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REGRA DE BERGMANN

Evangelista, L.S. 08/33835 ; Andrade, A.T.. 07/27876

SUMÁRIO : A regra de Bergmann relata que animais de climas mais frios – latitudes
maiores - tendem a ser maiores em espécies de vertebrados endotérmicos do que as raças da
mesma espécie que vivem em climas mais quentes- latitudes menores. Entre os mecanismos
propostos por Carl Bergmamm em sua teoria está a que animais maiores poderiam suportar
melhor as temperaturas mais frias porque têm que produzir menos calor em relação ao
tamanho de seu corpo para elevar a sua temperatura. Muitas espécies não seguem o modelo da
regra de Bergmann o que torna relevante o estudo de cada caso isoladamente dentro de suas
especificidades.

PALAVRAS-CHAVE: Regra de Bergmann, biogeografia, tamanho corporal, temperatura,


endotérmicos, latitude.

INTRODUÇÃO.

A biogeografia é o estudo da distribuição dos organismos sobre a Terra e as causas que


levam a tal distribuição, a qual está relacionada a condições geomorfológicas e climáticas.
Dentre as regras biogeográficas, uma das mais conhecidas é a regra de Bergmann. A regra
assinala que num determinado grupo sistemático as espécies endotérmicas de maiores
dimensões encontram-se nos climas mais frios e as menores nos climas quentes. Postula que o
corpo de um animal de sangue quente tem um maior tamanho em climas mais frios (pólos, em
latitudes maiores) que em climas mais quentes (equador). Esta regra correlaciona a
temperatura do ambiente com a morfologia do animal (Blackburn, 1999).

A REGRA DE BERGMANN

A regra foi proposta originalmente pelo biólogo alemão Carl Bergmann em


1847 em seu trabalho intitulado''Ueber die Verhältnisse der Wärmeökonomie der Thiere zu
ihrer Grösse ¨ ( Sobre as relações entre a economia de calor dos animais e seu tamanho),
publicado no Göttinger Studien na Alemanha. Entretanto seu trabalho não foi traduzido para o
inglês, logo não ficou disponível de imediato para a comunidade científica. Em 1970, James
traduziu partes do original de Bergmann que dizia :

“ Se encontrássemos duas espécies de animais homeotérmicos que só diferissem um do outro em


relação ao seu tamanho […] a distribuição geográfica das duas espécies poderia ser descrita por seu
tamanho[...] Se há gêneros que diferem apenas no tamanho, as menores espécies exigem um clima
mais quente para a exata distinção da diferença de tamanho. [..] Embora não seja tão claro como
gostaríamos, é óbvio que nem todas as espécies grandes vivem mais ao norte e nem todas as menores
vivem aos sul”

Uma vez que a maioria dos pesquisadores não têm acesso ao texto original, a
interpretação mais comum desta regra foi proposta por Mayr ( 1956, 1963) com a seguinte
redação:

''Raças de climas mais temperados tendem a ser maiores em espécies de


vertebrados de sangue quente do que as raças da mesma espécie
que vivem em climas mais quentes''

Bergmann em seu trabalho original considerou a regra a nível interespecífico


entre espécies próximas, entretanto sua regra tem sido estudada em vários níveis taxonômicos
mas somente entre endotérmicos¹.
EXPLICAÇÃO PARA A REGRA DE BERGMANN

De acordo com Geist (1990) , o tamanho do corpo varia inversamente com a


temperatura do ambiente, logo o tamanho do corpo aumenta com a latitude. O grande porte
corporal está adaptado em ambientes frios porque a área superficial diminui em relação à
massa corporal na proporção de 2/3 da massa, portanto animais grandes perdem menos calor
em relação a sua massa. Animais de grande porte em ambientes frios é uma adaptação para a
conservação de energia. Em suma, quando as dimensões lineares (comprimento, tura,
espessura) aumentam, a superfície aumenta numa relação quadrática, e o volume e a massa
numa relação cúbica, sendo assim quanto maior for o animal maior é a relação
massa/superfície, menores são as perdas de calor.

OS MECANISMOS

Há vários mecanismos que já foram propostos para a regra (Blackburn, 1999).


Entre eles:
1. A primeira refere-se a mecanismos ligados a termorregulação ( conforme o conceito
original de Bergmann).
Animais maiores poderiam suportar melhor as temperaturas mais frias porque têm que
produzir menos calor em relação ao tamanho de seu corpo para elevar a sua temperatura;
2. Hipótese da habilidade de migração.
Massa corporal pequena está associada a pequena habilidade de dispersão. Espécies de corpo
pequeno estão sub-representadas em altas latitudes porque eles não conseguiram se dispersar
para essas latitudes como os animais de corpo grande. Essa hipótese é plausível.
3. Hipótese da resistência à fome
Aumentar a massa corporal aumenta a resistência ao jejum
o que pode ser uma vantagem em altas latitudes, onde os recursos
muitas vezes são sazonalmente escassa. (Calder, 1984; Lindstedt & Boyce, 1985),

¹Segundo Cortney (2010) é necessário fazer distinção entre certos termos relacionados a energia corporal para a correta
interpretação da regra. Endotermia é definida como a capacidade de manter a temperatura corporal por meio da geração
metabólica de calor enquanto que homeotermia refere-se à habilidade de manter uma temperatura corporal constante face a
flutuação da temperatura ambiental. Os termos endotermia e ectotermia referem-se à fonte de calor , enquanto que
poiquilotermia e homeotermia referem-se à habilidade de controlar a temperatura corporal. A regra de Bergmann, em sua
origem, refere-se a animais endotérmicos.

4. Hipótese da disponibilidade de recursos.


Esta é a hipótese mais estudada. O tamanho corporal sugere ser proporcional à duração do
pulso de produtividade em diferentes latitudes porque a abundância sazonal libera os
indivíduos da limitação de disponibilidade de recursos seja por escassez de recursos (altas
latitudes) ou por concorrência pelos recursos ( baixas latitudes); isso permite que eles cresçam
mais e tenham maior porte. Esta é a melhor explicação para o tamanho corporal em
carnívoros.

IMPLICAÇÕES RECENTES DA REGRA DE BERGMANN NA LITERATURA

Meiri (2005) mostrou que espécies maiores de mamíferos seguem a regra de


Bergmann mais fielmente do que espécies pequenas de mamíferos.
Entretanto nem sempre a regra de Bergmann se mostra verdadeira. Em
Salewski (2010), foi demonstrado em aves da Europa Central que mudanças na massa
corporal não podem ser meramente resultado de plasticidade fenotípica ( como diz a regra de
Bergmann) mas podem ser resultado de adaptações genéticas relacionadas a microevolução.
Yom-Tov (2005) Quanto a questão do aquecimento global, foi demonstrado
recentemente que o tamanho do corpo de musaranhos da região ártica diminui com o aumento
latitude, contrariando regra Bergmann, e esta tendência foi explicada pela escassez de
alimentos inverno frio do norte. No Alasca, o aquecimento global tem resultado em invernos
mais suaves que podem melhorar o abastecimento de alimentos. O aumento do tamanho do
corpo de musaranhos no Alasca aumentou significativamente durante o segundo semestre do
século XX aparentemente devido à maior disponibilidade de alimento no inverno, como
resultado de melhoria das condições meteorológicas para a sua presa.

CONCLUSÃO
Apesar da regra de Bergmann ser verdadeira para um grande números espécies, tem-se
que cada caso deve se analisado isoladamente uma vez que a região biogeográfica de cada
espécie pressupõe diferentes pressões envolvidas em questões relacionadas a tamanho e peso
corporal.

BIBLIOGRAFIA

1. Bergmann, K. 1847. Ueber die Verhältnisse der Wärmeökonomie der Thiere zu ihrer Grösse. Gottinger
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2. Blackburn, T. M., K. J. Gaston, and N. Loder. 1999. Geographic gradients in body
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6. Geist, V. 1990. Bergmann's rule is invalid: a reply to J.D.Paterson. Can. J. Zool. 68, 1613-1615.
7. James, F.C. 1970. Geographic size variation in birds and its relationship to climate. Ecology, 51, 365-
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11. Meiri, S., Y. Yom-Tov, and E. Geffen. 2007. What determines conformity to Bergmann's Rule. Global Ecology
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13. Salewski, V., Hochachka, W., Fiedler, W. 2010. Global warming and Bergmann’s rule: do central European
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