto internacional. Desde logo,
porque tal não será exequível enquanto não se formar consenso quanto a um ponto
prévio que (sendo o dominante na doutrina portuguesa) continua a ser vacilante na
generalidade das doutrinas estrangeiras: o de que as penas de substituição são
verdadeiras penas autónomas.
Entre nós, parece ser CAVALEIRO FERREIRA o único a ver as
penas de substituição como «modificações da pena na sua execução».
NOWAKOWSKI e TRIEFTERER (doutrina austríaca) vêm, nestas penas de
substituição, autênticas penas, porém, o segundo assinala que se trata de verdadeiras
medidas, porque independentes da culpa.
Tal teoria é, contudo, inaceitável, uma vez que o critério da escolha da
pena de substituição é independente de considerações de culpa, mas já o não é, de
forma alguma a determinação da medida da pena de substituição.
Por outro lado, cada pena de substituição tem o seu próprio conteúdo
político-criminal, o seu próprio campo de aplicação e possui, como consequência, um
regime em larga medida individualizado (mesmo no que toca a problemas que, à
primeira vista, deveriam parecer comuns, como é o caso do não cumprimento da pena
de substituição).
O Código Penal de 1982 recusava se, à partida, a fornecer um critério
ou cláusula geral de escolha ou de substituição da pena, quer a propósito da escolha
entre penas alternativas, quer a propósito da escolha da pena de substituição, a
propósito de qual, para cada uma das penas de substituição, ele indicava um critério
diferente ou individualizado. FIGUEIREDO DIAS considera que esta era uma das
razões da falência prática, entre nós, do sistema de penas de substituição. Havia que
consagrar um critério geral de escolha e de substituição da pena, o que foi levado a
cabo pelo legislador de 1995 no artigo 70º do Código Penal e, de modo praticamente
uniforme, nos artigos 45º, n.º 1; 50º; 58º, n.º 1 e 60º, n.º 2, todos do Código Penal.
do STJ de 1990 que decidiu que a aplicação de uma pena de substituição (no caso, a
pena de multa de substituição) depende, em exclusivo, de considerações de prevenção
especial de ressocialização e de prevenção geral sob a forma de satisfação do
«sentimento jurídico da comunidade».
Afastada a relevância da culpa no problema da escolha da pena, é
necessário determinar como se comportam mutuamente, neste âmbito, as exigências de
prevenção geral e de prevenção especial. É inteiramente distinta, aliás, a função que
umas e outras exercem neste contexto.
Prevalência decisiva não pode deixar de ser atribuída a considerações de
prevenção especial de socialização, por serem, sobretudo, elas que justificam todo o
movimento político-criminal de luta contra a pena de prisão.
A prevalência das considerações de prevenção especial revela-se, aqui,
a dois níveis:
a) em primeiro lugar, o tribunal só deve negar a
aplicação de uma pena alternativa ou de uma pena de substituição
quando a execução da prisão se revele, do ponto de vista da
prevenção especial de socialização, necessária ou, em todo caso,
provavelmente mais conveniente do que aquelas penas (coisa que só
raramente acontecerá se não se perder de vista o carácter
criminógeno da prisão, em especial da de curta duração).
b) em segundo lugar, sempre que, uma vez recusada pelo
tribunal a aplicação efectiva da prisão, reste ao seu dispor mais do
que uma espécie de pena de substituição, são ainda considerações de
prevenção especial de socialização que devem decidir qual das
espécies de penas de substituição abstractamente aplicáveis deve ser
a eleita.
⇒ Patr
imoniais
Quanto ao conteúdo ⇒ Lim
itativas de liberdade
⇒ Imp
De facto, este período, por mais curto que seja, é longo o suficiente para
prejudicar significativamente o condenado ao afastá-lo do convívio familiar e
profissional.
A mais, a pena de prisão de curta duração representa, para as
autoridades encarregadas da execução, um enormíssimo peso que, nem ao menos
possui a virtualidade de ser compensado por oportunidades razoáveis de socialização.
De tudo o que ficou dito, facilmente se pode compreender que:
Direito e Processo Penal 10
—Penas— 2
então, ser substituída por outras penas não detentivas (máxime pela pena de trabalho a
favor de comunidade).
Não poderá excluir-se, de todo o modo, sobretudo em hipóteses como
as acima aludidas, que as circunstâncias do caso vivamente recomendem o
aproveitamento do efeito de «shock» da pena de prisão de curta duração e esta acabe,
em hipóteses excepcionais, por revelar-se como instrumento necessário para alcançar,
em concreto, as finalidades da punição.
É o sistema da substituição-regra da pena de prisão de curta duração
pela de multa aquele que melhor se adequa às finalidades político-criminais do
sistema:
uma substituição facultativa não
conferiria o relevo devido à decidida preferência do sistema
pelas penas não detentivas;
uma substituição obrigatória esqueceria
que, mesmo no domínio da pequena criminalidade, casos há,
embora excepcionais, em que não pode prescindir-se ainda, por
completo, da prisão.
2.7.4.2.1) A substituição-regra:
Se, porém, nos termos do artigo 44º, n.º1 do Código Penal, a não
imprescindibilidade da execução da prisão não superior a 6 (seis) meses determina,
obrigatoriamente, a substituição por multa, parece, então, ficarem sem âmbito de
aplicação as restantes penas de substituição que igualmente pressupunham uma medida
da pena de prisão não superior a 6 (seis) meses, ou até inferior (pena de trabalho a
favor da comunidade e admoestação). Isto levou mesmo a que já se tivesse sustentado
que estas penas não seriam penas de substituição da prisão, mas de substituição da
pena de multa aplicada em substituição da prisão.
Esta crítica fazia algum sentido se atentássemos na letra do referido
artigo tal como estava 1982.
Contudo, esta crítica não se adequa minimamente às intenções político-
criminais do sistema, nem à redacção actual do artigo 44º do Código Penal.
Que uma pena de prisão não superior a 6 (seis) meses seja substituída
por multa ou, nos casos em que seja não superior a 3 (três) meses, por pena de trabalho
a favor da comunidade ou por admoestação, é coisa que, de modo algum, é impedida
pelo artigo 44º do Código Penal - para uma tal escolha, continuam a ser decisivas, em
exclusivo, considerações de prevenção, devendo o tribunal eleger aquela espécie de
Direito e Processo Penal 10
—Penas— 6
Dispõe no artigo 75º, n.º 2 do Código Penal que o crime anterior não
conta para efeito da reincidência se, entre a sua prática e a prática do novo crime,
tiverem decorrido mais de 5 (cinco) anos. É a este requisito que a doutrina, por vezes,
designa de «prescrição da reincidência».
A prescrição da reincidência busca sua justificação na ideia corrente na
ciência criminológica, segundo a qual, passado que seja um certo período de tempo, já
não é mais possível estabelecer entre os crimes uma conexão material que permita
reconduzir o último a uma desatenção do agente à advertência contida na condenação
anterior.
Este requisito pode dar origem a dificuldades quando a condenação
anterior seja por um concurso de crimes praticados em épocas diferentes. Uma vez
que, para este efeito, releva a data da prática do crime e não a do trânsito em julgado da
condenação, torna-se seguro que o prazo se contará a partir da data do último crime em
Direito e Processo Penal 11
—Penas— 2
concurso (salvo, naturalmente, se este não for doloso ou se não tiver sido punido, como
crime autónomo, com prisão efectiva).
No prazo de prescrição da reincidência não é contado, nos termos da 2ª
parte do n.º 2 do artigo 75º do Código Penal, o tempo (digamos que, neste período, o
curso da prescrição da reincidência se suspende) durante o qual o agente tenha
cumprido pena, medida de segurança privativa da liberdade ou outra medida
processual privativa da liberdade (permanência na habitação ou prisão preventiva).
A mais, a suspensão da prescrição da reincidência deverá valer quer a privação da
liberdade tenha ocorrido em Portugal, quer no estrangeiro.
A razão de ser deste regime está em que, durante o período de privação
da liberdade, o efeito esperado de admonição da condenação anterior não está, pela
natureza das coisas, em causa (e isto por ser muito provável que, enquanto privado da
liberdade, o agente não esteja a ser experimentado quanto à particular advertência
contida na condenação de que não cometa, no futuro, outros crimes).
O Código Penal de 1982 exigia que a pena privativa da liberdade a que
tivesse sido anteriormente condenado tivesse sido total ou parcialmente cumprida. A
justificação político-criminal de semelhante exigência era duvidosa: o fundamento da
agravação da pena na reincidência liga-se apenas à desatenção do agente pela solene
advertência contida na condenação anterior, e não se vê então o porque de exigir-se
ainda o cumprimento da prisão. Por isso, artigo 75º, n.º 4 do Código Penal é hoje
explicito na não exigência do cumprimento, mesmo que só parcial, da prisão: «a
prescrição da pena, a amnistia, o perdão genérico e o indulto, não
obstam à verificação da reincidência».
→ Para,
Operação duplamente assim, determinar se se verifica um dos
instrumental pressupostos formais da reincidência, que é o de o
crime ter sido punido com prisão efectiva superior a
6 (seis) meses; e.
→ para
2.8.3.4) Limitação:
Por fim, o tribunal tem de comparar a medida da pena a que chegou sem
tomar em consideração a reincidência (13 anos no nosso caso), com aquela que
encontrou dentro da moldura da reincidência (no nosso caso, 20 anos). E tem de o
fazer porque a agravação determinada pela reincidência não poderá exceder a medida
da pena mais grave aplicada nas condenações anteriores (cfr. o artigo 76º, n.º 1, «in
fine» do Código Penal).
A justificação desta doutrina deriva do desejo compreensível de evitar
que uma condenação anterior numa pena pequena possa, por efeito da reincidência, ter
a consequência de agravar desproporcionadamente a medida da pena devido ao crime
anteriormente cometido.
No nosso caso: 20 (medida da pena com a consideração da reincidência)
- 13 (medida da pena sem a consideração da reincidência) = 7 (a
agravação, portanto, foi de 7 anos).
Como a condenação anterior havia sido de 4 (quatro)
anos, a agravação da reincidência não poderia exceder este
limite, mas, como foi excedido, deve ser reduzido a este limite.
Assim, 13 + 4 = 17; a pena de 20 (vinte) anos terá de ser
reduzida a 17 anos.
Direito e Processo Penal 11
—Penas— 7
Bem pode acontecer que a elevação de 1/3 (um terço) do limite mínimo
da moldura determine, já, um mínimo da moldura penal superior à medida da pena
mais grave aplicada nas condenações anteriores, caso em que se chegará à solução de
determinar uma medida da pena da reincidência inferior ao limite mínimo da moldura
penal da reincidência.
Exemplo:
C1 —1987 C2 —1992
Não tem aqui nada de erróneo, nem de absurdo: a última das operações
referidas de determinação da medida da pena da reincidência constitui, na verdade, não
exactamente uma regra de determinação da pena, mas um limite (absoluto e externo).
Nestes casos, o limite mínimo da moldura penal da reincidência
continua, pois, a ser o que resulta da elevação de 1/3 (um terço) do limite mínimo da
pena aplicável ao facto. Todavia, por razões extrínsecas àquele processo normal ... por
um «favor reum» que não tem a ver directamente com tal processo, a pena aplicada
vem a situar-se fora dos limites da moldura da reincidência.
Note-se que é exactamente o mesmo daquilo que sucede com o
princípio da proibição da «reformatio in pejus», sempre que tribunal «ad
quem» considere que a medida da pena deveria, de acordo com os critérios legais da
sua determinação, ser superior àquela que foi fixada pelo tribunal «a quo», mas, nem
por isso, há aqui uma derrogação dos princípios de determinação da pena.
Direito e Processo Penal 11
—Penas— 8
→
Fundamento da
Culpa agravada;
reincidência
→
2.9.1) Pressuposto:
Pressuposto da aplicação do regime de punição agora em análise é que
o agente tenha praticado mais do que um crime antes de transitar em julgado a
condenação por qualquer um deles (cfr. o artigo 77º, n.º 1 do Código Penal).
A matéria relativa ao concurso de crimes deve primeiramente ser
considerada nas suas atinências com a doutrina do crime. Para nos debruçarmos sobre
as atinências do concurso de crimes com a punição (e, consequentemente, com as
regras especiais de determinação da pena aplicáveis à situação), é necessário rever as
noções relacionadas com as distinções entre concurso de crimes efectivo e a aparente
(ou legal) e entre concurso de crimes real e ideal, homogéneo e heterogéneo, etc..
→ Caso especial de
determinação da pena (arts. 77º e 78º do CP)
Concurso de crimes
→ Caso especial de
aparecimento da infracção criminal (art. 30º, n.º 1 do CP).
Direito e Processo Penal 12
—Penas— 0
→ Efectivo/verdadeiro/puro
(art. 30º, n.º 1 do CP) — constituem regras especiais para determinar a
Concurso medida da pena.
→ Aparente: situações em
→ Concurso
heterogéneo: o agente preenche vários tipos;
Modalidades de → Concurso
concurso efectivo: homogéneo: o agente preenche várias vezes o mesmo
tipo;
→ Concurso
ideal: com uma só conduta, o agente comete vários
crimes;
Direito e Processo Penal 12
—Penas— 2
Exemplos:
→ A dispara um tiro para matar B e outro tiro
para matar C (há aqui um concurso real homogéneo). Se A tivesse
usado uma metralhadora, haveria uma só conduta e, portanto,
haveria um concurso ideal homogéneo.
→ A dispara em tiro para matar a B e mata-o.
Seguidamente dispara um outro tiro para partir o vidro de uma
montra (há aqui um concurso real heterogéneo).
→ A dispara um só tiro que mata duas pessoas
ou instala uma bomba num prédio, matando várias pessoas (neste
caso estamos perante um concurso ideal homogéneo).
→ A, em excesso de velocidade, despista-se,
matando uma pessoa e ferindo outra; ou A, com um único disparo,
mata uma pessoa e fere outra (concurso ideal heterogéneo).
as medidas de segurança previstas por qualquer uma das leis concorrentes (mesmo as
previstas por uma das leis hierarquicamente subordinadas, que ficaram de fora do
processo de aplicação).
Nenhuma distinção haverá que fazer consoante os crimes relevantes se
encontrem numa relação de concurso real ou ideal, homogéneo ou heterogéneo
(diferentemente do que sucede em várias legislações estrangeiras, como a brasileira e a
alemã, onde o regime de punição varia consoante se esteja perante uma ou outra
daquelas formas de concurso).
O que importa aqui é apenas que a prática dos crimes concorrentes
tenha tido lugar antes do trânsito em julgado da condenação por qualquer deles. Sendo
a prática do crime posterior a este momento — embora continue a existir um concurso
de crimes do ponto de vista da doutrina do crime — a hipótese já não relevará para
efeitos de punição, como concurso de crimes, mas só, eventualmente, como
reincidência.
Caso 5:
C1 C2 C3 e C4
C1 → 20 anos
C2 → 5 anos 55 anos (pena aplicada ao agente)
C3 → 10 anos
C4 → 20 anos
Críticas:
adoptando-se o método da acumulação material, a pena vai
tornando-se progressivamente mais gravosa podendo ser
ultrapassado o limite da culpa (a mera soma aumenta
desproporcionadamente o sacrifício);
as penas existem para a ressocialização do delinquente, sendo
que as penas desmesuradamente longas não cumprem os
objectivos de prevenção especial positiva;
pode conduzir a penas inaceitáveis à luz das nossas opções
político-criminais (o nosso legislador fixou como limite máximo
da pena de prisão em 25 anos e da pena de multa em 900 dias).
Crítica: quanto mais crimes o agente cometer, mais beneficiado será (contudo,
este método é menos criticável do que o método da absorção). Note-se, porém,
que é este o princípio escolhido para punir o crime continuado (cfr. o artigo 79º
do Código Penal).
Caso 6: entre Fevereiro e Maio de 1998, A cometeu 3 (três) crimes. Os dois primeiros
são puníveis com prisão até 1 (um) ano e o terceiro com prisão de 2 (dois) a 8 (oito)
anos. Nenhum dos crimes foi objecto de sentença condenatória transitada em julgado.
Determine a pena.
C1 C2 C3 Julgamento
Caso 6: entre Fevereiro e Maio de 1998, A cometeu dois crimes. O primeiro é punível
com multa até 150 dias e o segundo é punível com multa entre 60 e 360 dias.
Neste caso, os dois crime são puníveis com penas de diferente natureza.
medida de segurança que se ligue a qualquer dos factos praticados (e que, como tal,
tenha sido fixado na primeira operação). Esta solução é compreensível de um ponto de
vista político-criminal e mesmo da perspectiva da lógica do sistema da pena conjunta:
é fruto da ideia de que, por força do concurso, os crimes
singulares não perdem a sua individualidade e as suas
especificidades (como aconteceria num sistema de pena
unitária);
solução diferente poderia conduzir o agente à prática de outro
crime, só para evitar uma consequência acessória que ao
primeiro se ligava e cuja aplicação pretendesse muito
particularmente evitar.
2.9.4.1) Pressupostos:
C1 C2 J1 TJ C3 C4 J2
Neste caso, o segundo tribunal profere uma pena única conjunta que
pune o concurso existente entre os dois primeiros crimes e outra pena única conjunta
que pune os dois últimos crimes.
Só conhece C1
C1 C2 J1 TJJ1 J2 TJJ2
2.9.4.2) Regime:
O agente, assim, teria que cumprir pena de prisão de 5 (cinco) anos pelo
concurso de crimes (C1 + C2) e pena de prisão de 8 (oito) anos pelo concurso de
crimes (C3 + C4).
Nada impede que se valore a pluralidade de actos (se disso for caso,
face ao limite da culpa a às exigências de prevenção) como factores de agravação.
A menor exigibilidade e a consequente diminuição da culpa que
caracterizam o crime continuado já foram tomadas em conta quando a punição daquele
foi subtraída às regras da pena conjunta do concurso.
É um princípio de exasperação, não de absorção que preside à
operação de medida da pena de um crime continuado (como unidade jurídica).
2.11.2) Pressupostos:
• Prisão preventiva
Artigo 80º do
Código Penal • Detenção
• Obrigação de permanência na
habitação
Direito e Processo Penal 14
—Penas— 3
Nos termos do artigo 82º do Código Penal, deve ser descontada tanto a
privação de liberdade sofrida em Portugal como a sofrida no estrangeiro.
Note-se que decisiva é a unidade processual, não a unidade substantiva.
Assim, se, por exemplo, o agente for preso preventivamente em virtude de ser acusado
dos factos x, y e z, o desconto vem a ter lugar mesmo que aquele venha a ser
condenado apenas pelo crime y.
2.11.2.3) Critério:
dos casos, ou seja, para os casos «normais», lá estão as molduras penais normais,
com os seus limites máximo e mínimo próprios.
2.12.3) Regime:
Verificado-se os pressupostos, a consequência jurídica da atenuação
especial não depende do arbítrio ou da discricionariedade livre do tribunal: verificados
os pressupostos respectivos (nomeadamente o pressuposto material da diminuição
acentuada da culpa ou das exigências da prevenção), a concessão da atenuação especial
é um dever ou uma obrigação – é uma autêntica consequência jurídica a que o tribunal
não pode furtar-se, mas que cabe, antes, na sua discricionariedade vinculada.
Mas não podemos esquecer que nenhuma situação e nenhum factor
possuem, por si mesmos, efeito atenuante especial, mas sempre e só depois de
conexionados com o referido pressuposto material.
Nota importante:
2.13.2) Pressupostos:
A aplicação do regime contido no artigo 74.º, n.º1 do Código Penal
encontra-se na dependência da verificação simultânea de 4 (quatro) pressupostos:
1) que o facto constitua crime punível com pena de prisão não
superior a 6 (seis) meses ou pena de multa não superior a 120
(cento e vinte) dias;
2) que a culpa do agente tenha sido diminuta;
3) que o dano tenha sido reparado; e
4) que à dispensa de pena se não oponham exigências de prevenção
especial de socialização ou de prevenção geral.
2.13.3) Regime:
Verificados os pressupostos exigidos pelo artigo 74º, n.º 1 do Código
Penal, o tribunal condena o arguido, declarando-o culpado, mas não lhe aplica qualquer
pena, nem subordina a dispensa de pena ao cumprimento de quaisquer condições,
deveres ou regras de conduta.
Nota importante: a dispensa de pena é eminentemente individual e incomunicável aos
participantes.
especial perigosidade do delinquente para passar a ser, tal como a reincidência, mais
um instituto fundado, primacialmente, na culpa agravada do agente.
Ora, mesmo que seja exacto que a culpa do delinquente por tendência é,
em princípio, uma culpa agravada, a verdade é que a razão desta agravação nada tem
a ver com a razão de agravação da culpa que está na base da reincidência.
Do que, em primeira linha, se trata no instituto da pena relativamente
indeterminada é de acorrer a uma especial perigosidade do delinquente, indiciada
pela frequência com que comete crimes de uma certa gravidade. Um tal índice resulta
igualmente fundado quer o agente já tenha sido ou ainda não tenha sido condenado
pelos crimes relevantes.
A própria agravação da culpa do delinquente habitual refere-se à
reiteração da actividade criminosa, não ao desrespeito pela solene advertência
contida nas condenações anteriores.
Conclusão: a aplicação de uma pena relativamente indeterminada não exige a
condenação pelos crimes anteriormente praticados, basta-se com a sua
prática, desde que os crimes anteriores possam ser apreciados no processo
em que tem lugar a aplicação da pena relativamente indeterminada.
2.14.2.1.2.2) Proporcionalidade:
Nos termos do artigo 83º, n.º 2 do Código Penal, aos delinquentes por
tendência deve aplicar-se uma pena relativamente indeterminada que tem um mínimo
correspondente a 2/3 (dois terços) da pena de prisão que concretamente caberia ao
crime e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 6 (seis) anos.
Para os casos de delinquência por tendência menos grave, dispõe o
artigo 84º, n.º 2 do Código Penal que a pena relativamente indeterminada tem um
mínimo correspondente a 2/3 (dois terços) da pena de prisão que concretamente
caberia ao crime cometido e um máximo correspondente a esta pena acrescida de 4
(quatro) anos.
Nota importante: é absolutamente necessário que da sentença conste a medida
concreta da prisão que ao caso caberia. A partir desta menção
tornam-se evidentes das datas em que se terá de fazer a apreciação
da liberdade condicional e, através dela, determinar a duração
efectiva da pena relativamente indeterminada.
2.14.2.2.1) Pressupostos:
2.14.2.2.1.1) O agente:
2.14.2.2.1.2) O facto:
É necessário que o agente tenha praticado um crime «a que devesse
aplicar-se concretamente prisão efectiva».
Direito e Processo Penal 16
—Penas— 6
Caso 9:
Caso prático:
Concurso
C1 S C2 J C3 C4
Condenação a
4 anos
Direito e Processo Penal 16
—Penas— 9
Caso Prático:
Concurso
C1 C2 C3
Concurso
C1 C2 C3 C4
C1 C2 C3 C4
C1 C2 C3
5 anos 4 anos
Caso prático:
T1 T2
Julg. Julg.
C1 C2 C3 C4 C5 C5 C4
Desconhece o C4
e condena em PRI
de 2 a 7 pelo C5 (a
pena concreta era
de 3 anos.
Conhece C4 e
determina a pena
concreta para o C4
de 2 anos.
Logo, era injusto que, só porque o T2 descobriu o quarto crime, o agente fosse punido
com apenas uma pena única (do concurso) e não com uma pena relativamente
indeterminada.
Segunda a solução do STJ, não há problema em aplicarmos uma pena
relativamente indeterminada a uma situação de concurso, porque não é exigida
condenação pelos crimes anteriores (que são pressuposto formal da pena
relativamente indeterminada).
O T2 deveria ter encontrado a pena conjunta dos quarto e quinto crimes
e, em seguida, transformá-la numa pena relativamente indeterminada.
MARIA JOÃO ANTUNES critica uma tal solução. Segundo seu
entendimento, se a pena concreta encontrada para o quarto crime foi de 2 (dois) anos,
então em relação a este crime não estão cumpridos os pressupostos da pena
relativamente indeterminada do artigo 83º, n.º 1 do Código Penal (que exige penas
superiores a 2 anos), nem os pressupostos da pena relativamente indeterminada
previstos pelo artigo 84º do Código Penal (que exige a prática de 4 crimes anteriores).
A solução correcta para o caso seria, pois, que o agente fosse condenado
à pena de prisão de 2 (dois) anos pela prática do quarto crime e a uma pena
relativamente indeterminada pela prática do quinto crime (cumprimento da pena
seguido de pena relativamente indeterminada) — solução da acumulação.
Caso prático:
Concurso
C1 C2 C3 C4
2.14.4.2) Regime:
3.1.1) Generalidades:
O instituto da liberdade condicional surge como uma providência que,
procurando responder ao aumento significativo da reincidência observado no final do
século XIX, visava essencialmente promover a ressocialização de delinquentes
condenados a penas de prisão de média ou longa duração através da sua libertação
antecipada (uma vez cumprida uma parte substancial daquelas) e, deste modo, de uma
sua gradual preparação para o reingresso na vida livre.
Deste modo, o instituto assume um carácter de «última fase da
execução da pena» a que o delinquente foi condenado e, assim, a natureza
jurídica de um incidente (ou medida) de execução da pena privativa da liberdade.
O agente, uma vez cumprida parte da pena de prisão a que foi
condenado (pelo menos metade, em certos casos; dois terços, noutros casos), vê recair
sobre ele um juízo de prognose favorável sobre o seu comportamento futuro em
liberdade, eventualmente condicionado pelo cumprimento de determinadas condições
(substancialmente análogas aos deveres e regras de conduta que fazem parte da
suspensão da execução da prisão).
Foi uma finalidade específica de prevenção especial positiva ou de
socialização que conformou a intenção político-criminal básica da liberdade
condicional desde o seu surgimento.
Porém, uma díspar evolução nas diversas ordens jurídicas, sem ter
chegado a pôr em causa aquela finalidade político-criminal básica, fez ressaltarem
dúvidas quanto à sua natureza, a ponto de não faltar hoje quem (nomeadamente
adeptos dos «just serts») ponha em causa a conveniência da sua manutenção.
Mas do que se tratou, sobretudo foi de certos ordenamentos jurídicos
terem:
por um lado, prescindido do consentimento do condenado para
aplicação da liberdade condicional;
por outro lado, terem permitido que o período de experiência,
em que a concessão daquela liberdade se traduz, ultrapasse o
período de tempo de prisão que ao condenado faltava cumprir.
3.2)Pressupostos e Regime:
3.2.1) Pressuposto:
Nota importante: o pressuposto-base será sempre o consentimento do
condenado (cfr.: o artigo 61º, n.º 1 do Código
Penal).
3.2.2) Duração:
Nos termos do artigo 61º, n.º 6 do Código Penal: «em qualquer
das modalidades, a liberdade condicional tem uma duração igual ao
tempo de prisão que falte cumprir, mas nunca superior a 5 (cinco)
anos».
3.2.3) Regime:
O regime a que a nossa lei submete o instituto da liberdade condicional
é indicado no artigo 63º do Código Penal por remissão para o regime da suspensão da
execução da prisão. Remissão esta que engloba, aliás, as consequências do
incumprimento dos deveres que integram própria liberdade condicional.
Também a liberdade condicional, tal como a suspensão da
execução da pena de prisão, pode ficar condicionada pela
imposição ao libertado do cumprimento de deveres e regras de
conduta, bem como de prestação de caução de boa conduta e de
apresentação periódica ao tribunal ou outras entidades não
policiais.
Também a liberdade condicional admite (na remissão que o
artigo 63º do Código Penal faz para o artigo 54º do Código
Penal) a existência de um Plano Individual de Readaptação e a
consequente vigilância e apoio, durante o seu tempo de duração,
de um oficial dos serviços de reinserção social.
3.2.4.1) Incumprimento:
3.2.4.2) Cumprimento:
Caso prático: a) A foi condenado a uma pena de prisão de 6 (seis) anos pela prática
de crime de furto qualificado;
b) A foi condenado a 8 (oito) anos de prisão por um crime de furto
qualificado;
c) A foi condenado a uma pena de prisão de 12 (doze) anos por crime
de homicídio;
d) A esteve 2 (dois) anos em prisão preventiva e foi condenado a uma
pena de prisão de 10 (dez) anos por um crime contra o património.
Em todos estes casos, diga quando é que A pode ser posto em liberdade
condicional.
Caso prático: A comete um crime de furto pelo qual é condenado a 5 (cinco) anos de
prisão e um crime de homicídio pelo qual é determinada uma medida
concreta de pena de prisão de 15 (quinze) anos em concurso e o tribunal
aplica-lhe uma pena única conjunta de 20 (vinte) anos.
Solução: a liberdade condicional deve ser concedida a meio da pena se, com o
cumprimento de metade desta pena única, estiverem cumpridos os 2/3 (dois
terços) da pena concretamente determinada para o segundo crime
(homicídio).
Assim: 2/3 de 15 = 10 e ½ de 20 = 10.
Portanto, a meio da pena única conjunta, isto é, ao fim de 10 (dez) anos,
poderia ser apreciada a possibilidade de concessão da liberdade condicional, pois 10
(dez) anos atinge os 2/3 (dois terços) da pena concreta determinada para o segundo
crime.
A uma solução diversa se chegaria se tivessem sido praticados, em
concurso, um crime de furto (pelo qual fosse determinada uma pena concreta de 2
anos) e um crime de homicídio (pelo qual fosse determinada uma pena concreta de 18
anos) e se fosse decretada pelo tribunal uma pena única conjunta de 20 anos.
Neste caso, o delinquente não poderia ser posto em liberdade
condicional após ter cumprido 10 (dez) anos de prisão (= ½ de 20), pois:
→ se fosse posto em liberdade condicional
depois de ter cumprido 10 (dez) anos de prisão, o
delinquente beneficiaria de ter cometido o crime de furto, ou
seja, ao invés de poder ser posto em liberdade condicional só
após ter cumprido 12 (doze) anos de prisão (= 2/3 de 18),
poderia entrar em liberdade condicional depois de cumpridos
10 (dez) anos;
→ mas também não pode ser posto em
liberdade condicional aos 2/3 (dois terços) de 20 (vinte), pois
seria prejudicado em relação ao furto.
Solução: a concessão da liberdade condicional deverá ser apreciada a meio da pena
única conjunta, mas é necessário que essa metade consuma os 2/3 (dois
terços) da pena concreta determinada para o crime de homicídio (2/3 de 18 =
12).
Sendo assim, a concessão da liberdade condicional apenas poderia ser
apreciada ao fim de 12 (doze) anos.
4) Medidas de segurança:
As medidas de segurança, como reacções autónomas do sistema
criminal, surgiram para os casos de inimputabilidade e delinquentes por tendência
especialmente perigosa.
Também para os casos de imputabilidade diminuída, o Código Penal
prevê a hipótese de os agentes serem declarados inimputáveis, para que lhes possa ser
aplicada uma medida de segurança (são mais perigosos).
Monismo
Assim, se, por exemplo, um inimputável dispara para matar uma vaca,
mas, na verdade, tratava-se de uma pessoa e mata-a, há erro sobre os elementos do
tipo, ou seja, erro que exclui o dolo do tipo-de-ilícito, não podendo, assim, ser aplicada
uma medida de segurança (cfr. o artigo 16º, n.º 1 do Código Penal).
De outro modo, havendo erro sobre uma proibição cujo conhecimento
era indispensável para determinar a ilicitude, há erro que exclui o dolo da culpa,
devendo, assim, ser aplicada uma medida de segurança (cfr. o artigo 16º, n.º 2 do
Código Penal).
Mas se o erro sobre, por exemplo, os elementos do tipo (exemplo da
vaca) for afectado ou influenciado pela anomalia psíquica (se o erro é directamente
devido à anomalia psíquica), deve aplicar-se uma medida de segurança.
Nota importante: a distinção que releva é a de erro que excluiu o dolo da culpa e erro
que excluiu o dolo do tipo (e não a distinção entre erro sobre a
factualidade típica e erro sobre a proibição).
ilícito típico, mas de um facto criminoso, com ressalva de todos os elementos que
pertençam à categoria da culpa ou que dela decorram.
Esta concepção decorre do entendimento que FIGUEIREDO DIAS
tem da culpa na construção do facto punível: entende que a culpa do inimputável não
pode ser avaliada, na medida em que entre a personalidade deste e o juiz existe como
que um «véu» constituído pela anomalia psíquica (ou a idade), não podendo o juiz,
assim, comparar a personalidade que o agente documentou no facto com aquela que é
suposta pela ordem jurídico-penal.
→ ROXIN: põe uma categoria da responsabilidade depois da
culpa;
→ MAURACH: categoria da responsabilidade antes da culpa.
Conclusões:
Imputável: se actuar ao abrigo de uma causa de exclusão da
culpa ou se actuar por erro que exclua o dolo do tipo de culpa,
não é punido a título de dolo;
Inimputável: se actuar naquelas mesmas situações pode ser-lhe
aplicada uma medida de segurança se for perigoso.
4.3) Imputabilidade:
Cfr. o artigo 20º, n.os 1 e 2 (imputabilidade diminuída).V.G.:
deficiências, estado patológico duradouro (anomalia psíquica).
4.4) Perigosidade:
Juízo de prognose (fundado receio de que outros facto da mesma
espécie se repitam).
tratar o homem segundo a sua liberdade e dignidade pessoal, então isso conduz
directamente ao princípio da culpa como máxima incontornável de todo o Direito
Penal civilizado.
Não há pena sem culpa e a medida da pena não pode, em caso algum
ultrapassar a medida da culpa.
Aqui reside o mérito das teorias absolutas: a concepção retributiva teve
o mérito irrecusável de ter erigido o princípio da culpa em princípio absoluto de toda
a aplicação da pena e ter, deste modo, levantado um veto incondicional à aplicação de
uma pena criminal que viole a eminente dignidade da pessoa humana.
Como teoria dos fins das penas, porém, a doutrina da retribuição deve
ser recusada «in limine». E, logo, porque ela, resumidamente, não é uma teoria dos
fins das penas: ela pretende, justamente o contrário, isto é, a consideração da pena
como «entidade independente de fins».
Quando se pergunta pelos fins das penas indaga-se de efeitos relevantes
para a vida comunitária, não devendo a questão ser desvalorizada como questão
meramente terminológica (a justiça como um «fim» não colhe).
Por outro lado, a doutrina da retribuição deve ser recusada pela sua
patente inadequação à legitimação, à fundamentação e ao sentido da intervenção penal.
Estas podem resultar apenas da necessidade, que ao Estado incumbe satisfazer, de
pronunciar as condições de existência comunitária, assegurando a cada pessoa o espaço
indispensável de realização livre da sua personalidade.
Só isto pode justificar que o Estado furte a cada pessoa o mínimo de
direitos, liberdades e garantias necessários para assegurar os direitos dos outros e, com
eles, da comunidade. Para o cumprimento de tal função, a retribuição constitui um
meio inidóneo.
O Estado democrático, pluralista e laico dos nossos dias não pode
arvorar-se em entidade sancionadora do pecado e do vício, tal como uma qualquer
instância os define, mas tem de limitar-se a proteger bens jurídicos; e, para tanto, não
pode servir-se de uma pena dissociada de fins (ab-soluta; des-ligada).
Tal como vimos suceder com o conceito material de crime, também um
entendimento por inteiro secularizado da pena é claramente sufragado pelo artigo 18.º,
n. º 2 da Constituição da República Portuguesa. E, justamente por isso, a
retribuição não aparece, muito exactamente, contabilizada entre os fins da aplicação da
pena exarados no artigo 40º, n.º 1 do Código Penal, mas apenas como limite
inultrapassável da sua aplicação no artigo 40º, n.º 2 do Código Penal.
A obrigatória correspectividade entre pena e culpa não é biunívoca: se
toda a pena supõe a culpa, nem toda a culpa supõe a pena, mas só aquela culpa que,
simultaneamente, acarreta a necessidade ou carência de pena.
Isto pode comprovar-se através do instituto da dispensa de pena (cfr. o
artigo 74º do Código Penal), relativo a casos de crimes onde, estando ainda presente a
culpa, todavia não se verifica a carência de pena, precisamente porque neles se não
fazem sentir quaisquer exigências preventivas.
A culpa é pressuposto e limite, mas não o fundamento da pena.
As doutrinas da retribuição devem ainda ser repudiadas na medida em
que uma pena retributiva esgota o seu sentido no mal que se faz sofrer o delinquente
como compensação ou expiação do mal do crime. Nesta medida, é uma doutrina
puramente social-negativa que acaba por revelar-se não só estranha a, mas, no fundo,
Direito e Processo Penal 20
—Teorias absolutas: a pena como instrumento de retribuição—2
a) Via da
a) negativa (de inocuização) intimidação;
b) Via da
8.2) A culpa:
No entendimento tradicional, eram as exigências político-criminais que
tinham, em definitivo, de amoldar-se aos requisitos conceituais-sistemáticos, aos
elementos constitutivos do crime e actuar no espaço por este definido.
Já não é assim quando o pensamento do problema se sobrepõe ao
pensamento do sistema no processo metódico de aplicação do Direito Penal: é do
problematismo próprio de cada situação que há-de nesse caso partir-se para a
determinação da totalidade normativa; e é na justa solução do problema posto pelo
caso jurídico-penal e na posterior integração daquela no sistema (aberto), que há-de
consistir a exacta função da dogmática do Direito Penal.
Direito e Processo Penal 21
—Finalidades e limites das penas criminais— 1
Nota importante: se o homem é, por definição, ser livre, então escolhe as suas
condutas de acordo com essa liberdade — a liberdade é sempre
pressuposta na escolha da conduta. O critério da culpa não é, assim,
a liberdade, mas antes, a violação de um dever ser. O substrato é a
personalidade.
Nota importante: para este conceito de culpa não releva em nada a determinação de
qualquer desvalor «moral», mas só do desvalor jurídico-penal da
personalidade manifestada no facto, por referência ao tipo de
personalidade suposto pela ordem jurídica.
aquela função como tal que justifica, só por si, a aplicação de uma medida de
segurança.
O que a justifica é sempre e só a necessidade de prevenção da prática
futuro de factos ilícitos típicos (e, nesta acepção, uma função de segurança em sentido
amplo).
Deste modo, a tentativa de operar uma socialização encontra-se na
dependência da prática, pelo agente, de um facto qualificado pela lei como um ilícito
típico.
Por outro lado, é sempre indispensável a verificação da perigosidade do
agente: do perigo de cometimento por ele, no futuro, de outros factos ilícitos típicos.
seu limite, todavia constitua uma reacção aceitável nos quadros do Estado de Direito e
de modo algum violadora do respeito absoluto pela dignidade da pessoa.
O princípio da defesa social assume a sua função legitimadora não
quando considerado na sua veste puramente fáctica, antes sim, como nota ROXIN,
quando conjugado com o princípio da ponderação de bens conflituantes: a liberdade da
pessoa (mesmo do inimputável) só pode ser suprimida ou limitada quando o seu uso
conduza, com alta probabilidade, a prejuízo de outras pessoas que, na sua globalidade,
pesa mais do que as limitações que o causador do perigo deve sofrer com a medida de
segurança.
Fica, assim, afastada uma concepção, segundo a qual, para legitimação
da medida de segurança, necessário se tornaria considerá-la dentro da categoria das
medidas puramente administrativas (na doutrina italiana: «medidas de
prevenção»). Uma tal concepção lançaria a teoria da medida de segurança para fora
do campo do Direito Penal e da política criminal.
Esta concepção não conseguiria explicar a necessária
jurisdicionalização da medida de segurança, nem, tão-pouco, a sua submissão ao
princípio da sua ligação necessária a um ilícito típico, que só na Constituição político-
criminal encontram a sua verdadeira razão de ser.
A «administrativização» das medidas de segurança encontrava
apoio claro na evolução por elas sofrida entre nós no período do Estado Novo,
nomeadamente pelas que eram aplicadas aos delinquentes políticos.
Isso explica que muitos autores que inicialmente tinham dado o seu
aplauso à ideia da integração no sistema penal das medidas de segurança, tenham
passado posteriormente a combatê-lo.
Os penalistas fiéis aos ideais democráticos tentaram expurgar do campo
do Direito Penal a problemática das medidas de segurança, afastando-a para o campo
das medidas puramente administrativas, como forma de manter incólumes os
princípios fundamentais da teoria e política criminais. Ao mesmo tempo em que
advogavam a consagração de um sistema monista, como forma de ilegitimar a
aplicação de medidas de segurança a imputáveis e, por conseguinte, a delinquentes
políticos.
Pensou se que era importante «eticizar» o fundamento da medida de
segurança, à semelhança do que se faz com a pena, ao conexioná-la dissoluvelmente
com o pensamento da culpa jurídico-penal.
Nesta via, porque a conexão culpa / medida de segurança se torna
impossível logo à partida, procurou WELZEL estabelece-la assim: só estão
legitimados para participar livremente na vida externo-social aqueles que possuem
liberdade e autonomia interno-pessoal e podem, por isso, ser influenciados pelas
normas; toda a liberdade externo-social se legitima só perante a posse da liberdade
moral interior (a qual não pertence nem aos doentes mentais, nem, tão pouco, àqueles
que, em virtude de más inclinações, herdadas ou adquiridas, se não encontram em
condição de uma livre decisão a favor da norma). Por isso, não podem estes ter direito
à plena liberdade externo-social, legitimado-se, quanto a eles, a aplicação de medidas
de segurança privativas da liberdade.
Esta concepção é de todo inadmissível: as suas consequências seriam
terríveis para os inimputáveis e para os criminosos empedernidos ou habituais, que são
plenamente «pessoas».
Direito e Processo Penal 22
—As medidas de segurança— 2
1. º conceito:
monismo: o sistema penal diz-se monista quando
prevê apenas reacções de um tipo: ou penas ou
medidas de segurança.
Dualismo: o sistema penal diz-se dualista quando
prevê os dois tipos de reacções: penas e medidas de
segurança.
Nesta perspectiva o nosso sistema é dualista.
3.º conceito:
Monismo: o sistema penal diz-se monista quando para o mesmo
agente e perante o mesmo facto apenas prevê a aplicação de
penas ou de penas e medidas de segurança não detentivas.
Dualismo: o sistema penal diz-se dualista quando para o mesmo
agente e perante o mesmo facto prevê a aplicação de uma
pena e de uma medida de segurança detentiva.
Apenas neste último sentido é que o nosso sistema pode dizer-se
monista.
Fim do 1º Semestre
ÍNDICE
1) INTRODUÇÃO:........................................................................................................1
1.1) A DOUTRINA DAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME:..................................................1
1.2) O objecto da doutrina das consequências jurídicas do crime:........................2
1.3) O movimento de reforma do Direito Penal português e as suas realizações
mais importantes no domínio das reacções criminais:...........................................5
1.4) OS MODELOS DA POLÍTICA CRIMINAL:..........................................................................8
1.4.1) A «desordem» dos modelos:..........................................................................8
1.4.2) Paradigmas tradicionais:..............................................................................8
1.4.2.1) Modelo das escolas clássica e neoclássica:............................................8
1.4.2.2) Modelo da escola positivista ou moderna:.............................................9
1.4.2.3) Modelos mistos: a «defesa social».........................................................9
1.4.3) A crise da política criminal:........................................................................10
1.4.3.1) Crise dos modelos tradicionais da política criminal:............................10
1.4.4) O paradigma emergente da política criminal:............................................11
1.4.4.1) A descriminalização:............................................................................12
1.4.4.2) A diversão (ou desjudiciarização):.......................................................12
1.4.5) Princípios directores do programa político criminal:................................13
1.4.6) Sintonia do sistema português com um modelo político-criminal
emergente:.............................................................................................................17
2) AS PENAS:...............................................................................................................19
2.1) NOÇÕES:.................................................................................................................19
2.2) AS PENAS ACESSÓRIAS (ARTIGOS 65º A 69º DO CÓDIGO PENAL):....................................27
2.2.1) O futuro das penas acessórias:...................................................................30
2.3) PENAS PRINCIPAIS: A PENA PRIVATIVA DA LIBERDADE (OU PENA DE PRISÃO)......................30
2.3.1) A pena de prisão única e simples:...............................................................31
2.3.2) Os limites da pena de prisão:......................................................................31
2.3.3) A execução da pena de prisão:...................................................................33
2.3.4) Juízo conclusivo sobre a situação actual da pena privativa da liberdade: 35
2.4) PENAS PRINCIPAIS: A PENA PECUNIÁRIA (OU PENA DE MULTA).........................................37
2.4.1) A evolução da pena de multa e o seu significado político-criminal:..........37
2.4.2) Caracterização dogmática da pena de multa:............................................38
2.4.3) Valoração político-criminal:.......................................................................39
2.4.3.1) Vantagens da aplicação da pena de multa:...........................................40
2.4.3.2) Inconvenientes da pena de multa:.........................................................40
2.4.4) Âmbito de aplicação:..................................................................................41
2.4.5) Procedimento para determinação da pena de multa:.................................42
2.4.5.1) A determinação do número de dias-de-multa:......................................43
2.4.5.2) Determinação do quantitativo diário:...................................................44
2.4.6) O desvio do sistema:...................................................................................48
2.4.7) Prazo e condições de pagamento:...............................................................49
2.4.8) A execução da pena (o não pagamento e as suas consequências):............50
Direito e Processo Penal II
—Índice—