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Por isso, a metáfora da pirataria é apenas funcional aos interesses das indústrias
de copyright. Copiar sem autorização não é a mesma coisa que roubar, não é uma
ação comparável àquelas praticadas pelos piratas e seus navios. Os piratas pilhavam
as embarcações, não faziam downloads, nem cópias de barras de ouro. Um jovem não
dilapida uma gravadora, apenas copia. O jurista Lawrence Lessig, no livro Free Culture
demonstrou que a indústria fonográfica faz uma conta equivocada e exagerada dos seus
prejuízos. Nem todo mundo que “baixa” uma música iria comprá-la. Na verdade, liberar
músicas na rede é a melhor forma de divulgar o trabalho ar tístico e conseguir fãs. Bnegão
e Radiohead são bons exemplos de como a cópia na rede pode beneficiar os ar tístas.
Interessante notar que, no caso do software, a chamada “pirataria” foi uma das
grandes responsáveis pela constituição e manutenção do antigo monopólio do sistema
Piratariaoperacional proprietário e de seus aplicativos. Ou seja, a “pirataria” pode estar beneficiando
o Windows. Por exemplo, o modelo de negócios do Office, suite de escritório proprietária,
é centrado na cobrança de licenças das pessoas jurídicas, das empresas. Como o custo da
licença chega a ser igual ao preço do computador, as pessoas acabam instalando cópias
não-autorizadas nas máquinas de suas casas. Esse fato acaba contribuindo para a formação
de uma gigantesca massa de usuários adaptados ao Office. Isso for talece o seu uso nas
empresas e acaba dificultando a migração para o modelo do software livre. Nesse caso, a
metáfora mais adequada é a dos corsários. Corsário era um pirata a serviço do poder. No caso,
temos a cópia não-legal de softwares a serviço da manutenção do monopólio de software.
O termo pirataria traz a imagem de criminosos sanguinários e por isso tem sido
usado. A indústria de intermediação cultural, afetada pela expansão das redes digitais,
tenta com o uso desta metáfora passar a idéia de que compar tilhar música com seu
vizinho ou com seu irmão é um crime hediondo. De cer to modo, a cibercultura que
emergiu a par tir das redes digitais, nada mais é do que uma prática recombinante. André
Lemos lembou que Willian Gibson disse ser a remixagem a alma da cibercultura. A
RIAA e a MPAA consideram a recombinação uma das muitas faces da pirataria. Assim,
é possível entender porque querem criminalizar mais de 70% dos usuários da Internet.