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122 Petrologia Kenea Capitulo 2.5 Geoquimica e Modelamento Introdugso Desde 05 siltimos anos do século passado, dados geo- quimicos vém sendo aproveitados na discusso das rochas fgneas. No inicio, foram aplicados os resultados para os elementos maiores ao problema de classificaggo das rochas (ver cap. 1.6). Com o desenvolvimento e a aplicagZo dos métodos para a andlise dos elementos-trago, dados referentes a esses elementos também foram utilizados com essa finalidade. ‘Apenas na década de 50 apareceram as primeiras sugestées sobre a utilizagdo dos tragos, para seguir 0 caminho de cristalizagio de um magma (1). O interesse nesse assunto recebeu um novo estimulo no final da década de 60 (2), e, durante a década de 70, 0 modelamento foi assunto de atencao de um grande mimero de publicag6es. Uma coletinea recen- te (3) resume bem 0 estado atual do conhecimento dessa drea de interesse. 0 que é modelamento? Tustrase_modelamento com referéncia a uma situaggo simplificada. Suponhase que, num vulego, se encontram diversos tipos de derrame, desde basaltos até riolitos. As caracteristicas mineralégicas ¢ quimicas sugerem, fortemente, que hé uma relacio direta entre o basalto e 0 riolito, este sendo derivado do primeiro por cristalizap#o fracionada. Pode-se avaliar, quantitativamente, a validade dessa relagio, sabendo-se a natureza dos minerais a serem fracionados e suas composig6es. O processo de cristalizagdo fracionada assim fica transformado numa relagdo matemética simples entre a com- posiggo do magma progenitor (o basalto), a dos cristais fracionados (0 residuo) ¢ a do Ifquido restante (0 magma derivado, no caso 0 riolito). Transforma-se um processo fgneo mum anélogo matemético. © modelo matemitico testa, nesse caso, a possibilidade de derivar, por fracionamento de cristais de composigdes conhecidas, 0 riolito de composigo conhecida, do basalto também de composi¢ao conhecida. Havendo tal possibilidade, ‘© modelamento comprova que 0 processo é vilido. E impor- ‘ante salientar-se que o modelamento ndo comprova que esse pprocesso foi exatamente © que operou, ¢ sim que € um pro- ‘eesso que poderd ter gerado produtos similares aqueles obser- vyados, partindo-se do possivel progenitor. Por outro lado, ‘quando 0 modelamento demonstra que 0 processo sugerido go consegue reproduzir os produtos naturas, isso significa ‘que aquele modelo ndo é satisfatério e, assim, é necessério buscar-se uma alternativa, (1) Neumann, Mead e Viteiano, 1954. (2) Gase, 1968, (3) Allie © Hare (Eds. 1978. Diiagramas de Variago Introduzidos @ época da passagem do século, os diagra- mas de variago..representam a variagio do teor de um elemento qualquer em relagfo ao de outro elemento ou parimetro, dentro de uma suite magmética. Na sua forma original, proposta por Harker, o diagrama de variaga0 ‘comparava 0 teor do elemento com o de SiO. A escolha deste pardmetro partiu da observagdo de que, numa suite basalto-rio- lito, existe um aumento da concentraggo de SiO;. No en- tanto, esse aumento nem sempre ocorre de uma maneira regular. Por isso, foram sugeridos outros parémetros ou indices de diferenciagGo, cuja finalidade principal é de salientar, num sgréfico, pequenas diferengas da quimica de suftes de afinidades diferentes (ver cap. 1.6). Todavia, 0 uso de diagramas de variagfo como um acessério em classificagio nfo € 0 tinico, como foi reconhecido pela introducfo do diagrama de subtragio e do conceito da linha de controle. Um caso simples, por exemplo, é o diagrama K,Ovs SiO;. Imaginese que o magma progenitor é um basalto contendo 0.5% K20 ¢ 50% SiOz. A partir desse magma, cristalizase, primeiro, olivina contendo 0.0% K20€ 42% SiO3. E claro que, num magma derivado, haveri um aumento de coneentragio tanto do K30, como do SiO, relativo ao progenitor. Assim, 0 fracionamento de olivina cria, no grifico anélogo, um vetor, ao longo do qual se encontram as composig6es dos lfquidos derivados por fracionamento de Fig. 25.2 — Possiveis vetores num diagrama Ti vs. Zt. ‘De uma maneira geral, as suites igneas naturais*apresen- ‘am uma gama pequena de tendéncias no diagrama de variago Ti Zr (fig. 2.5.3) Admitindo que essas tendéncias se devem a rocessos de fracionamento cristalino, pode-e interpretar of (4) Kendal, 1968. 5) Baker e Holland, 1973. [*)1.MeReath agradece ao Prof. JP. Badhem pela colaborapdo nes- sw andlise. Geoguimica e Modelamento 123 vetores observados para toleiftos ocednicos, de arcos insulares € de ilhas oceénicas isoladas como sendo controlados por fases {que ngo admitem nem Ti nem Zr em seus retfculos — olivina, plagioclésio, etc. Por outro lado, a tendéncia geral e m suites caleoalcalinas & de haver, primeiro, um enriquecimento matuo de Ti e Zr, e, depois, um enriquecimento continuo em Zr, acompanhado por um empobrecimento em Ti. Observa-se que © enriquecimento}inicial em Ti é menos pronunciado do que no caso dos toleiftos. Assim, pode-se interpretar tal tendéncia ‘como sendo o resultado de fracionamento inicial da olivina e do plagicclésio, talvez acompanhado por piroxénio, anfibélio ‘ou pequenas quantidades de ilmenita ou titanomagnetita. Depois, uma fase mais titanffera — ilmenita? — deverd aparecer no esquema de fracionamento. Outro caso bastante aro envolve uma sibita diminuigdo tardia, tanto de Ti como de Zr, 0 que implica no envolvimento da ilmenita ¢ do ziredo ‘num processo final de fracionamento cristalino (3 em Fig.2.5.3). yourrves ’ i Cx 1d bpm) 2 (ppm) —> Fig. 2.5.3 ~ Vetores observados num diagrams Ti vs. Zr em sui tes naturais, Para corroborar as dedugGes de estudos geoquimicos, ¢ necessério dispor de evidéncia petrogréfica que comprove a possibilidade de ter havido um fracionamento das fases ropostas na forma de, por exemplo, texturas de acumulagio de cristais, e assim por diante. No caso de nfo o haver, deve- s procurar um outro mecanismo, tal como fusio parcial, para explicar a variagdo observada. Salientase que a interpreta- ¢40 acima apresentada é apenas qualitativa, e, embora seja ppossivel quantificar a interpretagfo, aproveitando combinagdes de diagramas de fase, & bem mais fécil procurar uma outra proximago matemitica para o problema. Aidentificagi0 do magma progenitor Qualquer tentativa de modelamento do processo de cris- talizagfo fracionada depende, naturalmente, da possibilidade de fomecer uma estimativa confidvel para a composigao do ‘magma progenitor. Isto no é uma tarefa facil. As bordas de intrusGes, ocorre freqiientemente uma variedade textural de granulagio fina, 0 que deve representar o primeiro magma a entrar na cimara magmitica, que sofre arrefecimento ripido ao entrar em contato com as rochas encaixantes. Tais rochas podem representar o magma progenitor. Infelizmente, sfo justamente essas rochas que devem soffer, em grau maior, os i NS 124 Petrotogia fenca efeitos de troca de material qu encaixantes. No caso das rochs vulednicas, costuma-se procurar as amostras_menos fracionadas que nfo apresentam sinais da acumulagao de cristais. S40 varios os critérios usados. A amos- ta baséltica que apresenta 0 maior teor de elementos compati: veis (por exemplo, Nie C1) € 0 menor teor dos elementos incompativeis (por exemplo, K e Rb) pode ser considerada como representativa dos basalios menos fracionados num determinado centro vuleénico ou provincia. Por outro lado, 0 fato de ser o basalto menos fracionado no implica, automatic camente, que © mesmo represente © magma progenitor para aquele centro ou provincia. Este magma pode nfo estar repre- sentado a superficie. ‘A inadcquagdo daescotha do magma progenitor deve revelar-se durante as tentativas de modelamento. Exemplos de argumentos que podem ser utilizados para verificar a sua natu- reza estdo relacionados nas leituras recomendas, ico entre o magma e as rochas Modelamento da Cristalizagao Fracionada Como Subtragdo de Material 0 analogo matemtico da cristalizagdo fracionada, isto 6, subtrago de material, é uma simples equagdo da subtragio: Co- FC, = (FIC, onde C, = concentrag¥o de determinado elemento no Iiquido original; F, = _fragZo de peso do material solidifica- do; C, = concentragdo do elemento no solido produzido; C, concentrago do elemento no liquide derivado apés retirado 0 solido. Partindo dessa expresso, pode-se caleular 0 grau de solidificagdo necessério para produzir um determinado derivado, a partir de um dado progenitor. Se C, fosse zer0, ter-se-a, portanto: G a RG % 1 © — —— om 1- —=F & eT) a E claro que para aproveitar dessas expressdes no cilculo, por exemplo, do grau de solidificacao envolvida ao derivar um andesito a partir de um basalto, necessitase estudar 0 compor- tamento de um elemento que ‘no entre nas redes cristalinas das fases cristalizantes, ficando sempre concentrado no liquido residual Pode-se usar, teoricamente, qualquer um dos elementos incompativeis (ver_p. 35). Das sugestoes encontradas na literatura, 0 fsforo € um candidato forte (6), desde que as fases cristalinas no incluam qualquer fosfato. Na evolugdo dos basaltos niio-alealinos, potissio € rubidio, também, demons- tram uma incompatibilidade bastante acentuada. Por outro lado, no caso dos. basaltos alcalinos, & possivel que a participacdo de anfibélios, micas ou fosfatos em esquemas de fracionamento invalide 0 uso da expressio supra. O caso do Zireonio também foi discutido (7), e chegou-se a uma conclu- Go Semelhante: a utilizagao do zircénio como um indicador do sgrau de solidificagao em suites fgneas ¢ limitada aos casos dos magmas néo-alealinos. (6) Anderson ¢ Greenland, 1968. (7) MeReath, 1979, ‘A expresso acima derivada trata apenas do caso onde C, = 0. Quando ndo & 0 caso, recortese a um anélogo mais sgeneralizado: Co — Oa-Cia't Wo Cig tWe Chet 1 = (Wig HW He conde C;., = conceltragao do elemento i no liquide original; ‘Ww, = hago por peso do mineral a; C, , ~ concentragfo do elemento i no mineral a; Cj, = concentracso do elemento i no liquido derivado. De posse de estimativas para as compos 60es do Ifquido original e do Ifquido derivado, e supondo que © modelo proposto envolve N espécies minerais diferentes, necessita-se de anilises para todos N minerais. No mfnimo, 0 andlogo matemético precisa de N equagdes. para se poder calcular os N valores de w. Aqui, observa-se que, muitas vezes, © niimero de fases participantes num sistema em cristalizagdo é menor que o nimero de elementos fornecidos numa andlise quimica de rotina, Assim, a solugio das equagoes simultaneas aptesenta virias possibilidades, como, por exemplo, a selegao daqueles N elementos, cuja precisfo e exatido analitica so melhores, desprezando os outros, ou a utilizago de todos os resultados quimicos, para realizar testes de consisténcia inter- na. O primeiro procedimento € recomendado para os testes rdpidos, onde se pode usar apenas uma calculadora cletronica, enquanto que 0 segundo procedimento & mais indicado ‘quando se tem disponibilidade de um computador eletrénico. Uma aproximagdo desse tipo aceita todos 0s dados de uma maneira nfoseletiva, enquanto que outro tratamento (8) permite a alocacdo de pesos de confianca, dando maior valor, assim, as andlises mais precisas © menor valor is menos precisas. Como um exemplo da aplicagao dos edleulos deseritos, cita-se um estudo sobre a relagdo entre os andesitos basalticos © 08 dacitos, no arco das ilhas de Tonga, a sudeste do Oceano Pacifico. Quanto ao zircénio, nos andesitos.basilticos a concentrago média é de 20 ppm, enquanto que, nos dacitos, 5S ppm. Assim, FL > 64% ou Fy (fragd0 de liquide remanescente) > _ 367%. A petrografia sugere que as fases | envolvidas em possiveis esquemas de cristalizagg0 fracionada Sio plagioclisio cilcico, augita, hipersténio ¢ titanomagnetita. Um eaeulo aproveitando os resultados de anise do andesito baséltico, os minerais ¢ © dacito para os componentes SiOs AlOs, Fe total como Fe203, Ca € MgO — aqueles com | melhor precisio e exatidio analiticas — forneceu os seguintes resultados: o fracionamento de 32% de plagioclisio, 15% de augita, 5% de titanomagnetita e 3% de hipersténio produziria 45% do dacito(9). Uma segunda estimativa, aproveitando todos os dados.disponiveis (10), forneceu ‘os resultados: acito, 42,6%; plagjoctisio, 31,7%; augita, 17.4%; titanomag netita, 4.87%; hipersténio, 3.87%. Como se pode ver, hi uma concordaneia aecitavel entre as t1és estimativas. A’ pequena diferenga entre a estimativa do grau de solidificago fornecida pelo zircénio, de um lado, ¢ pelos outros métodes, por outro, pode ser explicada ou por uma pequena compatibilidade de Zirconio, podendo entrar, talver, na titanomagnetita, ou pela» precisio reduzida na estimativa da concentragdo média encon- trada nos andesitos basdlticos. (8) Wright e Doherty, 1970. (9) MeReath, 1972, (10) Ewart e outros, 1973. Observa-se que esses edlculos esto baseados no compor- tamento dos elementos maiores ou dos tragos incompat veis. Um exemplo do tipo de céleulo aplicado aos elementos lantanideos encontra-se em (11). Quando se chega a tentar realizar 03 mesmos edteulos com outros elementos-trago, os resultados obtidos sfo menos gratificantes. Nos calculos, admitese que a composiefo das fases sOlidas mantémse constante. No caso dos elementos maiores, pode haver uma tariabilidade, porém sua ordem de grandeza muitas vezes permite 0 desptezo desse efeito. No caso dos elementos-traco, por outro lado, as fases sélidas nunca retém uma composica0 constante. A concentragio do elemento que se encontra na fase sOlida depende do valor do coeficiente de particdo, e, em muitos casos, tais como o de Ni em olivinas ou o de Sr em plagioclisios, esse valor & uma fungdo que depende fortemente da temperatura ¢ outros fatores (ver cap. 2.4). Durante a derivagdo de, por exemplo, um dacito a partir de um andesito tusiltico, pode haver uma diminuigdo bastante grande na temperatura do Ifquido, e, conseqientemente, 0 valor do coeficiente de partigfo também softe uma mudanga forte. Algm disso, mesmo se 0 valor do coeficiente de partigao Fosse constante, a mudanca constante da composi¢ao da fase Iiquida implicaria na mudana da composigao da fase sélida em equilforio com aquele liquido. Modelamento por Partiga0 dos Elementos-trago Embora incapazes de levar em conta a dependéncia da temperatura dos coeficientes de particao dos elementos-traco, 65 modelos de purticgo atualmente empregados permitem uma consideragao tanto do efeito global da particao, como do tipo de equilfbrio que persiste nos sistemas s6lidos-1fquidos. Como exposto em uma segdo anterior, (cap. 1.1), numa primeira aproximagao, a taxa de difusdo no estado sélido é bem menor do que aquela no estado Iiquido e pode ser desprezada. Assim, ‘uma vez. cristalizada, a fase s6lida pode ser considerada como sendo isolada do resto do sistema. O equilibrio € mantido apenas entre o liquido e uma camada superficial do sélido. Para tal equilibrio superficial, tem-se a expressio (12, 3B) S 1 © onde Cy = concentraggo do elemento no liquido derivado: Cy = concentragéo do elemento no Iiquido progenitor; F{_ = frago do Ifquido remanescente; K = coeficiente ponderado de partigdo. Havendo mais do que um mineral envolvido no esquema de fracionamento K = Ky.w, + Kywy + onde K, = coeficiente de partigao do elemento entre a fase a¢ 0 liquido, © w, = fragdo de peso do mineral a no conjunto. (11) Zielinski ¢ Frey, 1970, (12) Gast, 1968 (13) Shaw, 1970, Geoquimica e Modelamento 1s CRISTALIZAGAO FRACIONADA 2 z Frosde de soliditiceréo FUSAO PARCIAL, Grou de tusdo Fig. 25.4 — Comportamento de clementostrago durante 0 fra cionamento e fusio parcial, de acordo com os seus coeficientes de parti- (fo entre o mineral ¢ o liquid ‘Como observado (14), 0 modelo de cristalizagdo fracio- nada envolvendo equilfbrio superficial aqui apresentado é uma simplificago, e as dedugdes tornam-se invilidas, por exemplo, quando ha reequilibrio parcial entre uma camada interna do ral € a camuda externa, ou quando a taxa de difussio no estado Iquido ngo € adequada para manter um verdadeiro ‘equilfbrio entre a camada superficial e o Ifquido. Além disso, como citado anteriormente, o modelo & completamente deficiente quando hi uma’ variagzo grande no valor do Coeficiente de partigso, devido a uma variagso forte de temperatura durante 0 processo em consideragio. Os modelados de partigo podem ser aplicados, também, ‘ao fendnieno de fusto parcial. A expresso & (13): 1 Ft KF) C1 = concentragfo do elemento no Mquido; Cie concentraggo do elemento mo s6lido inicial; Fr’ = frapfo de peso fundida; K = coeficiente pondera- do de partigdo. Essa expressfo tem sido empregada bastante no exame do processo de fusio parcial do Manto Superior, na génese dos basaltos, ou da crosta continental, na génese dos magmas félsicos (14). (14) Hanson, 1978; Albarede e Bottinge, 1972, 126 Petologiafanea Sobre 2 selegio de valores para os coeficientes de partigo, a grande maioria dos trabathos jé publicados selecio- na valores médios apropriadosao processo em teste a partir dos ‘valores encontrados na literatura. Quando se trata do fraciona- mento de plagioclésio célcico a partir de um magma basiltico, € necessirio empregarse valores na faixa de 1-2 para 0 coeficiente de partigo do estroncio. Por outro lado, para 0 fracionamento dos magmas andesfticos ou daciticos, usam-se valores na faixa de 6 a 10, que correspondem aos dos feldspatos mais sédicos naqueles magmas. Assim, embora esse procedimento ndo compense totalmente 0s efeitos da tempera tura, pelo menos evita erros muito grandes. Como salientado em uma seo anterior, pode-se dis- tinguir, a grosso modo, dois tipos de comportamento ex- ‘remo, 0 dos elementos extremamente compativels ¢ 0 dos incompativeis. Como uma generalizagg0, o enriquecimento dos elementos incompativeis & favorecido por graus elevados de cristalizagao fracionada ou por graus menores de fusfo parcial. Por outro lado, o enriquecimento dos elementos compat veis € favorecido por graus elevados de fusko parcial ou por graus pequenos de cristalizapfo fracionada. Pode-se aproveitar desses comportamentos contrastantes ao tentar-se uma avaliag%o dos efeitos combinados de processos de fusfo parcial e de cristatizaggo fracionada (ver fig. 2.5.4). A Distingao entre as Contribuigdes Relativas da Fuso Parcial e da Cristalizacao Fracionada em Suites Igneas Muitas publicagdes concentram, de um modo. geral, sobre 0 modelo de cristalizagSo fracionada para explicar a origem de suites de rochas igneas. Recentemente, tem sido demonstrado que, muitas vezes, este nfo 0 nico processo que opera. As rochas representadas superficie da terra podem resultar da combinagdo de fusto parcial da rocha fonte em graus diferentes, seguida por modificaggo das composigbes dos ‘magmas progenitores diversos pela cristalizagZo fracionada. E interessante saber, qual é a importincia de cada processo no desenvolvimento de uma determinada suste de rochas. ‘Um método bastante elegante (15) utiliza 0s elementos incompativeis, especialmente aqueles cujo coeficiente de par- tiffo s6lido/liquido se aproxima a zero. Exemplifica-se 0 méto- do através do caso dos elementos Nb e Zr, que devem ser incompativeis com respeito 40s minerais envolvidos na cristali- zagao da maioria dos magmas basilticos (ver tabela 1.4.1 Plota-se um gréfico da razo Nb/Zr versus Zr (fig. 2.5.Sa). Os produtos finais do processo alinham-se ao longo de retas incli- nadas, cada reta correspondendo-se aos produtos de uma deter- ‘minada fonte (1 e 2 em fig. 2.5.5a). A intersegZo com a orde- nada em cada caso corresponde a0 valor CNb/CZr no s6lido- fonte antes do inicio da fusio, e a inclinago de cada reta comesponde a raz0 Kzr/CZ no inicio da fusfo. Os pontos ais afastados, distribufdos a0 longo das retas da fusfo parcial, correspondem aos magmas produzidos por pequenos grfos de fusto parcial, enquanto 0s pontos mais préximos as ordenadas correspondem aos magmas produzidos por graus elevados de fusto parcial ‘As composigOes derivadas a partir de cada magma proge- nitor distribuemse ao longo de retas paralelas & abcissa, sendo 08 pontos mais afastados & esquerda das retas de fusdo parcial correspondentes 20s produtos mais fracionados. Pontos que (15) Treuil e Varet, 1973; Joron e Treuil, 1977. ‘caem a esquerda das retas da fusdo parcial devem corresponder a rochas acumuladas. Essas relag6es podem passar despercebi- das num diagrama Nb versus Zr (fig. 2.5.5b). Para se aplicar tal modelamento com éxito, 6 necessério dispor-se de um controle geoldgico adequado. No caso de um ‘inico centro vulcinico, deve s dispor de, no mfnimo, um controle cronoestratigréfico. Em provincias mais abrangentes, que podem conter elementos de varios perfodos de magmatis- ma, cada um com suai associagSes proprias, 6 esseacial reco- nhecé-las. Finalmente, a escolha dos elementos é importante. Sele ‘cionou-se 0 par Nb — Zr porque so relativamente incompati- veis, © qualquer laboratério, equipado com um espectrdmetro de raiosX e padrées adequados deve estar capaz de produzit resultados de confianga para os dois elementos. Hi, no entan- to, outras opgdes: La/Y representa outro par relativamente acessivel, contudo, um pouco mais compativel e Ta/Fif é um par ideal, até em rochas félsicas, onde cada elemento mantém ‘uma certa incompatibilidade, porém apresenta vérias dificulda- des analiticas, associadas aos baixos nfveis de concentragd0 eneontrada na maioria das rochas Nb Zr mg ND ppm Fig, 2.54 ~ Diagrama esquemitico Nb/Zs vs. Zr, demonstrando dduas seas (Ie 2) que corzespondem aos produtos da fusfo parcial (EP) de fontos diferentes, e duas famMias de setas produzidas por cristaizagio fracionada (CF). Nb) pom] ‘ & ) / Sé 1 Zr ppm Fig. 25.5 ~ Diagrama Nb/Zs para 03 produtos ds fusto parcial de uma fonte, e os produtos da erstalzagto fracionada, 0s Elementos Lantanideos ‘ou Terras Raras Embora se possa aplicar 0s modelos de fusio parcial de cristalizagao fracionada a qualquer elemento, um grupo que trai muita atenggo & 0 dos lantanfdeos. Quimicamente, possuem propriedades bastante semelhantes — todos formam ‘ons trivalentes, e apenas 0 cério forma um fon quadrivalente, sob condigSes oxidantes, enquanto que 0 eurdpio e o samario podem formar fons bivalentes, sob condigdes extremamente redutoras. Em process0s fgneos, no entanto, 0 que atrai o interesse nesse grupo é 0 fato de haver uma diminuigfo ‘onstante no raio idnico dos fons trivalentes entre o elemento de menor mémero atémico, eério, e 0 elemento de maior nimero atémico, 0 lutécio, No seu comportamento cristalo- quimico, portanto, 0 cério e os elementos vizinhos se comportam come fons grandes, podendo substituir 0 célcio, por exemplo. Enquanto isso, o lutécio e os elementos vizinhos se comportam como fons médios, podendo substituir 0 ferro ferroso, por exemplo. O eurdpio, na sua forma bivalente, possui um raio que corresponde quase que exatamente ao raio do local ideal em plagioclésio, e, assim, softe uma concentra- G0 relativa muito forte nesse mineral. Por outro lado, 0 eur6pio, na sua forma trivalente, possui um raio bastante diferente € no softe tal concentragfo relativa. O comporta- mento do eurdpio deve ser determinado pelo estado de oxidagfo-redugo do magma. Embora fossem feitas algumas tentativas de analisar essa situago, encontrase longe da situago em que o comportamento de eurdpio pode ser usado para determinar a5 condigbes de fugacidade de oxigénio durante 0s processos magméticos (16). 0 resultado da variaga0 de raio iénico de acordo com 0 nimero atémico € que cada tipo de mineral possui uma capacidade caracteristica de fracionamento do grupo dos lantanideos. Convencionalmente, apresentamsse os resultados, de uma maneira gréfica, mostrando ou a variago do coeficien- te de partigdo de acordo com 0 néimero atémico, ou a relaggo entre @ concentrag£o observada dos elementos num magma progenitor e aquela num magma derivado (ver fig. 2.5.6). Além dos padrdes caracteristicos de fracionamento possuidos pelos diversos tipos de mineral, um outro fator esta comegando a atrair atengfo. £ que os lantan{deos possuem a capacidade de formar complexos com 0s componentes da fase volitil, como OH, F, etc. No entanto, os complexos que envolver os elementos de maior niimero atémico — os HREE* (erp. 13) sfo os mais estiveis. Assim, os padres de distribuigéo observados para os HREE podem acusar a influncia de uma fase volitil no processo de evolugo dos magmas (ver fig. 1.1.23). Outras maneiras de detectar a influincia de fases voliteis so sugeridas por outras inform: Oe acumuladas: confrontagdo de modelos de cristalizago fracionada ou fusto parcial na génese de granitos, com o comportamento observado para os elementos transportados por fases voliteis associadas aos granitos, como Pb, Zn ¢ Cu (Ger _p3), ou comparago semelhante, no caso dos elementos Rb, Sr, Zr-e Nb, em rochas peralcalinas. (16) Mysen e outros (1978) apresentam novos dadose relacionamum mi- ‘mero de outras publicacces. [| HREE, elementos terasraras pesados (Gd ~ Lu). ‘Gooquimica ¢ Modclamento 427 Fig. 2.5.6 ~ As caracteristicas de partigfo dos lantanideos entre 0s determinados minerais © 0 magma e 0: efeitos de fracionamento des tee mineras sobze os padrSes de distrbuigio dos lantanideos em dos derivados. Incluise 0 lantinio na grande maioria dos diagramas, embora, no senso estrito, os lantanideos sio Ce a Lu. Comentério (© modelamento de processos fgneos representa uma ‘maneira légica de tentar quantificar as influéneias dos proces- sos de génese ¢ evolugdo de magmas. Entretanto, as aplicagGes acima descritas representam tentativas rudimentares de criar analogias mateméticas para 0s processos. A despeito disso, esses modelos ainda sfo os mais empregados. Para uma apresentagdo de modelos mais sofisticados que representam extens6es e€ modificagdes desses mais simples, consultem as referencias (17). (17) Allegre ¢ Minster, 1978; Allegre e outros, 1977: Minster e outros, 1977; Albarede, 1976 128 Petrologia fgnea ‘TABELA 2.5.1 — NORMALIZACAO DAS CONCENTRAGOES DAS TERRAS RARAS: VALORES-PADRAO CONDRITOS SEDIMENTOS, Médias Leedey = 5 6 1 2 3 4 | la 0,30 £0. 0,330 £0013 0329 | 0378 =| 3238 e084 +04 088 <001 0865 | 0.976 | 70 80 Pr 0,12, £002 0,112 + 0.005 | - 79 89 Nd 0,58 20,13 060 +001 0630 | 0,716 3132 Sm 0,21 *0,04 0,181 +0006 0,203 | 0,230 | 5,7 5,60 Fu 0,074 + 0.015 0,069 = 0,001 0,070 | 0,0866 1,24 1,10 Gd 0,32. £0.07 02490011 0,276 | 0,311 52.047 Th — 0,049 + 0,010 0,047 + 0.01 | 0,85 0,77 Dy 0,31 £0,019 0.343 | 0,390 50 44 Ho 0,073 + 0,014 0,070 + 0.001 } 104 10 kr 0,21 £0,04 0,200 = 0,005 0,225 ~ | 0,255 3429 Tm 0,033 +0,007 0,030 = 0,002 - 0,50 Yb 0,17 +0,03 0,200 + 0.007 3128 Lu 0,031 + 0,005 0,034 = 0,002 0,50 (1) Sehitt e outro, 1963, 1964. Média de 20 ondlivee. (2) Haskin outros, 1968. Média de 9 andlises, (8) Nokemura, 197, (4) Maruda ¢ outros, 1973. Taylor e Gorton (1977) recome lorer divididos por 1,2. (5) Fothetho norte-americano médio. Haskin ¢ outros, 1966. (6) Rocha sedimentar média, Australia, wendam a utilizagdo destes va « Toylor, 197 LEITURAS RECOMENDADAS Os artigos por Allégre e Hart (pp. 1-25), Hanson (pp. 26-43), Kay e Hubbard (pp. 95-116), O’Nions e Pankhurst (pp. 211-236) € Duchense e Demaife (pp. 249-272) em Alle gre, CJ. ¢ Hart, S.R. (eds — 1978 — Trace elements in igneous petrology, John Wiley, New York, 272 p., podem ser reco- ‘mendados.. EXERCICIOS 1) Sob baixa pressfo a baixa temperatura, Kgiivina/liquide para Ni alcanga valores de aproximadamente 20. Sob pressio elevada e temperatura elevada, 0 valor correspon- dente cai até 5, ou menor ainda, Imagine que se trata do caso de um magma baséltico com SiO. = 48%, Ni = 300 ppm e que a olivina fracionada possui uma composigo Fo9a, aproximadamente. Usando um valor adequado para 0 contetido de SiO; na olivina (ver parte 1), calcule 08 valores para as concentragdes de SiO; e de Ni em magmas derivados por 5, 10, 20 e 50% de fracionagzo de olivina, Desenhe, num diagrama de variagdo adequado, 0 Um texto bésico, que contém os elementos do modela- ‘mento de processos de fusio parcial de cristalizagio fracionada € Steinberg, M., J.C. Touray, M. Treuil e P. Massard — 1979 — Geochimie, principie et méthodes, vol. II ~ Cristallochimie et éléments entraces. Doin, Paris. 328 pp. E PROBLEMAS vetor de controle de olivina sobre 0 contetido de Ni nos ‘magmas derivados. 2)Discuta, qualitativamente, os efeitos de fracionamento de plagioclisio célcico sobre os contetidos de Sr, Rb e Zr em ‘magmas derivados de um progenitor qualquer por fraciona- mento cristalino. (Considere 0s casos de um magma basiltico e, outro, andesftico). 3) Discuta, qualitativamente, os efeitos de fracionamento de clinopiroxénio sobre os conteddos de Sr, Rb e Zr em ‘magmas derivados de um progenitor qualquer por fraciona- mento cristalino. (Considere os casos de um magma baséltico e, outro, andesitico).. 4) Compare 0s efeitos deduzidos como respostas aos proble- mas 2 ¢ 3, no sentido de opinar sobre a avaliacio das possibilidades de detectar a influéncia de fracionamento de ou plagioclisio ou clinopiroxénio em suites magmiticas. (Use valores para 05 coeficientes de partigdo apresentados na parte | ¢ qualquer outra informacio disponivel nesse™ texto, tal como as concentragies dos referidos elementos ‘ios magmas citados, que se encontram no vol. 2). 5) Comente sobre as seguintes observagdes: 4) Quando se _comparam as composigdes de um andesito de uma suite qualquer 2 de um basalto encontrado no mesmo vulefo, observa-se que 0 andesito nfo apresenta ‘uma anomalia negativa de Eu relativa ao basalto € que a Geoquimica ¢ Modelamento 129 suite ndo apresenta enriquecimento relative de ferro em relagio ao magnésio. +b) Em outra sufte, ndo se encontra uma rocha mais félsica que um andesito baséltico com 55-57% SiOz. As estimativas volumétricas acusam a presenca de basaltos, 80% e andesitOs basdlticos, 20%, ©) Numa outia sufte, observa-se, nos basaltos, uma concen- tracdo de Zr de 45 ppm, nos andesitos, 45 ppm e, nos dacitos, 45 ppm. Por outro lado, o contetdo de Ti mantém-se mais ou menos constante nos basaltos € andesitos, ¢ sofre uma diminuiggo brusca nos dacitos 4)0 tlio forma um fon monovalente, cujo raio iGnico & bastante ‘grande (1,4 A, aproximadamente). Sua cconcentragdo normal nas rochas égneas é baixa, porém, ‘em feldspatos alcalinos de pegmatitos (especialmente em amazonitas), sua concentragfo pode ser muito elevada.

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