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Manejo de Microbacias
Manejo de Microbacias
e Cidadania
Projeto de Recuperação,
Conservação e Manejo dos
Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas
1ª edição – 2000
Inclui bibliografia.
CDD-353
Projeto de Recuperação,
Conservação e Manejo dos
Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas
URUPEMA (SC)
Introdução
Degradação e perda de solo e nutrientes devido à erosão. Baixa
produtividade das lavouras. Comprometimento, pela poluição
ambiental, de 85% dos recursos hídricos. Presença de parasitas intesti-
nais em 60% dos estudantes da área rural. Rios, lagunas e lagoas
assoreados. Enchentes. Essa era a situação alarmante que imperava no
1. Pós-graduando em
Estado de Santa Catarina no final da década de 80. Administração
Para evitar que voltassem a ocorrer catástofres como as enchentes Pública e Governo da
Fundação Getúlio
de 1983 e 1984, foi implantado em 1991 o Projeto de Recuperação, Vargas e presidente
da Associação SOS
Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Rio Pomba, na
cidade de Dona
Hidrográficas, também conhecido como Projeto Microbacias/BIRD. Euzébia-MG.
Considerações finais
Quando avançamos rumo a oeste do Estado de Santa Catarina,
penetrando no Planalto Ocidental, que domina a maior parte de seu
território, encontramos uma infinidade de morros e vemos, aqui e ali,
as araucárias remanescentes do desmatamento predatório promovido
pelos primeiros colonizadores. No entanto, podemos notar que muito
16 verde ainda domina a paisagem. As áreas utilizadas para os cultivos
anuais, que durante o inverno ficam em repouso, estão devidamente
cobertas com plantas usadas para a adubação verde. Essas plantas não
só contribuem para manter o solo protegido como também fornecem
uma alternativa de pastagem para o gado leiteiro.
Se, por um lado, o sucesso do Projeto dependia da adoção pelos agri-
cultores das práticas conservacionistas de manejo do solo e da água, por
outro lado também se deve creditar grande parte deste sucesso à adminis-
tração e coordenação das ações pela Epagri. O órgão estadual foi o respon-
sável pela maior parte das ações desenvolvidas. Reconhecida pela presta-
ção de serviços às comunidades rurais, a Epagri se destaca dentre as em-
presas públicas catarinenses pela qualidade de seu corpo técnico, formado
por profissionais concursados e titulados. Seja pelo investimento em pes-
quisas e publicações científicas, seja pela seriedade do trabalho de
monitoramento dos solos e água, ou mesmo pelo trabalho de extensão
rural e treinamento do pequeno produtor, a Epagri tem no reconhecimen-
to dos agricultores uma comprovação do seu mérito.
Pode-se relativizar esse mérito diante do considerável montante
de recursos envolvido, sem o qual o Projeto Microbacias poderia ficar
comprometido. É preciso, porém, considerar a escassez de informa-
ções acerca da situação dos recursos naturais do Estado de Santa
Catarina antes da implementação do Projeto. Por isso, somente os com-
ponentes “Pesquisa” e “Mapeamento dos Solos” consumiram, juntos,
quase US$ 9 milhões.
Outra conquista do Projeto Microbacias foi convencer os agricul-
tores de que suas práticas de trato com a terra eram insustentáveis, por
levarem ao total esgotamento de um solo que levou 6 mil anos para se
formar. A busca do desenvolvimento econômico a todo custo compro-
meteu seriamente a qualidade e a disponibilidade dos recursos natu-
rais não-renováveis e a ausência de monitoramento e caracterização
dos impactos ambientais estava inviabilizando a manutenção do estilo
de vida na área rural. Uma vez que as práticas conservacionistas se
difundiram, a sustentabilidade do Projeto está garantida, pelo menos
no que diz respeito ao controle da erosão.
Mesmo com esses avanços, é necessário reconhecer que embora seja
grande o número de mulheres agricultoras no Estado de Santa Catarina, 17
o Projeto deu pouca atenção às questões de gênero. As atividades de-
sempenhadas pelas extensionistas sociais com as donas de casa apenas
reforçam a divisão tradicional de tarefas. Apesar de ações bem intencio-
nadas, visando diversificar a qualidade nutricional das refeições com a
sugestão de receitas que incorporavam o pescado nos hábitos alimenta-
res da população rural, ou mesmo com o aproveitamento da produção
da propriedade em queijos, doces e biscoitos caseiros, a mulher tendia a
ficar relegada aos afazeres domésticos. Em todo caso, com a implanta-
ção das práticas de cultivo mínimo e plantio direto, o serviço na roça se
tornou menos penoso e as mulheres afirmam que a situação é melhor
porque lhes sobra mais tempo para cuidar da casa e da horta e para
participar das atividades comunitárias (como de clubes de mães e dos
conselhos pastorais comunitários).
Além disso, muito ainda precisa ser feito com relação à poluição dos
recursos hídricos. Apesar da diminuição do lançamento de dejetos sem
tratamento nos cursos d’água, ainda são preocupantes a elevada concen-
tração de suinocultores no Oeste Catarinense e a existência, na explora-
ção suinícola, de muitas propriedades sem sistema de controle de água.
Se a declividade acentuada em algumas propriedades inviabiliza a lavou-
ra, talvez fosse necessário repensar a ocupação do solo nessa região, subs-
tituindo a suinocultura por outras alternativas de geração de renda menos
nocivas ao meio ambiente, como a piscicultura, por exemplo.
Por fim, as microbacias hidrográficas se mostraram, no caso de
Santa Catarina, como as unidades ideais de planejamento e manejo
racional dos recursos naturais. Seria o caso de refletirmos sobre a pos-
sibilidade de reprodução, em outras regiões do país, dos mecanismos
empregados. A diversidade física e geográfica do Brasil nos força a
considerar a necessidade de critérios e metodologias de intervenção
adequados às características sócio-ambientais e econômicas de cada
região. Em áreas mais densamente povoadas, os Comitês de Bacia
Hidrográfica e Agências de Água talvez possam ser a solução mais efe-
tiva. Os Consórcios Intermunicipais de Recursos Hídricos, por sua vez,
também têm se constituído como importantes fóruns de discussão
sobre as ações a serem implementadas.