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Anne Dias
Entender por que alguns empreendedores dão mais certo do que outros é uma
tarefa complexa, mas os vencedores do Prêmio Empreendedores do Novo Brasil dão
pistas de qual caminho trilhar em busca do sucesso empresarial. Eles têm histórias
emocionantes e muita garra para enfrentar os problemas. Pelo quinto ano
consecutivo, a revista VOCÊ S/A e o Instituto Empreender Endeavor elegem os dez
melhores empreendedores do ano. Desta vez, foram 120 inscritos. Trinta foram
pré-selecionados e passaram por entrevistas com os jornalistas da VOCÊ S/A e os
especialistas da Endeavor. Destes, 20 chegaram à etapa final, que incluiu uma
rodada de entrevistas com 20 jurados, para atribuição de notas ao negócio e ao
perfil do empreendedor. Foi da conversa com os jornalistas, com os analistas da
Endeavor e com os jurados que saíram os dez vencedores (veja o perfil de cada um
deles). Não é fácil chegar onde esses dez empreendedores chegaram. A trajetória
deles demonstra que eles têm um grande senso de oportunidade. Identificaram
nichos no mercado, fizeram pesquisas, conheceram os concorrentes e conversaram
com consumidores. Você verá que muitos deles não redescobriram a roda. Pegaram
idéias de negócios que muitas vezes já existiam (como uma gráfica, uma
lanchonete ou uma fábrica de chinelos), incrementaram com alguma inovação
(tecnologia, designer ou custos) e tornaram o negócio rentável. É claro que há
também exemplos de gente que, sim, inventou um negócio novo (vender livro em
máquinas eletrônicas ou oferecer os serviços de uma equipe de enfermeiros por
telefone). Mas o segredo não está apenas na boa idéia. "É preciso ter competência
para executá-la e colocá-la em prática", diz Paulo Veras, diretor-geral da Endeavor.
Melhor ainda se tudo isso estiver documentado e muito bem embasado. "O principal
problema dos empreendedores no Brasil é que eles não fazem planejamento",
afirma Daniel Schmidt, sócio-diretor da Challenge, consultoria de desenvolvimento
de negócios.
Neste ponto crítico a empresa destaque do ano não errou. Desde o começo, os
irmãos Alexandre e Marcus Hadade, donos da gráfica Arizona, de São Paulo, sabiam
onde queriam chegar. O negócio deles era atender a pequenas agências de
propaganda, uma turma vista de lado pelas grandes gráficas. Conforme a empresa
foi crescendo, os planos também foram mudando. Das agências menores, eles
passaram a atender as grandes (hoje, a carteira de clientes tem cerca de 200
empresas) e depois firmaram um acordo com fornecedores para ter acesso gratuito
a suas máquinas, tinta e papel. A história da Arizona mostra que não há problema
em mudar de plano. A grande virada é outra. No caso dos irmãos Hadade é ter o
negócio sempre bem estruturado e, com isso, em pelo menos cinco anos
quintuplicar o faturamento anual, que hoje é de 10 milhões de reais. Como
chegaram à liderança do prêmio, Alexandre e Marcus vão participar do curso
Building Ventures in Latin America (em português, Construindo riscos na América
Latina), da Harvard Business School, em São Paulo. O programa é uma parceria
entre Harvard, Ibmec-SP, Fundação Dom Cabral, Fundação Getulio Vargas-Eaesp,
Instituto Coppead, PUC-RJ e Universidade de São Paulo.
A vantagem do empreendedor brasileiro é que cada vez mais ele está sendo
reconhecido internacionalmente como um homem de negócios. "O brasileiro fez
grande progresso nos últimos anos. Ele é naturalmente empreendedor", diz o
professor canadense Louis Jacques Filion, especialista em empreendedorismo na
Montreal Business School, que esteve no Brasil em meados de maio. E o que o
professor quer dizer exatamente com grandes progressos? "Que o brasileiro
procurou entender melhor o que é ser um empreendedor, foi atrás de dinheiro a
juros mais baratos e viu nascer uma série de consultorias, como Sebrae e
Endeavor, para ajudá-lo." Reflexo disso é que, todos os anos, o país figura na lista
da Global Entrepreneurship Monitor, uma pesquisa coordenada pela americana
Babson College, uma das mais importantes escolas de empreendedorismo do
mundo, e pela London Business School, da Inglaterra. No último levantamento, em
2004, feito em 37 países, os brasileiros ficaram em sétimo lugar no ranking,
mesma posição do ano anterior. Há um sinal de alerta, no entanto. "Muita gente
abre empresa por necessidade, não por senso de oportunidade. Isso é um risco,
porque a pessoa está procurando um jeito de sobreviver, não de empreender", diz
Heliomar Quaresma, presidente do Business Institute, de Belo Horizonte.
Os dez vencedores deste ano também cometem suas falhas. A pedido da VOCÊ
S/A, Víctor Martinez, presidente da consultoria Thomas International, especializada
em análise de perfis comportamentais, de São Paulo, examinou cada um dos
vencedores. O estudo mostra que eles relutam em delegar tarefas, têm dificuldade
em lidar com a equipe e são teimosos, só para citar três exemplos (veja mais no
quadro Os 10 Pecados dos Empreendedores). Mas dá para garantir que, apesar
desses tropeços, os vencedores vão continuar no caminho certo daqui pra frente.
CRITÉRIOS DO PREMIO
Os empreendedores deveriam:
* Ser brasileiro.
* Ser sócio em, no mínimo, 20% da empresa.
O júri considerou:
* A articulação do empreendedor.
* A relevância da história pessoal e do negócio.
* A geração de empregos.
* O pioneirismo e a inovação.
* Os objetivos de curto, médio e longo prazos.
* O conhecimento do negócio.
* A habilidade de execução.