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Mídia e Deficiência

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M629 Mídia e deficiência / Veet Vivarta, coordenação. – Brasília: Andi ;


Fundação Banco do Brasil, 2003.
184 p. ; il. color. – (Série Diversidade)

1. Mídia. 2. Comunicação de massa – Aspectos sociais. 3.


Deficientes – Brasil. 4. Deficientes – discriminação. 5. Inclusão
social – Brasil. 6. Jornalismo – Aspectos sociais. I. Vivarta, Veet.
II. Série.

CDD 070.4493624
Mídia e Deficiência
Fi c h a T é c n i c a

D i v e r s i d a d e – Vo l . 2 Tr i a g e m d a s M at é r i a s C l i p a d a s
Mídia e Deficiência Adriano Duarte, Alaíse Bezerra, Ana Gabriella Sales,
Antônia Amélia, Marcia Lima, Maria José de Oliveira
Realização
Diretório de Fontes
ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância
Coordenação e Edição: Raquel Raw
e Fundação Banco do Brasil
Coleta de Dados: Liana Aragão, Naitê Santos
Edição e Juliana Costa
Severino Francisco
Projeto Gráfico e Diag r amação
T e x t o B a s e e C o n s u lt o r i a d e C o n t e ú d o Márcio Duarte
Escola de Gente – Comunicação em Inclusão
Fotografias
R e p o r ta g e m e P r o d u ç ã o Mila Petrillo, exceto da página 146 (Rilton Pimentel)
Aline Falco, Ana Flávia Flôres e Yara Aquino
Fotolito, Impressão e Acabamento
C l i pag e m E l e t r ô n i c a Gráfica Coronário
Fábrica de Idéias
Tir agem
C o n s u lt o r i a E s tat í s t i c a 10.000 exemplares
Coordenação: Guilherme Canela
Assistentes de Pesquisa: Alexandre Tanaka Bernardi,
Fabio Senne, Paulo Attina, Railssa Alencar, Renato Godoy As opiniões e análises que integram o livro são de responsa-
e Rúbia Goetten. bilidade da ANDI, Fundação Banco do Brasil e autores dos
Processamento de Dados: Wilson Rizzo artigos. É permitida a reprodução de trechos desta publicação,
Digitação: Renata Gonçalves desde que citada a fonte.
Sumário

Apresentação 6

Introdução 8

1 A construção dos conceitos 16

2 A construção da notícia 34

3 Educação – nó a ser desatado 52

4 Infância e família no contexto da deficiência 84

5 Mercado de trabalho e tecnologias 100

6 Deficiência não é doença 114

7 Caminhos para uma cobertura de qualidade 146

Consultores e colaboradores da Pesquisa 158

Anexo – Terminologias sobre Deficiência 160

Diretório de fontes 166


Apresentação

Em meio ao cenário extremamente diversificado e so dos Direitos Humanos gerado pelo modelo inclusivista
dinâmico das agendas de mobilização dos grupos mino- não tem se traduzido, nem na abrangência, nem no ritmo
ritários da sociedade, tem se destacado, nos últimos anos, desejados, em oportunidades mais justas e equânimes de
um novo ideário: aquele que busca promover e garan- participação social para as pessoas com deficiência. Histo-
tir a plena inclusão social das pessoas com deficiência. ricamente atingidas por graves formas de segregação, em
Em que pese o fato de colocar em primeiro plano a nosso País essas pessoas seguem, em grande parte, invi-
questão dos direitos de um segmento populacional em síveis à maioria das recentes conquistas da cidadania.
particular, o atual paradigma inclusivista estimula, sob o
crivo de uma ética da diversidade, uma ampla releitura O papel da imprensa
das relações que regem a construção de uma sociedade É em meio a esse quadro desafiador que o presente
democrática, se alinhando no fluxo de um crescente mo- projeto desenvolvido pela Fundação Banco do Brasil e
vimento internacional de luta contra todas as formas de pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância,
exclusão social, das mais explícitas às mais sutis e veladas. busca operar. Acreditamos que apenas com o envolvi-
A trajetória evolutiva dos parâmetros norteadores mento dos diversos setores da sociedade em um deba-
de suas práticas e posicionamentos políticos – em pro- te continuado sobre as questões centrais relacionadas
cesso de continua atualização e reinvenção – resulta em à deficiência será possível reverter o impacto dessa
um arrojado elenco de propostas que hoje encontra ex- herança discriminatória. Daí a importância funda-
pressão na pauta de trabalho de diferentes agências da mental dos meios de comunicação de massa, enquanto
Organização das Nações Unidas, e também avança, no agentes facilitadores dessa troca de informações.
caso do Brasil, na formulação de políticas públicas de As redações brasileiras, entretanto, não se encontram
amplitude nacional, como ocorre na área de educação. hoje qualificadas para este papel estratégico: da mesma
É de conhecimento geral, entretanto, que esse signifi- maneira que ocorre em relação a outras questões priori-
cativo alargamento das fronteiras conceituais do univer- tárias da agenda social, os profissionais de jornalismo so-
Mídia e Deficiência Apresentação 7

frem com a ausência de um processo consistente de capa- ção Social e aos atores sociais da área da deficiência ele-
citação para a cobertura da pauta da deficiência. A lacuna mentos que contribuam para a multiplicação e o apri-
tem origem no currículo defasado da grande maioria das moramento do espaço dedicado aos direitos das pesso-
faculdades de comunicação e se nutre da falta de interes- as com deficiência. Vale lembrar, ainda, que tanto quan-
se das empresas. Ambos os fatores contribuem de forma to os profissionais de imprensa, esses atores sociais – go-
marcante para impulsionar a engrenagem da exclusão vernamentais, do setor privado ou da sociedade civil – são
que cerca as pessoas com deficiência. entendidos ao longo do texto a seguir como persona-
Isso não significa que faltem exemplos de bom jorna- gens prioritários no processo de democratização e de
lismo social na imprensa brasileira. A ANDI, que desde qualificação da informação.
1992 acompanha muito de perto o trabalho dos meios O presente volume teve como ponto de origem uma
de comunicação das diversas regiões do País, regular- análise aprofundada, de cunho quanti-qualitativo, sobre
mente tem a oportunidade de registrar a veiculação de o tratamento dado pela mídia impressa brasileira aos di-
expressivas contribuições da imprensa para o enfren- versos aspectos relacionados ao tema da deficiência. Elabo-
tamento das mazelas que colocam em risco o desenvol- rada por uma equipe de profissionais de jornalismo e
vimento de nossas crianças e adolescentes. O problema consultores especializados, esta análise reconhece os méri-
é que na maior parte das vezes essas matérias ainda são tos e diagnostica os principais problemas da cobertura.
mais o resultado dos esforços individuais do que de li- Fiel a seu teor propositivo, procura também apontar cami-
nhas editoriais consolidadas. nhos para que as redações possam responder à altura os mui-
Para que a imprensa venha a desempenhar com eficiên- tos desafios colocados pela questão, que envolvem da dis-
cia o papel que lhe cabe no processo de construção de cussão de preconceitos à investigação de políticas públicas.
um País menos vulnerabilizado pelas injustiças sociais, Precisamos relembrar aqui, finalmente, que os direi-
será necessário, portanto, que se cristalize uma cultura tos à educação, à saúde, ao convívio social, ao lazer, es-
jornalística suficientemente madura para pensar as ques- tão todos assegurados pela Constituição Brasileira – e
tões inerentes ao desenvolvimento humano e à inclusão que se aplicam a cada um dos cidadãos do País. Esta é a
social como abordagem transversal à cobertura ofereci- chave do problema: entender que pessoas com deficiên-
da a todas as grandes temáticas nacionais. cia são cidadãs... n
Marcus Fuchs e Veet Vivarta
Instrumento de transformação Diretores, ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância

As páginas de Mídia e Deficiência procuram oferecer a Jacques de Oliveira Pena


jornalistas, a estudantes, a professores de Comunica- Presidente, Fundação Banco do Brasil
Introdução Há necessidade de concentrar
esforços na capacitação tanto
dos jornalistas quanto das fontes

Jornalistas brasileiros ainda têm muitas dúvidas sobre como abordar


as temáticas associadas à Deficiência em suas matérias – talvez por isso as evitem tan-
to. Cometem equívocos sérios, mas têm com quem dividir essa responsabilidade: suas
fontes. Ü As organizações e os especialistas habitualmente entrevistados pela mídia têm
demonstrado estar tão desatualizados quanto ela, principalmente sobre as interfaces
da Deficiência com as políticas públicas. Até mesmo discussões instigantes e atuais envol-
vendo conceitos como educação inclusiva transformam-se em pautas que reproduzem
abordagens antigas, sem dialética, descontextualizadas. Ü Idêntica falta de conhecimento
é visível no depoimento das próprias pessoas com deficiência (e de seus familiares) –
até bastante procuradas pelos repórteres como fonte principal. Infelizmente, a maioria
ainda se vê apenas merecedora de direitos específicos como estudar e trabalhar, e não
como sujeito de todo e qualquer direito – conforme prevê a Constituição Brasileira.
Ü Esse contexto coloca algumas questões decisivas: como vai se posicionar a impren-
sa brasileira nos próximos anos? Assumirá o assunto Deficiência como
de interesse público nacional? Decidirá contribuir de forma efetiva para
a qualidade do processo de inserção das pessoas com deficiência no País?
O grande desafio, na verdade, é que no momento em que a imprensa
tomar consciência da necessidade de evitar abordagens superficiais so-
bre a questão da Deficiência terá dificuldades em cumprir essa meta, por-
que simplesmente não sabe como fazer isso. Há necessidade de articular
esforços, em nível nacional, para a capacitação de jornalistas no sentido
de que não discriminem a agenda das pessoas com deficiência em suas
reportagens, reconhecendo a urgência desta pauta.
Esse foi o diagnóstico final de um trabalho desenvolvido pela Agência de
Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e Fundação Banco do Brasil (FBB),
com o apoio técnico da Escola de Gente – Comunicação em Inclusão.
O objetivo da iniciativa foi realizar uma análise quanti-qualitativa do
tratamento dado pela mídia impressa brasileira a questões associadas
à diversidade, com foco na Deficiência. E, a partir dos resultados da
análise, contribuir para a melhor qualificação dessa cobertura por
meio de recomendações dirigidas tanto a jornalistas quanto a fontes
de informação.
Um grupo de consultores especializados no conceito de inclusão (veja os
perfis na página 158) foi convocado para fazer a avaliação de 1.192 matérias
veiculadas ao longo de 2002. Culminando todo este processo de análise de
mídia, desencadeado entre janeiro e junho de 2003, a ANDI e a Fundação
Banco do Brasil promoveram o Seminário Mídia e Deficiência: Diversida-
de Cidadania e Inclusão na Imprensa Brasileira, em Brasília, nos dias 13 a
Mídia e Deficiência Introdução 11

15 de julho de 2003. As atividades do evento, que mais engajado vem da sociedade que prestigia e valo-
reuniu jornalistas de todo o País e diversos atores riza a postura pró-ativa da mídia.
sociais da área da Deficiência, tiveram como base um Reportagens que denunciem abuso sexual em crian-
documento escrito pela equipe de consultores em ças ou tráfico de drogas já conseguem mobilizar o
parceria com a Escola da Gente e o cientista político senso comum. Indivíduos das mais distintas origens
Guilherme Canela. concordam ser necessário enfrentar com urgência tais
Desse documento e dos resultados das dinâmicas mazelas sociais, para o bem de toda a nação.
realizadas durante o seminário nasce o presente livro, Outras denúncias não provocam a mesma como-
que se propõe a apoiar a avaliação e o aprofundamen- ção, nem quando se referem a direitos previstos e am-
to do debate público sobre os complexos fatores que parados pela Constituição. Isso porque versam sobre
permeiam a vida de aproximadamente 24,5 milhões impasses que comumente não figuram na relação de
de pessoas, de acordo com o Censo 2000 do IBGE. problemas que a sociedade considera como seus – por
exemplo, a permanência ou não de crianças com pa-
O risco do senso comum ralisia cerebral ou surdas na classe comum das escolas
As grandes pautas nascem do interesse e da visão públicas regulares próximas de sua casa.
crítica que o profissional de comunicação tem – ou
desenvolve – em relação ao assunto no decorrer da Abordagem simplista
apuração, mesmo não sendo um perito no mesmo. No Brasil, multiplicam-se prêmios e reconhecimentos
Nas redações, alguns temas se destacam e o jorna- para reportagens que se dedicam às grandes questões
lista costuma ser instigado, de várias formas, a expan- nacionais. Mas Deficiência ainda não é considerada
dir seu nível de informação e de reflexão sobre eles. uma questão de todos os brasileiros; no máximo, um
São casos nos quais a demanda por um jornalismo problema de alguns núcleos familiares. No imaginário
12 Introdução Mídia e Deficiência

social, essas famílias devem aceitar o fardo de terem Novos rumos


que lidar por tempo indeterminado com um parente Muitos foram os questionamentos e as conclusões
próximo que não enxerga, não ouve, não anda, não reunidas durante o grupo de análise e o seminário,
conseguiu aprender a ler e a fazer contas como a maio- a partir de agora compartilhadas neste documento.
ria da população que teve acesso à educação. Mas antes de lê-lo, cabe uma recomendação, fun-
É dessa forma simplista e, portanto, trágica que a so- damental para que o jornalista e demais leitores
ciedade enfrenta o fato de alguns indivíduos à sua volta definam ou comecem a definir sua posição diante
terem deficiência. Pior, ainda persiste a idéia de que se dos temas relativos à inserção de pessoas com defi-
tudo correr bem em nossas vidas jamais teremos igual ciência na sociedade. Ela se refere à importância de
dificuldade no âmbito pessoal, profissional e social – se aproximar e/ou se aprofundar o entendimento
como se isso fosse realmente possível. Não importa que de dois conceitos: inclusão e integração, bem defini-
profissão um jovem escolhe, em diversas ocasiões ele dos nos próximos capítulos. Um pouco da história
deverá lidar com pessoas que têm deficiência: alunos, do movimento pela qualidade de vida e pelos direi-
pacientes, leitores, funcionários, amigos, professores, tos das pessoas com deficiência também fará parte
pedreiros. Por que não se preparar para isso? deste material.
A mídia tem reproduzido com muita eficiência este O processo de familiarização com os conceitos de
pensamento mágico de que é possível evitar para sempre integração e inclusão certamente não se esgotará neste
discussões que envolvem Deficiência. Esta postura se texto. Imprescindível é que o leitor em geral – e espe-
traduz na não-valorização do assunto Deficiência como cialmente o profissional de imprensa – complete a vi-
de utilidade e de interesse públicos – o que, conseqüen- sita a estas páginas apto a escolher quando lançar mão
temente, provoca um empobrecimento das matérias pu- de um ou outro conceito, deixando então de utilizá-
blicadas com este foco nos jornais brasileiros. O mesmo los aleatoriamente. Com essa postura, ganham o pú-
problema atinge o processo de elaboração das reporta- blico, a mídia brasileira e a sociedade como um todo,
gens veiculada pelo rádio e pela televisão. resultado da maior segurança, desenvoltura e senso
As tão esperadas e questionadoras pautas raramen- crítico diante das informações obtidas no decorrer da
te aparecem – nem há tampouco pressão da sociedade apuração de qualquer matéria. Vale adiantar, como
civil, organizada ou não, e também dos governos, exemplo, que inclusão não é sinônimo de integração –
para transformar este cenário. confusão que a mídia costuma fazer. n
Mídia e Deficiência Introdução 13

A metodologia

A ANDI adotou nesta análise de mídia uma me- sentam estatisticamente todos os meses e dias ao
todologia já testada inúmeras vezes. Desde 1996, a longo desse período. Por este método, chegou-se
Agência realiza, com diferentes parceiros, pesquisas ao total de 747 matérias. A necessidade de tra-
para radiografar a forma como a imprensa lida com balhar com esse tipo de amostragem estatística
questões relativas aos direitos da infância e da ado- deriva da grande quantidade de matérias publi-
lescência. Nessas oportunidades, com assiduidade, cadas que continham as palavras-chaves pesqui-
foi possível detectar a necessidade de a cobertura ir sadas ao longo dos 12 meses analisados.
além de uma abordagem superficial ou genérica. 2 . D i as E s pe c i a i s : amostra de matérias que re-
Durante seis meses, uma equipe de 13 pessoas, presentam a cobertura de datas comemorativas
constituída por integrantes da ANDI e da Escola de ao tema. Por este critério foi possível selecionar
Gente, operacionalizou a metodologia que deu ori- mais 445 textos jornalísticos.
gem a este documento sobre Mídia e Deficiência. O
primeiro passo era chegar ao conjunto de matérias Cada um desses dois conjuntos de textos inclui
que deveriam ser analisadas – para isso, recorreu-se artigos, entrevistas, reportagens e editoriais.
a uma ferramenta de busca eletrônica, a partir de Definido o universo a ser analisado, procurou-se
palavras-chaves referentes à Deficiência. A ferra- então saber em quantas matérias o Foco Central
menta foi aplicada a uma base de dados contendo estava na questão da Deficiência. Isso porque há
o material veiculado por 53 jornais de todo o País. textos que falam de Deficiência apenas transversal-
Da amostra selecionada para o estudo, 32,8% do mente como um Foco Secundário (por exemplo,
material se referiu a veiculações na região Nordeste, uma reportagem sobre a inauguração de um hotel
30,9% na região Sudeste e 12,6% na região Norte. mencionava, em uma linha, que há quartos adapta-
Centro-Oeste e Sul, tiveram, cada, 11,8%. O período dos para pessoas com deficiência).
base a ser pesquisado se estendia de 1o de janeiro a 31 Das matérias selecionadas pelo Mês Composto,
de dezembro de 2002. No contexto desses 12 meses, 485 tinham Deficiência como Foco Secundário (ou
foram definidos dois diferentes grupos de datas, en- transversal) e 262 como Foco Central. Na seleção
tão submetidos ao processo de busca eletrônica: referente aos Dias Especiais (de comemoração ou
1. Mês Comp osto: foram escolhidos, aleatoria- festa), 300 tinham Deficiência como Foco Secundá-
mente, 31 dias do ano de 2002, os quais repre- rio e 145 como Central.
14 Introdução Mídia e Deficiência

No total, 407 reportagens tiveram Deficiência contexto do amplo universo de dados, quais tinham
como Foco Central. maior representatividade na relação entre mídia e
Deficiência. Todo o processo estatístico contou com
Processo de análise a consultoria de Guilherme Canela, cientista políti-
As conclusões apresentadas ao longo deste texto são co e membro do NEMP – Núcleo de Estudos Mídia
resultado do trabalho de um Grupo de Análise de e Política, da Universidade de Brasília (UnB).
Mídia composto por especialistas que se reuniram Após a avaliação das planilhas, os consultores se
por duas vezes, totalizando três dias de atividades. reuniram novamente, desta vez por dois dias, para
Eles avaliaram todas as 1.192 matérias, entrevistas, produzir uma análise qualitativa da cobertura da
artigos e editoriais selecionados. imprensa brasileira sobre Deficiência. As conclusões
Após a leitura dos textos, os consultores participa- foram elaboradas com base nos dados quantitativos
ram da primeira reunião, com duração de um dia, auferidos e também a partir da percepção obtida pelos
para a elaboração do instrumento de pesquisa – um especialista durante o processo de leitura dos textos.
questionário composto por critérios de classifica- A análise foi construída a partir de quatro eixos
ção que permitissem uma análise quantitativa do de trabalho:
material. Entre os critérios pode-se citar, por exem- E i xo 1 : Temas pesquisados, segundo definido no
plo, o tema da matéria, como se deu a inclusão do questionário
assunto na imprensa, as fontes ouvidas, a discussão Eixo 2: Qualidade e enfoque da cobertura dos temas
de soluções e a divulgação de serviços. Eixo 3: Inserção da pessoa com deficiência sob a
Após a concepção do instrumento de pesquisa, ótica dos conceitos de integração e inclusão
uma equipe de classificadores foi treinada para que Eixo 4: Inserção da pessoa com deficiência sob a
se diminuíssem ao máximo os possíveis problemas ótica de políticas públicas
de subjetividade. Classificada cada uma das repor-
tagens, os dados passaram por uma tabulação em Para efeito didático, os temas abordados nestes
uma base especialmente desenvolvida. Foram pro- quatro eixos temáticos passaram por uma reestru-
cessadas planilhas com as freqüências e também os turação e constituíram os sete capítulos que com-
cruzamentos de dados solicitados pelos consultores. põem esta publicação.
Esse material foi enviado a todos os participan-
tes do Grupo de Análise de Mídia 10 dias antes da A margem de erro da pesquisa é de
segunda reunião, para que pudessem identificar, no 0,3% para mais ou para menos. n
Mídia e Deficiência Introdução 15

Jornais que mais publicaram matérias com foco em Deficiência*


Mês Dias Mês Dias
Jornal Jornal
Composto Especiais Composto Especiais

A Gazeta (ES) 6,1% 7,6% O Estadão (RO) 1,5% 1,4%


O Liberal (PA) 5,7% 2,8% Diário da Tarde (MG) 1,1% 2,1%
A Tarde (BA) 5,3% 4,7% Correio do Povo (RS) 0,8% 6,8%
Folha de S. Paulo (SP) 5,0% 4,1% Diário Catarinense (SC) 0,8% 2,1%
Jornal de Brasília (DF) 5,0% 2,8% Diário de Cuiabá (MT) 0,8% 0,7%
A Notícia (SC) 4,6% 4,7% Diário de Natal (RN) 0,8% –
Diário do Nordeste (CE) 4,6% 2,8% Folha de Boa Vista (RR) 0,8% –
Folha de Londrina (PR) 4,6% 2,8% Jornal do Tocantins (TO) 0,8% 2,1%
O Povo (CE) 4,6% 3,4% O Norte (PB) 0,8% 0,7%
Jornal do Commercio (PE) 4,2% 2,1% Gazeta do Povo (PR) 0,8% 0,7%
O Globo (RJ) 3,7% 3,4% Tribuna de Alagoas (AL) 0,8% –
O Estado do Maranhão (MA) 3,4% 4,1% A Gazeta (AC) 0,4% –
O Dia (RJ) 3,1% 3,4% Correio do Estado (MS) 0,4% –
A Gazeta (MT) 2,7% 3,4% Diário da Amazônia (RO) 0,4% –
Correio da Bahia (BA) 2,7% 4,1% Folha do Estado (MT) 0,4% –
Diário de Pernambuco (PE) 2,7% 0,7% Valor Econômico (SP) 0,4% 0,7%
Correio Braziliense (DF) 2,3% 4,8% Tribuna do Norte (RN) 0,4% 1,4%
Estado de Minas (MG) 2,3% – Jornal da Tarde (SP) 0,4% 1,4%
O Estado de S. Paulo (SP) 2,3% 2,1% O Popular (GO) 0,4% 0,7%
A Crítica (AM) 1,8% 0,7% O Imparcial (MA) 0,4% 2,1%
Diário de São Paulo (SP) 1,8% 2,8% Gazeta Mercantil (SP) 0,4% 0,7%
Hoje em Dia (MG) 1,8% 2,1% Jornal O Dia (PI) 0,4% –
Jornal do Brasil (RJ) 1,8% 1,4% Zero Hora (RS) 0,4% 0,7%
Meio Norte (PI) 1,8% 1,4% Correio da Paraíba (PB) – 1,4%
Gazeta de Alagoas (AL) 1,5% 0,7% O Tempo (MG) – 1,4%
*Esta tabela enfoca apenas o aspecto quantitativo da cobertura. Não é possível avaliar, por meio dela, o caráter qualitativo dos textos. Os jornais Diário do Pará
(PA), Correio de Sergipe (SE) e Jornal da Cidade (SE) também foram pesquisados, mas não apresentaram textos sobre o tema Deficiência em nenhum dos dois
conjuntos de reportagens.
A construção
1
Direitos das pessoas com
deficiência avançaram de uma
prática de segregação ao modelo

dos conceitos da integração, para agora chegar


ao conceito de sociedade inclusiva

O pr imeiro passo no sent id o de qualificar a cobertura dos temas


relacionados ao universo das pessoas com deficiência envolve uma mudança de paradigmas.
É imprescindível que os jornalistas conheçam o conceito de sociedade inclusiva, assegurado
pela Constituição brasileira e respaldado por vários tratados internacionais. Esse paradigma
ainda permanece ausente da cobertura jornalística. Ü A história dos conceitos que norte-
aram os direitos das pessoas com deficiência poderia ser sintetizada em três momentos: a
política de segregação, a política de integração e a política de uma sociedade inclusiva. Ü
Durante muitos séculos, as pessoas com deficiência eram consideradas “inválidas” e so-
cialmente inúteis. Neste contexto de quase barbárie, a política de segregação formulada
no final do século XIX e aplicada até a década de 1940, impondo a internação definitiva
em instituições fechadas, representou um progresso humanitário. Ü A reação contra a
política de segregação institucional viria com o chamado movimento de integração, que
propõe a adaptação das pessoas com deficiência ao meio social. Mas, a partir da década de
1980, começa a crescer uma inquietação contra os limites da integração, que ganha forma
no conceito de sociedade inclusiva e se converte em princípios da política de direitos hu-
manos de organismos internacionais e em direitos assegurados na Constituição Brasi-
leira. Ü Mas para que estas leis saiam do papel, é fundamental a mobilização
dos mais diversos setores da sociedade. Daí o papel central dos jornalistas, capa-
zes de promover um amplo debate sobre os princípios do paradigma inclusivo.
O Brasil é signatário de documentos internacionais que definem a
inserção incondicional de pessoas com deficiência na sociedade – a chamada
inclusão. Muito mais do que uma idéia defendida com entusiasmo por pro-
fissionais de diversas áreas, desde 1990 a construção de sociedades inclusivas,
nos mais diferentes pontos do planeta, é meta do que se poderia chamar de
um movimento pelos “Direitos Humanos de Todos os Humanos”. Naque-
le ano, no dia 14 de dezembro, foi assinada a Resolução 45/91, da ONU,
que solicitou ao mundo “uma mudança no foco do programa das Nações
Unidas sobre Deficiência passando da conscientização para a ação, com o
compromisso de se concluir com êxito uma sociedade global para todos por
volta do ano 2010”.
De 1990 até hoje, o Brasil tem ratificado seu compromisso com a inclusão.
Mais: foi precursor da ONU. Além da força inclusiva de nossa Constituição,
já no ano de 1989, com a Lei Federal no 7.853, passou a ser considerado cri-
me, passível de punição, qualquer tentativa de impedir que uma pessoa com
deficiência freqüentasse uma escola de sua comunidade. Nada mais natural,
portanto, que se viesse a transformar em Decreto Presidencial, em 2001, a
Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discri-
minação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência.
A força da legislação, entretanto, não tem sido suficiente para mobilizar
a sociedade brasileira no que se refere à inclusão. Progredimos, mas com
freqüência ainda continuamos pensando e agindo no âmbito de um outro
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 19

conceito, o da integração. Diante dos avanços propos- há décadas mas, desde os anos 80, começou a ser ques-
tos pela ONU e nossas leis, poderíamos definir integra- tionado pelo então emergente movimento internacio-
ção como um movimento pelos “Direitos Humanos nal das organizações de pessoas com deficiência. Este
de Quase Todos os Humanos”. É instaurado o direito, movimento denunciou a injustiça do modelo integra-
neste caso, de manter algumas pessoas do lado de fora. tivo, que só aceitava inserir na sociedade as pessoas
Portanto, se no dicionário integração e inclusão com deficiência que fossem consideradas prontas – ou
são palavras sinônimas, quando avaliados sob a quase prontas – para conviver nos sistemas sociais
ótica de paradigmas internacionais adquirem cono- gerais. Prontas no sentido de aptas para aprender, tra-
tação totalmente divergente. Esse é o ponto principal balhar, se expressar, se locomover mais ou menos bem
a ser entendido quando se analisa qualquer tema pelas ruas das cidades. E caso não estivessem prontas?
relacionado à inserção de pessoas com deficiência Que se esforçassem para estar…
na sociedade. Num contexto integrativo, o máximo feito pela
A propósito, inserção é o vocábulo a ser utilizado sociedade para colaborar com as pessoas com defi-
quando não se deseja falar nem de integração ou de in- ciência neste processo de inserção seriam pequenos
clusão, já que não está associado a qualquer ideologia ajustes como adaptar uma calçada, um banheiro ou
constituída nacional ou internacionalmente. até receber uma criança com deficiência mental na
sala de aula, mas só se ela pudesse “acompanhar a
A diferença conceitual entre inclusão e integração turma”. Como raramente crianças com deficiência
A integração nos induz a acreditar que podemos es- mental podem ter o mesmo ritmo de aprendizagem
colher quais seres humanos têm direito a estar nas dos alunos sem deficiência mental, era certo que em
escolas, nos parques de diversões, nas igrejas, nos am- breve, no máximo em dois ou três anos, aquele aluno
bientes de trabalho, em todos os lugares. É praticado seria sumariamente devolvido para a família.
20 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

A inclusão, ao contrário, nos aponta para um documento Normas sobre a Equiparação de Oportu-
novo caminho. Nele, nossas decisões são guiadas pela nidades para Pessoas com Deficiência. Nesse docu-
certeza de que o direito de escolher seres humanos é mento deu forma às idéias do programa de 1982. São
filosoficamente ilegítimo, além de ser anticonstitu- 22 normas que indicam os requisitos, as áreas-alvo e
cional. Uma sociedade inclusiva tem compromisso as medidas de implementação da igualdade de par-
com as minorias e não apenas com as pessoas com ticipação das pessoas com deficiência na sociedade.
deficiência. Tem compromisso com elas e com sua di- Mas esta conquista não ocorreu de um dia para ou-
versidade e se auto-exige transformações intrínsecas. tro, em um passe de mágica. Ela é resultado de um
É um movimento com características políticas. Como longo processo de luta e modernização no campo
filosofia, incluir é a crença de que todos têm direito de dos direitos humanos das pessoas com deficiência,
participar ativamente da sociedade. Como ideologia, que avançou do conceito de segregação institucional,
a inclusão vem para quebrar barreiras cristalizadas em passando pelo de integração até o chegar ao atual
torno de grupos estigmatizados. modelo de sociedade inclusiva.
A inclusão é para todos porque somos diferentes. O paradigma da integração, norteador de práticas
sociais e políticas públicas pertinentes a pessoas com
Um pouco da história deficiência durante cerca de 40 anos (décadas de 50 a
A concepção de um mundo-mãe sempre viveu no 80), teve seus méritos baseados no fato de que surgiu em
desejo da humanidade, em diferentes épocas e civili- substituição ao paradigma da segregação institucional.
zações. Mas foi só em 1981, ao instituir o Ano Interna- Em que consistia essa prática? Para entendê-la me-
cional das Pessoas Deficientes, que a ONU oficializou lhor, é necessário retroceder mais ainda na história
o embrião do conceito de sociedade inclusiva. Enti- e lá encontrar o paradigma da exclusão das pessoas
dades não-governamentais e governamentais, a mídia com deficiência.
mundial, nações de portes diversos no cenário econô- No artigo “Como chamar as pessoas que têm de-
mico-político internacional reafirmaram por 365 dias ficiência?”, de Romeu Kazumi Sassaki (publicado em
a necessidade de o planeta reconhecer com firmeza os Vida Independente, julho de 2003), o autor descreve que
direitos das pessoas com deficiência. durante séculos as pessoas com deficiência foram con-
Em 20 de dezembro de 1993, no final da Década das sideradas inúteis – um peso morto para a sociedade, um
Nações Unidas para Pessoas Portadoras de Deficiên- fardo para a família e sem valor profissional. Chamadas
cia, a Assembléia Geral da ONU assinou uma outra de ‘inválidas’, foram excluídas da sociedade, muitas de-
e decisiva resolução – a de no 48/06 – que adotou o las literalmente exterminadas em certas culturas.
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 21

Integração e Inclusão: principais diferenças*


Inclusão Integração
Inserção total e incondicional (crianças com deficiên- Inserção parcial e condicional (crianças “se preparam”
cia não precisam “se preparar” para ir à escola regular) em escolas ou classes especiais para poderem freqüentar
escolas ou classes regulares)
Exige rupturas nos sistemas Pede concessões aos sistemas
Mudanças que beneficiam toda e qualquer pessoa (não Mudanças visando prioritariamente as pessoas com defici-
se sabe quem “ganha” mais; todas ganham) ência (consolida a idéia de que elas “ganham” mais)
Exige transformações profundas Contenta-se com transformações superficiais
Sociedade se adapta para atender às necessidades das Pessoas com deficiência se adaptam as realidades dos
pessoas com deficiência e, com isso, se torna mais aten- modelos que já existem na sociedade, que faz apenas
ta às necessidades de todos ajustes
Defende o direito de todas as pessoas, com e sem deficiência Defende o direito das pessoas com deficiência
Traz para dentro dos sistemas os grupos de “excluídos” Insere nos sistemas os grupos de “excluídos que prova-
e, paralelamente, transforma esses sistemas para que se rem estar aptos” (sob este aspecto, as cotas podem ser
tornem de qualidade para todos questionadas como promotoras da inclusão)
Valoriza a individualidade das pessoas com deficiência Como reflexo de um pensamento integrador citamos a
(pessoas com deficiência podem ou não ser bons fun- tendência a tratar pessoas com deficiência como um
cionários; podem ou não ser carinhosos etc.) bloco homogêneo (ex: surdos se concentram melhor;
cegos são bons massagistas, etc.)
Não quer disfarçar as limitações, porque elas são reais Tende a disfarçar as limitações para aumentar as chances
de inserção
Não se caracteriza apenas pela convivência de pessoas A simples presença de pessoas com e sem deficiência no
com e sem deficiência em um mesmo ambiente mesmo ambiente tende a ser suficiente para o uso do
adjetivo integrador
A partir da certeza de que todos somos diferentes, não Incentiva pessoas com deficiência a seguir modelos, não
existem “os especiais”, “os normais”, “os excepcionais” – valorizando, por exemplo, outras formas de comunica-
o que existe são pessoas com deficiência ção, como a Libras. Seríamos então um bloco majoritá-
rio e homogêneo de pessoas sem deficiência, rodeada
pelas que apresentam diferenças
O adjetivo inclusivo é usado quando se busca qualidade O adjetivo integrador é usado quando se busca qualidade nas
para todas as pessoas com e sem deficiência (escola in- estruturas que atendem apenas às pessoas com deficiência con-
clusiva, trabalho inclusivo, lazer inclusivo etc.) sideradas aptas (escola integradora, empresa integradora etc.)
*Este quadro foi criado pela Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, que o publicou no Manual da Mídia Legal, para detalhar as diferenças
entre os conceitos de integração e de inclusão. Está também no livroVocê é Gente, de Claudia Werneck (WVA Editora).
22 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

Portanto, diante dessa tradição milenar, a segre- gama de medidas e atividades, desde uma reabilitação
gação institucional, surgida no final do século 19 e mais básica e geral até atividades voltadas para metas, por
praticada até o final da década de 40, pode ser con- exemplo, reabilitação profissional.”
siderada um progresso da humanidade. Pois, pelo
menos não estimulava a eliminação de pessoas com Após serem reabilitadas, física e profissionalmente,
deficiência e nem as abandonava em ilhas remotas, algumas pessoas com deficiência eram consideradas
de onde não poderiam fugir. A segregação institucio- aptas a retornar à sociedade (escola, trabalho, lazer
nal consistia em o Estado, a família ou a sociedade de etc.). Este processo foi inicialmente conhecido como
um modo geral internar pelo resto da vida as pessoas reintegração, porque era aplicado somente a pessoas
com deficiência em grandes instituições fechadas, que estavam atuando na sociedade antes de contraírem
terminais. Dentro dessas instituições, era provido uma deficiência. Portanto, não era aplicado a crian-
um mínimo de condições favoráveis, ou seja, teto, ças que nasciam com alguma deficiência ou passavam
comida e roupa. a tê-la nos primeiros anos de vida. A partir da década
de 80, a reintegração passou a ser chamado de inte-
Movimento de integração gração, valendo a sua aplicação para qualquer pessoa
Contra a prática da segregação institucional, surgiu o com deficiência.
movimento da integração, inspirado no sucesso dos De acordo com Sassaki (no livro Inclusão: Cons-
serviços de reabilitação de pessoas com deficiência. truindo uma Sociedade para Todos, da WVA Editora), a
Segundo as Normas sobre a Equiparação de Opor- bandeira da integração ensejou o surgimento e a pro-
tunidades para Pessoas com Deficiência, da Organiza- liferação de centros de reabilitação e de escolas espe-
ção das Nações Unidas, de 1993, a palavra ‘reabilitação’ ciais, considerados necessários para que pessoas com
refere-se a: deficiência pudessem ser preparadas para conviver na
“um processo destinado a capacitar pessoas com deficiên- sociedade. A partir do trabalho das escolas especiais,
cia a atingirem e manterem seus níveis ótimos em termos desenvolveu-se a prática do mainstreaming, que con-
físicos, sensoriais, intelectuais, psiquiátricos e/ou funcio- sistia em levar os alunos de escolas especiais mais para
nais sociais, dando assim ferramentas para mudar sua perto das escolas comuns. Um exemplo disto foi a
vida em direção a um nível mais elevado de autonomia. criação de classes especiais dentro de escolas comuns.
A reabilitação pode incluir medidas para fornecer e/ou A bandeira da integração foi responsável também pelo
restaurar funções ou compensar a perda ou ausência de surgimento e proliferação de oficinas protegidas (em
uma função ou limitação funcional. Ele inclui uma ampla que as pessoas com deficiência realizam atividades
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 23

laborais permanecendo no próprio espaço das escolas Mas apesar dessas barreiras aparentemente in-
especiais), que por sua vez inspirou a criação de em- transponíveis, o paradigma da inclusão vem encon-
pregos protegidos (em que as pessoas com deficiência trando solo fértil, receptivo, e desencadeando o surgi-
realizam atividades profissionais sem serem incluídos mento de escolas inclusivas, empresas inclusivas, lazer
na dinâmica cotidiana de todos os outros trabalhado- e turismo inclusivos, atividades esportivas inclusivas,
res) dentro de algumas empresas de grande porte. espaços urbanos inclusivos, transportes inclusivos,
mídia inclusiva etc. em todo o mundo.
Barreiras a serem superadas
Embora tivesse seus méritos, o paradigma da integração A “ética da diversidade”
não resistiu às mudanças sociais ocorridas no mundo a Portanto, um grande desafio hoje colocado é: como
partir da década de 80, passando a evidenciar cada vez cada cidadão e profissional pode contribuir para a im-
mais os seus pontos vulneráveis, como os fatos de que plementação de uma sociedade inclusiva brasileira?
poucas pessoas com deficiência tinham acesso aos ser- Trata-se de um exercício novo que exigirá a reflexão e a
viços de reabilitação e destas um número menor ainda prática de uma nova ética, a “ética da diversidade”. No
era considerado apto para conviver na sociedade ou de livro Você é gente?, de Cláudia Werneck (WVA Editora), a
que o aspecto segregativo estava presente na proposta autora explica que esta ética surge como um contrapon-
conceitual de escolas especiais e oficinas protegidas de to à chamada “ética da igualdade”, que admite o que po-
trabalho (outras limitações deste modelo estão mencio- deríamos chamar de “modelos de gente” e, assim, acaba
nadas em quadro comparativo da página 21). por valorizar única e exclusivamente o que as pessoas
Em relação ao paradigma da inclusão, há que se têm de semelhança. Conseqüentemente, permite a
considerar os seguintes desafios a ele interpostos: hierarquização de condições humanas, pois cria a ca-
• O aspecto radical presente na proposta de transfor- tegoria do “diferente”. A “ética da diversidade”, ao con-
mar a sociedade inteira. trário, por se apoiar na certeza de que a humanidade
• A pretensão de inserir na sociedade todas as pes- encontra infinitas formas de se manifestar, não admite
soas até então excluídas (e não apenas aquelas que a comparação entre diferentes condições humanas, nem
têm uma deficiência). privilegia uma delas em detrimento de outras.
• A enorme dificuldade de substituir a ótica da inte- Segundo Cláudia, nesta concepção, finalmente, perante
gração, arraigada no imaginário coletivo, por uma a sociedade, seres humanos terão o mesmo valor, não im-
abordagem tão clara na mente de poucas pessoas porta de que modo ouvem, andam, enxergam, pensam…
visionárias. À medida que as idéias e intervenções forem se apri-
24 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

morando e se aproximarem do paradigma da inclusão Acessibilidade e inclusão


prevê-se que, o modelo integrativo será gradativamente O conceito de inclusão tem íntima relação com
substituído pelo modelo inclusivo. Historicamente, a um outro, o de acessibilidade, sobre o qual pairam
integração foi um passo para a inclusão, assim como ao muitas dúvidas. É objetivo deste texto esclarecê-las.
Código de Menores se sucedeu o Estatuto da Criança Inicialmente, tentando expandir o uso habitual
e do Adolescente. Mas é um equívoco acreditar que a que os cidadãos fazem do que é ser “acessível”, idéia
integração seja, necessariamente, um caminho natural que nos remete a mudanças no urbanismo e na
para a inclusão, assim como nada garante que alguém edificação.
que ainda hoje advogue em favor do Código de Meno- Segundo o consultor em inclusão Romeu Kazumi
res chegue naturalmente à concepção dos direitos. Sassaki, para dizer que uma sociedade está acessível
Os dois principais conceitos estudados neste livro é preciso verificar sua adequação de acordo com seis
representam, portanto, distintas formas de se pensar a quesitos básicos:
humanidade e a responsabilidade social de cada cida- • Acessibilidade arquitetônica: não há barrei-
dão frente à qualidade de vida de quem está a seu lado. ras ambientais físicas nas casas, nos edifícios, nos

“Eu porto olhos azuis”

Apesar de seu crescente uso da mídia, na educação e ficiências nas costas, como um fardo e, de vez
na legislação, a palavra “portador” deve ser evitada, em quando, descansam delas para conseguir um
sendo utilizada apenas quando a mídia está reprodu- trabalho mais bem remunerado, por exemplo.
zindo falas de um profissional ou trechos de docu- • Não nos utilizamos de expressões como “por-
mentos. De acordo com o que está descrito no Ma- tador de olhos azuis” (porque também não há
nual da Mídia Legal, editado em novembro de 2002 como dissociarmos os olhos da pessoa).
pela Escola de Gente em parceria com o Ministério • Essa palavra não cria relação de direito-dever
Público Federal, a Universidade do Estado do Rio entre pessoas com e sem deficiência, porque não
de Janeiro e a Rede ANDI, existem vários argumen- divide responsabilidades. É como se a deficiência
tos para não nos utilizarmos desse vocábulo: não fosse uma questão da sociedade, apenas um
• Pessoas não necessariamente carregam suas de- problema do “portador” e de seus familiares. n
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 25

espaços ou equipamentos urbanos e nos meios de acessibilidade nesses seis contextos, demonstrando
transporte individuais ou coletivos. que há preocupação em acolher toda a pluralidade de
• Acessibilidade comunicacional: não há bar- modos de ser e de existir presentes na espécie humana.
reiras na comunicação interpessoal (face-a-face,
língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta,
apostila, incluindo textos em braile, uso do compu- Soluções com qualidade
tador portátil) e virtual (acessibilidade digital).
• Acessibilidade metodológica: não há barrei- Tecnologia Assistiva refere-se a todo e qual-
ras nos métodos e técnicas de estudo (escolar), de quer item, equipamento, produto ou sistema
trabalho (profissional), de ação comunitária (so- que contribua com o desenvolvimento das
cial, cultural, artística etc) e de educação dos filhos potencialidades de indivíduos com limitações
(familiar). físicas, sensoriais, cognitivas, motoras, dentre
• Acessibilidade instrumental: não há barreiras outras restrições ou disfunções que caracte-
nos instrumentos, utensílios e ferramentas de es- rizam uma deficiência ou incapacidade de
tudo (escolar), de trabalho (profissional) e de lazer qualquer natureza. Tratam-se, pois, de meios
ou recreação (comunitária, turística ou esportiva). e alternativas que possibilitem a resolução
• Acessibilidade programática: não há barreiras de dificuldades destes indivíduos quanto ao
invisíveis embutidas em políticas públicas (leis, desempenho das atividades de vida diária, à
decretos, portarias) e normas ou regulamentos locomoção, à aprendizagem, à comunicação,
(institucionais, empresariais etc). à inserção na vida familiar, comunitária e no
• Acessibilidade atitudinal: não há preconcei- mundo do trabalho. Consiste em uma varie-
tos, estigmas, estereótipos e discriminações. dade de recursos, equipamentos, ferramentas,
acessórios, dispositivos, utensílios, artefatos,
Romeu Kazumi Sassaki chama a atenção para o técnicas, serviços, estratégias ou adaptações
fato de que a denominada acessibilidade tecnológica que possibilitem segurança, autonomia e in-
não constitui um outro tipo de acessibilidade, pois o dependência para as crianças, jovens ou adultos
aspecto tecnológico deve permear todos aqueles des- que deles necessitem (segundo Elisabete Sá,
critos acima, com exceção da atitudinal. educadora e consultora do Banco Mundial para
Uma escola ou empresa é chamada de inclusiva tecnologias assistivas). n
quando consegue implementar medidas efetivas de
26 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

Desenho universal Vida independente


Quando uma sociedade se acha no direito de não se As pessoas com deficiência viveram, durante muito
adaptar à toda a diversidade humana cria, sistemática tempo, sob a tutela de instituições, especialistas ou
e progressivamente, situações de exclusão – nem sempre familiares, que os tratavam como alvo de caridade. No
facilmente percebidas como tal. Como são tomadas algu- final dos anos 60, nos Estados Unidos, pessoas com de-
mas medidas de acessibilidade para facilitar a inserção de ficiências severas, marginalizadas da sociedade, deram
pessoas com a diversidade ou a deficiência escolhida, fica um verdadeiro grito de independência, deflagrando o
sempre a impressão equivocada de que se está praticando Movimento de Vida Independente, que se multiplicaria
é a inclusão, embora o modelo seja de integração. A título pelo planeta. Nesse contexto, independente significava
de exemplo poderíamos citar o caso de uma empresa não-dependente da autoridade institucional ou fami-
que contrata um intérprete de Libras para os empregados liar. Esta mobilização ensejou o surgimento dos Cen-
surdos, mas não prepara o ambiente profissional para tros de Vida Independente, que contribuíram para a
uma inclusão efetiva. No dia em que o tradutor falta, os ampliação de múltiplas dimensões da acessibilidade:
outros empregados não conseguem se comunicar com arquitetônica, educacional, de trabalho, tecnologia
as pessoas surdas. Embora a decisão da empresa tenha assistiva, defesa de direitos, setor de transportes etc.
sido correta, ela se ressente da ausência de uma reflexão Mas foi na década de 80, com a pressão do Ano
mais aprofundada sobre a diversidade, o que reduz o seu Internacional das Pessoas Deficientes (1981), que o
alcance ao limite de providência pontual, descontextuali- movimento ganhou força, inclusive no Brasil, com a
zada de uma verdadeira perspectiva da inclusão. realização de campanhas que exigiam não apenas a
No âmbito da acessibilidade, o movimento pela simples eliminação de barreiras (desenho adaptável),
integração teve vida longa e defendia, principalmente, mas também a não-inserção de barreiras (desenho
transformações no ambiente arquitetônico. Já na dé- acessível). A principal diferença entre esses dois con-
cada de 60, algumas universidades americanas haviam ceitos é que, no primeiro, a preocupação é no sentido
iniciado as primeiras experiências de acessibilidade de adaptar os ambientes obstrutivos. No segundo, a
transformando suas áreas externas, estacionamentos, meta está em exigir que os arquitetos, engenheiros,
salas de aula, laboratórios, bibliotecas e lanchonetes. urbanistas e desenhistas industriais não incorporem
Nos anos 70, graças ao primeiro Centro de Vida Inde- elementos obstrutivos nos projetos de construção de
pendente do mundo, aumentaram a preocupação e os ambientes e de utensílios. “Desenho universal” é a
debates sobre soluções que pudessem provê-las com o terminologia mais usada hoje em dia e se refere a um
direito de ir e vir em qualquer ambiente. ambiente que leve em conta toda e qualquer diferença.
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 27

Acessibilidade: as pessoas cegas no itinerário da cidadania

Se transitar pelos centros urbanos se transformou Dificuldades em transporte e vias públicas


em uma aventura cotidiana para pessoas sem de- • Pegar ônibus fora dos terminais;
ficiência, é possível imaginar os desafios com que • Entrada dos transportes e compra de bilhetes nos
se defrontam aquelas com deficiência. Mas quais as autocarros;
dificuldades efetivas, que, por exemplo, teriam as • Degraus e assentos sempre ocupados;
pessoas cegas ou com baixa visão para se mover nas • Arquitetura interna dos ônibus e superlotação;
cidades? A partir desta indagação, a psicóloga e edu- • Descer do ônibus é um perigo constante;
cadora Elizabet Dias de Sá realizou uma pesquisa • Obter informações de motoristas e passageiros,
sobre o tema da acessibilidade para esse segmento que não entendem por que e para que uma pes-
da população. Ela distribuiu um questionário com soa cega insiste em sair sozinha;
12 perguntas entre usuários do sistema braile, de • Pessoas que trabalham com transporte coletivo
ledores de tela e softwares com síntese de voz. O uni- pouco preparadas para lidar com pessoas que têm
verso da pesquisa foi constituído por 83 pessoas deficiência;
cegas ou com baixa visão, dos quais 71 residem em • Falta de preparo de funcionários e da população
diferentes regiões do Brasil e 12 em Portugal. em geral para conduzir uma pessoa com deficiên-
A pesquisa é, a um só tempo, ilustrativa dos desa- cia visual, ao atravessar a rua ou pegar o ônibus;
fios a serem enfrentados pelo setor público no campo • Transeuntes desatentos;
da acessibilidade para pessoas com os mais diversos • Cabines telefônicas e lixeiras sem sinalização;
tipos de deficiência e instigadora de uma boa pauta • Veículos estacionados irregularmente em passeios
para a mídia. Apresentamos, a seguir, algumas con- públicos;
clusões do trabalho, publicado originalmente pela • Obras sem proteção ou cordão de isolamento (a
WVA Editora no livro Mobilidade, comunicação e maleabilidade e a altura também não são detec-
educação: desafios da acessibilidade, organizado por tadas pela bengala);
Antônio F. Quevedo, José Raimundo de Oliveira e • Esgoto e bueiros abertos, dejetos, buracos, sacos
Maria Tereza Mantoan. de lixo, entulhos, pisos quebrados;
Cont in ua
28 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

• Cartazes, placas publicitárias, mesas e cadeiras blicos e particulares;


nas calçadas; • Projetos de adaptação de ônibus, de plataformas
• Falta de sinais sonoros nas ruas; do metrô e de prédios públicos;
• Toldos baixos avançados nas calçadas e outros • Semáforos sonoros.
obstáculos aéreos;
• Vegetação agressiva, vasos, canteiros, jardineiras Metas de acessibilidade e cidadania
e árvores com ramos baixos sem proteção; • Ampliação e otimização das bibliotecas e servi-
• Camelôs, bancas de frutas, carrinhos de pipoca e ços especializados existentes;
de cachorro-quente; • Incentivos e subsídios financeiros que possibilitem
• Pavimentação irregular, calçadas com aclives e o acesso às tecnologias disponíveis no mercado;
declives; • Provisão de equipamentos e de programas com
• Portões abertos ou que abrem automaticamente; interfaces específicas como ampliadores de tela,
• Barras de ferro, postes metálicos finos e de difícil sintetizadores de voz, impressoras e conversores
localização pela bengala; braile, dentre outras possibilidades, em escolas,
• Falta de alinhamento na construção dos edifícios; bibliotecas e demais espaços educativos;
• Excesso de ruído próprio dos centros urbanos; • Atualização do acervo bibliográfico das univer-
• Elemento surpresa como andaimes nas calçadas; sidades, produção de livros em disquetes ou cd-
• Falta de sinais de trânsito nas ruas e avenidas mais rom, maior circulação de livros digitalizados em
movimentadas; formato alternativo;
• Falta de faixas de segurança com sinaleira para • Estabelecimento de normas e regras de acessibili-
travessia de pedestre; dade para a criação e manutenção de sites que pos-
• Inexistência de calçamento, degraus nas calçadas; sibilitem a navegação, utilização de serviços, acesso
• Semáforos com pouca luz; às informações e às interfaces gráficas na internet;
• Todo tipo de barreira arquitetônica e ideológica. • Produção simultânea, por parte das editoras, de
formatos alternativos às edições em papel;
O que se espera dos serviços públicos • Criação de bibliotecas virtuais com acervo di-
• Implantação de passarelas, pisos táteis ou linhas- versificado e acessível;
guia em trechos estratégicos na área urbana; • Conversão de jornais, revistas e livros em vários
• Elevadores com painel em braile em prédios pú- idiomas para edição sonora ou eletrônica. n
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 29

Assistência sem mitos A trajetória dos conceitos


Outra idéia que necessita ser esclarecida é a que se Os mesmos temas podem ter, na mídia, um enfoque
refere à assistência social e ao assistencialismo. Os con- meramente assistencialista ou se transformarem em
ceitos muitas vezes ainda são confundidos pela popu- interessantes debates pró-inclusão (por exemplo: dis-
lação e também pela mídia. tribuição pelo governo de cadeiras de rodas, de trans-
A assistência social é um direito do cidadão de porte gratuito, de cestas básicas, entre outros).
baixa renda. Assim, a pessoa com deficiência que No campo das deficiências em geral, torna-se quase
estiver nesta condição é público alvo da assistência, automática a confusão de conceitos envolvendo direi-
e isto deve ser visto como algo positivo. É positivo tos, privilégios, dádivas. Como vimos, no decorrer da
porque as ações e os programas da assistência social, história, as pessoas com deficiência foram primeiro
como está definido na legislação, devem ter sempre segregadas da sociedade. A imagem mais comum apre-
por objetivo a habilitação, a reabilitação e a inclusão sentada pela imprensa era de coitadinhas, merecedo-
das pessoas na sociedade. Reabilitar uma pessoa com ras de piedade e de ajuda material.
deficiência é um processo de duração limitada e que A sociedade evoluiu e a mídia também, mas faz pouco
tem o objetivo de provê-la para que alcance uma exce- tempo desde que a imprensa começou a fazer matérias
lente evolução no nível mental, físico e/ou social fun- com foco nas pessoas com deficiência. Nessas primeiras
cional, preparando-a e provendo-a com ferramentas reportagens, a abordagem sempre enveredava pelo en-
para modificar sua vida. foque da vitimização, enfatizando o lado triste, impo-
O ideal é que os programas de assistência social tente, inútil de suas vidas, reforçando cada vez mais o
sejam temporários pois, se forem bem sucedidos, seus estigma e o estereótipo. Hoje, a mídia se prepara cada
beneficiários em breve vão deixar de precisar deles. vez mais para separar e entender as situações e o que
Funcionam como uma alavanca para o cidadão caren- cada enfoque representa – um atraso ou um avanço.
te, em situação de exclusão econômica e financeira. Ter uma deficiência não é, necessariamente, sinô-
Esclarecer para o público o sentido correto dessa nimo de precisar de uma política assistencialista para
assistência é fundamental para desenvolver, na popu- viver. A assistência social é um direito legítimo de qual-
lação, uma visão crítica sobre políticas públicas. Uma quer cidadão em situações extremas. Em contrapar-
pessoa com deficiência não deve ser colocada como tida, a política assistencialista se caracteriza por testa-
público da assistência só por causa da deficiência – é belecer uma relação de dependência e conceber o
preciso verificar se ela também preenche o quesito da beneficiário como um ser passivo, contemplado não
hipossuficiência econômica. com um direito, mas com um favor social. n
30 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

Marco legal internacional


Alguns dos principais documentos que tratam da questão dezembro de 1993: Estabelece as medidas de imple-
da deficiência em plano mundial: mentação da igualdade de participação em acessibili-
• Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes, dade, educação, emprego, renda e seguro social etc.
de 9 de dezembro de 1975: Versa sobre os direitos • Convenção Interamericana para a Eliminação
das pessoas com qualquer tipo de deficiência. de Todas as Formas de Discriminação contra as
• Declaração de Cuenca, de 1981: Recomenda a eli- Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção
minação de barreiras físicas e participação de pessoas da Guatemala), de 28 de maio de 1999: Define a
com deficiência na tomada de decisões a seu respeito. discriminação como toda diferenciação, exclusão ou
• Declaração de Princípios, de 1981: Tem como restrição baseada em deficiência, ou em seus antece-
tema central o conceito de Equiparação de Opor- dentes, conseqüências ou percepções, que impeçam
tunidades: “Processo no qual os sistemas gerais da ou anulem o reconhecimento ou exercício, por parte
sociedade são acessíveis para todos”. das pessoas com deficiência, de seus direitos huma-
• Programa Mundial de Ação Concernente às nos e suas liberdades fundamentais.
Pessoas com Deficiência, de 3 de dezembro de • Carta para o Terceiro Milênio da Reabilitação
1982: Estabelece diretrizes para Ações Nacionais (par- Internacional, de 9 de setembro de 1999: Estabe-
ticipação de pessoas com deficiência na tomada de lece medidas para proteger os direitos das pessoas
decisões, prevenção, reabilitação, ação comunitária, com deficiência mediante o apoio ao pleno empode-
e educação do público), Internacionais, Pesquisa e ramento e inclusão em todos os aspectos da vida.
Controle e Avaliação do Programa. • Declaração de Madri, de 23 de março de 2002:
• Declaração de Cave Hill, de 1983: Um dos pri- Define o parâmetro conceitual para a construção de
meiros documentos a condenar a imagem de pessoas uma sociedade inclusiva, focalizando os direitos das
com deficiência como cidadãos de segunda categoria. pessoas com deficiência, as medidas legais, mudança
• Convenção no 159 da OIT, de 20 de junho de 1983: de atitudes, a vida independente, entre outros.
Estabelece princípios e ações para as políticas na- • Declaração de Caracas, de 18 de outubro de 2002:
cionais de reabilitação profissional e de emprego de Participantes da conferência da Rede Ibero-Americana
pessoas com deficiência. de Organizações Não-Governamentais de Pessoas com
• Resolução 45/91 da ONU, de 14 de dezembro de Deficiência e Suas Famílias declaram 2004 como o
1990: Propõe a execução do Programa de Ação Mun- Ano das Pessoas com Deficiência e Suas Famílias.
dial para as Pessoas com Deficiência e da Década das • Declaração de Quito, de 11 de abril de 2003: Go-
Pessoas com Deficiência das Nações Unidas. vernos da América Latina defendem uma Convenção
• Normas para Equiparação de Oportunidades Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos
para Pessoas com Deficiência da ONU, de 20 de e Dignidade das Pessoas com Deficiência, da ONU. n
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 31

Artigo volvidos. Muitos tipos de deficiência (como polio-


Inclusão e cooperação universal mielite, lesões causadas por minas terrestres, seqüe-
Rosangela Berman Bieler las de hanseníase), que raramente ou não mais são
encontrados em países ricos, ainda são comuns nos
países pobres.
Pobreza e deficiência As deficiências colorem e aguçam todos os aspectos
A pobreza é uma privação dos bens e opor- e condições humanas. Acentuam e agravam situações
tunidades essenciais aos quais cada ser humano tem de discriminação, preconceito e exclusão enfrentadas
direito. Todos deveriam ter acesso à educação básica por mulheres, por minorias em geral, por populações
e aos serviços primários de saúde. Não só na questão de baixa renda e por todos os outros grupos despri-
de renda e serviços básicos, as pessoas e sociedades são vilegiados. Também salientam claramente e ilustram
pobres – e tendem a permanecer assim – se não forem os diversos aspectos físicos, mentais, sensoriais do ser
preparadas para participar da tomada de decisões que humano, obrigando a sociedade a reagir, a interagir e
afetam sua vida. a refletir sobre isso.
Aproximadamente quatro quintos das pessoas com
deficiência existentes no mundo vivem em países em Participação plena
desenvolvimento. A pobreza cria condições para a de- O processo de se alcançar empoderamento e plena par-
ficiência e a deficiência reforça a pobreza. A exclusão e ticipação como cidadãos é longo e constante. Obriga-
a marginalização de pessoas com deficiência reduzem nos a forjar a nossa história, pessoal e coletiva, numa
suas oportunidades de contribuir produtivamente para base diária. De fato, a participação plena somente
o lar e a comunidade, aumentando assim a pobreza. pode ser verdadeiramente atingida dentro de uma
Há a expectativa de que o número de pessoas com sociedade inclusiva, na qual cada um de nós e todos
deficiência aumente no futuro se o crescimento eco- nós sejamos considerados parte integral do todo, da
nômico continuar em desequilíbrio e não se ajusta- comunidade que, por sua vez, é responsabilidade do
rem as questões de eqüidade, de meio ambiente e de conjunto de seus membros.
cunho social. Mas, para alcançar esta “sociedade ideal”, é necessá-
As deficiências irão também aumentar à medida ria vigília constante.
que a sociedade envelhece. A proporção de crianças Nossa existência e nossa vida, nossas lutas constan-
com deficiência em países em desenvolvimento é tes por aceitação e reconhecimento são um testemu-
também maior se comparada àquela nos países desen- nho de resistência contra a exclusão.
32 A construção dos conceitos Mídia e Deficiência

Parte do todo sociedade”? Em nossa vida, também não excluímos,


Nos últimos 20 anos ou mais, tem-se afirmado que discriminamos, odiamos?
representamos 10% da população mundial, com direi- Os adultos com deficiência têm raramente defendido
tos específicos que nos dariam oportunidades iguais os direitos das crianças com deficiência. Esta missão foi
para sobreviver e fazer parte de nossas comunidades. conduzida quase que exclusivamente pelos pais, já que a
Continuamos exigindo que a sociedade nos aceite e causa deles era diferente da nossa. Em muitos países, as
reconheça os nossos direitos. Somos ainda intrusos pessoas com transtornos mentais ainda não são aceitas
batendo à porta à procura de abrigo. pelas pessoas com deficiência. Em pleno século 21, ain-
Hoje temos um novo desafio: ao invés de provar da estamos criando fóruns internacionais para juntar
que somos 10%, precisamos convencer a sociedade de algumas organizações de pessoas com deficiência, com
que somos uma parte insubstituível dos 100%. Isso a finalidade oculta de excluir outras de participarem.
pode parecer pura retórica, mas representa uma mu- Ainda vemos as diferentes áreas da deficiência lutando
dança radical na abordagem do movimento das pes- umas contra as outras, os profissionais e famílias sendo
soas com deficiência. Agora que começamos a alcan- tratados como inimigos por organizações de pessoas
çar reconhecimento como um grupo dentre os muitos com deficiência e vice-versa. Naturalmente, existem
grupos excluídos que estão à margem da sociedade, é razões históricas para todas estas atitudes, porém não
chegado o momento de nos misturamos de novo com podemos mais usar isto como desculpa.
todos os demais e fazermos parte. Queremos ser iden- Com a Era da Globalização, a informação circu-
tificados entre os 100%, misturados às demais crian- la instantaneamente. A noção de tempo e espaço é
ças, aos demais idosos, àqueles que são muito altos ou modificada e hoje participamos de um mundo mais
muito gordos, aos negros, aos índios, aos estrangeiros, rápido, mais global, mais tecnológico, mais interativo,
aos pobres, aos diferentes – a todas as distintas partes mas que ainda não é inclusivo.
do mesmo corpo, da mesma sociedade. Os programas internacionais destinados a ajudar
no desenvolvimento econômico e social devem exigir
Tempo de cooperação padrões mínimos de acessibilidade em todos os pro-
Nós, pessoas com deficiência, também tendemos a jetos de infra-estrutura, incluindo tecnologia e comu-
representar e proteger apenas as nossas pautas. Mas nicações, para assegurar que todas as pessoas sejam
queremos que todos os demais nos incluam – com amplamente incluídas na vida de suas comunidades.
prioridade – em suas pautas. Nós temos o direito. A Vivo hoje nos Estados Unidos, um país entre os
sociedade está em débito conosco. Mas, quem é “a que mais recursos oferece a seus habitantes. Meu país
Mídia e Deficiência A construção dos conceitos 33

de origem, o Brasil, infelizmente sofre uma das piores O preconceito e a discriminação são a base da ex-
distribuições de renda do mundo. Porém se colocar- clusão. O conceito de inclusão é holístico e somente
mos estes fatos em perspectiva, os Estados Unidos têm pode existir com sucesso se for absorvido e trabalhado
um vigésimo da população do mundo e acumulam por toda a sociedade, em conjunto.
um terço de toda a riqueza planetária. É urgente a Hoje estamos falando em reconstrução; um novo
necessidade de cooperação universal. conceito de sociedade – inclusiva – a ser planejada
para todos. Isso significa que não mais iremos criar
Um futuro para todos espaços físicos e serviços voltados para um mítico ho-
Hoje, a questão da inclusão permeia nosso discurso mem padrão e sim para uma população real, incluin-
político, não somente na área de deficiências. E ela do pessoas idosas, crianças, mulheres grávidas, obesos,
tem que ser coerente com a nossa prática, tanto inter- pessoas temporariamente incapacitadas, usuários de
namente – dentro do movimento – quanto nas nossas cadeiras de rodas, pessoas cegas ou com deficiência
relações com o público em geral. visual, surdas ou com deficiência auditiva e assim
Como dizia Justin Dart, um poderoso líder e hu- por diante.
manista do movimento de pessoas com deficiência Estamos falando de diversidade: uma nova socie-
nos Estados Unidos: “Precisamos mudar o sistema de dade, de e para todos os homens e mulheres de todas
valores que define vencer como acumular símbolos as idades e condições físicas, de todas as origens, raças,
de prestígio que fazem uma pessoa se sentir superior culturas, religiões, opções sexuais e ideológicas, con-
a outras pessoas. Vencer é quando você preenche seu dições sociais. O único tipo de sociedade que pode ser
potencial pessoal para criar uma vida com qualidade sustentável e permitir verdadeiro e completo desen-
e dignidade para si e para todos”. E ele concluia: “A volvimento humano. n
vida não é um jogo de criança que precise de per-
dedores. Declaremos o século 21 como o século da Rosângela Berman Bieler é Consultora do Banco Mundial em
vitória para todos!”. Deficiência e Desenvolvimento.
A construção
2 da notícia
O aprimoramento da cobertura
da pauta da Deficiência demanda
o correto manuseio de conceitos
e novos enfoques editoriais

O que é uma cobertura de qualidade no campo das temáticas relacionadas aos


direitos das pessoas com deficiência? Esta questão é o grande desafio a ser encarado pelos pro-
fissionais de comunicação dispostos a impulsionar o debate público em torno do assunto. Mes-
mo quando existe interesse e desejo de realizar uma boa cobertura, os jornalistas se deparam com
a desinformação sobre aspectos educacionais, jurídicos, técnicos, médicos, éticos e políticos. Em-
bora o conceito de sociedade inclusiva seja garantido pela Constituição e referendado por inúme-
ros tratados internacionais, não mereceu, ainda, uma difusão mais ampla, permanecendo desco-
nhecido em seus fundamentos e em suas implicações na vida cotidiana. Ü A pesquisa realizada
pela ANDI e Fundação Banco do Brasil revela alguns dados que ilustram este panorama. Não
há preocupação em divulgar serviços relacionados à melhora da qualidade de vida de crianças,
adolescentes, adultos e idosos com deficiência. Mais de 60% das matérias analisadas só ouvi-
ram uma fonte. Na maioria delas tampouco há clareza sobre os direitos desses cida-
dãos. E quase sempre a entrada da questão na pauta dos meios depende de eventos
organizados por entidades interessadas na causa ou da agenda de órgãos oficiais.
Mesmo na ausência de uma pesquisa anterior, sob um recorte que
contemplasse todas as matérias sobre o assunto e permitisse a análise com-
parativa com os dados obtidos no presente estudo, outras análises nos
levam a acreditar que o espaço para o universo da Deficiência vem aumen-
tando na mídia.
Há sete anos a ANDI e o Instituto Ayrton Senna, com apoio do Unicef,
acompanham a produção editorial de cerca de 50 jornais e 10 revistas de todo
o País no que se refere à pauta da infância e da adolescência. Em 1998, o tema
Deficiência foi incorporado ao universo pesquisado, ao lado de aproxima-
damente 20 outros assuntos (Educação, Saúde, Violência, Meio Ambiente e
Trabalho Infantil, por exemplo).
A partir desse processo de monitoramento, que abrange aspectos
referentes à inclusão social e escolar de crianças e adolescentes com de-
ficiência, é possível constatar que o assunto vem aos poucos ganhando
espaço na mídia impressa. Em números absolutos, o total de textos fo-
cados na Deficiência cresceu de 829 para 909, entre 1999 e 2002, sendo
que em 2001 foram publicadas 1032 matérias. Entretanto, essa cobertura
nunca chegou a situar-se entre as dez primeiras, no ranking de Temas Mais
Abordados da publicação anual Infância na Mídia: partindo de um 14o lugar
(1998), a questão garantiu, nos três anos seguintes, o 11o lugar. Contudo, em
2002, voltou para o 13o.
Mídia e Deficiência A construção da notícia 37

Em busca do bom jornalismo taria muitos equívocos detectados na cobertura ana-


Melhorar a qualidade desse produto editorial também lisada nas pesquisas. Nada justifica que o profissional
parece meta pouco valorizada, até porque as redações – da imprensa coloque em suspensão o senso crítico
e a sociedade – ainda não contam com referências que e se invista de uma postura ingênua e complacente
lhes permitam dizer o que é uma abordagem de exce- quando se depara com as temáticas relacionadas ao
lência no tocante à Deficiência. universo das pessoas com deficiência, ainda quando
Na verdade, a maior competência no trabalho movido pelas melhores das intenções. Pelas mesmas
com esta área é um projeto que exige do jornalista razões invocadas, não é recomendável superestimar e
empenho tanto no sentido de dominar conceitos com mistificar as pessoas com deficiência.
precisão quanto no de se atualizar em relação às nuan-
ces de uma terminologia sempre aberta a um rápido Conceitos básicos
processo de retificação e aprimoramento. A tarefa É imprescindível que o jornalista conheça conceitos
envolve certa complexidade, mas é gratificante, pois básicos como inclusão, ambiente inclusivo, trabalho
a proposta da inclusão discute preceitos inovadores e inclusivo, educação inclusiva, direitos das pessoas com
polêmicos, que extrapolam o próprio tema da inser- deficiência. O conceito de inclusão é uma conquista
ção das pessoas com deficiência. no campo dos direitos humanos modernos, em plano
Antes de mais nada, é importante que o jornalista nacional e internacional, com o objetivo de dignificar
mantenha os mesmos critérios de rigor, espírito inves- toda a diversidade humana. Inclusão é o direito de
tigativo, senso crítico, checagem de dados e confronto todos os seres humanos participarem ativamente da
de múltiplas opiniões que usa para elaborar uma boa vida pública, sem limites de credo, religião, posição
matéria sobre qualquer outra pauta. Essa atitude evi- política, etnia, opção sexual ou grau de deficiência.
38 A construção da notícia Mídia e Deficiência

Por isso os termos escola inclusiva, trabalho inclusivo palavras “portador” ou “deficiente”. Como vimos, pes-
e ambiente inclusivo não devem ser usados como sinô- soas com deficiência vêm argumentado que elas não
nimos da presença de crianças, adolescentes ou adultos portam uma deficiência como portamos um sapato ou
com deficiência. Apenas os ambientes que propiciam o uma bolsa. Já a palavra “deficiente” tem a desvantagem
desenvolvimento das potencialidades de todos os seres de tomar a parte pelo todo, sugerindo que a pessoa in-
humanos merecem a qualificação de “inclusivos”. teira é deficiente. É preferível a expressão “pessoa com
O rigor com os conceitos está intimamente ligado à deficiência”, que reconhece a condição de determinad
atenção com a linguagem. A mudança de mentalidade indivíduo, sem desqualificá-lo. Mas, atenção: a pessoa
deve estar atrelada à da terminologia. O ideal é que a co- com deficiência é designada como “pessoa portadora
munidade midiática se dedique a transformar a mentali- de deficiência” na Constituição Brasileira, portanto,
dade de seus leitores. Questionamentos e práticas susci- em um contexto jurídico, não escapamos da expressão
tam uma permanente revisão dos termos que se referem consagrada nas leis (veja quadro na página 41).
a determinado segmento social. Por isso é fundamental Diversificar os caminhos de entrada na pauta é outra
que o jornalista procure se inteirar sobre estas mudan- medida que enriqueceria a cobertura, pois ela se encon-
ças de uso e significado das palavras, lendo publicações tra muito dependente da agenda de eventos das orga-
especializadas ou participando de eventos específicos.
Cabe a ele contribuir para a atualização da so- Nível de abordagem do texto*
ciedade, ao difundir, com a maior agilidade possí- Mês Dias
vel, estes novos conceitos, que, quase sempre, vêm Composto Especiais
associados a novas práticas. Por exemplo: alguém Factual 29,0% 58,6%
cego deve ser chamado de cego (não enxerga) e não Contextual 54,6% 34,5%
de deficiente visual (há uma visão parcial). Tentar
Contextual Explicativo 6,1% 2,1%
amenizar uma condição real, como a deficiência,
Avaliativo 2,3% 2,8%
também pode constituir até uma forma de agressão,
pois o profissional passa a mentir sobre a condição Propositivo 8,0% 2,1%
*Deficiência como Foco Central.
do entrevistado.
Os dados desta tabela demonstram (principalmente no caso dos Dias
Contextos adequados Especiais) que ainda é pequena a preocupação da imprensa em aprofundar
a discussão sobre a questão da Deficiência. Percebe-se nas matérias a
É muito importante saber utilizar cada termo no con- ausência de intencionalidade por parte da mídia, isto é, um trabalho
texto mais adequado. Não recomenda-se o uso das planejado de apuração, investigação.
Mídia e Deficiência A construção da notícia 39

nizações não-governamentais ou das oficiais. Os temas Assim, eles passam a ser incorretos quando esses
relacionados ao universo das pessoas com deficiência valores e conceitos vão sendo substituídos por ou-
mantêm uma conexão muito clara com a vida cotidiana tros, o que exige o uso de palavras diferentes. Estas
e interessam diretamente a uma grande parte da popu- outras palavras podem já existir na língua falada e
lação. Deveriam merecer uma atenção diária e não ape- escrita, mas, neste caso, passam a ter novos signifi-
nas extraordinária. No esforço para se atingir uma boa cados. Ou então são construídas especificamente para
cobertura, seria, ainda, desejável que a imprensa am- designar conceitos novos. O maior problema decor-
pliasse o leque de fontes ouvidas, dando visibilidade a rente do uso de termos incorretos reside no fato de os
múltiplos pontos de vista, capazes de contribuir para o conceitos obsoletos, as idéias equivocadas e as infor-
processo de inserção social das pessoas com deficiência. mações inexatas serem inadvertidamente reforçados
e perpetuados.
A terminologia e o Este tipo de situação pode ser uma das causas da
preconceito subliminar excessiva lentidão com que o público leigo e os pro-
A linguagem é uma dimensão que costuma passar fissionais de comunicação e de diversas outras áreas
desapercebida do cotidiano da maioria das pessoas. vêm mudando seus comportamentos, raciocínios e co-
O preço desta desatenção é que, não raras vezes, re- nhecimentos em relação, por exemplo, à situação das
produzimos conceitos defasados, lugares comuns, in- pessoas com deficiência. O mesmo processo talvez seja
formações truncadas e preconceitos cristalizados. No também responsável pela resistência contra a renova-
artigo “Terminologia sobre a deficiência na era da in- ção de paradigmas, fato que hoje ocorre no contexto
clusão”, o consultor Romeu Kazumi Sassaki deixa cla- da mudança que vai da integração para a inclusão em
ro que usar ou não usar termos técnicos corretamente todos os sistemas sociais comuns, argumenta Sassaki
não é uma mera questão semântica. Se desejamos (o consultor elaborou relação com 49 pontos nevrálgicos
falar ou escrever construtivamente, numa perspectiva ligados à terminologia; veja a partir da página 160).
inclusiva, sobre qualquer assunto de cunho humano,
a terminologia correta é especialmente importante. Um problema quase invisível
Ainda mais quando abordamos temas tradicionalmen- Nesta perspectiva, alguns dados da pesquisa realizada
te derivados de preconceitos, estigmas e estereótipos. pela ANDI e pela Fundação Banco do Brasil demons-
Os termos são considerados corretos em função tram o quanto a imprensa ainda se encontra pouco
de certos valores e conceitos vigentes em cada so- mobilizada e/ou mal preparada para elaborar e inves-
ciedade e em cada época, escreve Romeu Sassaki. tigar, por conta própria, pautas sobre o tema.
40 A construção da notícia Mídia e Deficiência

A partir deles é possível fazer algumas importantes brasileira com o conceito de inclusão, de maneira geral
constatações. A principal delas é a de que inexiste na ela não tem reproduzido e alimentado as formas mais
mídia brasileira a discussão de aspectos relacionados agressivas de preconceito, no que se refere ao uso das
ao preconceito que costuma cercar a questão da Defi- terminologias. Mas, de acordo com os registros levan-
ciência e que sempre se reflete, de alguma maneira, na tados pelo presente estudo, seria possível afirmar que
dimensão da linguagem. a mídia realmente trata as pessoas com deficiência
A exceção a essa regra está concentrada nas ma- sem discriminação?
térias que tratam da superação de um preconceito Não, porque algumas das palavras-chave usadas
específico. Só que nesses casos os jornalistas tendem para selecionar as matérias que integram a amostra
a transformar as pessoas com deficiência em inques- têm sido utilizadas para amenizar a realidade da de-
tionáveis heróis. Um exemplo facilmente encontrado ficiência. São termos nitidamente eufemísticos, que
é o do empresário ou do presidente de uma associação constituem uma forma de discriminação significativa,
que capacita pessoas com deficiência para o mercado embora mais sutil e difícil de ser apontada como tal.
de trabalho: quando entrevistados, garantem que fun-
cionários com deficiência são sempre os melhores. O desafio dos eufemismos
Essas expressões são “crianças especiais” (ou adoles-
Sinais positivos centes, adultos, idosos...), “necessidades especiais” e
Uma primeira leitura dos dados oferecidos pela pes- “direitos dos especiais”. A palavra “especial” não deve
quisa poderia então ter direcionado à conclusão de ser usada com referência à deficiência, pois hoje ad-
que a mídia não demonstra preconceito em relação a quiriu uma conotação que tende a abstrair, dos indiví-
crianças, jovens, adultos e idosos com deficiência. Na duos com deficiência, sua condição humana. Confere-
amostra por Mês Composto, em que Deficiência era o lhes, assim, uma diferenciação inadequada pois, por
Foco Central, 90,9% dos textos publicados não adotam sermos únicos, somos, todos, especiais, sem exceção.
terminologia que expresse claramente discriminação, Pela mesma razão, a designação “excepcional”, em-
como aleijado, manco, coxo, perneta, defeituoso, bora inicialmente pareça meritória, traz um conteúdo
surdo-mudo, surdinho e doente mental. Nos Dias Es- preocupante, pois atribui à pessoa com deficiência
peciais, a quantidade de textos onde não aparece esta um lugar de alguém que foge aos padrões humanos
terminologia é de 91%. de existência e de comportamento. Quanto mais vista
Merece destaque, portanto, esse sinal extrema- como excepcional ou especial é uma criança, mais di-
mente positivo: apesar da pouca intimidade da mídia fícil se torna, para o professor, se imaginar com ela em
Mídia e Deficiência A construção da notícia 41

sala de aula. Desse falso pressuposto, nasce e se forta- de, é necessário reconhecer que, ao contrário do que
lece, também, a idéia de que os professores precisam ocorre, por exemplo, no setor da economia geralmen-
se preparar muito, quase infinitamente, para receber te coberto pela imprensa, no universo das pessoas
um aluno com deficiência na turma (veja mais sobre com deficiência não existe consenso sobre o uso de
esta questão no Capítulo 3). alguns termos sequer entre os especialistas. Nem por
Ao fazer uso de terminologia inadequada, o jorna- isso devemos abdicar de um crivo de rigor para sele-
lista apenas reflete um processo em curso na socieda- cionar o emprego mais correto das palavras, baseado
de. A mídia tem como referência o uso corrente destes nas pesquisas, na prática, nos debates, em avanços no
termos nas instituições que lidam com a Deficiência campo dos direitos humanos e no respeito pelas opi-
ou simplesmente o senso comum. E, a bem da verda- niões das próprias pessoas com deficiência.

Termos jurídicos exigem atenção redobrada

Mas, e quando a palavra “especial” vem atrelada a ter ficado doente e perdido dias e dias de aula,
termos adotados oficialmente, inclusive, pela área ser surdo, ser cego, ter deficiência intelectual,
de Educação e de Justiça em nosso País, como é estar hospitalizado, quebrar a perna e não poder
o caso de “portador de necessidades especiais”, chegar àquela sala de aula que fica no alto da
“necessidades especiais”, “necessidades educativas escadaria de uma escola que não tem elevador,
especiais” e “necessidades educacionais especiais”? entre outros. Necessidades educacionais ou edu-
Nessas situações, o vocábulo especial, ao contrário cativas especiais estão, na teoria, à disposição de
do que o senso comum imagina, apresenta uma di- qualquer aluno, sem obrigatória relação com a
mensão jurídica, referindo-se a necessidades educa- deficiência.
cionais que podem dizer respeito a qualquer pessoa, Da mesma forma, na Constituição e em todo
importantes para definir, principalmente, técnicas o aparato jurídico, as pessoas com deficiência são
pedagógicas adequadas ao processo educacional. designadas pelo termo “portadores de deficiência”.
São recursos que devem ser acessados sempre É, portanto, este termo que deve servir de referência
que um aluno precisar deles por estar deprimido, quando usado em tal contexto específico. n
42 A construção da notícia Mídia e Deficiência

Debate sobre preconceito e/ou discriminação* Isto, provavelmente, em virtude do uso corrente da
Mês Composto Dias Especiais palavra “excepcional”, que compõe o nome da mais
conhecida entidade brasileira na área da deficiência
Sim 6,9% 0,7%
mental, a Apae.
Não 93,1% 99,3%
O termo surdo-mudo merece uma explicação, pois
*Deficiência como Foco Central.
revela, além de preconceito, desinformação conceitual.
Fatores de correção A surdez não tem relação direta com a mudez. Pessoas
O quadro de terminologias adotadas pela imprensa surdas não apresentam, necessariamente, qualquer pro-
para se referir às pessoas com deficiência permite uma blema de voz. Não falam porque não escutam e, assim,
análise por itens. Cada um deles é formado por uma têm muita dificuldade de se expressar pelo português,
seleção de termos equivocados ou preconceituosos. optando quase sempre pela língua de sinais brasileira, a
Foi possível reparar, então, que nas reportagens do Libras. A Lei Federal no 10.436, de 24 de abril de 2002,
Mês Composto, com Foco Central em Deficiência, os reconhece a Libras e outros recursos de expressão a ela
vocábulos retardado, excepcional, débil mental, mon- associados como meio legal de comunicação.
golóide e doido, reunidos em um único grupo, atin- Outro ponto a ser esclarecido é a confusão comum
gem uma incidência de 4,2%, quase que igual à soma entre doença mental e deficiência mental ou intelec-
dos índices relativos a todos os outros grupos (5,4%). tual. Deficiência mental se refere a um comprometi-

Terminologia adotada para se referir à pessoa com deficiência


Mês Composto Dias Especiais
Foco Central Foco Secundário Foco Central Foco Secundário
Aleijado, manco, coxo, perneta, defeituoso 0,8% 0,2% – –
Surdo–mudo, surdinho 1,5% 1,2% 2,1% 1,0%
Retardado, excepcional, débil mental,
4,2% 0,8% 5,5% 1,7%
mongolóide, doido
Doente mental, doença mental 3,1% 1,4% 1,4% –
Visão subnormal, ceguinho, cegueta – – – 0,3%
Não há menção às pessoas com deficiência 4,6% 14,2% 11,7% 23,3%
Não adota esta terminologia 86,3% 82,3% 79,3% 73,7%
Mídia e Deficiência A construção da notícia 43

mento originado por múltiplos fatores, temporários Como acontece a inserção na pauta
ou não, no âmbito do funcionamento intelectual, A abordagem dos assuntos relacionados ao universo da
associado à capacidade que a pessoa tem de executar Deficiência pela imprensa anda a reboque de eventos
determinadas tarefas e responder às demandas da so- organizados por entidades/órgãos interessados na cau-
ciedade. Doença mental é um estado de desagregação sa e de ações governamentais focadas principalmente
existencial em que o sofrimento psíquico está associa- em acessibilidade, conceito apresentado no Capítulo 1.
do a quadros de depressão, síndrome do pânico, esqui- Na análise por Mês Composto, com Deficiência
zofrenia, transtornos de personalidade etc. As pesquisas como Foco Central, em 13,4% das vezes o tema apare-
mais recentes sugerem o uso da expressão “transtorno ce como repercussão de eventos específicos; em 12,2%,
mental” para designar o estado de doença mental. a partir do anúncio oficial de novas medidas.

Forma de inclusão na pauta


Mês Composto Dias Especiais
Foco Central Foco Secundário Foco Central Foco Secundário

Anúncio oficial de novas medidas 12,2% 22,0% 13,1% 22,0%


Resposta do Poder Público 1,9% 2,3% 2,1% 2,3%
Divulgação de procedimentos, resultados, etc 1,9% 6,7% 1,4% 6,7%
Demandas dos segmentos ligados às 5,0% 2,7% 2,8% 2,7%
pessoas com deficiência
Demandas de pessoas com deficiência 9,5% 0,3% 4,8% 0,3%
Demandas de grupos sociais 1,1% 0,3% – 0,3%
Demandas do Terceiro Setor 5,3% 1,7% 5,5% 1,7%
Repercussão de eventos específicos 13,4% 9,0% 25,5% 9,0%
Repercussão de histórias individuais 7,3% 14,3% 22,1% 14,3%
Repercussão de pesquisas 4,2% 1,7% – 1,7%
Por iniciativa da própria imprensa 6,9% 8,0% 4,8% 14,3%
Não foi possível fazer a aferição 31,3% 31,0% 17,9% 31,0%
44 A construção da notícia Mídia e Deficiência

Em Dias Especiais – e isso já era esperado – quan-


do Deficiência é o Foco Central, o assunto acaba Principal perspectiva da reportagem*
prioritariamente inserido na pauta da imprensa Mês Dias
Composto Especiais
como repercussão de eventos específicos (25,5%) e
Temático 31,7% 22,8%
de histórias individuais (22,1%).
Tanto na amostragem por Mês Composto quanto Setor Público 26,3% 25,5%
nos Dias Especiais, sempre que a matéria citou algum Sociedade Civil / 21,0% 23,4%
Terceiro Setor
tipo de deficiência transversalmente, e não como foco
principal, isto se deveu a anúncio oficial de novas me- Individualizado 12,2% 22,8%
didas (20,6% e 22%, respectivamente). Setor Privado 8,8% 5,5%
*Deficiência como Foco Central
Essa abordagem pontual acaba dando preferência a
um leque restrito de notícias, em prejuízo de questões
extremamente relevantes, como será detalhado nos Dias comuns e “de festa” – o que muda?
próximos capítulos. A pesquisa Mídia e Deficiência mostrou ainda que
muitos pesquisadores do tema Deficiência e de suas
formas de inserção no noticiário estavam equivoca-
Perfil geral das reportagens* dos em algumas avaliações. Durante anos, afirmava-se
Mês Dias que a imprensa só se interessava pelo assunto pontual-
Composto Especiais mente, em dias de comemoração. Foi por essa razão,
Apresenta causas 29,7% 33,8% inclusive, que os consultores convidados pela ANDI
Apresenta soluções 43,9% 48,1% optaram por analisar separadamente dos demais dias
do ano algumas datas especiais, como a Semana das
Apresenta conseqüências 23,1% 28,8%
Pessoas com Deficiência (22 a 28 de agosto) e o Dia
Trata as pessoas com 14,1% 16,6%
Internacional das Pessoas com Deficiência (3 de de-
deficiência como deten-
toras de direitos zembro), entre outras. Mas ficou claro que a mídia
nacional não se mobiliza particularmente em torno
Não cita estatísticas 84,7% 82,8%
das efemérides, no que se refere à Deficiência, contra-
Não cita legislação 80,9% 86,2%
riando uma tendência verificada pela ANDI em análi-
Matérias informativas 93,5% 92,4% ses de mídia sobre outros temas, como por exemplo os
*Deficiência como Foco Central
associados à exploração e ao abuso sexual.
Mídia e Deficiência A construção da notícia 45

Não se detectou qualquer mudança significativa Muitas serão as dúvidas na hora de fazer ou não
nas análises dos dois conjuntos em relação a vários referência à Deficiência no decorrer de um texto. Há
aspectos avaliados na pesquisa. Um deles se refere às casos, entretanto, que devem ser evitados a qualquer
fontes utilizadas, quando Deficiência é o Foco Central. custo, como citar que o assassino ou que a noiva é
Havia a expectativa de que, nos textos preparados para uma pessoa com deficiência, a não ser que este aspecto
os Dias Especiais, os jornalistas teriam mais tempo constitua algo essencial para o entendimento da notí-
para se aprofundar no tema, diversificando então suas cia (uma analogia: se uma noiva é negra e seu ritual de
fontes, o que não aconteceu. Ao contrário, enquanto casamento está ligado aos movimentos de afirmação
no Mês Composto 40% das matérias apresentam mais racial, se justificaria a referência étnica). Em outras
de uma fonte, nos Dias Especiais esse número cai para ocasiões, será preciso ao jornalista se perguntar: ele
32%. A conclusão é que a imprensa tem aí perdido mencionaria outra característica dessa pessoa além da
oportunidades relevantes de aguçar o senso crítico de deficiência? Diria que ela é canhota, gorda, alta, filha
seus leitores e estimulá-los a reflexões mais profundas. de índios, homossexual, por exemplo? Caso não, é me-
lhor não fazer referência à deficiência também.
Deficiência como Foco Secundário
Foi interessante notar, nesta pesquisa, o despertar do in- Potenciais da transversalidade
teresse da mídia em inserir questões relacionadas à De- Os consultores da pesquisa Mídia e Deficiência apon-
ficiência em matérias nas quais esta não era o Foco Cen- taram também que temas de especial preocupação
tral. A expectativa do movimento pró-inclusão no Brasil para as pessoas com deficiência – como Educação,
é que se realize um trabalho no sentido de incentivar os por exemplo – percentualmente aparecem menos de
jornalistas a incorporar o tema Deficiência transversal- forma transversal do que nos casos em que a questão
mente, sempre que possível, nas mais diversas pautas. assume o Foco Central da notícia. Entretanto, a mídia
Por exemplo, seria extremamente útil que cadernos revela um consistente interesse em realizar matérias
de turismo publicassem, em suas reportagens, que sobre espaços físicos (hotéis, escolas, etc) ou acessibi-
hotéis têm ou não acessibilidade para pessoas com lidade, aspectos que configuram o assunto mais abor-
deficiência em seus quartos, centros de convenção dado, ao lado das questões relacionadas à Tecnologia
e restaurantes. Em uma das matérias analisadas, o e Recursos. E, vale ressaltar, logo em seguida se situa
jornalista tomou esta decisão. Tratava-se da inaugu- violência, fato que demonstra a preocupação da im-
ração de um restaurante e havia a informação de que prensa em denunciar episódios nos quais pessoas com
o mesmo dispunha de acessibilidade. deficiência são vítimas ou agressores.
46 A construção da notícia Mídia e Deficiência

Do ponto de vista das Fontes Ouvidas, 6,4% delas Fontes – diversificar para evoluir
eram pessoas com deficiência e 3,5% seus familiares. Mais de 60% das matérias veiculadas em jornais bra-
Os índices estão longe de alcançar o nível necessário sileiros sobre Deficiência costumam se restringir a
para dar real visibilidade às questões relacionadas ao apenas uma fonte, apontam os resultados da pesquisa
universo desse segmento populacional. Mesmo sob realizada pela ANDI e pela Fundação Banco do Brasil.
essa ressalva, são dados que sinalizam um aspecto po- E quando Deficiência é o Foco Central, esse número
sitivo: pessoas com deficiência começam a ser ouvidas sobe para mais de 95%.
em matérias que não trazem como Foco Central a A imprensa tem um discurso uníssono em relação
própria Deficiência. à Deficiência e possivelmente o fato está relacionado
à falta de preparo das fontes, sendo que muitas delas
Temas mais abordados* nem são citadas no texto. Na média, em 25% das ma-
Acessibilidade 13,8% térias de todos os conjuntos analisados na pesquisa
Tecnologia e Recursos 13,8% não há qualquer menção às fontes consultadas.
Violência 8,0% Na amostra por Mês Composto, com Deficiência
Um tipo de Deficiência 6,4% como Foco Central, em 16% das matérias a própria
Artes 5,2% pessoa com deficiência é a fonte principal, seguida
Educação 5,2% das organizações da sociedade civil (6,1%) e das
Mercado de Trabalho 4,7% associações (5,3%). Também nos Dias Especiais as
Esportes 3,3% próprias crianças, jovens, adultos e idosos com defi-
Causas da Deficiência 2,9% ciência são as fontes mais citadas.
Família 2,1%
Problemas 2,1% Percepção defasada
Outros espaços sociais 1,6% Essa é uma atitude louvável da mídia, que confere a
Preconceitos (Discriminação) 1,4% devida importância ao pensamento, ao sentimento e às
Acidentes 1,4% impressões das pessoas com deficiência. Em princípio,
Conseqüências da Deficiência 1,2% matérias com esta abordagem podem contribuir para
Deficiência em Geral 0,8% estabelecer uma empatia em relação ao mundo dessas
Soluções para a Deficiência 0,2% pessoas e difundir a noção dos seus direitos a partir de
Outros 25,8% seu próprio ponto de vista. Contudo, nem sempre é o
* Mês Composto, Deficiência como Foco Secundário que ocorre no material analisado. Pessoas com defici-
Mídia e Deficiência A construção da notícia 47

Principais fontes de informação ouvidas*


Fonte Mês Dias Fonte Mês Dias
Composto Especiais Composto Especiais
Executivo Federal 0,4% 2,1% Especialistas (exceto em 0,4% –
saúde/educação)
Executivo Estadual 3,4% 2,8% Assistentes sociais 0,8% 0,7%
Executivo Municipal 2,7% 6,9% Associações 5,3% 7,6%
Judiciário 0,4% – Apaes 4,6% 5,5%
Ministério Público 2,3% 4,1% Outras organizações da 6,1% 2,8%
sociedade civil
Legislativo Federal – 0,7% Conselhos de Direitos 0,4% –
Legislativo Municipal 1,5% – Outras fundações/ 0,4% 4,1%
instituições
Psicólogos 2,7% 0,7% Universidades 3,8% 0,7%
Psiquiatras 1,5% – Empresas (não estatais) 3,4% 4,8%
Fisioterapeutas 0,8% 1,4% Organismos Internacionais 0,4% –
Neurologistas 0,4% – Pessoas com Deficiência 16,0% 14,5%
Fonaudiólogos 1,9% – Familiares 3,4% 2,8%
Terapeutas ocupacionais 0,4% – Outras pessoas 1,5% 0,7%
Outras especialidades da 3,4% 2,8% Outros 3,4% 7,6%
área de saúde
Pedagogos 0,8% 0,7% Não foi possível identificar 23,3% 21,4%
Outros profissionais da 4,2% 4,8%
área educacional
*Deficiência como Foco Central
48 A construção da notícia Mídia e Deficiência

ência e seus familiares revelam, não raras vezes, uma sido a Apae e isso justifica o fato de a Educação Es-
visão defasada de sua condição e de seus direitos. Cabe pecial ganhar tanto destaque nas matérias. É natural
então a pergunta: porque essa inadequação dos depoi- que os jornalistas tenham a entidade como referência,
mentos presentes nas matérias? pois ela se constitui na mais tradicional instituição
Porque o fato de uma pessoa ser deficiente não dedicada às pessoas com deficiência no País. Contu-
garante que esteja consciente de seus direitos nem de do, existem outras organizações hoje extremamente
seus deveres. E, nesse aspecto, caberia uma postura atuantes que raramente são ouvidas – por exemplo, a
mais crítica e ativa dos jornalistas, divulgando concei- Federação Brasileira das Associações de síndrome do
tos atualizados e indagando, em face das declarações Down (Abasd) e a Corde – Coordenadoria Nacional
das fontes, se tais visões são compatíveis com a legisla- para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
ção brasileira ou com os tratados internacionais sobre órgão diretamente ligado à Presidência da República
os direitos humanos. Assim, poderiam colaborar com e responsável pelas políticas públicas na área.
o processo de educação da sociedade e, inclusive, com A Corde elabora planos, programas e projetos da
a qualificação do discurso e a conscientização dessas Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora
próprias fontes. Elas têm revelado desconhecimento de Deficiência e propõe as providências necessárias à
de seus direitos mais elementares. sua completa implantação e ao seu adequado desen-
volvimento, inclusive no que diz respeito a recursos
Acertos e equívocos financeiros e de caráter legislativo. Além disso, a Cor-
Um outro dado animador evidenciado pela pesquisa de dispõe de uma ampla biblioteca com publicações e
Mídia e Deficiência: nas datas festivas, um ator pouco material de divulgação nas diversas áreas contempla-
valorizado durante o ano (aparece em apenas 6% das das na temática da deficiência.
matérias) é mais ouvido pela imprensa – o Poder Público Os jornalistas também têm evitado entrevistar
(Federal, Estadual e Municipal), presente em quase 12% personalidades do Legislativo, que em alguns mu-
dessas matérias, quando Deficiência é o Foco Central. nicípios e estados tem se mostrado um eficiente
Por outro lado, sem desmerecer os esforços dos parceiro do movimento de inclusão de pessoas com
jornalistas no sentido de buscar a renovação de suas deficiência na sociedade.
pautas, é importante denunciar que vêm sendo igno-
radas fontes essenciais para a realização de uma co- Conselhos não são reconhecidos
bertura mais qualificada e abrangente. Por exemplo, Também não tem sido devidamente valorizado pelos
uma das vozes institucionais mais procuradas tem jornalistas um tipo de fonte que existe justamente para
Mídia e Deficiência A construção da notícia 49

fortalecer a visibilidade e a participação das pessoas com ria, hoje sua criação se insere no âmbito das inovações
deficiência: os Conselhos de Direitos. Aqui se incluem estabelecidas pela Constituição de 1988, que legitimou a
o Conade – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa existência de órgãos colegiados de caráter consultivo ou
Portadora de Deficiência e as instâncias correspondentes deliberativo que necessariamente reflitam os interesses
nos planos estadual e municipal. É a esses órgãos que cabe maiores da coletividade.
a tarefa de viabilizar o diálogo eficiente do governo com a No âmbito nacional, permanecem funcionando le-
sociedade, no processo de definição de políticas públicas galmente também os Conselhos dos Direitos da Crian-
relativas a esse segmento da população. Ainda assim, ça e do Adolescente; Tutelares; da Saúde; da Assistência
parecem ser praticamente desconhecidos da mídia. Social; dos Direitos da Mulher e dos Direitos Humanos,
Instituídos no âmbito do Ministério da Justiça em entre outros. Parece fundamental que a mídia garanta
10 de julho de 1999, por meio de uma medida provisó- espaço para a voz desses conselhos, pois eles são consti-

A relação com os poderes públicos

Uma outra radiografia importante gerada pesquisa mente não têm sido procurados para opinar sobre
Mídia e Deficiência – e que complementa a visão o assunto – chega a ser irrelevante a quantidade
oferecida pela avaliação das fontes de informação de vezes em que foram consultados, elogiados ou
ouvidas – é aquela que busca medir não só a freqü- cobrados.
ência com que o jornalista se refere aos diversos ato- Já referências positivas, negativas ou neutras ao
res sociais, mas também em que perspectiva o faz. Executivo, em seus três níveis, são incluídas pelo
A partir desse indicador, é possível afirmar que, jornalista em 43,4% dos textos, enquanto a socieda-
em relação à cobertura das questões de interesse das de civil aparece em 45,9%, sendo computadas todas
pessoas com deficiência, a imprensa praticamente não as amostras da pesquisa.
tem exercido sua função de exigir maior qualidade Autoridades na área de Educação figuram em
por parte dos serviços públicos – quer sejam estes ser- apenas 9,9% das inserções no Mês Composto, quan-
viços prestados pelo governo ou pelo Terceiro Setor. do Deficiência é o Foco Central. As de Saúde apa-
Além disso, na maioria das matérias anali- recem com praticamente a mesma freqüência: em
sadas o Poder Judiciário e o Legislativo pratica- 10,3% dos textos deste universo. n
50 A construção da notícia Mídia e Deficiência

tuídos por grupos que representam de forma nítida a


diversidade da sociedade brasileira. Menção a serviços*
Mês Composto Dias Especiais
Uma questão de direitos Sim 21,9% 32,7%
Em mais de 75% das matérias é confusa a percepção Não 79,1% 68,3%
do jornalista sobre o cidadão com deficiência. Ele não *Deficiência como Foco Central
menciona, nem implicitamente, se os considera como
Poderia ser maior a preocupação dos jornalistas em disseminar serviços
carentes ou beneficiários de algo. A mídia não esclare- relacionados à melhora da qualidade de vida de crianças, adolescentes,
ce, por exemplo, se reconhece pessoas com deficiência adultos e idosos com deficiência. Os dados da pesquisa realizada pela
ANDI e pela Fundação Banco do Brasil registram que a mídia não vem
como sujeitos de direito. respondendo dequadamente a um aspecto de grande relevância para áreas
Na maioria das vezes também as pautas têm opta- tão diversas quanto habilitação, educação e profissionalização, entre
outras. Apenas nos Dias Especiais, quando já se esperava um aumento
do por enfocá-las, prioritariamente, apenas como significativo, o número de matérias elaboradas a partir dessa perspectiva
merecedoras de benefícios e de filantropia. Nas mostrou-se mais consistente.
Destacar os contatos e referências técnicas ou institucionais é uma
matérias que não têm a Deficiência como Foco providência simples e eficaz no sentido de propiciar o acesso a serviços
Central, o percentual que indica o tratamento de essenciais às pessoas com deficiência.

sujeitos de direitos se equipara ao de sujeito carente


ou desamparado. Legislação e Ministério
Importante notar em todos os conjuntos de da- Público em foco
dos gerados pela pesquisa que, quando a reportagem Nenhuma lei foi citada em mais de 80% de todo o
trata uma pessoa com deficiência como detentora de conjunto de textos. Esses números ainda estão longe
direitos ou responsável por sua própria situação, lhe de atingir uma meta ideal, mas é de especial impor-
confere o perfil de pessoa comum. No entanto, se tância destacar que o índice de menções à legislação
a enquadra como sujeito carente ou desamparado, próximo a 20% é bastante superior ao encontrado
transforma-a em vítima. pela ANDI e seus parceiros nas análises de mídia rea-
Essa postura da mídia, sabe-se, contraria a Consti- lizadas sobre diversas outras temáticas.
tuição Federal de 1988. A partir dela, brasileiros com Este diferencial no que se refere às questões da
deficiência garantiram o direito de serem tratados Deficiência pode ser explicado tanto pelo fato de que
como sujeitos de direitos, de todos os direitos, e não os atores sociais envolvidos estão mais conscientes da
mais como titulares de meros benefícios assistenciais, necessidade de citar a legislação quanto de que as pró-
sejam eles estatais ou privados. prias pautas são, muitas vezes, motivadas por aspectos
Mídia e Deficiência A construção da notícia 51

de ordem judicial. Se a menção a direitos assegurados Instrumento de mudança


na legislação é importante para qualquer segmento O profissional deve estar atento, a partir de 2004, ao
social, ela se torna ainda mais crucial no contexto fato de que o movimento pela inclusão pode ganhar
das matérias sobre inclusão, um direito consagrado um instrumento político de grande relevância na
na Constituição, mas que ainda enfrenta a resistência, luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Por
consciente ou inconsciente, da sociedade, seja por iniciativa do senador Paulo Paim (PT-RS) discute-
desconhecimento, por preconceito ou simplesmente se no Congresso Nacional o Estatuto da Pessoa com
por conservadorismo. Deficiência. A proposta é de que o documento se
Sustenta essa leitura dos dados da pesquisa tam- transforme em uma espécie de constituição para essa
bém o fato da tabela que relaciona as fontes de população, assegurando direitos de cotas de vagas
informação ouvidas pelo jornalista (veja na página em empresas, acessibilidade de locomoção em centros
47) demonstrar que o Ministério Público é bastante culturais/educacionais e políticas de educação que aten-
consultado pelos jornalistas, especialmente nas Da- dam a suas necessidades, além de impor multas para o
tas Especiais, quando atingiu o índice de 4,1%. descumprimento da legislação.
Esse aspecto se mostra ainda mais relevante quan- Embora a Constituição Federal reze que todos são
do novamente comparamos a análise sobre a cober- iguais perante a lei, na prática há uma desclassificação
tura de Deficiência com outras produzidas anterior- de pessoas idosas ou com deficiência em múltiplos
mente pela ANDI e seus parceiros. Nas reportagens espaços da vida pública, o que requer políticas afirma-
veiculadas em 2000 com foco em Educação Infantil, tivas de compensação. O processo de elaboração do
por exemplo, apenas 0,13% tiveram o MP como fon- Estatuto incorporou sugestões e críticas da Corde –
te. Já nas matérias que abordam a Saúde da Criança, Coordenadoria Nacional das Pessoas Portadoras de
publicadas ao longo dos 12 meses de 2001, constatou- Deficiência, do Conade – Coordenação Nacional de
se que somente 0,8% o consultavam (veja mais so- Pessoas com Deficiência, de organizações não-gover-
bre o Ministério Público na página 89). namentais e de pessoas com deficiência. n
3 Educação – nó O Brasil se prepara para adotar
um amplo programa oficial de
educação inclusiva. O debate

a ser desatado em torno do tema, contudo, está


muito distante das redações

Algumas qu e st õ e s s e tor na r ã o pr at i c a m en te obr i g at ó r i as pa r a a


imprensa a partir de 2004, quando o Ministério da Educação inicia as atividades de um
programa que prevê a implementação da educação inclusiva no sistema de ensino público
em 80% dos municípios brasileiros até o final da gestão do presidente Luís Inácio Lula
da Silva. Com certeza, o processo será alimentado por inúmeros aspectos controversos.
A passagem do modelo de integração das escolas especiais para o modelo da educação
inclusiva não se limita a divergências no campo teórico, pedagógico ou médico. Ela en-
volve também um acirrado debate sobre políticas públicas, verbas vultosas, manutenção
de privilégios. Ü Além de se beneficiar de doações de empresas e pessoas físicas, as or-
ganizações não-governamentais que coordenam as escolas especiais articulam poderosos
lobbies para ampliar a já vultosa captação verbas junto a fontes municipais, estaduais e
federais. Um exemplo claro de seu poder foi dado no final de 2003, quando da juridica-
mente equivocada aprovação, pelo Congresso Nacional, de emenda concedendo às es-
colas especiais o direito de receber verbas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento
do Ensino Fundamental. O posterior veto presidencial apenas levou essas
entidades a aumentar a pressão para que o governo encontrasse caminhos
para ampliar o repasse de recursos – aconteceu por meio de medida provisória.
A cobertura sobre a inserção de pessoas com deficiência na sociedade,
quando analisada sob o enfoque das políticas públicas, revela o desconhe-
cimento dos meios de comunicação sobre temas importantes, como a
própria educação inclusiva. Fica exposta a dificuldade da mídia tanto em
avaliar com lucidez a interface das questões relacionadas às pessoas com
deficiência no âmbito das políticas públicas gerais, quanto em tecer análi-
ses macro sobre políticas de ação afirmativa direcionadas especificamente
a este segmento da população.
No conjunto de dados analisados pela pesquisa realizada pela ANDI e pela
Fundação Banco do Brasil é possível observar que tanto políticas públicas
integracionistas quanto inclusivistas ainda estão em curso em nosso País.
Por um lado, é fato que as práticas sensíveis à perspectiva da inclusão
ainda não são as mais vivenciadas pela população brasileira. Por outro, os
resultados do estudo também podem estar refletindo a desinformação dos
meios de comunicação sobre o assunto.
O jornalista sabe, de maneira geral, que as políticas públicas correntes na
área são de educação inclusiva? Há indícios de que não. Por isso vamos reite-
rar: a palavra inclusão deve ser tomada no sentido de “adequação da sociedade
às necessidades das pessoas”. Caso a fonte ou o jornalista afirmar que, por
exemplo, “nesta escola o processo de inclusão vai indo bem”, ambos devem es-
tar certos de que essa escola está conseguindo fazer as adequações necessárias
diante da presença de alunos com as mais variadas necessidades educacionais
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 55

especiais. Caso contrário, se apenas algumas modifica- das capazes de acompanhar a maioria dos alunos e
ções estiverem sendo implementadas, o processo que de conviver com as barreiras arquitetônicas e atitu-
está em curso é de integração, não de inclusão. dinais da escola.
Os indicadores relativos ao Mês Composto, com
Uma abordagem ausente Foco Central em Deficiência, reforçam a percepção
A pesquisa Mídia e Deficiência levantou uma infor- de que o tema da educação inclusiva ainda não é con-
mação preocupante: no recorte por Dias Especiais templado pela imprensa com a ênfase necessária, de
em que Deficiência foi o Foco Central, não há forma a contribuir mais efetivamente para o proces-
nenhuma reportagem sobre educação que aborde so de inserção social das pessoas com deficiência. As
a temática da inclusão. Parece que o conceito é escolas e classes especiais figuram em primeiro lugar,
totalmente estranho ao meio jornalístico. Indica, com 29,2%. Aspectos relativos à educação inclusiva
também, que as entidades procuradas pela mídia só aparecem em terceiro lugar, com 12,5%, depois
não enfatizaram a inclusão como tema prioritário do universo da integração (veja tabela na página 56).
e de seu interesse. As questões mais polêmicas da Lei de Diretrizes e
Ainda no enfoque dos Dias Especiais tendo Defi- Bases da Educação Nacional, assegurando o direito
ciência como assunto principal, o percentual válido à educação inclusiva, também não tem merecido a
de matérias enfocando o conceito de integração é de atenção da mídia.
28,6%, que por sua vez coincide com o percentual Diante desses dados, se faz necessário reiterar o
sobre escolas especiais e/ou classes especiais. Vale alerta: apesar de ser um tema estratégico para a in-
sublinhar: o termo integração escolar significa que serção social de crianças e adolescentes, Educação só
esta ou aquela escola comum está aceitando apenas figura em 9,2% das matérias do Mês Composto que
crianças ou adolescentes com deficiência considera- traziam Deficiência como Foco Central.
56 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

A meta do governo federal é que o público das es-


Educação no contexto das matérias colas especiais se reduza gradativamente a um mínimo
sobre Deficiência*
percentual de crianças e adolescentes que realmente
Escolas Especiais e/ou Classes Especiais 29,2%
tenham altíssimo grau de severidade em deficiência, a
Integração Escolar 16,7%
ponto de comprometer ou dificultar significativamente
Acesso à Educação 16,7%
seu desempenho escolar. Mas há controvérsias sobre as
Escolas Inclusivas 12,5%
condições e o grau de deficiência que podem decidir o
Escolas Regulares / Escolas Comuns 8,3%
futuro de uma criança, ao encaminhá-la para a escola
Ensino Superior 4,2%
regular ou para a escola especial. Para muitos educa-
Outras questões relativas à Educação 12,5%
dores, a escola deve se reformular até poder atender
* 9,2% das matérias do Mês Composto que traziam Deficiência como
Foco Central tinham na educação seu tema principal qualquer criança, com qualquer grau de deficiência, nas
mesmas salas de aula. Assim, com o tempo, mesmo os
Limites para a inclusão alunos com comprometimentos mais graves deveriam
Os percentuais citados no parágrafos anteriores não estudar em escolas inclusivas. Quanto às classes espe-
surpreendem, visto que a maioria de instituições de ciais existentes, a tendência é a de que sejam extintas na
ensino brasileiras, públicas e privadas, se exercitam medida em que os professores das escolas regulares ad-
somente na integração e não na inclusão. Além disso, quirirem maior e melhor experiência para lidar com os
quando se fala em educação de pessoas com deficiên- alunos que passaram sua vida escolar em salas especiais
cia, elas são vistas apenas como detentoras de direitos (veja amplo debate sobre o tema na página 78).
pontuais, entre eles estar em escolas e classes especiais,
priorizando-se a educação especial. Crianças, adoles- Como as pessoas com Deficiência são
centes e jovens com deficiência não costumam ser reco- retratadas, no que se refere a seus direitos*
nhecidos como titulares do direito à educação, como Mês Dias
Composto Especiais
qualquer outra criança e, assim, ter os apoios especiais
Detentores de Direitos 14,1% 16,6%
como complemento e não como substitutivo ao aten-
Responsáveis pela sua 3,1% –
dimento regular. Nossa legislação define que todas as
Própria Situação
crianças e todos os adolescentes têm o direito de estu-
Sujeito Carente ou 3,1% 9,0%
dar em escolas comuns, que aos poucos estão se tor- Desamparado
nando inclusivas. Porém, mesmo em um contexto de Não foi possível identificar 79,8% 74,5%
mudança, as escolas especiais ainda são hegemônicas. * Deficiência como Foco Central
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 57

Alunos-problema ficiência, expulsos, oficial ou oficiosamente, das salas


Atualmente, o tradicional público de escolas especiais de aula comuns por apresentarem algum “problema”
compreende alunos que têm deficiência tanto com al- considerado incompatível com a rotina dessas salas.
tíssimo nível de severidade quanto com níveis menos Não existem dados estatísticos sobre quem são esses
graves de comprometimento. Neste último caso, não jovens que, sob rótulos diversos, como “repetente” e
há como justificar-se sua permanência nessas escolas. “aluno com mal comportamento”, passam a freqüentar
Contudo o cenário apresenta aspectos ainda mais instituições de ensino especial simplesmente porque a es-
preocupantes: acontece de as classes e escolas especiais cola não sabe o que fazer com eles. Muitas vezes, essa pas-
receberem também alunos sem qualquer tipo de de- sagem se dá com o aval de profissionais da área de Saúde.

Práticas equivocadas
Nos anos de 2001 e 2002, alguns jornalistas da ONG mento dos alunos, não só do ponto de vista educa-
Escola de Gente percorreram o Brasil realizando Ofi- cional, mas de sua inserção social como um todo.
cinas Inclusivas para adolescentes, a maioria alunos No mesmo sentido, merece atenção o fato de
da rede pública. O projeto levava o nome de Quem que no Brasil existem escolas particulares que não
cabe no seu TODOS?* e possibilitava que jovens com se consideram especiais – pois não surgiram para
e sem deficiência participassem juntos das oficinas, atender necessariamente a crianças e adolescentes
cuja metodologia integra dinâmicas e vivências que com deficiência –, embora dediquem-se a receber
estimulam o aprendizado e a multiplicação do con- alunos com comprometimentos distintos, excluí-
ceito de inclusão. Nas 20 cidades em que o projeto dos das escolas comuns pelas mais variadas razões.
atuou, de nove estados de todas as regiões do País, É importante notar, antes de mais nada, que essas
os profissionais da Escola de Gente constataram ser instituições de ensino não são inclusivas nem pare-
realidade o fato de algumas vezes as classes e escolas cem caminhar nessa direção. n
especiais servirem para “guardar” alunos que são
mais agitados ou depressivos, dos quais a escola “se
cansou” de atender na sala comum. * A história do projeto, que foi viabilizado em parceria com a
Fundação Banco do Brasil, Rede ANDI, Save the Children Suécia e
A imprensa deve investigar esse tipo de procedi- Petrobras, pode ser acompanhada no livro Você é gente?, de
mento, que pode impactar gravemente o desenvolvi- Claúdia Werneck (WVA Editora).
58 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

De acordo com depoimento de Eugênia Augusta sárias para propiciar educação de qualidade a todos os
Fávero, Procuradora da República no Estado de São alunos com “necessidades educacionais especiais, em to-
Paulo, publicado no Manual da Mídia Legal – Uni- dos os níveis de ensino”. Embora os estudantes com defi-
versitários pela Inclusão, “esta situação fere o Arti- ciência estejam incluídos nesse grupo, na prática as bre-
go 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente por chas da LDB – como a aceitação de classes e escolas espe-
configurar um atentado à integridade psíquica do ser ciais em caráter temporário – têm sido muito bem explo-
humano. Fere também o direito de acesso à escola re- radas por gestores e professores não adeptos da inclusão.
gularmente constituída, o que está expresso no Artigo Um documento posterior à LDB, o Parecer no 17,
53 do mesmo Estatuto”. de 3 de julho de 2001, do Conselho Nacional de Edu-
cação, homologado pelo Ministro da Educação em 15
A Lei de Diretrizes e Bases de agosto de 2001, concebe a educação especial como
O jornalista que trabalha a pauta da deficiência vem “o conjunto de conhecimentos, tecnologias, recursos
se esquivando de discutir algumas questões mais po- humanos e materiais didáticos que devem atuar na re-
lêmicas na área de educação, como a atual Lei de Di- lação pedagógica para assegurar resposta educativa
retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A LDB de qualidade às necessidades educacionais especiais,
não é sequer mencionada seja na aferição por Mês devendo vincular suas ações cada vez mais à qualida-
Composto seja em Dias Especiais. de da relação pedagógica e não apenas a um públi-
Para alguns estudiosos, a LDB, assinada em 20 de de- co-alvo delimitado, de modo que a atenção especial
zembro de 1996 e regulamentada pelo Conselho Nacio- se faça presente para todos os educandos que, em
nal de Educação em 11 de setembro de 2001, é um marco qualquer etapa ou modalidade da educação básica,
a favor da educação inclusiva no Brasil. Para outros, dela necessitarem para o seu sucesso escolar.”
não é tão favorável assim, na medida em que permite Este posicionamento constitui um avanço decisivo
a manutenção de classes e escolas especiais, ainda que em direção a um único sistema educacional para todos os
extraordinariamente e em caráter temporário. alunos, deixando a educação especial de ser um subsistema
Em uma primeira leitura, é realmente fácil chegar à separado do sistema (como antigamente) ou mesmo uma
conclusão de que a lei determina que a educação in- modalidade dentro do sistema (como define a LDB).
clusiva vire realidade mediante a transformação da edu-
cação especial em modalidade de ensino transversal. Avanços e retrocessos
Isto significaria obrigar todas as escolas regulares da rede Paradoxalmente, as Diretrizes Nacionais da Educação
pública e privada a providenciarem as medidas neces- Especial na Educação Básica – a Resolução no 2, de 11
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 59

como uma modalidade da educação escolar. Segundo


Origem da legislação*
Mês Dias seus críticos, a Resolução no2 acaba admitindo que as
Composto** Especiais** modalidades e etapas da educação escolar – educação
Lei 8213/91 (Previdência Social) 5,3% 1,4% infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação
Lei 7853/89 (Políticas para 3,1% 1,4% de jovens e adultos, ensino profissionalizante – conti-
pessoas com deficiência) nuem funcionando como se não precisassem inserir a
Lei 10098/00 (Acessibilidade) 0,4% 0,7% educação especial em suas estruturas por acharem-na
Lei 10048/00 (Atendimento 0,4% – uma modalidade à parte, mesmo que ela permeie o
prioritário) sistema educacional.
Lei 10216 (Direitos das pessoas 0,4% – Na opinião da professora Marlene Gotti, Assessora
com transtornos mentais)
Técnica da Secretaria de Educação Especial do Minis-
Lei 10436/02 (Libras) 0,4% –
tério da Educação e integrante do Conselho Nacional
Lei 8112/90 (Cotas) – 0,7%
de Educação, a decisão de instituir a educação especial
Decreto 3298/99 (Regulamenta 0,8% 2,8%
a Política Nacional para a
como uma modalidade não a transforma em outra rede
Integração da Pessoa Portadora de ensino. Ela não concorda com a interpretação de que
de Deficiência) tal decisão configuraria um retrocesso no projeto de in-
Declaração dos Direitos das 0,4% – clusão educacional. “Infelizmente existe um grupo de
Pessoas Deficientes alunos que a escola não matricula, são crianças e ado-
Legislação ordinária 5,7% 3,4% lescentes que não tem condição de vida autônoma”,
LOAS 0,8% 0,7% argumenta. “No entanto, não sabemos se esses alunos
Constituição Federal – 2,8% teriam ganhos na escola regular. Essas crianças, muitas
Outra 6,1% 2,1% vezes, são agressivas, ou não têm nem mesmo condi-
Não cita legislação 80,9% 86,2% ções de ir ao banheiro sozinhas. Nesses casos, com as
*Deficiência como Foco Central
**Em respostas múltiplas, a soma dos percentuais pode acumular mais de 100%
atuais dificuldades, fica muito difícil promover a inclu-
são. Hoje, nenhuma escola pode negar a matrícula de
de setembro de 2001, do próprio Conselho Nacional qualquer criança. Mas há casos em que os próprios pais
de Educação –, conquanto tenham sido baseadas no pedem escolas diferenciadas. Muitas vezes, a própria fa-
Parecer no 17 e de maneira geral apóiem a consolidação mília não realiza a inclusão domiciliar da criança com
das práticas inclusivas, tornaram-no vulnerável a ou- deficiência. Nossa meta é a inclusão. Ideologicamente,
tras interpretações, ao conceituar a educação especial a inclusão é perfeita. O problema é operacional”.
60 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

com deficiência. “Sem uma mudança na educação


Temas das matérias sobre educação pautadas
pelas ações do setor público governamental* básica, não haverá inclusão escolar”, defende.
Mês Dias Eugênia não sugere o fim da escola especial. Mas
Composto Especiais lembra que a Constituição é muito clara ao definir sua
Acesso à Educação 2,9% - função de complemento e apoio – e não de substituta
Outros Temas Ligados à Educação 2,9% - da escola regular. Na texto da lei, consta que o ensino
Escolas Especiais e/ou Classes 1,4% 2,7% especial deve ser oferecido preferencialmente na rede
Especiais regular de ensino. Toda escola deveria dispor desse
Escolas Inclusivas 1,4% - ensino especial como complemento, mesmo que por
Infra-estrutura da Escola - 2,7% meio de convênio com escolas especializadas. “Inde-
Integração - 5,4% pendentemente do caso, o que importa é que a criança
* Deficiência como Foco Central não pode ser educada de forma segregada. Mas hoje,
Além dos números desta tabela, vale destacar que os dados globais sobre a mesmo as escolas especiais atendem somente crian-
cobertura das políticas públicas relativas às pessoas com deficiência (níveis
federal, estadual e municipal) apontam que o recorte Política Educacional
ças com deficiências menos acentuadas, com algum
foi alvo de apenas 1,4% das matérias do Mês Composto. Nos Dias Especiais, grau de socialização. Ignora-se, assim, que ainda que
a questão foi totalmente ignorada.
o aluno não consiga acompanhar todos os conteú-
dos, a socialização é um fator muito importante na
A realidade da segregação educação. Por isso os casos considerados mais graves
Eugênia Fávero, Procuradora da República no Esta- permanecem nos hospitais, recebendo basicamente
do de São Paulo, considera que a Resolução no 2 do atendimento de saúde”, aponta a Procuradora.
Conselho Nacional de Educação garante a matrícula Antes da aprovação da Resolução no 2, a procura-
de alunos com deficiência na escola regular, mas, ao doria encaminhou ao Conselho Nacional de Educação
mesmo tempo, não assegura sua permanência. Ela uma recomendação apontando os pontos nos quais a
relata que muitas vezes os pais matriculam a crian- resolução feria a legislação e a Convenção da Guatema-
ça na rede regular e depois são informados de que la. “Infelizmente não houve modificação”, comenta Eu-
ela será transferida para uma escola especial. “Isso é gênia Fávero. “Recentemente estivemos reunidos com
muito grave, porque fere o direito de escolha dos pais o Conselho, levando novas sugestões. Acreditamos que
e a Convenção da Guatemala”, denuncia Eugênia, para será aprovada uma nova resolução que irá esclarecer
quem a resolução seria muito mais eficaz se definisse que a educação especial deve ser complementar e não
claramente como deveria ser a escola para crianças substitutiva. Se isso ocorrer, será um imenso avanço”.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 61

A experiência do estado de Goiás

A inclusão escolar pode parecer uma utopia de vi- • Caminhar Juntos (que inclui interfaces com as
sionários, destinada a materializar-se apenas em um Superintendências de Educação Infantil e Ensino
futuro muito distante. Mas, apesar de todos obstá- Fundamental, além de parcerias com as redes
culos com que se depara uma proposta inovadora, já municipais de ensino)
existem inúmeras experiências de escola inclusiva no • Refazer (para alunos autistas)
Brasil. Neste contexto, o processo em curso em Goiás • Unidades de Referência (ressignificação das es-
é um dos que mais se destacam – inclusive devido à colas especiais)
sua abrangência. Coordenado pelo consultor Romeu
Kazumi Sassaki, ele foi implementado a partir de 1999 As parcerias da Secretaria Estadual de Educação
e envolve todas as escolas públicas do estado, benefi- com as prefeituras e com outras secretarias do go-
ciando, além da capital, a população de 242 outros mu- verno foram fundamentais para o êxito do progra-
nicípios, atingindo o universo de 1 milhão de alunos. ma. Apesar das dificuldades de deslocamento dos
O programa de transformação das escolas tra- profissionais do programa (a extensão territorial
dicionais em escola inclusivas teve como base de de Goiás é muito grande), da brevidade do tempo
sustentação dez projetos: para execução das tarefas e da escassez de recursos,
• Escola Inclusiva (transformando escolas comuns o projeto avançou significativamente em questões
em inclusivas) como a sensibilização da comunidade escolar, na
• Prevenir (parceria com a Secretaria de Saúde na mudança de mentalidade das famílias das crianças
prevenção e detecção precoce de deficiências) sem deficiência, na transformação arquitetônica
• Hoje (atendimento educacional para crianças hos- das escolas e espaços urbanos, na inovação de me-
pitalizadas) todologias, na qualificação dos professores e na re-
• Espaço Criativo (inclusão pela arte, em parceria ceptividade da mídia goiana em relação aos assun-
com o Centro Livre de Artes) tos que dizem respeito às pessoas com deficiência e
• Depende de Nós (participação da família na in- à inclusão escolar.
clusão de seus filhos) De 2003 a 2006, segunda etapa do programa, as
• Comunicação (melhoria das habilidades de co- metas incluem a implantação da acessibilidade em
municação de alunos surdos e cegos) todas as escolas da rede pública do estado e o aper-
• Despertar (desenvolvimento de alunos de altas feiçoamento das práticas inclusivas envolvidas no
habilidades) processo de ensino-aprendizagem. n
62 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Inclusão nas políticas públicas cação inclusiva. O programa pretende introduzir a


A educação inclusiva já é uma realidade no sistema educação inclusiva em 4.666 municípios, até o final da
de ensino público do estado de Goiás e de municípios gestão do Governo Lula, correspondendo a 83,5% do
como Porto Alegre e Caxias do Sul (RS), São Carlos e total das municipalidades brasileiras.
Campinas (SP) e Três Corações (MG). Estas experiên-
cias se tornaram referência no campo da educação e Qualificação dos professores
demonstram, na prática, a viabilidade e os desafios da O trabalho de qualificação dos professores é um dos
pedagogia inclusivista. pontos estratégicos do novo programa. O Conselho
A boa notícia é que a educação inclusiva deverá sair Federal de Educação estabeleceu como um dos prin-
do papel em uma perspectiva mais ampla. O Ministé- cípios de suas ações que os conceitos da educação
rio da Educação está preparando um programa para especial sejam inseridos em todos os cursos de for-
implementar esta concepção pedagógica no sistema mação continuada. Segundo a secretária de Educação
de ensino público brasileiro, de maneira gradativa, de Inclusiva do Ministério da Educação, Cláudia Dutra,
2004 a 2006, cumprindo as determinações daquela em primeiro lugar é preciso haver disposição de en-
mesma polêmica Resolução no 2 do CNE/CEB, de 11 frentar os desafios da educação inclusiva e direcionar
de setembro de 2001. O artigo 2 é bastante claro: “Toda
criança tem o direito a ter sua matrícula efetivada e
Principal perspectiva da abordagem das
cabe ao sistema de ensino recebê-la”. temáticas de Educação*
Do ponto de vista das políticas públicas, cabe cons- Mês Dias
titucionalmente ao Ministério da Educação subsidiar Composto Especiais
e capacitar os gestores da educação nos municípios Setor Público 25,0% 28,6%
para a implementação da educação inclusiva. A res- Sociedade Civil/Terceiro Setor 25,0% 64,3%
ponsabilidade pelo projeto pedagógico, administra- Temático 25,0% -
ção, provimento de recursos e de estratégias é dos Individualizado 16,7% 7,1%
estados e municípios. Numa primeira fase, deverá ser Setor Privado 8,3% -
realizado um trabalho com 126 municípios-piloto, de * Deficiência como tema central.
todos os estados brasileiros, mais o Distrito Federal, Tanto nas reportagens do Mês Composto como nas dos Dias Especiais, a
visando três linhas de ação: fundamentação filosófica Educação não está primariamente associada às políticas públicas do setor
governamental, mas sim a outras perspectivas. Isto demonstra que ainda há
e técnico-científica, difusão de conhecimento sobre uma dificuldade de tratar a questão da educação inclusiva (ou a educação
educação inclusiva e disseminação da política de edu- relacionada às pessoas com deficiência) como um problema estatal.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 63

as políticas públicas no sentido de que o processo edu-


cacional seja planejado para todas as crianças e ado- O tamanho do desafio
lescentes. Esta preocupação deve ser incorporada na
base da própria construção do projeto pedagógico da
instituição de ensino, na condição de tema inadiável,
que configura um direito humano e constitucional. Segundo dados do Censo Demográfico 2000,
A formação dos professores é concebida de uma do IBGE, o Brasil contava, naquele ano, com
maneira articulada na interação com a comunidade. aproximadamente 61 milhões de crianças e ado-
Apesar do Ministério da Educação oferecer material lescentes (0-17 anos de idade). Na versão preli-
didático e apoio técnico, a qualificação do professor é de- minar do Relatório da Situação da Infância e
senvolvida em âmbito local: “Cada vez mais a escola tem Adolescência Brasileira 2003, elaborado pelo
autonomia para propor o seu projeto pedagógico”, ob- Unicef, 4,7% deste total (2,9 milhôes) apre-
serva Cláudia Dutra. Espera-se é que, nesse processo de sentavam algum tipo de deficiência.
formação continuada, sejam dadas as condições básicas A realidade da educação de crianças e ado-
para que o professor se torne capaz de atender ao tempo lescentes com deficiência no Brasil é marcada
e à demanda de cada aluno, sem abrir mão do conteúdo por contrastes desafiadores: existem municí-
exigido. Nesse sentido, é importante que a preparação pios que, por livre iniciativa, avançaram no
aconteça em consonância com a presença de alunos com processo inclusivo, conseguindo oferecer aces-
deficiência em sala de aula, e não de forma teórica, com so e projeto pedagógico de qualidade. Porém,
os mesmos distantes de todo o contexto de formação. há também municípios que sequer registram
Por outro lado, a implementação da educação inclusi- matrículas no campo reservado para a educa-
va demanda recursos para adaptação de espaços arqui- ção especial. O panorama vem mudando no
tetônicos, aquisição de programas de computação es- sentido de conferir visibilidade ao problema.
pecializados, contratação de tradutores em Libras (para Em 2002, 3.612 municípios consignaram matrí-
surdos), entre outras necessidades. Cabe ao governo culas em educação especial, o que corresponde
federal participar de maneira suplementar, fornecendo a 64,9% do total das municipalidades brasi-
apoio técnico e financeiro a esses quesitos. Por exemplo, leiras (veja mais dados do estudo do Unicef na
o PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) deverá página 137). n
distribuir em todo o País livros em braille e também 15
mil mochilas com material específico para alunos cegos.
64 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

da Deficiência pode estar colocado para qualquer pes-


Autoridades de educação*
soa em determinado momento da vida – donde a es-
Mês Dias
Composto Especiais cola precisaria se preparar para atender a essa diferen-
ça, que é hoje um dos fatores de maior relevância
Têm uma ação sendo 6,1% 1,4%
analisada, descrita ou quanto à iniqüidade e exclusão social.
divulgada A secretária de Educação Inclusiva do MEC é enfáti-
São consultados 3,4% 2,1% ca: “Precisamos transformar a iniqüidade em oportuni-
São mencionados 0,4% 2,8% dade. As carências não afetam apenas a escola inclusiva.
Toda escola está buscando melhores equipamentos,
São cobrados - 0,7%
laboratórios de informática, bibliotecas. Existem solu-
Não aparecem 90,1% 93,1%
* Deficiência como Foco Central
ções simples, que dependem de uma atitude das pesso-
Esta tabela apresenta a maneira como são retratadas as autoridades de
as. Temos lido muitas reportagens sobre iniciativas de
educação. A conclusão é de que secretários de educação, diretores, professores ou de uma equipe pedagógica que transfor-
supervisores, professores e pedagogos raramente são considerados fontes
relevantes para os jornalistas.
maram suas escolas em escolas inclusivas. Eles abrem
caminhos. O primeiro passo no sentido de se superar
Conflito de interesses os entraves é um projeto pedagógico consistente. Uma
O orçamento da União reserva recursos da ordem de escola organizada cria condições para obter os recursos
20 milhões por ano para apoio suplementar à edu- junto aos gestores das políticas públicas de educação”.
cação especial. Eles são suficientes para realizar esta
função, segundo Cláudia Dutra, mas não para suprir Questão polêmica
todas as necessidades da educação básica. Este é um Dados do censo de 2000 do IBGE apontam que 70%
ponto que suscita dúvidas e apreensões em relação à dos alunos com deficiência do Brasil estão em classes
viabilidade da educação inclusiva, em um universo especiais. As instituições não-governamentais, como a
escolar marcado por múltiplas carências materiais. Apae (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais)
Mas, embora se faça muito alarde sobre as carên- ou o Instituto Pestalozzi, atendem 47% desses alunos
cias em termos de recursos e equipamentos, o que sem registrados no campo da educação especial. O Minis-
dúvida procede, o maior desafio em relação à educação tério da Educação não deseja que a introdução dos
inclusiva está na revisão de conceitos, de forma a privi- parâmetros da escola inclusiva no sistema de ensino
legiar-se a questão da diferença no processo de ensino- regular seja interpretada como uma guerra contra as
aprendizagem, argumenta Cláudia Dutra. O contexto escolas especializadas, que ainda trabalham orienta-
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 65

Artigo E o papel do professor, como mediador é funda-


O cotidiano de uma escola inclusiva mental. Por isso, receitas de como trabalhar numa
Mara Lúcia Madrid Sartoretto* turma que inclua alunos com deficiência não dão cer-
to. São as intervenções do professor, no momento
Falar sobre o cotidiano de uma escola inclusiva correto, ora dando pistas, ora agrupando por tarefas,
não me parece fácil. O dia-a-dia de uma escola nunca é ora dando atenção individual que irão propiciar um
igual, é sempre processo, é sempre mudança. Por mais verdadeiro aprendizado. Sem falar no acreditar. Acre-
que a escola seja boa, a cada dia evolui, se transforma, se ditar nas possibilidades de cada um, por menores que
constrói. E nenhuma escola é igual a outra, assim como elas sejam. É o acreditar que cria expectativas, é o acre-
nenhum aluno é igual ao outro, por isso não há recei- ditar que faz com que o professor invista naquele aluno,
tas. Não há a turma da inclusão, a escola da inclusão. desafie, estimule, crie alternativas, motive a trabalhar
Existem boas escolas, escolas que aceitam e valorizam a com os colegas. Numa sala de aula inclusiva, as três
diversidade, por isso nas suas turmas cabem todos os condutas importantes para a escola tradicional – fazer
alunos com e sem deficiência. E isto se reflete na ma- silêncio, o trabalho individual e a atenção ao professor –
neira do professor dar aula, no como elabora seu pla- são substituídas pela palavra, pelo trabalho solidário e
nejamento, nos critérios que usa para avaliar, enfim, de grupo e pela aplicação a uma tarefa. Com efeito, não
na sua concepção de ensinar e aprender e, acima de são os alunos que devem prestar atenção ao professor, é
tudo, no papel e no sentido que ele atribui à escola. o professor que precisa prestar atenção ao aluno.
O dia-a-dia de uma sala de aula onde estudam jun-
tos alunos com e sem deficiência é sempre inusitado. Ruptura com velhos parâmetros
O professor dessa sala de aula não pode nunca esque- Nessa sala de aula, todos necessitam utilizar sua aten-
cer que ele é ensinante e aprendente o tempo todo e ção para resolver problemas, e os resolvem porque
que seu papel é o de possibilitar a todos os seus alunos têm interesse, aquilo que é proposto tem sentido, e
construir competências e habilidades para a vida, isto mesmo nos problemas com maior complexidade, de-
é, para fora do portão da escola. Por isso, numa escola vem existir tarefas com vários níveis onde cada um, de
inclusiva, onde inclusão signifique mudar a escola acordo com suas possibilidades irá se adequar. Não é o
para atender bem todos os seus alunos, não são os professor que determina a priori até onde cada um vai
alunos que necessitam acompanhar os conteúdos e o e o que sabe fazer. São os alunos que se auto-regulam.
programa, mas os conteúdos e o programa é que pre- Fácil? Não, bastante difícil, não pela característica
cisam acompanhar os alunos, por toda a vida. do trabalho, mas pelas rupturas que teremos que fazer.
66 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Mas, se quisermos falar de sala de aula inclusiva, de são os alunos, o como se aprende, o porquê e para que
escola inclusiva, precisamos incondicionalmente de alunos e professores partilhem de no mínimo quatro
realizar essa ruptura. Teremos também que discutir horas diárias ao longo de vários anos. Não vamos
com os alunos questões referentes à diversidade. Por- estudar as características dos indivíduos com esta ou
que todos são diferentes – e alguns têm características aquela síndrome, com esta ou aquela deficiência; va-
bem específicas. Mostrar que as diferenças, no caso, mos dedicar o nosso tempo para conhecer e estudar as
não inferiorizam nem incapacitam as pessoas, mas características, as necessidades, o jeito de aprender de
que, pelo contrário, oportunizam a todos a vivência todos os alunos e também do João que tem síndrome
da solidariedade e do trabalho compartilhado, eis um de Down e da Ana que é cega. É nesse momento que
dos traços do professor inclusivo. as parcerias com outros profissionais são importantes
Muitas vezes são os pais dos alunos que freqüen- para que tenhamos as ferramentas necessárias para
tam turmas onde há alunos com deficiências que atendermos bem a todos, sem discriminações
precisam mudar. Nesse momento, as reuniões com Por isso, a formação do professor, para trabalhar
os pais tornam-se muito importantes para mostrar numa escola que se proponha a respeitar e a valorizar a
a eles o quanto essa convivência será benéfica não só diversidade, deve capacitá-lo a entender as diferenças e a
para os alunos com deficiência, mas também para os encará-las não como algo que inferiorize o ser humano,
seus filhos, pois a presença de alunos com dificuldades mas como um desafio que deve ser levado em conta na
especiais desafiará o professor a preparar atividades preparação das atividades, na atenção que deve dedicar
diversificadas, a estudar mais, a se preparar melhor, e, a cada aluno durante a aula, na maneira de avaliar e de
principalmente, a repensar a função da avaliação. utilizar os resultados da avaliação. É nesses momentos
de formação que o professor deve aprender a planejar
Formando professores se perguntando sempre não o que ele terá que ensinar,
Concretizar essa escola passa necessariamente por um mas o que os alunos gostariam de aprender. Respeito
bom projeto de formação de professores. Formação à diversidade e formação contínua do professor, eis aí
inicial e formação continuada. Acredito muito nas os dois pilares da escola inclusiva. n
mudanças ocorridas a partir da formação continuada
em serviço. Aquela do miudinho que se concretiza no * Consultora da Federação Nacional das Associações de Síndrome
dia-a-dia das escolas, entre equipe diretiva, pais, pro- de Down e Diretora do Centro de Apoio da AFAD. É professora da rede
fessores, funcionários e alunos. de ensino público de Caxias do Sul (RS), que está realizando uma
Nessa modalidade de formação, o foco dos estudos das mais interessantes experiências de educação inclusiva no País.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 67

das pelo princípio da integração. Mas, em contrapar- escolas regulares, de preferência as que trabalham com
tida, o governo federal assume, de maneira plena, uma a educação inclusiva: “É preciso ficar claro que esse não
política que implica na transformação do ensino para é o nosso público principal. Nós só atendemos pessoas
atender às necessidades de todos, investindo na forma- com deficiência física em municípios que não ofere-
ção dos professores, revendo conceitos, revalorizando a cem nenhum tipo de assistência a este público”.
escola pública: “Estamos trabalhando para a criação de Em princípio, as Apaes não consideram que a educa-
uma escola que receba a todos – e receba a todos ofere- ção baseada no paradigma da integração seja incompa-
cendo uma educação de qualidade. Se alguém quiser ir tível com a educação inclusiva. Na visão de Luiz Alberto,
para uma escola privada é por opção e não porque esta para se atingir metas, no caso da deficiência mental, é
é a única alternativa. No momento, a escola especial é a necessário o trabalho conjunto destas duas concepções
única alternativa”, destaca Cláudia Dutra. de escola. Mas ele discorda da posição de que todas as
Em princípio, dentro do novo contexto da edu- pessoas com deficiência podem freqüentar o ensino
cação inclusiva, o destino das escolas especiais é o de regular com alunos sem deficiência. Considera um
desempenhar a função de entidades de apoio com- grande erro trilhar o caminho da inclusão com um
plementar na área pedagógica ou de saúde. Muitos olhar que qualifica de “simplista”. O atendimento es-
municípios que atendem a alunos com deficiência no pecial seria imprescindível para determinados tipos
ensino regular mantêm uma relação de proximidade de deficiência mental. A educação para quem tem
com instituições como a Apae ou a Pestalozzi. “Nesse deficiência mental é um processo complexo, argumen-
processo, é importante que as escolas do ensino regu- ta: “Não dá para usar a mesma lógica do pensamento
lar se aliem às organizações não-governamentais, uni- usada para a deficiência física sobre inclusão. Cada
versidades, associações profissionais, empresas, família caso é um caso. Existem crianças que necessitam de
e comunidade. No entanto, esta é uma decisão que de- um professor exclusivo para elas. Em outros casos, é
pende da representação local”, defende Cláudia Dutra. preciso formar turmas de três ou quatro alunos numa
sala de aula. Imagine essas pessoas numa escola regu-
Trabalho conjunto lar. Principalmente considerando o baixíssimo nível
Luiz Alberto da Silva, Presidente da Federação Nacio- educacional que o governo oferece neste País”.
nal das Apaes, refuta a insinuação de que o movimento
das Apaes é contra a educação inclusiva. Segundo ele, Escola e mercado profissional
quando recebem pessoas com deficiência física, cegas Na avaliação de Luiz Alberto, a educação inclusiva é
ou surdas, por exemplo, as Apaes as encaminham a mais viável nos casos de síndrome de Down, permi-
68 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

tindo que muitos cheguem à quarta série do Ensino


Fundamental, ao Ensino Médio e, até mesmo, em si- Fontes mais ouvidas em educação*
tuações raras, à universidade. Ele arrisca uma estatís- Mês Dias
tica, a partir de sua experiência de 22 anos observando Composto Especiais
escolas especiais. Apenas 10% das pessoas com defici-
Pessoas com Deficiência 12,5% -
ência mental que a Apae atende poderiam estar numa
escola regular. Outras 30% precisariam freqüentar, Familiares 8,3% -
ao mesmo tempo, a escola regular e a escola especial. Apaes 8,3% 28,6%
Não seria interessante que permanecessem apenas na Pedagogos 8,3% -
escola especial, pois poderiam avançar no campo da Outros profissionais da área 12,5% 7,1%
inclusão social. Em contrapartida, se freqüentassem educacional
apenas a escola regular também sofreriam limitações, Executivo Estadual 4,2% 7,1%
porque precisam de reforço para serem incluídos. E, Executivo Municipal - 21,4%
finalmente, 60% das pessoas com deficiência mental
Ministério Público - 7,1%
atendidas pelas Apaes não dispensariam escolas es-
peciais. Na maioria dos casos, estas não somente não Associações - 14,3%
conseguiriam ser inseridas na escola regular, como Outras Organizações da 4,2% 7,1%
também não chegariam ao mercado de trabalho. Sociedade Civil
“Incluir estas pessoas no mercado de trabalho é o Empresas (não estatais) 4,2% -
nosso maior desafio. Nós não queremos uma inclusão Outros 8,3% -
irresponsável. A Apae está disposta e sempre se dispôs Não foi possível identificar 29,2% 7,1%
a colaborar com a educação inclusiva. Porém, de for-
*Os números referem-se às matérias que têm Deficiência como Foco
ma consciente, com estrutura, para que não prejudi- Central, sendo Educação o principal tema discutido nesse contexto.
quemos pessoas e crianças que já tem muitas vezes os
No que se refere aos textos que discutem temáticas do universo da Educação,
seus direitos negados. A Itália introduziu a educação as pessoas com deficiência e seus familiares chegam a figurar em uma
inclusiva em seu sistema de ensino e está revendo posição de relativo destaque na amostra por Mês Composto. Contudo,
simplesmente não são ouvidas nos Dias Especiais. O Ministério Público, um
os casos extremos”, justifica Luiz Alberto (veja mais dos atores estratégicos para a consolidação dos direitos de uma educação
sobre o cenário internacional no quadro da página ao inclusiva, também não é quase requisitado – aparece apenas em Dias
Especiais, e assim mesmo com pouco destaque. Mas o que chama
lado e em entrevista com a professora Maria Tereza especialmente a atenção é a ausência do Executivo Federal – e aqui
Montuan, na página 75). inclui-se o Ministério da Educação – nesse importante debate.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 69

O panorama mundial

Qual é a situação da educação inclusiva em outros freqüente a escola regular: “Estas instituições só li-
pontos do mundo? Quais são os maiores desafios? beram as crianças e adolescentes que estão em um
Em que estágio se encontram e quais as diferenças nível muito próximo da escola regular”, comenta
de abordagem no Primeiro e no Terceiro Mundo? a professora.
“A luta contra as múltiplas formas de exclusão – Vale destacar que, na verdade, a Itália é o úni-
social, educacional, econômica e cultural – é uma co país europeu que incorporou o conceito de
tendência mundial; é um caminho da humanida- educação inclusiva em seu sistema de ensino. E
de”, responde a professora da Unicamp e diretora isto só ocorreu graças a pressão do movimento
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino e Di- de luta pelo fim dos manicômios, deflagrado a
versidade, Maria Tereza Montuan. Mas ela traça partir da década 70, sob a liderança do psiquiatra
uma radiografia muito crítica tanto da situação visionário Franco Basaglia – se abrimos as portas
brasileira quanto da européia, identificando uma dos manicômios, temos de abrir também a porta
série de singularidades a serem consideradas e de das escolas; esta seria a conseqüência lógica do
obstáculos a serem superados. processo. A Itália, entretanto, já reviu várias ve-
Países do Primeiro Mundo como a França, a zes e continua revendo aspectos do seu projeto
Bélgica ou a Suíça contam com um sistema de educacional.
ensino público e de escolas especiais que presta
serviços de alta qualidade. Ao contrário do que A relevância do Terceiro Mundo
ocorre em países do Terceiro Mundo, na maior Os problemas da experiência da Itália constituem
parte dos europeus todas as crianças e adolescen- um dos argumentos mais invocados pelos críticos
tes sem deficiência estão nas escolas. Por sua vez, da educação inclusiva no Brasil. A professora Ma-
o aparato da educação especial é tão poderoso ria Tereza Montuan também assume uma postura
que consegue bons resultados em reabilitação e crítica em relação ao processo italiano, mas para ex-
controla o processo educacional das pessoas com trair outras conclusões: “Lá o movimento era muito
deficiência, só permitindo que uma pequena parte ideológico, mas não tinha uma base de sustentação
70 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

pedagógica adequada para realizar uma educação nos países desenvolvidos e fechando os olhos para a
verdadeiramente inclusiva. Se você não tem esta nossa realidade”, comenta.
base, não adianta abrir as portas das escolas para Segundo ela, a obsessão em concentrar o debate
todos, pois as pessoas só vão mudar de lugar. Este é nos casos de altíssima gravidade tem como objetivo
o problema da Itália e que vem se repetindo no pro- demolir o edifício da inclusão educacional. Uma es-
jeto de educação inclusiva no Brasil, que está muito cola inclusiva é uma escola de qualidade para todos.
calcado no problema das pessoas com deficiência”. “Na verdade, nenhum país conseguiu ainda imple-
Para Maria Tereza Montuan, as experiências de mentar um verdadeiro sistema de ensino inclusivo.
países do Terceiro Mundo, como a Índia ou alguns A escola inclusiva, no sentido de projeto pedagó-
da África, são as mais interessantes e fecundas em gico e não apenas ideológico, só foi adotada por
uma perspectiva brasileira, pois não se reduzem ao iniciativa de algumas redes de ensino, de algumas
projeto de inserção de pessoas deficientes no ensino escolas e de alguns professores, em todo o mundo.
regular. Lançam um olhar muito mais abrangente O que está em jogo também é um lobbie muito
sobre o problema da exclusão e procuram incor- grande das instituições de educação especial, como
porar este desafio em um projeto pedagógico: “No a rede das Apaes, que, num contexto de educação
caso do Brasil, como sempre, a maioria das pessoas inclusiva, não querem ocupar a função de ensino
está tomando como única referência o que acontece complementar, como se isso fosse depreciativo”. n

Faltam informações precisas montante usado nos projetos da instituição são gera-
A rede das Apaes conta hoje com 2 mil escolas e atende dos pela própria Apae, por meio de ações de captação
230 mil pessoas, 99% delas com deficiências mentais. de recursos na comunidade. Os outros 30% restantes
Não se sabe qual o montante de recursos que envolve são levantados por meio de convênios com governos
as atividades da rede em todo o País. Segundo Luiz estaduais, municipais e órgãos não-governamentais.
Alberto Silva, Presidente da Federação Nacional das Apesar da abrangência da rede de Apaes e de seu peso
Apaes, a entidade não tem condições de fornecer esta no contexto geral da educação brasileira, expresso nos
estimativa de custos: “A estrutura da instituição é números mencionados acima, ela ainda não mereceu
horizontal e cada unidade tem independência admi- da mídia uma atenção crítica à altura de sua dimen-
nistrativa para captar e gerir os seus recursos”, justifica são, avaliando os orçamentos, a qualidade dos serviços
Luiz Alberto. De acordo com ele, cerca de 70% do que presta, os pontos positivos e negativos.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 71

O Ministério da Educação também não dispõe de síveis explicações para o fato está na dificuldade do
um quadro detalhado de verbas concedidas a organi- governo do estado de São Paulo em gastar 25% da sua
zações não-governamentais. Em 2002, o MEC gastou arrecadação em projetos da área de educação, confor-
R$ 15.813 milhões de um total de R$ 21.896 milhões me reza a Constituição. Para cumprir a lei, o governo
do seu orçamento para apoio ao ensino suplementar prefere investir em instituições privadas, que contam
neste tipo de instituição. com uma burocracia menos rígida, que facilita a ope-
racionalização dos repasses contratados.
O mapa da mina Na esfera federal, a movimentação de verbas, oriun-
Uma emenda aprovada na Assembléia Legislativa de das do FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento
São Paulo, em 2001, abriu caminho para que as escolas da Educação, também desperta a atenção. A título de
especiais passassem a ser agraciadas com recursos, na ilustração: em 2000, a Federação Nacional das Apaes
esfera estadual, do Fundef – Fundo Nacional de De- recebeu do Ministério da Educação recursos no valor
senvolvimento do Ensino Fundamental, criado com de R$ 1,308 milhões e, em 2001, R$ 2,624 milhões.
o objetivo de prestar apoio para a melhoria da quali- Dados de 2002 deixam claro que é prática comum os
dade do ensino público – o que configurou, portanto, recursos do MEC também chegarem diretamente até
um desvio de sua função original. os níveis estadual e municipal: a Federação das Apaes
Em 2001, os repasses da Secretaria Estadual de Edu- de Minas Gerais foi brindada com repasses de R$ 1,154
cação para rede das Apaes chegaram a um total de R$ milhões e a Federação das Apaes de São Paulo recebeu
11,324 milhões, para atender 14.228 alunos. Durante o R$ 1,177 milhões. No mesmo período, a Apae de Santo
ano de 2002, após a emenda ter sido aprovada, somen- André (SP) recebeu um montante de R$ 180 mil e a de
te até o mês de abril, o valor dos repasses saltou para Jequitaí (MG), um de R$ 17 mil.
R$ 28,556 milhões, envolvendo um universo de 22.371 Esses dados foram levantados pela Procuradora da
alunos – ou seja, mais do que todo o orçamento do República no Estado de São Paulo, Eugênia Fávero,
MEC para apoio ao ensino suplementar ou especial. com base em informações da Secretaria de Educação
Ressalte-se que esses valores não incluem repasses do do Estado de São Paulo e Ministério da Educação. Eles
Ministério da Educação ou de fontes municipais e sinalizam claramente para as resistências que o pro-
nem doações de empresas ou da comunidade. Na ver- jeto de educação inclusiva enfrentará no País. Como
dade, a partir de 1996, a média de recursos repassados se vê, a passagem do modelo da integração para o da
por aluno subiu gradativamente, chegando, em 2002, inclusão não se reduz a uma polêmica sobre aspec-
a triplicar de valor em relação ao inicial. Uma das pos- tos pedagógicos ou médicos, mas envolve também a
72 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

disputa por recursos vultosos, as pressões por espaço Projeto bate de frente com LDB
em políticas públicas, a luta para manter o mercado No final de outubro de 2003, a distorção que acontecia
de trabalho, a oposição de interesses corporativos e a apenas no estado de São Paulo esteve a ponto de afetar
articulação de poderosos lobbies políticos. todos os estados brasileiros. Câmara dos Deputados e
Senado aprovaram uma lei – em regime de urgência –
Ausência de controle público estabelecendo que as escolas especiais particulares das
Como vimos há pouco, não existe um controle públi- 27 unidades da federação poderiam receber recursos
co muito efetivo dos recursos destinados às unidades do Fundef – Fundo Nacional de Desenvolvimento do
da Apae e de outras instituições não-governamentais Ensino Fundamental.
que atuam na área da educação especial. Este controle Segundo Eugênia Fávero, uma decisão, no mínimo,
teria que ser realizado por meio da prestação das con- contraditória. E muito política. A própria base gover-
tas, de acordo com a procuradora Eugênia Fávero. nista do Congresso Nacional aprovara a lei, que batia
Ela relata que acessou, aleatoriamente, as contas rela- de frente com a meta do Ministério da Educação de
tivas a 2001 de aproximadamente 30 convênios da área do promover a inclusão. “Apesar de trabalharem com o
ensino especial e não encontrou, pelo menos na metade público em idade escolar, a Lei de Diretrizes e Bases
deles, a prestação de contas. “Algumas entidades recebem é clara: as Apaes não podem oferecer o ensino funda-
mais do que uma prefeitura e não são obrigadas a fazer mental, apenas a educação especial”.
licitação nem a contratar por meio de um processo de A procuradora afirma que o impacto dessa lei se-
concurso público. A maioria dos professores é emprestada ria negativo até mesmo para as escolas regulares. No
das Secretarias estaduais e municipais e estas entidades orçamento para o ano de 2004, 40% das verbas per
ainda contam com isenção de tributos”, denuncia Eu- capita para o Fundef seriam cortadas. As escolas, que
genia, para quem esse quadro acaba gerando distorções recebem por cada aluno matriculado, deixariam assim
inaceitáveis: “Você visita uma Apae e vê piso de granito, de contar com quase metade do que até então lhes era
computadores sofisticados e alguns adolescentes com repassado. Ou seja, com a inclusão das Apaes e enti-
síndrome de Down andando de mãos dadas pelos cor- dades congêres no fundo, esses recursos já escassos
redores. Enquanto isso, chega em uma escola pública seriam ainda mais pulverizados.
e não existe dinheiro para pintar um portão. Quando
questiono estas coisas dizem que sou uma procuradora Contradições legais
que quer acabar com as Apaes. Não é verdade, mas não O caso, porém, tem contornos ainda mais graves: essas
considero esta situação correta e nem justa”. entidades não atendem somente crianças e adolescen-
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 73

tes em idade escolar e não oferecem apenas educação. te Lula no dia 12 de novembro de 2003. Mas, diante
“A grande questão é que as escolas públicas comuns das reações negativas da bancada petista, da oposição
recebem apenas recursos de um nível de governo e e da imprensa, o governo acabou construindo uma
de uma pasta ministerial. Já as Apaes e as entidades solução emergencial: em 21 de novembro foi promul-
filantrópicas em geral podem apresentar projetos para gada a Medida Provisória 138, instituindo o Programa
o município, estado e para a União. E recebem verbas de Complementação ao Atendimento Educacional
de diversos Ministérios, como o da Assistência Social Especializado aos Portadores de Deficiência – PAED.
e o da Saúde”, destaca Eugênia. A medida representa um sério golpe em todo o pro-
Tecnicamente, a lei era contraditória por duas ra- jeto de educação inclusiva, incorrendo em flagrantes
zões. A primeira é que o Fundef tem natureza pública, contradições com a política estabelecida pelo próprio
enquanto que as Apaes e entidades congêneres, ainda Ministério da Educação.
que filantrópicas, são instituições privadas que po-
dem, inclusive, cobrar de quem tenha condições de
pagar pelo serviço oferecido. A outra é que o Fundef Repasses para as Apaes do estado de
São Paulo entre 1995 e 2002*
está destinado ao ensino fundamental, que é um nível
Ano Número de Repasse Número Média por
de escolarização; já a educação especial é uma modali- Entidades (em R$) de Alunos Aluno
dade de ensino, que, assim como a Educação de Jovens (em R$)
e Adultos, deveria contar com rubrica própria. 1995 133 2.375.648,00 11.845 200,56
Apesar disso, a lei chegou a ser aprovada – e antes
1996 134 4.311.359,00 11.594 371,86
que nem mesmo o Conade pudesse se manifestar.
1997 141 4.880.971,00 11.922 409,41
“Nós fomos pegos de surpresa”, conta Eugênia Fávero.
Não por coincidência, o autor da lei, datada de 2001, 1998 146 5.260.857,00 12.750 412,62
é o Deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), um ex- 1999 144 9.891.752,00 12.588 785,81
presidente da Federação Nacional das Apaes. No Sena- 2000 176 10.582.719,00 14.198 745,37
do, a articulação dos votos ficou por conta de Flávio 2001 175 11.324.845,00 14.028 807,30
Arns (PT-PR), também ex-presidente da Federação.
2002 222 28.556.580,00 22.371 1.276,50

Teatro do absurdo * Recursos repassados da verba de educação destinada preferencialmente à


melhoria do ensino público no estado de São Paulo. Trata-se de parte do
O projeto que garantiria o direito das escolas especiais montante referente a 25% da receita que o estado, por lei, é obrigado a
receberem verbas do Fundef foi vetado pelo Presiden- investir em educação. Fonte: Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
74 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Equívocos e omissões da mídia

No episódio das Apaes, a imprensa cometeu uma série 4) Não comparou as verbas recebidas pelas institui-
de equívocos, vários dos quais costumam ser reiterados ções de ensino especial e as verbas destinadas ao
na cobertura cotidiana sobre o tema da Deficiência: ensino público.
1) Aceitou de maneira passiva e acrítica os argumen- 5) Limitou o debate à esfera governamental ou par-
tos do Presidente Lula para o veto, permitindo lamentar, não ouvindo educadores, dirigentes
que uma questão fundamental para o destino de de organizações não-governamentais e repre-
milhões de crianças e adolescentes brasileiros se sentantes do Ministério Público.
esvaziasse em sua dimensão pública ao deslocar- 6) Essas falhas abriram caminho para que o gover-
se para o campo exclusivamente monetarista no assinasse uma medida provisória fortalecen-
ou jurídico. No contexto, o argumento de que do a rede de escolas especiais.
o projeto “contrariava os interesses da nação” 7) E, finalmente, diante deste quadro, a mídia dei-
tinha uma acepção somente econômica, relativa xou de indagar se, no exato momento em que o
ao impacto nas contas públicas da União. governo anuncia um amplo programa de educa-
2) Omitiu a contradição do governo estar lançando ção inclusiva, a decisão de beneficiar as escolas
um amplo programa de educação inclusiva, com especiais com verbas vultosas não contribui
previsão de abarcar mais de 80% dos municípios para promover a inclusão social de crianças e
brasileiros até 2006, e, ao mesmo tempo, desviar adolescentes.
para escolas especiais verbas destinadas por lei
ao ensino fundamental. Como se vê, a omissão e os equívocos da im-
3) Não investigou o projeto aprovado pela Câmara prensa no episódio contribuiram enormemente
Estadual de São Paulo – que originou a proposta para uma cena de teatro do absurdo, regido pela
do Deputado Federal Eduardo Barbosa na esfera desinformação e pela ausência de senso crítico. Até
federal –, avaliando a relação entre o montante de o fechamento deste livro, no final de novembro de
verbas captadas e os benefícios sociais oferecidos 2003, ainda esperava-se uma postura investigativa
pelas escolas especiais. da mídia, à altura da relevância social do tema. n
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 75

Entrevista quais se considera a inclusão inviável. Pretende-se


Inclusão é inovação pedagógica assim que uma proposta inovadora, que exige uma
A professora Maria Tereza Mantoan é uma das personalidades ampla reestruturação do ensino escolar, se encaixe
mais atuantes no campo da educação inclusiva, tanto na dimen- em um modelo de educação velho e obsoleto como o
são teórica quanto na da prática pedagógica cotidiana. Doutora nosso – seletivo, meritocrático, competitivo, condu-
em Pedagogia, ela coordena o Laboratório de Pesquisas em En- tista –, e limite os seus objetivos a um único segmento
sino e Diversidade da Unicamp, responsável por experiências do alunado. As redes públicas de ensino e as escolas
de educação inclusiva nos estados de São Paulo, Minas Gerais, particulares que se dispuseram a reconstruir sua expe-
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. riência pedagógica sob a orientação do Leped, grupo
de pesquisa que coordeno na Faculdade de Educação
da Unicamp, estão espalhadas pelo Brasil e são vitri-
Os críticos da educação inclusiva argumentam que nes nas quais podemos apreciar como que é possível
ela expressa uma visão justa do ponto de vista filosófi- transformar a educação escolar – o que se dá a partir
co, mas inviável do ponto de vista pragmático. Existem de novos paradigmas, de uma visão formativa e não
experiências no Brasil que comprovem a viabilidade da apenas instrucional dos processos de ensino e de apren-
educação inclusiva? Que confronto é possível estabele- dizagem. As desconfianças em relação à educação in-
cer entre as experiências brasileiras e as desconfianças clusiva no Brasil se devem a estes equívocos.
em relação à educação inclusiva?
Existem no Brasil, como em todo o mundo, inúme- A Itália adotou a educação inclusiva e, no entanto, está
ras escolas e até mesmo redes de ensino que se dis- revendo alguns pontos de seu programa. Que lições é
puseram a se reorganizar pedagogicamente, por possível extrair da experiência da Itália em relação à
reconhecerem o caráter excludente de suas práticas perspectiva de implementação da educação inclusiva
de ensino. A inclusão escolar é uma inovação educa- no Brasil?
cional que reconhece e valoriza as diferenças entre os Assim como a Itália, o Brasil terá de rever a orientação
alunos e que implica no acolhimento de todos eles, inclusiva que imprimiu às suas propostas educacio-
indistinta e incondicionalmente. Não se restringe à nais, pois ambos os países centraram o movimento in-
inserção de alunos com deficiências, com dificul- clusivo na inserção de alunos com deficiência nas es-
dades de aprender nas escolas comuns, como ainda colas comuns. Esse erro é imperdoável, tendo em vista
muitos a concebem. Este é um dos motivos pelos que a maior parte dos alunos excluídos nas escolas de
76 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

todo o mundo não são os alunos com deficiência, mas da inclusão dos que têm mais dificuldade de apren-
aqueles que a escola comum não considera dentro de der? O que são casos extremos, quando falamos de um
seus padrões e exigências. As experiências brasileiras direito que é de todos? No meu entender, quando se
de inclusão têm sido coordenadas pela educação es- pretende conciliar esses casos fica clara a intenção de
pecial e isso é um contra-senso, dado que a exclusão é se ter sempre um resíduo para garantir os privilégios
praticada pelo ensino regular! Há redes de ensino que que as associações de pais, de atendimento às pessoas
optaram pela educação inclusiva, mas sob a orientação com deficiência, as corporações de especialistas con-
de técnicos e de serviços de educação especial. Este tipo quistaram. A inclusão total não elimina o papel desses
de proposta é bem conhecido aqui e em muitos outros profissionais e dessas instituições especializadas, mas
países e não dá conta da inclusão como inovação, pois torna-os complementares e não substitutivos da edu-
além de estar cuidando de uma pequena parte dos ex- cação em escolas comuns.
cluídos da escola, pretende mudar o ensino regular a
partir de uma experiência de ensino especial. Como deveria ser feita a qualificação dos professores e
da comunidade visando a educação inclusiva?
Você concorda com o argumento de que os casos de Qualificar um professor para atuar em escolas inclu-
alunos com comprometimentos mais graves não pode- sivas é oferecer-lhe uma formação sólida, que não se
riam freqüentar a escola regular, sob o risco de pre- distingue por saber individualizar o ensino, mas por
judicar o desempenho dos outros alunos e ao mesmo ministrá-lo de modo que os alunos possam usufruir
tempo não conseguir acompanhar o currículo? Não dele, segundo suas possibilidades de assimilá-lo, num
seria possível conciliar os princípios da inclusão e con- dado momento de suas trajetórias escolares. Com
templar os casos extremos? isso queremos dizer que o ensino de qualidade não é
Discordo totalmente, pois como já referi anteriormen- aquele que submete o aluno, como ocorre hoje, mas
te, só há inclusão, quando ela é incondicional, irrestri- sim o que o emancipa, fazendo-o sujeito ativo da
ta – e não há como fazer acordos nesse sentido. A esco- aprendizagem – e não um repetidor do que as apos-
la está prejudicando gerações e gerações de cidadãos, tilas, os livros didáticos e as palavras do professor lhe
com sua maneira de atuar excludente e discriminado- ensinam. Outro grande engano é pensar que um en-
ra, com suas práticas tradicionais. Agora ainda temos sino é de qualidade quando é individualizado, para
de fazer concessões, por entender que há riscos de se atender às necessidades e características dos alunos.
prejudicar o desempenho de alguns alunos por meio E formar professores para essa individualização vem
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 77

de reboque nesse engano, definindo as especializa- comuns! Há muito equipamento disponível, pessoas
ções, habilitações e outras formas de se preparar habilitadas para trabalhar com certas deficiências e
professores para atender às diferenças individuais também com certas diferenças, como é o caso dos
de aprendizagem. A aprendizagem, ela sim, é indivi- surdos. Mas o que falta e o que se faz necessário é
dualizada! Enquanto não se entender que é o aluno a vontade de mudar, de fazer da escola comum um
quem se adapta à atividade de ensino e que esta deve espaço verdadeiramente democrático, formador, em
ser a mais flexível e aberta, para que todos possam se que todos os alunos são bem-vindos – um espaço
adaptar a ela (como se propõe no conceito de Design inclusivo de educação.
Universal), estaremos reafirmando as deficiências do
outro em aprender e não as deficiências da formação Muita gente argumenta que se a escola regular não con-
do professor para ensinar todos os alunos. Queremos segue prover um ensino de qualidade nem para alunos
deixar claro que com isso não estamos “excluindo” sem deficiência, seria impossível avançar no sentido de
ferramentas, recursos didáticos que são necessários que consiga oferecer ensino de qualidade para pessoas
para que barreiras de comunicação, impostas por com deficiência, que exigem uma formação muito mais
alguns tipos de deficiência e de dificuldades dos alu- especializada do professor.
nos, sejam ultrapassadas. Temos hoje condições de rever e de reconstruir a escola
comum, pois há muitas inovações disponíveis – algu-
Em que medida existem condições técnicas, econômicas mas, inclusive, que já estão envelhecendo por não serem
e humanas para a implementação da educação inclusiva adotadas e/ou bem interpretadas pelos que respondem
no Brasil? Como se resolve, por exemplo, a questão da pelo ensino e o ministram. Isso se aplica a todos os ní-
adaptação de espaços físicos, aquisição de equipamentos veis de ensino, nas redes públicas e nas escolas particu-
ou contratação de tradutores para surdos nas escolas? lares. Estas novas alternativas educacionais, como a in-
O problema não é nenhuma dessas condições, mas a clusão, os ciclos de formação, a progressão continuada
falta de vontade política, pois já se passaram mais de ou a gestão participativa, acabam sendo “neutralizadas”
10 anos de discussões sobre inclusão escolar e mui- porque implicam uma nova lógica de organização geral
tas oportunidades para que a implementação dessa do sistema educativo. A questão é que não são meros
inovação se efetive. A educação inclusiva não se im- acessórios, mas partes constitutivas dessa nova ordem
plementa a partir dessas condições, que são típicas pela qual os sistemas devem se reestruturar para que
da inserção das pessoas com deficiência nas escolas possam oferecer um ensino de qualidade – e para todos.
78 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Quais são as vantagens da educação inclusiva para as tuem sua geração, especialmente no ensino básico,
pessoas com deficiência, suas famílias e a escola? onde se faz a transição da vida privada para a públi-
Não são as vantagens, mas acima de tudo os benefí- ca. Quem não vive a cooperação, a solidariedade, os
cios gerais que a educação inclusiva espalha sobre embates com as diferenças, o cotidiano compartilha-
um sistema de ensino em geral. Ganham todos com do com as pessoas tais como elas são, acaba tendo
essa inovação, porque o direito à educação se ins- uma formação prejudicada, lacunar, fragmentada –
taura plenamente e não há condição melhor para isso por mais que as escolas se esforcem por preen-
que se possa aprender do que aquela em que a todos cher os vazios da formação com conhecimento teó-
está assegurado esse direito. Os alunos têm de estar rico, domínio tecnológico, espírito de liderança,
nos bancos escolares com todos aqueles que consti- competitividade. n

Aspectos inconstitucionais de comprometimento, ela tem direito de conviver um


A medida provisória que cria o PAED visa “promover a período com outros alunos. Se as escolas especiais re-
universalização do atendimento especializado de edu- ceberão repasses sem nenhuma contrapartida, conforme
candos portadores de deficiências, cuja situação não o número de alunos, qual o interesse que terão em pro-
permita a integração em classes comuns de ensino re- mover a inclusão na escola regular? Nenhuma escola pú-
gular”. Em seguida, estabelece como meta “promover, blica goza de tantas facilidades para receber repasses”.
progressivamente, a inserção dos educandos portado-
res de deficiências nas classes comuns de ensino re- Os benefícios da escola inclusiva
gular”. Mas, ao mesmo tempo, determina que a União A objeção de que pessoas com comprometimentos gra-
repassará recursos, por meio do FNDE, diretamente ves prejudicariam o processo de aprendizagem de toda
para as entidades privadas, “sem necessidade de con- a turma e, ao mesmo tempo, não conseguiriam acom-
vênio, ajuste, acordo ou contrato, mediante depósito panhar os conteúdos – principal argumento contra a es-
em conta-corrente específica”. cola inclusiva – parece irrefutável. Mas ela é questionada
Segundo a procuradora Eugênia Fávero, a medida pela secretária de Educação Inclusiva do Ministério da
tem aspectos inconstitucionais e configura um enorme Educação, Cláudia Dutra e por uma série de pesquisa-
retrocesso do ponto de vista de um projeto inclusivo: dores, a partir do avanço de experiências pedagógicas.
“A medida não trata da idade da criança para o proces- Cláudia reafirma que o argumento não demoverá o
so de inclusão e desconsidera que mesmo com alto grau governo federal do propósito de promover a educação
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 79

inclusiva. As dificuldades são encaradas como desafios. O psiquiatra aponta inúmeros relatos de casos, de
O programa deverá investir na capacidade dos educado- escolas inclusivas do Brasil e de outros países, mostran-
res em administrar as situações-limite, não permitindo do que a avaliação de condições de comprometimen-
que uma criança seja agredida no plano psicológico ou tos graves se altera quando as crianças e adolescentes
sofra qualquer tipo de discriminação. Estas situações com deficiência tem acesso a uma prática educacional
extremas são consideradas uma oportunidade para se re- inclusiva. “As pesquisas e as experiências pedagógicas
alizar uma aprendizagem sobre a cidadania, afirma ela: “É mais recentes estão mostrando que uma deficiência
nesse momento em que tiramos do papel o princípio de não pode ser analisada isoladamente. Antes de mais
que a educação forma o cidadão. É uma aprendizagem nada, o próprio grau de comprometimento de uma
da tolerância e da solidariedade. Temos vistos nas escolas pessoa com deficiência depende dela estar ou não in-
inclusivas que, muitas vezes, as crianças com deficiência serida em um ambiente inclusivo”, destaca José Belisá-
recebem o cuidado das crianças sem deficiência”. rio (leia na página 82 entrevista com o psiquiatra; mais
informações sobre questões relacionadas à área de saúde
Mudança de critérios estão no Capítulo 6, a partir da página 114).
Para o médico psiquiatra José Belisário Filho, Vice-
presidente da Associação Latino-Americana de Psi- Necessidade de atenção especial
quiatria Infantil, avaliações como a formulada pelo Para Izabel Maior, coordenadora da Corde - Coordena-
Presidente da Federação Nacional das Apaes, Luiz doria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
Alberto da Silva, são baseadas em critérios defasados. de Deficiência, da Secretaria Especial dos Direitos
Os limites de inserção escolar não deveriam mais ser Humanos da Presidência da República, em primeiro
definidos pelos médicos, que ignoram os resultados lugar é preciso distinguir a inclusão em dois aspectos:
de importantes experiências pedagógicas, insistindo a social e a escolar. Do ponto de vista social, é possível
em se referendar por parâmetros limitados a um único conseguir que todas as pessoas com deficiência sejam
aspecto do desenvolvimento infantil, como os testes incluídas, desde que se derrubem preconceitos e dis-
de QI: “Se você avalia pelo teste do QI estes alunos criminações – não se justifica, portanto, impor limites
com deficiência mental inseridos na faixa dos 30% para o que elas podem fazer.
citados pelo Presidente da Apae, eles possivelmente De uma perspectiva escolar, Izabel também acredita
serão reprovados na escola regular. Hoje se sabe que que a inclusão é o melhor caminho a ser percorrido. As-
um processo de avaliação deve envolver um conjunto sim, a tendência é de que em pouco tempo as crianças
de fatores muito mais amplo do que esse teste”. com deficiência estejam freqüentando a escola regular.
80 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Escola inclusiva – a escola bem público


Ainda hoje, no Brasil, tanto a escola especial quanto a mos com o devido ardor nosso maior bem, a escola
escola regular geram e incentivam a segregação. São, pública. Defender a educação inclusiva, portanto, é
obviamente, formas mais ou menos sutis de ação, reinvindicar novamente para a escola brasileira o
algumas dificílimas de serem denunciadas como tal. direito de ser um bem público, pois sem bens pú-
Defender o conceito e a prática da educação blicos uma sociedade não consegue se transformar.
inclusiva, portanto, não é propor uma guerra entre Escola deve ser o local onde as gerações se en-
o “modelo especial” e o “modelo regular” torcendo contram, se entendem e se reconhecem como parte
para que vença o melhor. Não há o melhor, pois a de um todos indivisível, desenvolvendo juntos a
história prova que ambos têm sido incompetentes técnica, a intuição, a sensibilidade, a criatividade,
na formação de brasileiros aptos e dispostos a não- a flexibilidade e a arte de formar, entre si, parcerias
discriminar com base em qualquer diferença. indispensáveis para o futuro da nação.
Por séculos, aprendemos a discriminar. Agora, Essa escola é o berço do exercício amplo da ci-
mesmo desejando mudar, sabendo que é preciso dadania, vivência que nos ensina a agir para que as
mudar, temos enorme dificuldade em abandonar leis saiam do papel. Nessa escola, as dificuldades e
práticas educacionais segregadoras e abraçar outras, as limitações (reais e temporárias – ou não) de cada
inusitadas, promissoras. O que realmente tememos? estudante funcionarão como estímulo para os en-
Não há dúvida de que nossos jovens podem ser mais frentamentos da vida comunitária, transcendendo
felizes, éticos, conscientes, solidários, responsáveis. o conteúdo e os demais ensinamentos que as salas
A Pátria começa na escola inclusiva. de aula mal conseguem proporcionar aos alunos.
Os equívocos da educação brasileira são de res- Extraído do livro Sociedade Inclusiva. Quem cabe no seu TODOS?, de
ponsabilidade de cada um de nós, que não protege- Claudia Werneck (WVA Editora, 1999). n

Entretanto, ela recomenda atenção para o fato de que situações nas quais o grau severo de deficiência cause
embora a inclusão seja a meta pretendida, vivemos a impossibilidade de permanência no ensino regular.
ainda sob o modelo de instituições integracionistas: É muito importante enfatizar que escolas inclusivas
“Desejamos que progressivamente as escolas ou as são aquelas que trabalham com equipes capacitadas
classes especiais deixem de ser a regra, passando a ser e com currículo flexível para atender às necessidades
a exceção, que vai atender à escolha de famílias ou às educacionais especiais”.
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 81

E qual seria o grau limite para uma criança freqüen- organização dos estudos, tratamento das informações,
tar ou não uma escola regular? Não sabemos, respon- valorização da vida social.
de a coordenadora da Corde, destacando que esta é uma “A avaliação eficaz não se reduz a conhecer a evolu-
avaliação bastante complexa e delicada. Há alguns anos, ção do aluno do ponto de vista meramente instrucional,
exemplifica, acreditava-se que uma pessoa com síndro- mas sim da formação humana em sentido amplo. Esta
me de Down jamais poderia ser alfabetizada, enquanto concepção de avaliação não compromete a qualidade, na
hoje encontramos muitas delas que não só foram alfabe- medida em que o aluno não é abandonado para aprender
tizadas como trabalham e participam de discussões so- sozinho. É para isto que existe o professor: provocar,
ciais importantes. “Quem somos nós para dizer o que se deflagrar, amparar, ajudar. Mas sem metas pré-fixadas.
estas pessoas – ou qualquer outras, com outros tipos de Qualquer aparato de avaliação – testes, provas, não tem a
deficiência – podem ou não podem fazer?”, indaga Izabel. capacidade de medir o quanto alguém é capaz de rea-
lizar. Eles servem apenas para nos dizer o que falta na
Como avaliar o desempenho escolar? pessoa”, destaca Maria Tereza (veja entrevista concedi-
Outro problema que costuma ser colocado pelos críti- da pela professora, na página 75).
cos do paradigma inclusivo é o fato de nossos sistemas O breve panorama desenhado neste capítulo revela
de ensino estarem baseados em métodos de avaliação o quanto a educação inclusiva é um tema complexo e
de desempenho. Quais seriam os parâmetros para se inovador, envolvendo um intenso debate sobre ques-
aferir o desenvolvimento de crianças e adolescentes tões pedagógicas, filosóficas, políticas, sociais e econô-
que, em alguns casos, apresentam dificuldades de acom- micas – além, é claro, de guardar inúmeras implicações
panhar os currículos escolares? práticas para a vida de uma parcela significativa de ci-
A professora Maria Tereza Montuan aponta que o dadãos brasileiros. Ao mesmo tempo, os dados da pes-
próprio processo de avaliação escolar também precisa quisa Mídia e Deficiência deixam claro que, apesar de sua
estar em sintonia com o caráter inovador da proposta abrangência conceitual, de sua carga polêmica e do fato
inclusiva. Nesta perspectiva, a avaliação deverá acom- de ser um tema crucial para a inserção social de crianças
panhar o processo de cada estudante com relação à e adolescentes, esteve longe de merecer a adequada aten-
evolução de suas competências e habilidades. Estas ção por parte da mídia. As discussões levantadas por
potencialidades estarão progredindo com o tempo e autoridades federais, professores, pedagogos, médicos,
segundo as possibilidades de cada um. Portanto, não se dirigentes de organizações não-governamentais e re-
teriam parâmetros de desenvolvimento fixos: a avalia- presentantes do Ministério Público simplesmente não
ção envolveria conhecimentos acadêmicos, assim como aparecem nas matérias analisadas no presente estudo. n
82 Educação – nó a ser desatado Mídia e Deficiência

Entrevista um ambiente inclusivo. Pois bem, o que temos per-


Qual o limite para a inclusão? cebido é que a situação muda radicalmente à medida
José Belisário Filho é médico psiquiatra, mestre em pediatria em que rompemos os nossos preconceitos. Grupos de
pela Universidade Federal de Minas Gerais e Presidente da autistas que freqüentam escolas inclusivas desde pe-
Associação Brasileira de Psiquiatria e Neurologia Infantil e quenos mudam de campo: pertenciam a classificação
Vice-presidente da Associação Latino-Americana de Psiquia- do autismo clássico e passam a figurar na do autismo
tria Infantil. Nesta entrevista, ele discute o polêmico tema dos atípico. Ou seja: o próprio processo de inclusão acaba
limites para a inclusão escolar. por modificar o quadro deles.

Mas existe uma grande interrogação sobre a capacidade


Com que parâmetros avaliar os limites da inclusão esco- de pessoas com deficiência mental participarem das ati-
lar para pessoas com deficiência? vidades cotidianas de uma escola regular...
O grande problema é que sempre são convocadas Sabemos hoje que o grau de deficiência mental ou in-
pessoas da área de saúde para o processo de avalia- telectual depende do tipo de suporte que uma pessoa
ção. Os médicos não tem parâmetros pedagógicos tem para se desenvolver. Nos casos de crianças e ado-
para avaliar a questão. Eu tenho lido nos jornais lescentes com síndrome de Down, por exemplo, existe
declarações de médicos famosos falando muitas uma capacidade de reter a atenção e os conhecimentos.
bobagens sobre a escola inclusiva. Só que eles tem Mas, em compensação, eles tem uma dificuldade muito
como referência a velha escola em que estudaram, grande de simbolização e de trabalhar com textos. Se
que, realmente, não apresenta condições de acolher forem avaliados pelo teste de QI, com certeza serão
pessoas com deficiência. Uma pessoa com autismo, excluídas da escola. Só que o teste de QI não mede
por exemplo, não cabe na velha escola. Na avaliação todas as nossas habilidades e potencialidades. Avalia
clínica dos médicos, os autistas clássicos, que têm apenas nossa capacidade de executar certas tarefas. Se
comprometimento grave da linguagem, não podem estes alunos excluídos pelo teste de QI estudarem em
freqüentar a escola. Em contrapartida, os autistas atí- um ambiente inclusivo, o grau de deficiência acabará
picos, com pequeno comprometimento da linguagem, sendo menor. Em Belo Horizonte, temos casos muito
são liberados, pois apesar da dificuldade em compre- interessantes de meninos que estavam fora da escola,
ender e escrever textos, estariam aptos aos estudos em com deficiência mental grave e hoje estão freqüentando
Mídia e Deficiência Educação – nó a ser desatado 83

as salas de aula regulares. Na Argentina, meninos com direito que uma criança estude na escola de sua cida-
síndrome de Down tiveram a média nivelada à do res- de, e na mais próxima de sua casa.
tante dos alunos da escola. Esta é a grande questão: não
dispomos de parâmetros para avaliar a capacidade de A inclusão é um direito. Mas ela não pode prejudicar o
uma criança com qualquer grau de deficiência mental desempenho e a formação intelectual dos outros alunos?
antes que ocorra o processo de inclusão. O grau de A escola vai ficar melhor para os alunos com deficiência
deficiência não depende apenas da incapacidade do pa- e para os alunos sem deficiência. O método de avaliação
ciente, mas também do sistema educacional. A inclusão atual do sistema de ensino está falido, pois não consi-
é o melhor parâmetro para se avaliar a capacidade de dera as capacidades que valem socialmente: liderança,
desenvolvimento de uma criança na escola. relacionamento social, iniciativa, criatividade. Quase
sempre, as crianças que se destacam na vida social não
O que os médicos precisam compreender para avaliar a são aquelas melhor avaliadas pela escola. Até as escolas
viabilidade da inclusão? tradicionais estão incorporando novos parâmetros de
Até o final do século passado, o diagnóstico era basea- avaliação. Em uma experiência de inclusão, os ganhos
do nos testes de QI, mas hoje a classificação envolve em termos de maturidade social são muito grandes. É
um conjunto mais amplo de fatores, onde os serviços lógico que escolas de 5a a 8a série, que trabalham com
comunitários têm um grande peso. Um paciente com um excesso de conteúdo, terão de reorganizar os cur-
paralisia cerebral não se comunica pela linguagem rículos. Os pais consideram boa a escola que contribui
verbal e precisa de alguém para trocar fralda ou colo- para o rápido ingresso dos filhos na universidade. Mas,
car uma coberta. Mas de repente você oferece a ele a nós sabemos que a maioria das universidades pertence
oportunidade de acesso a um computador e, com um ao sistema de ensino privado e o ingresso depende bas-
dedo só, ele trabalha... Ou seja, os recursos comunitá- tante do caixa bancário. Então a inclusão é também um
rios mudam o diagnóstico das capacidades dele. Os ponto de partida para um movimento de revalorização
disléxicos têm grande dificuldade para ler e para es- da qualidade da escola pública, que deixaria de ser mais
crever. Cometem erros, mas têm alto grau de inteli- conteudista, para ser mais humana, solidária e altru-
gência. Nos dias de hoje, já existe um vestibular espe- ísta. O nosso sistema social é construído em cima do
cífico para os disléxicos. Além do mais, estas avaliações modelo de escola que escolhemos. E hoje temos a pior
passam também por uma questão de direito – é um distribuição de renda do mundo. n
Infância e família A mídia ainda não despertou

4 no contexto
para a importância estratégica
da família na luta pelo
reconhecimento das crianças

da Deficiência
e adolescentes com deficiência
como sujeitos de direitos

Embora seja um ator fundamental para a inserção social de crianças


e adolescentes com deficiência, na imprensa a família ainda não conta com um espaço e
uma atenção proporcionais à sua relevância. Ela só merece destaque em 1,1% das matérias
na amostra do Mês Composto, sendo Deficiência o Foco Central, apontam os resultados da
pesquisa realizada pela ANDI e Fundação Banco do Brasil sobre a cobertura que os jornais
brasileiros oferecem ao universo das pessoas com deficiência. Os dados sobre a família na
condição de fonte de informação também figuram em um patamar muito baixo: ela teve a
oportunidade de expressar suas opiniões em apenas 3,4% desses mesmos textos. Ü Desde
1996, a ANDI e seus parceiros vêm constatando em seus estudos que a mídia brasileira pu-
blica raras matérias sobre famílias de pessoas com deficiência – e, a bem da verdade, sobre
qualquer família – no contexto da cobertura focalizada nos direitos da infância e da ado-
lescência. E, quando publica, costuma enfatizar as pautas de comportamento, sob enfoques
que não contribuem para uma maior reflexão sobre o papel dos pais e outros familiares no
processo de desenvolvimento desses meninos e meninas. Ü Uma postura familiar correta
deve ser incentivada e valorizada pela imprensa, pois potencialmente interfere em outras
discussões envolvendo, por exemplo, inclusão, educação e acessibilidade. A participação
ativa da família deve não só facilitar a ligação entre crianças e adolescentes com
deficiência e o mundo social, mas também contribuir para que se exerça maior
pressão pela implementação de políticas públicas específicas que os beneficiem.
A mudança radical de perspectiva gerada pelo conceito de inclusão
se estendeu também às crianças e adolescentes com deficiência, pois está em
plena sintonia com as conquistas modernas no âmbito dos Direitos Huma-
nos, que reconhecem garotos e garotas, com e sem deficiência, como sujeitos
de direitos educacionais, sociais, culturais...
A Constituição, os tratados internacionais, o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente e outras leis ampliaram decisivamente as fronteiras dos direitos, envere-
dando inclusive pelo território antes inexpugnável da vida privada. O processo
de inclusão, o exercício da cidadania e a garantia dos direitos começam em casa.
É no núcleo familiar que se forma a base de auto-estima e dignidade neces-
sária para enfrentar os desafios do mundo social. Antes de pessoas com defici-
ência, temos seres humanos, temos crianças e adolescentes com direito a afeto,
a brincar, a se incorporar no dia a dia da casa, a freqüentar a escola com outros
companheiros da mesma geração, a serem respeitados em sua singularidade, a
participar da vida social, a ter acesso ao trabalho em empresas, a cumprir tarefas
e metas compatíveis com as suas possibilidades. Mesmo as crianças e adolescen-
tes com comprometimentos mais graves continuam sendo sujeitos de direitos.

Além dos limites


Palavras e expressões como “fardo para as famílias”, “coitadinho” e “vítima”
devem ser sumariamente eliminadas de um dicionário formulado sob a óti-
ca da inclusão. Embora ainda se mova em um terreno não mapeado, cheio de
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 87

descobertas, inovações e surpresas – e também de obs- o foco se dirige para as crianças e adolescentes com
táculos, oposições e dúvidas – o movimento inclusivo já deficiência – agora não apenas em razão das mazelas
conseguiu constituir um acervo considerável de expe- estruturais que assolam o País, mas também em face
riências. Elas demonstram que a inclusividade – fami- das resistências da sociedade ao conceito de inclusão.
liar, ambiental, educacional e social – é um fator deter-
minante no desenvolvimento de uma criança ou ado- Participação ativa e crítica
lescente com deficiência, a ponto de modificar diagnós- Em um quadro complexo como o insinuado acima,
ticos aparentemente irrefutáveis expedidos pela área torna-se inconcebível trabalhar qualquer iniciativa
médica, como vimos no Capítulo 3. de inclusão de crianças e adolescentes com deficiência
Sem escamotear a realidade de que é muito mais sem uma participação crítica e ativa da família. Mes-
difícil educar crianças ou adolescentes com deficiên- mo porque não há ninguém mais interessado no de-
cia do que aqueles sem deficiência, os depoimentos de senvolvimento, na superação, na felicidade e no desti-
vários pais também indicam que os problemas asso- no desses seres do que os pais e parentes próximos.
ciados a esse contexto se atenuam proporcionalmente Contudo, para exercer essa função de ponte entre
às chances de inserção social oferecidas. as crianças e adolescentes com deficiência e os mun-
Por outro lado, é de conhecimento geral que a pró- dos da escola, do trabalho, dos serviços de saúde, da
pria condição de seres em formação, inseridos em um comunicação e dos direitos em geral, a família precisa
cenário de graves desigualdades sociais, já empurra se atualizar e capacitar. Nesse novo panorama, não cabe
uma parcela enorme de crianças e adolescentes sem a ela manipular, controlar ou tutelar, mas sim preparar
deficiência para limites de extrema vulnerabilidade em os filhos para serem cidadãos do mundo.
relação a seus direitos elementares. É fácil imaginar, Como então encarar as demandas de educar os filhos
portanto, o quanto essa situação se exacerba, quando sob a perspectiva de que são sujeitos de direitos? Esta é
88 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

uma grande pauta, ainda oculta para a imprensa, que Um bom exemplo destas redes de apoio está nos
não percebeu o quanto a própria agenda proposta pelo programas de Reabilitação Baseada na Comunidade
projeto de inclusão, bastante ambiciosa, coloca para os (RBC). Apesar de algumas diferenças pontuais, as
pais uma série de problemas de distintas ordens – prag- diversas iniciativas deste cunho hoje desenvolvidas
mática, econômica, técnica, profissional, operacional. no Brasil procuram capacitar familiares de pessoas
A arquiteta Stela de Orleans e Bragança, diretora com deficiência e elas próprias para, conhecendo-se
da Federação da Associações de Síndrome de Down, melhor e aprendendo a conviver, desenvolverem, com
já se viu jogada nesta posição de perplexidade muitas sustentabilidade, novos projetos que promovam o bem
vezes. Ela tem uma filha de 15 anos com síndrome do comum. Isso é feito a partir de um rastreamento das
Down e aponta a parceria como o melhor caminho necessidades de cada comunidade por profissionais de
para educar crianças e adolescentes com deficiên- diversas áreas, como assistente social, psicólogo, tera-
cia. É preciso transformar a busca de soluções em peuta ocupacional, fisioterapeuta e fonoaudiólogo.
uma construção coletiva, argumenta Stela, para Uma outra experiência importante está na forma-
quem não se pode chegar, por exemplo, em uma ção de novas associações de familiares em prol de uma
escola da rede privada e simplesmente tentar impor determinada deficiência, principalmente no caso das
suas opiniões: mostra-se muito mais razoável inves- novas síndromes genéticas, descobertas a cada dia.
tir no estabelecimento de alianças (veja entrevista Nestes casos, o intercâmbio de informações entre os
na página 99). pais costuma ser precário, principalmente quando
não dispõem de acesso à internet. Unidas, porém, as
Canais de diálogo famílias vêm se mostrando mais capacitadas a exercer
Hoje existe campo para esse tipo de articulação. A emer- pressão no âmbito das políticas públicas.
gência de um movimento inclusivo, nas mais diferentes
regiões do País, vem suscitando a criação de estrutura Pressionando por implementação
de apoio mínima com a qual as famílias podem fir- O número reduzido de matérias que tratam a família
mar suas parcerias, partilhar responsabilidades e se como tema principal também reflete o desconheci-
orientar sobre o que fazer para educar os seus filhos mento da imprensa diante do papel estratégico dos
como sujeitos de direitos: procuradorias de defesa dos pais para a exigibilidade e efetivação de políticas públi-
interesses do cidadão, conselhos de representantes da cas. Profissionais que acompanham de perto o movi-
sociedade, programas políticos, programas educacio- mento de pessoas com deficiência sabem que é graças
nais, redes de organizações não-governamentais. à pressão das famílias que muitas das leis brasileiras
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 89

começaram a ser cumpridas. Um trabalho mais aten- detentoras de direitos especiais e pontuais. Por isso,
to da mídia, por meio de novos enfoques e temáticas, muitas ainda não sabem que caso se sintam lesadas
estaria portanto colaborando de forma marcante para em alguma situação, podem entrar com uma repre-
fortalecer e ampliar essa participação dos familiares sentação individual no Ministério Público Federal ou
das pessoas com deficiência na esfera pública. Estadual, dependendo da esfera de atuação, com um
Merece especial atenção, nesse cenário, o fato de que e-mail ou carta, mesmo escrita à mão.
no caso de crianças e jovens com deficiência intelectual, Cada estado brasileiro tem seu Ministério Público,
que raramente foram e são estimulados para falar por si, responsável pela atuação ministerial frente à Justiça Esta-
o papel de pais, mães, irmãos e demais parentes adquire dual. Já o Ministério Público da União atua em casos que
ainda maior importância. Freqüentemente essas famí- envolvam, de alguma forma, interesse federal, geralmente
lias se deparam com veredictos extremamente rigorosos ligados à competência da Justiça Federal (Ministério Pú-
por parte da área médica ou de instituições de ensino, o blico Federal) ou ligados às Justiças Especializadas,
que leva a reações de desespero ou conformismo. Mas como a do Trabalho (Ministério Público do Trabalho).
se estão informadas e buscam a orientação técnica hoje O Ministério Público Federal, por meio da Pro-
disponível nas entidades de defesa dos direitos das pes- curadoria Federal dos Direitos do Cidadão, atua na
soas com deficiência, elas descobrem-se com condições defesa dos direitos constitucionais das pessoas, com
de conter os excessos de zelo dos pediatras e diretores procuradores regionais dos Direitos do Cidadão em
de escolas – ao vetarem compulsoriamente o ingresso todos os estados. No site da Procuradoria Federal dos
de crianças e adolescentes com deficiência na sala de Direitos do Cidadão há a relação de todas as suas pro-
aula regular, os profissionais estão na verdade incor- curadorias regionais, com endereço, telefone e e-mail.
rendo no erro de desconsiderar que esses meninos e
meninas têm direitos plenamente assegurados pela Representação através de ONGs
Constituição (veja mais no quadro da página 90, em Em um estudo preparado em 2003 pela ONG Escola de
que uma mãe relata a luta pela inclusão de seu filho com Gente para o Banco Mundial foi discutida uma situação
síndrome do Down na escola). ainda pouco conhecida e utilizada na sociedade brasi-
leira: a possibilidade de organizações não-governamen-
Acionando o Ministério Público tais atuarem em juízo. O objetivo do estudo foi colaborar
No Brasil, as pessoas com deficiência raramente se co- com o Ministério do Trabalho e Emprego na ampla im-
locam, em suas reivindicações, como sujeitos de todo plementação do programa Primeiro Emprego, do governo
e qualquer direito; no máximo, se percebem como federal, na área da inclusão de jovens com deficiência.
90 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

A vitória dos pais

Madalena Nobre Mendonça é professora aposentada da de defesa que o sistema usa para “triar” a população
Secretaria de Educação do Distrito Federal e presidiu a Fe- escolar, sobretudo as pessoas com deficiência, para
deração Brasileira das Associações de Síndrome de Down tirar-lhes o direito à educação regular.
de 1994 a 1999. Neste depoimento, ela relata seu embate Meu filho caminhou muito bem até certo ponto,
com o sistema de ensino regular na tentativa de promover a “aqueles anos dourados de jardim e de pré-escola”.
inserção escolar do seu filho. Depois, as escolas forjaram diversos artifícios para
Nos últimos 15 anos, venho trabalhando pela in- justificar a não-aprendizagem, sempre culpando o
clusão do meu filho Flávio, que tem síndrome sujeito ou a sua família, nunca o sistema. No meu
do Down, e apoiando famílias de várias partes do caso, as alegações foram: “ele é muito comprome-
País e de todas as classes sociais. A minha visão de tido, além da síndrome do Down ainda tem defi-
inclusão sempre foi incondicional, aquela pau- ciência auditiva etc, e portanto o lugar dele é em
tada nos princípios éticos, morais e de direitos classe especial ou em centro de ensino especial.”
humanos, na certeza de que lutar por todos vale Mas meu filho nunca se enquadrou em nenhuma
a pena, não por alguns – “os melhores”, “os mais dessas alternativas, pois era uma opção minha e
bem-dotados”, “os inteligentes”, “os que tem com- dele. Nesse sentido, colaborei com a rede escolar
petência acadêmica”, “os disciplinadinhos”, “os de todas as formas possíveis para que a inclusão
bonzinhos” e por aí vai. dele se desse de forma compromissada tanto do
Dentro deste princípio de que todos têm direito lado da escola como da família, pois não adianta
e competência, nunca aceitei qualquer desqualifi- só “filosofar”, temos que lutar para transformar os
cação do meu filho, sob qualquer instrumento de sistemas sociais.
seleção social, sob qualquer pretexto que o levasse Mas há dois anos, quando Flávio já tinha 13,
a ser alijado dos benefícios da escolaridade regular. simplesmente fui chamada, no final de setembro,
Sempre tive plena consciência de que, embora sendo para uma reunião na qual se objetivava a retira-
professora e militante de um movimento nacional da do meu filho do colégio, público, por não ter
de defesa de direitos, a minha caminhada não ia ser ele “competência acadêmica” para estar na segun-
fácil. Presenciei todas as injustiças e os mecanismos da série. Eu pensei que estava em outro planeta,
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 91

não podia acreditar no que estava ouvindo. De- 2) a escola deve promover a participação da família na
pois de muitas discussões, solicitei uma cópia da construção do seu projeto político-pedagógico;
ata dessa reunião e dali fui direto ao Ministério 3) as famílias precisam ser orientadas quanto aos
Público. Para resumir, foram dois anos de cami- seus direitos (e deveres);
nhada. Hoje ele está numa escola da rede pública, 4) os movimentos sociais devem ser fortalecidos
fazendo algumas matérias e perto de casa, como constantemente;
manda a lei. 5) para aqueles que acreditam na educação inclusiva
Para mim, o aprendizado foi este: como uma grande estratégia e meta para se con-
1) não há inclusão sem o engajamento efetivo da seguir a construção de uma sociedade mais justa
família; e igualitária, a inclusão escolar é inegociável. n

O documento aponta que na opinião de muitos de Janeiro, concordam com a idéia de que a previsão
membros do Ministério Público, partindo do pres- legal para associações ajuizarem ações civis públicas
suposto de que organizações não-governamentais é um direito inquestionável. Para Sarmento, quando
surgem como conseqüência da iniciativa de pessoas alguns representantes do Judiciário – e também do
e grupos cuja meta é implementar ações de interesse Ministério Público – discordam desse enfoque da Lei
público, elas têm respaldo jurídico para atuar defen- no 7.347, quem se enfraquece é a sociedade civil: “A
dendo direitos – o que, inclusive, está previsto na Lei área de tutela coletiva é bastante fortalecida em países
Federal 7.347, de 24 de julho de 1985, anterior à Cons- da Europa e nos Estados Unidos, nos quais a maioria
tituição Federal. No entanto, embora exista jurispru- das ações civis públicas é ajuizada pela sociedade. No
dência neste sentido, há muitos juízes que não admi- Brasil, ainda é rara a ação civil pública que não seja
tem essa legitimidade mesmo quando as organizações ajuizada pelo Ministério Público. Isso é um sintoma
cumprem todas as exigências previstas na Lei no 7.347 da fragilidade que caracteriza a sociedade brasileira”.
para dar conta dessa função (como, por exemplo, Ele argumenta ainda que quanto mais as organiza-
comprovar determinado tempo de existência). ções não-governamentais puderem ir substituindo o
O estudo da Escola de Gente destaca que dois procu- Ministério Público nessas ações, mais forte se tornará
radores da República, o Dr. Paulo Gilberto Cogo Leivas, a sociedade, embora seja papel do MP continuar atu-
no Rio Grande do Sul, e o Dr. Daniel Sarmento, no Rio ando na defesa desses interesses.
92 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

Convivendo em casa autonomia e independência. É o chamado processo


Em um contexto de tanta invisibilidade, como o que de privatização do filho ou filha com deficiência que,
envolve o papel das famílias na vida das crianças e ado- mesmo bem intencionado, precisa ser combatido – o
lescentes com deficiência, a imprensa pode garimpar jornalista pode lembrar que, na verdade, idêntico pro-
diversas oportunidades de pautas interessantíssimas. cesso tende a existir em relação a qualquer filho, apenas
Nesse processo de investigação, estará contribuindo costuma se agravar diante daquele com deficiência.
não só para uma melhor compreensão dos desafios A superproteção atrapalha o fortalecimento de habi-
a serem enfrentados pela famílias que possuem filhos lidades para a sobrevivência e ainda faz com que a De-
com deficiência, como também para a desmistificação ficiência fique associada a privilégios. Mas traz também
de seu cotidiano. São inúmeros os tópicos que se mos- outros danos: há relatos de pessoas com deficiência que
tram dignos de uma cobertura mais detalhada. tiveram de lutar por acessibilidade na própria casa, exi-
Uma ótima porta de acesso para este universo está gindo pequenas alterações nos hábitos da família, mu-
no processo de convivência entre irmãos em um nú- dança de posicionamento de mobiliário, rebaixamento
cleo familiar onde haja crianças e adolescentes com de rampa da garagem, mudança da altura da campai-
e sem deficiência. Geralmente, os diferentes desem- nha de portão, etc. Se uma criança com deficiência
penhos costumam ser comparados pelos avós, tios não se sente respeitada em casa, como lutará por seus
e demais parentes, quando não pelos próprios pais. direitos na rua, mesmo levando-se em conta que esse
Comparação feita, tantas vezes, de forma silenciosa, “desrespeito” é resultado de boas intenções e de amor?
mas que é revelada por meio de gestos, atos falhos,
decisões que interferem no desenvolvimento biopsi- Sexualidade – uma questão de direito
cossocial de cada filho. A questão da superproteção também impacta um
tema polêmico e delicado, envolvido muito mais por
Privatização dos filhos preconceitos do que por questões objetivas: a vida afe-
Há, ainda, em muitas destas famílias, a tendência a dis- tivo-sexual de adolescentes e jovens com deficiência.
criminar os irmãos sem deficiência, devido ao excesso Em todos os seres humanos, o desejo e as descobertas
de cuidados ou superproteção para com aquele que da sexualidade são sinais de saúde. Mas quando o ado-
traz a deficiência. A valorização desmedida traduz um lescente com deficiência começa a conhecer pessoas,
desejo de fortalecer esta criança mas pode, ao contrá- a querer namorar e a buscar uma vida sexual ativa,
rio, violar seu direito mais sagrado de aprender a tomar a família muitas vezes se sente perdendo o controle
suas próprias decisões, sempre que possível buscando sobre suas atividades, o que pode gerar medo de que
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 93

ele seja rejeitado ou até mesmo sofra violências. O re- atores abriam espaço para um “programa de entrevis-
sultado é que, com o intuito de proteger os filhos com tas”, em que discutiam com o público se deveriam ou
deficiência, os pais acabam tratando-os como eternas não ter permissão para namorar dentro da instituição.
crianças, negando o seu direito à sexualidade. Outra referência marcante do ponto de vista da
Para acabar com esses receios, os processos de in- arte pode ser encontrada na literatura: o tema da se-
clusão na escola e na comunidade são estratégias fun- xualidade está colocado de forma bastante direta em
damentais. Se os adolescentes não puderem vivenciar Feliz Ano Velho, obra em que Marcelo Rubem Paiva
a sua sexualidade de forma a mais tranqüila e segura descreve diversas etapas de sua reinserção na socieda-
possível, certamente correrão mais riscos. A omissão do de, após acidente que o levou à cadeira de rodas, ainda
tema em casa, na escola ou no consultório médico gera na adolescência.
desinformação e preconceito. Muita gente prefere acre-
ditar, por exemplo, que eles não sejam capazes de com- Focalizando a violência sexual
preender os cuidados necessários para o sexo seguro. Exigindo um tratamento editorial ainda mais cuida-
doso por parte do profissional de comunicação está
Inovando enfoques uma discussão que parece constituir, até hoje, tabu
São poucas as iniciativas que buscam colocar o tema inviolável para a sociedade brasileira – a que se refere
em debate. O jornalista interessado em encontrar a casos de abuso sexual de crianças, adolescentes e até
abordagens diferenciadas pode recorrer à hoje famosa de adultos com deficiência (em especial aqueles com
montagem do clássico Romeu e Julieta, de Shakespea- comprometimento de ordem intelectual). Que dados
re, realizada em 1999 por um grupo de adolescentes do estão disponíveis no Brasil sobre a prevalência da
Instituto de Cegos da Bahia. O trabalho foi elaborado violência sexual nessa população? Parecem inexistir,
no contexto do projeto O Teatro na Educação Especial, embora seja possível deduzir que o problema se mani-
desenvolvido pela Faculdade de Educação da Bahia, feste em freqüência superior àquela registrada junto a
sob a coordenação do professor Roberto Sanches indivíduos sem deficiência.
Rabello: “Os cegos podem apreciar o teatro porque A questão é delicada e abrangente. Todos os aspec-
ouvem e tem imaginação dramática”, comenta. tos que comumente envolvem o abuso sexual, como
Os adolescentes decidiram investir na montagem o silêncio da vítima e a negação da família em reco-
do texto precisamente para reivindicar o direito a na- nhecer o problema, se agravam no caso da deficiência,
morar. O espetáculo arrancou aplausos e suscitou o pela própria dificuldade de expressão que caracteriza,
entusiasmo por onde passou. Em certo momento, os muitas vezes, uma pessoa com comprometimento in-
94 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

telectual ou surda. Como poderá reagir a uma agres- Além dos estereótipos
são deste tipo, e de outras naturezas, uma criança com É importante saber, antes de mais nada, que a intera-
paralisia cerebral grave ou com tetraplegia, muitas ção com a arte depende da condição específica de cada
vezes sem condições de falar e/ou de se mover? Apesar menino ou menina e deve estar aberta a diferentes pos-
da gravidade do tema, atualmente a maior parte da sibilidades – não é recomendável, por exemplo, que a
imprensa brasileira tende a ignorá-lo – na verdade, as expressão artística seja reduzida a mero passatempo
poucas menções a estes casos acabam vindo de jornais ou termine confinada ao território segregado de uma
ou programas populares, que optam pela linha do “arte de pessoas com deficiência”. O professor Eduardo
grotesco e do sensacionalismo. Sena desenvolve, há 15 anos, na rede pública do Distrito
Federal, atividades que ilustram as potencialidades da
Educando com arte arte como recurso de uma educação inclusiva. Trezen-
A arte sempre se constituiu em um poderoso instru- tas crianças com e sem deficiência – brancas, negras,
mento humanista de expressão das diferenças e um pobres, ricas – participam de um coro e de um grupo
espaço privilegiado de conhecimento e reconhecimen- de teatro musical no projeto batizado de A Música na
to do outro. Nesta perspectiva, pode até mesmo ser Educação Inclusiva: um Planeta para Todos.
considerada uma das forças precursoras na concepção Não existe qualquer tipo de seleção ou teste para
de sociedade inclusiva, pois a história nos leva a encon- matricular-se no projeto e cada criança atua de acor-
trar com um vasto leque de artistas e personagens que do com suas limitações e habilidades. No coral, por
fogem dos padrões convencionalmente aceitos pela exemplo, quem não quiser cantar, participa com sua
sociedade: loucos, deficientes, negros, baixos, velhos, presença e seu silêncio. “A experiência fortalece as
homossexuais, gordos, epilépticos... As obras de arte nos crianças com deficiência e contribui para a formação
fazem viver outras vidas, ver a existência sob outras cidadã das que não têm deficiências”, comenta o pro-
perspectivas, ampliando nossa experiência do humano. fessor, que aponta também o impacto positivo sobre a
Diversas iniciativas desenvolvidas hoje no Brasil família: “Devido aos estereótipos criados em torno da
são bastante reveladoras das múltiplas funções que a deficiência, muitos pais ainda ficam com vergonha de
arte pode exercer na valorização da diversidade huma- seus filhos e até mesmo acreditam que eles sejam inú-
na. Elas são bons caminhos para o jornalista expandir teis ou incapazes de atividades criativas. Mas quando
ainda mais o foco temático da cobertura das questões um pai vê uma criança sendo aceita, interagindo, se
relativas aos direitos das crianças e adolescentes com apresentando, sendo aplaudida, ele próprio passa a
deficiência, a partir de uma angulação inclusivista. aceitá-la muito melhor”.
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 95

Entrevista sanimados, desesperançados. Não é minha proposta.


Um cadeirante na Turma da Mônica Nem nas histórias e nem na vida real. Imagino que
Muito antes do movimento da sociedade inclusiva ganhar força, o personagens humanos, alegres, independentemente
desenhista Maurício de Souza já colocava em ação, nas suas his- de suas limitações físicas, podem ser referências e ain-
tórias em quadrinhos, uma galeria de crianças bem representati- da transmitir mensagens positivas, firmes e fortes.
va da diversidade da infância brasileira: Mônica, a garota gordinha
e dentuça; Cebolinha, o garoto que se enrola com a pronúncia das Houve algum tipo de resistência à inserção de um per-
palavras; Cascão, o menino com pânico de tomar banho; Chico sonagem paraplégico na Turma da Mônica? É sabido que
Bento, caipira do cabelo até as botinas. Agora, Maurício vai incor- anteriormente havia sido criado um personagem autista,
porar um novo personagem à Turma da Mônica: o Paralaminha, mas o universo em que era utilizado ficou restrito a insti-
uma criança paraplégica, que anda sobre uma cadeira de rodas. tuições que lidavam com o tema da deficiência.
O leitor comum não vai fazer diferença entre nossos
Por que a decisão de incluir uma personagem com defi- personagens clássicos e os que chegam agora com suas
ciência na Turma da Mônica? deficiências. Basta que esses novos personagens sejam
Boa parcela da população do Brasil ou do mundo tem positivos, corajosos. O clima será mantido. Quanto ao
algum tipo de deficiência. De nascença, por acidente, trabalho com o menino autista, foi feito em parceria
doença, idade... – por que deixar que essa parcela impor- com a Universidade de Harvard, nos EUA, e a proposta
tante de leitores de nossas revistas não tenha um perso- era aquela mesmo: um personagem para uma campa-
nagem em quem se espelhar, se identificar? Personagens nha de cunho limitado. Mas nada nos impede de trazer
que, contracenando com outras figuras, sem deficiências, o menininho autista para o bairro do Limoeiro tam-
passarão fórmulas, ensinamentos e conhecimento sobre bém, se sentirmos que sua presença pode ser positiva.
suas situações e de como enfrentam e atravessam barrei-
ras em busca da vida plena, da felicidade, da inclusão. Na sua história pessoal existem casos de convivência
próxima com pessoas com deficiência?
O universo de entretenimento é muito marcado pela figura Com crianças, não. Mas minha mãe, falecida há pouco
de heróis belos, com grandes habilidades físicas e com tempo, sofreu uma queda e viveu muitos anos em cadeira
superpoderes. Sob esse ponto de vista, sua personagem de rodas. Sem mudar a vida e a cabeça. Continuava poe-
não atende aos “requisitos básicos” exigidos pelo mercado. tando, cantando ou esbravejando, quando era o caso.
Nossos personagens, seja andando e correndo, seja em Convivia com a família e com os hábitos da casa normal-
cadeiras de rodas ou não enxergando, jamais serão de- mente... Com a diferença apenas de andar sobre rodas. n
96 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

Tempo de esporte O grande problema, aponta Antônio Menescal, é


A superproteção da família e dos médicos, aliada à que de maneira geral a escola brasileira ainda não conta
falta de instrutores qualificados e de estrutura nas com informações sobre a questão ou com recursos
escolas, está entre as principais razões do Brasil con- humanos capacitados, além do que não está devida-
tar com pequeno número de crianças e adolescentes mente aparelhada. Assim, os alunos com deficiência
com deficiência que praticam esportes. Isto apesar de acabam sendo dispensados das aulas de educação físi-
nos últimos anos ter aumentado significativamente a ca, sendo obrigados a procurar atividades de esporte
quantidade de adultos com deficiência ligados a ati- em entidades específicas: “Isso é muito ruim, porque
vidades esportivas – inclusive àquelas que valorizam é na escola, principalmente na escola pública, que se
o desenvolvimento de atletas com deficiência, como convive com as diferenças”, ressalta. “É isso que prepa-
competições oficiais e as Paraolímpiadas. ra alguém para a vida”.
Diversos educadores sustentam que a maioria das
pessoas com deficiência pode praticar esportes, desde A questão do acesso
que haja preparação, acompanhamento e escolha da Vale destacar que o desafio de democratizar o acesso
modalidade mais adequada aos limites e potencialida- à prática desportiva para pessoas com deficiência se
des de cada caso. A prática esportiva está plenamente estende a diversos outros aspectos – e a imprensa cer-
inserida no ideário de uma educação inclusiva, uma tamente encontrará em todos eles a possibilidade de
vez que abre um novo horizonte de relações sociais, colher nova safra de boas pautas.
promove a auto-estima, auxilia na reabilitação e me- Aqui listamos apenas algumas das perguntas que
lhora o estado de saúde geral. abrem este debate: Os espaços públicos, como praças e
quadras, favorecem a participação de meninos e meni-
Preparação para a vida nas com deficiência? Como os profissionais do setor
“O esporte ajuda a pessoa a perceber que pode conti- do esporte podem ser mobilizados e treinados para
nuar a sua vida, quando ela adquiriu uma deficiência lidar com esse público? Como a família pode colabo-
após alguns anos na escola ou na vida profissional”, rar, incentivando a criança ou adolescente com defi-
comenta Antônio Menescal, Secretário-geral da Asso- ciência a sair do isolamento? O que está faltando para
ciação Brasileira de Desportos para Cegos. Já para as que as pessoas com deficiência participem de eventos
crianças que nascem com uma deficiência, o esporte esportivos promovidos por associações de bairros e
exerce uma função motivacional, ao ativar a mobili- instituições afins? Que preconceitos elas enfrentam ao
dade, a capacidade motora e a socialização. tentar exercer esses direitos?
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 97

Apoiando a inserção no trabalho Acreditando no potencial


Um outro importante aspecto do papel central desem- A Associação Carpe Diem é uma das ONGs que en-
penhado pelo contexto familiar no processo de plena caminham, preparam, acompanham e inserem ado-
inclusão de adolescentes com deficiência está no apoio lescentes com deficiência no mercado de trabalho, a
ao acesso ao setor profissional. O que é necessário para partir de um paradigma inclusivo. Isabel de Francis-
inserir, de maneira adequada, um adolescente com chi, Coordenadora de Empresas da entidade, acredita
deficiência no mercado de trabalho? E como a família que adolescentes e jovens com deficiência podem
pode contribuir nesse movimento? atingir sua independência e autodeterminação. Basta
Especialistas sugerem que, em primeiro lugar, é que recebam os apoios necessários para cada caso,
preciso que os pais reconheçam a importância do tendo oportunidade de descobrir e desenvolver seus
filho ou filha executar uma atividade profissional talentos, para atuar de forma produtiva na sociedade.
com dignidade, já que assim se completa o ciclo da A participação da família é considerada essencial: “A
inclusão. Um segundo passo é investigar o que o ado- melhor atitude dos pais é acreditar no potencial das
lescente deseja fazer, oferecendo oportunidades de pessoas com deficiência, e fazer com que os outros
que conheça o mercado e as ocupações/funções dis- acreditem também”, pondera.
poníveis. A partir daí, é possível desenvolver com ele Quando se fala em trabalho, vale lembrar ainda
um plano de ação mais detalhado – sempre executado que não só a família, mas também os aspectos referen-
com o suporte da família. tes à educação e à saúde estão diretamente associados –
A desinformação leva muitos pais a deixarem de na verdade são inseparáveis. Segundo Isabel, existe
encaminhar seus filhos para capacitação especializa- uma maior facilidade de inserir no mercado pessoas
da, atualmente disponibilizada por diversas organi- com deficiência sensorial e física do que pessoas com
zações não-governamentais. Se quer desempenhar deficiência mental. No caso deste último grupo, costu-
uma atividade profissional efetivamente inclusiva, o ma ocorrer uma defasagem escolar, pois crianças e
adolescente precisa se preparar de forma apropriada. adolescentes de uma era de escolas pré-inclusivas não
Basta saber que embora venha crescendo o número de tiveram a chance de concluir o primeiro e o segundo
empresas brasileiras que abrem espaços em seus qua- graus (donde uma vez mais fica claro o papel central
dros para pessoas com deficiência, elas muitas vezes desempenhado pela educação inclusiva em um pro-
não conseguem preencher as vagas disponiblizadas, cesso amplo de inserção social).
pois terminam se deparando com a falta de qualifica- No momento em que se supera a defasagem es-
ção dos candidatos. colar, a qualificação é realizada por meio de trei-
98 Infância e família no contexto da Deficiência Mídia e Deficiência

namento no ambiente das próprias empresas, num medida do possível, é interessante que ele vá para o
processo de aprendizagem em serviço, já pautado trabalho de ônibus, sem acompanhamento. Quando
pela própria função que o adolescente ou o jovem faltar, é melhor que ele próprio entre em contato
irá desempenhar: “A experiência que temos é muito com a empresa. As questões de férias também devem
positiva”, comenta Isabel. “O problema da qualifica- ser negociadas pelo próprio funcionário”.
ção reclamado pelas empresas não envolve apenas as As empresas costumam contratar pessoas com de-
pessoas com deficiência mental. Praticamente meta- ficiência por um período de três meses de experiência,
de da população brasileira tem problemas de qualifi- com registro em carteira, efetivando ou não a perma-
cação para o mercado de trabalho. Inclusive por que nência do candidato ao final do acordo. O adolescen-
as empresas estão em um processo cada vez maior de te também fica livre para decidir se quer ou não ser
automatização das tarefas e de exigência muito grande contratado por aquela empresa. É importante saber,
de qualificação”, conclui. ainda, que a Medida Provisória no 2.164-39, de 28 de
junho de 2001, permite que pessoas com deficiência
Superando preconceitos trabalhem em tempo parcial, de 4 a 6 horas por dia.
Quando a empresa aprova a contratação, a equipe da Elas têm direito a salários de valor idêntico a de outros
Carpe Diem inicia uma fase de sensibilização dos di- funcionários que ocupem funções similares, receben-
rigentes e dos outros funcionários, diluindo precon- do proporcionalmente às horas trabalhadas.
ceitos e preparando a chegada do novo profissional, Finalmente, ao trabalhar a pauta da inserção do
para que ocorra em um contexto efetivamente inclu- adolescente no mercado profissional, o jornalista deve
sivo. A ONG escolhe um tutor, da própria empresa, estar consciente de que, de modo geral, a sociedade
para fazer o treinamento do novo profissional nas demonstra dificuldades em aceitar a pessoa com de-
funções que terá de executar: “Indicamos também ficiência – e aqui não estamos falando só do jovem,
um mediador, um profissional da própria Carpe mas também dos adultos – em outro papel que não
Diem, que avalia se está havendo um fortalecimento o do filho ou do protegido/dependente. O preconceito
das relações entre o empregado e a empresa”, explica impede que se reconheça ali alguém que protege, gera
Isabel. “O apoio da família é fundamental, mas esta renda, toma decisões (veja mais questões relativas ao
deve colaborar para que o filho seja autônomo. Na mercado de trabalho no próximo capítulo). n
Mídia e Deficiência Infância e família no contexto da Deficiência 99

Entrevista dessas pessoas. Mas, hoje está crescendo a consciência


A força da família de que o que acontece com todas as pessoas – crianças,
Stela de Orleans e Bragança é Diretora da Federação das Asso- desempregados, jovens, idosos – é uma responsabili-
ciações de Síndrome de Down, arquiteta e mãe de dois filhos, uma dade da sociedade. Se existe uma pessoa desemprega-
menina de 15 anos e um garoto de 17. Ao se deparar com proble- da, toda a sociedade precisa amparar e buscar solu-
mas para educar a filha, que tem síndrome do Down, Stela sentiu- ções para esta pessoa. E, na verdade, quando você tem
se provocada a buscar informações, a conscientizar-se e a articular apoio do Estado, garantia de direitos, atendimento de
iniciativas em defesa dos direitos das pessoas com deficiência. saúde, escola com acessibilidade, médicos com conhe-
cimento de fato, professores qualificados, ambiente
Como a família deve promover a inclusão das crianças solidário, o fato de você ter um filhos com deficiência
com deficiência na própria casa? não é um fardo. O fardo é a solidão da mãe, das famí-
A primeira coisa importante é perceber a criança como lias e da própria pessoa com deficiência. O fardo é a
criança, como um ser humano, sem enfatizar a defici- falta de solidariedade.
ência. Eu não tenho em casa um ser com síndrome de
Down, eu tenho uma filha. Obviamente, o amor e o Até que ponto os pais estão informados e conscientes
afeto alimentam uma imagem e uma energia positiva. dos direitos dos seus filhos?
Em segundo lugar, se uma criança sente que faz parte da Eu respondo com um exemplo. Minha filha tem sín-
família e é tratada com respeito, ela se sente incluída. A for- drome do Down. Em 85% do tempo ela fica muito
ma como você apresenta o seu filho em sociedade é quase bem e em 15% ela fica muito mal. Geralmente, os
tudo. Se você apresenta com orgulho, as pessoas começam 15% em que ela fica mal são provocados por fatores
a perceber um outro lado do qual não se davam conta. externos: erro médico, a escola não sabe lidar com um
Além disso, por mais alto que seja o grau de comprome- problema, o professor é despreparado. Ou seja: esses
timento da criança, é preciso ter expectativas. Sem pers- 15% acontecem pela desinformação. Então é abso-
pectiva e sem expectativa não há desafio. E sem desafio lutamente fundamental que os pais se capacitem, se
não existe evolução. O principal elo da vida é a superação, informem, saibam dos seus direitos e dos seus deveres.
a luta para vencer as limitações, as possibilidades abertas. Hoje a escola dá o direito de ingresso a crianças com
deficiência. Mas existe a contrapartida dos deveres. Se
Um filho com deficiência é um fardo para a família? a família está disposta a colocar um filho na escola, ela
Antigamente dominava a idéia de que a deficiência tem de participar de todo o processo e dar apoio para
era um problema de algumas pessoas e dos familiares a criança e para a escola. n
Mercado de
5
Temas mais abordados pela

trabalho e
imprensa brasileira ainda não são
norteados por uma concepção capaz
de promover a plena inserção social
tecnologias das pessoas com deficiência

A desatualização dos jornalistas em relação às temáticas prioritárias para as


pessoas com deficiência impactam também a cobertura sobre os desafios que cercam o Mercado de
Trabalho e sobre as soluções de tecnologia desenvolvidas para assistir diferentes condições de de-
ficiência. Ü Na abordagem de Tecnologias e Recursos, assunto que figura como mais pautado
pelos jornais analisados pela pesquisa Mídia e Deficiência, despontam ainda muitas concepções
inadequadas, no sentido de tentar vender soluções milagrosas ou de conceber a pessoa com defi-
ciência como alguém doente, a exigir sistematicamente cuidados médicos. Ao tratar do tema
Mercado de Trabalho, o segundo mais valorizado, os repórteres e editores pra-
ticamente ignoraram a questão da adaptação do ambiente às pessoas com deficiên-
cia, essencial para a inserção deste segmento da população no campo profissional.
Mercado de Trabalho – espaço de polêmica.Segundo tema central
mais abordado pela mídia impressa brasileira – amostra por Mês Composto,
com Foco Central em Deficiência –, as questões relativas ao Mercado de Traba-
lho tiveram três aspectos em destaque: o acesso ao próprio mercado, o direito ao
trabalho e a integração da pessoa com deficiência ao ambiente de trabalho.
Há como explicar a elevada freqüência desses três enfoques: o Ministério
Público do Trabalho (MPT) vem tendo uma reação enfática no cumprimen-
to da Lei Federal 8.213, de 25 de julho de 1991, que prevê a reserva de vagas
para pessoas com deficiência no Mercado de Trabalho. Apesar de relativa-
mente antiga, só recentemente esta lei passou a ser fiscalizada com rigor pelo
MPT, que hoje tem como meta prioritária a erradicação de qualquer forma
de discriminação contra pessoas com deficiência.
As ações contundentes dos procuradores em todas as regiões do Brasil,
associando o processo de conscientização das empresas sobre a urgência do
cumprimento dessa legislação com o grande risco de punição, geraram po-
lêmica. A isso somou-se ainda o fato de a questão haver sido incorporada como
bandeira de várias entidades governamentais e não-governamentais. As redações
responderam a essa pró-atividade, registram os dados da pesquisa: observando
todos os temas pautados para Mês Composto, sendo Deficiência o Foco Cen-
tral, é possível verificar que o Ministério Público aparece em 6% dos textos.
Esta situação muda de forma acentuada diante do recorte de aspectos relati-
vos ao Mercado de Trabalho. Neste caso, o MPT é citado em 20% das matérias.
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 103

Valorizar a diversidade vilegiado para assegurar a inserção das pessoas com


Há outros fatores bastante positivos a ressaltar: a im- deficiência no campo profissional) ou o primeiro em-
prensa acerta ao apontar, em metade das matérias prego (que, por sinal, deve estar associado a uma qua-
sobre Mercado de Trabalho, a falta de qualificação lificação oferecida pelo empregador). Em troca, de-
como uma das causas de exclusão das pessoas com monstram ainda um desmedido encantamento por
deficiência no setor profissional. Melhor ainda, co- aspectos relacionados a descobertas tecnológicas ou
meça a progredir no sentido de deixar claro que as ao fato de um determinado empresário estar apostan-
mudanças nesse mercado envolvem uma renovação do no cumprimento da lei de cotas.
da mentalidade de empregadores e empregados, in-
trodução de novas técnicas e incorporação de novos Mercado de trabalho*
equipamentos. Mês Dias
Mas, em que pesem os avanços – vários são regis- Composto Especiais
trados também no tratamento editorial de Tecnologia Acesso ao Mercado de Trabalho 55,2% 41,2%
e Recursos, o outro tema abordado no presente capí- Direito ao Trabalho (legislação etc.) 17,2% 29,4%
tulo –, o problema central localizado na maioria dos Integração da Pessoa com Defici- 17,2% 17,6%
enfoques contemplados pela pesquisa Mídia e Defici- ência ao Ambiente de Trabalho
ência infelizmente também volta a se manifestar: o Adaptação do Ambiente às 6,9% -
parâmetro da inclusão não aparece de forma nítida Pessoas com Deficiência
como elemento norteador do jornalista. Dessa manei- Outras questões relativas 3,4% 11,8%
ao Mercado de Trabalho
ra, não raro os textos esquecem de valorizar questões
vitais para uma melhor contextualização do problema – *11,1% das matérias da amostra do Mês Composto e 11,7% daquelas
relativas aos Dias Especiais – em ambos os casos, com Foco Central em
por exemplo, a educação inclusiva (instrumento pri- Deficiência – tinham o Mercado de Trabalho como assunto principal.
104 Mercado de trabalho e tecnologias Mídia e Deficiência

A análise coordenada pela ANDI evidencia, por- República, as mudanças só acontecem a partir de um
tanto, a dificuldade de muitas redações em apreende- amplo processo de sensibilização e conscientização,
rem essa perspectiva mais complexa no que se refere seguido de ações realmente efetivas. Ela defende a
ao debate sobre o Mercado de Trabalho para pessoas adoção de políticas de cotas: “Cabe ao governo elabo-
com deficiência. No momento em que passarem a rar políticas públicas capazes de corrigir as distorções
fazê-lo, estarão dando consistente contribuição para históricas impostas ao grupo de pessoas com defici-
expandir a consciência da sociedade a respeito do que ência. É tão marcante a desigualdade social vivida por
é ser uma pessoa com deficiência no Brasil sob a ótica estas pessoas, que somente por meio de tratamento
da legalidade e da legitimidade. diferenciado tal defasagem pode vir a ser ultrapassada”.

Política de cotas Mercado de trabalho e educação


No cômputo geral da presente pesquisa, 11,1% das ma- Esse debate certamente não deveria ficar excluído da
térias da amostra por Mês Composto que têm Defici- agenda da imprensa. Parece lógico que para evitar
ência como Foco Central tematizam o Mercado de um acesso precoce e sem a qualificação exigida pelo
Trabalho. A maioria delas (cerca de 55,2%) trata da mercado é necessário propiciar formação educacio-
questão do acesso a esse mercado, enfocando as difi- nal que abranja conhecimentos gerais, capacitação
culdades de inserção no ambiente profissional, que cos- técnica e habilidades para a vida. Só que na realidade
tumam decorrer de exclusões presentes desde cedo nas brasileira não são apenas as pessoas com deficiência
trajetórias de vida de pessoas com deficiência – princi- que têm dificuldade para ingressar no mercado de tra-
palmente a exclusão dos processos educacionais. Essa balho em função da escolaridade precária – a maioria
impressão se coaduna com o fato de 50% das matérias da população se encontra hoje privada de condições
que abordam Mercado de Trabalho citarem a falta de educacionais e profissionalizantes mínimas para ser
qualificação como causa dificultadora dessa inserção. adequadamente absorvida.
Há no País uma acirrada discussão sobre a questão Portanto, quando se trata de um indivíduo com de-
da política de cotas como medida capaz de garantir o ficiência, esta situação tende apenas a se acentuar. Na
ingresso das pessoas com deficiência ao Mercado de área da educação, como vimos, seu acesso aos sistemas
Trabalho. Para Izabel Maior, Coordenadora Geral da de ensino continua sendo negado sob a alegação de
Corde – Coordenadoria Nacional para Integração da que “não estamos preparados para recebê-lo”, proble-
Pessoa Portadora de Deficiência, órgão ligado à Secre- ma que não ocorre com uma criança sem deficiência
taria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da de camadas populares.
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 105

Se o Estado, ente responsável pela promoção do de- conforme leva a crer o senso comum. “Não há como
senvolvimento do cidadão, não garantiu as justas con- falar em igualdade de oportunidade se você não es-
dições de acesso à educação e qualificação profissional tabelece determinados mecanismos de proteção. De
para crianças, adolescentes e jovens com deficiência, outra maneira como é que essas pessoas poderiam
soa razoável que, em algum momento, se recorra ser empregadas? Se o governo federal não fosse lá im-
à implementação de políticas públicas afirmativas, pondo ou tentando dialogar, elas não teriam oportu-
voltadas para o fortalecimento de suas possibilidades nidade”, justifica Manuel Veras, Técnico do Programa
de inserção no mercado. Esta circunstância social Brasil, Gênero e Raça de Combate à Discriminação
fundamenta a necessidade de correlação constante, no nas Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho.
âmbito do debate público, entre aspectos relativos ao Por meio de programas de qualificação profissional
Mercado de Trabalho e aos de Educação. e educacional, o Ministério do Trabalho, em parceria
Mesmo que o próprio conceito de cotas seja visto com empresas, já inseriu diretamente mais de 30 mil
como polêmico, quando os meios de comunicação pessoas com deficiência no mercado de trabalho desde
tratam a questão do desemprego a partir dessa pers- 2000. “Não é um número grande”, declara Veras, “mas
pectiva, a reflexão sobre a inclusão passa a ser melhor esse é um esforço que está quebrando um paradig-
contextualizada e a equiparação de oportunidades ma da sociedade e conscientizando as empresas da im-
deixa de ser encarada como um privilégio ou benesse, portância de sua participação nesse processo”, conclui.

Causas apresentadas × Mercado de Trabalho*


Falta de Falta de Exclusão Falta de Outras
informação qualificação social acessibilidade
profissional
Direito ao trabalho (legislação etc.) – – 33,3% 33,3% 33,3%
Acesso ao Mercado de Trabalho – 50,0% 50,0% – –
Integração da pessoa com deficiência 100,0% – – – –
ao ambiente de trabalho
Adaptação do ambiente às pessoas – – – 100,0% –
com deficiência
Outras questões relativas ao – – – – 100,0%
Mercado de Trabalho
*Nos 11,1% das matérias do Mês Composto, com Foco Central em Deficiência, em que Mercado de Trabalho é o tema principal.
106 Mercado de trabalho e tecnologias Mídia e Deficiência

Interpretação equivocada Para ampliar perspectivas


A Lei 8.213, de 25 de julho de 1991, prevê a reserva de De maneira geral, a imprensa também não tem se preo-
2% a 5% dos cargos em empresas com mais de 100 cupado em levar o público a refletir sobre o fato de que
empregados para beneficiários reabilitados ou pes- o cumprimento das leis não é garantia de mudança de
soas com deficiência habilitadas. Porém vale voltar a mentalidade. Não se trata de exigir um veredito sumá-
apontar que o cumprimento dessa lei não é garantia rio contra ou a favor das políticas públicas inspiradas
de que o mercado de trabalho se torne efetivamen- em cotas, mas de esperar que a mídia desenvolva maté-
te inclusivo. Um dos pontos problemáticos é que a rias com enfoques mais aprofundados e diversificados,
sociedade acaba tendo o entendimento de que por que contribuam para uma reflexão sobre a efetividade
meio dela todas as pessoas com deficiência estarão de direitos sociais conquistados no campo da legislação.
automaticamente contratadas. Na verdade, as esta- Em uma perspectiva mais ampla, como temos per-
tísticas demonstram que, mesmo se cada uma das cebido ao longo destas páginas, a inserção das pessoas
empresas do País se esforçasse para cumprir sua com deficiência no campo profissional depende de
cota, apenas 2% dos 9 milhões de pessoas com defi- melhores condições de educação, capacitação e sen-
ciência conseguiriam emprego. sibilização. Tais medidas reduziriam a distância entre
Nas empresas governamentais, o cumprimento estas pessoas e o Mercado de Trabalho.
de uma outra Lei, a de n o 8.112, de 11 de dezembro Nesse sentido, teria sido extremamente útil à co-
de 1990, que prevê reserva de vagas para pessoas munidade discutir, com o apoio das redações, as novas
com deficiência em concursos públicos, também relações de trabalho após o cumprimento da Lei 8.213.
tem sido objeto de pressão por parte do Ministério Ao contrário, quase sempre o jornalista considerou
Público do Trabalho. Para Izabel Maior, é preciso como pauta o simples cumprimento da lei de cotas
lembrar que devido às dificuldades encontradas, do ponto de vista estritamente formal, ignorando as
as pessoas com deficiência acabam tendo um nível conseqüências diretas dessa inserção no cotidiano de
de escolaridade mais baixo do que as pessoas que todos os envolvidos no processo.
não são deficientes: “Por isso, a política de cotas
deve ser acompanhada de ações integradas que ga- Valorizar a diversidade
rantam o acesso de pessoas com deficiência à esco- Na prática, os ajustes por parte dos empresários vi-
la”, explica (veja mais informações sobre os aspectos sando a acessibilidade em suas diversas formas nem
da legislação relativa ao Mercado de Trabalho no sempre ultrapassam os limites da integração, pois não
quadro da página 107). chegam a contemplar todos os quesitos de acessibi-
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 107

As conquistas do Decreto no 3.298

Extraído do estudo realizado pela ONG Escola de Gente 5%, o que permitia composições mínimas que nem
a pedido do Banco Mundial poderiam ser consideradas como reserva de vagas.
A Constituição Brasileira assegura que é dever do O Decreto no 3.298 também alterou o sistema
Estado zelar pelo exercício dos direitos de todas de ingresso de pessoas com deficiência que passa-
as pessoas, incluindo aquelas com deficiência. A vam em concursos públicos. Antes, tais indivíduos
legislação ordinária e complementar, por sua vez, eram obrigados a fazer um exame médico antes
organiza esse compromisso e, em muitos casos, mesmo de um estágio probatório que avaliasse
cabe aos decretos conferir-lhes o detalhamento ne- sua compatibilidade com a função que exerceria.
cessário para que saiam do mundo jurídico e sejam Hoje, só após ser aprovada nesse estágio é que uma
incorporadas ao dia-a-dia da população. pessoa com deficiência passa por uma avaliação
A importância do Decreto no 3.298, de 20 de médica específica que – se espera – terá o objeti-
dezembro de 1999, é a de regulamentar as três prin- vo apenas de indicar de quais apoios (recursos)
cipais leis brasileiras diretamente relacionadas ao o novo funcionário precisará para dar conta das
tema das pessoas com deficiência: funções que, durante o estágio, demonstrar ter
Lei no 7.853, de 29 de outubro de 1989 – Ex- condições de exercer.
plicitou a responsabilidade do poder público em Lei Federal no 8.213, de 25 de julho de 1991 –
relação à pessoa com deficiência e conferiu ao Prevê que empresas com mais de 100 empregados
Ministério Público atribuições para atuar em casos devem reservar de 2% a 5% de seus cargos para
de discriminação com base na deficiência, prevendo pessoas com deficiências física, mental, sensorial
punição. Trata especificamente dos direitos da pessoa ou múltipla habilitadas, e também pessoas reabi-
com deficiência à saúde, à educação e ao trabalho. litadas, na seguinte proporção: a partir de 100 até
Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990 – Prevê 200 empregados (2%); de 201 a 500 (3%); de 501 a
reserva de vagas para pessoas com deficiência em 1000 (4%); de 1001 em diante (5%). Dispõe sobre os
concursos públicos. Ao regulamentá-la, o Decreto Planos de Benefícios da Previdência e ainda sobre
no 3.298 corrigiu equívocos de Leis Municipais e as possibilidades de dispensa de um trabalhador re-
Estaduais que se referiam a uma reserva que ia até abilitado ou de pessoa com deficiência habilitada.
108 Mercado de trabalho e tecnologias Mídia e Deficiência

Em resumo, o Decreto no 3.298: como horário diferenciado e tecnologias assisti-


• Define o que é Deficiência para fins de legislação vas, entre elas ledores e apoios humanos (como
brasileira, contrapondo este conceito ao de in- exemplo de apoio humano é possível citar um
capacidade; acompanhante que não atue apenas no ambien-
• Dispõe sobre a Política Nacional para a Integra- te de trabalho, mas também em ações diárias en-
ção da Pessoa Portadora de Deficiência, definindo volvendo alimentação e higiene íntima, sempre
quais deficiências devem gerar proteção jurídica; com todos os direitos assegurados. Para alguns
• Estabelece diretrizes nas áreas de saúde, educa- membros do MP, a questão de apoios humanos
ção, habilitação, reabilitação profissional, traba- é controvertida. Por exemplo: se a empresa ou
lho, cultura, desporto, turismo, lazer, capacitação órgão público que paga este apoio humano exigir
de profissionais especializados e acessibilidade; alguém contratado ou concursado, a pessoa com
• Prevê formas de participação de pessoas com de- deficiência se verá obrigada a ter como acompa-
ficiência no Mercado de Trabalho, entre elas a in- nhante alguém estranho. Há propostas em an-
serção competitiva, que diz respeito às cotas, e a damento sugerindo que seja prevista em lei uma
inserção seletiva. Esta última se refere a situações ajuda de custos especial, como o auxílio-creche,
em que pessoas com deficiência severa necessi- para que o ajudante não precise ser mais empre-
tam de um procedimento especial no trabalho, gado da empresa ou servidor público). n

lidade. Estes incluem mudanças amplas nas posturas pelo fato de modificar as formas de comunicação, de
por parte dos empregadores e empregados, além de sinalização e de avaliação, entre outras fundamentais
recursos como equipamentos e procedimentos relati- no contexto do sistema empresarial, dissemina uma
vos à linha de trabalho ou ajudas técnicas específicas inusitada cultura de valorização da diversidade...
(instrução em braile, software leitor de tela, intérprete Se considerarmos a cobertura analisada na pesquisa,
de língua de sinais brasileira etc.). a resposta para essa pergunta é que os empregadores
Faz sentido então perguntar: quantas empresas que continuam muito reticentes a modificarem suas políti-
hoje empregam funcionários com deficiência se em- cas de forma a promover uma inserção com qualidade
penham em lhes propiciar um ambiente de acessibili- de funcionários com deficiência. Basta nos referenciar-
dade irrestrita? Uma acessibilidade que, vale destacar, mos ao insignificante índice alcançado nas reportagens
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 109

pelos aspectos relativos à adaptação do ambiente. Con- Uma leitura pouco crítica da tecnologia
forme evidencia a tabela da página 103, na amostragem Tecnologia e Recursos, assunto que mais mobilizou
por Mês Composto, como Foco Central em Deficiência, a mídia brasileira no que se refere à Deficiência, tem
o percentual foi de 6,9. Já nos Dias Especiais a questão uma relação direta com acessibilidade, embora para
foi simplesmente ignorada pela mídia. a maioria dos jornalistas, equivocadamente, este con-
ceito se restrinja apenas a questões arquitetônicas, de
Temas mais abordados* edificação ou urbanísticas, como rampas em calçadas
Mês Dias e banheiros adaptados (veja mais sobre o assunto na
Composto Especiais página 24). E mesmo sob a ótica dessa abordagem
Tecnologia e Recursos 19,5% 8,3% minimalista de acessibilidade, alguns paradigmas per-
Mercado de Trabalho 11,1% 11,7% manecem distantes do interesse e do conhecimento dos
Educação 9,2% 9,7% profissionais da imprensa. Um deles é o conceito de de-
Um tipo de deficiência 8,4% 3,4% senho universal, que se consolida na certeza de que um
Esportes 7,6% 4,8% espaço só pode ser realmente útil quando permitir con-
Preconceitos (discriminação) 6,9% 0,7% forto para qualquer pessoa, com ou sem deficiência.
Acessibilidade 6,5% 11,0% Temáticas associadas à Tecnologia e Recursos figu-
Questões da sociedade civil 5,7% 6,9% ram em nada desprezíveis 19,5% das reportagens da
Política pública específica 5,0% 9,0% amostra por Mês Composto, quando o Foco Central
Artes 5,0% 11,0% foi Deficiência. Vale notar que enquanto as novas
Causas da deficiência 3,1% 0,7% tecnologias são abordadas em 33,3% das matérias, os
Problemas enfrentados (família) 1,9% 0,7% textos jornalísticos sobre reabilitação recebem o me-
Questões do setor privado 1,5% 0,7% nor índice do conjunto estudado: 2,0% (veja tabela na
Deficiência em geral 1,5% 2,1% página 110).
Outros espaços sociais 1,5% 2,8%
Soluções para a deficiência 1,1% 1,4% O caminho mais cômodo
Violência 1,1% – É compreensível o interesse da mídia por novas tec-
Família 1,1% 1,4% nologias, pois ele parece ser comum em qualquer
Conseqüências da deficiência 0,8% – área, principalmente quando a veiculação da notícia
Acidentes 0,8% 2,1% não tem compromisso com uma abordagem mais
Outros 0,8% 5,5% complexa da temática.
*Deficiência como Foco Central
110 Mercado de trabalho e tecnologias Mídia e Deficiência

• Não instiga o jornalista a rever sua tendência em con-


Abordagem do tema Tecnologia e Recursos*
siderar pessoas com deficiência como um bloco ho-
Mês Dias
mogêneo de seres humanos que abdicam de diversos
Composto Especiais
aspectos de sua individualidade ou de suas escolhas
Novas tecnologias a serviço 33,3% 16,7%
de pessoas com deficiência profissionais, pessoais, civis, políticas, entre outras.
Tratamentos e terapias 19,6% 41,7%
Sonho distante
Equipamentos e suportes 13,7% –
Por outro lado, duas questões essenciais não foram
especiais
pontuadas pelos jornalistas na maioria das matérias
Diagnósticos precoces 9,8% 16,7%
estudadas:
Braile 9,8% 25,0%
• O fato de muitas das tecnologias divulgadas serem
Cão-guia 3,9% –
indisponíveis no mercado brasileiro ou inacessíveis
Diagnósticos 3,9% – financeiramente para a maioria da população.
Reabilitação 2,0% – • A importância do uso individualizado das tecnologias,
Outros 3,9% – ou seja, uma cadeira de rodas altamente sofisticada não
* Os percentuais desta tabela se referem às matérias com Deficiência tem uma mesma utilidade para diferentes pessoas.
como Foco Central cuja temática principal foi Tecnologia e Recursos.

Aqui é possível retomar o tema da reabilitação como


No caso da Deficiência, a superficialidade desse contraponto. Chama a atenção, no contexto desse tipo de
tipo de enfoque se torna mais cômoda pelas seguin- cobertura, o fato de que necessariamente o profissional
tes razões: de imprensa irá defrontar-se com um cenário conceitual
• Vende ou tende a vender uma solução milagrosa bastante complexo – o que pode justificar o pouco en-
para uma situação que a sociedade considera um tusiasmo com que acaba investindo em tal direção.
problema. A questão da reabilitação exigirá quase sempre que
• Vai ao encontro do senso comum, que vê a pessoa seja aberto espaço para discussões que envolvem a
com deficiência como alguém doente e que precisa reinserção do profissional com deficiência no Mer-
apenas e sistematicamente de cuidados médicos e cado de Trabalho, a definição de políticas públicas
auxílios. de maior alcance, a legislação do setor e a eficácia das
• Não exige do repórter ou editor uma reflexão de terapias e tratamentos utilizados no Brasil. Ou seja,
cunho ideológico sobre o tema. leva o jornalista a investir num processo de apuração
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 111

detalhada, comprometida com uma visão mais preci- isso o ideal é que esses equipamentos – e os demais objetos
sa do universo da Deficiência. de uso dessas pessoas – sejam, todos, individualizados.
É fundamental destacar, contudo, que o compor-
tamento arredio da imprensa diante destes enfoques Inovações e acessibilidade
mais abrangentes parece combinar com o incipiente Além de fazer perguntas que desloquem o foco do des-
trabalho preventivo na área de atenção primária à lumbramento acrítico diante das novidades rumo a
saúde desenvolvido em nosso País. questões de real interesse dos cidadãos, é urgente que
o jornalista assuma uma postura mais curiosa e aberta
Tempo de inovação a todo um campo de inovações tecnológicas de grande
Para se evitar equívocos e abordagens limitadas, como as relevância social. Mesmo porque durante o século XX
mencionadas há pouco, é imprescindível que o jornalis- nem sempre a tecnologia esteve a serviço de ideais e
ta analise com mais cuidado as notícias sobre Tecno- necessidades humanistas.
logia e Recursos antes de divulgá-las, verificando a real Faz sentido o interesse por conceitos desafiadores,
utilidade do aparato para a população brasileira com que estimulam leituras diferenciadas no campo da
deficiência. E, neste sentido, seria interessante que ele comunicação, da locomoção, da tecnologia ou da in-
submetesse as novidades tecnológicas ao crivo crítico formática, entre outras. A discussão sobre Tecnologia e
de algumas indagações simples e essenciais para a ava- Recursos é complexa e está potencializada no momen-
liação de sua pertinência e de seu alcance social: to, uma vez que avanço tecnológico não significa, ne-
• Qual seu custo? cessariamente, mais acessibilidade. Por exemplo: mui-
• Está disponível? Caso não, quando estará? tos caixas automáticos de bancos, à medida que foram
• Tem condições de ser inserida numa proposta de desenvolvendo mecanismos de segurança para seus
política pública? usuários, começaram de imediato a perder sua utili-
• Quais os critérios para ser utilizada? dade para milhares de brasileiros cegos – isto porque as
• Quem realmente poderá se beneficiar dela? perguntas feitas por escrito deixaram de ser as mesmas
a cada saque ou consulta, além dos casos em que tam-
Um bom exemplo da relevância destas questões: o bém o lugar das letras se altera no teclado virtual.
programa do Sistema Único de Saúde destina equipa-
mentos a pessoas com deficiência mediante prescrição Criatividade é solução
médica – só que a cadeira de rodas costuma ser tipo pa- Por outro lado, refletir sobre Tecnologia e Recursos
drão, não-adequada às medidas pessoais do usuário. Por implica entender mais sobre a chamada “tecnologia
112 Mercado de trabalho e tecnologias Mídia e Deficiência

assistiva”. O objetivo dessa tecnologia é facilitar ou acaba reforçando o senso comum, falacioso, de que é
possibilitar a pessoas com deficiência não só qualida- sempre caro equiparar oportunidades entre pessoas
de de vida, mas também de acesso a processos e bens com e sem deficiência.
já utilizados pela comunidade. Nesse contexto, é pos-
sível encontrar exemplos, igualmente relevantes, tanto No setor da comunicação
de baixa quanto de alta tecnologia. Outro tema propício a uma abordagem multifacetada
No campo da alta tecnologia assistiva, vale citar se refere às possibilidades de comunicação oferecidas
que são criadas incessantemente sofisticadas adap- pela internet. É lei, mas raros são os sites no Brasil
tações de hardware (órteses) e de software buscando com acessibilidade para navegação, sem limites, dos
adequar os acionadores naturais do computador, softwares de voz. Mesmo as empresas e organizações
como o teclado, o mouse e o microfone. Porém uma da sociedade civil atentas a garantir esse tipo de aces-
boa reportagem não deveria esquecer de destacar que sibilidade às informações que divulgam podem, sem
tais órteses só funcionarão se responderem à realidade querer, interromper esta acessibilidade: basta grifar
de cada usuário, levando em consideração suas limita- o texto. É assim que um hábito banal, executado sem
ções físicas, sensoriais, mentais ou múltiplas. qualquer premeditação, prejudica alguém com defi-
Ao mesmo tempo, muita gente não sabe que uma ciência. Os sites dos próprios jornais se tornam mais
pessoa com paralisia cerebral impossibilitada de ter ou menos lidos em função da forma como foram
acesso a um adaptador capaz de lhe ajudar a manter construídos. Quanto menos links, melhor navegação
o lápis firme na mão pode amarrá-lo ao dedo com a para softwares de voz. Produtos digitais devem ser
ajuda de uma fita crepe. Esse é um ótimo exemplo de destinados a todos, todos mesmo, caso contrário sua
baixa tecnologia assistiva. Outros materiais bastante uti- utilidade fica comprometida
lizados – e também muito eficientes – são sucatas, Mas existem também situações em que o problema
embalagens, papelão, barbante, espuma, compensa- não é de inadequação da abordagem, mas de desa-
do, sementes... tenção para com questões de alta relevância para o
Diante de tal cenário, parece lógico que, sem des- processo inclusivo. É o caso, por exemplo, da discussão
merecer a importância da tecnologia de ponta, se en- calorosa entre as pessoas surdas em relação ao uso e a
fatize para a sociedade que grande parte das soluções utilidade da tecla closed caption na televisão, polêmica
de interesse das pessoas com deficiência são simples que ainda não interessou à mídia. Esta tecla possibilita
e baratas. Essas últimas, infelizmente, não costumam ao telespectador acompanhar o texto falado por meio
mobilizar com freqüência o interesse da mídia – o que de legendas em português que correm na tela. Embora
Mídia e Deficiência Mercado de trabalho e tecnologias 113

poucos sejam os programas que ofereçam este serviço, dor em casa e apenas 8,31% à internet. Pela imprensa,
é sistemática a troca de argumentos sobre o tema entre ficou-se sabendo que este Mapa fornece muitas infor-
surdos oralizados, ou seja, que falam o português (a mações relacionando a informática ao gênero, à raça, à
favor da closed caption), e não-oralizados (com muitas região do País, à idade, aos anos de estudo etc. Faltou
ressalvas ao valor exagerado que se dá a presença dessa deixar claro – e aí fica nítido o descompromisso da mí-
tecla como a “grande solução” para os problemas que dia em relação ao tema – quantos desses computadores
enfrentam na área da acessibilidade na comunicação). estão sendo utilizados por pessoas com deficiência.
Estes últimos defendem que a closed caption não Tudo indica que os jornalistas não apuraram essa
substitui a presença de um tradutor da língua de si- informação. Mas pode ser que a pergunta tenha sido
nais brasileira (Libras) na tela, porque a maioria das formulada, sem que a própria FGV a respondesse de
pessoas surdas no Brasil não entende o português forma adequada – o que já seria, por si só, uma pauta
escrito, pelo menos na velocidade habitual da legen- bem interessante... (vale saber que, em outubro do
da. São questões interessantes do processo inclusivo mesmo ano, no estudo Retratos da Deficiência no Bra-
que, entretanto, parecem estar acontecendo em uma sil, a FGV e a FBB divulgaram: apenas 6,5% dos 14,5
dimensão não percebida pelos jornalistas. millhões de brasileiros com deficiência têm acesso a
um computador, proporção bem inferior àquela cons-
Visão crítica dos números tatada entre a população em geral).
A qualidade das matérias sobre Deficiência também se De qualquer maneira, não faltam argumentos para
acentuará à medida que o jornalista passar a assumir que a imprensa considere importante uma indagação
uma visão mais crítica ao se deparar com números e dessa natureza. Citaremos aqui dois deles:
pesquisas referentes à Tecnologia e Recursos – e a qual- • O acesso à informática está diretamente relaciona-
quer outro assunto. É importante valorizar as pesquisas do ao acesso à educação – e um dos mais freqüentes
e os resultados acadêmicos, mas contextualizando-os e, argumentos utilizados pelos empresários para não
principalmente, entrevistando fontes diversas e de po- empregar adultos com deficiência é sua baixa esco-
sições antagônicas. Qual é a eficácia de cada um destes laridade e/ou sua não-qualificação profissional.
trabalhos para a população com e sem deficiência? • A divulgação sistemática de soluções simples e com-
Em abril de 2003, por exemplo, a Fundação Getúlio plexas, de baixo e de alto custos, capazes de prover
Vargas divulgou os dados referentes ao que chamou de acessibilidade às pessoas com deficiência, irá trazer
Mapa da Exclusão Digital. Nele, está consignado que mais qualidade para todos os cidadãos, porque so-
12,46% da população brasileira têm acesso a computa- mos partes indispensáveis da mesma nação. n
A agenda da sociedade brasileira tem
Deficiência
6
ignorado uma temática de grande
urgência: a correlação entre Deficiência
e fatores econômicos e sociais.
não é doença O mesmo desconhecimento atinge
também a maioria das redações.

Estatísticas da Organização das Nações Unidas revelam que existem apro-


ximadamente 500 milhões de pessoas com deficiência no mundo. Segundo o Censo de
2000, realizado pelo IBGE, 14,5% da população brasileira – ou cerca de 24,5 milhões de
pessoas – possuem algum tipo de deficiência. Por sua vez, a OMS – Organização Mundial
de Saúde aponta que os países em desenvolvimento abrigam um número 10 vezes maior de
crianças e adolescentes com deficiência do que aqueles desenvolvidos. Ü Uma outra pes-
quisa realizada pela OMS conclui que mais de metade dos casos de deficiência poderiam
ser evitados com políticas públicas de saúde. No Brasil, contudo, mesmo se houvesse fir-
me determinação por parte do governo federal, estas políticas esbarrariam em um empe-
cilho imediato: a ausência de dados precisos sobre as causas das deficiências… Ü É neste
contexto, em que muitas vezes a dimensão social do problema se encontra so-
terrada pela desinformação e por uma abordagem hostil à perspectiva dos di-
reitos, que a imprensa necessita exercitar uma participação mais crítica e efetiva.
Causas e Conseqüências. No imaginário popular, a Deficiência não
raro é vista como tendo entre suas causas um lance de dados do acaso, as
determinações do destino ou algum insondável desígnio divino. Mas esta
impressão se desfaz rapidamente no confronto com as estatísticas, que ex-
põem um quadro revelador da estreita correlação entre Deficiência e condi-
ção econômica e social.
Qual o segredo para a significativa diferença entre o panorama de um país
desenvolvido e o de um em desenvolvimento? Essencialmente, a ausência
da miséria e as políticas públicas específicas adotadas. Assim, não há espaço
para a subnutrição, ao mesmo tempo que uma medicina avançada assiste os
casos em que é possível evitar a geração de fetos com deficiência. Além disso,
as instituições realizam uma melhor prevenção a acidentes de trabalho e de
trânsito, à violência e a traumas em geral, situações responsáveis por um
grande número de pessoas com deficiência.
As estimativas da OMS, de que mais da metade dos casos de deficiência
poderiam ser evitados, devem ser consideradas alarmantes. No panorama mun-
dial mapeado em 1995, destacam-se como evitáveis os transtornos congênitos
e perinatais, que muitas vezes ocorrem em conseqüência da falta de exame pré-
natal (16,6%); as enfermidades transmissíveis (16,8%); as enfermidades crôni-
co-degenerativas (21%) e a desnutrição (11%); além das alterações de ordem
psicológica (6,6%) e do alcoolismo e abuso de drogas (10,0%). A esses fatores,
somam-se ainda as causas externas, como os diversos tipos de acidentes (18%).
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 117

Definindo a Deficiência: saúde x direitos experiências de inclusividade exigem uma permanente


Ao adentrarmos, porém, em um processo mais detalha- interface entre essas áreas. É deste tipo de contexto, por-
do das causas e soluções relativas ao universo da Defici- tanto, que deriva a necessidade de abordar-se o debate
ência, é importante estar atento a alguns conceitos ba- público sobre a temática da Deficiência a partir da ótica
lizadores, sob risco de resvalar-se para uma abordagem dos Direitos Humanos e da plena inclusão social.
discriminadora. A rigor, do ponto de vista estritamente
técnico da medicina, é possível designar uma deficiência Ausência de estatísticas
como uma doença, numa acepção especializada. Mas Não existem estatísticas precisas sobre as causas da
não é recomendável que o procedimento se estenda Deficiência no Brasil. Esta ausência de dados é, em si
para ao universo cotidiano das pessoas leigas, pois mesma, um indício da desatenção sobre o tema en-
essa abordagem confina a questão da Deficiência ao quanto alvo de políticas públicas. O que há são núme-
campo médico, alimentando a falsa expectativa de que ros parciais sobre alguns aspectos do problema. Sabe-
ela pode ser curada e, ao mesmo tempo, bloqueando o se, por exemplo, que para cada morte que ocorre no
acesso a uma série de outras possibilidades de interação trânsito três outras pessoas desenvolvem deficiências
social. Por exemplo: no plano do senso comum, uma como mutilação, paraplegia, tetraplegia ou de cunho
criança ou adolescente “doente” não deveria estudar. visual. Ou que pesquisa da Dataprev, realizada no
Embora vários tipos de deficiências decorram de do- ano de 2000, registrou 344 mil casos de acidentes de
enças genéticas, a Deficiência não é, em si mesma, uma trabalho. Por outro lado, não se tem idéia precisa sobre
doença; é uma condição de singularidade. Esta “restrição” as seqüelas deixadas por acidentes típicos do público in-
ou “perda” de habilidades não impede uma criança ou fanto-juvenil: pulos em piscinas, cachoeiras e lagoas, que
adolescente de desenvolver suas potencialidades nas áre- provocam com freqüência a fratura da coluna; explosões
as da educação, do trabalho ou da saúde. Pelo contrário: de fogos de artifício ou quedas de bicicletas e de patins.
118 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Mesmo sem contar com uma radiografia ampla O método usado pelo IBGE suscitou questiona-
da situação, os dados disponíveis são suficientes para mentos, tendo sido inclusive alvo da crítica de que
perceber que as causas da deficiência deveriam ser tra- estaria inflacionando as estatísticas da Deficiência,
tadas como urgente problema nacional. O pesquisador ao adotar critérios tão abrangentes. Para o sociólogo
Marcelo Neri, um dos responsáveis pelo livro Retratos Marcelo Medeiros, pesquisador do IPEA – Instituto de
da Deficiência no Brasil – resultado de parceria entre a Pesquisas Econômicas Aplicadas, no entanto, o Censo
Fundação Banco do Brasil e a Fundação Getúlio Vargas 2000 representa um grande avanço para a luta das
que também integra a coleção Diversidade, da FBB – pessoas com deficiência, do ponto de vista político-
afirma que só será possível reduzir os elevados índices de social: “Seu grande mérito foi ter abandonado a visão
pessoas com deficiência em nossa população investindo da Deficiência apenas como defeitos clínicos”, afirma.
em políticas de prevenção de acidentes, de segurança e de Ele usa um exemplo: no censo de 1991, uma pessoa que
saúde (como as de combate às carências nutricionais e de apresentasse enormes dificuldades para subir escadas
diagnóstico precoce): “Elas atingem um nível de preven- só seria considerada como tendo uma deficiência se
ção primário, uma vez que impedem que o processo da estivesse com uma muleta ou cadeira de rodas. “Um
doença ou acidente se tornem estabelecidos, ao eliminar caso de artrose gravíssima não apareceria nas estatísti-
as causas ou aumentar a resistência ao evento”, explica. cas, a menos que usasse um desses aparelhos”, observa.
Sob esse aspecto, portanto, não se poderia dizer que
A base de dados do IBGE a metodologia do censo 2000 teria inflacionado a
O estudo coordenado pela Fundação Getúlio Vargas, quantidade de pessoas com deficiência que vivem no
cujas principais conclusões estão sumarizadas em qua- Brasil. “O número aumentou de 1,8% para 14,5% da
dro na página 120, enfrentou um desafio técnico impor- população principalmente porque o conceito de de-
tante: os conceitos relativos às deficiências utilizados pelo ficiência era subestimado”, defende. Para o sociólogo,
IBGE são mais abrangentes do que os até então aplicados tal metodologia segue a tendência mundial da não-
no País. Com isso, o Censo acabou incorporando, em separação entre lesão e dificuldade, importantíssima
suas estatísticas, dados não só de pessoas com limitações para a elaboração de políticas públicas eficazes para as
derivadas diretamente de uma condição de Deficiência, pessoas com deficiência.
mas também daquelas que na época da entrevista com o
recenseador lutavam com alguma dificuldade específica, Do individual ao social
mesmo que de ordem temporária – como as relacionadas A avaliação de Débora Diniz, doutora em Antropo-
a caminhar ou a subir escadas, por exemplo. logia, consultora do PNUD – Programa das Nações
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 119

Unidas para o Desenvolvimento e diretora da ONG


Origem das estatísticas*
Anis, ratifica a opinião de Marcelo Medeiros. Além
Mês Dias
de reconhecer no método adotado pelo Censo do Composto Especiais
IBGE uma iniciativa inovadora, Débora acredita que Organismos Internacionais 3,8% 2,1%
ele referenda um novo modelo da Deficiência. “Uma (ONU, PNUD etc)
das grandes novidades do movimento de inclusão Institutos de Pesquisas 3,8% 4,8%
foi a de inserir os idosos no debate. Com isso, des- Governamentais
cobrimos que todos nós, potencialmente, somos de- ONGs 0,8% 0,7%
ficientes, pois ao envelhecermos conheceremos uma Secretarias Municipais 0,4% 0,7%
série de limitações. Até então, o Censo tinha como de Saúde/Educação
parâmetro somente os modelos médicos”, explica. Universidades 0,4% 0,7%
Para a pesquisadora, o novo Censo vem na esteira Especialis tas e pesquisadores 0,4% -
dos avanços na abordagem da Deficiência em plano da área
internacional, apresentando a questão como um Entidades privadas 0,4% 0,7%
problema social, e não de ordem pessoal. “Quando Secretarias Estaduais - 0,7%
se constrói uma rampa, esta medida não beneficia de Saúde/Educação
somente as pessoas com deficiência, mas também os Outra 2,7% 2,1%
idosos, as mulheres grávidas ou outras pessoas que Não foi possível identificar 3,4% 6,9%
tenham uma incapacidade circunstancial”, argumen- Não cita estatísticas 84,7% 82,8%
ta Débora Diniz. * Deficiência como Foco Central. Em respostas múltiplas, a soma dos
No sentido de traçar um quadro mais definido da percentuais pode acumular mais de 100%.

relevância do Censo 2000, não se deve esquecer ainda A ausência de uma maior diversidade de estudos quantitativos sobre a
realidade das pessoas com deficiência no Brasil se reflete no fato de que em
que o questionário aplicado pelo IBGE foi resultado mais de 80% das matérias analisadas no contexto da pesquisa coordenada
de um esforço concentrado, junto ao governo federal, pela ANDI, sendo ou não Deficiência o Foco Central, inexiste citação de
estatísticas – ou que quando elas apareçam, não costumem trazer a
por parte das organizações que militam na área. Os identificação do tipo ou da origem dos dados. Essa atitude da imprensa não
custos de pesquisas de campo de tal abrangência são foi verificada em pesquisas anteriores realizadas pela ANDI e seus parceiros
com relação a diversos outros temas.
muito elevados e, por isso a significativa ampliação do Os dados da análise apontam ainda que as principais fontes de estatísticas
espaço ocupado pelo tema Deficiência na pauta do consultadas são os institutos de pesquisas governamentais, que se igualam,
em freqüência, aos organismos internacionais na amostra de Mês Composto
censo é vista como um importante avanço em termos em que o Foco Central é a Deficiência. No entanto, em quase 90% dessas
de políticas públicas nacionais. matérias o jornalista não compara os indicadores mencionados.
120 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Panorama da Deficiência no Brasil

Os números do Censo 2000 do IBGE apontaram O estudo constatou ainda que a idade média das
para um total de 24,5 milhões de brasileiros com pessoas com deficiência é de 46,4 anos, enquanto a
algum tipo de Deficiência. Foi baseado nos mi- da população total do Brasil se reduz para 28,2 anos;
crodados desse censo que o Centro de Políticas quando olhamos apenas das pessoas sem deficiência,
Sociais da Fundação Getúlio Vargas elaborou a média é de 25,2 anos. Outro dado relevante é que
o conteúdo do livro Retratos da Deficiência no entre as pessoas com mais de 60 anos a possibilidade
Brasil, onde são destacados aspectos de ordem de apresentar alguma deficiência é de 49,64%, ao
regional, social e econômica relativos a esse seg- passo que entre crianças de 0 a 4 anos é de 2,26%.
mento populacional.
Deficiência e faixa etária no Brasil*
Faixa Pessoas com Pessoas sem População
O fator idade etária deficiência deficiência total
Sob a perspectiva etária, existem alguns diferenciais 0a4 1,51% 11,02% 9,65%
bastante significativos em relação à forma como as 5a9 2,88% 10,92% 9,76%
pessoas com deficiência e as sem deficiência se dis- 10 a 14 4,40% 11,20% 10,22%
tribuem em nossa população. Não constituiu sur- 15 a 19 4,74% 11,55% 10,57%
presa o fato da pesquisa verificar, por exemplo, que 20 a 24 4,90% 10,28% 9,50%
cidadãos acima de 60 anos compõem o maior seg- 25 a 29 5,01% 8,68% 8,15%
mento entre as pessoas com deficiência (29,34%), 30 a 34 5,54% 8,03% 7,67%
enquanto representam 5,04% entre as sem defici- 35 a 39 6,45% 7,35% 7,22%
ência – afinal, uma série de doenças e disfunções 40 a 44 8,63% 5,80% 6,21%
características da idade avançada podem resultar 45 a 49 9,63% 4,38% 5,14%
em condições de deficiência. Corrobora essa leitura 50 a 54 9,03% 3,33% 4,15%
o fato de que no grupo das pessoas sem deficiência 55 a 59 7,94% 2,42% 3,22%
aquelas de 0 a 24 anos somam cerca de 55% do total, 60 ou mais 29,34% 5,04% 8,56%
recorte que cai para 18,43% entre a população com Total 100% 100% 100%
deficiência (veja tabela ao lado). *Retratos da Deficiência no Brasil, Fundação Banco do Brasil e Fundação
Getúlio Vargas, 2003.
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 121

Sexo e raça/etnia A questão da renda


Ao analisar o universo de pessoas com deficiência No que se refere à renda resultante do trabalho,
de acordo com o sexo, o estudo destaca que as o estudo aponta que, em média, uma pessoa com
mulheres representam 53,58% do total, enquanto deficiência ganha cerca de R$ 100,00 a menos que
que no contexto da população brasileira em geral a população em geral – R$ 529,35 contra R$ 628,18.
elas somam 50,3%. Essa tendência de crescimento Estudado isoladamente, o grupo das pessoas sem
está associada ao fato de que elas apresentam uma deficiência atinge R$ 643,87.
expectativa de vida mais longa, ficando, portanto,
mais expostas àquelas doenças características da
Renda média das pessoas com deficiência*
idade avançada.
Estados com menor Pessoas com Renda
A pesquisa registra também que o percentual índice de pessoas deficiência Média (R$)
de brancos é um pouco inferior ao observado na com deficiência
população total (51,74% contra 53,74%), enquanto São Paulo 11,35% 814,20
sobe a proporção de pardos e de negros (veja ta- Roraima 12,50% 564,39
bela abaixo). Amapá 13,28% 585,86
Deficiência e perfil étnico no Brasil* Distrito Federal 13,44% 903,20
Raça/Etnia Pessoas com Pessoas sem População Paraná 13,57% 569,34
deficiência deficiência total
Estados com maior Pessoas com Renda
Branca 51,14% 54,19% 53,74% índice de pessoas deficiência Média (R$)
Parda 39,86% 38,21% 38,45% com deficiência
Preta 7,50% 6,17% 6,21% Paraíba 18,76% 287,83
Indígena 0,51% 0,42% 0,43% Rio Grande do Norte 17,64% 354,25
Amarela 0,43% 0,45% 0,45% Piauí 17,63% 254,21
Outras 0,57% 0,73% 0,51% Pernambuco 17,40% 363,75
Total 100% 100% 100% Ceará 17,34% 302,43
*Retratos da Deficiência no Brasil, Fundação Banco do Brasil e Fundação *Retratos da Deficiência no Brasil, Fundação Banco do Brasil e Fun
Getúlio Vargas, 2003. dação Getúlio Vargas, 2003.
122 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Outro dado que exemplifica de forma marcante tempo de estudo dessas pessoas chega a quase 11
os contrastes brasileiros: no Lago Sul, bairro de anos. Ou seja, a probabilidade de existência de
classe média alta de Brasília cuja renda mensal uma Deficiência é inversamente proporcional aos
per capita é de cerca de R$ 3 mil, a taxa de con- níveis de escolaridade e de renda (veja mais sobre
centração de pessoas com deficiência é a menor os aspectos sócio-econômicos da Deficiência nas
do Distrito Federal. Além disso, ali a média de páginas 123 e 136). n

A cobertura e as questões de gênero e etnia

Se na sociedade brasileira de modo geral a questão


de gênero representa um foco de tensão, discrimi-
Menção a questões de gênero
nação e exclusão, é possível inferir que ela afete Mês Composto Dias Especiais
as relações sociais de pessoas com deficiência de Foco Foco Foco Foco
Central Secundário Central Secundário
forma mais grave, já que tornam-se carregadas
de doses ainda maiores de preconceito. Apesar Sim – 1% – –
dessas evidências, abordagens relacionadas a gê- Não 100% 99% 100% 100%
nero foram praticamente ignoradas pela mídia.
Não figuraram em nenhuma matéria do universo
pesquisado pela ANDI e Fundação Banco do Bra-
sil que tinham na Deficiência o Foco Central. As Menção a questões de raça e etnia
únicas menções ocorreram na amostra por Mês
Mês Composto Dias Especiais
Composto, quando a questão era o Foco Secundá-
Foco Foco Foco Foco
rio. De maneira semelhante, as questões de raça e Central Secundário Central Secundário
etnia – que também se constituem em forte fonte
de preconceitos – atingem um índice irrisório no Sim 0,4% 1,4% – 2,7%
universo da pesquisa Mídia e Deficiência. n Não 99,6% 98,6% 100% 97,3%
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 123

A interface pobreza-deficiência Linha da miséria


O universo demográfico das pessoas com deficiência Chama atenção a grande parcela de pessoas com defi-
apresenta algumas peculiaridades. A grande diferença ciência vivendo abaixo da linha da miséria, segundo os
em relação a outros segmentos tradicionalmente exclu- dados extraídos do Censo 2000 do IBGE: 29,6%. Mas
ídos é que, ao contrário do que ocorre com mulheres e chama mais atenção ainda o fato desse índice ser menor
afrodescendentes, por exemplo, a Deficiência pode ser do que os 32% relativos à população total do País.
adquirida. Ou seja, todos os indivíduos são potencial- O aparente avanço entra em confronto direto não
mente passíveis de se tornar pessoas com deficiência. Em só com as opiniões de especialistas da área de Defi-
função disto, a questão da Deficiência está relacionada ciência como também com alguns estudos desen-
à maneira como a sociedade e o Estado tratam tanto volvidos sobre esse segmento, que de maneira geral
as políticas públicas de apoio a quem já desenvolveu é composto por indivíduos em situação de exclusão
alguma deficiência, quanto as que procuram orientar, social – afinal, parte dessa condição resulta precisa-
preventivamente, quem que possa vir a adquiri-la. mente do fato que a grande maioria das deficiências
Membros de famílias de baixa renda são mais agrava as restrições a uma vida de trabalho e gera-
vulneráveis a desenvolverem uma deficiência, pois ção de renda.
têm mais dificuldade de acesso à informação, a servi- A leitura do estudo coordenado pela Fundação
ços médicos, à nutrição de qualidade e a saneamento Getúlio Vargas sugere que dois fatores tenham con-
básico, além de estarem mais expostos a acidentes no tribuído para o resultado encontrado. O primeiro
ambiente doméstico e no de trabalho. Os números do está nos próprios números do Censo 2000 do IBGE
estudo da FGV traduzem essa relação estreita entre a que, conforme vimos, utiliza um conceito de Defi-
Deficiência e o nível sócio-econômico do indivíduo. ciência expandido. O outro diz respeito ao fato de
Um exemplo dessa correlação está na incidência de que hoje aproximadamente 1 milhão dos brasileiros
pessoas com deficiências em áreas urbanas e em áreas que possuem algum tipo de deficiência e estão in-
rurais do País. Nas regiões urbanizadas, 14,33% da capacitados para o trabalho já acessam o BPC – Be-
população tem algum tipo de deficiência ou inca- nefício da Prestação Continuada, iniciativa de teor
pacidade. Já nas não-urbanizadas, esse índice sobe compensatório que lhes garante um salário mínimo
para 17,4%, o que pode ser justificado pela menor mensal – e automaticamente lhes impulsiona para
disponibilidade de serviços de saúde em relação às acima da linha da miséria (veja quadro sobre essa
áreas exclusivamente urbanas. questão na página 124).
124 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Retro-alimentando o ciclo da exclusão Para o pesquisador, exige atenção o fato dos dados
“A deficiência é uma causa e ao mesmo tempo con- da OMS confirmarem aspecto especialmente perverso des-
seqüência da pobreza”, argumenta o pesquisador sa equação – para a população até 18 anos, os países em de-
Marcelo Néri, da FGV, em Retratos da Deficiência no senvolvimento apresentam cerca de 10 vezes mais pessoas
Brasil. O estudo ressalta que, de acordo com a ONU, com deficiência do que os desenvolvidos. E embora cerca
hoje uma em cada 20 pessoas possui algum tipo de de 7% das crianças e adolescentes dessas regiões apresen-
deficiência, sendo que a maioria delas está nos países tem deficiências, apenas 2% delas recebem assistência.
em desenvolvimento. Esse desequilíbrio acontece em
virtude das condições precárias de alimentação, saúde Aspectos sociais não têm espaço na pauta
e educação, associadas a guerras, conflitos internos e Apesar do vasto panorama de correlações diretas entre
altos índices de violência urbana. as deficiências e suas determinantes sociais, a resposta

Política compensatória continuada


Em janeiro de 1996, o governo federal instituiu avaliando se idosos e pessoas com deficiência ainda
no País uma política pública continuada, de teor devem continuar a recebê-lo.
compensatório: o BPC – Benefício da Prestação O fato de que o benefício representa a única fonte
Continuada. O BPC garante à pessoa com defici- de renda para famílias extremamente pobres vem ge-
ência e ao idoso com mais de 67 anos um salário rando distorções preocupantes: pessoas com deficiên-
mínimo mensal. Para recebê-lo, deve-se compro- cia não investem na reabilitação, pois deixar a condição
var que está incapacitado para o trabalho e a vida de incapacidade significaria perder o direito ao BPC.
independente, além de que a família possui uma No contexto do ministério, o Fundo Nacional de
renda per capita inferior a um quarto do salário Assistência Social (FNAS) é o setor responsável por
mínimo. manter o benefício, empregando nele 70% de seu
O BPC é coordenado pelo Ministério da As- orçamento. Em 2002, R$ 2,1 bilhões de reais foram
sistência Social. Mediante convênio, ele repassa destinados para o pagamento do BPC a pessoas
recursos ao INSS que, por meio de suas agências, com deficiência, sendo atendidas 976 mil delas. Até
os operacionaliza. O ministério também tem a in- novembro de 2003 o número de atendimentos já
cumbência de revisar os benefícios a cada dois anos, crescera para 1,1 milhão/mês. n
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 125

“exclusão social” foi apontada como causa principal da


Causas apresentadas
Deficiência em somente em 2,7% dos textos – precisa-
Mês Composto* Dias Especiais**
mente em sete deles – do total de 262 da amostra por Foco Foco Foco Foco
Mês Composto que tinham a Deficiência como Foco Central Secundário Central Secundário

Central. Quando a pesquisa realizada pela ANDI e Fun- Biológicas 27,5% 32,4% 24,0% 12,5%
dação Banco do Brasil analisou – nesse mesmo conjun- Falhas e falta 14,5% 16,2% 24,0% 18,8%
to – apenas as matérias que apresentaram causas, o ín- de serviços
dice sobe para 10,1%. Ainda assim, a questão foi muito Falta de 10,1% 1,5% –
pouco valorizada em aspectos de especial relevância, informação
como aqueles relativos às escolas inclusivas, à superação Exclusão social 10,1% 5,9% 12,0% 9,4%
de preconceito, ao acesso ao mercado de trabalho e ao Falta de 7,2% 5,9% 8,0% –
acessibilidade
abandono da pessoa com deficiência pela família.
Falta de 5,8% 1,5% 4,0% 3,1%
Este baixo índice é bastante ilustrativo das dificul-
qualificação
dades da mídia em explorar o tema da Deficiência se- profissional
gundo uma abordagem mais ampla, que estabeleça as Violência 4,3% 13,2% 12,0% 15,6%
interfaces da perspectiva sócio-econômica com as áreas Acidentes 4,3% 13,2% 8,0% 12,5%
da saúde, do trabalho e da educação, imprescindíveis Psicológicas 2,9% – 4,0% 9,4%
para uma compreensão do problema em toda sua com- Falta de 1,4% 1,5% 4,0% 3,1%
plexidade. Quando o Foco Central é a Deficiência, o con- políticas de
junto de matérias por Mês Composto pouco apresenta Promoção
sobre as causas dos problemas retratados, aspecto que de saúde
em geral é considerado crucial também para impulsio- Falta de habili- – – – 6,3%
nar o debate e a formulação de políticas públicas. Quan- dades de vida
independente
do aparecem, as causas apontam, em 27,5% das vezes,
Outras 11,6% 8,8 – 9,4%
para fatores de ordem biológica (veja tabela ao lado).
* Na amostra por Mês Composto, discutiram as causas da Deficiência
Esses dados são reveladores da tendência da im- 26,3% dos textos com Foco Central e 21,7% daqueles com Foco
prensa em enxergar a Deficiência como um problema Secundário.
**No conjunto dos Dias Especiais, discutiram as causas da Deficiência
da seara médica, cuja causa e solução estariam no con- 10,7% dos textos com Foco Central e 17,2% daqueles com Foco
texto da própria condição e não em como a sociedade Secundário.
aborda a pessoa com deficiência. Fácil comprovar no
126 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

dia-a-dia essa premissa: é grande a quantidade de ma- Efetivação exige mobilização


térias sobre o tema publicadas nas retrancas de saúde Embora tenha sido formulado em 1920, o CID só foi
dos jornais e revistas, mesmo quando a abordagem é plenamente implementado no Brasil em 1987. Essa
de cunho econômico, social ou cultural. informação é bastante reveladora dos entraves que a
CIF poderá vir a enfrentar, enquanto instrumento que
Monopólio da visão médica necessariamente exige profundas mudanças de ordem
O enfoque médico reforça na sociedade a busca pela conceitual e prática por parte daqueles responsáveis
“cura” da deficiência, identificando-a, então, como pelos processos avaliativos hoje utilizados. Provavel-
um problema que precisa ser solucionado basicamen- mente, sem uma eventual pressão da sociedade – e aí
te por meio de terapias, novas tecnologias e medica- de novo a imprensa poderá desempenhar um papel
mentos. Essa perspectiva contraria a certeza de que decisivo – dificilmente o sistema será efetivado com
a qualidade de vida de uma pessoa com deficiência agilidade nas políticas públicas.
depende diretamente da inclusividade nos ambien- O lançamento da CIF em nível mundial ocorreu em
tes familiar, profissional e social. É a partir desta visão 2003, sendo que o Brasil assinou acordo, juntamente
inclusivista, por sinal, que a Organização Mundial de com outros países, se comprometendo a adotar ofi-
Saúde está implementando em todo o mundo um novo cialmente a nova referência a partir do ano de 2004. É
modelo de avaliação das deficiências, a CIF – Classifica- importante o jornalista saber também que na verdade
ção Internacional de Funcionalidade. o CID (aferição sob o ângulo da enfermidade) e o CIF
Até então, a situação de um indivíduo com defici- (análise a partir da funcionalidade) são classificações
ência podia ser avaliada por outro parâmetro da OMS, complementares. Ou seja, a adoção do novo sistema
o CID – Código Internacional de Doenças, que porém não necessariamente elimina o uso do anterior.
não leva em consideração a forma como essas pessoas
se relacionam com o ambiente – ele aponta apenas o Um novo parâmetro de avaliação
aspecto médico ou da seqüela. A Classificação Internacional de Funcionalidade am-
Mais recentemente, a agência da ONU desenvolveu plia significativamente os parâmetros para avaliar a
também a CIDID – Classificação Internacional de Defi- situação de uma pessoa com deficiência, pois classifica
ciências, Incapacitantes e Desvantagens, na verdade uma sua condição funcional e não mais apenas sua inefici-
versão preliminar dos parâmetros que originaram a ência, como fazia o Código Internacional de Doenças.
CIF. Seu objetivo era precisamente estabelecer um siste- O termo funcionalidade substitui palavras de teor de-
ma classificatório e descritivo das alterações funcionais. preciativo usadas no passado: incapacidade, invalidez,
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 127

desvantagem. Vale destacar ainda que, ao contrário do de maior atenção, no contexto da inserção social de
sistema anterior, a CIF foi desenvolvida com a plena pessoas com deficiência. Médica fisiatra e diretora da
participação das próprias pessoas com deficiência. divisão de medicina de reabilitação do Hospital das
A partir da adoção da CIF, a sociedade terá condi- Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Linamara
ções de aferir o que alguém pode efetivamente fazer Rizzo participou em Munique, Alemanha, no mês de
e não apenas quais são suas impossibilidades e impe- abril de 2002, de reuniões de uma das fases de elabo-
dimentos. Ou seja, passa-se a registrar as potenciali- ração da CIF. Segundo ela, a implementação da nova
dades dos indivíduos com deficiência. Dessa maneira, classificação poderá revolucionar o desenvolvimento
surge um horizonte inédito de avaliação, corrigindo de políticas voltadas para as pessoas com deficiência.
profundas distorções geradas pelo sistema até então “A informação sobre o diagnóstico, associada à infor-
em uso – por exemplo, uma pessoa tetraplégica que mação sobre funcionalidade, permite uma visão mais
comandasse uma empresa de 500 funcionários e am- ampla da realidade da pessoa, o que facilita a decisão
parasse sua família seria considerada incapaz diante sobre o tipo de intervenção a ser realizada”, explica.
de qualquer outra sem deficiência, mesmo que esta úl- A médica cita como exemplo o processo de classifi-
tima não conseguisse sair de casa devido à depressão. cação de uma Deficiência específica, como a paralisia,
A CIF mede a capacidade de uma pessoa com de- que agora poderá ser realizada levando-se em conta
ficiência em superar diferentes níveis de dificuldades fatores decisivos, como a faixa etária da pessoa: “As
relacionadas às tarefas do cotidiano. Sua base de clas- necessidades de um idoso que passa o dia em casa, com
sificação está dividida em cinco áreas: deslocamentos que se resumem em ir para o quarto,
• Função corporal sala, cozinha e banheiro são bem diferentes daquelas
• Estrutura do corpo de um jovem de 20 anos que tem que se locomover
• Atividades da vida diária pela cidade, pegar ônibus, utilizar os serviços do
• Participação na sociedade metrô. Este último precisa de toda uma arquitetura
• Ambiente social. preparada para ele”, exemplifica.
“A grande vantagem da CIF”, resume Linamara
Diagnósticos precisos Rizzo, “é permitir entendermos melhor quem são e o
A análise do desempenho do indivíduo nestas áreas que precisam as pessoas com deficiência. Ela nos apre-
possibilita diagnosticar com clareza o que está se de- senta uma visão mais dinâmica da realidade – é como
senvolvendo de forma adequada e o que necessita se o CID fosse uma fotografia e a CIF um filme”.
128 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Entrevista O que o modelo médico precisava perceber?


Mutações do conceito de deficiência Esse modelo não fazia perguntas sobre a estrutura social
Débora Diniz é Doutora em Antropologia pela Universidade de em que aquela pessoa vivia. Ele não questionava, por
Brasília e diretora da organização não-governamental Anis – exemplo, por que não havia uma rampa para a pessoa
Instituto de Bioética, Desenvolvimento Humano e Gênero. Ela entrar na farmácia. Nós vivíamos em uma sociedade que
tem atuado como consultora do PNUD – Programa das Nações pressupunha um tipo ideal de pessoa – e qualquer pessoa
Unidos para o Desenvolvimento e do Banco Mundial, em proje- com variação daquele tipo ideal vivenciava experiências
tos sobre pessoas com deficiência. de desigualdade. Então, especialmente nos anos 60, um
movimento que teve início na Inglaterra, chamado Mo-
Como mudou o conceito de Deficiência ao longo do tempo? vimento Social da Deficiência, propiciou pela primeira
Até os anos 60 nós tínhamos uma hegemonia em tor- vez o posicionamento de um grupo de homens com
no da idéia de um modelo médico da deficiência. Ele deficiência que diz: “esperem, a nossa experiência de
expunha que a razão das pessoas experimentarem a opressão, de desigualdade, de não ter acesso à educação,
desigualdade era essencialmente as lesões. Podemos de não ter chances de trabalho, de ter menores salários,
citar um exemplo muito simples: se um lesado me- não é devida ao nosso corpo. Eu posso não ter uma mão,
dular ou alguém com uma paraplegia estava fora do mas quem diz que não ter uma mão é experimentar a
mercado de trabalho e não tinha acesso à educação desigualdade é a sociedade em que eu vivo”.
formal, a justificativa era que a sua deficiência, a sua Eles modificam o modelo médico convencional e
lesão, o impedia de acessar a escola e, posteriormen- passam a dizer que, para falar da deficiência, deve-se
te, o mercado. Então o modelo médico reduzia a analisar qual o contexto social em que as pessoas vi-
experiência da deficiência ao próprio corpo. As pes- vem, pois é nele que está a origem da experiência da
soas experimentavam a deficiência porque os seus desigualdade. O modelo social da deficiência provoca
corpos tinham limites para uma vida social plena. O uma guinada. Ele retira do indivíduo a origem da ex-
modelo médico tinha não apenas seus pressupostos, periência da desigualdade e passa para a sociedade. Ele
mas também todas as suas estratégias de intervenção diz o seguinte: “olha, o modelo médico não fala sobre
voltadas para o corpo. Ou seja: fulano não tem uma qual é o significado, o impacto de não ter uma mão”. Na
mão; vamos fazer uma prótese. Fulano consegue se verdade, não ter uma mão é meramente uma variação
locomover; vamos dar o jeito de fazer uma cadeira de da espécie humana. Assim como temos pessoas loiras
rodas – a melhor possível. ou de cabelos pretos, temos pessoas que não andam.
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 129

Quais as implicações desta mudança de perspectiva? Se o conceito se amplia tanto, então quando deve ser
Isso é uma verdadeira, uma absoluta, revolução no aplicado?
movimento de compreensão da deficiência. Tanto que Nós usamos o conceito de deficiência para as pessoas
quando realizou nos anos 80 o primeiro catálogo de que experimentam dificuldades no exercício das plenas
avaliação que inclui claramente a deficiência, a CIDID, capacidades físicas ou mentais – o que se considera
a Organização Mundial de Saúde ainda adotava o mo- um patamar para o humano. Então o novo catálogo
delo médico. Mas em 2001 quando apresenta a nova da OMS usa essa idéia da funcionalidade: todo ser hu-
versão do catálogo, a CIF, a OMS não fala mais em mano tem funcionalidades, mas algumas pessoas não
deficiência, mas sim em funcionalidade. São 20 anos são capazes de exercê-las da mesma forma que outras.
de absoluta pressão do movimento social para a refor- Assim, da mesma maneira que temos pessoas que são
mulação dessa categoria. destras e outras que são canhotas, e isso hoje em dia
Veja também o que aconteceu com os dados do não gera nenhuma experiência de desigualdade, temos
último censo brasileiro que temos, realizado em 2000. outros tipos de variação, que provocam algum tipo de
Ele já incorpora os conceitos de funcionalidade e inca- desigualdade. O que o novo conceito de deficiência
pacidade. No censo anterior, tínhamos uma estatística sugere? Que ao invés de olhar para o indivíduo e co-
com algo em torno de 2% a 4% da população brasi- mentar que ele não tem uma mão, devemos questionar:
leira com alguma forma de deficiência. Os dados do “que sociedade é essa em que vivemos, que não é capaz
novo censo ampliam esse índice para 14,5%. Algumas de fazer ajustes para que as pessoas que não tenham
pessoas ironizam, dizendo que esses dados inflaciona- mão sejam produtivas?”. É isso que representou uma
ram o número de deficientes no Brasil. Isso não é ver- guinada absoluta. E quando nós mudamos esse foco,
dade. O que aconteceu foi um resgate dos mecanismos idosos ou mulheres grávidas passam a fazer parte dessa
de informação. Pois os recenseadores deixaram de avaliação. São pessoas que em algum momento da vida
perguntar para a pessoa coisas como: “você não tem podem experimentar restrições às suas funcionalidades.
algum membro?”. As questões eram de outro perfil –
“você tem alguma dificuldade de se locomover?”. Isso Qual é a dimensão social da deficiência? Em que medida ela
permitiu, por exemplo, que os idosos com dificuldade tem sido contemplada pelas políticas públicas no Brasil?
de locomoção – conseqüência natural do envelheci- Essa pergunta é muito importante. Só para se ter uma
mento – fossem agregados aos que tradicionalmente idéia, pelos dados do novo censo nós temos mais pes-
nós entendíamos por pessoa com deficiência. soas com deficiência do que negros no Brasil. Então
130 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

estamos tratando de uma população – no cenário das campos de movimentos políticos e sociais que é uma
minorias que temos no Brasil – das mais importantes. certa compartimentação das lutas. Então as pessoas
Mas todas as vezes que, no contexto das políticas pú- com deficiência falam entre si esquecendo, quase
blicas, falamos de transversalidade para a desigualda- sempre, que aquele interlocutor com deficiência é
de, mencionamos apenas raça e gênero. Até mesmo no uma mulher, é uma mulher jovem, é uma mulher
diálogo com o governo Lula, que é altamente sensível negra… O cruzamento das variáveis da experiên-
para as questões das desigualdades, quando tratamos cia das desigualdades é fundamental. Quando nós
dos enfoques sociais não conseguimos incluir a de- falamos em pessoas com deficiência estamos ima-
ficiência no debate. É fundamental não só chamar a ginando quem? O homem produtivo na meia idade
atenção para o fato de que temos 14,5% da população que tem uma lesão medular ou a mulher negra com
com alguma forma de deficiência ou experimentando deficiência mental e pobre? A minha percepção é
a situação de deficiência, como também agregar a de que há, por exemplo, uma carência absoluta de
deficiência inerente ao processo do envelhecimento, preocupação, tanto do movimento feminista no
pois este é um fenômeno associado ao curso natural sentido de entender que a questão da deficiência
da vida. Dessa forma a deficiência deixa de ser um é importante no movimento de mulheres, quan-
fenômeno daquele outro – que é muito diferente de to do movimento das pessoas com deficiência no
mim – para ser uma expectativa de todos nós. Se eu entendimento de que existem outras variáveis que
for viver muito, certamente vou experimentar alguma cruzam a história de vida de um indivíduo com essa
forma de restrição de funcionalidade. condição. Uma pessoa com deficiência que seja ne-
gra ou uma outra que seja mulher têm realidades
O que você considera essencial para o Brasil avançar em ter- muito diferentes. Esse cruzamento de experiências
mos de políticas públicas para as pessoas com deficiência? de vulnerabilidade e de desigualdades é um campo
O cruzamento com outras condições de desigual- fundamental para podermos avançar no setor das
dade. Nós temos uma característica em todos os políticas públicas no Brasil. n
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 131

Saúde e educação. Parceria? propõe a ampliar a discussão sobre Deficiência e saúde.


A questão do sistema de avaliação das condições de Ao mesmo tempo, representa a possibilidade de apro-
Deficiência também impacta diretamente uma ou- fundar-se a percepção da complexidade dos interesses
tra área de fundamental importância – a da Educa- envolvidas na área da chamada educação especial.
ção. Conforme discutido no Capítulo 3, uma solução Para quem não acompanha com atenção o mo-
comum encontrada por professores e gestores para vimento pela inserção social das pessoas com de-
justificar o não-atendimento, em sala de aula regular, ficiência no Brasil talvez seja difícil reconhecer, de
de um aluno com deficiência, é colocar a responsa- imediato, a importância histórica das organizações
bilidade dessa inserção – ou não – no diagnóstico do do Terceiro Setor dedicadas ao atendimento e à es-
médico. O problema se agrava por que muitos profis- colarização de crianças e adolescentes que integram
sionais da área de saúde passaram realmente a acredi- essa população. Apae, Sociedade Pestalozzi e congê-
tar – e ainda hoje o fazem – que seu diagnóstico não neres são ONGs que ocuparam um lugar de fato e de
somente pode, mas também deve ser o parâmetro direito durante décadas, pois a tarefa não era assu-
norteador inquestionável da viabilidade da inserção mida pelos governos – ou seja, nasceram no tempo
de alunos com deficiência nas escolas regulares. em que crianças com deficiência não tinham acesso a
O maior equívoco dessa abordagem é que, por defi- qualquer tipo de educação. Foi diante dessa situação
nição, um diagnóstico médico não pode servir de parâ- de absoluta exclusão que familiares e pais se uniram
metro para guiar o trabalho da educação, a não ser que e montaram as instituições dedicadas à educação
aquela criança esteja doente. Mas se decidirmos avançar especial, desde o início integrando a seu sistema o
no entendimento desse estranho cenário, acabaremos atendimento médico.
descobrindo também que, quando convidada pela escola Seria natural, entretanto, que em algum momento
a avaliar uma criança ou adolescente com deficiência, a o País viesse a rever o que espera dessas instituições,
maioria dos profissionais de saúde lança mão do Código no que se refere ao foco no ensino. O próprio processo
Internacional de Doenças. Assim, termina levando em de evolução tanto do conhecimento científico quanto
consideração muito mais as limitações e impedimentos da legislação sobre a questão da Deficiência exige tal
do candidato do que suas inúmeras potencialidades. passo. A recente adoção da Classificação Internacional
de Funcionalidade pela OMS, por sinal, serve também
Papéis cristalizados como excelente exemplo da amplitude das transfor-
Este é apenas um dos exemplos da quantidade de nós mações que vem ocorrendo nos referenciais técnicos
a serem desatados pela sociedade brasileira quando se da área. Mas os problemas largamente abordados no
132 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Capítulo 3 evidenciam o quanto o hábito do governo Ausência de senso crítico


federal em investir grandes quantidades de recursos No que se refere à falsa relação deficiência-doença,
nessas organizações terminou gerando uma verdadei- um aspecto relevante foi identificado pela pesquisa
ra indústria da escola especial – indústria que, por sua realizada pela ANDI e Fundação Banco do Brasil: o
vez, para sobreviver também necessita que seja man- incipiente questionamento do jornalista diante de
tida intocada a abordagem da Deficiência baseada na informações que associam escolas especiais a clínicas.
interface educação-saúde. Esse entendimento, entranhado na percepção que a

Discutindo impactos

Entre os assuntos mais controvertidos do debate conjunto dos Dias Especiais, também em matérias
sobre Deficiência destaca-se a questão das conse- com Foco Central na Deficiência, volta a imperar
qüências geradas por essa condição no cotidiano de a antiga abordagem centrada na saúde: 28,6% das
cada cidadão. O assunto está no cerne das discus- conseqüências citadas são de ordem física. n
sões que envolvem o repensar – e reformular – as
políticas públicas de nosso País. Consequências apresentadas
A pesquisa Mídia e Deficiência demonstra que os Mês Composto* Dias Especiais**
jornalistas ainda se encontram distantes do desafio Foco Foco Foco Foco
de analisar políticas públicas de forma interliga- Central Secundário Central Secundário

da. Os dados indicam que 67,2% das matérias na Físicas 28,3% 35,4% 28,6% 31,3%
amostra por Mês Composto, tendo na Deficiência Psicológicas 15,1% 12,5% 14,3% 12,5%
o Foco Central, não chegam a discutir conseqüên- Sociais 30,2% 20,8% 14,3% 25,0%
cias. Mas há um fator positivo: aqueles textos que Individualizadas 18,9% 29,2% 4,8% 18,8%
reconhecem a importância de incluir esta questão Outras 7,5% 2,1% 38,1% 12,5%
no debate citam predominantemente aspectos de
* Discutiram as causas da Deficiência 23,1% dos textos com Foco
cunho social (30,2%), o que sugere uma louvável Central e 9,9% daqueles com Foco Secundário.
** Discutiram as causas da Deficiência 28,8% dos textos com Foco
compreensão da necessidade de relacionar a Defi-
Central e 15,7% daqueles com Foco Secundário.
ciência com questões de maior abrangência. Já no
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 133

sociedade guarda sobre o universo da Deficiência, Soluções – mundo a ser explorado


faz acreditar que, no caso de crianças, adolescentes e
jovens com deficiência, as instituições de ensino deve- Como já se insinuou na análise das causas da Deficiên-
riam necessariamente ser também centros de reabili- cia, construída ao longo da primeira parte desse capí-
tação. Se isso causaria espanto em relação a uma esco- tulo, a busca de soluções para as diferentes condições
la regular, por que não causa se a escola é especial? que afetam esse segmento da população se depara,
A função escolar é social e pedagógica, nunca tera- em grande parte, com um mundo a ser explorado. Ao
pêutica. A dificuldade em desmascarar essa “verdade” mesmo tempo, é crescente o sentimento de urgência
fica mais nítida quando o tema principal da matéria é social que cerca a questão: não custa relembrar que,
a escola especial. Nesse caso, há uma tendência do jor- segundo diagnóstico da Organização Mundial de Saú-
nalista em relacioná-la aos serviços de saúde da comu- de, mais da metade dos casos de deficiência poderiam
nidade, já que a maioria dessas instituições de ensino ser evitados. Promover respostas para esse desafio
conta com profissionais ligados à área da saúde em significa, do ponto de vista inclusivo, atacá-lo em dois
seus quadros. Essa tendência se mantém tanto para planos complementares: o das políticas públicas de
os dados da amostra por Mês Composto quanto para prevenção e o daquelas de inserção social.
aqueles referentes aos Dias Especiais, principalmente Segundo uma leitura técnica, recomenda-se que
nas matérias das áreas de artes e esportes. essas políticas sejam planejadas em três níveis opera-
Nesse contexto, seria também muito salutar para a cionais distintos:
imprensa perceber que embora saúde e educação pos- • Primeiro nível: ações preventivas que visem evi-
sam realmente surgir como abordagens complementares tar que ocorram quaisquer tipos de impedimento
no campo da Deficiência, um médico não deveria, ao ser (físico, sensorial, mental, etc). Impedimento é a fal-
entrevistado, dar pareceres que cabem especificamente ta ou a anormalidade no funcionamento de algum
a um profissional da área de educação. Nem vice-versa. órgão ou sentido (globo ocular, membros superio-
res e/ou inferiores, malformação congênita ou obs-
trução auditiva, por exemplo). Para realizar esse
tipo de prevenção, é necessário fazer campanhas e
oferecer serviços na área da saúde, da segurança no
trabalho, da segurança nas estradas, etc.
• Segundo nível: ações preventivas para que não se
agrave a deficiência instalada em decorrência de im-
134 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

pedimentos que não puderam ser evitados. Para isso, vêm dificultando a formulação, em território brasilei-
é necessário haver campanhas de esclarecimento e de ro, de políticas públicas preventivas e de inclusão. As-
diagnóstico precoce, além de amplo acesso a serviços sim, na maioria dos casos os três níveis operacionais
de reabilitação física (fisioterapia, terapia ocupa- citados acima acabam permanecendo em um estágio
cional, fisiatria, fonoaudiologia, cirurgias, etc), a fim muito aquém da escala do problema. Seria preciso,
de que a pessoa possa, por exemplo, fortalecer seus portanto, concentrar esforços no sentido de combater
membros remanescentes e outras partes do seu orga- com maior eficácia tanto as causas internas quanto as
nismo, restabelecendo a funcionalidade dos mesmos. externas da Deficiência.
• Terceiro nível: ações para viabilizar às pesso- No campo das causas internas figuram, por exem-
as com deficiência condições de plena inclusão plo, as doenças congênitas, os fatores de risco na fase
tanto no ambiente físico (acessibilidade) quanto pré-natal e nos primeiros dias de vida do bebê, as
no humano (eliminação de preconceito ou dis- carências alimentares – como quaisquer problemas
criminação). Para isso é necessário, na primeira durante a gravidez, o nascimento e a infância podem
vertente, executar ações de eliminação de barreiras ter reflexos em todo o restante do ciclo de vida, o
arquitetônicas, metodológicas, comunicacionais e atendimento adequado se mostra crucial. Já no que se
instrumentais.. No outro aspecto, são fundamen- refere às deficiências adquiridas em função de causas
tais as iniciativas de sensibilização, conscientização externas, os principais fatores determinantes são os
e convivência, para que a sociedade aprenda a eli- acidentes automobilísticos, os acidentes de trabalho
minar preconceitos, estigmas, estereótipos e discri- e a violência – todos passíveis, em maior ou menor
minações em relação a pessoas com deficiência. grau, de interferência.
É importante saber, de antemão, que muitas das
Em relação a esse último grupo de atividades, o soluções preventivas envolvem a utilização de técnicas
leitor certamente se recorda, temos trabalhado de for- de execução relativamente simples e de baixo custo – e
ma intensiva ao longo dos últimos capítulos, donde isto seja para as causas de ordem interna, seja para
estaremos nos concentrando agora principalmente aquelas externas.
nos dois primeiros níveis operacionais.
Conversão de direitos em políticas
Problemas de base Evidentemente, a solução do problema da violência,
A ausência de dados sobre causas da deficiência e a de- que nas últimas décadas se transformou numa recor-
sarticulação das instituições no plano governamental rente matriz geradora de pessoas com deficiência, é
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 135

muito mais complexa e enfeixa, de alguma maneira, Resolução cobra posição dos ministérios
o enfrentamento de diversas formas de exclusão: edu- As pessoas com deficiência têm direito a um tratamen-
cacional, econômica, cultural, digital ou de lazer, por to prioritário e adequado na implementação de polí-
exemplo. Os custos humanos e sociais da ausência de ticas públicas desde 1989, quando foi aprovada a lei
políticas estruturais articuladas são imensos e agra- no 7.853. Entretanto, essa prática muitas vezes não tem
vam ainda mais esse processo de múltiplas exclusões, sido respeitada pelos órgãos do governo federal. Na
que vem se tornando uma das marcas registradas da tentativa de mudar essa realidade, o Conade – Conse-
sociedade brasileira. Como já vimos em capítulos an- lho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de De-
teriores, esta situação exige, para ser reparada, uma sé- ficiência aprovou em outubro de 2003 a resolução no
rie de políticas compensatórias ou afirmativas, como 16, que solicita a todos os ministérios que informem
as de cotas no trabalho, as de acessibilidade ou as de sobre as políticas setoriais planejadas e desenvolvidas
repasse de recursos financeiros. relativas às pessoas com deficiência, destacando a ação
Entretanto, embora resulte em benefícios inegáveis implementada, o orçamento envolvido e os resultados
para os segmentos excluídos da sociedade, o poder a serem obtidos.
de alcance das políticas compensatórias é limitado Com a resolução, o Conade está fazendo valer
– inclusive em função da correlação entre os índices efetivamente sua atribuição legal de zelar pela im-
de deficiência e os de educação e renda. Dessa forma, plantação da Política Nacional para a Integração da
uma política pública efetivamente concebida sob os Pessoa com Deficiência, acompanhando e avaliando
pontos de vista preventivo e inclusivo precisa contem- o planejamento e a execução das políticas nas áreas
plar oportunidades reais de acesso à educação de qua- de transporte, educação, saúde, trabalho, assistência
lidade, a serviços de saúde pública e a trabalho digno social, cultura, lazer, entre outras. Agora, a socieda-
com geração de renda. Vale dizer, tal política necessita de brasileira precisa estar atenta à maneira como os
ser norteada pela ótica dos direitos, o que desloca o diversos ministérios responderão ao documento. E a
foco da questão da deficiência do campo das minorias imprensa certamente pode contribuir para este pro-
para o de uma concepção mais ampla de diversidade cesso de monitoramento.
humana, sem estabelecer segmentações segregativas,
que realimentam o processo de exclusão. Donde re- Quando a imprensa aborda as soluções
tornamos àquele ponto essencial: os direitos das pes- Qual o comportamento da imprensa brasileira
soas com deficiência são simplesmente os direitos de quando cobre as ações voltadas para o enfren-
qualquer outro cidadão… tamento dos desafios que cercam os direitos das
136 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

pessoas com deficiência? Os consultores da pes-


Soluções apresentadas
quisa Mídia e Deficiência detectaram como uma das
Mês Composto* Dias Especiais**
características mais preocupantes desse grupo de
Foco Foco Foco Foco
reportagens a “pressa” que o jornalista demonstra em Central Secundário Central Secundário
encontrar soluções para o fato que relata ou denun- Acesso à 8,7% 3,6% 8,1% 12,9%
cia. Como refletir sobre inclusão é uma prática nova informação
entre todos os segmentos profissionais, tal pressa (educação)
pode ser desastrosa. Acesso às escolas 6,1% – 2,7% 3,2%
Na amostra por Mês Composto, 43,9% das maté- especiais
rias com Foco Central na Deficiência apresentam so- Disseminação 3,5% 2,4% 2,7% 6,5%
de escolas
luções para problemas. Reproduzindo a tendência já
inclusivas
verificada quando a pesquisa analisou as matérias no
Suporte social 1,7% 3,6% 5,4% 9,7%
tocante às causas, essas soluções retratadas também
Cuidados 19,1% 22,9% 13,5% 16,1%
se concentram, muitas vezes, no âmbito da área de médicos e
saúde, sendo que 19,1% delas apontam para cuidados clínicos
médicos e clínicos. Integração 13,9% – 27,0% 6,5%
Já foi apontado em momentos anteriores deste livro Política Pública 14,8% 25,3% 5,4% 6,5%
que a solução para impasses trazidos pela deficiência específica
na vida de um cidadão são de naturezas múltiplas e Suporte 5,2% – – 6,5%
exigem, portanto, soluções múltiplas – e inovadoras. psicológico
As reabilitações, as terapias, as consultas médicas, cer- Envolvimento e 5,2% 8,4% 13,5% 6,5%
tamente devem ser valorizadas, mas sempre inseridas organização da
em um universo mais amplo de avaliação. sociedade civil
em movimentos
A mídia chega a ensaiar tentativas de lidar com
Reformas 1,7% 7,2% – 3,2%
essa possibilidade, mas esbarra na sua própria falta
legislativas
de conhecimento. Mesmo quando o jornalista aponta
Outras 20,0% 26,5% 21,6% 22,6%
como solução um requisito na área da Educação, re- * Na amostra por Mês Composto, discutiram as causas da Deficiência
fere-se a escolas especiais, contrariando a política do 43,5% dos textos com Foco Central e 17,1% daqueles com Foco
Secundário.
Ministério da Educação, que é de implementação de ** No conjunto dos Dias Especiais, discutiram as causas da Deficiência
escolas inclusivas. 25,5% dos textos com Foco Central e 10,3% daqueles com Foco
Secundário.
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 137

Os diversos níveis de exclusão praticamente o mesmo – fato que também reflete, por
Educação e renda são as principais características que outro lado, a falta de creches e pré-escolas em número
diferenciam as unidades da federação com maior taxa suficiente para atender à primeira infância.
de incidência de pessoas com deficiência e aquelas que Contudo, quanto mais as crianças avançam na idade,
possuem menor taxa. “Isto é, deficiência, educação e mais fica evidente o crescimento na proporção daque-
renda são atributos altamente correlacionados”, sus- las que estão fora da escola ou permanecem analfabe-
tenta o pesquisador Marcelo Neri. tas, entre as que apresentam algum tipo de deficiência.
O Relatório Situação da Infância e Adolescência Bra- Esse processo de exclusão crescente também pode ser
sileira 2003, publicado pelo Unicef, apresenta uma sé- observado por meio da comparação entre os dados
rie de dados – extraídos também da base gerada pelo relativos às crianças e adolescentes com deficiência e os
Censo 2000 do IBGE – que reiteram mais uma vez o dados dos sem deficiência. O pequeno número de anos
papel estratégico de uma educação inclusiva para a passados nas salas de aula acaba praticamente vedando
inserção social de crianças e adolescentes (veja tabe- as chances de maior inserção social daquelas com defi-
las a seguir). Fica evidente, por exemplo, que na faixa ciência. Merece atenção ainda o fato de que, de maneira
etária de 0 a 6 anos os índices de crianças com defici- geral, as crianças e adolescentes que apresentam uma
ência e sem deficiência que não freqüentam a escola é deficiência de ordem mental ou algum tipo de paralisia

Nível de escolaridade das crianças por tipo de deficiência – I*


População Primeira Infância Infância
Não freqüentam a escola (0 a 14 anos de idade)
0a6 0a3 4a6 Não freqüentam Não
anos anos anos a escola alfabetizados

População em Geral** 67,91% 90,57% 38,64% 5,50% 12,38%


Sem Deficiência 67,90% 90,51% 38,53% 5,06% 11,74%
Com Deficiência 64,68% 91,58% 38,72% 11,37% 22,41%
Mental 71,19% 89,74% 54,09% 33,55% 55,55%
Visual 49,21% 86,41% 31,74% 6,69% 14,40%
Auditiva 52,92% 85,60% 38,75% 13,10% 28,23%
Locomotora 84,38% 95,84% 56,31% 29,70% 44,52%
Paralisia ou Falta de Algum Membro 78,25% 92,89% 64,63% 38,96% 50,95%
* Fonte: Unicef – Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileira 2003 – Versão Preliminar. Dados: IBGE, Censo Demográfico 2000.
** Refere-se ao total de crianças na faixa etária mencionada.
138 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

Nível de escolaridade das crianças por constitucionais, a União, os estados e os municípios


tipo de deficiência – II* não vêm garantindo de fato tais benefícios.
População entre 10 e 14 Média de anos Segundo a Corde – Coordenadoria Nacional para
anos de idade de estudo a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, na
População em Geral** 3,77 prática o que pode ser observado nessa áreas são ações
Sem Deficiência 3,81 isoladas e pontuais da sociedade civil organizada – fe-
Com Deficiência 3,14 nômeno que, por sinal, acontece hoje em outros im-
Mental 1,71 portantes setores que deveriam estar sendo cobertos
Visual 3,49 por políticas de governo.
Auditiva 2,77 Agrava o quadro o fato de a desarticulação da esfera
Locomotora 2,21 governamental com freqüência comprometer o efetivo
Paralisia ou Falta de 1,92 desenvolvimento dessas iniciativas, evidenciando tam-
Algum Membro bém a necessidade de uma maior interação entre os dife-
* Fonte: Unicef – Relatório da Situação da Infância e Adolescência rentes atores da sociedade comprometidos com a causa.
Brasileira 2003 – Versão Preliminar.
Nos serve como exemplo estudo realizado na região da
** Refere-se ao total de crianças na faixa etária mencionada.
Grande Vitória, no Espírito Santo, pelas psicólogas Sô-
ou falta de algum membro são os que mais dificulda- nia Enumo e Zeidi Trindade, que constatou avanços nos
des encontram em garantir seu espaço nas escolas. setores de reabilitação e educação especial, em contraste a
pouca atenção dada às políticas de prevenção e de inclusão.
Necessidade de abrangência
Esse tipo de diagnóstico é o mais poderoso argumento A visibilidade das políticas
a favor de quem aponta que uma política pública cen- O setor público ocupa posição de destaque em 69 – ou
trada primordialmente na transferência de recursos, 26,3% – das matérias que tem Deficiência como Foco
como a existente no Brasil, não garantirá um futuro Central, aponta o estudo da ANDI e da Fundação
digno para as pessoas com deficiência. Como temos Banco do Brasil. Desses textos, a União é a principal
visto, deveriam ser consideradas igualmente prioritá- responsável por 27,5%; os estados, por 33,3 % (in-
rias as intervenções de porte em áreas como educação, cluído aí o do Distrito Federal) e os municípios, por
saúde, emprego e geração de renda. O quadro atual 20,3% – o material restante se concentra em dois ou
sugere, portanto, que apesar de procurar incorporar mais níveis de governo ao mesmo tempo.
os direitos das pessoas com deficiência em seus textos O fato de o percentual municipal ser o mais baixo
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 139

pode estar refletindo a falta de efetiva atuação descen- quando a fonte os apresenta, entretanto, quase sempre
tralizada das ações de governo para as pessoas com o jornalista os aceita sem qualquer questionamento.
deficiência. Este raciocínio tem apoio no fato de que
geralmente as organizações não-governamentais con- Reavaliando as causas externas
veniadas têm sido os verdadeiros órgãos executores Além da gigantesca tarefa associada ao desenvolvimento
das políticas. Por outro lado, mesmo sendo a política de ferramentas que possam responder de forma apro-
executada através de convênios, não há como justi- priada aos distintos fatores que sustentam o fenômeno
ficar, no contexto do debate público, a ausência do da violência, o campo das causas externas para as defici-
gestor municipal como interlocutor. ências exige que se focalize atenção nos grandes proble-
No contexto dessas 69 matérias, há um predomí- mas provocados pelos acidentes de trabalho e de trânsito.
nio absoluto de abordagens nas quais ações do setor De maneira geral, as políticas públicas de segurança
público estão sendo analisadas, descritas ou divulga- no trabalho ainda são precárias e não conseguem abran-
das. Os outros itens – nos quais este setor está sendo
mencionado, consultado, responsabilizado, cobrado Nível de escolaridade dos adolescentes
por tipo de deficiência*
ou elogiado – tiveram índices inexpressivos, o que
Adolescência
corrobora a hipótese de que ainda falta à mídia reco- População (12 a 17 anos de idade)
nhecer a importância de aprofundar a investigação em Não Não Média de
torno do importante papel que, por definição legal, freqüentam alfabetizados anos
a escola de estudo
cabe aos gestores governamentais, no que se refere à
População em Geral** 14,55% 4,24% 5,39
promoção dos direitos das pessoas com deficiência.
Esses dados mostram também que a imprensa deixa Sem Deficiência 14,07% 3,56% 5,45
de lado as cobranças que habitualmente faz aos gover- Com Deficiência 20,98% 14,04% 4,55
nos em relação a outros assuntos, provavelmente con- Mental 44,27% 48,29% 2,55
siderados de maior interesse público. É possível inferir, Visual 15,87% 6,97% 5,04
ainda, que o problema deriva do fato de boa parte da Auditiva 22,91% 18,10% 3,98
cobertura da área da Deficiência estar atrelada a eventos Locomotora 37,21% 31,70% 3,34
oficiais, conforme vimos no Capítulo 2. Nessas ocasiões, Paralisia ou Falta de 44,92% 39,07% 2,94
apontam os consultores da pesquisa Mídia e Deficiência, Algum Membro
* Fonte: Unicef – Relatório da Situação da Infância e Adolescência
é comum o jornalista perguntar por números – e até exi-
Brasileira 2003 – Versão Preliminar.
gi-los como condição para que a matéria seja publicada; ** Refere-se ao total de crianças na faixa etária mencionada.
140 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

dentes laborais, sendo que 320.398 por motivos típicos,


Em busca da informação ou seja, por falta de segurança e negligência no trabalho.
Destes, 15.029 causaram incapacidade permanente.
A imprensa poderá descobrir quais são as me-
lhores fontes de informação sobre Deficiência, Benefícios e incapacidades
nos níveis governamentais federal, estadual e As estatísticas apontam ainda que entre 1996 e 2000
municipal, ao contactar os responsáveis pelas nada menos de 83.581 pessoas adquiriram uma inca-
políticas sociais: direitos humanos, saúde, edu- pacidade permanente em decorrência de acidentes de
cação, trabalho, transporte e assistência social. trabalho. Essas incapacidades podem ser de dois tipos,
É fundamental ainda consultar os sites da União, e ambas resultam em benefícios pagos pelo governo:
em especial o da Corde (www.presidencia.gov.br/ • Incapacidade Permanente Parcial – Quando o
sedh/corde), onde podem ser encontrados nomes acidentado em exercício laboral, após o devido trata-
e endereços dos responsáveis, em cada estado, mento psicofísico-social, apresenta seqüela definitiva
pelos Conselhos de Direitos da Pessoa com Defi- que implique em: redução da capacidade laborativa
ciência e pelas promotorias do Ministério Públi- devidamente enquadrada em legislação específica;
co especializadas nos direitos das pessoas com redução da capacidade laborativa com exigência de
deficiência, entre outras informações úteis para maior esforço para o desempenho da mesma ativida-
a qualidade do trabalho a ser publicado. n de que exercia à época do acidente; ou, em impossibi-
lidade de desempenho da atividade que exercia à épo-
ger, por exemplo, atividades informais como a pesca da ca do acidente, permitindo, porém, o desempenho de
lagosta, o corte de cana, a extração do sisal, a produção outra após processo de reabilitação profissional.
de carvão e a mineração. Também no contexto formal, • Incapacidade Permanente Total – Quando o
a falta de regulamentação e de fiscalização mais rígidas acidentado em exercício laboral, após o devido tra-
permitem que muitos trabalhadores estejam expostos tamento psicofísico-social, apresenta incapacidade
a graves riscos, não raro em função da postura pouco permanente e total para o exercício de qualquer
responsável e ética de seus empregadores. atividade laborativa.
Uma boa idéia da dimensão do desafio a ser en-
frentado é oferecida pelos números registrados pelo Reforço na fiscalização
Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Ministério da Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, o custo
Previdência Social ao longo de 2002: foram 387.905 aci- anual do governo com reabilitações e indenizações por
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 141

acidentes e doenças de trabalho é de R$ 23,8 bilhões. No imunes a ações de políticas públicas, o que não é ver-
Brasil, cabe a três instituições a gestão das questões asso- dade. O Brasil conta com dois ótimos exemplos, bas-
ciadas à saúde dos trabalhadores: o Ministério da Previ- tante recentes. Um deles é que apesar do forte lobby
dência é responsável pela reparação de danos aos lesio- da indústria do tabaco e de setores da comunicação,
nados; o Ministério da Saúde, pela recuperação da saú- o Ministério da Saúde, durante a segunda gestão Fer-
de dos trabalhadores acidentados (por meio do Sistema nando Henrique Cardoso, conseguiu proibir a publi-
Único de Saúde); e o Ministério do Trabalho e Emprego cidade de cigarro, além de adotar outras medidas que
tem responsabilidade na prevenção de doenças e aciden- objetivavam restringir o consumo do produto no País
tes no trabalho e também no processo de fiscalização. – certamente, deduz-se, o mesmo poderia acontecer
Em outubro de 2003, o Ministério do Trabalho com a bebida alcoólica. Por sua vez, o governo de Cris-
anunciou a intenção de reduzir os custos da previ- tovam Buarque, no Distrito Federal, promoveu uma
dência social e da assistência médica proporcionada exemplar experiência de civilidade, até então inédita no
pelo SUS, reforçando o trabalho de fiscalização e au- trânsito selvagem das cidades brasileiras, por meio de
tuação nas empresas. Na época, o ministério contava campanhas de esclarecimento dos direitos e deveres de
com 3.200 auditores fiscais para atuar nos 27 estados motoristas e pedestres no espaço público, com duras
brasileiros. Apenas 700 deles exerciam ações na área sanções para os que transgrediam as regras.
de segurança e medicina do trabalho. É fundamental lembrar, entretanto, que quando se
fala em acidentes de trânsito, além da bebida e do des-
Enfrentando o trânsito respeito às regras elementares de conduta no espaço pú-
Em outra vertente, o governo federal e os estaduais têm blico, o Brasil sofre com outro grave problema: o mau
desenvolvido campanhas de publicidade no sentido de estado de conservação das estradas e a sinalização de-
alertar para os riscos da velocidade, da imprudência, da ficiente. Embora a imprensa venha cumprindo o seu
ingestão de bebidas alcoólicas quando se dirige e do papel de denunciar a situação como causa de muitos
desrespeito às regras do trânsito. Mas estas iniciativas acidentes e diversas pesquisas tenham confirmado esse
soam insuficientes diante de uma avalanche de outras cenário, o poder público parece continuar ignorando
campanhas publicitárias propagando mensagens se- as condições lastimáveis das estradas brasileiras.
dutoras sobre as delícias da velocidade ou o charme
quase que compulsório das bebidas, dois elementos A necessidade de quantificar
que juntos produzem efeitos devastadores. Por outro lado, apesar de existirem campanhas aler-
Mazelas sociais como estas costumam parecer ser tando para os riscos de morte prematura decorrentes
142 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

da violência urbana e no trânsito, paradoxalmente eles não têm idéia do que pode acontecer caso a regra
não existem peças que falem sobre as diversas inca- não seja seguida. Tampouco sabem das possibilidades
pacitações provocadas por estas mesmas razões. O de incapacitação. E mesmo o bem informado não en-
médico Eduardo Biavati, Coordenador do Centro de contra, no Brasil, todos os acessórios necessários para
Pesquisa em Educação e Prevenção do Hospital Sarah proteger a criança”, afirma Bivati.
Kubistchek, em Brasília, acredita que isso aconteça O preconceito é outro problema que dificulta a
pela falta de dados precisos. “Os hospitais só quantifi- criação de campanhas preventivas. Caso uma cam-
cam as mortes. Levantar informações sobre o tipo de panha procure alertar para o risco de incapacitação
acidente que levou à incapacitação, o tipo de deficiên- falando das dificuldades que a pessoa com deficiência
cia, a idade, o sexo da pessoa, é muito complexo e não enfrenta, corre-se o risco de aumentar a discriminação
há pessoal para fazer isso”. contra essa parcela da população. A saída, na opinião
Esse mapeamento só foi possível na Rede Sarah do médico, é discutir abertamente as conseqüências,
por meio de um trabalho extenso, que envolveu en- inclusive seu impacto sobre a família, porém enfati-
trevistas diárias com os pacientes. “Na situação atual zando que isso não significa o fim da vida da pessoa e
em que o País se encontra, não se sabe nem quem está que não se deve vê-la como alguém incapaz – ou seja,
dando entrada nos hospitais, nem a quem deveria ser é importante destacar a possibilidade de reconstrução
dirigida uma campanha dessas. A própria imprensa do cotidiano. Entretanto, ele alerta que essa mudança
dá uma ênfase extremada à morte, porque esses são os de perspectiva não acontece facilmente, “principal-
dados disponíveis”, comenta. mente no Brasil, onde a pessoa com deficiência costu-
ma virar um cidadão de quinta categoria”.
O risco para as crianças
Segundo os números da rede, mais de 300 mil pessoas As doenças congênitas
sobrevivem aos acidentes todos os anos. Dessas, apro- Entre as chamadas causas internas da Deficiência, as
ximadamente 100 mil adquirem alguma incapacita- doenças congênitas estão entre aquelas cuja preven-
ção. O não uso do cinto de segurança, principalmente ção depende, de maneira geral, de ações de execução
entre crianças de seis a 12 anos, é a principal causa de simples e eficazes. E, neste sentido, deveriam merecer
lesão cerebral. Nos outros casos, o fator determinante especial atenção por parte das políticas públicas.
é a desinformação dos pais. “Rarissimamente os pais Entende-se por deficiências congênitas aquelas ano-
sabem transportar as crianças nos carros. Primeiro, malias funcionais ou estruturais do desenvolvimento
porque são muito complicadas as orientações. Depois, do feto decorrentes de fator originado antes do nasci-
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 143

mento do bebê, mesmo que se manifeste mais tarde. Ela aponta ainda que para resultados mais con-
O processo de prevenção às doenças congênitas deve, tundentes na prevenção “é preciso investir também
portanto, começar na gravidez. E para se ter uma no- na criação de um registro nacional de má formações
ção da importância dessa prevenção basta conhecer o congênitas, para se conhecer melhor a dimensão do
resultado de pesquisa realizada em 1983 por Oswaldo problema, e na educação dos médicos e da população”.
Frota-Pessoa, professor do Instituto de Biociências da Vale lembrar que em outro setor, o das doenças in-
Universidade de São Paulo: o aconselhamento genéti- fantis, o Brasil tem um histórico de vitórias. A guerra
co e o manejo adequado pré e perinatal podem evitar contra a poliomielite foi vencida por meio de uma
entre 40% e 50% dos casos de deficiência mental e série de campanhas. Todos os anos as instituições de
paralisia cerebral. saúde se articulam e os meios de comunicação se mo-
Dafne Horovitz, geneticista e doutoranda em Medici- bilizam para que milhões de crianças sejam vacinadas.
na Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Esse é um exemplo positivo de ação de saúde pública
aponta uma série de ações de prevenção das defici- preventiva bem-sucedida, que deveria ser estendida a
ências congênitas que deveriam ser alvo de políticas outras áreas.
públicas: aconselhamento genético, orientações quan- Uma boa notícia para a prevenção no nível con-
to ao risco de bebês com anomalias cromossômicas gênito é que a Anvisa publicou em 2003 portaria
em gestantes com mais de 35 anos, vacinação de obrigando a suplementação das farinhas de trigo e de
mulher em idade fértil contra a rubéola, suplemen- milho com ácido fólico. Este ácido reduz em 30% o
tação vitamínica e ácido fólico de para mulheres em risco de defeito no tubo neural (estrutura que se con-
idade fértil. Além dos habituais cuidados pré-natais verte em medula espinhal e cérebro entre a terceira e a
e no parto. quarta semana de gestação). O início dessa ação estava
previsto para julho de 2004.
Diversificando as estratégias
Segundo a médica geneticista, no Brasil existem hoje Exames pré-natais
poucas políticas de prevenção às deficiências congê- Os exames pré-natais devem ser realizados pelo menos
nitas, quase sempre pobremente estruturadas – ela seis vezes, durante a gravidez. Por meio deles podem
cita como exemplo a campanha de vacinação contra a ser detectados diversos fatores de risco que podem
rubéola para mulheres em idade fértil, realizada pelo provocar alguma deficiência, como sífilis e diabetes.
Ministério da Saúde em 2002, que apesar de muito Entretanto, diversos outros testes fundamentais, como
importante, foi uma ação isolada, sem continuidade. o da rubéola, não fazem parte do pacote obrigatório
144 Deficiência não é doença Mídia e Deficiência

do pré-natal oferecido pelo SUS – dependem de uma tais exames façam parte da lista mínima obrigatória
solicitação do médico e disponibilidade de material. para a gestante.
A ginecologista e obstetra Marileusa da Costa Dados da Corde revelam que cerca de 40% dos
questiona o fato do SUS não assegurar o direito a casos graves de deficiência mental e 60% dos de defi-
vários exames de profunda importância para pre- ciência visual poderiam ser evitados por meio dessas
venir deficiências no feto. “Se o sistema de saúde medidas preventivas.
do País priorizasse a medicina preventiva, muitos
deles deveriam ser realizados mesmo antes da mu- Mães e bebês em risco
lher engravidar”, afirma. Ela acredita que a falta de No estudo realizado na Grande Vitória, foram levan-
recursos é hoje o principal impedimento para que tadas as ações de prevenção disponibilizadas tanto

Testes que podem mudar uma vida

Teste do Pezinho – Realizado em recém-nasci- mo (2,5 em 10 mil). O exame para detectar falhas
dos, diagnostica mais de 20 doenças, entre as quais o de audição é feito no berçário, em sono natural,
hipotiroidismo congênito, fenilcetonúria e fibrose de preferência no segundo ou terceiro dia de vida
cística. O teste do pezinho é sugerido para crianças (é possível, contudo, realizá-lo nos três primeiros
que tenham entre três e 30 dias de vida, o que não meses). Ele não exige nenhum tipo de intervenção
implica que não possa ser realizado fora desta fai- invasiva e é absolutamente inócuo, sendo proces-
xa etária. Basta a coleta de três gotas do sangue do sado por meio de emissões acústicas avocadas. O
bebê, após as primeiras mamadas do dia. Em geral, Teste da Orelhinha faz parte dos procedimentos
o teste acontece na própria maternidade e é obriga- do SUS, mas ainda não é obrigatório. No Rio de
tório nos procedimentos do SUS. Janeiro, uma portaria definiu sua obrigatorieda-
Teste da Orelhinha – Em cada 1 mil recém- de. A Câmara dos Deputados discute um projeto
nascidos, de dois a seis apresentam algum tipo de de lei (PL 6951/2002), de autoria de Pompeo de
perda auditiva. É uma incidência muito alta se Mattos (PDT-RS), que propõe o mesmo em nível
comparada com outras doenças que têm testagem nacional. Em novembro de 2003, o projeto estava
obrigatória assim que o bebê nasce, como a fenilce- pronto para ser votado na Comissão de Segurida-
tonúria (um em 10 mil nascidos) e o hipotireoidis- de Social e Família. n
Mídia e Deficiência Deficiência não é doença 145

para as gestantes quanto para os recém-nascidos. Os à falta a vitamina A, principal micronutriente cuja ca-
resultados mostram que tais serviços atendem às mu- rência provoca cegueira.
lheres em apenas 58% dos casos. Já diagnósticos e Essa carência afeta hoje mais de 100 milhões de
exames para a detecção precoce de algum tipo de crianças no planeta e, além da cegueira, provoca a
deficiência nos bebês são realizados em parcela ainda morte de pelo menos uma entre quatro crianças de
menor – 51% dos casos. regiões em que sua falta é notória. A suplementação
Segundo Sheyla Miranda, coordenadora-geral da pode ser feita de diversas formas: o aleitamento ma-
Saúde da Pessoa com Deficiência do Ministério da terno, o consumo de suplementos alimentares e a
Saúde, todas as deficiências, com exceção das con- inserção da vitamina A em alimentos comuns. No
gênitas, podem ser prevenidas na primeira infância. Brasil, não existem leis que obriguem indústrias ali-
Na triagem neonatal, que envolve o teste do pezinho, mentícias a adicionarem a substância a seus produtos.
o da orelhinha e outros procedimentos, podem ser No entanto, as famílias carentes podem encontrar na
prevenidas deficiências mentais, auditivas, visuais e Multimistura, distribuída pela Pastoral da Criança, a
motoras. Essa triagem pode ser realizada até o 30° quantidade necessária de vitamina A para seus filhos.
dia de vida do bebê, contudo de preferência deveria Outra das Metas do Milênio é, até o ano de 2005, con-
acontecer entre o segundo e o sétimo dia (veja qua- seguir eliminar as deficiências causadas pela carência de
dro na página anterior). iodo. Segundo o Unicef, ela é a causa primária de difi-
culdades de aprendizado e danos cerebrais preveníveis,
As carências nutricionais com grande impacto no cérebro do feto em desenvolvi-
Além dos cuidados neonatais, é importante prevenir mento. Crianças que possuem carência de iodo ou cujas
uma outra grande causa de deficiências: a desnutri- mães sofreram de carência de iodo na gravidez podem
ção. Para se ter uma idéia, a OMS estima que 250 mil adquirir cretinismo, nanismo e deficiência auditiva ou
crianças por ano tornam-se cegas devido ao deficit de fala. A entidade indica como o melhor caminho para
crônico de vitaminas. Uma das metas mundiais esta- atingir seu objetivo fortificar o sal com a substância. No
belecidas na Sessão Especial da Criança, realizada em Brasil, desde 1974, uma lei obriga as indústrias benefi-
maio de 2002 na Assembléia Geral da ONU, em Nova ciadoras do sal a adicionarem iodeto de potássio antes
Iorque, é eliminar, até 2010, as deficiências associadas do produto ser exposto para consumo. n
Caminhos para Seminário com jornalistas

7 uma cobertura
de qualidade
e fontes de informações
reflete sobre os meios de
instrumentalizar a sociedade
para um debate mais efetivo
sobre a Deficiência

A ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância e a Fundação Banco


do Brasil realizaram em Brasília, entre os dias 13 e 15 de julho de 2003, o seminário Mídia
e Deficiência – Diversidade, cidadania e inclusão na imprensa brasileira. A iniciativa, que
reuniu 60 pessoas, entre jornalistas e especialistas, teve como objetivo discutir o tratamento
editorial oferecido pelos principais veículos de comunicação do País às temáticas relaciona-
das à Deficiência. Buscava-se, ainda, que o estreitamento do diálogo entre profissionais de
comunicação e fontes de informação viesse a refletir-se, num futuro próximo, na qualifica-
ção da cobertura dos diversos aspectos associados ao tema. Ü O encontro foi subsidiado por
texto elaborado pela ONG Escola de Gente, a partir das conclusões do estudo quanti-quali-
tativo Mídia e Deficiência, que também serviu de matéria prima para a construção do pre-
sente volume. Divididos em grupos de trabalho, os participantes puderam debater aspectos
como o enfoque da notícia, os conceitos utilizados e a abordagem de políticas públicas. A
partir disso, consolidaram recomendações para jornalistas e para fontes de informação, além
de sugestões de pautas que contribuem para uma nova perspectiva na inves-
tigação dos direitos relacionados às pessoas com deficiência. O resultado das
ações desenvolvidas ao longo dos três dias de debate está sintetizado a seguir.
Para realizar uma boa cobertura, o jornalista deve abraçar a causa
das pessoas com deficiência, tornando-se uma espécie de militante? Este tipo
de questionamento surgiu ao longo do seminário Mídia e Deficiência, à me-
dida que os profissionais de comunicação aprofundavam os debates com os
extremamente aguerridos atores sociais da área.
A dúvida provavelmente estará colocada para qualquer repórter que tem
na pauta social seu principal foco de atividade. Mas diante de um tema que
avança de forma tão evidente em questões ligadas à discriminação, à exclusão
social e aos Direitos Humanos, soa ainda mais razoável que, eventualmente,
as fronteiras entre a função jornalística e a de mobilização pareçam difusas.
A resposta para esse tipo de questão não podia ser outra: não, o jornalista
não precisa ser um militante para oferecer um tratamento de qualidade ao
tema – na verdade, ao tornar-se um ator totalmente identificado com a causa
estará automaticamente correndo o risco de perder o distanciamento crítico
necessário para desenvolver suas investigações. Porém, isso não significa que
ele não necessite de um cuidado especial ao abordar o tema Deficência. Nesse
sentido, dois pontos de balizamento destacaram-se nos debates do seminário:
1. Da perspectiva do bom jornalismo, não se pode exigir que uma repor-
tagem necessariamente defenda o modelo inclusivo, por mais que este
represente um enorme avanço em relação aqueles anteriormente conhe-
cidos, ao entender a pessoa com deficiência como um cidadão com os
mesmos direitos e deveres que os demais.
Mídia e Deficiência Caminhos para uma cobertura de qualidade 149

2. Por outro lado, do mesmo ponto de vista do bom • É imprescindível relacionar as temáticas que dizem respei-
jornalismo, não se pode aceitar que, ao cobrir um to às pessoas com deficiência ao fato de que elas são sujeitos
aspecto relativo à Deficiência, o repórter ignore o de direitos, como quaisquer outros cidadãos. Na cobertura
fato de que o paradigma da inclusão constitui-se de um evento (eleitoral, cultural ou cívico), por exemplo, o
no marco legal hoje advogado pelas Nações Uni- profissional deve manter um olhar atilado para as questões
das, ratificado pelo Brasil e integrado à Constitui- de acessibilidade. Esses cuidados podem transformar com-
ção Federal. Citar este fator – mesmo que decida portamentos, ampliar perspectivas e enriquecer conteúdos.
dar voz a fontes que defendem posições diferentes – • Uma das falhas mais freqüentes na cobertura jornalística
passou a ser parte do processo de contextualização diz respeito ao não-acompanhamento do impacto que
da realidade, inerente a qualquer processo objetivo as políticas públicas trazem para a vida da pessoa com
de investigação jornalística. deficiência. É insuficiente noticiar que o governo tem
programa de entrega de próteses e órteses, por exem-
Recomendações para os plo. É preciso verificar, também, o desdobramento das
profissionais de comunicação ações. Acompanhar, fiscalizar e cobrar ajuda a melhorar
• A questão da Deficiência permeia todos os temas, par- os procedimentos e a assegurar o cumprimento de com-
tindo do pressuposto da diversidade, da diferença e do promissos.
exercício do olhar que considera a pessoa com defici- • Jornalismo investigativo não se restringe a propagar de-
ência como um cidadão. É importante adotar a ótica núncias. Embora seja menos atraente, é necessário inves-
de que a Deficiência pode ser uma característica, mas tigar no meio social aquelas instituições onde os direitos
não traduz a pessoa do ponto de vista de sua huma- estão sendo respeitados. Pode ser mais trabalhoso, porém,
nidade e do seu direito de estar inserida em todos os é socialmente mais eficiente. Identifique quem são as legí-
espaços da vida social. timas lideranças que atuam junto a pessoas com deficiência,
150 Caminhos para uma cobertura de qualidade Mídia e Deficiência

evitando que oportunistas ou disputas internas de grupos ciedade: seu serviço acolhe todos os tipos de pessoas?
prejudiquem a credibilidade do veículo. Cuidado, confira Caso acolha só um tipo, por quê? O que você oferece
suas informações e fontes, pois entidades que aparecem de diferente? Este serviço diferenciado permite que a
mais nem sempre são as mais confiáveis. pessoa ali atendida tenha acesso a outros serviços? O
• Existe uma série de barreiras a serem ultrapassadas para que você tem feito para aprimorar o seu atendimento e
melhorar a qualidade da cobertura jornalística sobre passar a atender a todos?
os temas atinentes ao universo das pessoas com defi-
ciência: preconceitos, formação insuficiente e ausência Sugestões de pautas
de informação. Em determinadas circunstâncias, os • Ao que parece, persiste um certo entendimento de que
profissionais são submetidos a chefias insensíveis ao pessoa com deficiência não é cidadão e, portanto, não
tema Deficiência e aos interesses mercadológicos de merece figurar em pesquisas. E, nas raras vezes em que
cada veículo. Cabe à mídia reverter essa relação por aparece, há desconhecimento na abordagem do tema. O
meio de pautas criativas, reconhecendo nesse público IBGE, por exemplo, classifica a população “míope” como
sua importância como potenciais leitores e consumi- pessoa com deficiência visual. A ausência de dados sobre
dores de informação. Em princípio, matérias excessiva- as diferentes deficiências, bem como sobre as perspecti-
mente pedagógicas não são interessantes do ponto de vas de gênero, aspectos socioeconômicos, raciais e reli-
vista jornalístico. No entanto, em alguns casos, torna- giosos, continua a ser um fator que limita a formulação
se inevitável a citação de artigos e leis. Quando for o de políticas inclusivas. Há, ainda, divergências flagrantes
caso, procure fazê-lo de maneira leve, contextualizada, nas estatísticas apresentadas pelo IBGE e pelo Ministé-
de forma que o leitor as considere imprescindíveis. rio da Educação quanto ao mapa da deficiência do País,
Procure mostrar suas nuances e cite exemplos que en- como o número de crianças com deficiência na escola.
riqueçam a referência. • Seria muito interessante que o jornalista trouxesse à tona
• O fato de a imprensa ser em boa parte responsável pela a questão da pessoa com deficiência por meio de enfo-
formação da opinião pública, também a coloca em po- ques diferenciados. Porque elas não são ouvidas quando
sição vital frente à visibilidade da luta pela inclusão e o assunto é comportamento, sexualidade, moda, dança
ao reconhecimento das pessoas com deficiência como e beleza? Quais são os seus hábitos de consumo? As
cidadãs plenas e atuantes. Ao entrevistar partidários diferenças, embora efetivas, muitas vezes acabam por
das diferentes correntes de inserção, o profissional de desvelar, paradoxalmente, as inevitáveis identidades
comunicação deve questioná-los de modo a deixar na diversidade humana, unindo a sociedade no que ela
claro a relevância, ou não, do serviço prestado à so- tem de integrador e solidário.
Mídia e Deficiência Caminhos para uma cobertura de qualidade 151

• A questão das cotas de reserva de espaço para pessoas renças, as semelhanças, os limites e as potencialidades
com deficiência em escolas, instituições públicas ou de cada uma? Mostre experiências dos dois lados. A ex-
empresas é um dos temas mais polêmicos do movi- pectativa é que se evidencie, por meio das iniciativas de
mento por uma sociedade inclusiva. Existem aspectos sucesso, o que realmente são, como funcionam, quais os
legais que ainda carecem de regulamentação e rendem seus paradigmas. Vale destacar que a inclusão depende
boas pautas. O que o Legislativo (Congresso, Assembléias das seis acessibilidades (e não apenas da arquitetônica),
e Câmaras Municipais) pensa sobre isso? E as empresas? que não há apenas um tipo de deficiência e que cada
Oferecem condições para que as pessoas com deficiên- uma delas possui várias especificidades.
cia trabalhem em condições adequadas? Há mobilidade • Por que pessoas com deficiência não aparecem comen-
profissional? Ou elas insistem em alimentar o status do cereal matinal em propagandas? Por que mulheres
quo da exclusão e mantê-los indefinidamente como cadeirantes não podem protagonizar peças publicitá-
estagiários? Quanto ao governo (estadual, federal e rias sobre turismo? Há informações de que empresas
municipal), quais os programas e ações desenvolvidas as veiculam em suas campanhas no exterior, mas não
no quesito cotas? Qual a previsão orçamentária para o fazem aqui, devido à resistência, injustificada, em
esses programas? se associar o produto anunciado à Deficiência, como
• A produção de informação de qualidade dirigida às pes- se as próprias pessoas com deficiência não fossem
soas com deficiência é muito limitada no Brasil. Seria potenciais consumidores. É preciso questionar esta
oportuno que os jornalistas realizassem pautas sobre o situação e suscitar um debate para que os veículos de
tema. Que atenção vem desenvolvendo o mercado edi- comunicação (revistas, jornais, TV, rádio etc.) desper-
torial para esse segmento? Ele conhece suas preferências tem uma consciência sobre esta dimensão. Embora a
e desejos? Como incluí-los (da maneira mais ampla condição de consumidor seja questionável sob muitos
possível) no mercado de informações? Que referências aspectos, ela é um elemento importante de inserção
usam quando querem comprar seus produtos? Se já há social e de visibilidade pública.
por parte de empresas o interesse de atrair outros seg- • Responsável pela criação de conceitos e novas tecnolo-
mentos (negros e homossexuais, por exemplo), por que gias, até agora a universidade não garante o livre acesso
o da Deficiência não é incluído? Por que não editar um às pessoas com deficiência, apresentando até mesmo
guia – a ser atualizado anualmente – com informações sérios problemas de acessibilidade em seus campi.
de seu interesse sobre hotéis e espaços turísticos? Como os cursos de Arquitetura e Urbanismo podem
• O debate entre Educação Inclusiva e Educação Integra- incorporar metodologias voltadas efetivamente para a
dora continua a ser um tema palpitante. Quais as dife- inclusão? Ciências como Psicologia, Sociologia, Antropo-
152 Caminhos para uma cobertura de qualidade Mídia e Deficiência

logia e História poderiam contribuir com conhecimentos Qual sua importância para as pessoas com deficiência?
sobre diferentes aspectos relacionados às pessoas com No Distrito Federal, onde a lei já vigora, há um centro
deficiência? Centros de pesquisas poderiam financiar o de treinamento de nível internacional que já “exporta”
aprofundamento interdisciplinar do tema Deficiência? cães-guia para vários municípios brasileiros. Quais ci-
• O despreparo dos serviços de segurança pública em lidar dades da América Latina oferecem esse serviço? Como
com pessoas com deficiência tem provocado enganos e se dá a relação entre o cão-guia e seu dono? Qualquer
até incentivado o crime. Com receio de revistar ou vigiar pessoa com deficiência pode se valer de um cão-guia?
suas ações, policiais permitem que pessoas com síndro- Por que somente os labradores são considerados ade-
me de Down, por exemplo, sejam usadas como “aviões” quados para realizar o serviço?
pelo tráfico; até falsos cadeirantes têm assaltado bancos. • São inúmeros os relatos de esforços inclusivos na área
O que as autoridades têm a dizer? E as instituições de da Educação que se esvaziaram por não contarem, por
proteção às pessoas com deficiência? A formação de exemplo, com apoio de setores como o de transporte e o
profissionais de segurança para lidar com esse público é de assistência social. É fácil lembrar dos freqüentes casos
uma medida que urge. de crianças com deficiência que, em um primeiro mo-
• O direito à saúde é um bem fundamental. Nos pronto- mento, tiveram significativo apoio de professores cientes
socorros e unidades de saúde pública do Brasil, porém, de que era seu dever lutar por medidas inclusivas. Mui-
faltam intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Li- tos desses alunos, entretanto, são obrigados a abandonar
bras), tornando ainda mais difícil a vida das pessoas seus estudos porque o sistema de transporte da cidade
com deficiência auditiva que procuram atendimento ou não colabora para que cheguem até a escola. Isso pode
que solicitam ajuda. Projeto de lei, em São Paulo, prevê acontecer por razões que vão do alto custo das passagens
a presença de intérpretes da língua de sinais em todos à falta de acessibilidade para subir ao ônibus – e até mes-
os locais públicos do município. Isso acontece de fato? mo pela dificuldade em sair de casa (por exemplo, uma
Aonde mais? E a TV, por que não inclui permanente- rua esburacada prejudica a autonomia de adolescentes
mente um intérprete da Língua Brasileira de Sinais na cegos ou com paralisia cerebral).
programação normal? • O passe livre para pessoas com deficiência no sistema
• A lei que legitima a atuação de cães-guia no País já foi público de transportes não foi implantado até agora.
aprovada em duas comissões da Câmara dos Deputa- Atualmente estão sendo avaliadas as concessões de pedi-
dos. Atualmente está na fila da pauta de votação em dos feitos em 1999. Calcula-se que a demanda atinja 200
plenário daquela casa. Depois, segue para o Senado mil pessoas, de acordo com o Ministério dos Transportes.
até a sanção presidencial que fará dela uma lei federal. A equipe de servidores que concede o passe é pequena,
Mídia e Deficiência Caminhos para uma cobertura de qualidade 153

motivo pelo qual entidades de defesa das pessoas com • As empresas aéreas têm uma série de serviços voltados
deficiência têm solicitado ao governo que o número seja às pessoas com deficiência. Não há, porém, informações
ampliado. Recentemente houve um aumento, ainda con- sobre quais são nem como usá-los. É preciso cobrar a
siderado insuficiente. Além disso, o sistema público de divulgação, até sob o argumento de que a difusão con-
transporte no País é um dos mais excludentes do mundo. tribui para melhorar a imagem da empresa junto ao
Por que até hoje a maior parte dos veículos (ônibus, prin- público. Afinal, respeito à cidadania é não só um direito,
cipalmente) não possui estrutura que atenda às pessoas mas prova de excelência de serviços.
com deficiência? No Rio de Janeiro, existem em torno de • Tramitam atualmente no Congresso mais de 300 proje-
50 empresas de ônibus e apenas 14 veículos adaptados. tos de lei envolvendo direitos das pessoas com deficiência.
• Pessoas com deficiência (seja mental, física ou visual), Setores do governo e entidades de defesa desses direitos
assim como seus responsáveis legais, já gozam do direito reconhecem que há falhas na articulação com o Legislativo.
à isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados Além disso, quando aprovadas, as leis não prevêem sanções
(IPI) na compra de veículos. Só falta a Receita Federal re- contra quem as burlam. Na verdade, em sua maioria, elas
gulamentar a lei, definindo regras e procedimentos para são sistematicamente desrespeitadas. Uns alegam desco-
a concessão do benefício. Quando será feita? Quantas nhecimento, outros, falta de condições técnicas, e assim
pessoas serão beneficiadas? É difícil adquirir um veículo por diante. E os parlamentares, o que pensam a respeito?
de acordo com as especificações técnicas? É muito caro? • A Reforma da Previdência Social traz profundas mu-
Existe fila de espera? O que muda na vida das pessoas danças com relação a direitos e benefícios para milhões
com deficiência quando eles se tornam independentes? de brasileiros. No caso das pessoas com deficiência, esta-
Se as pessoas com deficiência podem dirigir seu próprio mos falando de 24,5 milhões de cidadãos que, em gran-
carro levando suas famílias, por que não podem exercer de parte, estão nessa condição devido à ausência de
atividade remunerada como, por exemplo, trabalhando políticas públicas efetivas. Após décadas de omissão, o
como taxistas ou motoristas particulares? Estado não pode passar a considerá-los “iguais”, quan-
• O tratamento nas agências bancárias em relação às pesso- do historicamente lhes negou o direito à igualdade.
as com deficiência ainda apresenta indícios de discrimi- Entidades de defesa dos direitos das pessoas com de-
nação, como no caso de um gerente que julgava ser-lhes ficiência negociaram com parlamentares alguns arti-
dispensável a concessão de cartões de crédito sob a ale- gos da lei, em especial a redução do tempo de aposen-
gação de que “não têm dinheiro para gastar”. É sempre tadoria e de contribuição. Resta saber ainda se a mu-
bom lembrar que de uma maneira geral a discrimina- dança inclui o questionamento sobre os serviços pres-
ção está sujeita às penas da lei. tados às pessoas com deficiência.
154 Caminhos para uma cobertura de qualidade Mídia e Deficiência

Recomendações para as Colaborar com esse trabalho – e acompanhar de perto


fontes de informação seu desdobramento – é uma oportunidade valiosa.
• O papel desempenhado pelas instituições de defesa dos • As organizações e os especialistas nem sempre sabem lidar
direitos das pessoas com deficiência é crucial para que com a mídia, o que exige capacitação para reverter o qua-
seja ampliada a visibilidade pública dos temas de interesse dro. É importante que as entidades e os especialistas estejam
para essa área. É necessário, portanto, que dispensem um atentos à produção das notícias e dispostos a esclarecer, criticar
cuidado especial tanto à formulação de materiais infor- e reconhecer o mérito do trabalho realizado pelos jornalistas,
mativos quanto ao conteúdo dos dados que subsidiam os visando à progressiva melhoria da qualidade da cobertura.
jornalistas. Afinal, a qualidade das informações é a pedra • Faz sentido criar iniciativas que estimulem diretamente
de toque do material a ser editado. Ainda que as institui- a multiplicação de boas reportagens na área. No mo-
ções não possam interferir no enfoque, nenhum editor mento não existe nenhum prêmio relevante para se
resiste à força de uma boa informação. distinguir o empenho dos jornalistas em realizar cober-
• Além de estruturar-se no sentido de garantir o fluxo de turas de qualidade sobre as temáticas relacionadas ao
informação para as redações, é recomendável que as universo das pessoas com deficiência.
entidades ligadas à área da Deficiência busquem conta- • Estabelecer parcerias com universidades para abrir o
tar periodicamente com editores, chefes de reportagem, debate sobre as deficiências é uma medida que pode
produtores e proprietários dos grupos de comunicação, ser muito fecunda para a difusão dos conceitos de socie-
de forma a estreitar relações. Não se deve esquecer, tam- dade inclusiva. Neste sentido, seria oportuno realizar
bém, que cabe às próprias empresas a responsabilidade cursos, seminários e publicações para aprimorar, sensi-
de perseguir permanentemente o quesito qualificação – bilizar e atualizar universitários. O processo poderia ser
elas têm condições de promover debates de seus jorna- aprofundado a partir da inserção dos temas nos próprios
listas com pessoas ligadas ao tema. currículos. Por que não propor disciplinas que discutam
• É necessário envolver sindicatos de jornalistas e asso- as grandes questões da Deficiência no Brasil?
ciações, estimulando o lançamento de guias de fontes • No mesmo sentido, é fundamental que os setores que
e material informativo para as redações. Durante o promovem debates sobre os mais diversos campos re-
seminário Mídia e Deficiência, houve um compromisso lacionados à agenda social – educação, saúde, reforma
público da Fenaj - Federação dos Jornalistas Profissio- agrária, arquitetura, entre outros – incorporem o tema
nais em expandir os debates sobre o tema nos estados. da Deficiência no ambiente de discussão. n
Mídia e Deficiência Caminhos para uma cobertura de qualidade 155

10 dicas para uma cobertura qualificada sobre Deficiência

Diversas ações de apoio à qualificação da mídia internacionais pela garantia dos direitos humanos
brasileira no que se refere à abordagem do tema in- de pessoas com deficiência.
clusão de pessoas com deficiência na sociedade vêm
sendo desenvolvidas pela Escola de Gente – Comu- 2. Não correr o risco de considerar como notícia o que
nicação em Inclusão. As informações a seguir, ela- não é notícia.
boradas pela ONG, sintetizam diversos dos pontos O assunto Deficiência costuma gerar um tipo de
centrais debatidos ao longo deste livro e poderão emoção que muitas vezes impede o jornalista de
ser de grande utilidade no dia-a-dia das redações. manter a lucidez defendida no exercício diário da
profissão. Toda notícia sobre Deficiência parece ser
1. Lembrar que o adjetivo “inclusivo” está associado a uma superpauta, o que nem sempre é verdade. Ao
ambientes e a relacionamentos abertos à diversidade receber um release, é importante evitar ser influen-
humana, e não simplesmente a situações que envol- ciado pelo que parece inusitado e ótimo, porque a
vam pessoas com deficiência. pauta pode ser antiga e equivocada.
Nesse contexto, “escola inclusiva” e “trabalho inclusi-
vo”, por exemplo, são expressões utilizadas equivoca- 3. Ao fazer uma matéria sobre deficiência, ficar atento
damente pela mídia, que as reproduz como sinôni- para não mudar seus critérios de investigação habituais.
mos da presença de crianças, jovens ou adultos com Jornalistas precisam manter, diante do assunto
deficiência. Só podem ser qualificados como “inclu- Deficiência, o mesmo olhar crítico e desconfiado
sivos” ambientes, relacionamentos, ações e situações com que se debruçam sobre outros temas. Não é
que ofereçam a todo e qualquer ser humano, mas isso o que vem acontecendo. A experiência mostra
a qualquer ser humano mesmo, oportunidades de que ao apurar uma matéria sobre Deficiência, os
desenvolver seus potenciais com dignidade. Na dú- profissionais de imprensa se tornam mais ingê-
vida se a palavra “inclusão” cabe em determinado nuos, menos críticos, acreditam demais nas pes-
contexto, o jornalista pode optar pelo vocábulo soas que entrevistam e, mesmo quando procuram
“inserção”, que não está vinculado a movimentos obter mais de um depoimento, têm dificuldade
156 Caminhos para uma cobertura de qualidade Mídia e Deficiência

para perceber o que existe de comum e de não- ambiente que nos cerca. Assim, os super-heróis
comum entre a abordagem desses personagens. totais e infalíveis existem mais freqüentemente
Deslizes inadmissíveis em outras áreas, como in- no nosso desejo do que na realidade, e as matérias
formação de má qualidade, são mais facilmente que os valorizam devem tomar cuidado para não
justificados se a matéria é sobre Deficiência, minimizar o valor de uma pessoa com deficiência
principalmente se envolve o conceito de inclu- que não optou por esse caminho. A inclusão nos
são, uma vez que este é um grande desconhecido propõe a construção de uma sociedade na qual os
até mesmo pelas pessoas com deficiência. heróis sejam apenas mais uma possibilidade.

4. No afã de não discriminar, muitos profissionais da 6. Ter uma Deficiência não é o mesmo que estar doen-
imprensa superestimam as pessoas com deficiência. te. Deficiência também não é sinônimo de ineficiência.
Esse tipo de discriminação se manifesta através de Deficiência e doença têm definições distintas pela
adjetivos generalizantes, como dizer que empre- Organização Mundial de Saúde. Ao confundir de-
gados com deficiência são mais leais e produtivos, ficiência com doença, a mídia comumente reforça
ou homogeneizações, como escrever que crianças a idéia precipitada de que o primeiro passo para
com síndrome de Down têm necessariamente um inserir uma pessoa com deficiência na sociedade
dom para as artes. É importante manter em vista é curá-la, quase “normalizá-la”. Ao contrário,
que pessoas com deficiência continuam sendo, reabilitada ou não, tendo freqüentado uma es-
antes de tudo, pessoas. Portanto, existem as más e cola regular ou não, pessoas com deficiência são
as boas, as trabalhadoras e as preguiçosas, as ho- titulares de direito. Muito comum, na mídia, é
nestas e as desonestas etc. a veiculação de campanhas publicitárias que
expressam claramente o quanto ainda persiste
5. Evitar a idéia de que só a pessoa com deficiência no imaginário da sociedade o impulso de esca-
que tem perfil de herói, capaz de superar brilhantemen- motear a Deficiência, como se ela fosse ilegítima,
te suas limitações, é bem sucedida e se sente feliz. e devesse ser combatida como se faz com uma
Todas as pessoas são um conjunto indissociável doença. Com certeza, não se deseja a deficiência,
de talentos e limitações, que se manifestam de mas só a partir do seu reconhecimento é possível
forma mais ou menos contundente em função do avançar em um processo de inclusão.
Mídia e Deficiência Caminhos para uma cobertura de qualidade 157

7. Não usar as expressões “o portador” e “o deficiente”. pessoas com deficiência em datas de festa e que o
Profissionais da mídia não precisam utilizar o termo assunto passe a ser ventilado sempre que possível
“portador”. A palavra está na nossa Constituição, em cadernos de turismo (os hotéis citados têm
mas deve ser evitada por se tratar de um eufemis- acessibilidade?), na seção de cultura (as biblio-
mo desnecessário. “Deficiente”, por sua vez, toma tecas têm em seu acervo livros em braile? O Tea-
a parte como um todo, passando a idéia de que a tro Municipal tem legenda e intérprete de Libras
pessoa inteira é deficiente. O melhor é usar “pessoa/ em seus espetáculos?), nos suplementos para
indivíduo/gente com deficiência” ou “pessoa/indi- adolescentes (por que não realizar rodas de deba-
víduo/gente que tem deficiência”. tes entre jovens com e sem deficiência, tendo
como foco questões como vestibular, namoro, uso
8. Citar a legislação brasileira e as convenções internacio- de drogas etc?).
nais é fundamental para que a opinião pública vá sendo
educada a refletir com mais segurança sobre inclusão. 10. Exercitar a idéia de que pessoas com deficiência
Ainda vigora a idéia de que pessoas com deficiência são geradoras de capital social.
“ganham privilégios”, “recebem dádivas”, “têm sorte Todas as pessoas devem participar da vida cultural
por determinada razão”... Muita gente ainda têm a de suas comunidades. Nesse contexto, vem surgin-
impressão de que as leis inclusivas, em nosso País, do um novo tipo de direito, o cultural, para garantir
são recentes, inéditas, recém assinadas. Isto porque que os cidadãos mantenham e satisfaçam a diversi-
raramente são citadas pela imprensa, que acaba se inte- dade e as necessidades de seus modos de vida. Os
ressando mais pelo factual, desprovido de uma aborda- direitos culturais são parte dos direitos humanos,
gem que eleva o tema a assunto de interesse público. A mas de todos os humanos, sem exceção. A inclusão
Constituição Federal não deixa dúvidas sobre seu cará- não é, definitivamente, uma forma generosa de
ter inclusivo e isso precisa ser dito com todas as letras. resolver o problema da segregação das crianças e
jovens com deficiência que hoje estão em escolas
9. O tema Deficiência deve ser utilizado transversalmente. especiais ou sem acesso a seu primeiro emprego. No
A idéia é que abandonemos, aos poucos, o dese- âmbito da educação, a escola inclusiva é também
jo de fazer super reportagens especiais sobre saída para a crise do ensino brasileiro. n
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Consultores que integraram o Grupo de Análise de Mídia

1 Ana Beatriz Praxedes é Psicóloga, especialista em psicologia clínica. É Fundadora e membro da coordenação
geral do Movimento Vida (Vida, Independência, Dignidade, Direito e Ação) e consultora de organizações go-
vernamentais, não governamentais e de empresas na área da inclusão social para a pessoa com deficiência.
2 Carolina Sanchez é Pedagoga, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e Máster en Integra-
ción de Personas con Discapacidad na Universidade de Salamanca/Espanha. É também Gerente de Projeto
de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência do Ministério da Assistência Social, Gerente do Programa
“Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência” (PPA 2000-2003) e Conselheira-Titular do Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência.
3 Claudia Werneck é Jornalista formada pela UFRJ, com especialização em Comunicação e Saúde pela Fiocruz,
além de autora de nove livros sobre o conceito de sociedade inclusiva para adultos e crianças, oficialmente
recomendados pela Unesco e Unicef. É ainda idealizadora e diretora-executiva da Escola de Gente – Comu-
nicação em Inclusão, uma organização não-governamental criada e dirigida por jornalistas que há anos se
dedicam a estudar o conceito de sociedade inclusiva – proposto pela ONU em 1990 – e seus desdobramen-
tos nas áreas da mídia, do trabalho, da educação, da saúde, da literatura infantil, entre outras. Atua também
como consultora na área de inclusão para o Banco Mundial. Foi chefe de reportagem de Pais&Filhos e edi-
tora-executiva de Pais&Filhos Família.
4 Izabel Maior é Médica Fisiatra e Professora Assistente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de
Medicina da UFRJ. Mestre em Medicina, nas áreas de Medicina Física e Reabilitação, pela Faculdade de
Medicina da UFRJ. Titular da Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação. Especialista em Políticas
Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento. É Coordenadora Geral da Coordena-
doria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde, da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, da Presidência da República.
6 7 8 A B

5 Romeu Sassaki é graduado pela Faculdade Paulista de Serviço Social e fez diversos cursos sobre pessoas com
deficiência nos EUA e Reino Unido. É consultor em educação inclusiva para o governo de Goiás e ministra
cursos sobre inclusão em todo o Brasil.
6 Rosamaria Chaves é graduada em Letras e Jornalismo pela Universidade de Brasília. Atua como Assessora de
Comunicação do Ministério Público do Trabalho.
7 Rosane Lowenthal é Cirurgiã Dentista, Fundadora da ONG Grupo 25, Presidente do Conselho Deliberativo
da ONG Grupo 25, Conselheira do Conselho Nacional de Saúde, Conselheira do Conselho Deliberativo
da Associação Comunidade de Mãos Dadas, Diretora do Comitê Cientifico da Federação Brasileira das
Associações de Síndrome de Down.
8 Silvio Kaloustian é Economista formado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de
São Paulo. Conta com Pós Graduação em Desenvolvimento na Université da la Sorbonne Nouvelle – Paris
III e mestrado em Políticas Públicas pela University of Strathclyde de Glasgow/Escócia. Exerceu atividades
docentes na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Atualmente é Oficial de Projetos do
Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância, no Programa Educação para a Inclusão.

Colaboradoras do Grupo de Análise de Mídia

A Eugênia Augusta Fávero é formada em Direito pela Faculdade de Direito de São João da Boa Vista/SP. Atua
como Procuradora da República e Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão no Estado de São Paulo.
B Luisa de Marillac é graduada em Direito pela Universidade de Brasília e Mestranda em Direito pela mesma
instituição. Promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios desde maio de
1996, é titular de uma das Promotorias de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude. Atualmente exerce
a função de Assessora de Assuntos Institucionais do Procurador-Geral de Justiça.
Anexo

Terminologia sobre Deficiência to no passado, quando a desinformação e o preconceito a respeito de

na era da inclusão pessoas com deficiência eram de tamanha magnitude que a sociedade
acreditava na normalidade das pessoas sem deficiência. Esta crença
Romeu Kazumi Sassaki fundamentava-se na idéia de que era anormal a pessoa que tivesse uma
deficiência. A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questio-
nável e ultrapassado.
A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa Termo Correto: adolescente (criança, adulto) sem deficiência ou, ainda,
também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, adolescente (criança, adulto) não-deficiente.
voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação
em relação às pessoas com deficiências. Com o objetivo de subsidiar 2. aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido
o trabalho de jornalistas e profissionais de educação, que necessitam Estes termos eram utilizados com freqüência até a década de 80. A partir
falar ou escrever sobre assuntos de pessoas com deficiência no seu dia de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes,
a dia, a seguir são apresentadas 59 palavras ou expressões incorretas começa-se a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa de-
acompanhadas de comentários e dos equivalentes termos corretos. ficiente. O acréscimo da palavra pessoa, passando o vocábulo deficiente
Ouvimos e/ou lemos freqüentemente esses termos incorretos em livros, para a função de adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início,
revistas, jornais, programas de televisão e de rádio, apostilas, reuniões, houve reações de surpresa e espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os
palestras e aulas. deficientes são pessoas!?” Aos poucos, entrou em uso a expressão pes-
A numeração aplicada a cada expressão incorreta serve para direcionar soa portadora de deficiência, freqüentemente reduzida para portadores
o leitor de um termo para outro quando um mesmo comentário se aplicar de deficiência. Por volta da metade da década de 90, entrou em uso a
a diferentes expressões (ou pertinentes entre si), evitando-se desta forma a expressão pessoas com deficiência, que permanece até os dias de hoje.
repetição da informação. Ver os itens 47 e 48.

1. adolescente normal 3. “apesar de deficiente, ele é um ótimo aluno”


Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) Na frase acima há um preconceito embutido: ‘A pessoa com deficiência
que não possua uma deficiência, muitas pessoas usam as expressões não pode ser um ótimo aluno’.
adolescente normal, criança normal e adulto normal. Isto acontecia mui- Frase Correta: “ele tem deficiência e é um ótimo aluno”.
Mídia e Deficiência Alguns progressos, muitos desafios 161

4. “aquela criança não é inteligente” 9. defeituoso físico


Todas as pessoas são inteligentes, segundo a Teoria das Inteligências Múl- Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas
tiplas (Gardner, 1994). Até o presente, foi comprovada a existência de nove com freqüência até o final da década de 70. O termo deficiente, quando usa-
tipos de inteligência (lógico-matemática, verbal-lingüística, interpessoal, do como substantivo (por ex., o deficiente físico), está caindo em desuso.
intrapessoal, musical, naturalista, corporal-cinestésica, visual-espacial e Termo Correto: pessoa com deficiência física. Ver os itens 10 e 11.
espiritual).
Frase Correta: “aquela criança é menos desenvolvida na inteligência [por 10. deficiências físicas (como nome genérico
ex.] lógico-matemática”. englobando todos os tipos de deficiência).
Termo Correto: deficiências (como nome genérico, sem especificar o tipo,
5. cadeira de rodas elétrica mas referindo-se a todos os tipos). Alguns profissionais, não-familiarizados
Trata-se de uma cadeira de rodas equipada com um motor. com o campo da reabilitação, acreditam que as deficiências físicas são divi-
Termo Correto: cadeira de rodas motorizada. didas em motoras, visuais, auditivas e mentais. Para eles, deficientes físicos são
todas as pessoas que têm deficiência de qualquer tipo. Ver os itens 9 e 11.
6. ceguinho
O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa 11. deficientes físicos (referindo-se a pessoas
completa. A rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão com qualquer tipo de deficiência).
ou visão subnormal) e cegueira (quando a deficiência visual é total). Termo Correto: pessoas com deficiência (sem especificar o tipo de defici-
Termo Correto: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual; defi- ência). Ver os itens 9 e 10.
ciente visual. Ver o item 59.
12. deficiência mental leve, moderada, severa, profunda
7. classe normal Termo Correto: deficiência mental (sem especificar nível de compro-
Termo Correto: classe comum; classe regular. No futuro, quando todas as metimento). A nova classificação da deficiência mental, baseada no
escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da palavra classe sem adjetivá- conceito publicado em 1992 pela Associação Americana de Deficiên-
la. Ver os itens 25 e 51. cia Mental, considera a deficiência mental não mais como um traço
absoluto da pessoa que a tem e sim como um atributo que interage com
8. criança excepcional o seu meio ambiente físico e humano, que por sua vez deve adaptar-se
Termo Correto: criança com deficiência mental. Excepcionais foi o ter- às necessidades especiais dessa pessoa, provendo-lhe o apoio inter-
mo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas deficientes mitente, limitado, extensivo ou permanente de que ela necessita para
mentais. Com o surgimento de estudos e práticas educacionais nas déca- funcionar em 10 áreas de habilidades adaptativas: comunicação, auto-
das de 80 e 90 a respeito de altas habilidades ou talentos extraordinários, cuidado, habilidades sociais, vida familiar, uso comunitário, autono-
o termo excepcionais passou a referir-se tanto a pessoas com inteligências mia, saúde e segurança, funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho.
múltiplas acima da média [pessoas superdotadas ou com altas habili- Ver os itens 35 e 50.
dades e gênios] quanto a pessoas com inteligência lógico-matemática
abaixo da média [pessoas com deficiência mental] – daí surgindo, res- 13. deficiente mental (referindo-se à pessoa com transtorno mental)
pectivamente, os termos excepcionais positivos e excepcionais negativos, Termo Correto: pessoa com doença mental, pessoa com transtorno mental,
de raríssimo uso. paciente psiquiátrico.
162 Alguns progressos, muitos desafios Mídia e Deficiência

14. doente mental (referindo-se à pessoa com déficit intelectual) sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos
Termo Correto: pessoa com deficiência mental, pessoa deficiente mental. O de piedade.
termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex.: o deficiente físico, Frase Correta: “ele teve um acidente de carro que o deixou com uma
o deficiente mental), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jor- deficiência”.
nalísticas por motivo de economia de espaço.
21. “ela foi vítima da pólio”
15. “ela é cega mas mora sozinha” A palavra vítima provoca sentimento de piedade.
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Todo cego não é capaz de Termo Correto: pólio, poliomielite e paralisia infantil.
morar sozinho’. Frase Correta: “ela teve pólio”
Frase Correta: “ela é cega e mora sozinha”
22. “ele é surdo-cego”
16. “ela é retardada mental mas é uma atleta excepcional” Grafia Correta: “ele é surdocego”. Também podemos dizer ou escrever: “ele
Na frase acima há um preconceito embutido: ‘Toda pessoa com deficiência tem surdocegueira”. Ver o item 55.
mental não tem capacidade para ser atleta’.
Frase Correta: “ela tem deficiência mental e se destaca como atleta” 23. “ele manca com bengala nas axilas”
Frase Correta: “ele anda com muletas axilares”. No contexto coloquial, é cor-
17. “ela é surda [ou cega] mas não é retardada mental” reto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo em muletas.
mental’. Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos
do passado. 24. “ela sofre de paraplegia” [ou de paralisia
Frase Correta: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência mental”. cerebral ou de seqüela de poliomielite]
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca
18. “ela foi vítima de paralisia infantil” sentimentos de piedade.
A poliomielite já ocorreu nesta pessoa (por ex., ‘ela teve pólio’). Enquanto a Frase Correta: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou seqüela de
pessoa estiver viva, ela tem seqüela de poliomielite. A palavra vítima provoca poliomielite].
sentimento de piedade.
Frase Correta: “ela teve [flexão no passado] paralisia infantil” e/ou “ela 25. escola normal
tem [flexão no presente] seqüela de paralisia infantil”. No futuro, quando todas as escolas se tornarem inclusivas, bastará o uso da
palavra escola sem adjetivá-la.
19. “ela teve paralisia cerebral” (referindo-se Termo Correto: escola comum; escola regular. Ver os itens 7 e 51.
a uma pessoa viva no presente)
A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. 26. “esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente”
Frase Correta: “ela tem paralisia cerebral”. Nesta frase há um estigma embutido: ‘Filho deficiente é um peso morto para
a família’.
20. “ele atravessou a fronteira da normalidade quando Frase Correta: “esta família tem um filho com deficiência”.
sofreu um acidente de carro e ficou deficiente”
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável. A palavra
Mídia e Deficiência Alguns progressos, muitos desafios 163

27. “infelizmente, meu primeiro filho é (hospital de dermatologia), lepra lepromatosa (hanseníase virchoviana),
deficiente; mas o segundo é normal” lepra tuberculóide (hanseníase tuberculóide), lepra dimorfa (hanseníase
A normalidade, em relação a pessoas, é um conceito questionável, ultrapas- dimorfa), lepromina (antígeno de Mitsuda), lepra indeterminada (hanse-
sado. E a palavra infelizmente reflete o que a mãe pensa da deficiência do níase indeterminada). A palavra hanseníase deve ser pronunciada com
primeiro filho: ‘uma coisa ruim’. o h mudo [como em haras, haste, harpa]. Mas, pronuncia-se o nome
Frase Correta: “tenho dois filhos: o primeiro tem deficiência e o segundo Hansen (do médico e botânico norueguês Armauer Gerhard Hansen)
não tem”. com o h aspirado.

28. intérprete das Libras 31. Libras – Linguagem Brasileira de Sinais


Termo Correto: intérprete da Libras (ou de Libras). Grafia Correta: Libras.
Grafia Correta: Libras. Libras é sigla de Língua de Sinais Brasileira. Termo Correto: Língua de Sinais Brasileira. Trata-se de uma língua e não de
“Libras é um termo consagrado pela comunidade surda brasileira, e com uma linguagem. Segundo Capovilla [comunicação pessoal], “Língua de Sinais
o qual ela se identifica. Ele é consagrado pela tradição e é extremamente Brasileira é preferível a Língua Brasileira de Sinais por uma série imensa de ra-
querido por ela. A manutenção deste termo indica nosso profundo respei- zões. Uma das mais importantes é que Língua de Sinais é uma unidade, que se
to para com as tradições deste povo a quem desejamos ajudar e promover, refere a uma modalidade lingüística quiroarticulatória-visual e não oroarticula-
tanto por razões humanitárias quanto de consciência social e cidadania. tória-auditiva. Assim, há Língua de Sinais Brasileira. porque é a língua de sinais
Entretanto, no índice lingüístico internacional os idiomas naturais de desenvolvida e empregada pela comunidade surda brasileira. Não existe uma
todos os povos do planeta recebem uma sigla de três letras como, por Língua Brasileira, de sinais ou falada”. Ver os itens 28, 32 e 33.
exemplo, ASL (American Sign Language). Então será necessário chegar
a uma outra sigla. Tal preocupação ainda não parece ter chegado na 32. língua dos sinais
esfera do Brasil”, segundo Capovilla (comunicação pessoal). Ver os Termo Correto: língua de sinais. Trata-se de uma língua viva e, por isso,
itens 31, 32 e 33. novos sinais sempre surgirão. A quantidade total de sinais não pode ser
definitiva. Ver os itens 28, 31 e 33.
29. inválido (referindo-se a uma pessoa)
A palavra inválido significa sem valor. Assim eram consideradas as pessoas 33. linguagem de sinais
com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mun- Termo Correto: língua de sinais. A comunicação sinalizada dos e com
dial. os surdos constitui um língua e não uma linguagem. Já a comunicação
Termo Correto: pessoa com deficiência. por gestos, envolvendo ou não pessoas surdas, constitui uma linguagem
gestual. Uma outra aplicação do conceito de linguagem se refere ao que
30. lepra; leproso; doente de lepra as posturas e atitudes humanas comunicam não-verbalmente, conhecido
Termo Correto: hanseníase; pessoa com hanseníase; doente de hansení- como a linguagem corporal. Ver os itens 28, 31 e 32.
ase. Prefira o termo as pessoas com hanseníase ao termo os hansenianos. A
lei federal no 9.010, de 29-3-95, proíbe a utilização da palavra lepra e seus 34. Louis Braile
derivados, na linguagem empregada nos documentos oficiais. Alguns Grafia Correta: Louis Braille. O criador do sistema de escrita e impressão
dos termos derivados e suas respectivas versões oficiais são: leprologia para cegos foi o educador francês Louis Braille (1809-1852), que era cego. Ver
(hansenologia), leprologista (hansenologista), leprosário ou leprocômio os itens 52 e 53.
164 Alguns progressos, muitos desafios Mídia e Deficiência

35. mongolóide; mongol 40. o paralisado cerebral


Termo Correto: pessoa com síndrome do Down, criança com Down, uma Termo Correto: a pessoa com paralisia cerebral. Prefira sempre destacar a
criança Down. As palavras mongol e mongolóide refletem o preconceito racial pessoa em vez de fazer a pessoa inteira parecer deficiente.
da comunidade científica do século 19. Em 1959, os franceses descobriram
que a síndrome do Down era um acidente genético. O termo Down vem de 41. “paralisia cerebral é uma doença”
John Langdon Down, nome do médico inglês que identificou a síndrome Frase Correta: “paralisia cerebral é uma condição”. Muitas pessoas con-
em 1866. “A síndrome do Down é uma das anomalias cromossômicas mais fundem doença com deficiência.
freqüentes encontradas e, apesar disso, continua envolvida em idéias errô-
neas… Um dos momentos mais importantes no processo de adaptação da 42. pessoa normal
família que tem uma criança com síndrome do Down é aquele em que o diag- Termo Correto: pessoa sem deficiência; pessoa não-deficiente. A normali-
nóstico é comunicado aos pais, pois esse momento pode ter grande influência dade, em relação a pessoas, é um conceito questionável e ultrapassado.
em sua reação posterior.” (Mustacchi, 2000, p. 880). Ver os itens 12 e 50.
43. pessoa presa [confinada, condenada] a uma cadeira de rodas
36. mudinho Termo Correto: pessoa em cadeira de rodas; pessoa que anda em cadeira
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade de rodas; pessoa que usa cadeira de rodas. Os termos presa, confinada e
dessa pessoa. O diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como condenada provocam sentimentos de piedade. No contexto coloquial, é
uma pessoa completa. correto o uso dos termos cadeirante e chumbado.
Termo Correto: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Há
casos de pessoas que ouvem (portanto, não são surdas) mas têm um distúrbio 44. pessoas ditas deficientes
da fala (ou deficiência da fala) e, em decorrência disso, não falam. Ver os Termo Correto: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso,
itens 46, 56 e 57. funciona como eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é
preconceituoso.
37. necessidades educativas especiais
Termo Correto: necessidades educacionais especiais. A palavra educativo 45. pessoas ditas normais
significa algo que educa. Ora, necessidades não educam; elas são educacio- Termo Correto: pessoas sem deficiência; pessoas não-deficientes. Neste
nais, ou seja, concernentes à educação (Sassaki, 1998). O termo necessidades caso, o termo ditas é utilizado para contestar a normalidade das pessoas, o
educacionais especiais foi adotado pelo Conselho Nacional de Educação / Câ- que se torna redundante nos dias de hoje.
mara de Educação Básica (Resolução no 2, de 11-9-01, com base no Parecer
CNE/CEB no 17/2001, homologado pelo MEC em 15-8-01). 46. pessoa surda-muda
Grafia Correta: pessoa surda ou, dependendo do caso, pessoa com defici-
38. o epilético ência auditiva. Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde
Termo Correto: a pessoa com epilepsia, a pessoa que tem epilepsia. Evite fazer à realidade dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva
a pessoa inteira parecer deficiente. parcial (quando há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência audi-
tiva é total). Ver o item 36.
39. o incapacitado
Termo Correto: a pessoa com deficiência. A palavra incapacitado é muito 47. portador de deficiência
antiga e era utilizada com freqüência até a década de 80. Termo Correto: pessoa com deficiência. No Brasil, tornou-se bastante popu-
Mídia e Deficiência Alguns progressos, muitos desafios 165

lar, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de deficiência (e onde Braille passou a infância (…)’. Nos demais casos, devemos grafar: [a]
suas flexões no feminino e no plural). Pessoas com deficiência vêm ponde- braile (máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, sistema
rando que elas não portam deficiência; que a deficiência que elas têm não é braile, biblioteca braile etc.) ou [b] em braile (escrita em braile, cardápio
como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por exemplo, em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em braile, texto
um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido pas- em braile etc.). Ver os itens 34, 52 e 58.
sou a ser pessoa com deficiência (Sassaki, 2003). Ver os itens 2 e 48.
54. “sofreu um acidente e ficou incapacitado”
48. PPD’s Frase Correta: “teve um acidente e ficou deficiente”. A palavra sofrer
Grafia Correta: PPDs. Não se usa apóstrofo para designar o plural de siglas. coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos
A mesma regra vale para siglas como ONGs (e não ONG’s). No Brasil, tor- de piedade.
nou-se bastante popular, acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo
pessoas portadoras de deficiência. Hoje, o termo preferido passou a ser pes- 55. surdez-cegueira
soas com deficiência, motivando o desuso da sigla PPDs. Ver os itens 2 e 47. Grafia Correta: surdocegueira. É um dos tipos de deficiência múltipla.
Ver o item 22.
49. quadriplegia; quadriparesia
Termo Correto: tetraplegia; tetraparesia. No Brasil, o elemento morfo- 56. surdinho
lógico tetra tornou-se mais utilizado que o quadri. Ao se referir à pessoa, Termo Correto: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. O
prefira o termo pessoa com tetraplegia (ou tetraparesia) no lugar de o tetra- diminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa
plégico ou o tetraparético. completa. Os próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos
de surdos, embora eles não descartem os termos pessoas cegas e pessoas
50. retardo mental, retardamento mental surdas. Ver os itens 36, 46 e 57.
Termo Correto: deficiência mental. São pejorativos os termos retardado
mental, mongolóide, mongol, pessoa com retardo mental, portador de retar- 57. surdo-mudo
damento mental, portador de mongolismo, etc. Ver os itens 12 e 35. Grafia Correta: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva.
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade
51. sala de aula normal dessa pessoa. A rigor, diferencia-se entre deficiência auditiva parcial (quan-
Termo Correto: sala de aula comum. Quando todas as escolas forem do há resíduo auditivo) e surdez (quando a deficiência auditiva é total).
inclusivas, bastará o termo sala de aula sem adjetivá-lo. Ver os itens 7 e 25. Evite usar a expressão o deficiente auditivo. Ver os itens 36, 46 e

52. sistema inventado por Braile 58. texto [ou escrita, livro, jornal, cardápio, placa metálica] em Braille
Grafia Correta: sistema inventado por Braille. O nome Braille (de Louis Termo Correto: texto em braile; escrita em braile; livro em braile; jornal
Braille, inventor do sistema de escrita e impressão para cegos) se escreve em braile; cardápio em braile; placa metálica em braile. Ver o item 53.
com dois l (éles). Braille nasceu em 1809 e morreu aos 43 anos de idade. Ver
os itens 34, 53 e 58. 59. visão sub-normal
Grafia Correta: visão subnormal.
53. sistema Braille [ou Sistema Braille] Termo Correto: baixa visão. É preferível baixa visão a visão subnormal. A
Grafia Correta: sistema braile. Conforme Martins (1990), grafa-se Brail- rigor, diferencia-se entre deficiência visual parcial (baixa visão) e cegueira
le somente quando se referir ao educador Louis Braille. Por ex.: ‘A casa (quando a deficiência visual é total). Ver o item 6. n
Diretório de fontes

Instituições 166
AAEDA – Associação de Apoio Educacional
ao Deficiente Auditivo (Casa Amarela)
E s p e c i a l i s ta s 173
Atuação: Grande São Paulo
Publicações 177 Endereço: Rua Itapeva, 518, 3o andar, conjunto 304, Cerqueira César – São
Sites 183 Paulo (SP) CEP 01332-000
Fone/fax: (11) 3284-1491
E-mail: cilmaralevy@uol.com.br
Instituições Desde de 1995 a entidade desenvolve programas e projetos de identificação,
assistência, reabilitação e integração de crianças surdas das camadas mais
AACD – Asociação de Assistência à Criança Deficiente empobrecidas da população. A associação conta com atendimento fono-
Atuação: Nacional – Unidades em São Paulo (Vila Clementino – Sede e audiológico, avaliações audiológicas, além de doar aparelhos auditivos.
Mooca), Osasco (SP), Uberlândia (MG), Recife (PE), Porto Alegre (RS). Realiza ainda orientação familiar com grupos de pais.
Endereço: Av. Prof. Ascendino Reis, 724, Vila Clementino – São Paulo
(SP) CEP 04027-000 ABRA-TE – Associação Brasileira de Síndrome de Rett
Fone: (11) 5576-0777 Atuação: São Paulo (SP)
Fax: (11) 5576-0871 Endereço: Rua França Pinto, 1031, Vila Mariana – São Paulo (SP)
E-mail: aacd@aacd.org.br CEP 04160-034
Assessoria de imprensa: Ricardo Viveiros – Oficina de Comunicação Fone/fax: (11) 5083-0292
Fone/fax: (11) 3675-5444 E-mail: abretesp@aol.com
E-mail: wal.reis@viveiros.com.br O objetivo da entidade é compilar informações sobre a Síndrome de Rett e
Instituição filantrópica especializada no tratamento de pessoas com cadastrar meninas com a deficiência neuro-muscular de origem genética.
deficiência física. Mantém um amplo serviço de assistência médica, pe- Em setembro de 2000, foi criado o Centro de Referência da Abre-te, que
dagógica e social voltado, principalmente, às crianças e aos adolescentes, faz o diagnóstico por meio de equipe formada por neurologistas e gine-
promovendo sua reabilitação e reintegração social. Conta com Centros de cologistas. O Centro também oferece tratamento clínico-educacional. Na
Diagnósticos, tratamentos em Centros de Reabilitação, oficina ortopédica, área clínica, há tratamento fonoaudiológico, fisioterápico e musicoterápico.
educação infantil e ensino fundamental (até a 4a série), Programa Trabalho O tratamento psicopedagógico está ligado à área educacional. Na sede da
Eficiente, Hospital Roberto de Abreu Sodré e Programa Acesso Total, que Associação, são feitas reuniões nas quais os familiares das crianças encon-
forma professores para inclusão social. tram informações e orientação sobre a síndrome.
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 167

ADD – Associação Desportiva para Deficientes A ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, é uma orga-
Atuação: São Paulo (SP) e Uberlândia (MG) nização não-governamental, sem fins lucrativos, voltada para a pesquisa,
Endereço: Av. Jandira, 1.111, Planalto Paulista – São Paulo (SP) assessoramento e capacitação em bioética na América Latina. Atua junto
CEP 04080-006 a entidades sociais, políticas e educativas democratizando e promovendo
Fone: (11) 5052-9944 a pesquisa e o ensino da ética e da bioética, relacionando-a à temática dos
Fax: (11) 5052-9944 – ramal: 216 direitos humanos, do feminismo e da justiça entre os gêneros. A ANIS é
E-mail: add@add.org.br sede da Regional da Rede Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, lém
Assessoria de imprensa: Karina Mosmann de ser ponto focal de bioética da Organização Pan-Americana de Saúde.
E-mail: marketing@add.org.br
Entidade sem fins lucrativos que promove, há sete anos, o desenvolvimen- APABB – Associação de Pais e Amigos de
to da pessoa com deficiência por meio do esporte adaptado, fortalecendo Pessoas Portadores de Deficiência dos
a auto-estima e a confiança. A ADD atende gratuitamente pessoas com Funcionários do Banco do Brasil
deficiência visual nas modalidades ciclismo tandem (modalidade espor- Atuação: Nacional
tiva e paraolímpica onde a bicicleta possui dois lugares e os dois ciclistas Endereço: Av. São João, 32, 11o andar, Centro – São Paulo (SP) CEP 01036-000.
pedalam em sincronia constante, permitindo que um deles seja cego) e es- Fone: (11) 3491-4147/3491-4149
calada, e deficientes físicos nas modalidades basquete infantil e adulto em Fax: (11) 3107-7766
cadeira de rodas, natação e atletismo. Além disso, na área de capacitação E-mail: faleconosco@apabb.com.br
profissional, oferece cursos gratuitos de informática. Site: www.apabb.com.br
Desde de 1987, a APABB atende pessoas com deficiência promovendo
ADEFAV – Associação para Deficientes da Áudio Visão ações de orientação, informação, encaminhamento, acompanhamento e
Atuação: São Paulo (SP) visita domiciliar. Contribui com a inclusão social e melhoria da qualidade
Endereço: Rua Clemente Pereira, 286, Ipiranga – São Paulo (SP) de vida por meio de projetos sociais nas áreas de lazer, esporte, capacitação
CEP 04216-060 profissional e prevenção de deficiências.
Fone: (11) 273-9333, 6215-0794 ou 274-6745
Fax: (11) 273-9333 ARTS – Associação Brasileira dos Familiares e Amigos
E-mail: adefav@adefav.org.br dos Portadores da Síndrome de Rubinstein-Taybi
Site: www.adefav.org.br Atuação: Brasil e América Latina
A Adefav tem como objetivo educar pessoas com deficiência auditiva e Endereço: Rua Harmonia, 722/81, Vila Madalena – São Paulo (SP)
visual para que atinjam o mais alto grau de independência e inserção social CEP 05435-000
de acordo com suas potencialidades – em uma ação conjunta entre escola, Fones: (11) 3819-2536 / 5892-3054
família e comunidade. E-mail: arts@artsbrasil.org.br
Site: www.artsbrasil.org.br
ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero Assessoria de imprensa: Maria Cristina Cardelli
Atuação: América Latina Fone: (11) 4153-3211
Endereços: CLSW 304, bloco B, sala 134 – Brasília (DF) CEP 70.673-900 A Arts é uma sociedade civil sem fins lucrativos fundada em 1999 com o objeti-
Fone/Fax: (61) 343-1731 vo de disponibilizar informações sobre a síndrome de Rubinstein-Taybi (RTS)
E-Mail: anis@anis.org.br e orientar pais, familiares, médicos e profissionais de saúde sobre como cuidar,
Site: www.anis.org.br tratar e educar a pessoa com RTS. A instituição conta com 98 pessoas com a
168 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

deficiência congênita cadastrados no Brasil e uma comissão científica com 18 16 anos e tem como objetivo complementar a capacitação dos educandos e
profissionais de saúde e médicos nas diversas especialidades como: audiolo- inseri-los no mercado de trabalho. Conta ainda com a Aldeia da Esperança,
gia, fonoaudiologia, fisioterapia, genética, neurologia, odontologia, ortodon- que trabalha o conceito de residência vitalícia, ou seja, moradia individual
tia, ortopedia, ortoptica, oftalmologia e psicopedagogia. Voluntariamente, para adultos com deficiência mental, onde cada um tem a sua própria casa e
eles dedicam parte de seu tempo à pesquisa da síndrome e ao atendimento desenvolve atividade relacionada à sustentação da comunidade.
das pessoas com RTS em seus consultórios ou universidades.
CONADE – Conselho Nacional dos Direitos
Associação Carpe Diem da Pessoa Portadora de Deficiência
Atuação: São Paulo (SP) Atuação: Nacional
Endereço: Rua Pintassilgo, 463, Moema – São Paulo (SP) CEP 04514-032 Endereço: Esplanada dos Ministérios, bloco T, anexo II, 2o andar, sala 211 –
Fone: (11) 5093-1888 Brasília (DF) CEP 70064-900
Fax: (11) 5535-4335 Fone: (61) 429-3673/429-9219
E-mail: carpediem@carpediem.com.br Fax: (61) 225-8457
Site: www.carpediem.com.br E-mail: conade@sedh.gov.br
O objetivo da entidade é possibilitar a inclusão de jovens e adultos com Site: www.presidencia.gov.br/sedh/conade
deficiência mental na sociedade, por meio do engajamento de suas famílias Criado pelo Ministério da Justiça, o Conade é o órgão responsável pelo
e profissionais, bem como do crescimento e realização pessoal de todos os acompanhamento e pela avaliação da Política Nacional da Pessoa Portado-
envolvidos. Atualmente, entre conselho, equipe profissional especializada ra de Deficiência e pelas diversas políticas setoriais relativas à pessoa com
e administrativa, o Carpe Diem conta com mais de 30 pessoas que partici- deficiência, por exemplo, nas áreas de educação, saúde, trabalho, assistên-
pam diretamente e investem na proposta de inclusão social e profissional. cia social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer e política urbana.

CIAM – Centro Israelita de Assistência ao Menor CORDE – Coordenadoria Nacional para a Integração
Atuação: São Paulo da Pessoa Portadora de Deficiência
Endereço: Rua Irmã Pia, 78, Jaguaré – São Paulo (SP) CEP 05335-050 Atuação: Nacional
Fone: (11) 3714-0688 Endereço: Esplanada dos Ministérios, bloco T, anexo II, 2o andar, sala 206 –
Fax: (11) 3719-3802 Brasília (DF) CEP 70064-900
E-mail: ciamsp@terra.com.br Fone: (61) 429-3684 / 429-9221
Assessoria de imprensa: Silvia Perlov Fax: (61) 225-3307
Fone: (11) 3083-0227/9917-1878 E-mail: corde@mj.gov.br
E-mail: arperlov@uol.com.br Site: www.presidencia.gov.br/sedh/corde
Presta serviços a pessoas com deficiência mental de diversas idades, com Órgão de Assessoria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-
o objetivo de promover sua auto-realização, qualificação para o trabalho e dência da República, responsável pela gestão de políticas voltadas para integra-
para o exercício da cidadania. A instituição mantém o Centro de Educação ção da pessoa portadora de deficiência, tendo como eixo focal a defesa de di-
e Desenvolvimento, que atende crianças a partir de dois anos idade, com reitos e a promoção da cidadania. Tem como função implementar essas políti-
diversos programas na área. O Programa de Inclusão às Avessas é destinado a cas e, para isso, orienta a sua atuação em dois sentidos: primeiro é o exercício
meninos e meninas entre dois e oito anos que convivem em salas mistas; o de sua atribuição normativa e reguladora das ações desta área no âmbito fede-
Ensino especial é para crianças a partir de nove anos de idade; o Programa ral; e o segundo é o desempenho da função articuladora de políticas públicas
de Inclusão Escolar e Mercado de Trabalho é voltado para jovens a partir de existentes, tanto na esfera federal como em outras esferas governamentais.
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 169

CVI – Centro de Vida Independende conforme previsto na Convenção Interamericana para a Eliminação
Atuação: Nacional de Todas as Formas de Discriminação contra as pessoas Portadoras de
Endereço: Av. Colombo, 5790, CAP, bloco T-14 – Maringá (PR) Deficiência e na Resolução 45/91 da ONU, que estabelece a inclusão
CEP 87020-900 social para todos.
Fone/fax: (44) 263-8310
E-mail: cvi_mga@wnet.com.br/sec-cvi@uem.br FEBIEX – Federação Brasileira de Instituições
Com o objetivo de promover a qualidade de vida das pessoas com defici- de Excepcionais, de Integração Social e de
ências, a entidade trabalha com a conscientização da sociedade em geral, Defesa da Cidadania
realizando palestras para a disseminação da filosofia e atividades de desen- Atuação: Nacional
volvimento das habilidades de vida independente e de autonomia. Endereço: Av.Lino Jardim, 952, V.Bastos Santos – Santo André (SP)
CEP 09041-031
CVI-AN – Centro de Vida Independente Araci Nallin Fone: (11) 4433-5090
Área de Atuação: Nacional Fax: (11) 4994-0774
Endereço: Rua Ribeirão Bonito, no 440 – São Paulo (SP) CEP 04286-130 E-mail: febiex@avape.org.br
Fone: (11) 3826-8004/5572-7809 A FEBIEX é uma federação que atende as solicitações das instituições as-
Fax: (11) 3826-8004 sistenciais de reabilitação clínica prestando assessoria jurídica para aquelas
E-mail: cvi-anallin@uol.com.br que necessitam de certificados, por exemplo. Para manter as instituições, a
Site: www.cviaracinallin.hpg.com.br FEBIEX desenvolve projetos e encaminha ao mercado.
Assessoria de imprensa: Ana Maria Morales Crespo
Fone/fax: (11) 3873-1250 e 9933-6527 Federação Brasileira das Associações de
E-mail: lia@uol.com.br síndrome do Down
Fundada em 1996, a organização luta pela modificação da sociedade por Atuação: Nacional
meio do paradigma da inclusão. O CVI-AN realiza palestras e atividades Endereço: SCLN 410, bloco A, sala 102–Brasília (DF) CEP 70865-510
de desenvolvimento das habilidades de vida independente e de autonomia Fone/fax: (61) 347-5575
de pessoas com deficiência. Além disso, incentiva a utilização do “empo- E-mail: federacaosinddown@zaz.com.br
deramento” por parte desse segmento da sociedade. O trabalho é voltado Assessoria de imprensa: Maria Madalena Nobre e Rodrigo Sabbag
para a disseminação da filosofia de vida independente. E-mail: nobre@zaz.com.br
O principal objetivo da Federação é congregar e fortalecer as associações
Escola de Gente – Comunicação em Inclusão do País, mobilizando a sociedade para o reconhecimento da cidadania das
Atuação: Brasil e América Latina pessoas com síndrome do Down. Para isso, a instituição realiza eventos,
Endereço: Av. Fleming 200, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro (RJ) cursos, palestras, entre outras ações.
CEP 22611-040
Fone/fax: (21) 2493-7610 FENAPAE – Federação Nacional da Associação
E-mail: escoladegente@attglobal.net de Pais e Amigos dos Excepcionais
Contato: Claudia Werneck Atuação: Nacional
A entidade busca despertar a sociedade para o exercício de valores Endereço: SDS, Ed.Venâncio IV, cobertura – Brasília (DF) CEP 70393-900
inspirados na diversidade humana. Por meio de ações de comunicação Fone: (61) 224-9922
em inclusão, defende os direitos de crianças e jovens com deficiência, Fax: (61) 223-5899
170 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

E-mail: fenapae@persocom.com.br A Fundação Orsa mantém o Alô Vida, um serviço telefônico realizado por
Site: www.persocom.com.br/fenapae profissionais especializados para atender, orientar, escutar e encaminhar
Toda a diretoria da entidade é composta por pessoas que exercem tra- casos de adoção e violência. O projeto faz parte do Programa Respeitar e
balhos voluntários na área de atendimento de pessoas com deficiência. dispõe de um amplo cadastro com todas as instituições públicas e priva-
É uma sociedade civil, filantrópica, de caráter cultural, assistencial e das que atendem pessoas com deficiências. O Alô Vida também fornece
educacional. Reúne, como afiliadas, todas as Federações das Associação informações sobre escolas, clínicas, cursos profissionalizantes, transporte
de Pais e Amigos dos Excepcionais e cerca de 1.500 unidades da Apae adaptados e oportunidades de lazer.
espalhadas por todo o País. Atualmente, atende quase 200 mil pessoas
com deficiência e seus famíliares. Participam da iniciativa 37mil profis- FUNLAR – Fundação Municipal Lar
sionais das áreas de educação especial, habilitação e reabilitação, saúde Escola Francisco de Paula
e formação profissional. Atuação: Rio de Janeiro (RJ)
Endereço: Av. Presidente Vargas, 1997, 2o andar, Centro – Rio de Janeiro
FENEIS – Federação Nacional de (RJ) CEP 20071-004
Educação e Integração dos Surdos Fone: (21) 2232-2331 / 2252-4621 Ramais: 296 e 266
Atuação: Nacional Fax: (21) 2252-3525
Endereço: Rua Major Ávila, 379, Tijuca – Rio de Janeiro (RJ) CEP 20511-140 Contato: Leda Azevedo
Fone: (21) 2567-4800 E-mail: ledaazevedo@pcrj.rj.gov.br
Fax: (21) 2284-7462 Site: www.rio.rj.gov.br/funlar
E-mail: feneis@vento.com.br A Funlar trabalha a promoção e a inclusão social por meio da desinstitu-
Site: www.feneis.com.br cionalização, ou seja, visa a retirada das pessoas com deficiências de ins-
Assessoria de imprensa: Nádia Mello tituições de atendimento. O principal objetivo é a formação de casas-lares,
E-mail: nadiafeneis@ig.com.br como núcleos em comunidades. Atualmente, atende a quase 300 comunida-
Trabalha com a inserção de pessoas com deficiência auditiva no merca- des no Rio de Janeiro.
do de trabalho e pelos direitos gerais desse segmento da população. A
federação oferece cursos de informática para surdos, curso de Libras e Grupo 25
sinais para a comunidade e dispõe de interpretes e assistência jurídica Atuação: São Paulo (SP)
para pessoas surdas. Endereço: Rua Pintassilgo, 463, Moema – São Paulo (SP) CEP 04514-032
Fone/fax: (11) 5093-0946
Fundação Orsa E-mail: grupo25@ig.com.br
Atuação: Nacional O Grupo 25 é uma ONG formada por familiares de pessoas com defici-
Endereço: Av. Deputado Emílio Carlos, no 821, Carapicuíba – São Paulo ência. Suas iniciativas são centradas em ações de caráter sócio-educativo,
(SP) CEP 06310-160 sempre no sentido de disseminar e garantir o exercício da cidadania por
Fone/fax: (11) 4181-2232 meio dos projetos Seminário e Encontro de Gente. Já o projeto Bem-
E-mail: fundorsa@fundacaoorsa.org.br Vindo ao Mundo visa garantir o acolhimento, apoio e orientação às
Site: www.fundacaoorsa.org.br famílias de bebês nascidos com deficiência. A entidade também atua na
Assessoria de imprensa: Thaís Aguiar – CDI Casa da Imprensa formação de educadores e conta com a participação de professores da
Fone/fax: (11) 3817-7929 rede pública e privada de ensino, psicólogos, psicopedagogos, fonoau-
E-mail: thais@adicom.com.br diólogos e profissionais afins.
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 171

IBDD – Instituto Brasileiro de Defesa dos de diferentes áreas; a produção de material informativo, eventos e pesquisa
Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência na área; e consultoria.
Atuação: Rio de Janeiro
Endereço: Rua Artur Bernardes, 26, Catete – Rio de Janeiro (RJ) LARAMARA – Associação Brasileira de
CEP 22220-090 Assistência ao Deficiente Visual
Fone/fax: (21) 2557-6990 Atuação: Grande São Paulo
E-mail: ibdd@ibdd.org.br Endereço: Rua Conselheiro Brotero, 338–São Paulo (SP) CEP 01154-000
Site: www. ibdd.org.br Fone: (11) 3660-6400
Sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua em diversas áreas, sempre Fax: (11) 3662-0551
no sentido de garantir a defesa dos direitos de pessoas com deficiência. A E-mail: lamara@lamara.org.br
entidade conta com ações específicas em esporte, inserção no mercado de Site: www.lamara.org.br
trabalho, profissionalização e acessibilidade (adequação arquitetônica dos Centro de referência no Brasil, trabalha junto a crianças, famílias, escolas e
meios de transporte e da comunicação às pessoas com deficiência). comunidades promovendo o desenvolvimento, a aprendizagem e inclusão
da pessoa com diferentes níveis de deficiência visual, como cegos, pessoas
Instituto Guga Kuerten com baixa visão ou com múltiplas deficiências. Já atendeu mais de 6.100 mil
Atuação: Santa Catarina famílias e integrou cerca de 700 crianças e jovens em algum tipo de programa
Endereço: Av. Madre Benvenuta, 908, sala 201, Centro Comercial Carol ou serviço. Entre suas atividades principais estão a pesquisa de recursos peda-
Santa Mônica – Florianópolis (SC) CEP 88036-500 gógicos e a criação de brinquedos adequados a esse seguimento da população,
Fone/fax: (48) 233-2851 bem como o desenvolvimento e a adaptação de materiais, métodos e técnicas
A ONG visa articular, promover e apoiar ações que ofereçam oportu- inovadoras. A entidade já recebeu o Prêmio Abrinq e, em três anos consecuti-
nidades de desenvolvimento e integração social para todos os cidadãos, vos, de 1996 a 1998, o Prêmio Comunidade Solidária, do governo brasileiro.
buscando fortalecer a cultura de solidariedade na nossa sociedade. Apóia
projetos nas áreas de educação e integração social de pessoas com defi- LEPED – Laboratório de Estudos e
ciências e aposta no esporte como estratégia de desenvolvimento desse Pesquisas em Ensino e Diversidade
segmento da população. Atuação: São Paulo
Endereço: Rua Bertrand Russel, 801, Cidade Universitária, 6120, Barão
Instituto Pró-Sociedade Inclusiva Geraldo – Campinas (SP) CEP 13083-970
Atuação: Rio de Janeiro Fone: (19) 3788-5553
Endereço: Av. Fleming, 200, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro (RJ) CEP Fax: (19) 3788-5576
22611-040 Site: www.fae.unicamp.br/leped
Fone: (21) 2491-8025/8521/2261-1040 O LEPED é um grupo de pesquisa da Faculdade de Educação da Unicamp,
Fax: (21) 2493-7610 em São Paulo, e surgiu da necessidade de congregar esforços e competên-
Em 1999, Stella de Orleans Bragança e a jornalista Cláudia Werneck ide- cias de pessoas de diferentes áreas do conhecimento para planejar e execu-
alizaram e fundaram o Instituto Pró-Sociedade Inclusiva, cuja missão é tar projetos capazes de transformar o espaço escolar em ambiente aberto
contribuir para a formação ética do cidadão brasileiro, privilegiando ações às diferenças. Desenvolve projetos que possam ser aplicados em escolas,
dirigidas a crianças e adolescentes, por meio da divulgação de conceitos instituições e organizações que adotam princípios inclusivos nas áreas
que favoreçam a implementação de uma sociedade inclusiva. Entre as educacionais e terapêuticas. Seu trabalho também é levado à comunidade
atividades desenvolvidas estão: a capacitação de profissionais e estudantes por meio de cursos e assessorias.
172 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

LARES – Legião de Assistência para Site: www.mte.gov.br


Reabilitação de Excepcionais Assessoria de imprensa: Sônia Carneiro
Atuação: Grande São Paulo Fone: (61) 317-6537
Endereço: Rua dos Buritis, 298, Jabaquara – São Paulo (SP) CEP 04321-001 Fax: (61) 226-4645/ 224-4053
Fone: (11) 5012-2733 E-mail: acs@mte.gov.br e sonia.carneiro@mte.gov.br
Fax: (11) 5012-2720 Em parceria com o Ministério Público do Trabalho, o Instituto Na-
E-mail: lareslegiao@uol.com.br cional do Seguro Social-INSS, Corde, do Ministério da Justiça e a
A entidade atende pessoas com deficiência mental já a partir dos quatro sociedade civil organizada, o Ministério do Trabalho e Emprego vem
anos de idade. Desenvolve trabalhos de alfabetização e promove atividades efetivando o cumprimento da reserva legal de vagas, no percentual mí-
lúdicas em regime de semi-internato, como artes plásticas, teatro e dança. nimo de 2 a 5% de trabalhadores com deficiência física, visual, auditiva
São atendidas pessoas da Grande São Paulo e de municípios próximos. e mental, e beneficiários reabilitados. Essa cota é destinada a empresas
Além de atender aos pequenos, é a única instituição da cidade que acolhe com 100 ou mais empregados (Lei 8.213/91 e artigo 37 da Constituição
pessoas com mais de 40 anos de idade. Federal). Quando necessário, procura ajustar a conduta da empresa ou,
se não for possível, ingressa com a ação judicial.
Ministério Público do Trabalho
Atuação: Nacional Pré-escola Terapêutica Lugar de Vida
Endereço: SAS quadra 04, bloco L, 10oandar – Brasília (DF) CEP 70070-922 Atuação: São Paulo (SP)
Fone: (61)314-8502/ 314-8508 Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 399, trav. 4. bloco 17, Butan-
Fax: (61) 3210543 tã, Cidade Universitária – São Paulo (SP) CEP 05508-000
E-mail: slia@pgt.mpt.gov.br Fone: (11) 3091-4386/4918
Site: www.mpt.gov.br Fax: (11) 3091-4475
Assessoria de comunicação: Rosamaria Chaves e Adriana Conti E-mail: lugvida@edu.usp.br
Fone: (61) 314-8562 Site: www.usp.br/ip/lvida
Fax: (61) 323-8538 Criada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, tem
E-mail: ascom@pgt.mpt.gov.br como finalidade oferecer atendimento terapêutico e educacional para
Um dos destaques da atuação do Ministério Público do Trabalho na promoção crianças com distúrbios globais do desenvolvimento (DGD), tais como
da igualdade de oportunidades diz respeito à inserção da pessoa com deficiência psicoses, autismo e outros quadros graves. Atende prioritariamente crian-
no mercado de trabalho. Tem conseguido não só fazer com que as cotas sejam ças de baixo nível sócio-econômico. Além de prestadora de serviços, a
respeitadas, como também conscientizar o empresariado sobre os potenciais da entidade desenvolve pesquisas acadêmicas.
pessoa com deficiência e a necessidade de se investir em sua formação adequada.
São fiscalizados ainda a forma de contratação do trabalhador (competitiva, Procuradoria Federal dos Direitos do
seletiva ou por conta própria), os procedimentos e apoios especiais de que Cidadão – Ministério Público Federal
necessitam, a adaptação do ambiente e o acesso pleno aos postos de trabalho. Atuação: Nacional
Endereço: SAF SUL, quadra 04, conjunto C – Brasília (DF) CEP 70050-900
Ministério do Trabalho e Emprego Fone: (61) 3031-6100
Atuação: Nacional Fax: (61) 3031-6106
Endereço: Esplanada dos Ministérios, bloco F – Brasília (DF) CEP 70059-900 E-mail: pfdc001@pgr.mpf.gov.br
Fone: (61) 317-6000 Site: www.pgr.mpf.gov.br
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 173

Assessoria de imprensa: Luzia Giffoni o fornecimento de bolsas coletoras gratuitas. Promove ainda jornadas e
Fone: (61) 3031-6000 congressos sobre o tema, além de desenvolver cartilhas e outras publica-
Fax: (61) 3031-6013 ções que conscientizem as pessoas ostomizadas sobre seus direitos.
E-mail: luziagiffoni@pgr.mpf.gov.br
A Procuradoria está ligada ao Ministério Público Federal que, por in- Sociedade Pestalozzi do Rio De Janeiro
termédio dos procuradores da República, tem trabalhado para garantir Área de Atuação: Rio de Janeiro (RJ)
às pessoas com deficiência a igualdade de condições de acesso e perma- Endereço: Estrada Caetano Monteiro, 857, Pendotiba – Niterói (RJ)
nência à educação, desde as classes e escolas comuns do ensino regular CEP 24320-570
aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística. Na Fone/fax: (21) 2616-3311 e 2616-1116
área da administração pública, trabalha para que a reserva de vagas em E-mail: sperj@nitnet.com.br
concursos seja respeitada. Assessoria de imprensa: João Vinicius
E-mail: sperj@nitnet.com.br
Save the Children Suécia A Sociedade Pestalozzi presta serviços assistenciais e oferece atendimentos
Atuação: América Latina e Caribe de saúde e de reabilitação. Por meio de uma parceria com o Sistema Único
Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, 142, Graças – Recife (PE) CEP 52011-240 de Saúde (SUS), a entidade oferece fisioterapia, fonoaudiologia, terapia
Fone/Fax: (81) 3231-1263 ocupacional e estimulação precoce.
E-mail: savesuecia@uol.com.br
Site: www.scslat.org
Save the Children Suécia trabalha contra a exclusão, marginalização, Especialistas
estigmatização, opressão e a favor da inclusão, do respeito e da integração.
Na América Latina, o princípio “não-discriminação”, uma das onze áreas te- Carolina Angélica Moreira Sanchez
máticas da organização, inclui estratégias de conscientização sobre as formas Atuação: É assessora técnica de assuntos internacionais e parlamentares
mais variadas de discriminação, fortalecendo as capacidades da sociedade da Corde – Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portado-
civil e atuando com o objetivo de promover políticas públicas inclusivas. ra de Deficiência. Já foi gerente do Projeto de Atenção à Pessoa Portadora
de Deficiência, do Ministério da Assistência Social e conselheira titular
SBO – Sociedade Brasileira dos Ostomizados do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência.
Atuação: Nacional Formação: Pedagoga, com especialização em administração escolar, trei-
Endereço: Av. General Justo, 275, bloco B, sala 318, Castelo – Rio de Janei- namento em recursos humanos em empresas e políticas públicas e gestão
ro (RJ) CEP 021130-000 governamental. Também conta com mestrado em integração de pessoas
Fone/fax: (21) 2220-0741 com deficiência pela Universidade de Salamanca, na Espanha.
E-mail: sbo@olimp.com.br Fone: (61) 429-3684 / 429-9221
Site: www.ostomia.com.br Fax: (61) 225-3307
A SBO reúne as associações, clubes e núcleos de todo o País engajados na E-mail: carolina.sanchez@sedh.gov.br
defesa dos direitos dos ostomizados (pessoas que utilizam bolsas coleto-
ras externas ligadas ao sistema digestivo ou ao urinário). Entre as frentes Cristina Keiko Inafuku
de atuação estão o incentivo à indústria nacional na fabricação de equi- Atuação: Pesquisas, assessoria e atendimento em psicologia e psicanálise,
pamentos de boa qualidade e com baixo custo para ostomizados e a exi- especialmente nas áreas de tratamento e escolarização de crianças porta-
gência de atendimento pelo Serviço Público de Saúde – SUS, bem como doras de distúrbios globais do desenvolvimento.
174 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

Formação: Graduada em psicologia, com especialização em tratamento e esco- Fax: (21) 2558-6883
larização de crianças portadoras de distúrbios globais do desenvolvimento. E-mail: ethel@rionet.com.br
Fone: (11) 5841-8372
Fax: (11) 3091-4475 Eugênia Augusta Gonzaga Fávero
E-mail: crisinafuku@yahoo.com.br Atuação: Procuradora da República em São Paulo, atua na defesa de direitos
Site: www.usp.br/ip/lvida de pessoas com deficiência. É professora da Faculdade de Direito de São Ber-
nardo do Campo e membro do Instituto de Estudos sobre Direito e Cidadania.
Débora Diniz Formação: Bacharel pela Faculdade de Direito de São João da Boa Vista,
Atuação: Diretora da ONG Anis, onde desenvolve pesquisas e trabalhos em São Paulo.
na área de promoção dos diretos humanos, justiça entre os gêneros e Fone/fax: (11) 3269-5004
mulheres com deficiência. Foi consultora do IPEA para montar um mapa E-mail: eugeniagabinete@prsp.mpf.gov.br
teórico sobre o modelo social da deficiência. Site: www.prsp.mpf.gov.br
Formação: Graduada e Doutora em Antropologia pela Universidade de Brasí-
lia -UnB. Pós-doutora em Bioética pela Universidade de Leeds, Reino Unido. Fabiana Gorestein
Fone/ Fax: (61) 343-1731 Atuação: Coordenadora de programa da Save the Children Suécia, no
E-Mail: d.dinis@anis.org.br escritório da sub regional do Brasil, é responsável pelo tema Não Discrimi-
Site: www.anis.org.br nação, que inclui o trabalho com crianças com deficiência
Formação: Graduada em direito pela Universidade Federal de Pernambuco
Edison Silveira Collares Fone/fax: (81) 3231-1263
Atuação: Conselheiro-titular do Conade, representando a Casa Civil da E-mail: fabiana.gorenstein@scslat.org
Presidência da República. Foi diretor do Fundo Nacional de Desenvolvi-
mento da Educação e presidiu o 2o Congresso Brasileiro sobre síndrome do Fernando Anthero Galvão Colli.
Down, ocorrido em junho de 1997, em Brasília. Além disso, participou das Atuação: Trabalha há 30 com crianças, especificamente nas áreas de tra-
comissões organizadoras dos 3o e 4o Congressos Brasileiros de síndrome do tamento e escolarização de meninos e meninas com distúrbio global do
Down e também dos congressos de Educação Especial. desenvolvimento. Na entidade Lugar de Vida, é membro da equipe clínica
Formação: Graduado em filosofia e direito. responsável pelo diagnóstico das crianças, além de coordenar o Grupo Pon-
Fone: (61) 223-5757 / 9985-8938 te, encarregado da inclusão escolar das crianças atendidas na Lugar de Vida.
E-mail: ecollares@planalto.gov.br Formação: É médico pediatra formado pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e psicanalista.
Ethel Rosenfeld Fone: (11) 5084-0714/9183-7423
Atuação: Especialista em educação de pessoas com deficiência visual, Fax: (11) 3091-4475
atua há 30 anos na área de pessoas com deficiência. A primeira metade E-mail: fernandocolli@aol.com
desse período foi dedicada à atuação como docente especializada no Site: www.usp.br/ip/lvida
atendimento a deficientes visuais. Atualmente, trabalha diretamente com
a comunidade, promovendo capacitação em universidades e sensibilização Izabel Loureiro Maior
em empresas para um melhor atendimento a pessoas com deficiência. Atuação: Coordenadora Geral da Coordenadoria Nacional para Integração
Formação: Professora formada em letras Português/Inglês. da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), que planeja, apóia e coordena
Fone: (21) 2556-5800 / 9969-9921 / 9343-4547 todas as ações do governo federal voltadas para as pessoas com deficiências.
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 175

Formação: Graduada em medicina, com mestrado em fisiatria, pela Uni- Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), tem mestrado e doutorado pela
versidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em políticas públicas e Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ.
gestão governamental pelo Ministério da Fazenda. Fone: (21) 2553-0052 ramal 5208
Fone: (61) 429-3684 E-mail: llerena@iff.fiocruz.br
Fax: (61) 225-3307
E-mail: izabel.maior@sedh.gov.br Lane Mahalhães Rossi
Atuação: Analista de projetos sociais do Projeto Alô Vida, da Fundação
João Baptista Cintra Ribas Orsa, que orienta e encaminha casos de deficiência, violência e adoção por
Atuação: Especialista em inclusão de pessoas com deficiência e consultor meio de serviço de atendimento telefônico.
de empresas privadas e de ministérios do governo federal. Formação: Formada em psicologia pela Universidade São Marcos (SP).
Formação: Doutorado em Antropologia pela Universidade de São Paulo Fone/fax: (11) 4181-2232 ramais 246 ou 250
e especialização pela Universidade de Salamanca (Espanha). E-mail: lmagalhaes@fundacaoorsa.org.br
E-mail: jbcribas@globo.com
Lina Galletti Martins de Oliveira
José Rafael Miranda Atuação: Pesquisas, assessorias, supervisões e atendimento em psicologia
Atuação: Coordenador-geral de Desenvolvimento da Educação Especial e psicanálise de crianças com distúrbios globais do desenvolvimento.
da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e conselhei- Formação: Psicóloga e psicanalista especializada em diagnóstico, trata-
ro-titular do Conade, representando a Secretaria de Educação Especial do mento e escolarização de crianças com distúrbios globais do desenvol-
Ministério da Educação. Foi Professor e Coordenador da Habilitação da vimento. É mestre em psicologia escolar pelo Instituto de Psicologia da
Área de Educação Especial da Faculdade de Educação da Universidade de Universidade de São Paulo.
Brasília – UnB, professor e Coordenador Pedagógico do Centro de Ensino Fone: (11) 3825-7516
Especial de Ceilândia-DF e diretor da Divisão de Ensino Especial da Fun- Fax: (11) 3091-4475
dação Educacional do Distrito Federal. E-mail: linagalletti@uol.com.br
Formação: Mestre em educação pela Universidade Católica de Brasília, Site: www.usp.br/ip/lvida
com especialização em educação especial pela Universidade de Tsukuba,
no Japão, em educação física adaptada pela Universidade de Hiroshima, no Márcia Goldfeld Goldbach
Japão, e em educação especial pela Universidade Católica de Brasília. Atuação: Fonoaudiologia.
Fone: (61) 410-9114 / 410-9260 / 9965-1757 Formação: Graduada em fonoaudiologia pela Universidade Estácio de
Fax: (61) 410-9265 Sá, no Rio de Janeiro, tem mestrado em psicologia clínica pela Pontifícia
E-mail: josemiranda@mec.gov.br Universidade Católica do Rio de Janeiro, Puc/RJ, e doutorado em distúr-
Site: www.mec.gov.br/seesp bios da comunicação humana (fonoaudiologia) pela Universidade Federal
de São Paulo – Unifesp.
Juan Llerena Júnior Fone: (21) 2295-6282
Atuação: Geneticista clínico. Faz diagnóstico, prognóstico e acompanha- E-mail: goldfeld@unisys.com.br
mento de pessoas com má formação congênita, déficit de desenvolvimen-
to, retardo mental e síndromes genéticas. É chefe do Centro de Genética Maria Cecília Lara de Toledo
Médica, do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. Atuação: Participa de programas e projetos que facilitem a locomoção e a
Formação: Graduado pela Faculdade de Medicina Octacílio Gualberto da acessibilidade de cegos e pessoas com baixa visão em São Paulo.
176 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

Formação: Professora especialista em orientação e mobilidade de defi- Formação: Doutora em psicologia educacional pela Faculdade de Educação
cientes visuais da Fundação Dorina Nowill para Cegos. da Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, em São Paulo, com especia-
Fone: (11) 5087-0999 Ramal: 0932 lização pelo Centre National D’Etudes et Formation pour L’Adaptation Scolai-
Fax: (11) 50870996 re et L’Education Specialisée. É professora dos cursos de graduação e de pós-
E-mail: mcltoledo@aol.com graduação da Faculdade de Educação Unicamp e coordenadora do Laboratório
de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade-LEPED, também da Unicamp.
Maria Cristina Machado Kupfer Fone: (19) 3251-0406/9772-7403
Atuação: Atendimentos psicanalíticos. É professora associada ao De- Fax: (19) 3788-5576
partamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da E-mail: tmantoan@unicamp.br e tmantoan@directnet.com.br
Personalidade, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, e
coordena a Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida. Raquel Elias Ferreira Dodge
Fone: (11) 3819-2669 Atuação: Direitos humanos e direito penal. É procuradora federal dos Direi-
Formação: Psicanalista. tos do Cidadão-Adjunta e procuradora regional da República na 1a Região.
Fax: (11) 3032-5022 Formação: Bacharel em direito, é mestranda em direito público (direito e
E-mail: mckupfer@uol.com.br Estado) pela Universidade de Brasília-UnB.
Site: www.usp.br/ip/lvida Fone: (61) 3031-6013
Fax: (61) 3031-6106
Maria Eliane Menezes de Farias E-mail: raqueld@prr1.mpf.gov.br
Atuação: Direitos humanos. Subprocuradora-geral da República, é pro-
curadora federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal. Regina Maria Volpini Ramos
Formação: Bacharel em direito, é mestre em direito público (Direito e Atuação: Psicóloga clínica e psicomotricista, realiza avaliação neuropsi-
Estado) pela Universidade de Brasília – UnB. cológica em crianças, adolescentes e adultos.
Fone: (61) 3031-6013 Formação: Graduada pela Universidade Católica de Minas Gerais, tem
Fax: (61) 3031-6106 especialização em neuropsicologia pela Universidade Nilton de Paiva.
E-mail: pfdc001@pgr.mpf.gov.br Fone: (31) 3011-0140/3295-5132/9957-6861
Fax: (31) 3337-9086
Maria Madalena Nobre E-mail: reginavolpini@mkm.com.br
Atuação: Consultora da Federação Brasileira das Associações de síndro-
me do Down. Renata Lauretti Guarido
Formação: Pedagoga, é licenciada em educação física com especialização Atuação: Atua em clínica institucional com crianças com distúrbios globais
em metodologia e didática do ensino. do desenvolvimento e em assessoria institucional na área da educação
Fone: (61) 429-7884 / 362-9687/939-2178 Formação: Graduada em psicologia, tem especialização em aprimora-
Fax: (61) 429-7880 mento em saúde mental e em tratamento e escolarização de crianças com
E-mail: nobre@zaz.com.br distúrbios globais do desenvolvimento.
Fone: (11) 3813-0637
Maria Teresa Eglér Mantoan Fax: (11) 3091-4475
Atuação: Pedagoga e pesquisadora especializada em educação de pessoas E-mail: reguarido@ig.com.br
com deficiência mental. Site: www.usp.br/ip/lvida
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 177

Romeu Kazumi Sassaki Stella de Orleans e Bragança


Atuação: Consultor de inclusão social do Centro de Vida Independente Atuação: Diretora da Federação Brasileira das Associações de Síndrome
Araci Nallin-CVI-AN. Atua na difusão do conceito de inclusão, realizando de Down e fundadora do instituto Pró-Sociedade Inclusiva.
palestras em escolas, empresas e órgãos públicos. Trabalha com os temas Formação: Graduada em arquitetura. É coordenadora dos cursos de gra-
educação inclusiva, mídia inclusiva, mercado de trabalho inclusivo, turis- duação e pós-graduação de design de interiores da Escola de Design da
mo inclusivo, entre outros. Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro.
Formação: Assistente social graduado na Faculdade Paulista de Serviço Fone/ Fax: (21) 2491-8025
Social-Fapss, especializou-se em reabilitação profissional nos EUA e na E-Mail: stella@stella.arq.br
Grã-Bretanha pela Organização das Nações Unidas.
Fone/fax: (11) 3507-4115 Zan Mustacchi
E-mail: romeukf@uol.com.br Atuação: Médico do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo.
Trabalha na atenção aos cuidados, prevenção e direitos das pessoas com
Rosane Lowenthal Kignel síndrome do Down. Atua na área clínica e participa da promoção de cur-
Atuação: Profissional do Terceiro Setor que atua nas áreas de saúde, fa- sos, palestras e congressos sobre o tema.
mília e educação. Atende crianças com deficiência na área de ortodontia. É Formação: Formado em medicina pela Universidade Federal de São Paulo-
membro fundadora da ONG Grupo 25 e diretora do Comitê Científico da USP, com mestrado em farmacologia, bioquímica, análises clínicas e toxico-
Federação Brasileira das Associações de síndrome do Down. logia e doutorado em farmacologia, bioquímica, análises clínicas pela USP.
Formação: Graduada pela Faculdade de Odontologia da Zona Leste Fone: (11) 3721-3589 ou 3721-6200
em São Paulo. Fax: (11) 3721-9175
Fone/fax: (11) 3062-3777 E-mail: drzan@drzan.com.br n
E-mail: rlowenthal@osite.com.br

Sergio Klabin Publicações


Atuação: Médico educador e gerente geral do Centro Israelita de As-
sistência ao Menor – Ciam desde 1999. Coordena o Centro de Educação A criança surda: linguagem e cognição numa
e Desenvolvimento – CED, que oferece educação especial para crianças, perspectiva sócio-interacionista
adolescentes e adultos com ênfase na inclusão escolar e na inclusão no Autora: Márcia Goldfeld
mercado de trabalho. Fone: (21) 2295-6282
Formação: Graduado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas E-mail: goldfeld@unisys.com.br
da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo, com residência médica em A publicação é uma importante contribuição para se pensar a educação da
pediatria pelo Hospital da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de criança surda ao evidenciar a necessidade de uma mudança de perspectiva
São Paulo. Especialização em psiquiatria da infância e adolescência pelo por parte tanto dos profissionais quanto dos pais. Para os profissionais,
Instituto de Desenvolvimento do Homem da Universidade de Franca, apresenta uma análise crítica e teórica de todas as abordagens terapêuticas
em São Paulo. e educacionais. Para os pais e familiares da criança surda, Goldfeld indica,
Fone: (11) 3868-3865/ 96570286 por meio da descrição de um caso, caminhos que contribuem para o favo-
Fax: (11) 3868-3865 recimento da qualidade das interações e para a quantidade de participa-
E-mail: klabas@uol.com.br ções em momentos interativos.
178 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

A deficiência em trânsito A revolução sexual sobre rodas – conquistando


Autor: Daniel Augusto Reis e Rogério de Oliveira o afeto e a autonomia
Fone: (31) 3275-3539/ 3292-2348 Autor: Fabiano Phulmann Di Girolamo
Fax: (31) 3337-6538 E-mail: ibnlpuhl@uol.com.br
A publicação é um manual de educação para o trânsito produzido espe- O livro aborda a questão da vida sexual das pessoas com deficiências, apre-
cificamente para pessoas com deficiência. Acessibilidade e mobilidade são sentando propostas de mudanças e convidando o leitor a aprender a viver
os temas centrais do livro. com autonomia. Um ponto ressaltado pelo autor é o da insensibilidade
física. Como desenvolver a sexualidade, se a pele não responde a carícias ou
A discriminação sob o ponto de vista estímulos sexuais? Ele destaca, ainda, que o homem com deficiência pode
das crianças e adolescentes se tornar o provedor da família em todos os aspectos, inclusive fazendo
Autor: Save the Children Suécia com que a mulher se sinta protegida e segura. O autor é psicólogo, mem-
Site: www.scslat.org bro docente da Sociedade Brasileira de Sexologia Humana e especialista
O trabalho é resultado de pesquisa realizada com grupo de crianças e em integração de pessoas com deficiências.
adolescentes de contextos sociais e culturais bem diferentes, em seis es-
tados das regiões Norte e Nordeste do Brasil. O objetivou foi resgatar as A surdez na família: uma análise de
impressões desse segmento da população sobre as formas através das quais depoimentos de pais e mães
a discriminação ou o preconceito se expressa e se reproduz socialmente. Autores: Kathryn Marie Pacheco Harrison (PUC-SP)
Por meio de temas que levavam quase sempre a discussões multiculturais, Site: www.pucsp.br
as crianças e adolescentes foram estimulados a apresentar suas idéias sobre É uma dissertação de mestrado que estuda, por meio de depoimentos de
atitudes individuais ou coletivas de discriminação de gênero, etnia, classe pais e mães de quatro crianças e adolescentes surdos, as fases relaciona-
social, contextos culturais diversos e com relação a condições físicas e com- das ao processo de aceitação da condição de seus filhos. São abordadas
portamentais. Disponível para download. questões como a negação, a aceitação, as ações construtivas e a busca de
reconhecimento ou identificação por parte dos pais.
A doença que mudou minha vida
Autor: Fábio Ferreira Valente Atualidade da educação bilíngüe para surdos
Site: www.papelvirtual.com.br Autor: Carlos Skliar (organizador)
E-mail: fbravo@konet.com.br E-mail: skliar@edu.ufrgs.br
O autor é um dos membros fundadores da Associação Mineira de Paraplégicos A obra está organizada em dois volumes e reúne ensaios, pesquisas, expe-
e relata sua experiência de vida depois de uma doença neurológica degenerati- riências locais, regionais, nacionais e internacionais, problemas e preocu-
va. Ele conta cada uma das fases que passou desde que descobriu que tinha a pações, dimensões e demarcações políticas, lingüísticas e pedagógicas de
doença, desde o susto, a negação e o desespero até a aceitação e entrega. renomados autores e autoras de diferentes países em torno de um foco:
a educação bilíngüe para surdos, o seu caráter contemporâneo e os seus
A nova LDB e a Educação Especial domínios teóricos e temáticos.
Autora: Rosita Edler Carvalho
Site: www.wvaeditora.com.br Cultura, poder e educação para todos
É texto indispensável para o entendimento da Lei de Diretrizes e Bases- Autor: Nídia Regina Limeira de Sá
LDB do governo federal. A nova lei relativa à inclusão de estudantes com E-mail: nidia@fua.br e nuppes@fua.br
deficiência na escola regular e discutido de forma objetiva e abrangente. O livro traz uma interessante discussão sobre os discursos e as práti-
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 179

cas sócio-culturais em torno das diferenças. A questão da surdez e dos seu dia-a-dia e os sentimentos por elas suscitados. Apresenta respostas as
surdos serve de base para uma análise aprofundada de questões sobre dúvidas mais freqüentes, informações sobre as deficiências, o atendimento
educação, a cultura, o poder e as identidades das pessoas com defici- especializado e como a família pode auxiliar a pessoa com deficiência a
ência auditiva. melhorar sua qualidade de vida.

Direitos do portador de necessidades especiais Guia São Paulo adaptada


Autor: Antonio Rulli Neto Autor: Andréa Schwarz e Jaques Haber
Fone: (11) 3150-0238/3150-0117 E-mail: spadaptada@uol.com.br
O livro explicita os principais aspectos jurídicos relacionados às pessoas com A falta de acessibilidade é um problema visível nas cidades brasileiras. O
deficiência, suas aplicações práticas, interpretação pelos tribunais e orienta- Guia foi elaborado para informar e dar subsídio às pessoas com deficiência
ções. O livro permite ao próprio portador de necessidades especiais conhecer que vivem em São Paulo, para que elas possam circular livremente, preven-
seus direitos e defendê-los. O autor mostra que é possível incluir socialmente o do os possíveis problemas na hora de sair de casa. Traz, também, análise
portador de necessidades especiais por meio da educação da sociedade, garan- de autores quanto à acessibilidade dos locais, classificando-os segundo a
tindo-lhe oportunidades de trabalho, acessibilidade, vida digna e feliz. Trata qualidade do estacionamento, do acesso, da circulação, do banheiro, se
também do direito à saúde, transporte e proteção pelo Ministério Público. oferecem ou não cadeira de rodas, se há ou não atendimento especializado,
além das faixas de preços.
Estimulação precoce – guia de orientação a pais
Autor: Equipe do Setor de Estimulação Precoce do Centro de Habilitação Inclusão: construindo uma sociedade para todos
da Apae/SP Autor: Romeu Kazumi Sassaki
Fone: (11) 5080-7000 E-mail: romeukf@uol.com.br
E-mail: apae@apaesp.org.br Site: www.wvaeditora.com.br
Traz sugestões de atividades que os pais podem realizar em casa, para Destinado a administradores, assistentes sociais, responsáveis por recursos
auxiliar os filhos com deficiência mental no desenvolvimento de suas ca- humanos ou donos de empresas, o livro trata do tema inclusão nos mais
pacidades, de acordo com a fase em que se encontram. É um manual com diversos âmbitos da vida social, com a escola, o mercado de trabalho e
linguagem acessível e ilustrações. No final, há um esclarecimento sobre as os esportes. O autor analisa o desenho universal para deficientes físicos e
diferenças entre doença mental e deficiência mental. também as leis e políticas integracionistas e inclusivas.

Eu tenho um irmão deficiente... Inclusão: uma revolução na saúde


Vamos conversar sobre isto? Autor: José Belisário Ferreira Filho
Autores: Marilena Ardore, Mina Regen e Vera Maria Bohner Hoffman Site: www.wvaeditora.com.br
Fone: (11) 5080-7000 A publicação é uma reflexão sobre as relações entre saúde e educação para
E-mail: apae@apaesp.org.br a promoção da inclusão escolar de crianças e adolescentes com deficiência.
O conteúdo deste livro, publicado em 1988, foi baseado no trabalho reali- O autor defende, por exemplo, a escolarização de meninos e meninas com
zado com os Grupos de Irmãos no Setor de Estimulação Precoce do Cen- autismo e psicoses na sala de aula comum, utilizando-se de relato de casos
tro de Habilitação da Apae/SP. É dirigido a crianças, com o objetivo de au- que acompanhou em Belo Horizonte (MG), e alerta para o quanto os mé-
xiliá-los a melhor compreender as situações que comumente ocorrem em dicos podem colaborar ou atrapalhar na inclusão escolar.
180 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

Leitura e escrita em crianças surdas: um ra de ser pai e mãe, responsável pela educação de um outro ser humano.
estudo das estratégias utilizadas durante o Mas a mensagem central é a seguinte: se seu bebê é muito diferente daque-
período de aprendizagem le com o qual você sempre sonhou, não importa. Segundo a autora, todo
Autor: Ana Cláudia Baleeiro Lodi (PUC-SP) filho quando chega é um enigma, que encanta desvendar.
Site: www.pucsp.br
Observar e compreender quais estratégias crianças surdas utilizam duran- Meu amigo Down em casa
te o período de aprendizagem da leitura e escrita. Este é o objetivo do estu- Autora: Cláudia Werneck
do que analisou o desempenho de dez crianças surdas de primeira série em Site: www.wvaeditora.com.br
uma escola especial, em atividades de leitura e escrita de vocábulos e frases. Lançada em outubro de 94, essa coleção infanto-juvenil contém histórias nar-
O trabalho enfatiza a importância dos aspectos e habilidades visuais para radas por um menino que não entende bem por que seu amigo com síndro-
crianças surdas como meio facilitador para desenvolvimento para o apren- me do Down enfrenta situações tão delicadas. São livros a favor da inclusão.
dizado da leitura e escrita, em detrimento dos aspectos articulatórios.
Mídia e deficiência: manual de estilo
Mães e filhos especiais Autor: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa de Deficiên-
Autores: Mina Regen, Marilena Ardore e Vera Maria Bohner Hofmann cia – CORDE
Fone: (11) 5080-7000 Site: http://www.mj.gov.br/sedh/dpdh/corde/midia_def.htm
E-mail: apae@apaesp.org.br O objetivo do manual é informar e esclarecer os profissionais da área de
Contém o relato da experiência das autoras em mais de 10 anos de traba- comunicação sobre os conceitos que se aplicam às pessoas com deficiência,
lho com Grupos de Mães no Setor de Estimulação precoce do Centro de visando minimizar o estigma e o preconceito e facilitar a inserção social
Habilitação da Apae/SP. São abordados os sentimentos e as dúvidas mais desse segmento da sociedade.
freqüentes apresentadas pelas mães. O objetivo é atingir aquelas mães que
não têm a chance de participar desse tipo de trabalho, para que possam Minha prisão sem grades – Uma abordagem
melhor entender seus filhos, esclarecendo, apoiando, diminuindo culpas e semiótica de reabilitação em enfermagem
tentando propiciar uma relação familiar mais saudável. Autor: Wiliam Machado
E-mail: wiliam@softdata.psi.br
Manual da mídia legal – comunicadores pela inclusão O autor, enfermeiro, relata sua experiência como paciente depois de ter
Autor: ONG Escola de Gente sofrido uma forte pancada na cabeça, e faz uma avaliação crítica da con-
Site: www.escoladegente.org.br duta ética e do exercício profissional do enfermeiro frente às necessidades
E-mail: escoladegente@attglobal.net de seus clientes, especialmente daqueles com deficiências. O livro discute
Traz orientações sobre como abordar o direito à inclusão de pessoas com o cotidiano da prática assistencial institucionalizada e domiciliária do
deficiências na mídia. A publicação é resultado do 1o Encontro da Mídia cuidado de longo prazo.
Legal – Universitários pela Inclusão, realizado pela Rede ANDI e pela Es-
cola de Gente – Comunicação em Inclusão. Mobilidade, comunicação e educação –
desafios à acessibilidade
Mas ele não é mesmo a sua cara? Autores: Antonio A.F. Quevedo, José Raimundo de Oliveira e Maria
Autora: Claudia Werneck Teresa Egler Mantoan
Site: www.wvaeditora.com.br Site: www.wvaeditora.com.br
Recomendado pela Unesco e pelo Unicef, o livro fala da instigante aventu- A proposta do livro é discutir e estimular a formação de redes de conhe-
Mídia e Deficiência Diretório de fontes 181

cimento sobre a acessibilidade (adequação arquitetônica dos meios de de de São Paulo, aspectos relacionados à escolaridade, à formação profis-
transporte e da comunicação às pessoas com deficiência). sional, a ocupações desempenhadas, à vida profissional, ao acesso e às rei-
vindicações sobre o mercado de trabalho. Alguns dados obtidos puderam
Muito além da benevolência ser comparados com os trabalhadores da Grande São Paulo, constantes do
Autor: Eugênia Augusta Gonzaga Fávero IBGE. De modo geral, constatou-se que existe um mercado de trabalho
Fone: (11) 3269-5004 para esses profissionais, mas trata-se de um mercado com abertura recen-
O artigo trata dos direitos das pessoas com deficiência, desenvolvendo os te, parcial e resultante da lacuna deixada pelos demais trabalhadores.
temas de integração e educação inclusiva. Eugênia Fávero é Procuradora
da República em São Paulo com atuação na área da tutela coletiva relativa Oportunidades de trabalho para
a pessoa com deficiência. portadores de deficiência
Autor: José Pastore
Muito prazer, eu existo – um livro sobre E-mail: jpjp@uninet.com.br
as pessoas com síndrome do Down Site: www.josepastore.com.br
Autora: Claudia Werneck O autor analisa as causas que mantêm milhões de pessoas com defici-
Site: www.wvaeditora.com.br ência afastadas do mercado de trabalho. A publicação apresenta suges-
É a primeira e única publicação brasileira sobre síndrome do Down (SD) tões sobre o que a sociedade pode fazer para ampliar as oportunidades.
escrita para leigos no assunto. Foi produzido por meio da consultoria de Pastore explica que só no Brasil existem cerca de 16 milhões de pessoas
profissionais nacionais e estrangeiros, e conta com informações como: nessas condições, sendo que, desse total, 9 milhões estão em idade
diagnóstico da SD durante e após a gravidez, intervenção precoce, saúde, de trabalho. Desses, somente 2% estão efetivamente empregados.
educação, vida adulta, sexualidade, trabalho etc. O autor levanta e examina várias questões sociais e mostra possíveis
soluções práticas para empresários, recrutadores, profissionais de re-
Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva cursos humanos e chefes em geral. Entre as causas do distanciamento
Autora: Claudia Werneck do mercado de trabalho, são destacadas: o preconceito que sofrem as
Site: www.wvaeditora.com.br pessoas com deficiência, a precariedade da educação que recebem e das
É uma publicação indispensável para se compreender o que é uma so- políticas públicas existentes.
ciedade inclusiva segundo a ONU. São analisadas questões como: a dife-
rença entre integração e inclusão; a importância da inclusão, vista como Retratos da deficiência no Brasil
incondicional; e as formas como a família, a mídia, a literatura, a escola, o Autor: Fundação Banco do Brasil e Fundação Getúlio Vargas
governo e as empresas podem colaborar para a construção de uma socie- Site: http://www.fgv.br/cps/deficiencia_br/inicio.htm
dade verdadeiramente inclusiva. Além de informações atualizadas sobre a Contribuir com a inclusão social de segmentos estigmatizados pela socie-
síndrome do Down, traz depoimentos de pais e professores. dade, reduzir a desinformação e o preconceito, além de conhecer e divul-
gar detalhes do universo das pessoas com deficiência. Esses são alguns dos
O deficiente auditivo e o mercado de trabalho objetivos dessa publicação que parte de uma compilação inédita de dados
Autora: Maria Cristina da Fonseca Redondo (PUC-SP) estatísticos coletados em fontes como o IBGE, Receita Federal, INSS e
Site: www.pucsp.br Ministério da Saúde para revelar os números e a realidade de uma parcela
O estudo analisa as formas de inclusão no mercado de trabalho por parte da população brasileira, estimada pelo Censo 2000 em 24,5 milhões de ha-
das pessoas com deficiência auditiva. A publicação registra, por meio de bitantes. A obra também apresenta um levantamento bibliográfico sobre o
informações colhidas entre os deficientes auditivos, trabalhadores na cida- tema, que abrange os títulos publicados nos últimos 12 anos no País.
182 Diretório de fontes Mídia e Deficiência

Ser ou estar: eis a questão – explicando ao campo da educação especial. A autora analisa aspectos, problemas e in-
o déficit intelectual quietações da área, buscando soluções quanto ao atendimento às pessoas com
Autora: Maria Teresa Égler Mantoan deficiência mental. A pesquisa de campo envolve depoimentos de 35 mulheres
Site: www.wvaeditora.com.br portadoras de deficiência mental com base na história de vida de cada uma.
O livro reúne os principais artigos da autora, renomada especialista na área da
inclusão social e escolar de pessoas com deficiência. São ressaltadas as diferenças Sopro no corpo
existentes entre integrar e incluir alunos com deficiência no ensino regular. Autor: Marco Antonio de Queiroz (Editora Rocco, 1986)
Fone: (21) 2507-2000
Ser ou estar: eis a questão Fax: (21) 2507-2244
Autor: Maria Teresa Mantoan E-mail: rocco@rocco.com.br
Fone: (19) 3251-0406/9772-7403 Site: www.rocco.com.br
E-mail: tmantoan@unicamp.br e tmantoan@directnet.com.br Marco Antonio de Queiroz, carioca de 29 anos, programador de computa-
O livro tem como objetivo propor uma rápida revisão de conceitos sobre o dores, ao decidir relatar sua vida teve todos os elementos para escrever um li-
desenvolvimento mental, destacando algumas questões sobre os aspectos vro amargo e pesado. Diabético desde os três anos, Queiroz passou dois anos
orgânicos e sócio-culturais da deficiência mental e refletindo sobre os pro- impotente e ficou cego devido à doença. No entanto, o autobiográfico Sopro
blemas que lhe são decorrentes, tais como a educação e a integração social no Corpo conta sem mágoas como o jovem enfrenta sua tragédia pessoal.
de crianças e deficientes.
Temas em educação especial
Síndrome de Down – e agora, doutor? Autora: Rosita Edler Carvalho
Autor: Ruy Pupo Site: www.wvaeditora.com.br
Site: www.wvaeditora.com.br O livro é uma coletânea de artigos recentes e reflete sobre tendências atuais
O autor fala dificuldades vivenciadas, como médico, após o nascimento na educação de alunos do ensino regular com necessidades especiais.
de sua filha com síndrome do Down. O livro é uma crítica sobre a pouca
valorização, nos cursos de medicinas, do estudo e compreensão das sín- The rights of disabled children and young people
dromes genéticas. Autor: Save the Children
Site: www.scslat.org
Sociedade inclusiva. Quem cabe no seu todos? Disponível somente com texto em inglês, o artigo discute a questão das
Autora: Claudia Werneck pessoas com deficiência do ponto de vista do direito das crianças, disponi-
Site: www.wvaeditora.com.br bilizando algumas dicas básicas para lidar com a questão de forma práti-
O livro instiga o leitor a refletir sobre o uso da palavra “todos” e propõe ca. Busca, ainda, refletir sobre as atitudes diárias em relação a crianças com
um teste que denuncia o quanto esse vocábulo pode ser usado de forma le- deficiência, bem como os preconceitos e estereótipos de que são vítimas.
viana no dia-a-dia e até mesmo nos documentos nacionais e internacionais
que tratam de educação, direitos humanos, cidadania, saúde e cultura. Você é gente?
Autora: Claudia Werneck
Somos iguais a vocês Site: www.wvaeditora.com.br
Autora: Rosana Glat De agosto de 2001 a agosto 2002, uma jornalista e quatro estudantes de
E-mail: rglat@uol.com.br Comunicação percorreram todas as regiões do Brasil capacitando 2.127
A obra revela estudos inéditos sobre temas desafiadores, todos relacionados pessoas, a maioria adolescentes, no conceito de inclusão. Essa é a história
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do projeto Quem cabe no seu TODOS? e de suas Oficinas Inclusivas, que para capacitar o maior número possível de pessoas com deficiência visual no
estão entre as cinco vencedoras do Prêmio Empreendedor Social Ashoka- uso da microinformática, ampliando a capacidade de trabalho dos mesmos.
McKinsey 2002 na categoria Idéia Inovadora em Mobilização de Recursos. O portal disponibiliza sistema de cadastramento e busca de talentos.
O nome “Você é gente?” refere-se a principal questão levantada nas Ofici-
nas Inclusivas: é impossível atribuir um valor mais ou menos humano a www.defnet.org.br
quem é gente, ou seja, nasceu de gente. n A proposta do site da DefNet é facilitar a troca e o fornecimento de infor-
mações e dados sobre os tipos de paralisia cerebral. Isso é feito por meio
do Centro de Informática e Informações sobre Paralisias Cerebrais e do
Sites Banco de Dados On-line sobre e para pessoas com deficiências. A sigla
“DEF” significa Distúrbios de Eficiência Física. A ONG é uma iniciativa de
www.bengalalegal.com.br Jorge Márcio Pereira de Andrade, médico e psiquiatra, pai de duas crianças
Autobiográfico, o site conta a história de vida de uma pessoa com deficiência com paralisia cerebral.
visual, o carioca Marco Antonio de Queiroz. A home page foi criada em
2000 e tem total acessibilidade aos programas de navegação utilizados por www.escoladegente.org.br
pessoas cegas. Traz ainda textos sobre questões que permearam a vida do A Escola de Gente é uma organização não-governamental carioca que
rapaz, como diabetes, drogas e deficiências. estimula a sociedade ao exercício de valores inspirados na diversidade
humana. Isso se dá por meio de ações de comunicação em inclusão. Seu
www.cedipod.org.br site, além de contar com notícias, artigos de especialistas, informações
O site Centro de Documentação e Informação do Portador de Deficiên- sobre a Escola de Gente e suas ações, pode ser acessado por pessoas com
cia disponibiliza informações para as entidades de pessoas com defi- deficiência visual. Oferece também links para sites de outras organizações
ciência e para a sociedade em geral nas áreas de legislação (Direitos que trabalham com a questão da deficiência e dos direitos humanos.
Civis), eliminação de barreiras arquitetônicas, transportes, comunicação
e participação social. www.entreamigos.com.br
O Entre Amigos é uma rede de informações sobre Deficiência, lançado em
www.criduchat.com.br 1998 e coordenado pela ONG Sorri-Brasil. Reúne várias instituições públicas
A Associação Nacional Cri Du Chat ou Síndrome do Miado de Gato foi e organizações não-governamentais que prestam serviços às pessoas com
fundada por pais, familiares, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, deficiência. O site disponibiliza informações sobre reabilitação, educação,
psicólogos e representantes de instituições interessados em divulgar e tro- saúde, trabalho, acesso ambiental, sexualidade, serviços e produtos em geral.
car informações sobre a anomalia congênita que causa, entre outras coisas,
má-formação na laringe. O site disponibiliza informações sobre a doença, www.handicap.dk/lev
além das terapias e bibliografia existentes sobre a síndrome. É uma associação dinamarquesa, que trabalha no sentido de garantir a me-
lhoria de condições de vida das pessoas com problemas de aprendizagem.
www.deficientevisual.org.br No site, é possível encontrar materiais de pesquisa e o objetivo do trabalho,
Oferecer à comunidade de deficientes visuais informações úteis ao seu baseado na idéia de que todo ser humano tem direitos e valores iguais.
dia-a-dia, incluindo instituições que produzem programas de ensino,
notícias, bem como uma relação de contatos para facilitar a comunicação www.hitnet.com.br/moebius/
com as diversas entidades de apoio. Esses são os principais objetivos do O site da Associação Moebius do Brasil disponibiliza os links da Associa-
Portal Web para Deficientes Visuais. A missão do grupo é promover ações ção em diversos países e mantém bancos de dados para cadastramento de
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crianças com a Síndrome de Moebius. Além disso indica hospitais, clínicas Voluntários da Comunitas, IBM e TV Globo. O site aponta oportunidades
e especialistas preparados para prestar suporte a crianças com a síndrome de ação voluntária para vários tipos de públicos, em especial crianças, jo-
rara que causa, entre outras coisas, paralisia facial. vens e pessoas com deficiência.

www.mj.gov.br/sedh/dpdh/corde/sicorde.htm www.saci.org.br
O site é um sistema de informações na área de questões relacionadas à A Rede Saci – Solidariedade, Apoio Comunicação e Informação atua como
deficiência, desenvolvido pela Coordenadoria Nacional para Integração facilitadora da comunicação e da difusão de informações sobre deficiência,
da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde. Conta com informações visando estimular a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida e o
relevantes na área: coletânea da legislação federal, estadual e de alguns exercício da cidadania das pessoas com deficiência. O site disponibiliza in-
municípios; íntegra das propostas dos textos legislativos que tratam formações sobre trabalho e educação para pessoas com deficiências. Além
da regulamentação de direitos relativos às das pessoas com deficiência; disso, traz notícias, eventos, cursos e concursos.
relação de instituições especializadas na área da deficiência que desen-
volvem ou vendem equipamentos e utensílios destinados a melhorar a www.sentidos.com.br
qualidade de vida desse segmento da população; divulgação de eventos O Portal Sentidos é um espaço virtual para a informação e atualidades
e publicações na área; e conteúdo integral das decisões das Câmaras sobre o universo das pessoas com deficiência. Disponibiliza matérias, re-
Técnicas da Corde. portagens e artigos tratando do assunto. Além disso, oferece dicas de sites
e locais acessíveis, ofertas de produtos e serviços especializados, relação de
www.muitoespecial.com.br profissionais dedicados ao atendimento de pessoas de deficiência, incen-
Portal dedicado às pessoas com deficiências, bem como seus parentes, ami- tivo, habilitação e reabilitação por meio do esporte, indicação de esportes
gos e profissionais interessados. O site traz serviços de utilidade pública, in- adaptados e outros assuntos que podem ser encontrados facilmente num
formações sobre legislação, notícias e eventos. Lá se pode participar do Núcleo mapa com ícones que especificam cada tema.
de Desenvolvimento Acadêmico, uma iniciativa da Ordem dos Advogados do
Brasil de São Paulo. O grupo reúne alunos de diversas faculdades de Direito, www.serdown.org.br
todos dedicados a estudar os direitos das pessoas com deficiências. Completíssimo, o site da Associação Baiana de síndrome do Down – Ser
Down disponibiliza os projetos da entidade, além de legislação, textos e
www.portaldovoluntario.org.br artigos sobre a síndrome do Down. Em primeiro plano, a abordagem de
Lançado em 2000 para comemorar o início do Ano Internacional do Vo- ações que instiguem e facilitem o tratamento, a educação básica e o ingres-
luntário da ONU, o Portal do Voluntário é uma parceria entre o Programa so no mercado de trabalho de pessoas com a deficiência. n

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