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PRÉ-VESTIBULAR

GABARITO DA PROVA DE PORTUGUÊS DO DIA 04/09/10

PROFESSOR HUMBERTO
04 - Uma revista semanal brasileira traz a seguinte nota em sua seção A SEMANA:

O HOMEM DAS BEXIGAS

O britânico Ian Ashpole bateu no domingo 28 o recorde de altitude em vôo com bexigas: subiu 3.350 metros amarrado a
600 balões, superando sua marca de 3 mil metros. Ian subiu de bexiga e voltou de pára-quedas. “Quando eu era criança,
assisti a um filme chamado Balão vermelho. Desde então me apaixonei por esse esporte”, disse ele. (ISTOÉ, 7/11/2001.)

a) O título poderia ser considerado ambíguo, dado que a palavra “bexiga” tem vários sentidos em português. Cite pelo
menos dois desses sentidos.
b) Em que passagem do texto se desfaz a ambigüidade do título?
c) Dada a modalidade esportiva que Ian pratica, qual poderia ser o tema do filme mencionado?
Resposta Esperada
a) Poderia significar que se trata de um homem com cicatrizes (bexigas) na pele, devidas, por exemplo, à varíola, à lepra
etc.; eventualmente, que se trata de um homem cuja anatomia seria peculiar por ter mais de uma bexiga e que seria
conhecido por tal característica; ainda, poderia referir-se a um homem que vende ou usa bexigas / balões.
b) A ambigüidade se desfaz quando aparece a palavra “balões” (ou quando aparece “vôo com bexigas”); porque se
explicita que Ian tem a ver com balões e não com cicatrizes, e balão é um sinônimo de bexiga.
c) O filme deve tematizar subidas/vôos/viagens/competições/aventura com bexigas/balões.

05 - Em transmissão de um jornal noturno televisivo (RedeTV, 7/10/2008), um jornalista afirmou: “Não há uma só medida
que o governo possa tomar.”

a) Considerando que há duas possibilidades de interpretação do enunciado acima, construa uma paráfrase para cada
sentido possível de modo a explicitá-los.
b) Compare o enunciado citado com: Não há uma medida que só o governo possa tomar. O termo ‘só’ tem papel
fundamental na interpretação de um e outro enunciado. Descreva como funciona o termo em cada um dos enunciados.
Explique.

Resposta Esperada
a) Em relação ao primeiro enunciado, algumas das paráfrases que podem ser feitas para um dos sentidos são:
Não há medida alguma que o governo possa tomar.
Não há nenhuma medida que o governo possa tomar.
E para o outro, são:
Há mais de uma medida que o governo pode tomar.
Não há apenas uma medida que o governo possa tomar.

b)No primeiro enunciado – “Não há uma só medida que o governo possa tomar” –, o termo só modifica (focaliza) medida.
É importante observar que as diferentes interpretações indicadas no item a são resultantes da relação de só também com
o artigo indefinido e a negação.
Já no segundo enunciado – “Não há uma medida que só o governo possa tomar” –, o termo só modifica o governo, sendo
possível substituí-lo por apenas ou exclusivamente, o que possibilita os seguintes sentidos: ‘não há uma medida que o
governo possa tomar sozinho’ ou ‘há medidas que outros, além do governo, podem tomar’. Assim como no primeiro
enunciado, é na relação do termo só com a negação que essas interpretações são possíveis.
PROFESSOR FLÁVIO BRITO

06 - Leia o poema “Poeminhas Cinéticos” de Millôr Fernandes e responda.

Era um homem bem vestido


Foi beber no botequim
Bebeu muito, bebeu tanto

Que
saiu
e
d
á
l
assim.

As casas passavam em volta


Numa procissão sem fim
As coisas todas rodando

O moço entra apressado


Para ver a namorada
E é da seguinte forma
escada.
a
sobe
ele
Que

Mas lá em cima está o pai


Da pequena que ele adora
E por isso pela escada

ele

embora.

O cubismo defendia, entre outras


ras propostas, o “aspecto construtivo, as palavras em liberdade, a plástica pura (os cinco
sentidos), a fonocinematografia”. Você identifica essas características nos “Poeminhas cinéticos”? Exemplifique e explique.

Resposta Esperada
Etimologicamente, "cinético" liga-se
se ao elemento de composição cine-,
cine cinesi-,, do grego kínesís, que indica "movimento",
"ação de mover". Portanto, poeminhas cinéticos são aqueles que têm movimento. É o que explora Millôr Fernandes ao
dispor as palavras no papel segundo o movimento que elas indicam: o andar do bêbado; as coisas girando; como o
namorado sobe e desce a escada. São poemas que têm de ser lidos e vistos

07 - Leia os poemas abaixo e responda.

Poeminha Surrealista

Gostaria, querida,
De ser inesperado
Como uma madrugada amanhecendo
À noite
E engraçado, também,
Como um pato num trem.
FERNANDES, Millôr. In Milôr Fernandes. São Paulo: Abril Educação, 1980. p. 38. (Literatura Comentada).

Botafogo

Desfilam algas sereias peixes e galeras


E legiões de homens desde a pré-história
Diante do Pão de Açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente
A filha do português debruçou-se à janela
Os anúncios luminosos lêem seu busto
A enseada encerrou-se num arranha-céu.

MENDES, Murilo. Murilo Mendes - poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 280.

Destaque uma característica surrealista de cada um dos textos, em seguida explique a utilização do recurso no texto.

Resposta Esperada
Em "Poeminha surrealista", destacar a "madrugada amanhecendo à noite"; em "Botafogo", destacar "os anúncios
luminosos lêem seu busto [da portuguesinha debruçada na janela]" (a rigor, os quatro últimos versos são ótimos exemplos
de imagens surrealistas).

08 - Observe a tela O grito de Evard Munch e responda.

Edvard Munch (1863-1944), pintor norueguês, foi um dos artistas mais importantes da virada do século, tendo colaborado
de maneira decisiva na construção do conceito de arte moderna. A tela O grito transformou-se em verdadeiro marco de
um processo de ruptura, promovido por alguns artistas, que desaguaria nas tendências de vanguarda do início do século
XX. Um crítico assim analisou a obra de Munch: "Ele teve como objetivo estabelecer valores universais através dos
individuais, pela cristalização das imagens das emoções mais profundas do homem - amor, morte e angústia, que
retiveram suas propriedades primitivas evidentemente esquecidas pela civilização burguesa do seu tempo".

Munch afirmava: "Não devemos pintar interiores com pessoas lendo e mulheres tricotando; devemos pintar pessoas que
vivem, respiram, sentem, sofrem e amam."; "Uma obra de arte só pode provir do interior do homem arte é a forma da
imagem formada dos nervos, do coração, do cérebro e do olho do homem.". Comente alguns detalhes da tela que
comprovam a proposta de Munch.

Resposta Esperada
Em primeiro lugar, a figura que grita é uma pessoa angustiada, agoniada (portanto, longe de ser uma pessoa que tem a
calma de quem lê ou tricota); o cenário é externo; a figura está no meio de uma estrada, à beira de um abismo; o rosto
distorcido, caricatura, distancia-se da beleza dos modelos de estúdio; o artista retrata uma realidade deformada, não
idealizada.
PROFESSOR ADRIANO ALVES

09 - Leia o texto abaixo, extraído do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

“Desta vez porém Luizinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este último tinha querido
quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. E
ingenuamente não sabemos se se poderá aplicar com razão ao Leonardo.”

Considerando a personalidade do protagonista e o enredo do romance em análise, como justificar a ressalva que o
narrador e autor faz em relação à palavra “ingenuamente” na ultima frase do texto?

Resposta Esperada
Por conhecer bem Leonardo, o narrador lança dúvida sobre o caráter da personagem e sobre suas reais
intenções. Isso quer dizer que, por sua inclinação travessa e malandra do protagonista, seria sempre temerário apontar
com segurança a ausência de outros interesses em suas ações.

10 -
“Os leitores estarão lembrados do que o compadre dissera quando estava a fazer castelos no ar a
respeito do afilhado, e pensando em dar-lhe o mesmo ofício que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação
prometemos dar. Vamos agora cumprir a promessa.”

Quanto à postura do narrador, a passagem acima ilustra um procedimento de escrita perceptível em praticamente toda a
obra. Nesse sentido, explique o comportamento do narrador que é merecedor de atenção.

Resposta Esperada
Como se percebe, o narrador de Memórias de um sargento de milícias, saindo da estrita responsabilidade de
contar os fatos, faz sistemáticas interferências. Metalinguisticamente, ele, numa atitude dialogal, comenta com os
possíveis leitores os cortes e os remendos realizados na linha narrativa. Com isso, comporta-se didaticamente e dá a seu
texto maior espontaneidade e caráter mais popular, isto é, menos formal.

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